Conforto Ergonômico em Habitações de Interesse Social - Incompatibilidade de Dimensões

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Programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

Universidade Estadual de Maringá


Universidade Estadual de Londrina
Trabalho final da disciplina T.E.A.U - Conforto Ambiental e o proc. de projeto:
metodologias de apoio

Conforto ergonômico em habitações de interesse social –


incompatibilidade de dimensões
Caroline Gomes Gonçalves, [email protected], UEM, Maringá, Paraná, Brasil.
Resumo
Ao longo do período pós-industrial a expansão demográfica das cidades exigiu aumento
significativo na provisão de habitação, especialmente para as classes de renda mais
baixas. Esse tipo de habitação vem sofrendo redução de área útil para abrigar famílias de
tipologias distintas e, em muitos casos, numerosas. Apesar da diminuição da dimensão
dessas residências, a indústria de móveis populares segue produzindo peças de dimensão
incompatível com essa realidade, o que gera desconforto para os usuários. Desse modo,
o presente artigo objetiva-se a avaliar a relação entre mobiliário e conforto ergonômico
em habitações do programa Minha Casa Minha Vida faixa 1, com o estudo de caso do
Residencial José Richa, em Sarandi, Paraná, onde foram realizadas visitas, fotografias e
entrevistas com os moradores para a elaboração dos resultados. Concluiu-se que o layout
proposto pela construtora, e principalmente, a organização dada pelos beneficiários pós-
ocupação, não proporcionam conforto ergonômico aos moradores.
Introdução
A questão da moradia para a população de baixa renda pode ser discutida a partir dos
processos de industrialização que avançam ao longo da história e alcançam proporções
globais. Desse modo, para Lefebvre (2011), não é possível refletir a questão da
urbanização sem considerar a indústria.
De acordo com Folz (2002), ao longo do tempo, o acúmulo populacional nas cidades
refletiu em um precário modo de habitar, desde os cortiços às vilas operárias. Diante das
más condições de habitação que acarretaram na progressiva diminuição da salubridade
urbana, bem como na proliferação de epidemias, foram instituídas leis que previam a
melhora das moradias para os trabalhadores, incluindo nelas parâmetros para ventilação
e iluminação, que não se caracterizavam como constantes até então.
No cenário nacional, a produção de habitação de interesse social está intrinsecamente
relacionada com questões econômicas e sociais que implicam de modo direto na
diminuição progressiva das áreas das habitações de interesse social, atualmente sendo
consideradas áreas mínimas e máximas de 30m² a 50m², respectivamente (FOLZ, 2002).
Para o bom desempenho da habitação social, é necessário que a unidade seja equipada de
modo a desempenhar seu papel de moradia. No Brasil, a incompatibilidade entre a
dimensão da residência e dos equipamentos é uma problemática refletida na vida social,
na produtividade e no convívio familiar, já que não se faz suficiente apenas o invólucro,

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como também a capacidade de abrigar o desenvolvimento de atividades e mobiliário
compatível (FAUSTINO; SILVA; ALMEIDA; JUNIOR, 2007).

A produção industrial é fator decisivo para o desenvolvimento de móveis populares, setor


iniciado no país já no início do século XX. Com menor qualidade, a indústria de
mobiliário popular apresenta maior preocupação com o valor da peça a ser vendida que
com o espaço que tal mobiliário ocupa na habitação. O mercado moveleiro popular não
adequado as dimensões das casas, acarreta no comprometimento do desempenho da
moradia. Sobretudo, ainda existem casos de pessoas de diferentes núcleos familiares
habitando a mesma moradia, com numeroso contingente, reduzindo a habitabilidade. De
acordo com estudos, áreas abaixo de 14m² por pessoa aumentam a probabilidade de
perturbações a saúde física e mental e abaixo de 8m² por pessoa as condições físicas e
mentais são altamente prejudicadas. Ainda que o congestionamento da residência seja
uma sensação subjetiva e dependente da atividade realizada pelo indivíduo, é um
resultado de diversas variáveis como os costumes sobre o uso do espaço, as características
físicas, atividade desenvolvida e pelo mobiliário que equipa o cômodo (FOLZ, 2002).

