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Doutrinas Fundamentais 1

Organização : Pr. Roger Caio Dias de Menezes


Design: Thiago dos Santos | OrangeSpark
DOUTRINAS FUNDAMENTAIS

“ Cristo habita em quem O recebe pela fé. Embora sobrevenham


provações à alma, a presença do Senhor estará conosco. A sarça
ardente na qual estava a presença do Senhor não se consumia. O
fogo não destruiu uma só fibra dos ramos. Assim será com o fraco
instrumento humano que põe sua confiança em Cristo. O fogo da
fornalha da tentação poderá arder, talvez venham perseguições e
provas, mas só a escória será consumida. O brilho do ouro será mais
forte devido ao processo de purificação.”

(WHITE, E recebereis poder, p.133)


ÍNDICE
1ª PARTE – A DOUTRINA DE DEUS
CAP1. A TRINDADE ..pág 7
CAP2. O PAI ..pág 13
CAP3. O FILHO ..pág 17
CAP4. O ESPÍRITO SANTO ..pág 23

2ª PARTE – A DOUTRINA DO HOMEM


CAP5. A NATUREZA DA HUMANIDADE ..pág 29

3ª PARTE – A DOUTRINA DA SALVAÇÃO


CAP6. O GRANDE CONFLITO ..pág 37
CAP7. A EXPERIÊNCIA DA SALVAÇÃO ..pág 43

4ª PARTE - A DOUTRINA DA IGREJA


CAP8. A IGREJA E O SURGIMENTO DO REMANESCENTE ..pág 49
CAP9. O DOM DE PROFECIA ..pág 57

5ª PARTE - A DOUTRINA DA VIDA CRISTÃ


CAP10. MORDOMOS DE DEUS ..pág 67
CAP11. A LEI DE DEUS ..pág 75

6ª PARTE – A DOUTRINA DOS ÚLTIMOS EVENTOS


CAP12. O MINISTÉRIO DE CRISTO NO SANTUÁRIO CELESTIAL ..pág 81
CAP13. A SEGUNDA VINDA DE CRISTO, O MILÊNIO E A NOVA TERRA ..pág 87
Apresentação
APRESENTAÇÃO
Seja bem vindo à sua nova família! Desde que começou a estudar a Bíblia e se
decidiu ao batismo, você começou a experimentar uma nova vida permeada de
desafios, mas isso é apenas o começo da sua jornada cristã.
O nosso desejo é que você desfrute do convívio cristão e que sua vida espiritual se
fortaleça cada vez mais em Cristo Jesus.
Sendo assim, queremos convidá-lo(a) à participar conosco do Ciclo de
Discipulado Raízes, que contribuirá para o seu crescimento espiritual no início da
sua caminhada cristã.
O Ciclo de Discipulado Raízes é formado por um grupo de pessoas que como
você deseja continuar estudando mais sobre Deus e Seus ensinos. Nesse grupo você
poderá aprender sobre:

Módulo 1 - “Eu Conheco Minha História”


- um estudo sobre a história do povo de Deus e como esse povo foi guiado
ao longo dos séculos até os nossos dias.

Módulo 2 - “Discipulado”
- um estudo estudo prático de como se envolver na missão de levar pessoas
a serem discípulos de Cristo.

Módulo 3 - “Doutrinas Bíblicas Fundamentais”


- um estudo detalhado para compreender ensinamentos bíblicos importantes
defendidos pela Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Além do conhecimento adquirido nesses módulos, você terá oportunidade de


conhecer melhor outros membros dessa família, trocar experiências, orar, cantar,
testemunhar, confraternizar e experimentar a alegria do verdadeiro discípulo.

Venha fazer parte do Ciclo de Discipulado Raizes ! Sua presença é imprescindível!


1ª Parte

A DOUTRINA DE DEUS

6 Doutrinas Fundamentais
1 A TRINDADE

“Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas coeternas. Deus é
imortal, onipotente, onisciente, acima de tudo e sempre presente. Ele é infinito e está além da
compreensão humana, mas é conhecido por meio de Sua autorrevelação. Deus, que é amor, para
sempre é digno de culto, adoração e serviço por parte de toda a criação” (Gn 1:26; Dt 6:4; Is 6:8;
Mt 28:19; Jo 3:16; 2Co 1:21, 22; 13:14; Ef 4:4-6; 1 Pe 1:2).

Quando Moisés se encontrou com Faraó, o governante egípcio fez uma pergunta
importante: “Quem é o seu Deus?” (Êxodo 5:1,2). Essa pergunta permanece ao longo
da história, pois muitas pessoas ainda querem entender quem Deus realmente é. Para
tentar responder essa questão, quatro ideias principais surgem sobre a existência de
Deus: Ateísmo, Panteísmo, Agnosticismo e Teísmo. Essas formas de pensar influenciam,
de alguma maneira, todas as religiões do mundo. Entender essas visões nos ajuda a
compreender as diferentes crenças e a encontrar respostas para a pergunta: quem é
Deus?

• Ateísmo: O ateísmo nega a existência de Deus. Para os ateus, o universo e tudo


o que existe são resultado do acaso, sem nenhum propósito por trás. Os seres
humanos são apenas o produto de um processo evolutivo, sem um sentido maior
para a sua existência.
• Agnosticismo: A palavra “agnosticismo” vem do grego “gnosis”, que significa
“conhecimento”. O agnosticismo acredita que é impossível ter conhecimento total
sobre o que existe, incluindo Deus. Para os agnósticos, se Deus existir, Ele não
interfere diretamente em nosso mundo ou na história humana.
• Panteísmo: O panteísmo une duas palavras gregas: “pan” (tudo) e “theos” (Deus).
Nesta visão, tudo no universo é uma manifestação divina, e Deus está presente em
todas as coisas. Ele não é visto como uma pessoa, mas como uma força ou energia
que conecta todo o universo.
• Teísmo: O teísmo acredita em Deus como um Ser pessoal, que criou o universo
e tudo o que nele existe. Deus não é apenas o Criador, mas também aquele que
mantém tudo funcionando. Ele tem um relacionamento ativo com o mundo e com
as pessoas.

Doutrinas Fundamentais 7
1. AS FONTES DO CONHECIMENTO DE DEUS
“Visto que Deus Se relaciona com tudo e tudo com Ele se relaciona, a doutrina
de Deus é fundamental para a teologia cristã.” [Tratado de Teologia Adventista
do Sétimo Dia, 120]. O conhecimento sobre Deus é a base para a compreensão
de todas as outras doutrinas cristãs. O que podemos saber sobre Deus deve ser
revelado a partir das próprias Escrituras. Embora seja impossível para a criatura
entender completamente o Criador, e muitos aspectos da realidade divina estejam
além da nossa compreensão, podemos conhecer o Senhor através daquilo que Ele
nos revelou (Deuteronômio 29:29).

• A Revelação Geral de Deus se manifesta na natureza, oferecendo evidências


de Sua existência e grandeza (Salmos 19; Romanos 1:20).
• A Revelação Especial é o método de comunicação divino que ocorre através
da consciência humana (Romanos 2:12-15). A Bíblia Sagrada é a principal fonte
dessa revelação especial (João 17:17; Hebreus 1:1-3). Na revelação especial,
Deus fala por meio de palavras humanas, enquanto que na revelação geral, o
mesmo Deus fala por intermédio de fatos físicos e históricos.
• A Revelação Completa de Deus é Jesus Cristo, o Deus encarnado (João 1:14;
João 14:8,9). Jesus veio a este mundo para revelar plenamente quem Deus é

2. OS NOMES DE DEUS
A Bíblia usa diferentes nomes para se referir a Deus, cada um revelando aspectos
importantes de Sua pessoa, natureza, caráter e qualidades. Esses nomes não
apenas descrevem quem Deus é, mas nos ajudam a entender como Ele deseja se
relacionar conosco.

• El, Elohim (Deus) – Esses nomes destacam o poder divino, mostrando Deus
como o Todo-Poderoso, o Criador de todas as coisas (Gênesis 1:1; Êxodo 20:2;
Daniel 9:4).
• Elyon, El Elyon (Deus Altíssimo) – Esses títulos ressaltam o status exaltado
de Deus, apontando para Sua superioridade sobre todas as coisas (Gênesis
14:18-20; Isaías 14:14).
• Adonai (Senhor, Mestre) – Adonai retrata Deus como um Legislador
poderoso, aquele que comanda e governa (Isaías 6:1; Salmo 35:23).
• Shaddai, El Shaddai (Deus Todo-Poderoso) – Estes nomes revelam Deus
como a fonte de bênção e conforto, destacando Seu desejo de se relacionar
com Seu povo (Êxodo 6:3; Salmo 91:1).
• Yahweh (Jeová ou Senhor) – Yahweh enfatiza a auto existência de Deus,
Sua fidelidade e graça na manutenção da aliança com o Seu povo (Êxodo
15:2-3; Oséias 12:5-6). Em Êxodo 3:14, Deus se descreve como “Eu Sou o Que
Sou”, indicando a constância do Seu relacionamento com o povo.
• Ába (Pai) – A Bíblia também apresenta Deus de maneira mais íntima, como
Pai (Deuteronômio 32:6; Isaías 63:16; Jeremias 31:9; Malaquias 2:10). Jesus

8 Doutrinas Fundamentais
deu a esse nome um significado ainda mais profundo, chamando os crentes
a um relacionamento pessoal e próximo com Deus, o Pai (Mateus 6:9; Marcos
14:36; Romanos 8:15; Gálatas 4:6).

3. CARACTERÍSTICAS E ATRIBUTOS DIVINOS


A grandiosidade de Deus lhe proporciona caraterísticas exclusivas que destacam
a beleza do seu ser:

• Deus compassivo, amorável e relacional - Êxodo 25:8; 34:6,7.


• Deus misericordioso - Lm 3:22-23
• Deus de aliança - Gn 9:1-7; 12:1-3; 28:10-15
• Deus de Refúgio, Protetor e Provedor.
• Deus que perdoador - Sl 103:11-14; Isaías 44:21
• Deus salvador - Is 45:22
• Deus paternal - Ml 2:10
• Deus justo - Sl 145:17

A grandiosidade de Deus lhe proporciona caraterísticas exclusivas que destacam


a beleza do seu ser:

Atributos Incomunicáveis:
◊ Auto existência (Jo 5:26)
◊ Vontade independente (Ef 1:5)
◊ Onisciência (Is 46:10)
◊ Onipresença (Sl 139)
◊ Onipotente (Is 43:13)
◊ Eternidade (Jr 10:10)

Atributos Comunicáveis:
◊ Amor (Rm 5:8)
◊ Graça (Rm 3:24)
◊ Misericórdia ( Sl 145:9)
◊ Longanimidade (2 Pd 3:15)
◊ Santidade (Sl 99:9)
◊ Justiça (Ed 9:15)
◊ Verdade (1Jo 5:20)

4. A SOBERANIA DE DEUS
A soberania de Deus é claramente ensinada nas Escrituras (Daniel 4:35; Apocalipse
4:11; Salmo 135:6). Deus é um Ser soberano, acima de todas as coisas e de todos,
conduzindo a história conforme o Seu plano (Isaías 43:13; 46:10). No entanto,
mesmo sendo soberano, Deus concede ao ser humano o livre arbítrio, respeitando
o seu direito de escolha.

Doutrinas Fundamentais 9
João Calvino, o renomado teólogo reformador francês, defendia que a soberania
divina levava à predestinação, ou seja, que algumas pessoas eram escolhidas por
Deus para a salvação, enquanto outras seriam destinadas à perdição. Entretanto,
essa visão não encontra suporte bíblico. Em relação à predestinação, o apóstolo
Paulo afirmou que Deus nos predestinou para a salvação em Cristo Jesus (Romanos
8:29). O desejo de Deus é que todos sejam salvos e cheguem ao arrependimento (2
Pedro 3:9).

É importante não confundir predestinação com presciência. “Deus pode ver


antecipadamente todas as decisões individuais que serão tomadas, mas em Sua
presciência Ele não determina quais devem ser estas escolhas. [...] A predestinação
bíblica consiste no efetivo propósito de Deus, de que todos aqueles que crerem em
Cristo sejam salvos” (João 1:12; Efésios 1:4-10) [Tratado de Teologia Adventista do
Sétimo Dia, 122]. Assim, a verdadeira predestinação bíblica refere-se ao plano de
Deus de salvar todos os que escolherem crer em Jesus.

5. O DEUS TRIUNO
• A Pluralidade Interna da Divindade
A Bíblia não apresenta Deus como sendo apenas uma única Pessoa. A unidade
de Deus é vista em Seu propósito, mente e caráter, mas isso não elimina as
personalidades distintas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Essa pluralidade não
contradiz o conceito monoteísta das Escrituras, pois Pai, Filho e Espírito Santo são
um só Deus.

Embora o Antigo Testamento não ensine explicitamente sobre a Trindade, ele


sugere a pluralidade interna de Deus em alguns momentos. Em várias passagens,
Deus utiliza pronomes e verbos no plural para se referir a Si mesmo (Gênesis 1:26;
3:22; 11:7). Além disso, algumas passagens fazem distinção entre o Espírito de Deus
e o próprio Deus. Na criação, por exemplo, lemos que “o Espírito de Deus pairava
por sobre as águas” (Gênesis 1:2). Outros textos mencionam o Espírito e ainda uma
terceira pessoa atuando na obra redentora de Deus (Isaías 42:1; 48:16).

• O Relacionamento Interno da Divindade


Deus é amor (1 João 4:8), e isso se reflete no relacionamento entre as pessoas da
Trindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo vivem em plena harmonia e dedicação
mútua, encontrando realização e felicidade completa nesse amor. O amor não pode
existir no isolamento, então, se Deus fosse uma única pessoa, Ele não poderia ser
essencialmente o amor personificado.

• O Relacionamento Funcional da Divindade


Dentro da Trindade, há uma divisão funcional. O Pai age como a fonte, o Filho como
o mediador, e o Espírito Santo como o aplicador. Essa organização não diminui a
unidade interna da divindade, mas reflete o papel de cada pessoa.

A encarnação de Cristo é um exemplo claro desse relacionamento funcional. O

10 Doutrinas Fundamentais
Pai deu Seu Filho, o Filho entregou-Se a Si mesmo, e o Espírito Santo realizou a
concepção de Jesus (João 3:16; Mateus 1:18, 20). Também vemos a cooperação das
três pessoas da divindade no batismo de Jesus (Mateus 3:15-17; Lucas 3:21-22) e na
promessa de Cristo sobre o Consolador (João 15:26). A bênção apostólica, por sua
vez, invoca as três pessoas da Trindade (2 Coríntios 13:13), mostrando sua ação
conjunta.

6. ANÁLISE DE TEXTOS QUE APARENTEMENTE SE OPÕE A TRINDADE


Algumas pessoas, ao tentar rejeitar a doutrina da Trindade, utilizam passagens
bíblicas que, à primeira vista, parecem contradizer esse ensinamento. Vamos
analisar algumas dessas passagens.

• João 3:16e
Problema textual: Se Jesus é o Filho unigênito, isso significa que Ele foi gerado
em algum momento da história, não sendo divino em essência como Deus Pai?
Explicação: A palavra “unigênito” no original grego é “monogenes”, que combina
“mono” (único, sozinho) e “genes” (espécie, único da espécie). A raiz de “genes”
não vem de “gennao” (gerar), mas de “ginomai”, que significa “vir a ser”. Isso
indica que o texto está enfatizando a singularidade da natureza de Cristo, o único
que é simultaneamente Deus e Homem, sendo o único de sua espécie. Um exemplo
que ilumina essa questão é Isaque, filho de Abraão, chamado de “unigênito”
(monogenes) em Hebreus 11:17. Embora Isaque não tenha sido o único filho de
Abraão, ele foi o único da promessa divina. Na cultura hebraica, a expressão
“filho” aponta para “igualdade”, não inferioridade. Quando Jesus se refere a si
mesmo como o “Filho de Deus”, Ele está afirmando Sua divindade.

• Colossenses 1:15,18
Problema textual: Se Jesus é o primogênito de toda a criação, isso significa que
Ele foi o primeiro ser criado por Deus?
Explicação: A palavra “primogênito” é traduzida do grego “prototokos”, que pode
se referir a “posição privilegiada”, “herança” ou “status”. No Novo Testamento,
“prototokos” é usado seis vezes de maneira figurada e apenas duas vezes de forma
literal. Em Colossenses 1:18, Jesus é chamado de “primogênito dos mortos”, mesmo
não sendo o primeiro a ressuscitar cronologicamente. A expressão, portanto,
indica Sua supremacia absoluta sobre toda a criação.

• João 17:3
Problema textual: Jesus estaria negando ser o verdadeiro Deus?
Explicação: O texto não está contrastando Deus Pai com Jesus Cristo para afirmar
que apenas o Pai é Deus verdadeiro. Em vez disso, a passagem destaca a necessidade
de conhecer o único Deus verdadeiro, em oposição aos ídolos e falsos deuses.

• 1 Coríntios 8:6
Problema textual: O versículo está afirmando a exclusividade de Deus Pai como
o único Deus?

Doutrinas Fundamentais 11
Explicação: Seguir essa interpretação distorcida levaria à conclusão de que
Deus Pai não seria Senhor. Nos versos anteriores (1 Coríntios 8:4-5), Paulo está
contrastando o Deus verdadeiro com ídolos e falsos deuses. O verso, então, afirma
a unicidade de Deus Pai e Jesus Cristo como o único Deus e Senhor para os cristãos.
Essas explicações mostram que, longe de contrariarem a doutrina da Trindade,
essas passagens reforçam a divindade de Cristo e Sua relação única com o Pai e o
Espírito Santo.

• I Tm 2:5,6
Problema textual: O apóstolo Paulo estaria afirmando que apenas o Pai é o
verdadeiro Deus, enquanto Jesus seria apenas um mediador?
Explicação: Este versículo bíblico enfatiza a exclusiva mediação de Jesus Cristo entre
Deus e a humanidade, devido ao preço pago pela redenção por meio de Seu sacrifício
na cruz. Essa afirmação não nega a divindade de Cristo; pelo contrário, Jesus é a ponte
entre o céu e a terra justamente porque é tanto Deus quanto homem ao mesmo tempo.

• I Cor 15:24-28
Problema textual: A afirmação bíblica de que Cristo se sujeitará a Deus Pai no fim
do Grande Conflito entre o bem e o mal sugere que Ele é inferior ou questiona Sua
divindade?
Explicação: É essencial compreender que a subordinação bíblica mencionada tem
um caráter funcional, não essencial. Devemos distinguir a natureza de Cristo de
Seu papel no plano da salvação. A subordinação está, provavelmente, relacionada
ao fato de que Cristo manterá para sempre Sua humanidade. A ênfase da passagem
está na solidariedade de Cristo com a humanidade.

• Ap 3:14
Problema textual: O texto bíblico estaria afirmando que Jesus foi o primeiro ser
criado por Deus?
Explicação: A palavra grega “arché” significa “fonte” ou “origem”, em vez de
“princípio” no sentido de primeiro ser criado. Jesus não é a primeira criatura, mas
a fonte e origem de toda a criação.

PARA REFLETIR

O Pai é toda a plenitude da Divindade corporalmente, e é invisível aos olhos mortais. O Filho
é toda a plenitude da Divindade manifestada. A palavra de Deus declara que Ele é a expressa
imagem da pessoa de Seu Pai. O Consolador que Cristo prometeu enviar depois de ascender
ao Céu, é o Espírito em toda a plenitude da Divindade, tornando-se manifesto ao poder da
graça divina a todos os que recebem a Cristo e crêem nEle.” (Ellen White - Conselhos Sobre
Saúde, p. 222).

12 Doutrinas Fundamentais
2 O PAI

Deus, o Eterno Pai, é o criador, o originador, o mantenedor e o soberano de toda a criação.


Ele é justo e santo, compassivo e clemente, tardio em irar-Se e grande em constante amor e
fidelidade. As qualidades e os poderes manifestos no Filho e no Espírito Santo também são os
mesmos do Pai (Gn 1:1; Dt 4:35; SI 110:1,4; Jo 3:16; 14:9; 1Co 15:28; 1Tm 1:17; Ap 4:11).

Uma pesquisa realizada por Pehr Granqvist e Lee Kirkpatrick e publicada em


2021 na revista “Psychology of Religion and Spirituality” revela que a percepção
de Deus como um ser punitivo gera ansiedade religiosa, enquanto vê-lo como
amoroso promove segurança espiritual. Isso esclarece por que muitos cristãos
amam Jesus, mas temem Deus o Pai, devido à falta de entendimento pleno de Seu
caráter amoroso.

Um dos maiores privilégios que a Bíblia nos oferece é conhecer Deus Pai, não apenas
intelectualmente, mas por meio de um relacionamento íntimo e contínuo. Essa
conexão nos permite entender Deus como um Pai amoroso. Esse conhecimento
profundo nos aproxima dEle, reconhecendo-O como nosso Criador e Redentor
(João 17:3).

1. O PAI NO ANTIGO TESTAMENTO


O testemunho de muitos personagens bíblicos nos ajuda a construir uma imagem
clara do Ser de Deus. Moisés, que desenvolveu uma relação de grande intimidade
com Deus, talvez seja a pessoa que mais teve contato com Ele após a entrada
do pecado no mundo. Para Moisés, Deus é compassivo e amoroso (Êxodo 34:6-
7). Ele acreditava que Deus deseja estar próximo de Seus filhos, buscando o seu
bem, guiando seus passos e cumprindo Seus planos em suas vidas (Êxodo 25:8).
Jeremias, por sua vez, testemunhou sobre a indescritível misericórdia de Deus
(Lamentações 3:22-23).

Ao longo das Escrituras, Deus estabeleceu Sua relação com a humanidade por meio
de alianças. A palavra “aliança”, no hebraico, é “berith”, que significa “acordo”

Doutrinas Fundamentais 13
ou “pacto”. As alianças de Deus com os seres humanos refletem Seu desejo de
se relacionar com a humanidade e garantir sua salvação, sendo Ele o provedor e
sustentador dessa salvação (Gênesis 3:15; 9:13; Deuteronômio 7:9; Salmo 103:17-
18; Jeremias 31:31-34).

Nas Escrituras Sagradas, Deus Pai é retratado como um refúgio seguro, nosso
protetor e provedor. Ele é o “nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas
tribulações” (Salmo 46:1), sempre ao nosso lado em todos os momentos e lugares.
Deus conhece cada detalhe da nossa vida, entendendo nossa história desde antes
de sermos gerados. Nenhum pensamento ou sentimento pode ser escondido d’Ele
(Salmo 139), pois Sua presença e cuidado nos envolvem por completo, oferecendo
proteção e amparo contínuos.

É importante destacar também que Deus é um Ser perdoador (Sl 103:11-14; Is 44:21)
e que luta por nossa salvação dos seus filhos (Ex 14:15-31; 2 Reis 18-19; Dn 3,6).
Fica evidente que o Deus apresentado no Antigo Testamento é um Deus de amor,
ao mesmo tempo que é justo e fiel para aqueles que escolhem nele crer. O Deus do
Antigo Testamento é o mesmo Deus no Novo Testamento.

O Antigo Testamento descreve Deus Pai como um refúgio seguro, sendo Ele o
nosso protetor e provedor. Ele é “nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente
nas tribulações” (Salmo 46:1), sempre presente em todos os momentos e lugares.
Deus conhece cada detalhe da nossa vida, sabendo nossa história desde antes de
sermos gerados. Nenhum pensamento ou sentimento está oculto d’Ele (Salmo 139),
pois Sua presença e cuidado nos envolvem por completo, oferecendo proteção e
conforto constantes.

Além disso, Deus é apresentado como um Ser perdoador (Salmo 103:11-14; Isaías
44:21) que luta pela salvação de Seus filhos (Êxodo 14:15-31; 2 Reis 18-19; Daniel
3, 6). O Deus revelado no Antigo Testamento é um Deus de amor, justo e fiel para
com aqueles que escolhem crer n’Ele. Ele é o mesmo Deus do Novo Testamento,
sempre presente e atuante na história da salvação.

Deus Misericordioso Êxodo 34:6 ; 2 Crônicas 30:9; Salmos 116:5

Deus Redentor Jó 19:25; Salmos 18:1-2

Deus de Refúgio Salmos 27:5; 46:1; 55:22

Deus Perdoador Salmos 51:1,11; 103:11-14; Miquéias 7:18

Deus Bondoso Salmos 34:8; 146:7-9

Deus Fiel Isaías 41:9-10; Levíticos 26:40-42

Deus Salvador Isaías 25:9; 35:4; Jeremias 33:16

14 Doutrinas Fundamentais
2. O Pai no Novo Testamento
• Pai de toda criação
O Pai é o Criador de toda a existência, distinguido de Jesus Cristo por Paulo em
suas epístolas. Ele declara: “Para nós, porém, há um só Deus, o Pai, de quem são
todas as coisas, e um só Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem existem todas as
coisas, e por meio de quem vivemos” (1 Co 8:6). O apóstolo reforça essa distinção
ao afirmar: “Por esta razão, dobro os joelhos perante o Pai, de quem toma o nome
toda família, tanto no Céu quanto na Terra” (Ef 3:14-15; cf. Hb 12:9; Jo 1:17). Essa
compreensão teológica destaca o Pai como a fonte de toda a criação, e Cristo como
o mediador pelo qual tudo foi feito.

• Pai de todos os crentes


No Novo Testamento, o relacionamento espiritual de Pai e filho não se limita
apenas a Deus e à nação de Israel, mas abrange também o vínculo entre Deus e o
crente individual. Jesus delineou os princípios desse relacionamento em passagens
como Mateus 5:45 e 6:6-15, mostrando que ele é estabelecido através da aceitação
de Cristo por parte do crente (Jo 1:12, 13). Através da obra redentora de Cristo, os
crentes são adotados como filhos de Deus, e o Espírito Santo é o agente que facilita
esse relacionamento íntimo. Paulo explica que Cristo veio “para resgatar os que
estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque sois
filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de Seu Filho, que clama: Aba,
Pai!” (Gl 4:5, 6; cf. Rm 8:15, 16).

