Clinicaecultura, C&C2012203
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Ramon Souza1
UNIT
Abstract: This article aims to address the Freudian notion of illusion. Such
conception has an exclusive model which is far from that of religion. In
addition to the defensive and symptomatic illusions, we would have a kind
of illusion that is recognized as such, closer to the lucidity of the
sublimating process. Thus, art, humor and play erupt as creative ways of
apprehending reality, whose recognition of helplessness is a constituent
element of this production.
Keywords: illusion, psychoanalysis, creating, sublimation, helplessness.
1
Professor Titular I do Curso de Psicologia da Universidade Tiradentes, Psicanalista, Doutor em
Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da USP. Lattes de Ramon Souza. E-mail:
[email protected].
2
Loureiro (2002, pp.316-320) acredita que “Freud investe contra alguns valores altamente estimados
pelos românticos”, tais como: a idealização do passado, do futuro, dos povos.
Ilusões defensivas
3
Para o budismo e o hinduísmo, assim como na psicanálise, o desejo causa sofrimento. Na psicanálise,
contudo, não é preciso aniquilar esse desejo através das práticas de meditação.
4
Tal crítica de Freud à filosofia é questionada por Mezan: “A catilinária de Freud contra a filosofia , pois,
parece ser também adequada para apostrofar a psicanálise. E cabe perguntar se tal desprezo não recobre
uma intenção defensiva, como se a filosofia reenviasse, como um espelho, certos elementos da obra
freudiana que seu autor prefere desconhecer” (Mezan, 2006, p.669).
Ilusões criativas
5
Birman (1997, p.89) chama atenção para a hierarquia existente entre os saberes freudiano, de acordo
com os valores do desamparo e do desejo. Nesse sentido, o autor opta por distinguir as “formações
ilusórias” das “formações sublimatórias”.
6
“Criação sublimatória” é um modo de ampliar a compreensão do processo sublimatório, condensando-o
à noção winnicottiana (1989) de criação.
uma grande quantidade de emoção, enquanto mantêm uma separação nítida entre o
mesmo e a realidade (Freud, 1996/1908). Somente no mundo imaginativo, do artista ou
da criança, os excitamentos penosos da vida real são transformados em fontes de prazer
por um processo de elaboração. A metáfora do carretel, relatada por Freud em 1920,
ilustra claramente esse aspecto: o menino, na ausência da mãe, transforma a sua
experiência em jogo, exercendo um papel ativo diante da situação de desamparo (Freud,
1996/1920, pp.25-28). Eis o motivo pelo qual Freud sublinha a seriedade do brincar: “A
antítese de brincar não é o sério, mas o que é real” (Freud, 1996/1908, p.135). O brincar
em suas diversas formas (inclusive artísticas e humorísticas) inaugura um campo
ilusório trágico-criativo. Trata-se, assim, da marca da plasticidade do desejo e da
exuberância da potência do homem diante da condição trágica. Isso nos leva a crer que
o caminho do desilusionamento parece não consistir no abandono ou destruição em si
das ilusões (o que talvez seja da ordem do impossível), mas em sua apropriação ético-
estética. Em outros termos, o desilusionamento estaria mais próximo de uma ilusão que
se reconhece como tal, como sugere o processo sublimatório.
Submissão: set/2012
Aceite: nov/2012
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