Folz (2002) também aponta que o arranjo adequado do mobiliário, ainda que não seja
ampliado o espaço de superfície residencial, pode diminuir a sensação de
congestionamento e ampliar a sensação de conforto dos moradores. O espaço
arquitetônico precisa estar equipado com objetos úteis para a execução das funções dentro
do lar, e deve ser levado em conta o avanço das tecnologias, bem como a modificação do
papel da mulher na casa e a maior escolaridade dos jovens, demandando novos
equipamentos, como o computador, por exemplo (SOUZA, 2013). Quando os micro-
equipamentos, do interior da casa, não satisfazem as necessidades dos moradores,
recomenda-se a compensação em macro-equipamentos – praças e parques -,
principalmente do que tange os parques de habitação mínima.
A partir do exposto, tomou-se como objeto de pesquisa, as habitações unifamiliares do
programa Minha Casa Minha Vida faixa 1, considerando a proposta de layout da
construtora, a organização pós-ocupação dada pelos moradores do Residencial José
Richa, em Sarandi, Paraná.
Metodologia
O presente artigo é resultado de um projeto de pesquisa realizado entre 2016 e 2017 com
orientação da Prof.ª. Dr.ª. Beatriz Fleury e Silva, com o objetivo de avaliar o panorama
da habitação social na cidade de Sarandi, a partir do estudo de caso da produção mais
recente, o Residencial José Richa. A partir dessa pesquisa, apresenta-se nesse artigo o
recorte referente ao conforto ergonômico nas unidades.
A pesquisa foi realizada junto aos moradores do residencial José Richa por uma equipe
de graduandas em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Maringá e
Unicesumar. Foram entrevistadas 171 famílias das 470 beneficiárias, garantindo 95% de
confiança nos dados coletados. As entrevistas abordaram aspectos sociais, urbanísticos e
arquitetônicos e permitiram a avaliação quantitativa e qualitativa da atual situação do
bairro.
Das 171 casas entrevistadas, 20 foram fotografadas e desenhadas, de modo a averiguar a
relação do mobiliário e a dimensão da residência, desse modo, tornou-se possível a
avaliação aqui exposta. A construtora responsável pelo empreendimento forneceu os
projetos arquitetônicos com o layout proposto, permitindo a comparação entre o sugerido

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e a realidade pós-ocupacional. Além da apresentação dos dados em gráficos, foi realizada
a diagnose ergonômica de um dos casos encontrados.
A explanação e conceituação do conforto ergonômico foi realizada por meio de breve
revisão bibliográfica sobre o tema, foco de diversas pesquisas na atualidade.
O Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV)
Como exposto por Harvey (2014), o sistema capitalista se recupera de suas crises
construindo casas e enchendo-as de coisas. O PMCMV, lançado em 2009, tinha como
princípio a provisão de habitação, de modo a preencher a lacuna habitacional que se dava
nacionalmente desde o fim das provisões do Banco Nacional de Habitação (SILVA;
FLEURY E SILVA, 2015). Contudo, Rolnik (2015), afirma que “o programa deveria se
transformar na mais importante ação do campo econômico-social, articulando a oferta de
moradia, demanda histórica e tradicionalmente forte com uma estratégia keynesiana de
crescimento econômico e geração de empregos” (ROLNIK, 2015, p. 301). Desse modo,
o programa alavancou todos os setores de consumo, desde a construção, até o setor do
mobiliário e equipamentos.
Por outra mão, o resultado do Programa, no que respeita a faixa 1 (de 0 a 3 salários
mínimos), foram moradias padronizadas na área e na organização interna (ROLNIK,
2015), incompatíveis com o número de moradores e transformações da família.
Em Sarandi, Paraná, o Programa proporcionou a construção de 3 bairros habitacionais
voltados a faixa 1. O Residencial José Richa é o último deles, construído no ano de 2013
e entregue em 2014 (MONOLUX, 2017). O conjunto conta com 470 unidades
habitacionais de 41,41m², construídas em concreto moldado in loco, com lajes de
concreto, sistema de aquecimento solar e acessibilidade ou possibilidade para adaptação
(inversão do sentido de abertura das portas) em todas as unidades. Construído pela
construtora maringaense Monolux, se localiza no extremo sul da malha urbana, possui
precário transporte público e fica distante dos serviços de comércio, saúde, educação e
lazer.
A organização interna da residência é feita por um quarto maior e um menor (8,95m² e
6,58m², respectivamente), banheiro (4,42m²), sala de estar e jantar (13,07m²) e cozinha
integrada a sala de estar e jantar (4,50m²). A área de serviço é localizada na área externa
e protegida somente por uma extensão do beiral.