A mais significativa expressão de Deus como Pai de todos os crentes está presente
na oração que Jesus ensinou a Seus discípulos (Mt 6:9-13). Ao orarem “Pai nosso,
que estás nos céus”, os crentes reconhecem que Deus é uma Pessoa real, capaz
de estabelecer um relacionamento íntimo e cheio de cuidado. Ele é tão próximo e
amoroso quanto um pai terreno, mas é o Pai celestial – santo, perfeito em caráter,
repleto de graça e bondade em Seus relacionamentos. Embora seja pessoal, Ele
não é humano, mas o soberano e amoroso Criador que se envolve profundamente
com Seus filhos.

• O Pai revelado pelo Filho


Jesus revela o Pai de forma plena e definitiva. Sendo o Deus Filho, Ele proporcionou
a mais profunda visão do Pai ao Se tornar carne e habitar entre os homens (Jo 1:1,
14). João afirma: “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio
do Pai, é quem O revelou” (Jo 1:18). O próprio Jesus declarou: “Eu desci do Céu” (Jo
6:38) e ainda: “Quem Me vê, vê o Pai” (Jo 14:9). Assim, conhecer Jesus é conhecer
o Pai, pois Ele é a revelação exata da natureza divina.

A epístola aos Hebreus reforça a importância dessa revelação pessoal de Deus por
meio de Cristo. “Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes e de muitas maneiras,
aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu
herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o Universo. Ele é o resplendor da

Doutrinas Fundamentais 15
glória e a expressão exata do Seu Ser” (Hb 1:1-3). Jesus, como a plena manifestação
do Pai, reflete a glória e o caráter divino, tornando visível o invisível e acessível o
conhecimento de Deus.

• O Pai revelado no Calvário


De todas as revelações do Pai, nenhuma é tão profunda quanto o Calvário. Nesse
cenário, o Pai, em Seu incomensurável amor, permite que o Filho, o objeto de Sua
mais íntima afeição, voluntariamente troque a adoração e o louvor das hostes
celestiais pelo ódio e desprezo dos homens. Na cruz, o Pai testemunha Seu Filho
sofrer a investida da fúria de Lúcifer e de seus anjos caídos. Mas o momento mais
terrível se dá quando o Pai, em Sua justiça, é compelido a derramar toda a Sua ira
divina contra o pecado sobre o Filho inocente, aquele a quem Ele mais ama. No
Calvário, vemos a justiça de Deus e Sua misericórdia se encontrarem em perfeita
harmonia: o pior do homem revelado, e o melhor de Deus oferecido. É na cruz que
encontramos a mais sublime definição de amor, onde o Pai entregou tudo para
resgatar a humanidade perdida.

Como João afirma: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu
Filho unigênito, para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna” (João 3:16). Na cruz, não apenas entendemos o sacrifício de Cristo, mas
somos convidados a experimentar o profundo amor do Pai por cada um de nós. É
nesse ato supremo que se revela o caráter de Deus: um Pai que ama tanto que foi
capaz de dar o que tinha de mais precioso para garantir nossa salvação. Assim,
o Calvário permanece como a maior revelação do amor e da justiça divinos, um
convite eterno à vida e ao relacionamento com o Criador.

PARA REFLETIR

“O infinito Pai deu tudo quanto podia dar, para que o homem pudesse ser elevado e enobrecido.
O autor de toda a verdade que ilumina o mundo e enche a alma de pureza e paz é o próprio
Deus.” (Ellen White, Patriarcas e Profetas, p. 34).

16 Doutrinas Fundamentais
3 O FILHO

Deus, o Filho Eterno, encarnou-Se como Jesus Cristo. Por meio Dele foram criadas todas as
coisas, é revelado o caráter de Deus, efetuada a salvação da humanidade e julgado o mundo.
Sendo para sempre verdadeiramente Deus, Ele Se tornou também verdadeiramente humano,
Jesus, o Cristo. Foi concebido do Espírito Santo e nasceu da virgem Maria. Viveu e experimentou
a tentação como ser humano, mas exemplificou perfeitamente a justiça e o amor de Deus. Por
Seus milagres manifestou o poder de Deus e atestou que era o Messias prometido por Deus.
Sofreu e morreu voluntariamente na cruz por nossos pecados e em nosso lugar, foi ressuscitado
dentre os mortos e ascendeu ao Céu para ministrar no santuário celestial em nosso favor. Virá
outra vez, em glória, para o livramento final de Seu povo e a restauração de todas as coisas (Is
53:4-6; Dn 9:25-27; Lo 1:35; Jo 1:1-3, 14; 5:22; 10:30; 14:1-3, 9, 13; Rm 6:23; 1Co 15:3, 4; 2Co 3:18; 5:17-
19; Fp 2:5-11; CI 1:15-19; Hb 2:9-18; 8:1, 2).
A história de Charles Templeton, ex-pastor e grande evangelista, que, apesar de ter
rejeitado a fé em Deus, jamais conseguiu se desvincular da figura de Jesus, ilustra o
irresistível poder do Deus encarnado. Após se tornar agnóstico, Templeton, em uma
entrevista no final de sua vida, admitiu sentir saudades de Jesus, reconhecendo-O
como o ser humano mais extraordinário que já existiu. Esse relato intrigante revela
que, mesmo aqueles que se afastam de Deus, ainda podem ser atraídos por Cristo
— a ponte que une o Céu e a Terra, o elo divino que toca profundamente o coração
humano (João 12:32).

1. A DIVINDADE DO FILHO
Desde a eternidade, Jesus Cristo, o Filho de Deus, compartilha da mesma essência
divina que o Pai e o Espírito Santo. A doutrina da Trindade revela a unidade da
divindade, onde Pai, Filho e Espírito Santo coexistem em perfeita harmonia e
igualdade. O Filho não foi criado; Ele é coeterno com o Pai, sendo descrito como
o Verbo que “estava com Deus e era Deus” (João 1:1). Jesus é apresentado como
o “resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser” (Hebreus 1:3),
indicando Sua imutabilidade e eternidade, ou seja, Sua existência transcende o
tempo e a criação.

Doutrinas Fundamentais 17
A divindade de Cristo é reafirmada de diversas maneiras nas Escrituras. No Novo
Testamento, Jesus realiza obras que só Deus pode fazer: Ele perdoa pecados (Marcos
2:5-7), acalma tempestades (Marcos 4:39), ressuscita mortos (João 11:43) e declara ser
“um com o Pai” (João 10:30). No Antigo Testamento, várias passagens antecipam Sua
divindade, como no Salmo 110:1, onde o Messias é convidado a sentar-se à direita de
Deus, um lugar reservado para a Divindade. O profeta Isaías também O chama de
“Deus Forte” e “Pai da Eternidade” (Isaías 9:6), títulos que evidenciam Sua natureza
divina. Quando Jesus afirma: “antes que Abraão existisse, Eu Sou” (João 8:58), Ele
reivindica Sua divindade eterna, identificando-se com o nome sagrado de Deus
revelado a Moisés (Êxodo 3:14).

– Jesus no livro de Hebreus


◊ Hb 1:1-3 - Jesus é a expressão exata do ser de Deus.
◊ Hb 1:2, 10 - Jesus é visto como o Criador, aquele que lançou os fundamentos da
terra e do céu; uma citação de Salmos 102:25-27.
◊ Hb 1:8 - A expressão “Oh Deus” é usada para referir-se a Jesus, um reconhecimento
a Sua Divindade.
◊ Hb 7:3 - Jesus é visto como sendo eterno.

– Jesus no livro do Apocalipse


◊ Ap 1:4,8, 12-17; 22:12,13 - Jesus é apresentado como Deus glorificado, o “primeiro e o
último”, o Todo Poderoso, uma clara menção à divindade retratada em Isaias 44:6.
◊ Ap 22:1-3 – Jesus é visto no trono, ao lado do Pai, governando o Universo após o
desfecho do grande conflito, uma clara alusão à sua divindade.

– Jesus no evangelho de João


◊ João 8:58 - Este texto oferece a mais clara evidência da divindade de Cristo, pois
ao usar a expressão “Eu Sou”, Jesus se identifica como YHWH, o mesmo termo
que Deus utilizou para se revelar a Moisés em Êxodo 3:14. Dessa forma, Jesus se
apresenta como o próprio Deus, reafirmando Sua natureza divina.
◊ João 1:1-14 - Jesus é descrito como Deus, o Verbo Eterno, autor da criação, com
ênfase na sua encarnação como elemento crucial na obra da redenção.
◊ João 10:27-38 - “Eu e o Pai somos um”. Jesus se coloca ao lado do Pai como Ser
divino.
◊ João 20:27, 28 - “Senhor meu e Deus meu” - Tomé reconhece Jesus como o seu Deus
e Senhor.

– Jesus no livro de Tito


◊ Tito 2:11-14 - Jesus é apresentado como “Nosso grande Deus e Salvador ”.

– Jesus no livro de Romanos


• Rm 9:5 – O apóstolo Paulo afirma que Cristo é o “Deus bendito”.

– Jesus no livro de Colossenses


◊ Cl 1:19 ; 2:9 – Paulo atesta que em Cristo “habita corporalmente a plenitude da
divindade”.

18 Doutrinas Fundamentais
– Jesus no livro de Filipenses
◊ Fl 2:5-8 - Jesus, existindo na forma de Deus (do grego morphé, que indica Seus
atributos divinos essenciais), escolheu abrir mão de Seus privilégios e assumir
a natureza humana, tomando a forma de servo para nos salvar. Esse ato de
humildade e sacrifício reflete a profundidade de Seu amor e compromisso com
a redenção da humanidade.

2. A HUMANIDADE DO FILHO
– Os Motivos da Encarnação
A encarnação de Cristo está diretamente relacionada ao pecado de Adão. Quando
o primeiro Adão pecou, toda a humanidade foi afetada, herdando uma natureza
caída e separada de Deus. Jesus, como o “segundo Adão” (1 Coríntios 15:45),
veio para restaurar o que foi perdido. Motivada pelo amor redentor de Deus, a
encarnação tinha como objetivo reconciliar a humanidade com o Criador. Embora
Cristo fosse divino, Ele “esvaziou-se a si mesmo” (Filipenses 2:7), assumindo a
forma de servo e tornando-se plenamente humano.

Como o segundo Adão, Jesus se tornou nosso modelo, demonstrando que a justiça
divina é perfeita e que a obediência é possível e essencial para a vida humana.
Contudo, além de ser um exemplo para nós, Ele é, acima de tudo, nosso Salvador.
Ao viver uma vida sem pecado, Cristo não apenas representou a humanidade, mas
tornou-se o sacrifício perfeito, capaz de redimir a todos. Sua vitória sobre o pecado
e a morte trouxe a esperança da vida eterna para todos aqueles que crerem nEle.

Adão Jesus

Perfeito Perfeito

Primogênito: O primeiro homem Primogênito: Tem a primazia.


a ser criado. Por Ele tudo foi criado.
Habitava em um mundo perfeito, Habitou em um mundo imperfeito,
sem pecado dominado e degradado pelo pecado.
Sem tendência para pecar Sem tendência para pecar

Caiu em pecado Não caiu em pecado. Não pecou


nem por pensamento.
Nele, todos são pecadores. Nele, todos são justificados
(perdoados)
Nele, todos morrem. Nele, todos são vivificados

Doutrinas Fundamentais 19
– Verdadeiramente Homem
Na história do Cristianismo, algumas pessoas tiveram dificuldade em compreender
plenamente a humanidade de Cristo, chegando até mesmo a contestá-la. Marcião
de Sinope, no século II d.C., promoveu o docetismo, a crença de que Jesus apenas
parecia ser humano, pois o material era visto como mau e incompatível com o
divino. Ele acreditava que Cristo, sendo puramente divino, não era um ser humano
de verdade, e não poderia ter sofrido ou morrido de forma real. Esse ensinamento
influenciou significativamente o cristianismo ao longo da história.

A Bíblia afirma, no entanto, que Jesus verdadeiramente assumiu a


natureza humana por toda a eternidade (Zacarias 13:6). Ele não apenas
aparentava ser humano; Ele de fato se tornou um homem. Esse sacrifício
foi essencial para a salvação da humanidade. A realidade da humanidade
de Cristo é evidenciada em vários aspectos de Sua vida e ministério.

• Nasceu de uma mulher (Gálatas 4:4),


• Tinha um corpo real (João 1:14; 1 João 4:3; Lucas 24:36-43).
• Experimentou necessidades físicas como qualquer ser humano: fome
(Mateus 4:2), sede (João 4:7), cansaço (João 4:6).
• Tinha emoções e sentimentos humanos: compaixão (Mateus 9:36),
indignação (Marcos 3:5), ira (Marcos 11:15-17), amor (Marcos 10:21), tristeza
(Marcos 14:34), choro (João 11:34-36), agonia (Lucas 22:44)

3. AS PROFECIAS MESSIÂNICAS
As Escrituras do Antigo Testamento apontam de forma consistente para a vinda
do Messias, e Cristo cumpriu essas profecias com precisão. O plano de resgate
da humanidade foi estabelecido por Deus antes mesmo da entrada do pecado no
mundo. Esse plano envolvia Cristo assumir a natureza humana e, como o Cordeiro
de Deus, morrer em nosso lugar, pagando o preço do pecado e oferecendo-nos a
redenção (Apocalipse 13:8).

Desde Gênesis 3:15, onde é prometido um descendente que esmagaria a cabeça


da serpente, até as profecias detalhadas sobre o nascimento virginal (Isaías
7:14), Sua missão redentora (Isaías 53) e Sua ressurreição (Salmo 16:10), as
promessas messiânicas revelam o plano de Deus para salvar a humanidade. Jesus
é o cumprimento dessa esperança messiânica, não apenas como um libertador
temporário, mas como o Salvador eterno. Sua vida, obras e ressurreição são
testemunhos vivos de que Ele é o Redentor prometido, destinado a trazer salvação
a todas as nações.

20 Doutrinas Fundamentais
Profecia messiânica do AT Cumprimento em Jesus no NT

Nasceria de uma virgem Nasceu de uma jovem virgem - Maria


Isaías 7:14 Mateus 1:21-23
Nasceria em Belém. Jesus nasceu em Belém.
Miquéias 5:2 Mateus 2:6
Teria um precursor. Jesus foi precedido por João Batista
Isaías 40:03 Mateus 3:3
Entraria triunfante em Jerusalém mon- Jesus entrou triunfante em Jerusalém
tado em um jumentinho. montado em um jumentinho.
Zacarias 9:9 Mateus 21:5
Seria traído por alguém próximo. Jesus foi traído por Judas:
Salmo 41:9 Um de Seus discípulos.
Mateus 10:4
O preço da traição: Trinta moedas Jesus foi traído em troca de 30 moedas
de prata. de prata.
Zacarias 11:12 Mateus 26:15
O dinheiro da traição seria jogado na Judas atirou o dinheiro no
Casa de Deus. chão do templo.
Zacarias 11:13 Mateus 27:5
Ficaria mudo perante seus Jesus permaneceu manso perante
acusadores. Pilatos e os sacerdotes.
Isaías 53:7 Mateus 27:12
Teria Suas mãos e pés traspassados. Jesus teve Suas mãos e pés
Salmo 22:16 traspassados.
Lucas 23:33

4. A MISSÃO SALVÍFICA DE CRISTO


A missão de Cristo é claramente revelada nas Escrituras: Ele veio “buscar e salvar o
que se havia perdido” (Lucas 19:10). Através de Seu sacrifício na cruz, Jesus pagou o
preço do pecado e ofereceu reconciliação entre Deus e a humanidade. Sua morte foi
vicária, substitutiva e redentora. Ele não apenas morreu, mas ressuscitou, garantindo
a vitória sobre a morte e oferecendo a promessa da ressurreição a todos que crerem
n’Ele (João 11:25).

Cristo, o Cordeiro de Deus, carregou os pecados do mundo, e Seu sangue derramado é


a garantia da redenção (Apocalipse 5:9). Seu ministério continua no céu, onde Ele atua
como nosso Sumo Sacerdote, intercedendo continuamente por nós (Hebreus 7:25). A
missão salvífica de Cristo é o centro da fé cristã e a esperança de toda a humanidade.
No fim, Ele retornará como o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores (Apocalipse 19:1-16),

Doutrinas Fundamentais 21
completando Sua obra de salvação ao resgatar aqueles que aceitaram a graça oferecida
na cruz. Na obra de salvação, Jesus é o Cordeiro de Deus, nosso Sumo Sacerdote e o Rei
Eterno – o Leão da tribo de Judá (Apocalipse 5).

3. O Poder Transformador de Cristo


O impacto de Cristo na vida do crente é transformador e profundo. Ao reconhecer
Jesus como o Salvador, o crente experimenta uma nova vida em Cristo (2 Coríntios
5:17). Sua influência não é apenas moral ou filosófica; é uma mudança radical que
afeta a mente, o coração e as ações. Por meio do sacrifício de Cristo, temos acesso à
salvação, justificação e santificação. Seu exemplo de vida de serviço e compaixão
guia os cristãos em sua caminhada, e o poder do Espírito Santo nos transforma à Sua
imagem. A vida com Cristo é uma jornada de crescimento espiritual e intimidade
com Deus, onde o crente se torna co-herdeiro da promessa de vida eterna.

PARA REFLETIR

“Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada. ‘Quem tem o Filho tem a vida.’ 1
João 5:12. A divindade de Cristo é a certeza de vida eterna para o crente. ‘Aquele que crê em
Mim’, disse Jesus, ‘ainda que morra, viverá.’ ‘Eu sou a ressurreição e a vida.’ João 11:25. Cristo
considerou Sua vida humana uma vida a ser oferecida, um sacrifício. Ele foi investido com o
poder de depor Sua vida e tomá-la de novo. Disse Ele: ‘Por isso o Pai Me ama, porque Eu dou
a Minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de Mim, mas Eu de Mim mesmo a dou.
Tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la.’ João 10:17, 18.”(Ellen White, O Desejado
de Todas as Nações, p. 530).

22 Doutrinas Fundamentais
4 O ESPÍRITO
SANTO

Deus, o Espírito Santo, desempenhou uma parte ativa com o Pai e o Filho na criação, encarnação
e redenção. Ele é uma pessoa tanto quanto o Pai e o Filho. Inspirou os escritores das Escrituras.
Encheu de poder a vida de Cristo. Atrai e convence os seres humanos; e os que se mostram
sensíveis são renovados e transformados por Ele à imagem de Deus. Enviado pelo Pai e pelo
Filho para estar sempre com Seus filhos, Ele concede dons espirituais à igreja, a habilita a dar
testemunho de Cristo e, em harmonia com as Escrituras, guia-a em toda a verdade (Gn 1:1, 2; 2Sm
23:2; SI 51:11; Is 61:1; Lc 1:35; 4:18; Jo 14:16-18, 26; 15:26; 16:7-13; At 1:8; 5:3; 10:38; Rm 5:5; 1Co 12:7-11;
2Co 3:18; 2Pe 1:21).

Muitas pessoas acreditam que o Espírito Santo seja apenas uma energia que provém
de Deus, enquanto outros o identificam como uma simples designação que se
refere ao próprio Deus Pai. No entanto, será que as Escrituras realmente indicam
que o Espírito é apenas uma força impessoal? Ou a Bíblia apresenta evidências de
que o Espírito Santo é uma pessoa real, distinta, e parte da Trindade? Se assim for,
qual é o papel do Espírito Santo na divindade, na redenção e na vida do crente?

1. A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO


Desde o início da narrativa bíblica, a presença ativa do Espírito Santo no relato da
criação é evidente (Gênesis 1:1-2). Atuando em harmonia com o Pai e o Filho (João
1:1-4), o Espírito confirma a unidade da vontade divina na criação do ser humano.
O uso dos pronomes e verbos no plural em Gênesis 1:26 - “Façamos o homem à
nossa imagem, conforme a nossa semelhança” - reforça essa cooperação entre
as três pessoas da Trindade, destacando o papel do Espírito desde o princípio na
obra criadora. No decorrer do texto bíblico, vemos a participação ativa do Espírito
Santo na obra da redenção, sendo Ele essencial nesse processo (Efésios 1:13-14). O
Espírito atua como um penhor divino, assegurando a salvação e a transformação
dos crentes, demonstrando Seu papel contínuo na obra redentora e na vida cristã.

O Espírito Santo é apresentado nas Escrituras como uma pessoa divina com

Doutrinas Fundamentais 23
atributos distintos que vão além de uma simples força ou influência. Sua
pessoalidade é confirmada pelas Escrituras, onde Ele é descrito como ensinando
(João 14:26), guiando (João 16:13), intercedendo (Romanos 8:26) e possuindo
sentimentos como o de ser entristecido (Efésios 4:30). No Novo Testamento, Ele
desempenha um papel ativo na vida da igreja e na vida pessoal dos crentes,
reforçando Sua individualidade. O Espírito fala (Apocalipse 2:7), ama (Romanos
15:30) e tem vontade própria (1 Coríntios 12:11), revelando que Ele não é apenas
uma manifestação de poder divino, mas uma pessoa que age de forma consciente
e relacional.

Além disso, o Espírito Santo é aquele que nos consola e nos convence do pecado,
da justiça e do juízo (João 16:8). Essa atividade pessoal e dinâmica revela que Ele
interage diretamente com os seres humanos, guiando-os na verdade e auxiliando-
os em suas fraquezas. Esse papel de consolador também se relaciona diretamente
à missão de Cristo, que, ao ascender ao céu, prometeu enviar o Espírito para
continuar Sua obra (João 14:16-17). Dessa forma, o Espírito Santo é uma presença
ativa e pessoal na caminhada cristã, levando os crentes a uma relação mais
profunda com Deus.

2. A DIVINDADE DO ESPÍRITO SANTO


Em Isaías 40:13-14, o Espírito Santo é descrito como possuidor de sabedoria
infinita e onisciência, características que comprovam Sua divindade. Ninguém
pode instruir ou aconselhar o Espírito, pois Ele é autossuficiente e soberano. Essas
qualidades revelam que o Espírito Santo age de acordo com a mente de Deus,
sendo parte essencial da Trindade, com autoridade e conhecimento ilimitados,
próprios de um ser divino. Essa passagem é uma entre tantas outras na bíblia que
indicam que o Espírito Santo é completamente divino, sendo coeterno com o Pai e
o Filho, e compartilhando da mesma natureza divina.

Sua divindade é evidenciada pelo fato de que Ele é apresentado com os mesmos
atributos que Deus. Ele é onipotente (Lucas 1:35), onisciente (1 Coríntios 2:10-11) e
onipresente (Salmos 139:7-10). Além disso, o Espírito Santo participou da criação
(Gênesis 1:2) e da ressurreição de Cristo (Romanos 8:11), revelando Sua participação
ativa em momentos fundamentais da história da salvação.

Em Mateus 28:19, na Grande Comissão, Jesus ordena que o batismo seja realizado
“em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, colocando o Espírito em igualdade
com as outras duas pessoas da Trindade. Em muitos outros textos vemos o Espírito
Santo sendo colocado ao lado do Pai e do Filho como num estado de igualdade na
estrutura da divindade (I Cor 12:4-6; Ef 4:4-6; I Pd 1:2).

24 Doutrinas Fundamentais
Atributos divinos do Espírito Santo:

ATRIBUTO ATRIBUTO ESPÍRITO SANTO

Vida Jó 19:25; Salmos 18:1-2 Romanos 08:02

Verdade Salmos 27:5; 46:1; 55:22 João 16:13

Amor Salmos 51:1,11; 103:11-14; Romanos 15:30


Miquéias 7:18
Onipresença Salmos 34:8; 146:7-9 Salmos 139:07-10

Onisciência Isaías 41:9-10; Isaías 40:13


Levíticos 26:40-42 I Coríntios 02:10
Onipotência Isaías 25:9; 35:4; Salmos 104:27-30
Jeremias 33:16
Eternidade Isaías Gálatas 06:08 Hebreus 09:14

3. AÇÕES DO ESPÍRITO SANTO NA VIDA DO CRENTE


◊ Atos19:01-02 – Habita nos crentes
◊ João 16:08 – Ele convence do pecado, da justiça e do juízo
◊ João 16:13 – Ele guia os cristãos à verdade
◊ Atos 13:02 – Ele fala com os crentes
◊ Atos 15:28 – Ele se posiciona e orienta
◊ Romanos 8:26 – Ele nos ajuda nas nossas fraquezas
◊ Romanos 8:27 – Ele intercede pelos filhos de Deus
◊ Efésios 4:30 – Ele se entristece quando é rejeitado
◊ IIPedro01:21 – Ele inspira os profetas

4. O ESPÍRITO SANTO NO ANTIGO TESTAMENTO


No Antigo Testamento, o Espírito Santo desempenhou um papel ativo na obra de
Deus, participando da criação (Gênesis 1:2) e capacitando líderes como Moisés
(Números 11:25) e juízes como Gideão (Juízes 6:34). Ele também ungiu reis, como
Davi (1 Samuel 16:13), e inspirou os profetas a proclamarem a vontade divina
(Ezequiel 2:2). Além disso, o Espírito habilitou artesãos para a construção do
tabernáculo (Êxodo 31:3-5). Sua ação demonstrou Seu papel na capacitação e guia
do povo de Deus, mesmo antes do Novo Testamento.

