Conforto Ergonômico em Habitações de Interesse Social - Incompatibilidade de Dimensões
Conforto Ergonômico em Habitações de Interesse Social - Incompatibilidade de Dimensões
Conforto Ergonômico em Habitações de Interesse Social - Incompatibilidade de Dimensões
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como também a capacidade de abrigar o desenvolvimento de atividades e mobiliário
compatível (FAUSTINO; SILVA; ALMEIDA; JUNIOR, 2007).
Folz (2002) também aponta que o arranjo adequado do mobiliário, ainda que não seja
ampliado o espaço de superfície residencial, pode diminuir a sensação de
congestionamento e ampliar a sensação de conforto dos moradores. O espaço
arquitetônico precisa estar equipado com objetos úteis para a execução das funções dentro
do lar, e deve ser levado em conta o avanço das tecnologias, bem como a modificação do
papel da mulher na casa e a maior escolaridade dos jovens, demandando novos
equipamentos, como o computador, por exemplo (SOUZA, 2013). Quando os micro-
equipamentos, do interior da casa, não satisfazem as necessidades dos moradores,
recomenda-se a compensação em macro-equipamentos – praças e parques -,
principalmente do que tange os parques de habitação mínima.
A partir do exposto, tomou-se como objeto de pesquisa, as habitações unifamiliares do
programa Minha Casa Minha Vida faixa 1, considerando a proposta de layout da
construtora, a organização pós-ocupação dada pelos moradores do Residencial José
Richa, em Sarandi, Paraná.
Metodologia
O presente artigo é resultado de um projeto de pesquisa realizado entre 2016 e 2017 com
orientação da Prof.ª. Dr.ª. Beatriz Fleury e Silva, com o objetivo de avaliar o panorama
da habitação social na cidade de Sarandi, a partir do estudo de caso da produção mais
recente, o Residencial José Richa. A partir dessa pesquisa, apresenta-se nesse artigo o
recorte referente ao conforto ergonômico nas unidades.
A pesquisa foi realizada junto aos moradores do residencial José Richa por uma equipe
de graduandas em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Maringá e
Unicesumar. Foram entrevistadas 171 famílias das 470 beneficiárias, garantindo 95% de
confiança nos dados coletados. As entrevistas abordaram aspectos sociais, urbanísticos e
arquitetônicos e permitiram a avaliação quantitativa e qualitativa da atual situação do
bairro.
Das 171 casas entrevistadas, 20 foram fotografadas e desenhadas, de modo a averiguar a
relação do mobiliário e a dimensão da residência, desse modo, tornou-se possível a
avaliação aqui exposta. A construtora responsável pelo empreendimento forneceu os
projetos arquitetônicos com o layout proposto, permitindo a comparação entre o sugerido
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e a realidade pós-ocupacional. Além da apresentação dos dados em gráficos, foi realizada
a diagnose ergonômica de um dos casos encontrados.
A explanação e conceituação do conforto ergonômico foi realizada por meio de breve
revisão bibliográfica sobre o tema, foco de diversas pesquisas na atualidade.
O Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV)
Como exposto por Harvey (2014), o sistema capitalista se recupera de suas crises
construindo casas e enchendo-as de coisas. O PMCMV, lançado em 2009, tinha como
princípio a provisão de habitação, de modo a preencher a lacuna habitacional que se dava
nacionalmente desde o fim das provisões do Banco Nacional de Habitação (SILVA;
FLEURY E SILVA, 2015). Contudo, Rolnik (2015), afirma que “o programa deveria se
transformar na mais importante ação do campo econômico-social, articulando a oferta de
moradia, demanda histórica e tradicionalmente forte com uma estratégia keynesiana de
crescimento econômico e geração de empregos” (ROLNIK, 2015, p. 301). Desse modo,
o programa alavancou todos os setores de consumo, desde a construção, até o setor do
mobiliário e equipamentos.