Figura 1 – Planta do residencial José Richa.


Fonte: Construtora Monolux, 2017.
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As unidades superam os padrões de abertura e iluminação do LC 216/2009 de Sarandi, o
Código de Edificações, bem como obedecem as dimensões mínimas estabelecidas para
casa ambiente, contudo, foi verificado que, em muitos casos, as dimensões mínimas e a
padronização não comportam adequadamente as famílias.
Pós-ocupacional do residencial José Richa
O bairro é composto por famílias oriundas de diversas localidades da cidade que
compunham o déficit habitacional de Sarandi. Essas famílias foram selecionadas pelo
poder público para serem beneficiárias do Programa. A composição familiar, em relação
ao número de pessoas bem como as relações de parentesco são bastante variadas.

Figura 2 – Composição familiar dos beneficiários do José Richa.


Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Ainda que a média familiar seja de 4 pessoas, é possível perceber que nas casas
entrevistas, foram encontrados núcleos familiares de até 8 pessoas. Esse número de
moradores resulta em uma área individual de 10,35m² para famílias contempladas na
média e 5,17m² para famílias na situação mais extrema. Nenhuma das duas situações
corresponde aos parâmetros de conforto que garantem saúde física e psicológica para os
moradores, como apontado por Folz (2002).
Dentre os moradores, o maior número de pessoas está na faixa estaria de 0-15 anos de
idade. O número de crianças indica o grande período de permanência na residência, onde
de acordo com os moradores, as crianças e adolescentes brincam e realizam atividades
nos quartos e salas, visto a distância de equipamentos de lazer adequados. Além disso, a
alta taxa de desemprego contribui para a permanência de adultos durante o período
integral, e, em muitos casos, na utilização do ambiente para o desenvolvimento de tarefas

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para arrecadar renda, como costura, produção de alimentos, manicure, entre outras.
Algumas das casas foram ampliadas de maneira irregular, de modo a fornecer espaço para
atividades de comércio. O tipo de ampliação prejudica gravemente a insolação e
ventilação dos ambientes internos.

Figura 3 – Faixa etária dos moradores do José Richa.


Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Figura 4 – Moradores que estão empregados no José Richa.


Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

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Figura 5 – Ampliação para o comércio. As
janelas dos quartos e da sala de estar/jantar são
comprometidas pelo fechamento.
Fonte: acervo pessoal.

As principais reclamações dos moradores quanto a dimensão da residência é em relação


ao espaço de armazenamento, tanto de roupas como de utensílios. O quarto menor e a
cozinha representaram a maior problemática. O banheiro foi considerado muito grande
para os moradores que não possuem membro familiar com deficiência física. Essa
dimensão, contudo, se dá pela demanda de uma possível futura adequação da residência,
uma vez que os moradores não podem alugar ou vender a casa no prazo de 10 anos.
Questões como o já citado armazenamento, bem como a insegurança dos moradores para
deixar seus equipamentos do lado externo da habitação, especialmente as não muradas,
ocasionam a sobreposição de funções indicada pela literatura (FOLZ, 2002; SOUZA,
2013).

a)

b)
Figura 6 – Sobreposição de atividades.
6
a) roupas e máquina de lavar no quarto
b) máquina de costura no local de alimentação
Fonte: acervo pessoal.
A questão do mobiliário também afetou os beneficiários do Programa, não somente em
relação ao conforto ergonômico das residências, como na questão financeira. Uma vez
que o PMCMV tinha como objetivo o giro da economia de forma geral, bem como vista
a necessidade dos moradores de se adequar à nova residência, foi disponibilizado aos
beneficiários o valor de R$ 5.000 de modo que pudessem investir em móveis e
equipamentos para o novo lar, o Minha Casa Melhor, também proveniente da Caixa
Econômica Federal.