O Espírito também esteve presente no ministério dos profetas, inspirando-os a


transmitir as palavras de Deus ao povo (2 Pedro 1:21). A manifestação do Espírito
nos profetas evidencia Seu papel como intermediário entre Deus e os homens,
guiando o povo de Israel à aliança com o Senhor. Embora no Antigo Testamento a

Doutrinas Fundamentais 25
atuação do Espírito Santo fosse mais restrita a certas pessoas e momentos, já havia
a promessa de uma manifestação mais plena no futuro, como predito em Joel 2:28-
29, tendo seu cumprimento inicial no Pentecostes e pleno momentos antes da
vinda de Cristo.

5. O ESPÍRITO SANTO NO NOVO TESTAMENTO


A plenitude da revelação do Espírito Santo ocorre no Novo Testamento,
especialmente após a ressurreição e ascensão de Cristo. No Pentecostes, descrito
em Atos 2, o Espírito foi derramado sobre os discípulos, inaugurando a era da igreja
e capacitando os seguidores de Cristo a serem Suas testemunhas pelo mundo. Esse
evento não foi apenas uma manifestação momentânea, mas a concretização da
promessa de Cristo de enviar o Consolador (João 14:16).

No Novo Testamento, o Espírito Santo é descrito como aquele que regenera os


crentes (Tito 3:5), habita neles (1 Coríntios 3:16) e os guia em sua caminhada cristã
(Romanos 8:14). Sua atuação é central na santificação e transformação da vida dos
crentes, moldando-os à imagem de Cristo (2 Coríntios 3:18). Ele também concede
dons espirituais para a edificação da igreja (1 Coríntios 12), demonstrando Seu
papel vital na vida comunitária do povo de Deus.

6. OS ATRIBUTOS DO ESPÍRITO SANTO


Os atributos do Espírito Santo, como Sua onisciência, onipresença e onipotência,
são evidências claras de Sua divindade. O Espírito é descrito como aquele que
conhece todas as coisas, até mesmo os pensamentos mais profundos de Deus
(1 Coríntios 2:10-11). Ele é onipresente, estando em todo lugar ao mesmo tempo
(Salmos 139:7-10), e onipotente, participando ativamente de eventos poderosos
como a criação e a ressurreição de Cristo (Romanos 8:11).

Além desses atributos, o Espírito Santo também é caracterizado por Sua santidade
e fidelidade, conduzindo os crentes em um caminho de transformação espiritual.
Sua obra é interna e contínua, levando os filhos de Deus a viverem uma vida de
obediência e submissão à vontade divina. Ele é o agente da santificação, moldando
o caráter dos crentes de acordo com o caráter de Cristo (Romanos 15:16).

7. O ESPÍRITO SANTO E O MINISTÉRIO DE CRISTO


O ministério de Cristo esteve intimamente ligado ao Espírito Santo. Desde Sua concepção
(Lucas 1:35), passando por Seu batismo (Lucas 3:22), até Sua ressurreição, o Espírito Santo
esteve presente em todos os momentos cruciais da vida de Jesus. O Espírito capacitou
Jesus para realizar milagres e pregar o evangelho (Lucas 4:18), e após a ressurreição, foi
o Espírito que trouxe poder à igreja para continuar essa obra (Atos 1:8).

O Espírito Santo, portanto, é o elo vital entre Cristo e os crentes. Ele continua o ministério
de Cristo na terra, aplicando os méritos da redenção à vida dos crentes e capacitando-

26 Doutrinas Fundamentais
os para serem testemunhas do reino de Deus. Na perspectiva bíblica, essa obra é
fundamental na preparação dos crentes para a segunda vinda de Cristo, pois é o Espírito
que transforma o caráter e concede poder para a missão.

O Espírito Santo e o Ministério de Cristo:

◊ Mateus 1:18-20 – O Espírito Santo concebeu a Jesus no ventre de Maria.


◊ Mateus 3:16-17 – O Espírito Santo ungiu Jesus com poder para iniciar seu ministério
por ocasião do Seu batismo.
◊ Lucas 4:1 – O Espírito Santo conduziu Jesus ao deserto, onde Ele enfrentou e venceu
o Inimigo.
◊ Mateus 12:28 – O Espírito Santo deu suporte a Cristo no Seu ministério terrestre.
◊ João14:26 – O Espírito Santo não nos deixa esquecer as palavras de Jesus.
◊ João16:14 – O Espírito Santo glorifica a Cristo e anuncia o que Dele recebeu.

8. A AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NO TEMPO DO FIM


Na escatologia bíblica, o papel do Espírito Santo no tempo do fim é central para a
preparação do povo de Deus, conforme predito em Joel 2:28-29: “E acontecerá, depois, que
derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; e vossos filhos e vossas filhas profetizarão;
os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões.” Esse derramamento do
Espírito marca o cumprimento da profecia de uma nova fase na história da salvação, na
qual o povo de Deus será especialmente capacitado para proclamar a mensagem final
ao mundo. Esse evento é associado ao “clamor do terceiro anjo” e à proclamação das três
mensagens angélicas de Apocalipse 14, onde o Espírito Santo habilitará os fiéis a pregar
o evangelho eterno em face da crescente apostasia mundial.

Além disso, o Espírito Santo atuará no selamento dos fiéis, preparando-os para a vinda
de Cristo e para resistir às provas que virão no tempo de angústia. Segundo Efésios
4:30, os crentes devem ser “selados para o dia da redenção”, e este selo é um sinal de
pertencimento a Deus, garantido pela atuação do Espírito. A atuação do Espírito no
tempo do fim também envolve a purificação e santificação dos crentes, equipando-os
espiritualmente para enfrentarem os enganos de Satanás e se manterem firmes em meio
à perseguição, culminando no evento culminante da história humana — a segunda
vinda de Cristo.

PARA REFLETIR

Ao pecado só se poderia resistir e vencer por meio da poderosa atuação da terceira pessoa
da Divindade, a qual não viria com energia modificada, mas na plenitude do divino poder. É o
Espírito que torna eficaz o que foi realizado pelo Redentor do mundo. É por meio do Espírito
que o coração é purificado. Por Ele, o crente torna-se participante da natureza divina. Cristo
deu Seu Espírito como um poder divino para vencer todas as tendências hereditárias e
cultivadas para o mal, e para gravar Seu próprio caráter em Sua igreja. (Ellen White, The
Review and Herald, 19 de Novembro de 1908).

Doutrinas Fundamentais 27
2ª Parte

A DOUTRINA DO HOMEM

28 Doutrinas Fundamentais
5 A NATUREZA DA
HUMANIDADE

O homem e a mulher foram formados à imagem de Deus com individualidade, o poder e a


liberdade de pensar e agir. Conquanto tenham sido criados como seres livres, cada um é uma
unidade indivisível de corpo, mente e espírito, e dependente de Deus quanto à vida, respiração
e tudo o mais.
Quando nossos primeiros pais desobedeceram a Deus, negaram sua dependência Dele e caíram
de sua elevada posição. A imagem de Deus neles foi desfigurada, e tornaram-se sujeitos à
morte. Seus descendentes partilham dessa natureza caída e de suas consequências. Nascem
com fraquezas e tendências para o mal. Mas Deus, em Cristo, reconciliou consigo o mundo e, por
meio de Seu Espírito, restaura nos mortais penitentes a imagem de Seu Criador. Criados para a
glória de Deus, são chamados para amá-Lo e uns aos outros, e para cuidar de seu ambiente (Gn
1:26-28; 2:7; 15:3; SI 8:4-8; 51:5, 10; 58:3; Jr 17:9; At 17:24-28; Rm 5:12-17; 2Co 5:19, 20; Ef 2:3; 1Ts
5:23; 1 Jo 3:4; 4:7, 8, 11, 20).

Nas últimas décadas, especialmente nas universidades e no campo acadêmico, a vida


humana é apresentada como fruto do acaso, resultado de forças naturais guiadas pela
evolução. Desde que Charles Darwin publicou A Origem das Espécies em 1859, essa
teoria ganhou força, apresentando o homem como apenas um produto de processos
evolutivos. Esse ponto de vista desafia a compreensão bíblica da natureza humana,
obscurecendo a noção de que fomos criados à imagem de Deus com um propósito divino.

Assim, a humanidade tem perdido de vista sua origem e seu propósito existencial. Qual
é a verdadeira identidade do homem segundo a perspectiva bíblica? Como as Escrituras
explicam a complexidade estrutural e essencial da vida humana, e qual é a esperança
que elas oferecem para a humanidade?

1. A ORIGEM DO HOMEM
• Criado por Deus
Deus é o Criador da humanidade, e a criação do ser humano foi um ato especial e
intencional. Em Gênesis 1:26-27, vemos que Deus deliberou criar o homem à Sua

Doutrinas Fundamentais 29
imagem, conferindo-lhe um valor e dignidade singulares. Diferente dos animais, que
foram criados por simples palavras de comando, o homem foi formado do pó da terra
(Gênesis 2:7), e Deus soprou em suas narinas o fôlego da vida, fazendo-o uma “alma
vivente”. Este ato pessoal e íntimo demonstra o cuidado e a intenção de Deus ao criar
o ser humano como um ser único, dotado de inteligência, moralidade e capacidade de
relacionamento com o Criador, com outros seres humanos e com as demais criaturas.

• Criado segundo o modelo divino


A criação do homem à imagem de Deus não se refere apenas à aparência física, mas
engloba a totalidade do ser humano — suas faculdades mentais, morais e espirituais.
Ser criado à imagem de Deus significa que o homem foi dotado de atributos que refletem
o caráter divino, como a capacidade de amar, de raciocinar e de tomar decisões morais.
Além disso, o homem foi criado com a habilidade de se relacionar com Deus de forma
única, sendo capaz de compreender e responder ao amor divino. Em contraste com as
demais criaturas, o homem foi feito com o propósito de refletir a glória e o caráter de
Deus em todos os aspectos de sua vida. Ao ser criado segundo à imagem de Deus, o
homem recebeu um presente que lhe possibilita governar a Terra em nome de Deus,
manifestando Sua justiça e bondade (Salmos 8:1-6).

• Criado para uma posição elevada


Deus conferiu ao homem o domínio sobre toda a criação, como vemos em Gênesis 1:28.
Esse domínio não deveria ser tirânico ou opressor, mas sim uma mordomia amorosa e
cuidadosa, refletindo o governo justo de Deus sobre o universo. O homem foi chamado
para cultivar e guardar o Jardim do Éden, servindo como coadministrador do mundo
criado, demonstrando a soberania e o caráter amoroso do Criador. Essa posição elevada
conferida ao homem destaca a importância de sua função no plano divino. A autoridade
recebida não é um privilégio para exploração, mas uma responsabilidade sagrada, que
exige do homem o cuidado com a criação e a obediência às leis divinas.

2. A NATUREZA HUMANA
• Unidade Indivisível
A natureza humana é uma unidade indivisível de corpo, mente e espírito. Gênesis 2:7
revela que o homem não se tornou um ser vivente até que Deus soprou o fôlego de vida
em seu corpo físico. Isso reflete a visão bíblica de que o ser humano é uma unidade
integral, e não a soma de partes separadas. O conceito de que o corpo é apenas uma
“cápsula” para a alma não encontra suporte nas Escrituras. Na visão bíblica, a alma
não é uma entidade separada do corpo, mas o resultado da união do corpo físico com o
fôlego divino. O pensamento dualista enraizado na cultura filosófica grega, que separa
corpo e alma, é rejeitado tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, sendo a unidade
do ser humano uma característica central na teologia bíblica.

• A Origem do Corpo Humano


O corpo humano foi formado do pó da terra, e, sem o fôlego de vida, ele permanece
inerte. Essa origem humilde ressalta a dependência do homem em relação ao Criador
para viver. Embora o corpo seja material, ele é sagrado, pois foi feito por Deus e será

30 Doutrinas Fundamentais
restaurado na ressurreição. A Bíblia ensina que o corpo humano será transformado e
glorificado no retorno de Cristo, quando os mortos em Cristo ressuscitarão incorruptíveis
(1 Coríntios 15:51-53). Essa transformação evidencia o valor que Deus atribui ao corpo
humano, não apenas como um recipiente temporário, mas como parte integral da
identidade do ser humano.

• O Significado bíblico de Fôlego de vida


O “fôlego de vida” (ruach) representa o princípio vital que Deus deu ao homem para
que ele pudesse viver. Sem o fôlego de vida, o corpo físico volta ao pó (Eclesiastes 12:7).
Esse conceito bíblico rejeita a ideia de uma alma imortal e consciente após a morte,
defendendo que a vida é um presente de Deus, que cessa temporariamente na morte até
o momento da ressurreição. A morte é um estado de inconsciência, um “sono” até o dia
da ressurreição, quando Deus devolverá o fôlego de vida aos salvos.

• O Significado bíblico de Alma Vivente


Em Gênesis 2:7, a expressão “alma vivente” (nephesh) é usada para descrever o ser
humano após a infusão do fôlego de vida. O termo não sugere uma entidade separada,
mas a totalidade do ser humano, corpo e espírito. O ser humano é uma alma vivente, e
não possui uma alma separada. A Bíblia utiliza o termo “alma” para descrever a pessoa
como um todo, e não uma parte imortal que sobrevive após a morte. O termo “alma
vivente” (nephesh shayyah) também pode ser aplicado a animais (Gênesis 07:15,22 /
01:20 / 24:02,19). Todavia, em nenhuma parte do AT, há margem para interpretações de
dicotomia (divisão) entre corpo e alma. Assim como os animais, o homem depende do
fôlego de vida para existir, e a imortalidade só será concedida através da ressurreição,
quando o fôlego de vida for restaurado.

• O Significado bíblico de Espírito


O espírito (ruach) é o princípio vital que anima tanto o homem quanto os animais – um
“direito de vida” (Eclesiastes 3:19). Ele não é uma entidade consciente que sobrevive à
morte, mas sim o fôlego de vida que retorna a Deus quando a pessoa morre (Eclesiastes
12:7). A palavra “ruach” aparece 377 vezes no antigo testamento e na maioria delas, é
traduzida como vento, fôlego, ar, ou seja, a “centelha da vida”, essencial à existência do
ser vivo; o princípio vital que anima os seres humanos. É comum tanto a homens quanto
a animais (Eclesiastes 03:19). O entendimento bíblico sobre o espírito rejeita qualquer
ideia de uma alma imortal e consciente após a morte.

3. REFLETINDO À IMAGEM DE DEUS


• Criado à semelhança de Deus
O homem foi criado à semelhança de Deus em atributos como racionalidade, moralidade
e a capacidade de amar. Esses atributos, refletidos na natureza humana, permitem que
o homem exerça sua missão na Terra de forma a refletir o caráter divino. A semelhança
com Deus implica responsabilidade e privilégio, colocando o homem como o principal
representante de Deus na Terra, chamado a viver em harmonia com a vontade divina e a
refletir a glória de Deus por meio de sua vida.

Doutrinas Fundamentais 31
• Criado para relacionamento com outros
Desde o início, Deus reconheceu que “não é bom que o homem esteja só” (Gênesis
2:18). O ser humano foi criado para viver em comunidade, em relacionamentos de
amor e respeito (I Coríntios 13). O casamento e a família são expressões primordiais
dessa necessidade de relacionamento, mas também se estendem à comunidade maior
(Efésios 5:22-33). O relacionamento com outros reflete o relacionamento entre as pessoas
da Trindade, que vivem em eterna comunhão.

• Criado para ser um administrador


O homem foi criado para ser um administrador da criação, sendo chamado a exercer
domínio sobre a Terra com responsabilidade e justiça (Salmos 115:16). Essa função
de mordomia reflete o caráter de Deus, que é o Criador e Soberano do universo. A
administração da Terra deve ser feita com sabedoria e cuidado, reconhecendo que toda
a criação pertence a Deus.

• Criado com imortalidade condicional


Embora o homem tenha sido criado com acesso à imortalidade por meio da árvore da
vida, essa imortalidade era condicional à obediência a Deus (Gênesis 2:16-17). Após o
pecado, o acesso à árvore da vida foi retirado, e o homem tornou-se mortal (Gênesis 3:16-
24). A imortalidade agora é prometida apenas aos que aceitam a salvação em Cristo, e
será restaurada no retorno de Jesus, quando os justos receberão a vida eterna (1 Coríntios
15:53).

4. A QUEDA DO HOMEM
• A Origem do Pecado
O pecado entrou no mundo pela desobediência de Adão e Eva no Jardim do Éden (Gênesis
3). Ao desobedecerem à ordem de Deus, escolheram seguir seus próprios desejos em
vez da vontade divina. Essa escolha trouxe consequências devastadoras para toda a
humanidade, separando o homem de Deus e introduzindo a morte, o sofrimento e a
corrupção no mundo (Romanos 5:12; 6:23).

• O Impacto do Pecado

a. Consequências imediatas
Imediatamente após a queda, Adão e Eva experimentaram a separação de Deus, que
resultou em sentimentos de vergonha, medo e culpa. A harmonia que existia entre o
homem e Deus foi rompida, e o pecado introduziu sofrimento, dor e morte no mundo.
A comunhão direta com Deus foi substituída por uma consciência pesada e uma
tendência natural à autossuficiência, afastando ainda mais o homem de seu Criador
(Gênesis 3:7-24).

b. O caráter do pecado
O pecado não é apenas uma transgressão de regras, mas uma condição que corrompe
a totalidade da existência humana. De acordo com Romanos 3:23, “todos pecaram e
destituídos estão da glória de Deus”. O pecado original introduziu uma inclinação ao

32 Doutrinas Fundamentais
mal no coração humano, afetando suas decisões e pensamentos. Mesmo que a imagem
de Deus no homem não tenha sido completamente destruída, ela foi severamente
distorcida. O pecado é uma força que perverte os relacionamentos, tanto com Deus
quanto com outros seres humanos, impedindo que o homem cumpra o propósito
original para o qual foi criado (Isaías 59:2).

c. Efeitos do pecado
Os efeitos do pecado não se limitam apenas à separação de Deus, mas também impactam
todas as áreas da vida humana: o físico, o mental e o espiritual. A morte entrou no mundo
como o maior inimigo da humanidade, pois o salário do pecado é a morte (Romanos
6:23). Além disso, o pecado resultou na deterioração moral, na violência, no egoísmo
e na degradação do meio ambiente. No entanto, mesmo em meio à corrupção, a graça
de Deus age para redimir e restaurar a criação. Mesmo diante dos efeitos devastadores
do pecado, o plano de redenção estava em ação desde o princípio, prometendo uma
restauração completa através de Jesus Cristo.

• O Estado do homem na morte


Um aspecto crucial sobre a natureza da humanidade é o entendimento da morte. A bíblia
apresenta a morte como um estado de inconsciência, onde o ser humano, desprovido
do fôlego de vida, retorna ao pó da terra (Eclesiastes 9:5-6, 10; Salmo 146:4). De acordo
com a visão bíblica, a morte é comparada à um sono, e o próprio Cristo utilizou-se desta
comparação (João 11:11-14). A morte é um estado de inconsciência total, onde durante
esse sono profundo a pessoa aguarda seu destino eterno que será sentenciado por
ocasião da ressurreição.
Isso refuta a ideia da imortalidade da alma, uma doutrina presente em muitas tradições
cristãs. A Bíblia ensina que a vida eterna após a morte é possível somente através da
ressurreição, prometida na segunda vinda de Cristo para os salvos (1 Tessalonicenses
4:16-17), enquanto assegura que também haverá uma ressurreição de juízo para o ímpios,
que receberão neste momento futuro a condenação e a destruição eterna (João 5:28-29 /
Apocalipse 20:5-9) . Esse ensinamento traz consolo e esperança aos crentes, pois a morte
não é vista como o fim, mas como um sono temporário até o dia da ressurreição. Nesse
dia, aqueles que morreram em Cristo serão ressuscitados e transformados, recebendo
corpos imortais e incorruptíveis (1 Coríntios 15:51-54), e viverão e reinarão eternamente
com Cristo (Apocalipse 22:1-5).

5. A RESTAURAÇÃO DO HOMEM
• O Concerto da Graça
O concerto da graça não foi uma solução improvisada após a queda , pois foi estabelecido
antes mesmo da queda do homem (Efésios 1:4; Apocalipse 13:8), e apresentado ao
homem logo após a sua queda. Deus anunciou o plano de redenção, prometendo que
o descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente (Gênesis 3:15). Esse concerto
é a promessa de que Deus, em Sua misericórdia, proveria uma solução para o problema
do pecado. O concerto foi renovado ao longo das Escrituras, desde Noé (Gênesis 9:9),
até Abraão (Gênesis 12:1-3), culminando em Cristo, o Salvador prometido, que se tornou
a nossa justiça e expiação pelos pecados. O concerto da graça é visto como a expressão

Doutrinas Fundamentais 33
da fidelidade de Deus para com Seu povo, sendo Cristo o centro deste pacto, no qual a
restauração plena da humanidade está garantida.

• A Renovação do Concerto
Ao longo da história bíblica, Deus renovou Seu concerto com a humanidade,
reafirmando Suas promessas de redenção e restauração. Desde o concerto com Abraão,
que envolvia a promessa de que através de sua descendência todas as nações seriam
abençoadas (Gênesis 12:3), até os concertos posteriores com Israel, o plano de salvação
foi progressivamente revelado. Esses concertos apontavam para o Messias vindouro,
que selaria o novo pacto com Seu próprio sangue. Essa renovação constante do pacto é
um lembrete da fidelidade de Deus para com Seu povo, mesmo em meio à infidelidade
humana.

• O Novo Concerto (Nova Aliança)


O Novo Concerto, também conhecido como Nova Aliança, foi estabelecido por meio de
Jesus Cristo, é o ponto culminante do plano de redenção. No Novo Testamento, vemos
que este novo pacto foi selado com o sangue de Cristo (Lucas 22:20), e oferece a todos
os que crerem a promessa de perdão, restauração e vida eterna. Diferente dos antigos
concertos que exigiam sacrifícios constantes de animais, o Novo Concerto é baseado
no sacrifício único e definitivo de Cristo na cruz (Hebreus 9:12). Este pacto garante
a completa restauração da imagem de Deus no homem, e será plenamente realizado
no retorno de Jesus, quando os salvos ressuscitarão com corpos glorificados para viver
eternamente no reino de Deus (1 Tessalonicenses 4:16-17). O Novo Concerto é a base de
nossa esperança de vida eterna, onde a lei de Deus é escrita no coração dos crentes, e a
comunhão perfeita com o Criador será restaurada para sempre.
Espírito atua como um penhor divino, assegurando a salvação e a transformação dos
crentes, demonstrando Seu papel contínuo na obra redentora e na vida cristã.

O Espírito Santo é apresentado nas Escrituras como uma pessoa divina com atributos
distintos que vão além de uma simples força ou influência. Sua pessoalidade é
confirmada pelas Escrituras, onde Ele é descrito como ensinando

PARA REFLETIR

“Quando foi criado, o homem trazia a imagem e a inscrição de Deus. E conquanto agora
manchado e desfigurada pela influência do pecado, permanece em toda a alma os traços
desta inscrição. Deus deseja recobrar essa alma e sobre ela gravar a Sua própria imagem em
justiça e santidade” Ellen White , Parábolas de Jesus, 194.

34 Doutrinas Fundamentais
Doutrinas Fundamentais 35
3ª Parte

A DOUTRINA DA SALVAÇÃO

36 Doutrinas Fundamentais
6 O GRANDE
CONFLITO

Toda a humanidade está agora envolvida no grande conflito entre Cristo e Satanás quanto ao
caráter de Deus, Sua lei e Sua soberania sobre o Universo. Esse conflito se originou no Céu
quando um ser criado, dotado de liberdade de escolha, por exaltação própria, tornou-se Satanás,
o adversário de Deus, e conduziu à rebelião uma parte dos anjos.
Ele introduziu o espírito de rebelião neste mundo, ao induzir Adão e Eva ao pecado. Esse pecado
humano resultou na deformação da imagem de Deus na humanidade, no transtorno do mundo
criado e em sua consequente devastação por ocasião do dilúvio global, conforme retratado no
relato histórico de Gênesis 1 a 11. Observado por toda a criação, este mundo se tornou o palco
do conflito universal, dentro do qual será finalmente vindicado o Deus de amor. Para ajudar
Seu povo nesse conflito, Cristo envia o Espírito Santo e os anjos leais para os guiar, proteger e
amparar no caminho da salvação (Gn 3; 6-8; Jó 1:6-12; Is 14:12-14; Ez 28:12-18;
Rm 1:19-32; 3:4; 5:12-21; 8:19-22; 1Co 4:9: Hb’1:14; 1Pe 5:8; 2Pe 3:6; Ap 12:4-9).

Algumas batalhas deixaram marcas profundas na história humana, com impactos que
ainda ressoam na sociedade. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) é considerada
a guerra mais mortal de todas, com cerca de 80 milhões de mortos. Por outro lado,
algumas guerras são lembradas pela longa duração, como a Guerra dos Cem Anos (1337-
1453), travada entre os reinos da Inglaterra e da França. No entanto, a Bíblia apresenta
conflitos que impactaram diretamente o povo de Deus, e nenhum é mais significativo do
que o Grande Conflito entre Cristo e Satanás.

Esse conflito, iniciado com o surgimento do pecado, envolve não apenas nosso planeta,
mas todo o universo, que observa atentamente seu desenrolar. Através das Escrituras,
podemos compreender a origem desse conflito, seu desenvolvimento ao longo da
história e, mais importante, o seu desfecho. O Grande Conflito não é apenas uma batalha
terrena; ele carrega consequências eternas e cósmicas.

Doutrinas Fundamentais 37
1. A VISÃO CÓSMICA DO GRANDE CONFLITO
• A Origem do Conflito
Os anjos, conforme descritos nas Escrituras, foram criados por Deus antes da
humanidade, com um propósito específico. Seres celestiais, eles foram destinados a
servir a Deus e a executar Suas ordens, podendo desfrutar de íntimo relacionamento
com o Criador, desempenhando um papel essencial tanto no governo divino quanto na
adoração celestial.