Por outra mão, o resultado do Programa, no que respeita a faixa 1 (de 0 a 3 salários
mínimos), foram moradias padronizadas na área e na organização interna (ROLNIK,
2015), incompatíveis com o número de moradores e transformações da família.
Em Sarandi, Paraná, o Programa proporcionou a construção de 3 bairros habitacionais
voltados a faixa 1. O Residencial José Richa é o último deles, construído no ano de 2013
e entregue em 2014 (MONOLUX, 2017). O conjunto conta com 470 unidades
habitacionais de 41,41m², construídas em concreto moldado in loco, com lajes de
concreto, sistema de aquecimento solar e acessibilidade ou possibilidade para adaptação
(inversão do sentido de abertura das portas) em todas as unidades. Construído pela
construtora maringaense Monolux, se localiza no extremo sul da malha urbana, possui
precário transporte público e fica distante dos serviços de comércio, saúde, educação e
lazer.
A organização interna da residência é feita por um quarto maior e um menor (8,95m² e
6,58m², respectivamente), banheiro (4,42m²), sala de estar e jantar (13,07m²) e cozinha
integrada a sala de estar e jantar (4,50m²). A área de serviço é localizada na área externa
e protegida somente por uma extensão do beiral.
Ainda que a média familiar seja de 4 pessoas, é possível perceber que nas casas
entrevistas, foram encontrados núcleos familiares de até 8 pessoas. Esse número de
moradores resulta em uma área individual de 10,35m² para famílias contempladas na
média e 5,17m² para famílias na situação mais extrema. Nenhuma das duas situações
corresponde aos parâmetros de conforto que garantem saúde física e psicológica para os
moradores, como apontado por Folz (2002).
Dentre os moradores, o maior número de pessoas está na faixa estaria de 0-15 anos de
idade. O número de crianças indica o grande período de permanência na residência, onde
de acordo com os moradores, as crianças e adolescentes brincam e realizam atividades
nos quartos e salas, visto a distância de equipamentos de lazer adequados. Além disso, a
alta taxa de desemprego contribui para a permanência de adultos durante o período
integral, e, em muitos casos, na utilização do ambiente para o desenvolvimento de tarefas
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para arrecadar renda, como costura, produção de alimentos, manicure, entre outras.
Algumas das casas foram ampliadas de maneira irregular, de modo a fornecer espaço para
atividades de comércio. O tipo de ampliação prejudica gravemente a insolação e
ventilação dos ambientes internos.
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Figura 5 – Ampliação para o comércio. As
janelas dos quartos e da sala de estar/jantar são
comprometidas pelo fechamento.
Fonte: acervo pessoal.
a)
b)
Figura 6 – Sobreposição de atividades.
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a) roupas e máquina de lavar no quarto
b) máquina de costura no local de alimentação
Fonte: acervo pessoal.
A questão do mobiliário também afetou os beneficiários do Programa, não somente em
relação ao conforto ergonômico das residências, como na questão financeira. Uma vez
que o PMCMV tinha como objetivo o giro da economia de forma geral, bem como vista
a necessidade dos moradores de se adequar à nova residência, foi disponibilizado aos
beneficiários o valor de R$ 5.000 de modo que pudessem investir em móveis e
equipamentos para o novo lar, o Minha Casa Melhor, também proveniente da Caixa
Econômica Federal.
Figura 7 – Moradores do José Richa que utilizaram o cartão Minha Casa Melhor.
Fonte: elaborado pela autora, 2017.
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Figura 8 – Adaptação do mobiliário na
habitação. Comprometimento da circulação.
Fonte: acervo pessoal.
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a) b)
Figura 10 – a) Raio de giro da porta impedido pelo armário. B) Retirada da porta do
quarto menor devido ao sofá e ao guarda-roupas. Fonte: acervo pessoal.