Figura 7 – Moradores do José Richa que utilizaram o cartão Minha Casa Melhor.
Fonte: elaborado pela autora, 2017.

Os moradores, em sua maioria, utilizaram o cartão para a compra de armários para as


cozinhas, guarda-roupas, camas, beliches e sofás. Alguns adquiriram aparelhos
eletrônicos como televisores, computadores e até mesmo celulares e tablets. O valor
disponível nesse crédito, segundo os moradores, colabora para a adequação da moradia,
porém não se faz suficiente para a compra de todos os elementos necessários. A maioria
dos moradores trouxeram todos os móveis da casa anterior, alguns trouxeram os que
estavam em melhor condição de uso, alguns não trouxeram pois não cabiam. Os móveis
das casas anteriores foram “adaptados” a nova dimensão, o que prejudica o conforto
ergonômico e amplia a sensação de congestionamento nos interiores.

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Figura 8 – Adaptação do mobiliário na
habitação. Comprometimento da circulação.
Fonte: acervo pessoal.

Figura 9 – Moradores que trouxeram móveis da casa anterior para a atual.


Fonte: elaborado pela autora, 2017.

A incompatibilidade do mobiliário na residência, além de contribuir para a sensação de


congestionamento, prejudica a circulação dos moradores, assim como o desempenho da
função dos demais equipamentos. A manutenção e acesso as esquadrias, tanto as portas,
como as janelas, são sobrepostas pelo mobiliário, encobrindo-as, o que prejudica também
as questões de iluminação e ventilação do imóvel.

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a) b)
Figura 10 – a) Raio de giro da porta impedido pelo armário. B) Retirada da porta do
quarto menor devido ao sofá e ao guarda-roupas. Fonte: acervo pessoal.

Figura 11 – Armário sobrepondo a janela.


Fonte: acervo pessoal.

No caso do José Richa, as deficiências da micro-escala não são compensadas na macro-


escala, como indicado na literatura (SOUZA, 2013). Em bairros de habitação social
instalados pelo PMCMV faixa 1, essa compensação deveria ser dada em espaços públicos
de lazer, contudo, desde a entrega das chaves até o presente momento, as áreas reservadas
para os equipamentos públicos seguem sem intervenções.

Figura 12 – Espaços públicos sem intervenção no residencial José Richa.


Fonte: acervo pessoal.

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O layout proposto

A construtora Monolux entregou para a população uma cartilha instrutiva, na qual são
contidas informações sobre o imóvel, bem como possibilidades de expansão e
organização dos ambientes. Neste trabalho, será analisada a funcionalidade do layout
proposto a partir do exposto em Dimensionamento em Arquitetura, de Emile Pronk
(2003). As dimensões foram obtidas no arquivo DWG disponibilizado pela empresa, e
serão comparadas com as consideradas ideais.
Anteriormente a análise das dimensões, já se faz possível notar (figura 13) elementos que
comprometem ergonomicamente o espaço. No desenho elaborado pela construtora, o raio
de giro da porta principal é impedido pela presença do sofá, O ângulo de visão para o
televisor de dois lugares do sofá é impedido pela abertura da porta, destacando-se que a
porta se trata de uma porta janela, que, nesse caso, não poderia ficar aberta durante a
utilização do ambiente. Na cozinha, não é previsto nenhum espaço de armazenamento
significativo, ficando disponíveis apenas o gabinete da pia, não adequado para
armazenagem de mantimentos, e os suspensos. Em ambos os quartos, a cama encontra-
se encostada na janela, dificultando sua manutenção. Além disso, no quarto maior, é
proposto um móvel em frente a cama, impedindo o acesso. A máquina de lavar é indicada
no espaço externo da habitação, sem proteção as intempéries e sem segurança. Os
armários são pequenos, de quatro portas, e dificilmente atendem as necessidades de
armazenamento. O número de camas proposto é para quatro pessoas, sendo possível
adequar até 5 com a substituição de uma das camas por um beliche. Não são previstos
espaços para computador, por exemplo.