O Salmo 8:5 os apresenta como superiores ao ser humano, dotados de capacidades


extraordinárias. Isaías 6:1-5 e Ezequiel 1 revelam anjos em seu ambiente celestial,
constantemente voando ao redor do trono de Deus em adoração. Além disso, o Salmo
1 03:20 descreve-os como fiéis servidores, prontos para cumprir as ordens do Criador.
Contudo, por possuírem uma natureza espiritual, como afirma Hebreus 1:14, sua forma
exata permanece além de nossa compreensão, sendo frequentemente representados
de maneira antropomórfica para facilitar nossa percepção limitada. Apesar de serem
frequentemente representados com características humanas, essa imagem é meramente
uma tentativa de nossa compreensão limitada de seres tão elevados.
Entretanto, nem todos os anjos permaneceram fiéis a Deus. A origem do grande conflito
começou no Céu. Lúcifer, um dos seres mais elevados e formosos criados por Deus,
era admirado por sua perfeição e sabedoria. No entanto, a exaltação própria levou-o
a cobiçar o trono de Deus, desejando ser adorado como o Altíssimo (Isaías 14:12-14;
Ezequiel 28:12-17). Ele tornou-se o inimigo de Deus, buscando usurpar Sua posição e
deturpar Seu caráter Sua insatisfação com sua posição o levou a levantar questões sobre
a autoridade de Deus, incutindo dúvidas nos anjos sobre a justiça do governo divino.

Lúcifer argumentou que a lei de Deus era desnecessária e que os seres criados deveriam
ter maior liberdade. Essas insinuações levaram à rebelião a terça parte dos anjos,
resultando em uma batalha espiritual sem precedentes. Lúcifer e seus seguidores foram
expulsos do Céu, lançados à Terra, onde o conflito continuou (Apocalipse 12:1- 4). Ao ser
expulso do Céu, Lúcifer trouxe esse conflito para a Terra, onde sua intenção de corromper
a humanidade e fazer do nosso planeta o seu quartel general.

• O Conflito na Terra
Após sua expulsão, Satanás direcionou sua rebelião contra os seres humanos, tentando-
os no Jardim do Éden. Ele usou a serpente para enganar Eva, insinuando que Deus
estava retendo algo bom deles e que, ao comerem do fruto proibido, seriam “como Deus”
(Gênesis 3:5). Adão e Eva, ao desobedecerem a Deus, tornaram-se pecadores e abriram
as portas para que o pecado entrasse no mundo. Como consequência, a imagem de Deus
na humanidade foi distorcida, e toda a criação começou a sofrer os efeitos do pecado
(Romanos 8:22).

O conflito que começou no Céu agora se manifestava na Terra, e o homem, feito à imagem
de Deus, tornou-se o objeto da intensa batalha entre as forças do bem e do mal. A Terra
se tornou o campo de batalha onde se desdobraria o conflito entre Cristo e Satanás. O

38 Doutrinas Fundamentais
que estava em jogo não era apenas o futuro da humanidade, mas a própria vindicação
do caráter de Deus.

2. A QUESTÃO CÓSMICA DO GRANDE CONFLITO


• A Lei e o Governo de Deus
No centro do grande conflito está a lei de Deus, que é uma expressão do caráter divino.
A lei de Deus é o fundamento de Seu governo celestial, refletindo tanto a justiça quanto
o amor que caracterizam Seu ser. Satanás então, questionou a justiça e a necessidade da
lei divina, sugerindo que ela restringia a liberdade dos seres criados. No entanto, a lei de
Deus é perfeita, garantindo ordem e harmonia em todo o universo (Salmos 19:7-11). Ao
desobedecer à lei no Éden, a humanidade se afastou da perfeita vontade de Deus, e a
história subsequente é o testemunho das consequências trágicas da violação dessa lei.

• Cristo e a Questão da Obediência


Ao vir à Terra, Cristo viveu em perfeita obediência à lei de Deus, demonstrando que a
observância da lei divina não era impossível para Adão e Eva. Sua vitória foi alcançada
em um contexto de grande adversidade, em meio a um mundo corrompido pelo pecado.
A vida sem pecado de Cristo refutou as acusações de Satanás, que afirmava ser impossível
para os seres criados guardarem a lei de Deus.

Satanás tentou incansavelmente levar Cristo a transgredir a lei, e essa investida foi
intensificada no deserto da tentação. Contudo, Satanás fracassou, pois em cada prova,
Cristo se apegou à Palavra de Deus para vencê-lo (Mateus 4:1-10). A obediência de
Cristo é oferecida a cada crente, e através de Sua justiça imputada, os pecadores podem
ser reconciliados com Deus. Jesus não apenas viveu uma vida de perfeita obediência,
mas Sua morte garantiu que Sua justiça fosse imputada a todo aquele que Nele crê (2
Coríntios 5:21).

• A Luta Final do Calvário


A cruz de Cristo foi o clímax do grande conflito, quando finalmente o Filho de Deus
bradou “Está consumado” (João 19:30). Ali, Cristo entregou Sua vida para redimir
a humanidade. A morte de Cristo desmascarou as intenções malignas de Satanás e
demonstrou o infinito amor de Deus pelo mundo. A vitória de Cristo na cruz garantiu
a derrota de Satanás e a restauração final do governo de Deus sobre a Terra (Hebreus
2:14-15). A cruz não apenas redimiu a humanidade, mas foi um evento cósmico que
confirmou o caráter de Deus perante todo o Universo. A cruz é a grande vitória de Deus
sobre o mal, a revelação final do Seu amor e justiça (Romanos 3:25-26).

3. JESUS E O GRANDE CONFLITO


• A Identidade de Cristo
Certa vez, Jesus perguntou aos Seus discípulos: “Quem diz o povo ser o Filho do homem?”
(Mateus 16:13,14). Muitos de Seus contemporâneos O viam apenas como um homem,
sem reconhecer que Ele era Emanuel, Deus conosco. O cerne do conflito entre Cristo e
Satanás gira em torno da identidade de Jesus, pois Satanás, de forma direta ou indireta,

Doutrinas Fundamentais 39
busca impedir que as pessoas O reconheçam como Deus. Admitir a divindade de Cristo
implicaria a necessidade de adorá-Lo como Senhor.

C. S. Lewis, em seu livro Cristianismo Puro e Simples, refletiu com brilhantismo sobre a
responsabilidade que cada um de nós tem ao definir quem Jesus realmente é:
“Estou tentando impedir que alguém repita a rematada tolice dita por muitos a seu
respeito: ‘Estou disposto a aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não
aceito a sua afirmação de ser Deus.’ Essa é a única coisa que não devemos dizer. Um
homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um
grande mestre da moral. Seria um lunático – no mesmo grau de alguém que pretendesse
ser um ovo cozido — ou então o diabo em pessoa. Faça a sua escolha. Ou esse homem
era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. Você pode querer
calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou pode
prosternar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém venha, com
paternal condescendência, dizer que ele não passava de um grande mestre humano.
Ele não nos deixou essa opção, e não quis deixá-la. […] Agora, parece-me óbvio que Ele
não era nem um lunático nem um demônio, consequentemente, por mais estranho,
assustador e inacreditável que possa parecer, tenho que aceitar a ideia de que Ele era e é
Deus.” [Lewis, C. S. Cristianismo Puro e Simples. Editora Martins Fontes, 2005, p. 54-55].

Satanás entende o poder transformador que o reconhecimento da verdadeira identidade


de Cristo exerce sobre a humanidade, por isso procura incessantemente distorcer a
imagem de Cristo como o Filho de Deus encarnado. Em sua audácia, chegou a questionar
a própria identidade de Cristo durante a tentação no deserto, mas foi derrotado (Mateus
4:1-11).

Jesus Cristo é a figura central no conflito entre o bem e o mal. Ele é a segunda pessoa
da Trindade, o Verbo que se fez carne e habitou entre nós (João 1:14). Como Criador, Ele
assumiu a forma humana para ser o representante da humanidade e, como Salvador,
Ele trouxe redenção à humanidade por meio de Sua morte na cruz. A identidade divina
e humana de Cristo faz Dele o único que pode mediar entre Deus e o homem. Jesus é o
centro de todas as coisas, aquele que uniu o Céu e a Terra, reconectando a humanidade
caída ao seu Criador (Romanos 11:36).

• A Centralidade de Cristo nas Doutrinas Bíblicas


Todas as doutrinas bíblicas se encontram em Cristo. Ele é o cumprimento da lei, o
sacrifício pelos pecados, o sumo sacerdote no santuário celestial, e o Rei que virá para
restaurar todas as coisas. Cada aspecto do plano de salvação tem Cristo em seu centro.
Jesus é o centro de todas as verdades bíblicas, o ponto de convergência da criação,
redenção e restauração. A Palavra de Deus assegura que Deus fez “... convergir em Cristo
todas as coisas, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra, na dispensação
da plenitude dos tempos” (Efésios 1:10).

4. O SIGNIFICADO DA DOUTRINA DO GRANDE CONFLITO


• Doutrina Unificadora das Escrituras

40 Doutrinas Fundamentais
A doutrina do grande conflito é o tema central que permeia toda a Bíblia, unificando suas
diversas narrativas. Desde o Gênesis até o Apocalipse, as Escrituras revelam a batalha
cósmica entre Cristo e Satanás, entre o bem e o mal, culminando na vitória definitiva de
Deus sobre o pecado e na restauração da criação. Assim como a tampa de um quebra-
cabeça revela a imagem completa, essa doutrina proporciona a visão abrangente que
permite a compreensão de todas as partes da narrativa bíblica. Através dela, podemos
entender o propósito geral da revelação divina e sua mensagem de salvação. O grande
conflito oferece a chave para interpretar o desenvolvimento do plano de salvação e a
resposta final de Deus ao problema do pecado. Sem essa compreensão, a Bíblia carece
de um eixo unificador, e sua mensagem pode parecer fragmentada e desconexa.

• A Vigilância Pessoal
A compreensão do grande conflito nos chama a uma vida de constante vigilância
espiritual. Satanás, sabendo que seu tempo é curto (Apocalipse 12:12), intensifica seus
esforços para destruir a fé dos crentes e afastá-los de Deus. Como seguidores de Cristo,
somos chamados a estar atentos às tentações, sabendo que estamos em meio a uma
batalha que envolve não apenas questões terrenas, mas também consequências eternas
(Efésios 6:10-18). O conflito cósmico nos alerta para a necessidade de uma constante
prontidão e de mantermos uma ligação inabalável com Cristo, pois é somente nEle que
encontramos vitória sobre o pecado e proteção contra as forças das trevas.

• A Compreensão do Sofrimento Humano


A doutrina do grande conflito oferece uma perspectiva bíblica sobre o sofrimento.
Vivemos em um mundo marcado pela dor, pela morte e pelo mal, mas essa realidade
não reflete a vontade original de Deus para a humanidade. Diante da dor, muitas vezes
nos sentimos sem respostas, como se estivéssemos cercados pelas trevas, conforme
descrito no Salmo 88.O sofrimento é uma consequência do pecado e do envolvimento da
Terra na batalha entre Cristo e Satanás. Embora Deus permita que o mal siga seu curso
por um tempo, Ele trabalha ativamente para redimir a humanidade e restaurar todas as
coisas (Apocalipse 21:5) . O sofrimento humano é temporário e será eliminado quando
Cristo retornar. O grande conflito ajuda-nos a ver que, embora Deus não seja o autor do
sofrimento, Ele o usa para revelar Sua justiça e misericórdia, e para trazer Seu povo a
uma compreensão mais profunda de Seu caráter (Romanos 5:1-5).

• A Certeza do Cuidado de Cristo


Em meio ao grande conflito, Cristo não deixa Seu povo sozinho. Ele envia o Espírito Santo
para guiar e fortalecer os crentes, além de designar anjos para protegê-los (Hebreus 1:14).
Saber que estamos sob os cuidados de Cristo, que venceu a batalha contra o pecado, nos
dá a certeza de que, embora sejamos provados e perseguidos, o Senhor é nosso refúgio
e segurança. Mesmo em meio ao sofrimento e às provações, Cristo está ao lado de Seu
povo, dando-lhes força e proteção. Ele prometeu estar conosco até o fim dos tempos, e
essa promessa é o ânimo que nos sustenta no campo de batalha (Mateus 28:20 / João
16:33).

• O Significado Cósmico da Cruz


A cruz de Cristo é o ponto culminante do grande conflito. Ali, Deus demonstrou Sua

Doutrinas Fundamentais 41
justiça e amor de forma suprema, e as verdadeiras intenções de Satanás foram expostas
perante todo o universo. A cruz não foi apenas o ato de redenção para a humanidade,
mas também a revelação definitiva do caráter de Deus e o juízo contra o pecado. A
cruz foi o evento central do grande conflito, onde Cristo conquistou a vitória final sobre
Satanás, vindicando a justiça de Deus e abrindo o caminho para a restauração de todas
as coisas (I Coríntios 1:18-24).

• O Desfecho do Grande Conflito


O Grande Conflito terá um fim, e a Bíblia garante que a vitória de Deus sobre o mal será
completa. Satanás, o iniciador da rebelião, será definitivamente derrotado e eliminado
para sempre. Apocalipse 20 assegura que Satanás, seus anjos, e todos aqueles que se
aliaram a ele serão destruídos no lago de fogo. Essa vitória de Cristo não apenas marca
o fim do pecado, mas também inaugura a nova criação de Deus, onde Seu propósito
original será plenamente restaurado. A mensagem é clara: o mal não prevalecerá, e o
plano divino será consumado.

Nos capítulos 21 e 22 de Apocalipse, João descreve a gloriosa visão de um novo céu e


uma nova terra, onde Deus habitará com Seu povo e todas as coisas serão renovadas.
Não haverá mais dor, morte ou pecado. A Nova Jerusalém descerá do céu, e os salvos,
redimidos pelo sangue de Cristo, viverão eternamente na presença de Deus. Este desfecho
magnífico é o cerne da esperança cristã: a restauração completa do que foi perdido no
Éden. Através de Cristo, o Grande Conflito termina com a vitória definitiva do bem e o
estabelecimento eterno do Reino de Deus, onde a paz e a justiça reinarão para sempre.

PARA REFLETIR

“No grande conflito final, como em todas as eras anteriores, Satanás empregará os mesmos
expedientes, manifestará o mesmo espírito, e trabalhará para o mesmo fim. Aquilo que foi,
será, com a exceção de que a luta vindoura se assinalará por uma intensidade terrível, tal
como o mundo jamais testemunhou. Os enganos de Satanás serão mais sutis, seus assaltos
mais decididos. Se possível fora, transviaria os escolhidos” (Ellen White. O Grande Conflito)

42 Doutrinas Fundamentais
7 A EXPERIÊNCIA
DA SALVAÇÃO

Em infinito amor e misericórdia, Deus fez com que Cristo, que não conheceu pecado, Se tornasse
pecado por nós, para que Nele fôssemos feitos justiça de Deus. Guiados pelo Espírito Santo,
sentimos nossa necessidade, reconhecemos nossa pecaminosidade, arrependemo-nos de
nossas transgressões e temos fé em Jesus como salvador e senhor, substituto e exemplo. Essa
fé salvadora advém do divino poder da Palavra e é o dom da graça de Deus. Por meio de Cristo,
somos justificados, adotados como filhos e filhas de Deus, e libertados do domínio do pecado.
Por meio do Espírito, nascemos de novo e somos santificados; o Espírito renova nossa mente,
escreve a lei de Deus, a lei de amor, em nosso coração, e recebemos o poder para levar uma vida
santa. Permanecendo Nele, tornamo-nos participantes da natureza divina e temos a certeza da
salvação agora e no juízo (Gn 3:15; Is 45:22; 53; Jr 31:31-34; Ez 33:11; 36:25-27;Hc 2:4; Mc 9:23, 24;
Jo 3:3-8, 16; 16:8; Rm 3:21-26; 8:1-4, 14-17; 5:6-10; 10:17; 12:2; 2Co 5:17-21; GI 1:4; 3:13, 14, 26; 4:4-7; Ef
2:4-10; CI 1:13, 14; Tt 3:3-7; Hb 8:7-12; 1Pe 1:23; 2:21, 22; 2Pe 1:3, 4; Ap 13:8).
Certa vez, um renomado alpinista foi questionado sobre as razões de enfrentar montanhas
perigosas, desafiando o frio, o vento e o cansaço. Com simplicidade, ele respondeu:
“Porque cada passo me leva mais perto do topo. A jornada é árdua, mas o objetivo de
alcançar o topo faz cada dificuldade valer a pena”. Essas palavras ilustram perfeitamente
o processo da salvação. De acordo com o ensinamento bíblico, a experiência da salvação
não é um evento instantâneo ou estático, mas uma jornada de crescimento contínuo.

Cada passo que damos em nossa vida espiritual nos aproxima do objetivo final: a
restauração completa da imagem de Deus em nós. Assim como o alpinista enfrenta os
desafios da montanha, enfrentamos os efeitos do pecado em nossa caminhada, mas
somos fortalecidos pela graça de Cristo. A promessa é que, um dia, alcançaremos o
“topo” – uma transformação plena que envolverá tanto nossa vida espiritual quanto
física, completando o plano divino de redenção.

A experiência da salvação envolve três estágios:

Doutrinas Fundamentais 43
• Conquistas passadas (Alcançadas por intermédio da vitória de Cristo na cruz).
• Conquistas presentes (Realizadas em nós através da mediação sacerdotal de Cristo).
• Conquistas futuras (Desfrutadas em breve quando Cristo retornar como Rei Eterno).

No entanto, devido à natureza dinâmica deste processo, é crucial lembrar que as


experiências passadas de entrega e fé devem ser renovadas diariamente. A entrega de
ontem não é válida para hoje, e a de hoje não será suficiente para o amanhã.

1. ARREPENDIMENTO
O arrependimento, conforme descrito na Bíblia, envolve tanto tristeza pelo pecado
quanto uma mudança de mentalidade e atitude em relação a Deus.

• Mateus 3:1-2
• Atos 2:37-38
• Atos 3:19
• Romanos 2:4

• Significados do Arrependimento:
Hebraico - ‫( ַםחָנ‬nacham): Essa palavra carrega a ideia de sentir pesar, remorso
ou tristeza profunda por uma ação cometida. Está associada a uma mudança
emocional, um sentimento de tristeza ou contrição por algo errado que foi feito.
Grego - μετανοέω (metanoeo): Essa palavra é usada no Novo Testamento para
“arrependimento”, e tem um significado profundo e abrangente. Literalmente
composta por duas partes – “meta”, que significa “além”, “após” ou “mudança”,
e “noeo”, que se refere a “pensamento” ou “mente” – o termo transmite a ideia de
uma “mudança de mente” ou “mudança de pensamento”. No contexto bíblico, essa
mudança envolve uma transformação profunda que afeta tanto o entendimento
quanto a atitude, levando a uma nova direção de vida, em conformidade com a
vontade de Deus.
O verdadeiro arrependimento inclui ambos: tristeza por ter pecado e uma
transformação de atitude. Essa obra é realizada por Deus em nossos corações, e
cabe a nós permitirmos Sua atuação em nossas vidas (Salmo 51:1-3,5,10). Somente
a intercessão de Cristo nos torna aptos a receber as bênçãos divinas (João 15:5), e o
maior incentivo ao arrependimento é o amor de Deus revelado na cruz (Romanos
5:7-8).

2. JUSTIFICAÇÃO
A palavra justificação, usada na bíblia, é uma tradução para o português da palavra
grega “dikaioma”, que significa “Exigência de justiça”. Essa palavra está associada a
outra, “dikaiosis”, cujo significado é “vindicação”, “absolvição”. Assim, A justificação
é o ato de Deus declarar os pecadores justos por meio da obra redentora de Cristo. Ele
tomou sobre Si a nossa culpa e, em troca, nos concede Sua justiça perfeita.

44 Doutrinas Fundamentais
• 2 Coríntios 5:21
• Tito 3:5

Cristo sofreu a morte que merecíamos e nos oferece Sua obediência perfeita, a qual só
pode ser recebida pela fé. Nenhuma ação humana pode nos tornar dignos de sermos
declarados justos diante de Deus. Ao aceitar Jesus como Senhor e Salvador, Deus não
nos vê como somos, mas vê em nós a justiça de Cristo – estamos cobertos pelo sangue
do Cordeiro. Em Cristo somos justificados; aceitos novamente por Deus !

• Dois Tipos de Justificação:

✓ Justificação Ativa: É a obra completa de Cristo, na qual a humanidade não coopera. Ela
ocorre por meio de Sua intercessão e nos reconcilia com Deus (2 Coríntios 5:19).
✓ Justificação Passiva (Santificação): Envolve a transformação contínua de nosso caráter
pela ação de Deus em nós. Exige a nossa permissão para que Ele molde nossa vida,
transformando atos e pensamentos, e nos conformando à Sua vontade.

3. FÉ E OBRAS
• Hebreus 11:8-10
• Tiago 2:17-26

Embora possa parecer que Paulo e Tiago estão em contradição, na verdade, suas
afirmações são complementares. A fé, como vimos no exemplo de Abraão, é o fator
motivador das ações justas (Hebreus 11). Por outro lado, as obras genuínas são o fruto
natural de uma fé verdadeira (Tiago 2:24).

4. O PROCESSO DE SANTIFICAÇÃO
• 1 Pedro 1:15-16
• 1 Tessalonicenses 4:3,7
• Hebreus 12:14

A santificação é o resultado gerado pelo arrependimento e pela justificação. O verdadeiro


arrependimento nos concede acesso ao perdão e à salvação, colocando-nos no caminho
da santificação. Assim como a justificação; a santificação é um dom da graça de Deus.
É um processo contínuo na vida daqueles que receberam a salvação em Cristo, no qual
Deus, através do Espírito Santo, nos molda e transforma para sermos cada vez mais
semelhantes a Jesus. Esse processo não depende de nossos próprios esforços, mas da
graça divina, que nos concede o Espírito Santo como uma dádiva. É Ele quem opera em
nós essa transformação constante, para que nossa vida glorifique a Deus em todos os
aspectos.

Doutrinas Fundamentais 45
5. ADOÇÃO NA FAMÍLIA DE DEUS
• João 8:42-45
• Romanos 8:15-17

Quando Adão e Eva pecaram, a humanidade foi separada de Deus, e a paternidade divina
foi desafiada. O homem tornou-se vítima do poder de Satanás e do pecado, perdendo
a intimidade com o Criador. Contudo, pela vitória de Cristo na cruz, essa condição foi
transformada. Ao confessarmos Jesus como nosso Senhor e Salvador, somos libertos
dessa escravidão e adotados novamente como filhos de Deus. A humanidade de Cristo
garante nossa filiação divina, e Sua vitória sobre o pecado nos dá o direito de viver
plenamente como filhos adotivos de Deus, restaurando o relacionamento quebrado no
Éden.

6. O PERDÃO E A NOVA VIDA


• Isaías 44:22
• 2 Coríntios 5:17
• Romanos 8:1

Em Cristo, nosso passado é totalmente apagado, e nada pode ser usado contra nós, pois
estamos plenamente unidos a Ele. O perdão de Deus é completo e definitivo. Assim,
Cristo nos concede uma nova vida, onde as coisas antigas ficam para trás, permitindo-
nos viver um presente de vitórias. Além disso, um futuro glorioso de recompensas
eternas nos aguarda em Sua presença.

7. A PERFEIÇÃO CRISTÃ
• Mateus 5:48
• Gênesis 6:9 (Noé)
• Gênesis 17:1 (Abraão)
• João 15:5

Jesus nos chama à perfeição, mas não à perfeição absoluta e infinita, como a de Deus.
Dentro de nossa esfera humana, somos convocados a viver de acordo com toda a
luz e conhecimento que recebemos de Deus. Essa perfeição, que Cristo nos propõe,
está relacionada à nossa disposição de obedecer e viver em conformidade com a
vontade divina, à medida que a conhecemos. Ainda que, neste mundo, não vivamos
completamente livres do pecado, em Cristo estamos em um processo contínuo de
crescimento rumo à santidade.
Esse chamado à perfeição não significa que devemos atingir um estado de impecabilidade
por nossos próprios esforços, mas sim que, ao nos submetermos à transformação
operada pelo Espírito Santo, nos tornamos cada vez mais semelhantes a Jesus. Nossa
perfeição é, na verdade, uma resposta à obra redentora de Cristo, sendo aperfeiçoada
por Sua própria perfeição. É a justiça de Cristo que, aplicada à nossa vida, nos torna

46 Doutrinas Fundamentais
aceitáveis diante de Deus. Assim, o Pai nos vê não por nossos méritos, mas através da
obediência perfeita e do sacrifício de Seu Filho, que completa em nós o que, sozinhos,
jamais alcançaríamos.

8. A GLORIFICAÇÃO: A COMPLETA RESTAURAÇÃO


• Romanos 8:9-11,19,23
• 2 Coríntios 3:18
• 1 Tessalonicenses 4:16-17
• 1 Coríntios 15:19,26,51-54

A experiência da salvação não se limita à vida presente. Deus deseja que nossa alegria
seja completa em Cristo, abrangendo o passado, presente e futuro. A restauração plena
da imagem de Deus em nós só será completa com a destruição final do pecado e a
glorificação dos santos. Em Cristo, já temos a certeza da vida eterna, mesmo antes de
recebê-la plenamente. Nele, não apenas temos esperança, mas a certeza da salvação
agora. Mesmo antes da glorificação final, podemos experimentar um vislumbre da vida
eterna. O amor e a graça de Deus nos alcançaram, e nossa resposta deve ser viver em
comunhão contínua com Ele, renovando diariamente nossa fé e compromisso com o
Salvador.