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O layout proposto
A construtora Monolux entregou para a população uma cartilha instrutiva, na qual são
contidas informações sobre o imóvel, bem como possibilidades de expansão e
organização dos ambientes. Neste trabalho, será analisada a funcionalidade do layout
proposto a partir do exposto em Dimensionamento em Arquitetura, de Emile Pronk
(2003). As dimensões foram obtidas no arquivo DWG disponibilizado pela empresa, e
serão comparadas com as consideradas ideais.
Anteriormente a análise das dimensões, já se faz possível notar (figura 13) elementos que
comprometem ergonomicamente o espaço. No desenho elaborado pela construtora, o raio
de giro da porta principal é impedido pela presença do sofá, O ângulo de visão para o
televisor de dois lugares do sofá é impedido pela abertura da porta, destacando-se que a
porta se trata de uma porta janela, que, nesse caso, não poderia ficar aberta durante a
utilização do ambiente. Na cozinha, não é previsto nenhum espaço de armazenamento
significativo, ficando disponíveis apenas o gabinete da pia, não adequado para
armazenagem de mantimentos, e os suspensos. Em ambos os quartos, a cama encontra-
se encostada na janela, dificultando sua manutenção. Além disso, no quarto maior, é
proposto um móvel em frente a cama, impedindo o acesso. A máquina de lavar é indicada
no espaço externo da habitação, sem proteção as intempéries e sem segurança. Os
armários são pequenos, de quatro portas, e dificilmente atendem as necessidades de
armazenamento. O número de camas proposto é para quatro pessoas, sendo possível
adequar até 5 com a substituição de uma das camas por um beliche. Não são previstos
espaços para computador, por exemplo.
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Figura 17 – Cozinha.
Fonte: acervo pessoal.
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que a área individual é reduzida, é possível o prejuízo a saúde física e mental desses
moradores, dada pela ausência de conforto.
A intenção de mobiliário planejado, comprovam o exposto por Folz (2002), de que o
mobiliário adequado pode colaborar com o conforto ergonômico para as famílias
moradoras de habitações de interesse social. No caso do José Richa, a unidade unifamiliar
e isolada no lote ainda proporciona a possibilidade de expansão da residência. A situação,
portanto, pode se agravar em habitações sociais de tipologia multifamiliar, também
produzidas pelo PMCMV faixa 1.
Referências
FAUSTINO, Fabrício Gonçalves; SILVA, Gillayne Costa; ALMEIDA, Isis Elisabete
Albuquerque; JÚNIOR, José Batista do Nascimento. Design de interiores em
habitações populares: estudo de caso em habitações do conjunto Mangabeira VII.
Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba, 2007.
FOLZ, Rosana Rita. MOBiliário na HABitação POPular. Dissertação (mestrado em
Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo. São Carlos: 2002.
HARVEY, David. Cidades rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. São
Paulo: Martins Fontes. 2014.
LEFEBVRE, Henri. O direito a cidade. São Paulo: Centauro, 5ª edição. 2011.
MONOLUX. Residencial Governador José Richa. Disponível em:
http://construtoramonolux.com.br/residencial-governador-jose-richa/. Acesso em 10 de
novembro de 2016.
PRONK, Emile. Dimensionamento em arquitetura. João Pessoa: Editora Universitária,
7ª edição. 2003.
ROLNIK, Raquel. Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era
das finanças. São Paulo: Boitempo, 1ª edição. 2015.
SILVA, Ricardo Dias; FLEURY E SILVA, Beatriz. A produção de moradia entre 2000 e
2013 e o impacto na organização socioespacial do aglomerado Sarandi-Maringá-
Paiçandu. In: RODRIGUES, Ana Lúcia (org.). Maringá: Transformações na ordem
urbana. Maringá: Letra Capital, 2015.
SOUZA, Jacqueline Emerich. O interior da habitação popular: uma análise do
arranjo do mobiliário pela ótica da Ergonomia. Revista on line Especialize IPOG,
janeiro de 2013.
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