Figura 13 – Layout proposto pela construtora.


Fonte: Monolux, 2017.
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Com exceção das questões supracitadas, os demais equipamentos, mobiliários e
circulações estão adequados com o proposto pela autora.
A sugestão da construtora atende, ainda que deficientemente, uma família de até 5
pessoas. Visto as necessidades individuais de cada núcleo, bem como a discussão sobre
a incompatibilidade do mobiliário popular com as residências, foi realizada a diagnose
ergonômica, considerando os critérios estabelecidos por Pronk (2003).
O layout real
Dentre as casas visitadas, a escolhida para a diagnose ergonômica foi a casa de uma
família de 5 pessoas (dois adultos, três crianças), tipologia familiar compatível com o
layout proposto pela construtora. Salienta-se que a família está ampliando a residência,
uma vez que considerou o espaço insuficiente para suas necessidades.

Figura 14 – Diagnose ergonômica de moradia do José Richa.


Fonte: elaborado pela autora, 2018.
Legenda: Aberturas Circulação Mobiliário Sobreposições

O espaço pós-ocupado mostra-se bastante diferente da proposta da construtora, vistas as


necessidades da família. Enquanto Pronk (2003) indica que a circulação mínima entre o
mobiliário deve ter 75cm, nos quartos foram encontradas circulações de 52, 28, 37 e 26
centímetros. As principais modificações no layout dos quartos em relação ao da
construtora é a colocação de cômodas de gavetas, o que indica a necessidade de maior
espaço de armazenamento. Ainda em relação aos quartos, percebe-se um posicionamento
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prejudicial das camas em relação as janelas. No quarto menor, a cama foi substituída por
um beliche, que cobre pericialmente a abertura. No quarto maior, tanto a cama, quanto o
berço, dificultam a manutenção da janela, bem como o acesso a cama de casal.
Eventualmente, quando chove, é montado um varal para a secagem de roupas,
demostrando, mais uma vez, a sobreposição de atividades.

Figura 15 – Circulações estranguladas e sobreposição de mobiliários sobre as


esquadrias.
Fonte: acervo pessoal.
Na sala de estar/jantar, não foi averiguada a presença de mesa, segundo a moradora, por
não caber. O que é utilizado pela família é uma mesa metálica desmontável, que serve de
apoio para algumas atividades. A família possui dois aparelhos refrigeradores, vindos da
casa anterior, ambos sendo utilizados. Os sofás, também trazidos da casa anterior,
bloqueiam parcialmente o acesso ao quarto menor e a cozinha. A estante tem a abertura
das gavetas bloqueadas pelo sofá.

Figura 16 – Sala de estar/jantar – sobreposição de atividades e do mobiliário.


Fonte: acervo pessoal.

A cozinha é separada da sala por uma cortina de tecido. Devida a necessidade de


armazenagem, no espaço proposto para a geladeira, foi colocado um armário alto de duas
portas. Sob a janela, um outro armário baixo, que apoia o forno micro-ondas. Como
consequência a retirada da geladeira da cozinha, a atividade de cozinhar se estende para
a sala.

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Figura 17 – Cozinha.
Fonte: acervo pessoal.