PARA REFLETIR

“A vida em Cristo é uma vida de descanso. Pode não haver êxtase de sentimentos, mas deve
existir uma constante, serena confiança. Vossa esperança não está em vós mesmos; está em
Cristo. Vossa fraqueza se acha unida à Sua força, vossa ignorância à Sua sabedoria, vossa
fragilidade ao Seu eterno poder. Não deveis, pois, olhar para vós mesmos, nem permitir que
o pensamento demore no próprio eu, mas olhai para Cristo. Que o pensamento demore em
Seu amor, na formosura e perfeição de Seu caráter. Cristo em Sua abnegação, Cristo em Sua
humilhação, Cristo em Sua pureza e santidade, Cristo em Seu incomparável amor - este é o
tema para a contemplação da alma. É amando-O, imitando-O, confiando inteiramente Nele,
que haveis de ser transformados na Sua semelhança.” (Ellen White, Caminho a Cristo, 70,71)..

Doutrinas Fundamentais 47
4ª Parte

A DOUTRINA DA IGREJA

48 Doutrinas Fundamentais
8 A IGREJA E O
SURGIMENTO DO
REMANESCENTE

A igreja é a comunidade de crentes que confessam a Jesus Cristo como senhor e salvador. Em
continuidade do povo de Deus nos tempos do Antigo Testamento, somos chamados para fora
do mundo; e nos unimos para prestar culto, para comunhão, para instrução na Palavra, para a
celebração da Ceia do Senhor, para o serviço a toda a humanidade e para a proclamação mundial
do evangelho. A igreja recebe sua autoridade de Cristo, o qual é a Palavra encarnada revelada nas
Escrituras. A igreja é a família de Deus; adotados por Ele como filhos, seus membros vivem com
base no novo concerto. A igreja é o corpo de Cristo, uma comunidade de fé, da qual o próprio Cristo
é a cabeça. A igreja é a noiva pela qual Cristo morreu para que pudesse santificá-la e purificá-la.
Em Sua volta triunfal, Ele a apresentará a Si mesmo igreja gloriosa, os fiéis de todos os séculos, a
aquisição de Seu Sangue, sem mácula, nem ruga, porém santa e sem defeito (Gn 12:1-3; Ex 19:3-7; Mt
16:13-20; 18:18; 28:19, 20; At 2:38-42; 7:38; 1Co 1:2; Et 1:22, 23; 2:19-22; 3:8-11; 5:23-27; C1 1:17,18; 1Pe 2:9).

A igreja universal se compõe de todos os que verdadeiramente creem em Cristo; mas, nos últimos
dias, um tempo de ampla apostasia, um remanescente tem sido chamado para fora, a fim de guardar
os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. Esse remanescente anuncia a chegada da hora do juízo,
proclama a salvação por meio de Cristo e prediz a aproximação de Seu segundo advento. Essa
proclamação é simbolizada pelos três anjos de Apocalipse 14; coincide com a obra de julgamento
no Céu e resulta em uma obra de arrependimento e reforma na Terra. Todo crente é convidado a ter
uma parte pessoal neste testemunho mundial (Dn 7:9-14; Is 1:9; 11:11; Jr 23:3; Mq. 2:12; 2Co 5:10; 1Pe
1:16-19; 4:17; 2Pe 3:10-14; Jd 3, 14; Ap 12:17; 14:6-12; 18:1-4).

Ao longo da história, pensadores como Friedrich Nietzsche e Karl Marx previram o


fim da igreja e da religião. Nietzsche via o cristianismo como uma força destinada ao
colapso, enquanto Marx acreditava que a igreja era uma ferramenta de opressão que
desapareceria com o progresso social. No entanto, apesar dessas previsões e dos desafios
enfrentados – incluindo perseguições e ceticismo – a igreja de Deus permanece firme.
Sob a condução divina, a igreja, mesmo militante e imperfeita, jamais será destruída.
Sustentada por Cristo, ela caminha para seu triunfo final, quando estará plenamente
vitoriosa na presença de Jesus.

Doutrinas Fundamentais 49
1. A IGREJA
• O Estabelecimento da Igreja
A igreja foi estabelecida pelo próprio Deus e comprada a um alto preço. Em Atos 20:28,
Paulo exorta os líderes da igreja a pastorearem o rebanho de Deus, lembrando-os de que
“foi comprada com o sangue de Cristo”. Esse ato de sacrifício demonstra a seriedade e o
valor da igreja aos olhos de Deus. A igreja não é apenas uma organização humana, mas
uma comunidade espiritual que foi estabelecida através do sacrifício redentor de Jesus
Cristo.

• O Propósito da Igreja
O propósito da igreja, segundo 1 Pedro 2:9,25, é profundo e claro: ela é descrita como
uma “nação santa”, um “povo escolhido” para proclamar as virtudes daquele que nos
chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. A missão primordial da igreja é ser uma
testemunha da salvação em Cristo, conduzindo aqueles que estão perdidos para a luz da
verdade. A palavra grega usada nas Escrituras para igreja, ekklesia, significa literalmente
“chamados para fora”. Esse termo, amplamente empregado na antiguidade, referia-se a
qualquer assembleia convocada para uma reunião. No contexto do Novo Testamento, no
entanto, ekklesia adquire um significado mais profundo e específico: é uma assembleia
de pessoas convocadas por Deus para realizar um propósito divino. O Novo Testamento
amplia a aplicação do termo igreja, utilizando-o para designar diferentes aspectos da
comunidade cristã:

◊ Os crentes reunidos para adoração em um local específico


(1 Coríntios 11:18; 14:19,28).
◊ Os crentes que viviam em certa localidade
(1 Coríntios 16:1; Gálatas 1:2; 1 Tessalonicenses 2:14).
◊ Os crentes reunidos no lar de um indivíduo
(1 Coríntios 16:19; Colossenses 4:15; Filemom 2).
◊ Um grupo de congregações localizadas em uma região geográfica específica
(Atos 9:31).
◊ Todo o corpo de crentes ao redor do mundo, a igreja universal
(Mateus 16:18; 1 Coríntios 10:32; 12:28; Efésios 4:11-16).

Dessa forma, a igreja não se limita a uma estrutura física ou a um local de adoração;
ela é, acima de tudo, uma assembleia de pessoas convocadas por Deus para viver e
proclamar Seu Reino aqui na Terra. O chamado da igreja é expandir esse Reino por
meio da pregação do evangelho eterno, trazendo salvação àqueles que se encontram
perdidos, como destacado nas palavras de Jesus: “O Filho do Homem veio buscar e
salvar o que se havia perdido” (Lucas 19:10). O propósito central da igreja é, portanto,
vivenciar e proclamar a salvação oferecida por Cristo, manifestando a luz de Deus ao
mundo, como ilustrado em Mateus 5:13-16. Mais do que uma instituição, a igreja é um
corpo vivo, composto por pessoas que se reúnem para cumprir a missão divina, vivendo
os propósitos de Deus e promovendo o evangelho da graça, sempre buscando a redenção
e a restauração da humanidade.

50 Doutrinas Fundamentais
• As Raízes da Igreja - O Povo de Deus no Antigo Testamento
Desde os primeiros tempos, o conceito de povo de Deus estava presente nas famílias que
se mantinham fiéis a Ele. A linhagem de Adão, Sete, Noé, Sem e Abraão representou
os guardiões da verdade divina. Nestas famílias, o pai exercia a função de sacerdote,
e essas unidades familiares podem ser consideradas como a “igreja em miniatura”. A
Abraão, Deus concedeu as promessas que fariam dele o patriarca de uma nação cujo
objetivo era abençoar todas as nações da Terra (Gênesis 12:1-3). Assim, a missão de Israel
foi uma extensão direta dessa promessa: eles deveriam ser uma nação santa, através da
qual o amor e o conhecimento de Deus seriam demonstrados ao mundo.

Deus estabeleceu Israel em um ponto geograficamente estratégico, a Palestina, localizada


entre três continentes – Europa, Ásia e África. Israel deveria ser um centro de adoração
e serviço, onde outras nações poderiam conhecer o verdadeiro Deus. O propósito de
Israel era ser uma luz para as nações, chamando-as para fora da escuridão da idolatria e
trazendo-as para a adoração do único Deus verdadeiro (Isaías 56:7).

Entretanto, Israel falhou repetidamente em sua missão. Idolatria, isolacionismo,


nacionalismo e orgulho impediram o povo de Deus de cumprir o propósito que lhe fora
designado. Apesar do constante envolvimento de Deus, o fracasso culminou na recusa
de Israel em aceitar o Messias, demonstrada de forma trágica quando clamaram: “Não
temos rei, senão César!” (João 19:15). Este evento marcou o rompimento da missão
original de Israel como nação escolhida por Deus.

• O Surgimento da Igreja - O Povo de Deus no Novo Testamento


A cruz de Cristo trouxe consigo uma divisão crucial na história do povo de Deus. Enquanto a
morte de Cristo marcou o fim da missão de Israel como nação, Sua ressurreição inaugurou
a igreja cristã, com uma nova missão: a proclamação do evangelho da salvação através
do sangue de Jesus. Israel, ao rejeitar sua missão, perdeu seu lugar especial como o povo
de Deus, e em seu lugar, foi estabelecida a igreja, composta por judeus convertidos e
gentios que aceitaram a Cristo.

Essa transição é ilustrada de maneira poderosa por Paulo em Romanos 11:17-25, onde
ele descreve os gentios como ramos de uma oliveira silvestre enxertados na oliveira
natural, que representa Israel. Os judeus que rejeitaram a Cristo foram como ramos
quebrados, enquanto os que creram permaneceram ligados à raiz. Assim, a igreja do
Novo Testamento surgiu como uma comunidade de fé composta por todos os que, pela
fé, aceitam Jesus como o Messias prometido (Gálatas 3:26-29).

Diferente da igreja do Antigo Testamento, que estava restrita a uma nação, a igreja
do Novo Testamento transcende fronteiras nacionais. Ela se tornou uma organização
missionária, com a missão de “fazer discípulos de todas as nações” (Mateus 28:19). A
igreja cristã não se limitava mais a Israel, mas a todos os que, em qualquer parte do
mundo, aceitassem a mensagem de salvação. Desta forma, a igreja se tornou o verdadeiro
Israel espiritual, uma comunidade global cuja missão é levar o evangelho a todas as
pessoas, cumprindo o propósito original de Deus de abençoar toda a humanidade.

Doutrinas Fundamentais 51
• A Importância da Comunidade
A vida cristã não deve ser vivida em isolamento. Em Hebreus 10:25, somos exortados a
não deixar de congregar, mas a nos encorajarmos mutuamente. A igreja é um lugar onde
os cristãos encontram força e apoio, e onde a missão de pregar o evangelho é fortalecida.
O isolamento espiritual, tão comum nos dias atuais, especialmente com o aumento dos
“desigrejados”, contraria o plano divino de comunhão e unidade entre os crentes.

• Os Dons Espirituais na Igreja


Deus dotou a igreja de dons espirituais para a edificação do corpo de Cristo. Em Efésios
4:12, Paulo explica que a igreja existe para “aperfeiçoar os santos para a obra do
ministério, para edificação do corpo de Cristo”. Os dons espirituais são essenciais para
que a igreja cumpra sua missão, sendo distribuídos de acordo com a necessidade e o
chamado de cada membro (Efésios 4:1-13). Esses dons fortalecem a igreja, tanto coletiva
quanto individualmente, capacitando-a a realizar o trabalho de Cristo aqui na Terra.

• O Poder do Espírito na Igreja


A missão da igreja não é uma tarefa humanamente possível de ser realizada sem ajuda
divina. Jesus prometeu o poder do Espírito Santo para acompanhar a igreja em sua
missão. Atos 1:8 destaca que os discípulos receberiam poder do Espírito Santo e seriam
testemunhas de Cristo até os confins da Terra. Esse poder divino continua a operar
na igreja hoje, concedendo a força necessária para cumprir a missão de proclamar o
evangelho.

• Igreja Visível e Igreja Invisível


A igreja pode ser compreendida de duas maneiras: a visível e a invisível. A igreja visível
é a comunidade de crentes organizada para o serviço, responsável por cumprir a Grande
Comissão de Cristo e preparar o mundo para seu retorno glorioso (Mateus 28:18-20;
Efésios 5:27). Ela é a instituição que prega o evangelho e ministra ao mundo em nome
de Cristo, assim como Ele fez. A igreja invisível, por outro lado, é composta por todos
os filhos de Deus, incluindo aqueles que não fazem parte da igreja visível, mas que têm
seguido a luz que lhes foi concedida. João 1:9 menciona que Cristo ilumina a todos os
homens, e Romanos 2:14 fala daqueles que seguem a lei de Deus “por natureza”. Embora
invisível aos olhos humanos, Deus conhece seus verdadeiros adoradores, como destaca
João 4:23.

Deus, através do Espírito Santo, conduz os membros da igreja invisível para uma união
com a igreja visível. João 10:16 menciona que Jesus tem “outras ovelhas” que Ele trará
para um só rebanho. É na igreja visível que os crentes podem experimentar plenamente
as bênçãos do companheirismo e dos dons espirituais que edificam o corpo de Cristo
(Efésios 4:4-16).
• A Promessa Final de Deus para Sua Igreja
Deus promete um destino glorioso para Sua igreja. Em Apocalipse 21:1-4 e 22:17, a igreja
é descrita como a “noiva” de Cristo, destinada a habitar com Ele em um novo céu e nova
terra. Essa promessa de restauração final é o ápice da esperança cristã, onde a igreja será
plenamente unida com seu Senhor, livre de toda dor, sofrimento e morte.

52 Doutrinas Fundamentais
2. O REMANESCENTE
• O Remanescente Histórico
Ao longo da história bíblica, vemos exemplos do remanescente em momentos cruciais.
Em períodos de calamidades ou apostasia, o remanescente atua como uma ponte entre
a antiga fidelidade e a restauração futura da verdade de Deus. Desde os tempos de Adão,
passando por Abel, Sete, Noé, incluindo Israel no exílio, até os dias do profeta Elias,
sempre houve um pequeno grupo que representou o povo verdadeiro de Deus. Eles eram
aqueles que, mesmo em tempos de grande escuridão espiritual, permaneciam leais aos
mandamentos de Deus e tendo como ponto central de suas vidas a adoração à Deus e a
fé no Messias vindouro.

Assim, o conceito de remanescente, conforme descrito em Apocalipse 12:17, não se refere


apenas ao remanescente final, mas engloba também um grupo fiel de crentes que, ao
longo das eras, permanece leal a Deus em meio à perseguição, apostasia e calamidades.
O termo “remanescente” significa “os que sobraram”, e na Bíblia, ele simboliza um
pequeno grupo de pessoas que, apesar de grandes desafios, mantém a verdade e a
fidelidade a Deus. Desde os tempos antigos, Deus sempre preservou um remanescente
que serviria como uma fonte de restauração espiritual para Seu povo. Esse remanescente
é vital porque garante a continuidade da verdadeira adoração, mesmo quando a maioria
abandona os princípios divinos (Isaías 10:20-22).

• O Remanescente Escatológico
A profecia revela que, no tempo do fim, Deus também teria um remanescente especial
para representá-Lo no contexto de intensificação do Grande Conflito. Em Apocalipse 12,
vemos a batalha entre o dragão, identificado como Satanás, e a mulher, que representa
o povo fiel de Deus. Satanás, ao fracassar em destruir o Messias, volta sua atenção
para a igreja, simbolizada pela mulher. Ela foge para o deserto, onde Deus a protege
durante 1.260 dias proféticos, equivalentes a 1.260 anos (Ap 12:6, 14). Este período de
perseguição corresponde ao domínio da igreja apóstata que, em aliança com o estado,
oprimiu aqueles que resistiram à sua autoridade. Ao final desse tempo, o remanescente
emerge como um grupo distinto, identificado por guardar os mandamentos de Deus e
possuir o testemunho de Jesus (Ap 12:17). Esse remanescente é chamado a continuar a
obra de proclamar a verdade, em meio à perseguição e enganos que se intensificam nos
últimos dias.

◊ A Grande Apostasia da Igreja


A apostasia que corrompeu a igreja foi profetizada pelos apóstolos, como Paulo
e João. Em 2 Tessalonicenses 2:3-4, Paulo fala sobre a revelação do “homem do
pecado”, que se exaltaria acima de Deus e estabeleceria um sistema de engano
dentro da própria igreja. À medida que a igreja primitiva foi abandonando seu
“primeiro amor” (Ap 2:4), ela perdeu sua pureza e permitiu a introdução de práticas
e crenças pagãs. O bispo de Roma emergiu como o líder supremo da cristandade,

Doutrinas Fundamentais 53
e com o apoio do poder imperial, o papado consolidou sua autoridade. A aliança
entre igreja e estado trouxe um período de severa perseguição aos que resistiam a
essa crescente apostasia. Durante os 1.260 anos apresentados na profecia, milhões
de cristãos fiéis sofreram e morreram por sua lealdade à verdade bíblica. A fusão
do cristianismo com o paganismo resultou na criação de um sistema religioso que
misturava erro e verdade, distorcendo o caráter de Deus e afastando o povo da
verdadeira adoração.

◊ A Reforma Protestante
Deus não permitiria que Satanás continuasse a atacar a igreja indefinidamente
com sofrimentos e falsas doutrinas. No tempo apropriado, Ele levantaria um
movimento especial para restaurar as verdades importantes que haviam sido
distorcidas e esquecidas. A Reforma Protestante foi um movimento de retorno às
Escrituras, que se levantou em resposta à corrupção e apostasia da igreja medieval.
Reformadores como João Wycliffe, Martinho Lutero e João Calvino desafiaram o
controle e as doutrinas não escriturísticas da igreja romana. Lutero, em particular,
destacou a doutrina da justificação pela fé, que havia sido obscurecida pelo ensino
da salvação pelas obras e pelas indulgências.
A Reforma trouxe de volta o princípio da Bíblia como a única autoridade final para a
fé e a prática, e não as tradições ou decretos eclesiásticos. A obra dos reformadores
foi essencial para expor os erros do papado e libertar a igreja da opressão espiritual,
restabelecendo a verdade de que a salvação é um dom gratuito de Deus por meio
da fé em Jesus Cristo. Embora a Reforma tenha sido um movimento poderoso,
restaurando verdades fundamentais do evangelho, ela não restaurou toda a luz
que havia sido perdida.

◊ A Necessidade de um Remanescente Final


Apesar dos avanços significativos da Reforma, muitos de seus sucessores não
deram continuidade à busca por uma restauração completa das verdades bíblicas.
Em vez de avançar no estudo das Escrituras, grande parte do protestantismo
se fixou nas doutrinas dos reformadores e permaneceu estagnado. Verdades
importantes, como o batismo por imersão, a guarda do sábado e a compreensão
correta da imortalidade da alma, foram negligenciadas. Essa estagnação levou ao
surgimento de um novo escolasticismo, onde a ortodoxia era defendida com rigor,
mas o espírito da reforma se perdeu. O formalismo tomou o lugar da fervorosa
busca pela verdade, e o protestantismo, assim como o catolicismo, necessitava de
uma nova reforma.

◊ Características do Remanescente Escatológico


O remanescente dos últimos dias, conforme descrito em Apocalipse 12:17, é
identificado por duas características essenciais: eles “guardam os mandamentos
de Deus” e “têm o testemunho de Jesus”. Guardar os mandamentos de Deus
significa que este grupo segue fielmente a lei moral de Deus, incluindo os Dez
Mandamentos, sem modificações ou concessões às tradições humanas. Isso inclui
a observância do sábado como o dia de descanso, conforme ordenado no quarto
mandamento.

54 Doutrinas Fundamentais
Além disso, o remanescente possui o “testemunho de Jesus”, que é descrito como o
“Espírito de Profecia” (Ap 19:10). Esse dom é uma marca distintiva do remanescente,
indicando que Deus continua a falar e a guiar Seu povo através de mensagens
proféticas. O “Espírito de Profecia” se manifesta em suas vidas, direcionando
o remanescente a entender e proclamar as verdades proféticas contidas nas
Escrituras. Isso os capacita a advertir o mundo e a preparar as pessoas para o breve
retorno de Cristo. Portanto, o remanescente não é apenas um grupo que guarda
os mandamentos, mas que também está intimamente ligado à profecia, sendo
conduzido por ela.

◊ O Surgimento do Remanescente nos Últimos Dias


O surgimento do remanescente escatológico é profetizado para ocorrer após os
1.260 anos de perseguição, mencionados em Apocalipse 12. Este período, que se
refere à dominação eclesiástica durante a Idade Média, culmina em 1798, com o
fim do poder político do papado. Após este tempo de perseguição, um grupo fiel de
crentes emergiria com a missão de restaurar as verdades bíblicas que haviam sido
distorcidas ou esquecidas ao longo dos séculos.
Este movimento de reavivamento, ocorrido no final do século 18 e início do século
19, foi marcado por um profundo estudo das profecias bíblicas, especialmente
no que diz respeito à volta de Cristo. Surgiram movimentos interconfessionais,
centralizados na iminência do segundo advento, e esses crentes foram chamados
a proclamar as três mensagens angélicas de Apocalipse 14. Esse remanescente
dos últimos dias desempenha um papel crucial na preparação do mundo para
o retorno de Cristo, restaurando as verdades bíblicas esquecidas e chamando as
pessoas de volta à verdadeira adoração.

• A Missão do Remanescente Escatológico

◊ Proclamação da Primeira Mensagem Angélica


A primeira mensagem angélica, encontrada em Apocalipse 14:6-7, é uma
proclamação do “evangelho eterno” e chama todas as nações, tribos, línguas e
povos a temer a Deus e dar-lhe glória, pois a hora do juízo chegou. O remanescente
é comissionado a pregar essa mensagem, alertando o mundo para o fato de que o
julgamento divino está em andamento. O “temor” de Deus implica em reverência e
obediência a Ele, e “dar-lhe glória” significa viver de maneira que honre Seu nome,
seja através do comportamento, das palavras ou das ações.
Esta mensagem também destaca a importância da verdadeira adoração. O
remanescente convida as pessoas a adorarem “Aquele que fez o céu, a terra, o mar
e as fontes das águas”, uma referência direta ao mandamento do sábado, dado
como memorial da criação (Êxodo 20:11). Nesse contexto, o chamado à adoração
do Criador é especialmente relevante, pois o mundo tem se afastado dessa verdade
bíblica fundamental. Com o surgimento de teorias como o evolucionismo, a
mensagem do remanescente vem como um apelo para que a humanidade volte a
adorar o Deus Criador.

Doutrinas Fundamentais 55
◊ Proclamação da Segunda Mensagem Angélica
A segunda mensagem angélica, encontrada em Apocalipse 14:8, proclama a
queda de Babilônia. Babilônia, neste contexto, simboliza um sistema religioso
corrupto que se afastou da verdade de Deus e embriagou as nações com falsos
ensinamentos. A mensagem do remanescente alerta o mundo para a apostasia
espiritual representada por Babilônia, identificada pela mistura de crenças
verdadeiras e falsas.

Babilônia é retratada como uma mulher apóstata que, ao invés de ser fiel a Deus,
comete fornicação espiritual ao unir-se aos poderes políticos e civis para impor
suas doutrinas. O remanescente denuncia essa aliança corrupta e chama o povo de
Deus a sair de Babilônia, para que não participem de seus pecados nem recebam
de suas pragas (Apocalipse 18:4). Esta mensagem é um chamado para a separação
das práticas e ensinos falsos que têm enredado muitas nações e religiões.

◊ Proclamação da Terceira Mensagem Angélica


A terceira mensagem angélica, descrita em Apocalipse 14:9-12, é o mais solene aviso
divino contra a adoração da besta e de sua imagem. A besta, conforme identificada
em Apocalipse 13, é a união de um poder religioso apóstata com o poder estatal, que
dominou a cristandade por 1.260 anos. A imagem da besta representa a recriação
deste sistema no fim dos tempos, quando as igrejas apóstatas unirem-se ao estado
para impor seus ensinamentos e controlar a adoração.

O remanescente proclama esta mensagem com seriedade, advertindo que aqueles


que adorarem a besta e receberem sua marca sofrerão a ira de Deus, expressa
nas sete últimas pragas e, finalmente, no lago de fogo (Apocalipse 16:1-21; 20:14-
15). Por outro lado, o remanescente é descrito como aqueles que “guardam os
mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse 14:12). Eles serão preservados
e estarão com Cristo no final, enquanto os adoradores da besta serão destruídos. A
questão central deste conflito é a verdadeira e a falsa adoração, e o remanescente
tem a missão de advertir o mundo para fazer a escolha correta, conforme a vontade
de Deus.

PARA REFLETIR

“A igreja é o instrumento apontado por Deus para a salvação dos homens. Foi organizada
para servir, e sua missão é levar o evangelho ao mundo. Desde o princípio tem sido plano
de Deus que através de Sua igreja seja refletida para o mundo Sua plenitude e suficiência.
Aos membros da igreja, a quem Ele chamou das trevas para Sua maravilhosa luz, compete
manifestar Sua glória. A igreja é a depositária das riquezas da graça de Cristo; e pela igreja
será a seu tempo manifesta, mesmo aos “principados e potestades nos Céus” (Efésios 3:10),
a final e ampla demonstração do amor de Deus.” (Ellen White, Atos dos Apóstolos, pág. 9)

56 Doutrinas Fundamentais
9 O DOM DE
PROFECIA

As Escrituras revelam que um dos dons do Espírito Santo é a profecia. Esse dom é uma
característica da igreja remanescente e nós cremos que ele foi manifestado no ministério de
Ellen G. White. Seus escritos falam com autoridade profética e proveem consolo, orientação,
instrução e correção para a igreja. Eles também tornam claro que a Bíblia é a norma pela qual
deve ser provado todo ensino e experiência (Nm 12:6; 2Cr 20:20; Am 3:7; Jo 2:28, 29; At 2:14-21;
2Tm 3:16, 17; Hb 1:1-3; Ap 12:17; 19:10; 22:8, 9).

Em 5 de dezembro de 1945, cinco aviões Avenger do Esquadrão Voo 19, da Marinha


dos EUA, desapareceram no Triângulo das Bermudas durante uma missão de
treinamento. O líder da esquadrilha, tenente Charles Taylor, relatou que as
bússolas haviam falhado, desorientando a formação. Mesmo com várias tentativas
de comunicação, os aviões continuaram a voar até ficarem sem combustível e
desapareceram, tornando-se um dos mistérios mais icônicos relacionados ao
Triângulo das Bermudas.

Esse trágico evento ilustra a importância de uma orientação confiável em momentos


críticos. Da mesma forma, na caminhada espiritual da igreja, o dom de profecia
é a bússola divina que a guia com segurança através dos desafios e enganos ao
longo dos séculos. Sem essa direção profética, a igreja ficaria vulnerável ao erro,
especialmente em tempos de crise, comprometendo as decisões cruciais que a
conduzem ao cumprimento dos planos divinos e ao triunfo final.

1. O PAPEL DO DOM PROFÉTICO NA BÍBLIA


Desde o início da história, o dom de profecia tem sido um meio pelo qual Deus
comunica Suas intenções, advertências e promessas. A Bíblia está repleta de
exemplos de profetas sendo usados por Deus para transmitir Sua vontade e guiar
o Seu povo em momentos de crise, apostasia e restauração. O dom profético é uma
das formas mais poderosas de revelação divina, pois, por meio dele, o próprio
Deus Se comunica diretamente com a humanidade.

Doutrinas Fundamentais 57
• Autoridade Divina e Propósito do Dom Profético
O dom de profecia não é apenas um dom de revelação, mas também um dom de
direção e correção. Em Deuteronômio 18:18, Deus promete suscitar profetas que
falarão em Seu nome, como Moisés. A função do profeta, portanto, é transmitir
com exatidão o que Deus quer comunicar. Não é uma palavra humana, mas uma
mensagem divina, com autoridade inquestionável.

O profeta, ao receber a mensagem divina, torna-se um instrumento através do qual


Deus executa Seu plano. O profeta Ezequiel, por exemplo, foi chamado por Deus
como “atalaia”, sendo responsável por alertar o povo sobre os perigos iminentes,
cumprindo o papel de vigia espiritual sobre Israel (Ezequiel 3:17). A rejeição à
mensagem profética era, na verdade, uma rejeição ao próprio Deus, como ficou
claro em 1 Samuel 8:7, quando Deus disse a Samuel que o povo não o havia
rejeitado, mas sim a Deus.

• A Importância do Dom de Profecia na História da Salvação


A profecia desempenha um papel fundamental no desenrolar do plano de salvação
de Deus. Desde as primeiras profecias messiânicas no Gênesis (Gênesis 3:15), onde
Deus promete que a descendência da mulher esmagaria a cabeça da serpente, até
as visões apocalípticas do livro de Apocalipse, o dom de profecia tem sido o veículo
através do qual Deus revela Sua atuação redentora no mundo.

Em 2 Pedro 1:21, lemos que “homens santos falaram da parte de Deus, movidos
pelo Espírito Santo”. Este texto ressalta que o dom de profecia é uma ação direta
de Deus, através de Seu Espírito, e não uma iniciativa humana. O profeta é apenas
o meio pelo qual a mensagem divina chega ao povo.

2. O DOM DE PROFECIA NO ANTIGO TESTAMENTO


O dom de profecia no Antigo Testamento teve uma importância vital na vida
religiosa de Israel. Desde os tempos patriarcais, passando pelos juízes e reis,
Deus se manifestava por meio de Seus profetas. Esses mensageiros divinos eram
encarregados de conduzir a nação de Israel, tanto em períodos de glória como em
momentos de crise e decadência moral e espiritual. A seguir veremos um quadro
que apresenta algumas das mensagens que determinados profetas receberam de
Deus com o dever de compartilhá-las:

58 Doutrinas Fundamentais
PROFETA MENSAGEM REFÊRENCIA TEXTUAL

Jonas Vinda do Juízo e destruição Jonas 3:1-4


de Nínive
Natã Repreensão ao rei Davi por II Samuel 12:1-15
um pecado cometido
Isaías Esperança à nação de Israel Isaías 41:8-20

Miquéias Vinda futura do Messias Miquéias 5:2

Eliseu Condenação à ganancia de II Reis 5:20-27


Geazi
Moisés Especificação do estilo de Levíticos 11 a 20
vida da nação de Israel
Jeremias Anúncio da nova aliança de Jeremias 31:31-34
salvação
Ezequiel O retorno da glória de Deus Ezequiel 43:1-9
ao Seu povo

• O Papel dos Profetas como Porta-vozes de Deus


A palavra “profeta” na língua hebraica é Nabiy’ e no grego é “Prophetes”, e em
ambos casos, a ideia central do termo é que o profeta é um porta voz, um mensageiro
de Deus. Os profetas no Antigo Testamento eram, essencialmente, porta-vozes de
Deus, incumbidos de comunicar a vontade divina. Amós 3:7 diz: “Certamente o
Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o Seu segredo aos Seus
servos, os profetas”. Isso mostra que os profetas eram depositários do conhecimento
de Deus sobre o destino da nação e da humanidade. O ofício profético era uma
função central no Antigo Testamento, e os profetas muitas vezes confrontavam os
reis e sacerdotes que se desviavam do caminho de Deus.

• Funções Variadas dos Profetas


Os profetas desempenhavam funções variadas no Antigo Testamento, atuando
como pregadores, conselheiros, mestres, reformadores e visionários. Eles não
apenas anunciavam acontecimentos futuros, mas também forneciam instruções
sobre como o povo deveria viver de acordo com a Lei de Deus.

Por exemplo, o profeta Isaías exortou o povo de Judá a confiar em Deus em vez
de confiar em alianças militares, pregando a justiça e a retidão (Isaías 1:16-17).
Jeremias, por outro lado, advertiu o povo sobre a iminente destruição de Jerusalém
e o cativeiro babilônico, mas também trouxe esperança ao anunciar o futuro
retorno do exílio (Jeremias 29:10-11).

Os profetas não eram apenas homens do futuro; eram também homens do

Doutrinas Fundamentais 59
presente, constantemente chamando Israel ao arrependimento e advertindo sobre
as consequências do pecado. Um exemplo claro é o papel de Elias, que confrontou
o rei Acabe e os profetas de Baal, reafirmando o poder de Deus sobre a idolatria
que contaminava a nação (1 Reis 18:16-40).

• A Centralidade da Profecia na Vida Religiosa de Israel


O ministério profético estava intrinsecamente ligado à identidade nacional e
religiosa de Israel. Os profetas não atuavam de maneira isolada; eles faziam parte
de uma comunidade que se via como a escolhida de Deus. Em momentos de crise,
como durante o exílio babilônico, a profecia foi fundamental para manter viva
a esperança do povo de que Deus não havia abandonado Sua aliança. O profeta
Daniel, com suas visões apocalípticas, reforçou essa esperança, mostrando que o
reino de Deus triunfaria sobre todos os reinos humanos (Daniel 7:13-14).

3. O DOM DE PROFECIA NO NOVO TESTAMENTO


No Novo Testamento, o dom de profecia é renovado e ampliado através da ação do
Espírito Santo, especialmente após o Pentecostes. A Igreja primitiva foi diretamente
guiada por revelações proféticas, com o Espírito Santo designando profetas e
concedendo-lhes autoridade para liderar e orientar a comunidade cristã.

• O Dom de Profecia na Igreja Primitiva


Em Atos 2:17, Pedro cita a profecia de Joel (Joel 2:28-29), declarando que nos
últimos dias o Espírito Santo seria derramado sobre toda a carne, e que jovens e
velhos profetizariam. Essa profecia começou a se cumprir no Pentecostes, quando
os apóstolos foram capacitados pelo Espírito Santo a proclamar o evangelho em
várias línguas. Desde então, o dom de profecia se tornou uma característica vital
da igreja apostólica, trazendo segurança e direcionamento ao povo de Deus.

• Funções dos Profetas no Novo Testamento


Os profetas no Novo Testamento desempenharam funções cruciais, como prever
acontecimentos futuros, edificar a igreja e confirmar a fé. Profetas como Ágabo
profetizaram a fome que viria sobre toda a terra (Atos 11:27-28) e a prisão de Paulo
(Atos 21:10-11), demonstrando que o dom de profecia continuava a guiar a igreja
em momentos críticos.

Além disso, o apóstolo Paulo enfatizou a importância do dom de profecia para


a edificação da igreja. Em 1 Coríntios 14:1-5, Paulo exorta os crentes a buscarem
especialmente o dom de profecia, pois “o que profetiza edifica a igreja”. Enquanto
outros dons, como o dom de línguas, serviam para edificação pessoal, o dom de
profecia era considerado essencial para o fortalecimento e unidade da comunidade
cristã.

• A Profecia e a Estrutura da Igreja Apostólica


Os profetas no Novo Testamento ajudaram a estabelecer e fortalecer as bases

60 Doutrinas Fundamentais
da igreja. Em Efésios 2:20, Paulo descreve que a igreja foi edificada “sobre o
fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra
angular”. A presença contínua do dom de profecia servia para guiar a igreja na
pureza da doutrina e na prática cristã. Profetas como Barnabé, Judas e Silas (Atos
15:32) desempenharam papéis fundamentais na consolidação da fé durante o
primeiro concílio da igreja, quando surgiram controvérsias sobre a inclusão dos
gentios.

• Paulo e o Dom de Profecia


O ministério de Paulo foi profundamente marcado pelo dom de profecia, e por meio
desse dom, a igreja primitiva foi guiada e fortalecida. Suas decisões missionárias
e jornadas eram frequentemente dirigidas por intervenções proféticas, como
registrado em Atos 16:6-10, onde o Espírito Santo o impediu de pregar em certas
regiões e o conduziu à Macedônia através de uma visão. Além de suas próprias
experiências proféticas, Paulo edificava e aconselhava a igreja por meio desse
dom, incentivando os cristãos a buscá-lo com fervor.

Em 1 Coríntios 14:1, ele exorta os crentes a desejarem os dons espirituais,


especialmente o de profecia, por sua importância para a edificação espiritual.
Paulo também ressaltou o papel fundamental desse dom para a unidade e o
crescimento espiritual da igreja. Em Efésios 4:11-13, ele descreve os dons espirituais
como ferramentas essenciais para a edificação do corpo de Cristo, destacando que
o dom de profecia, em particular, contribuía significativamente para a maturidade
e fortalecimento da fé dos crentes, promovendo a unidade e a firmeza na doutrina
cristã.

• João e o Dom de Profecia


O dom de profecia manifestado na vida do apóstolo João foi fundamental para a
igreja, especialmente em sua revelação no livro de Apocalipse, onde ele declara:
“Bem-aventurados aqueles que leem e guardam as palavras desta profecia” (Ap
1:3). Essa mensagem não apenas serviu como orientação para a igreja ao longo
dos séculos, mas também revelou o caminho escatológico, descrevendo eventos
que ocorreriam até o fim dos tempos. João, sob a inspiração do Espírito, abriu as
cortinas do tempo, mostrando o conflito entre o bem e o mal, o papel da igreja na
proclamação do evangelho e as provações que ela enfrentaria. O dom de profecia
culmina na visão do novo céu e nova terra (Ap 21-22), oferecendo esperança e
direção para a igreja, e assegurando o triunfo final do reino de Deus com a derrota
definitiva do mal.

4. O DOM DE PROFECIA NOS ÚLTIMOS DIAS


A Bíblia anuncia que o dom de profecia seria particularmente relevante nos últimos
dias. Joel 2:28-31 menciona o derramamento do Espírito sobre toda a carne, e isso
inclui o renascimento do dom de profecia em uma escala global, preparando o
mundo para o retorno de Cristo.

Doutrinas Fundamentais 61
• O Dom de Profecia em Meio à Apostasia
Nos últimos dias, o dom de profecia desempenhará um papel vital na preservação
da fé em um mundo cada vez mais envolvido em apostasia e engano. Jesus advertiu
em Mateus 24:11 que surgiriam muitos falsos profetas, mas isso não significava que
o verdadeiro dom de profecia deixaria de existir. Pelo contrário, a presença de falsos
profetas confirma que haverá também o dom profético autêntico. Este dom servirá
para alertar e preparar o povo de Deus para os eventos finais da história da Terra.

• A Continuidade dos Dons Espirituais


Em Efésios 4:11-13, Paulo afirma que os dons, incluindo o de profecia, são dados à
igreja “até que todos cheguemos à unidade da fé”. O dom de profecia, portanto, não
foi retirado após a era apostólica. Pelo contrário, sua presença é necessária para
manter a igreja unida e forte em meio às crises do tempo do fim. No Apocalipse, a
igreja remanescente é descrita como possuindo o “testemunho de Jesus, que é o
espírito de profecia” (Apocalipse 19:10).

5. O DOM DE PROFECIA NO REMANESCENTE


O livro de Apocalipse destaca que a igreja remanescente dos últimos dias seria
caracterizada pela obediência aos mandamentos de Deus e pela posse do dom
profético (Apocalipse 12:17). A Igreja Adventista do Sétimo Dia vê-se como
esse remanescente, chamado para restaurar as verdades bíblicas e anunciar a
proximidade do juízo final.

• O Testemunho de Jesus como Espírito de Profecia


Apocalipse 19:10 identifica o “testemunho de Jesus” como o “espírito de profecia”.
Esse testemunho é uma característica distinta da igreja remanescente. Ele implica
que o dom profético estará presente e ativo dentro da comunidade dos crentes fiéis
nos últimos dias.

• O Papel do Dom Profético na Missão do Remanescente


A missão do remanescente é proclamar as três mensagens angélicas de Apocalipse
14, que incluem um chamado à adoração ao Criador e a advertência contra a falsa
adoração. O dom profético será essencial para guiar a igreja durante a crise final,
quando as pressões para se conformar à adoração falsa se intensificarem. O dom
de profecia no remanescente teria a função de exortar o povo a permanecer fiel às
verdades bíblicas, mesmo em face da perseguição.

6. O DOM PROFÉTICO NA IGREJA ADVENTISTA


A Igreja Adventista do Sétimo Dia acredita que o dom de profecia foi restaurado
e manifestado de maneira especial no ministério de Ellen G. White, uma de suas
fundadoras. Ellen White é reconhecida como possuindo o dom de profecia, e seus
escritos são vistos como uma fonte de orientação e exortação divina para a igreja
remanescente (mais detalhes, ver apostila Ciclo de Discipulado Raízes , módulo
1- “Eu Conheço Minha História”).

62 Doutrinas Fundamentais
• Ellen G. White e Suas Visões
Ellen White teve mais de 2.000 visões e sonhos ao longo de seu ministério.
Esses eventos forneceram à igreja uma compreensão mais clara das Escrituras e
orientações práticas sobre saúde, educação, e organização da obra missionária.
Muitas de suas visões foram confirmadas pela história, como sua advertência sobre
o surgimento do espiritualismo moderno e a crescente união entre protestantes e
católicos, algo impensável em seu tempo.

• A Validade do Ministério Profético de Ellen White


Ellen White foi submetida aos testes bíblicos de um verdadeiro profeta, como
delineados em Deuteronômio 18:21-22 e 1 João 4:2-3. Suas mensagens sempre
estiveram em harmonia com as Escrituras e tiveram um profundo impacto positivo
sobre a vida espiritual de milhões de crentes.

7. ELLEN WHITE E O DOM PROFÉTICO


Ellen White nunca reivindicou para si o título de “profetisa”, preferindo ser
chamada de “mensageira do Senhor”. Ela acreditava que sua função era conduzir
a igreja de volta às verdades bíblicas e ajudar a preparar o povo de Deus para o
breve retorno de Cristo.

• A Influência dos Escritos de Ellen White


Os escritos de Ellen White, que abrangem uma ampla gama de temas, desde
saúde até educação, são amplamente reconhecidos por estarem muito à frente
de seu tempo. Sua orientação sobre a reforma de saúde, por exemplo, antecipou
importantes descobertas modernas em nutrição e medicina preventiva. Durante
sua vida, Ellen White produziu mais de 80 livros, 200 folhetos e 4.600 artigos em
periódicos, além de sermões, diários, testemunhos especiais e cartas, totalizando
cerca de 60 mil páginas de material manuscrito. Esses escritos desempenharam
um papel crucial na orientação da igreja, oferecendo uma bússola segura diante
dos grandes desafios que a igreja enfrentou em sua história.

• Profecias Cumpridas
Muitas de suas profecias se cumpriram de maneira impressionante, incluindo a
predição da união entre protestantes e católicos romanos, algo que se desenvolveu
significativamente a partir do século XX, com o movimento ecumênico.

8. A RELAÇÃO ENTRE OS ESCRITOS PROFÉTICOS DE ELLEN WHITE E A BÍBLIA


Ellen White sempre afirmou que seus escritos não eram uma substituição da Bíblia,
mas uma luz menor para levar as pessoas de volta à luz maior. Ela exaltava a Bíblia
como a autoridade final e nunca pretendia que seus escritos fossem usados de
forma independente das Escrituras.

• A Bíblia como Norma Suprema


A Bíblia, para Ellen White, era o guia supremo de fé e prática. Ela sempre incentivou

Doutrinas Fundamentais 63
os crentes a estudarem as Escrituras com diligência e a basearem suas crenças e
ações na Palavra de Deus.

• Um Guia para aplicar princípios da Bíblia


Os escritos de Ellen White servem como um guia prático para aplicar os princípios
bíblicos à vida cotidiana. Ela acreditava que seu ministério profético ajudaria a
igreja a entender mais claramente as verdades das Escrituras e a viver de acordo
com esses ensinamentos.

• Uma Guia para a compreensão geral da Bíblia


Elle White considerava seus escritos como um guia para a compreensão mais clara
da Bíblia. “Não são apresentadas verdades novas por meio dos testemunhos, porém,
Deus simplificou as grandes verdades já concedidas e segundo a forma por Ele
mesmo escolhida, trouxe-as perante o povo, visando despertá-los e impressionas
suas mentes, a fim de que todos eles fiquem sem escusa” Testemunhos para a
Igreja, 665

PARA REFLETIR

“Pouca atenção é dada à Bíblia, e o Senhor deu uma luz menor para guiar homens e mulheres
à luz maior”. Ellen White - Review and Herald, 20 de janeiro de 1903.
“Em Sua Palavra, Deus conferiu aos homens o conhecimento necessário à salvação. As Santas
Escrituras devem ser aceitas como autorizada e infalível revelação de Sua vontade. Elas são
a norma do caráter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da experiência religiosa.
Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção,
para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente
habilitado para toda boa obra - II Tim. 3:16 e 17” (Ellen White, O Grande Conflito, 09)
“O Senhor deseja que estudeis a Bíblia. Ele não deu alguma luz adicional para tomar o lugar
de Sua Palavra. Esta luz deve conduzir as mentes confusas à Sua Palavra, a qual, se for
ingerida e assimilada, é como o sangue que dá vida à alma. Então serão vistas boas obras
como luz brilhando nas trevas. (Ellen White, Carta 130, 1901).

64 Doutrinas Fundamentais
Doutrinas Fundamentais 65
5ª Parte

A DOUTRINA DA VIDA CRISTÃ

66 Doutrinas Fundamentais
10 MORDOMOS
DE DEUS

Somos despenseiros de Deus, responsáveis a Ele pelo uso apropriado do tempo e das
oportunidades, capacidades e posses, e das bênçãos da Terra e seus recursos que Ele colocou
sob o nosso cuidado. Reconhecemos o direito de propriedade da parte de Deus por meio de fiel
serviço a Ele e aos seres humanos, e devolvendo o dízimo e dando ofertas para a proclamação de
Seu evangelho e para a manutenção e o crescimento de Sua igreja. A mordomia é um privilégio
que Deus nos concede para desenvolvimento no amor e para vitória sobre o egoísmo e a cobiça.
Os mordomos se alegram nas bênçãos que advêm aos outros como resultado de sua fidelidade
(Gn 1:26-28; 2:15; 1Cr 29:14; Ag 1:3-11; MI 3:8-12; Mt 23:23; Rm 15:26, 27; 1Co 9:9-14; 2Co 8:1-15; 9:7.).

Em 2002, Michael Carroll, um jovem inglês de 19 anos, ganhou cerca de 10 milhões


de libras na loteria. Contudo, em poucos anos, perdeu toda a fortuna devido à má
administração e escolhas imprudentes, chegando à falência e retornando ao seu
antigo emprego em busca de sustento. No mundo em que vivemos, muitas pessoas
priorizam a busca por conquistas materiais, esquecendo-se de que, na perspectiva
divina, “ser” é mais importante do que “possuir”. Na mordomia cristã, Deus nos
chama à administrar com sabedoria tudo o que nos confia, conforme Sua vontade,
para que sejamos verdadeiramente súditos do Seu reino eterno.

1. O QUE É MORDOMIA CRISTÃ?


A palavra “mordomia” na atualidade é geralmente associada a privilégios e
vantagens pessoais, uma espécie de vida confortável e repleta de benefícios. No
entanto, essa percepção é muito diferente da visão bíblica. Na perspectiva cristã,
mordomia refere-se a um conceito de responsabilidade e serviço.

“O primeiro texto da Bíblia que trata diretamente do assunto da mordomia é Gênesis


1:26-28. Essa passagem mostra que, após a criação, Deus concedeu quatro dádivas
fundamentais ao homem: família, trabalho, alimento e descanso. Essas dádivas
envolvem basicamente todas as áreas da vida, e Deus espera nossa fidelidade ao

Doutrinas Fundamentais 67
lidarmos com elas. A primeira pergunta que o leitor deve fazer ao examinar essa
passagem é: o que capacita Adão a ser um mordomo? A resposta é simples: ele foi
criado à imagem e semelhança de Deus. Como tal, Adão foi dotado de habilidades
para desenvolver duas atividades básicas. Primeiro, ele devia refletir a glória de
Deus. Segundo, ele devia ser uma bênção para o restante da criação “(Adenilton
Tavares de Aguiar).

O ser humano foi criado à imagem de Deus e, diferente dos animais, recebeu a
responsabilidade de ser um “Colaborador” com o Criador, no processo de encher a
terra com pessoas que refletissem essa imagem. Deus não simplesmente ordenou
que isso acontecesse, como fez com os animais, mas escolheu iniciar esse processo
a partir de um casal, dotando-o de capacidade de desenvolvimento e escolha.
Embora providenciasse os elementos necessários para as melhores decisões,
Deus não excluiu a possibilidade de escolhas erradas. Assim, a mordomia cristã
é a colaboração humana no cumprimento desse propósito divino, abrangendo
aspectos como a família, paternidade, cuidado com a natureza, trabalho, dízimos,
ofertas, beneficência, guarda do sábado, entre outros. Esses são os meios pelos
quais Deus molda o caráter humano para refletir Sua imagem ao universo.

“Para que o homem não perdesse os benditos resultados da caridade, nosso


Redentor formou o plano de alistá-lo como COOBREIRO Seu. Deus poderia ter
atingido o Seu objetivo de salvar pecadores, sem o auxílio do homem; mas sabia
que o homem não poderia ser feliz sem desempenhar uma parte na grande obra.”
Ellen White - Conselhos sobre Mordomia, pág. 7.

Mordomia é o reconhecimento da soberania de Deus em nossa vida e o exercício


do proposito que Deus tem para nossa existência. Como mordomos, reconhecemos
que Deus é o dono de tudo e nós somos apenas gestores temporários de Suas
dádivas (Salmo 24:1). Nesse sentido, ser mordomo é viver de forma responsável,
usando o tempo, os recursos, e as habilidades que Deus nos confiou para cumprir
Seus propósitos na Terra, incluindo o apoio à missão de compartilhar o evangelho
e servir ao próximo. Sendo assim, a mordomia envolve a administração fiel de
tudo o que Deus nos confiou, desde a vida, talentos, tempo e recursos materiais.
No contexto bíblico, o mordomo é aquele que gerencia os bens de seu mestre com
sabedoria e fidelidade (Lucas 16:10-12).

Para os cristãos, esse conceito se traduz na responsabilidade de cuidar do que


pertence a Deus, incluindo a própria vida e a criação. O chamado para sermos
mordomos também está diretamente relacionado à nossa missão na Terra. Como
administradores dos dons divinos, somos convidados a usar nossas habilidades
e recursos para glorificar a Deus e ajudar o próximo. Em 1 Coríntios 4:2, Paulo
afirma que se espera dos mordomos que sejam encontrados fiéis. Portanto, a
mordomia cristã é mais do que uma simples gestão de bens; é uma forma de vida
que reconhece Deus como soberano e busca cumprir Sua vontade em todas as
áreas da existência humana.

68 Doutrinas Fundamentais
• Mordomia à luz da Revelação, Fé e Prática !

A narrativa bíblica de Números 19-21, que descreve a jornada de Israel no deserto,


oferece uma analogia poderosa para a mordomia cristã. O povo de Deus foi testado
em sua fé e obediência, como no episódio da serpente de bronze, onde a cura
veio pela submissão à ordem divina (Números 21:8-9). Assim como Israel, os
cristãos são chamados a reconhecer que Deus é soberano, e como mordomos fiéis,
devemos seguir Suas orientações reveladas na Palavra. A mordomia bíblica parte
desse reconhecimento da soberania de Deus, seja na gestão de recursos, talentos
ou no cumprimento de Suas ordens, como o dízimo e as ofertas, que expressam
nossa confiança em Sua provisão e recomendações (Malaquias 3:10).