Em todos os cômodos foi apresentada incompatibilidade nos espaços para abertura, de


acordo com Pronk (2003). Tanto na sala, quanto na cozinha, as aberturas de portas e
mobiliário interferem na circulação ou no funcionamento entre elas.
O caso analisado é um dos 20 casos visitados, cujas fotos foram utilizadas para ilustrar
este trabalho. A variação de organização dos layouts dos moradores é significativa,
resultado das necessidades dada pelo número de moradores, hábitos, trabalho, entre outras
variantes. Com exceção para os moradores que vivem sozinhos (geralmente pessoas
idosas), as famílias demonstram intenção de ampliar a casa, bem como de comprar móveis
planejados, planos estes que dependem da condição econômica.
Como já exposto, o layout sugerido pela construtora já indica problemas para o bom
desempenho ergonômico da residência, ainda que as circulações respeitem a dimensão
mínima proposta por Pronk (2003). Por outra mão, as necessidades das famílias não são
compatíveis com a proposta, necessitando de mais espaço para armazenamento e
descanso. É nesse sentido que ocorre a sobreposição de mobiliário, de atividades e
aberturas.
Além disso, os móveis adquiridos, na maioria dos casos com o cartão Minha Casa Melhor,
foram comprados em lojas populares. Nesse caso, o sofá é a maior problemática, vista a
incompatibilidade das dimensões dos disponíveis no mercado com a residência.
Conclusões
A questão do conforto ergonômico na habitação social é um tema amplo de discussão
frente a diminuição contínua das unidades e as modificações das necessidades dos
usuários. Neste trabalho, objetivou-se avaliar o Residencial José Richa, em Sarandi, e
conclui-se que existe a incompatibilidade entre o mobiliário e a dimensão da residência,
expressa em sobreposições de mobiliário e de atividades, estreitamento de circulações e
comprometimento de esquadrias.
Ainda que essa seja uma sensação subjetiva, o congestionamento das unidades é evidente
pelo número de moradores, redução da área individual e mobiliário desproporcional para
a superfície, porém indispensável para os habitantes. O espaço público não supre a
necessidade de lazer, o colabora para o desconforto da população. Desse modo, uma vez

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que a área individual é reduzida, é possível o prejuízo a saúde física e mental desses
moradores, dada pela ausência de conforto.
A intenção de mobiliário planejado, comprovam o exposto por Folz (2002), de que o
mobiliário adequado pode colaborar com o conforto ergonômico para as famílias
moradoras de habitações de interesse social. No caso do José Richa, a unidade unifamiliar
e isolada no lote ainda proporciona a possibilidade de expansão da residência. A situação,
portanto, pode se agravar em habitações sociais de tipologia multifamiliar, também
produzidas pelo PMCMV faixa 1.
Referências
FAUSTINO, Fabrício Gonçalves; SILVA, Gillayne Costa; ALMEIDA, Isis Elisabete
Albuquerque; JÚNIOR, José Batista do Nascimento. Design de interiores em
habitações populares: estudo de caso em habitações do conjunto Mangabeira VII.
Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba, 2007.
FOLZ, Rosana Rita. MOBiliário na HABitação POPular. Dissertação (mestrado em
Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo. São Carlos: 2002.
HARVEY, David. Cidades rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. São
Paulo: Martins Fontes. 2014.
LEFEBVRE, Henri. O direito a cidade. São Paulo: Centauro, 5ª edição. 2011.
MONOLUX. Residencial Governador José Richa. Disponível em:
http://construtoramonolux.com.br/residencial-governador-jose-richa/. Acesso em 10 de
novembro de 2016.
PRONK, Emile. Dimensionamento em arquitetura. João Pessoa: Editora Universitária,
7ª edição. 2003.
ROLNIK, Raquel. Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era
das finanças. São Paulo: Boitempo, 1ª edição. 2015.
SILVA, Ricardo Dias; FLEURY E SILVA, Beatriz. A produção de moradia entre 2000 e
2013 e o impacto na organização socioespacial do aglomerado Sarandi-Maringá-
Paiçandu. In: RODRIGUES, Ana Lúcia (org.). Maringá: Transformações na ordem
urbana. Maringá: Letra Capital, 2015.
SOUZA, Jacqueline Emerich. O interior da habitação popular: uma análise do
arranjo do mobiliário pela ótica da Ergonomia. Revista on line Especialize IPOG,
janeiro de 2013.

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