A mordomia verdadeira exige que recebamos a revelação de Deus com fé e a


coloquemos em prática. Esse princípio, assim como o obedecer a uma ordem
aparentemente contraditória no deserto, se aplica à vida cristã em todas as áreas.
Ser mordomos fiéis significa viver de acordo com toda palavra que sai da boca de
Deus (Deuteronômio 8:3), reconhecendo Sua vontade em nossa vida diária. Assim,
a prática da mordomia nos prepara para o desfecho final dos planos divinos e para
recebermos as bênçãos e a proteção prometidas por Deus (Mateus 25:21).

2. ADMINISTRANDO AS DÁDIVAS RECEBIDAS


A mordomia cristã abrange todas as áreas da vida, desde o cuidado com o corpo
até a gestão dos bens materiais. Ser um mordomo fiel significa administrar de
forma responsável e sábia todas as dádivas concedidas por Deus, colaborando
com Ele na gestão dessas bênçãos e no cumprimento da missão de vida que nos
foi confiada.

• Mordomia do Corpo
A Bíblia descreve o corpo humano como o “templo do Espírito Santo” (1 Coríntios
6:19-20). Portanto, cuidar da saúde física é um dever espiritual. A reforma de saúde,
uma das mensagens centrais do adventismo, destaca que o cuidado com o corpo é
essencial para uma vida longa e produtiva no serviço a Deus. Alimentação saudável,
exercícios físicos e descanso adequado são princípios de mordomia do corpo que
refletem um estilo de vida que honra ao Criador. Quando cuidamos do corpo,
estamos não apenas promovendo nossa própria saúde, mas também glorificando
a Deus com nossas vidas (1 Coríntios 10:31) . Isso inclui evitar substâncias nocivas e
práticas que prejudicam a saúde física e mental. A mensagem de saúde visa ajudar
o crente a viver com mais qualidade de vida e a entender melhor a vontade de Deus,
ampliando sua capacidade de servir e prolongando sua utilidade no cumprimento
do propósito divino de refletir o caráter de Deus para o Universo.

• Mordomia dos Talentos


Deus concede a cada pessoa talentos e habilidades que devem ser usados para Sua
glória e o benefício da humanidade. A parábola dos talentos (Mateus 25:14-30) nos
ensina que Deus espera que desenvolvamos e utilizemos os dons que recebemos.

Doutrinas Fundamentais 69
O uso dos talentos não é opcional, mas uma responsabilidade. Deus pedirá contas
de como empregamos esses dons. Aqueles que multiplicam seus talentos, seja
no trabalho missionário, seja em serviços para a comunidade, estão exercendo
fielmente a mordomia que lhes foi confiada. Paulo nos lembra em Romanos 12:6-8
que cada um deve exercer os dons espirituais de acordo com a medida da fé que
recebeu.

• Mordomia do Tempo
O tempo é uma das dádivas mais preciosas que Deus nos concede, e devemos
administrá-lo com sabedoria (Efésios 5:15-16). O conceito de “remir o tempo” indica
que cada momento deve ser usado de maneira produtiva e proveitosa, evitando
distrações fúteis. A mordomia do tempo nos desafia a equilibrar responsabilidades
pessoais, familiares, profissionais e espirituais, dedicando tempo para o estudo
da Bíblia, a oração e o serviço ao próximo. O sábado, como um presente de Deus
para a humanidade, é um lembrete semanal da nossa dependência de Deus e uma
oportunidade para fortalecer nossa relação com Ele e com os outros.

• Mordomia das Posses Materiais


O princípio de que Deus é o dono de todas as coisas inclui as nossas posses materiais.
Ao nos confiar esses recursos, Ele espera que os administremos de maneira sábia
e generosa. A Bíblia ensina que “onde estiver o teu tesouro, aí estará também o
teu coração” (Mateus 6:21). A maneira como utilizamos nossos bens reflete nossas
prioridades espirituais. O cristão é chamado a usar suas posses para ajudar os
necessitados e apoiar a obra de Deus. A prática do dízimo e das ofertas, que será
detalhada a seguir, é uma das formas de demonstrar nossa fidelidade e confiança
no plano de Deus para nossas finanças.

3. OS DÍZIMOS
O dízimo é uma prática antiga que representa a devolução de uma parte das nossas
posses a Deus. O dízimo, que corresponde a 10% de toda a renda ou ganho, é uma
forma de reconhecer que Deus é o proprietário de tudo. A Bíblia fala sobre o dízimo
em vários momentos, mostrando-o como uma instituição divina para sustentar o
serviço religioso e manter a missão da igreja.

• Exemplos Bíblicos do Dízimo


Abraão foi o primeiro a praticar o dízimo, entregando-o a Melquisedeque como
reconhecimento da soberania divina (Gênesis 14:20). Jacó, após ter uma visão de
Deus, também prometeu dar o dízimo de tudo o que Deus lhe desse (Gênesis 28:22).
Esses exemplos mostram que a prática do dízimo é uma resposta de gratidão e
lealdade ao Criador. No Novo Testamento, Jesus reafirma a importância do dízimo,
corrigindo aqueles que o praticavam sem entender seu verdadeiro significado
espiritual (Mateus 23:23).

• Uso dos Dízimos


No Antigo Testamento, os dízimos eram usados para sustentar os levitas, que não

70 Doutrinas Fundamentais
tinham herança e dedicavam suas vidas ao serviço do templo (Números 18:21-24).
Hoje, os dízimos são fundamentais para o sustento da igreja e de seus ministérios.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia utiliza o sistema de dízimos para financiar a obra
de evangelismo em todo o mundo, proporcionando recursos para missionários,
pastores e a infraestrutura da igreja (1 Coríntios 9:14). O ato de dizimar é um
exercício de fé, confiando que Deus proverá para todas as nossas necessidades,
conforme prometido em Malaquias 3:10.

4. AS OFERTAS
• As Ofertas no Antigo Testamento
As ofertas, desde o início da história bíblica, simbolizavam a relação do ser
humano com Deus e eram uma forma de expressar gratidão e reconhecimento da
soberania divina. Adão e seus filhos, Caim e Abel, foram os primeiros a apresentar
ofertas ao Senhor. Abel, ao oferecer o melhor de suas primícias, demonstrou fé
genuína, enquanto Caim falhou em sua devoção (Gênesis 4:3-5). Noé, ao sair da
arca após o dilúvio, ofereceu sacrifícios que agradaram a Deus, representando
gratidão pela salvação e proteção divina (Gênesis 8:20-21). Abraão, em Gênesis
22:13, demonstrou sua obediência ao oferecer Isaque, seu filho, como sacrifício,
sendo este substituído por um carneiro provido por Deus, apontando para o futuro
sacrifício redentor de Cristo. Moisés, como líder do povo de Israel, instituiu o
sistema de sacrifícios no santuário (Êxodo 29:18), onde as ofertas eram um meio
de adoração, expiação e reconhecimento da presença constante de Deus. Para
esses personagens, as ofertas não eram apenas rituais, mas expressões de fé e
dependência do Criador, apontando para o sacrifício redentor que viria em Cristo.

• A Construção do Tabernáculo
No Antigo Testamento, a construção do tabernáculo foi financiada por
ofertas voluntárias (Êxodo 36:3-7). As pessoas deram com tanta generosidade
que Moisés teve que pedir para que parassem de contribuir. Esse espírito de
doação também é visto na construção do templo sob a liderança de Salomão
e no tempo de Esdras e Neemias, após o exílio.

• O Ritual do Santuário
O Antigo Testamento descreve o sistema de sacrifícios e ofertas presentes
no ritual do santuário, onde o objetivo central era a adoração e a expiação
dos pecados. Embora as ofertas frequentemente expressassem gratidão, o
ponto essencial era reconhecer a necessidade de redenção e a obra futura
do Messias. O adorador entendia que esses sacrifícios prefiguravam o
sacrifício redentor de Cristo, o verdadeiro Cordeiro de Deus, que removeria
os pecados do mundo, apontando para a reconciliação definitiva entre Deus
e a humanidade.

◊ Oferta Queimada (Holocausto): Esta oferta, descrita em Levítico 1,


era totalmente queimada no altar e representava a consagração total

Doutrinas Fundamentais 71
do adorador a Deus. O holocausto simbolizava a oferta de Cristo, que
entregou Sua vida completamente em sacrifício por nossos pecados
(Efésios 5:2).

◊ Oferta de Manjares (Oferta de Cereal): Detalhada em Levítico 2,


essa oferta consistia em grãos ou farinha, sem fermento, com azeite e
incenso, e simbolizava a gratidão a Deus por Suas bênçãos materiais
e espirituais. Representava a vida sem pecado de Cristo (João 6:35) e
a santificação dos crentes.

◊ Oferta Pacífica (Oferta de Comunhão): Encontrada em Levítico


3, esta oferta envolvia uma parte do animal que era queimada no
altar, enquanto outra parte era consumida pelo adorador e pelos
sacerdotes. Ela simbolizava a comunhão com Deus, a paz que resulta
da reconciliação, e representava a obra de Cristo ao trazer a paz entre
Deus e o homem (Efésios 2:14).

◊ Oferta Pelo Pecado: Prescrita em Levítico 4, esta oferta era oferecida


por pecados cometidos de forma involuntária ou inconsciente. Ela
simbolizava o sacrifício de Cristo como expiação pelos pecados do
adorador. Ao colocar as mãos sobre o animal, o ofertante transferia
simbolicamente sua culpa para o sacrifício, apontando para Cristo, o
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29).

◊ Oferta pela Culpa (Oferta de Reparação): Relatada em Levítico


5:14-19, essa oferta envolvia tanto o sacrifício de um animal quanto a
restituição de bens em caso de dano. Ela enfatizava a necessidade de
reparação ao próximo e a Deus, ilustrando a obra de Cristo que não
apenas perdoa, mas também restaura o relacionamento com Deus
(Isaías 53:10).

“O sistema de sacrifícios apontava para Cristo, cujo sacrifício completo viria para
tirar o pecado do mundo” (EW, Patriarcas e Profetas, p. 357). Cada oferta refletia
uma dimensão do caráter de Cristo e de Sua obra redentora, estabelecendo a base
para a compreensão do sacrifício final e perfeito de Jesus no Novo Testamento.

A compreensão de que as ofertas estão diretamente ligadas ao sacrifício de Cristo


pelos pecadores nos direciona à Sua obra de salvação, a qual Deus escolheu
sustentar através de Seus colaboradores. O sacrifício do crente em favor dessa obra
imita o sacrifício de Cristo, constituindo o cerne do discipulado, onde o discípulo
segue o exemplo de seu Mestre (1 João 3:16-18). Como destaca Demostenes Neves,
“A identidade e a missão da igreja e seu próprio futuro requerem nossas melhores
energias e o máximo de nossos recursos” (Teologia das Ofertas e Perguntas sobre
o Dízimo, pág. 36).

72 Doutrinas Fundamentais
• As Ofertas no Novo Testamento
No Novo Testamento, as ofertas são apresentadas com uma nova profundidade
espiritual, centradas na atitude do coração. Cristo, em seu ministério, enfatizou a
importância da sinceridade e da pureza ao ofertar. Em Marcos 12:41-44, Ele elogia
a viúva pobre que, apesar de dar muito pouco em termos monetários, ofereceu
tudo o que tinha, mostrando que o valor da oferta está na disposição do coração e
não na quantidade.

Jesus condena as práticas hipócritas de quem oferta apenas para ser visto pelos
outros, como em Mateus 6:1-4, onde ensina que as ofertas devem ser feitas
discretamente, com o foco em agradar a Deus e não aos homens. Além disso, Paulo
reforça a ideia de que as ofertas devem ser voluntárias, generosas e com alegria,
como em 2 Coríntios 9:7. As ofertas no Novo Testamento estão fortemente ligadas
ao suporte aos necessitados e à expansão da obra de Deus, seguindo o exemplo
de Cristo, que valorizava o espírito sacrificial e a gratidão acima de qualquer valor
material.

• Princípios Primordiais das Ofertas

◊ Expressão de Gratidão pelo Sacrifício de Cristo – Ofertar, segundo


a visão bíblica, somente faz sentido quando reconhecemos o sacrifício
de Cristo na cruz. Desde o Antigo Testamento, as ofertas refletiam
fé e gratidão pela futura redenção que seria cumprida pelo Messias.
Hebreus 10:1-4 destaca que os sacrifícios e ofertas antigas prefiguravam
o sacrifício perfeito de Cristo, apontando para a salvação que Ele traria.
◊ Entregues com Alegria e Generosidade – No Novo Testamento, Paulo
exorta os cristãos a dar com alegria e generosidade (2 Coríntios 9:6-7).
◊ Proporcionais as Bençãos Recebidas - Deuteronômio 16:17 diz que :
“Cada um trará o que puder, conforme as bênçãos que o Senhor, o seu
Deus, lhe tiver dado.”
◊ Usadas para atender as demandas da Igreja - 2 Coríntios 9:12-13
afirma que as dádivas entregues atendiam as necessidades dos santos e
possibilitavam o avanço da igreja.
◊ “Ofertas Ordinárias e “Ofertas Extraordinárias” - É essencial
distinguir entre ofertas “ordinárias” e “extraordinárias”. As ofertas
ordinárias sustentam a Casa de Deus, sendo regulares, contínuas,
proporcionais as bênçãos e não direcionadas (conceito do pacto). Já
as ofertas extraordinárias podem ser direcionadas para propósitos
específicos, mas não devem substituir as ordinárias (Demóstenes Neves
da Silva).

5. BÊNÇÃOS DA MORDOMIA
A prática da mordomia cristã traz inúmeras bênçãos, tanto pessoais quanto
coletivas. Quando somos fiéis mordomos, estamos agindo em harmonia com os
princípios de Deus e participando do Seu plano redentor.

Doutrinas Fundamentais 73
• Bênção Pessoal
A mordomia ajuda o cristão a desenvolver um caráter semelhante ao de Cristo,
moldando-o para ser mais generoso, responsável e dependente de Deus. A prática
regular do dízimo e das ofertas nos ajuda a vencer o egoísmo e a cobiça, mantendo
nossos corações centrados no Reino de Deus (Mateus 6:19-21).

• Bênção aos Outros


Ao exercermos a mordomia, podemos ser uma bênção para os outros. Nossas
contribuições ajudam a alimentar os famintos, vestir os necessitados e levar a
mensagem de salvação a lugares onde o evangelho ainda não foi pregado (Mateus
25:34-40). A generosidade do cristão impacta a vida de muitas pessoas e glorifica
a Deus.

• Bênçãos para a Igreja


A mordomia contribui para o crescimento e a missão da igreja. A prática da
mordomia cristã fortalece a missão da igreja ao garantir os recursos necessários para
o evangelismo, o sustento de líderes espirituais e a construção de infraestruturas
que facilitam a propagação do evangelho. Ela também incentiva a unidade e o
comprometimento dos membros em seus papéis como colaboradores de Deus na
grande obra da salvação. Com uma visão ampliada, a igreja se torna um agente
transformador, abençoando não apenas seus membros, mas a comunidade em
geral. Ao reconhecer que todas as coisas pertencem a Deus, a igreja permanece
fiel à sua missão de levar a mensagem do evangelho a todos os cantos do mundo,
conforme ensinado por Cristo (Mateus 28:19-20).

PARA REFLETIR

“ Nada nos parecerá demasiado precioso para que o entreguemos a Jesus. Se lhe devolvermos
os talentos e meios que nos Ele confiou a nossa guarda, Ele nos colocará mais em mãos. Todo
esforço que fizermos por Cristo será recompensado por Ele, e todo dever que cumprirmos
em Seu nome ministrará em favor da nossa própria felicidade” Ellen White, Testemunhos
para a Igreja, vol 4, 19.

“O sistema dos dízimos e ofertas destinava-se a impressionar a mente dos homens com uma
grande verdade - verdade de que Deus é a fonte de toda bênção a Suas criaturas, e de que
a Ele é devida a gratidão do homem pelas boas dádivas de Sua providência.” Ellen White,
Patriarcas e Profetas, 525

74 Doutrinas Fundamentais
11 A LEI DE
DEUS

Os grandes princípios da lei de Deus são incorporados nos dez mandamentos e exemplificados
na vida de Cristo. Expressam o amor, a vontade e os propósitos de Deus acerca da conduta
e das relações humanas, e são obrigatórios a todas as pessoas, em todas as épocas. Esses
preceitos constituem a base do concerto de Deus com Seu povo e a norma no julgamento de
Deus. Por meio da atuação do Espírito Santo, eles apontam para o pecado e despertam o senso
da necessidade de um salvador. A salvação é inteiramente pela graça, e não pelas obras, e seu
fruto é a obediência aos mandamentos. Essa obediência desenvolve o caráter cristão e resulta
em uma sensação de bem-estar. É evidência de nosso amor ao Senhor e de nossa solicitude
pelos seres humanos. A obediência da fé demonstra o poder de Cristo para transformar vidas
e fortalece, portanto, o testemunho cristão (Êx 20:1-17; Dt 28:1-14; SI 19:7-14; 40:7, 8; Mt 5:17-20;
22:36-40; Jo 14:15; 15:7-10; Rm 8:3, 4; Ef 2:8-10; Hb 8:8-10; 1Jo 2:3; 5:3; Ap 12:17; 14:12).

1. A PRESENÇA DA LEI
• Presente em todo o Universo
A lei de Deus existe desde a eternidade, refletindo Sua justiça e retidão (Salmos
111:7,9). Mesmo antes da criação da Terra, as criaturas celestiais estavam sujeitas
a essa lei moral. A queda de Lúcifer e a rebelião dos anjos no Céu são evidências
de que a transgressão da lei de Deus foi a causa do pecado original (Ezequiel 28:15-
16). A transgressão de Lúcifer revelou que a lei era conhecida e respeitada nos
céus, sendo um princípio de governo divino.

• Presente na Terra antes do Sinai


Desde o princípio, a humanidade conhecia a lei de Deus, mesmo antes de sua
formalização no Monte Sinai. Em Gênesis 26:5, Deus elogia Abraão por guardar
os Seus mandamentos, estatutos e leis. Isso mostra que o conhecimento da lei
estava presente e que Deus a revelou aos Seus servos ao longo das eras. A narrativa
de Caim e Abel também reforça a ideia de que o assassinato e a desobediência
eram reconhecidos como pecados, apontando para a existência de uma lei moral
anterior ao Sinai (Gênesis 4:7-10).

Doutrinas Fundamentais 75
• Entregue no Sinai na forma do Decálogo
O momento da entrega do Decálogo no Sinai foi um marco na história da redenção.
Deus, em meio a uma manifestação gloriosa, proclamou Sua lei ao povo de Israel
(Êxodo 19:10-21). Esses dez mandamentos foram escritos em tábuas de pedra
pelo próprio dedo de Deus (Êxodo 31:18; Deuteronômio 4:12,13), destacando
sua importância e durabilidade. A entrega do Decálogo foi um evento singular,
estabelecendo uma conexão direta entre o Criador e Sua criação.

A formulação dos mandamentos de Deus em Êxodo 20 aparece na forma de


ordenanças, muitas vezes começando com uma tônica negativa, como “não
tomarás” ou “não farás”, porque essa linguagem era facilmente compreendida
pelo povo de Israel, que esteve como escravo no Egito por mais de 400 anos. O
formato direto e proibitivo refletia a maneira como eles estavam acostumados a
receber instruções. Contudo, por trás de cada ordenança que começa com “não”,
há um valor moral positivo da lei de Deus. Por exemplo, o mandamento “Não
matarás” reflete o valor positivo da santidade e proteção da vida humana. Assim,
a lei divina vai além da simples proibição, apontando para um princípio moral
profundo.

• Presente na Igreja e uma marca do Remanescente


A observância dos mandamentos de Deus era uma prática central na igreja cristã
em seus primórdios, sendo ensinada pelos principais líderes da fé. Tiago destaca
a integridade da Lei e a necessidade de observá-la como um todo, refletindo a
importância dos mandamentos na vida dos crentes (Tiago 2:10-11). O apóstolo João
também sublinha esse ponto em 1 João 5:3, afirmando que guardar os mandamentos
de Deus é uma expressão de amor, e que esses mandamentos não são pesados,
mas sim benéficos para a vida. Da mesma forma, Paulo, em Romanos 7:12, reforça
que a Lei é santa, justa e boa, mostrando que os mandamentos eram vistos como
um guia essencial para a vida cristã.

A obediência à lei de Deus é uma característica distintiva dos servos fiéis nos
últimos dias. Apocalipse 12:17 descreve o remanescente como “aqueles que
guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus”. Esse grupo,
que permanece fiel a Deus em meio às pressões da sociedade e da falsa adoração,
reflete a importância contínua da lei até o final dos tempos.

• Presente no Conflito final


No grande conflito entre Cristo e Satanás, a obediência à lei será um ponto de
distinção. Apocalipse 14:12 destaca os santos como aqueles que “guardam os
mandamentos de Deus e têm a fé de Jesus”. Durante a última crise da história
terrestre, a lei de Deus, em especial o quarto mandamento sobre o sábado, será um
sinal de fidelidade ao Criador. Satanás usará todos os seus artifícios para desviar
as pessoas da obediência à lei, mas o remanescente se manterá firme.

• Presente por toda a Eternidade


Na Nova Terra, a lei continuará a ser observada. Isaías 66:22-23 afirma que “de

76 Doutrinas Fundamentais
um sábado a outro, toda a carne virá a adorar diante de Mim, diz o Senhor”. Isso
demonstra que a lei, longe de ser temporária ou restrita à dispensação mosaica,
permanecerá vigente, conduzindo o universo em harmonia com os princípios
divinos. O caráter eterno da lei revela que, mesmo em um mundo sem pecado, os
princípios morais de Deus continuam a reger a vida (Salmos 119:44).

2. A NATUREZA DA LEI
ATRIBUTO DEUS LEI

Santidade Levíticos 11:44 Romanos 7:12

Perfeição Mateus 5:48 Salmos 19:7

Justiça Salmos 145:17 Salmos 119:172

Verdade João 14:6 Salmos 119:151

Eternidade Salmos 90:2 Salmos 119:152

• Reflete o caráter de Deus


A lei de Deus é um reflexo direto de Seu caráter. Ela é santa, justa e boa, assim
como o próprio Deus (Romanos 7:12). Seus preceitos são perfeitos (Salmo 19:7),
oferecendo um padrão inabalável para a vida humana. Ao guardar a lei, o ser
humano revela a glória de Deus em sua vida, refletindo Sua justiça e bondade ao
mundo.

• Uma lei moral


Os Dez Mandamentos são a expressão clara do padrão moral que Deus exige
de toda a humanidade. Eles governam não apenas as ações, mas também os
pensamentos e intenções do coração. Jesus expandiu essa compreensão ao ensinar
que a transgressão da lei começa no interior, nos desejos e pensamentos, antes de
se manifestar em ações visíveis (Mateus 5:21-22, 27-28).

• Uma lei espiritual


A lei de Deus vai além de meros atos externos; ela alcança o coração e o espírito.
A obediência verdadeira só pode ocorrer por meio do Espírito de Deus, que nos
capacita a viver conforme a Sua vontade (Romanos 8:4). Como Jesus declarou, sem
Ele, nada podemos fazer (João 15:5).

3. O PROPÓSITO DA LEI
• O Resumo da Lei
A lei de Deus expressa Sua vontade para a humanidade. Ela define como devemos
nos relacionar com Ele e com o próximo. Jesus resumiu a lei em dois grandes
mandamentos: amar a Deus de todo o coração e amar o próximo como a si mesmo

Doutrinas Fundamentais 77
(Mateus 22:37-40). A obediência a esses princípios é o caminho para a vida
abundante e plena.

• Base do julgamento divino


A lei de Deus serve como o padrão pelo qual seremos julgados. No dia do juízo,
nossas ações serão medidas pela justiça revelada no Decálogo (Tiago 2:12;
Eclesiastes 12:13-14). A lei, portanto, não apenas revela o caráter de Deus, mas
também determina os critérios pelos quais Ele julgará o mundo.

• Aponta o pecado
Paulo afirma que “pela lei vem o conhecimento do pecado” (Romanos 3:20). A
lei funciona como um espelho, revelando nossa condição pecaminosa e nossa
necessidade de um Salvador. Sem a lei, não teríamos plena consciência de nossos
erros e da necessidade de redenção em Cristo.

• Estabelece as bases da liberdade


Ao contrário do que muitos pensam, a lei de Deus traz liberdade. Obedecer a Seus
mandamentos nos liberta da escravidão do pecado. Jesus disse: “Conhecereis a
verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). A verdadeira liberdade está em
viver dentro dos limites estabelecidos por Deus, pois Sua lei nos protege das
consequências destrutivas do pecado.

• Restringe o mal e traz bênçãos


A lei de Deus funciona como uma barreira contra o mal. Ao obedecer aos Seus
mandamentos, evitamos muitos problemas e sofrimentos que surgem da
desobediência. O Salmo 119:165 afirma: “Muita paz têm os que amam a tua lei, e
para eles não há tropeço”. As bênçãos da obediência são tanto materiais quanto
espirituais, proporcionando uma vida de paz e prosperidade.

4. A LEI E O EVANGELHO
• A lei e o evangelho antes do Sinai
Mesmo antes da entrega formal do Decálogo, a graça e a lei coexistiam. Os
sacrifícios oferecidos por Abel, Noé e Abraão prefiguravam o sacrifício de Cristo, o
Cordeiro de Deus (Gênesis 4:4; 8:20; 22:13). A obediência à lei era vista como uma
expressão de fé na graça redentora que seria revelada plenamente em Cristo.

• A lei e o evangelho no Sinai


No Sinai, Deus deu ao Seu povo a lei moral (Êxodo 20) e o sistema sacrificial
(Levítico 1 - 9), ambos apontando para Cristo. Enquanto a lei revelava o pecado,
os sacrifícios ofereciam um meio de expiação até que o verdadeiro Cordeiro fosse
oferecido. A graça e a lei não são opostas, mas complementares no plano de
salvação.

• A lei e o evangelho depois da cruz


Após a cruz, a lei moral continua em vigor. Jesus não veio abolir a lei, mas cumpri-

78 Doutrinas Fundamentais
la (Mateus 5:17). A cruz confirma a imutabilidade da lei, pois se fosse possível
aboli-la, o sacrifício de Cristo seria desnecessário. No entanto, o evangelho oferece
o poder para que possamos obedecer à lei, não como um meio de salvação, mas
como fruto da graça (Romanos 8:3-4).

5. OBEDIÊNCIA À LEI
• Cristo e a Lei
Jesus é o exemplo supremo de obediência à lei de Deus. Ele cumpriu todos os
preceitos da lei e ensinou Seus seguidores a fazerem o mesmo. Sua obediência foi
motivada pelo amor ao Pai, e Ele nos convida a obedecer pelos mesmos motivos
(João 14:15; 15:10).

• O Cristão e a Lei
A obediência à lei é o fruto da salvação em Cristo. Não somos salvos pela lei, mas a
graça que recebemos nos capacita a viver em conformidade com os mandamentos.
A obediência genuína à Lei de Deus só é possível quando permanecemos em Cristo,
conforme Jesus explicou em João 15:4-5, ao afirmar que, assim como um ramo não
pode produzir fruto sem estar ligado à videira, nós também não podemos obedecer
sem estarmos unidos a Ele. Para permanecer em Cristo, é necessário ser crucificado
com Ele, como Paulo descreve em Gálatas 2:20, permitindo que Cristo viva em nós.
Somente então, Deus pode cumprir a promessa do novo concerto de escrever Suas
leis em nossos corações (Hebreus 8:10), tornando-nos capazes de observar Sua Lei
de forma verdadeira e espiritual.

PARA REFLETIR

“A lei dos dez mandamentos não deve ser considerada tanto do lado proibitivo, como do lado
da misericórdia. Suas proibições são a segura garantia de felicidade na obediência. Recebida
em Cristo, ela opera em nós a purificação do caráter que nos trará alegria através dos séculos
da eternidade. Para os obedientes é ela um muro de proteção. Contemplamos nela a bondade
de Deus que, revelando aos homens os imutáveis princípios da justiça, procura resguardá-
los dos males que resultam da transgressão” (EW – Mensagens Escolhidas, Vol. 1, 235).

Doutrinas Fundamentais 79
6ª Parte

A DOUTRINA DOS ÚLTIMOS EVENTOS

80 Doutrinas Fundamentais
12 O MINISTÉRIO
DE CRISTO NO
SANTUÁRIO
CELESTIAL
Há um santuário no Céu, o verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não seres humanos. Nele
Cristo ministra em nosso favor, tomando acessíveis aos crentes os benefícios de Seu sacrifício
expiatório oferecido uma vez por todas na cruz. Em Sua ascensão. Ele foi empossado como nosso
grande Sumo Sacerdote a começou Seu ministério intercessório, que foi tipificado pela obra do
sumo sacerdote no lugar santo do santuário terrestre. Em 1844, no fim do período profético dos
2.300 dias, Ele iniciou a segunda e última etapa de Seu ministério expiatório, que foi tipificado
pela obra do sumo sacerdote no lugar santíssimo do santuário terrestre. E uma obra de juízo
investigativo, a qual faz parte da eliminação final de todo pecado, prefigurada pela purificação
de antigo santuário hebraico, no Dia da Expiação. Nesse sentido típico, o santuário era purificado
com o sangue de sacrifícios de animais, mas as coisas celestiais são purificados com o perfeito
sacrifício do sangue de Jesus. O juízo investigativo revela aos seres celestiais quem dentre
os mortos dorme em Cristo, sendo, portanto, Nele, considerado digno de ter parte na primeira
ressurreição. Também toma manifesto quem, dentre os vives, permanece em Cristo, guardando
os mandamentos de deus e a fé de Jesus, estando, portanto, Nele, preparado para a trasladação
ao Seu reino eterno. Este julgamento vindica a Santa de Deus em salvar os que creem em Jesus.
Declara que se que permaneceram leais a Deus receberão o reino. A terminação do ministério de
Cristo assinalará o fim do tempo da graça para os seres humanos, antes do segundo advento (Lv
18; Nm 14:34; E2 4:6; Do 7:9-27; 8:13, 14; 9:24-27; Hb 1:3, 2:16,17; 4: 14-16, 8: 1-5, 9:11-20; 10-19-22; Ap
8.3-5; 11.19, 14.6,7; 20:12; , 22:11, 12),

Alguns julgamentos marcaram a história, como o de O.J. Simpson em 1995,


conhecido como “O Julgamento do Século”. Acusado de assassinar sua ex-esposa
Nicole Brown Simpson e Ronald Goldman, o caso foi amplamente transmitido
pela mídia e capturou a atenção mundial devido às evidências controversas e
ao debate sobre justiça. Apesar da absolvição de Simpson, o julgamento gerou
intensas discussões sobre a imparcialidade dos tribunais. No entanto, por mais
emblemático que tenha sido, nenhum julgamento humano pode se comparar à
grandeza e importância do julgamento celestial. O juízo divino definirá o destino

Doutrinas Fundamentais 81
eterno de cada pessoa, revelando também a justiça perfeita de Deus diante de todo
o universo.

1. O SANTUÁRIO TERRESTRE
O santuário terrestre, também chamado de tabernáculo, foi uma estrutura que
Deus mandou Moisés construir com base em um modelo celestial (Êxodo 25:8,
40). Esse santuário tinha o propósito de ilustrar o plano de salvação e refletir o
ministério de Cristo no santuário celestial. Composto por dois compartimentos – o
Lugar Santo e o Santo dos Santos – e mobiliado com itens simbólicos, o santuário
terrestre era o centro da adoração israelita e o local onde ocorriam os rituais de
sacrifícios e expiação. Todo o sistema sacrificial apontava para a obra redentora
e intercessora de Cristo, o verdadeiro Sumo Sacerdote que atuaria no santuário
celestial.

• A Intercessão e o Juízo no Ritual do Santuário Terrestre


No santuário terrestre, a intercessão e o juízo eram elementos centrais dos rituais.
Diariamente, o sacerdote realizava sacrifícios pelos pecados do povo, atuando
como mediador entre o homem e Deus. Os sacrifícios de animais simbolizavam a
substituição do pecador pela vítima inocente, uma pré-figura clara do sacrifício
futuro de Cristo. A intercessão diária envolvia o oferecimento de sangue diante do
altar de incenso no Lugar Santo, representando o perdão contínuo dos pecados.
Esse processo demonstrava a misericórdia e a justiça de Deus em relação ao pecado,
e como o perdão era obtido através do derramamento de sangue e da mediação
sacerdotal.

No entanto, o ponto culminante do ano litúrgico era o Dia da Expiação (Levítico


16), o único dia em que o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos para realizar
a purificação do santuário. Esse ritual anual, que incluía o sacrifício de um bode e
a liberação de outro (Azazel) para o deserto, simbolizava a remoção dos pecados
acumulados ao longo do ano. Esse dia representava o juízo, onde o povo de Israel
entendia que Deus não apenas perdoava os pecados, mas também removia sua
presença do santuário, um símbolo de purificação e reconciliação com Deus. Isso
apontava para o juízo final, quando Deus lidará definitivamente com o problema
do pecado.

• A Mediação Sacerdotal no Santuário Terrestre


A mediação sacerdotal era um aspecto vital do sistema sacrificial. Ao trazer um
animal para o sacrifício, o pecador confessava seus pecados sobre a cabeça da
vítima, transferindo simbolicamente a culpa para o animal. O sacrifício então
levava à morte do substituto, cujo sangue era levado pelo sacerdote ao tabernáculo,
intercedendo por aquele que havia confessado seus pecados. Essa mediação era
contínua, simbolizando que o relacionamento entre Deus e o homem dependia da
obra intercessora de um mediador.
Os sacerdotes, especialmente o sumo sacerdote, representavam Cristo, que seria
o mediador final entre Deus e a humanidade. No santuário terrestre, o sacerdote

82 Doutrinas Fundamentais
transferia os pecados do povo para o santuário, por meio do sangue. Esse processo
era um precursor da obra de Cristo no santuário celestial, onde Ele, por meio de
Seu próprio sangue, intercede continuamente por nós.

• O Dia do Juízo no Santuário Terrestre


O Dia da Expiação (Yom Kippur) era o momento mais solene do ano no calendário
judaico. Durante esse dia, o sumo sacerdote purificava o santuário de todos os
pecados acumulados durante o ano, que haviam sido simbolicamente transferidos
para o tabernáculo por meio do sangue dos sacrifícios diários. O sumo sacerdote
sacrificava um bode e aspergia seu sangue no Santo dos Santos, sobre a arca da
aliança, que continha os Dez Mandamentos. Esse ato significava que as exigências
da Lei de Deus estavam sendo satisfeitas.

Após a purificação do santuário, o sumo sacerdote colocava suas mãos sobre o


segundo bode, o bode emissário, transferindo simbolicamente os pecados de toda
a congregação para ele. O bode era então enviado ao deserto, simbolizando a
remoção completa do pecado. Esse ritual apontava para o juízo final, em que Deus
finalmente removerá o pecado do universo, condenando Satanás, o originador do
mal.

2. O SANTUÁRIO CELESTIAL
O santuário terrestre era apenas uma sombra do verdadeiro santuário celestial,
onde Cristo ministra após Sua ascensão (Hebreus 8:1-2). Diferente dos sacerdotes
terrenos, que ofereciam sacrifícios repetitivos, Cristo ofereceu um sacrifício
perfeito e único na cruz. Após ressuscitar, Ele entrou no santuário celestial como
nosso Sumo Sacerdote, onde continua Sua obra de mediação e intercessão.

O santuário celestial, descrito em Hebreus e no Apocalipse, é o centro do governo


de Deus, e é ali que ocorre a obra redentora de Cristo. Assim como o santuário
terrestre continha o Lugar Santo e o Santo dos Santos (Hebreus 9:1-7), o santuário
celestial também é estruturado para refletir esses elementos, e Cristo ministra ali
em favor da humanidade.

• O Sacrifício Substitutivo
O sacrifício de Cristo foi o cumprimento perfeito de todos os sacrifícios do santuário
terrestre. No antigo sistema, o sangue de animais era derramado continuamente,
mas esses sacrifícios não podiam verdadeiramente purificar o pecado. Em
contraste, o sacrifício de Cristo foi único e definitivo, pois Ele é o “Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo” (João 1:29). Sua morte na cruz satisfez a justiça divina,
e Seu sangue, oferecido no santuário celestial, garante o perdão dos pecados e
a reconciliação com Deus (Hebreus 9:12). Conforme Hebreus 9:22 declara, “sem
derramamento de sangue não há remissão de pecados”.

• A Obra de Mediação e Expiação


Desde Sua ascensão, Cristo está à direita de Deus, no santuário celestial, onde

Doutrinas Fundamentais 83
intercede pelos pecadores arrependidos (I João 2:1-2). Ele é tanto o Sacrifício quanto
o Sacerdote, aplicando os méritos de Sua vida e morte a favor daqueles que Nele
creem. Sua obra no santuário celestial é contínua, oferecendo perdão e purificação
a todos os que se aproximam de Deus em fé.

Assim como no santuário terrestre, onde o sacerdote levava o sangue do sacrifício


ao Lugar Santo para interceder pelo povo, Cristo aplica Seu sangue no santuário
celestial, garantindo a expiação e reconciliação de todos os que aceitam Seu
sacrifício. Sua obra de mediação é essencial para a nossa salvação, pois Ele é o
único mediador entre Deus e os homens (1 Timóteo 2:5).

• O Ministério no Lugar Santo


A primeira fase do ministério de Cristo no santuário celestial ocorreu no Lugar
Santo, simbolizando Sua intercessão contínua em favor dos crentes. Assim como
os sacerdotes no tabernáculo terrestre entravam diariamente no Lugar Santo para
manter o altar de incenso e o candelabro aceso, representando a oração e a luz de
Deus, Cristo continua a interceder por nós, sustentando nossa fé e nos oferecendo
Sua justiça.

Essa intercessão contínua de Cristo é um meio de graça para o perdão diário dos
pecados, assegurando nossa reconciliação constante com Deus. Por meio do
ministério de Cristo no Lugar Santo, o crente pode se aproximar confiadamente do
trono da graça e receber misericórdia (Hebreus 4:14-16).

• A Obra do Julgamento Final


O ministério de Cristo no santuário celestial também inclui o julgamento final, que
é descrito em três fases principais:

◊ O Julgamento Pré-Milenial (Juízo Investigativo/Vindicativo)


O juízo investigativo, iniciado em 1844 (Daniel 8:14), corresponde
à purificação do santuário celestial e ao julgamento dos registros
celestiais. Nesse julgamento, os nomes daqueles que aceitaram a Cristo
serão examinados para confirmar sua fidelidade. O propósito do juízo é
demonstrar (vindicar) diante do universo que Deus é justo ao salvar os
redimidos, e que Sua Lei foi cumprida por meio do sacrifício de Cristo.
Durante esse período, o caráter de cada pessoa que professou fé em
Cristo será analisado à luz da graça divina.

O Julgamento Milenial (Após a Volta de Jesus)


Após a segunda vinda de Cristo, haverá um período de mil anos em
que os salvos participarão do julgamento dos ímpios (Apocalipse 20:4).
Durante esse tempo, os registros dos ímpios serão examinados, e os
salvos compreenderão plenamente as razões pelas quais alguns não
herdaram a vida eterna. Esse processo servirá para remover todas as
dúvidas sobre a justiça de Deus e Seu tratamento do pecado.

84 Doutrinas Fundamentais
◊ O Julgamento Executivo (Após o Milênio)
Após o milênio, ocorrerá o julgamento executivo, quando Satanás, seus
anjos e todos os ímpios serão finalmente destruídos. O fogo que descerá
do céu para consumi-los (Apocalipse 20:9) marcará o fim do pecado e
do mal no universo. Esse ato purificará a Terra, preparando-a para a
criação de novos céus e nova terra, onde habitará a justiça (2 Pedro 3:13).

3. O TEMPO DO JUÍZO INVESTIGATIVO (VINDICATIVO)


O conceito do tempo do juízo, está estabelecido nos capítulos 8 e 9 do livro de
Daniel. É o momento em que se inicia a purificação do santuário celestial através
do julgamento vindicativo do povo de Deus. Em Daniel 8:14, a profecia menciona
que “até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.”
Essas 2.300 tardes e manhãs são interpretadas profeticamente como 2.300 anos,
seguindo o princípio bíblico de que um dia representa um ano em profecias
simbólicas (Ezequiel 4:6; Números 14:34).

A purificação do santuário refere-se ao início do juízo investigativo, uma obra


semelhante ao que ocorria no Dia da Expiação no santuário terrestre, quando os
pecados acumulados durante o ano eram removidos do santuário. Esse processo
começou, de acordo com a interpretação profética, em 1844, marcando o início do
julgamento pré-advento, que examina os registros dos que professam fé em Deus.

O entendimento de quando esse período de 2.300 anos começa é esclarecido em


Daniel 9:24-27, quando o anjo Gabriel vem para explicar a Daniel a visão que ele
teve no capítulo 8. A profecia das 70 semanas (490 anos) é “cortada” dos 2.300
anos e designada especificamente para o povo judeu. O ponto de partida dessas
profecias é dado em Daniel 9:25: “Desde a saída da ordem para restaurar e edificar
Jerusalém”. Essa ordem foi emitida por Artaxerxes no ano 457 a.C., o que nos dá
a base para calcular o início dos 2.300 anos. A profecia das 70 semanas previu
eventos específicos como o batismo de Jesus no ano 27 d.C., Sua crucificação na
metade da última semana (ano 31 d.C.), e o fim do favor especial de Deus sobre a
nação de Israel em 34 d.C., com o apedrejamento de Estêvão. A partir desse ponto,
a mensagem do evangelho se expandiu para os gentios. Ao somarmos os 1.810
anos restantes aos 490 anos que terminaram em 34 d.C., chegamos ao ano de 1844,
o início do juízo investigativo.
“Setenta Semanas estão determinadas sobre o teu povo” 1810 anos até a Purificação do Santuário
Daniel 9:23-27
7 Semanas 62 Semanas 1 Semanas
Ou 49 anos Ou 434 anos Ou 7 anos
31 d.C.
a.C. d.C.

1/2 1/2
Semana Semana
457 a.C. 408 a.C. 1844 dc
Decreto de Restauração de 27 d.C. 34 d.C. Inicio da Purificação
Restauração de Jerusalém Batismo de - Arrependimento de Estevão do Santuário Celestial
Jaerusalém Jesus Cristo - Evalgelho levado aos gentios

2300 Anos

Doutrinas Fundamentais 85
4. AS RAZÕES DO JUÍZO INVESTIGATIVO (VINDICATIVO)
O juízo investigativo cumpre três propósitos principais:

• Vindicação do Caráter de Deus


O juízo investigativo serve para vindicar o caráter de Deus diante do universo.
Desde a queda de Lúcifer, Satanás tem acusado Deus de ser injusto. Esse juízo
demonstrará que Deus é justo em Sua maneira de lidar com o pecado e a salvação,
e que Ele oferece graça e justiça aos que se arrependem.

• Vindicação do Povo de Deus


O juízo também vindica os redimidos. Embora muitos crentes tenham sido
perseguidos e injustiçados, no julgamento final, Cristo confessará seus nomes
diante do Pai e dos anjos (Mateus 10:32). O juízo confirmará que aqueles que foram
fiéis a Deus receberão a vida eterna, conforme as promessas de Cristo.

• Proporcionar Justiça e Salvação


O juízo investigativo garante que apenas aqueles que realmente aceitaram a Cristo
e viveram de acordo com Sua vontade entrarão no reino eterno. Esse processo
não apenas separa os justos dos ímpios, mas também assegura que a salvação é
baseada na fé em Cristo e na graça divina, confirmando que a justiça de Deus é
infalível. O juízo não ameaça a segurança dos crentes, mas oferece a certeza de
que Deus é justo e fiel em Suas promessas.

PARA REFLETIR

“A intercessão de Cristo no santuário celestial, em prol do homem, é tão essencial ao plano


da redenção, como o foi Sua morte sobre a cruz. Pela Sua morte iniciou essa obra, para cuja
terminação ascendeu ao Céu, depois de ressurgir. Pela fé devemos penetrar até o interior do
véu, onde nosso Precursor entrou por nós (Heb. 6:20). Ali se reflete a luz da cruz do Calvário.
Ali podemos obter intuição mais clara dos mistérios da redenção. A salvação do homem se
efetua a preço infinito para o Céu; o sacrifício feito é igual aos mais amplos requisitos da
violada lei de Deus. Jesus abriu o caminho para o trono do Pai, e por meio de Sua mediação
pode ser apresentado a Deus o desejo sincero de todos os que a Ele se chegam pela fé”. EW
– O Grande Conflito, 489

86 Doutrinas Fundamentais
13
A SEGUNDA VINDA
DE CRISTO,
O MILÊNIO
E A NOVA TERRA
A segunda vinda de Cristo é a bendita esperança da igreja, o grande ponto culminante do
evangelho. A vinda do Salvador será literal, pessoal, visível e universal. Quando Ele voltar, os
justos falecidos serão ressuscitados e, juntamente com os justos que estiverem vivos, serão
glorificados e levados para o Céu, mas os ímpios morrerão. O cumprimento quase completo da
maioria dos aspectos da profecia e a condição atual do mundo indicam que a vinda de Cristo está
próxima. O tempo exato desse acontecimento não foi revelado, e somos, portanto, exortados a
estar preparados em todo o tempo (Mt 24; Mc 13; Lc 21; Jo 14:1-3; At 1:9-11; 1Co 15:51-54; 1Ts 4:13-18;
5:1-6; 2Ts 1:7-10; 2:8; 2Tm 3:1-5; Tt 2:13; Hb 9:28; Ap 1:7; 14:14-20; 19:11-21).
Na Nova Terra, em que habita justiça, Deus proverá um lar eterno para os remidos e um ambiente
perfeito para vida, amor, alegria e aprendizado eternos, em Sua presença. Pois aqui o próprio
Deus habitará com Seu povo, e o sofrimento e a morte terão passado. O grande conflito estará
terminado e não mais existirá pecado. Todas as coisas, animadas e inanimadas, declararão que
Deus é amor; e Ele reinará para todo o sempre. Amém (Is 35; 65:17-25; Mt 5:5; 2Pe 3:13; Ap 11:15;
21:1-7; 22:1-5).

O Relógio do Juízo Final, criado em 1947 por Robert Oppenheimer e outros cientistas
americanos, simboliza o risco iminente de catástrofe global, inicialmente por armas
nucleares e agora também por crises climáticas e geopolíticas. Em 2024, os ponteiros
estão em 90 segundos para a meia-noite, o mais próximo do “fim” já registrado, refletindo
a crescente percepção de que o mundo se aproxima de um colapso. Mesmo para aqueles
que não creem nas Escrituras, o cenário atual sugere que este mundo não vai muito
longe. No entanto, a Bíblia profetiza que a única solução definitiva para a humanidade é
a segunda vinda de Cristo, que ocorrerá para vindicar os justos e destruir os que destroem
a terra (Ap 11:18), estabelecendo uma nova ordem de justiça eterna.

1. A ESCATOLOGIA BÍBLICA
A escatologia é o ramo da teologia que estuda os eventos finais da história humana
e o destino da criação, conforme revelado na Bíblia. A palavra “escatologia” vem
do grego eschatos, que significa “último” ou “fim”, e logia, que significa “estudo”.

Doutrinas Fundamentais 87
Na perspectiva bíblica, a escatologia abrange uma série de eventos decisivos que
ocorrerão na natureza, na sociedade e nos reinos deste mundo, preparando o
cenário para a segunda vinda de Cristo. Esses eventos apontam para crises finais
nas esferas religiosa, política e moral, destacando o colapso ético e espiritual da
humanidade. A escatologia também inclui o despertamento da igreja, o fechamento
da porta da graça, os sinais específicos que indicam o iminente retorno de Jesus,
o período do milênio, o juízo final, e culmina com a criação de novos céus e nova
terra.

• Tipos de Pensamentos Escatológicos


Embora seja evidente e quase unânime a compreensão bíblica cristã sobre a
promessa da segunda vinda de Cristo, apoiada pelas inúmeras evidências internas
da narrativa bíblica e pelas mais de 2.000 promessas e referências ao Seu retorno
glorioso, nem todas as igrejas e movimentos cristãos concordam plenamente
quanto à maneira e ao propósito desse retorno.

◊ Escatologia Futurista – Essa corrente interpretativa está presente


na maior parte do protestantismo na atualidade, e é conhecida
como “dispensacionalismo”. Ela entende que a maioria dos eventos
escatológicos descritos na Bíblia ocorrerão após a volta de Cristo. Dentro
dessa linha interpretativa, a segunda vinda de Jesus é considerada um
evento sigiloso, resultando no arrebatamento secreto da igreja. Após
esse arrebatamento, Deus implementaria Seus planos gloriosos para
Israel, concedendo ao mundo uma segunda oportunidade de salvação
através dos judeus. Isso culminaria com a restauração gloriosa de Israel,
a reconstrução do templo, e a manifestação tanto do Messias quanto do
anticristo.
◊ Escatologia Preterista – sustenta que os eventos escatológicos descritos
na Bíblia, em sua grande maioria, já foram cumpridos no passado,
ocorrendo no tempo dos próprios escritores bíblicos.
◊ Escatologia Idealista – também conhecida como simbólica, ensina
que as descrições escatológicas bíblicas devem ser interpretadas sem
uma relação direta com a passagem do tempo. Nessa perspectiva, o foco
da escatologia não está em prever eventos futuros concretos, mas em
revelar verdades espirituais por meio de simbolismos escatológicos.
◊ Escatologia Histórica – adotada por muitos líderes da reforma
protestante e pela Igreja Adventista do Sétimo Dia desde seus
primórdios. Ela sustenta que os eventos proféticos descritos na Bíblia
estavam no futuro dos autores que os registraram, mas se referem a
acontecimentos que se desenrolam ao longo da história da igreja. Nessa
linha de interpretação, os eventos escatológicos bíblicos estão ocorrendo
gradualmente ao longo do tempo, sendo evidenciados na história,
com um crescimento contínuo desde os dias dos autores bíblicos até
o presente. Esse processo culminará num futuro breve com a volta de
Jesus, seguida pelo milênio, a destruição definitiva do pecado, do mal
e de Satanás, resultando na criação de um novo céu e uma nova terra.

88 Doutrinas Fundamentais
• Análise da Interpretação Futurista (Dispensacionalismo)

• Origem e Essência do Dispensacionalismo


◊ Considerando que a interpretação futurista é a mais amplamente aceita
e promovida no meio evangélico atualmente, é essencial realizar uma
análise objetiva dessa abordagem. Isso permitirá avaliar suas bases
ideológicas e, consequentemente, compreender as razões pelas quais a
Igreja Adventista do Sétimo Dia rejeita esse método interpretativo.
◊ A escatologia futurista, também conhecida como dispensacionalismo,
desenvolveu-se como a principal vertente do futurismo, indicando
que a maior parte das profecias de Daniel e Apocalipse se cumprirá no
contexto do arrebatamento secreto e dos eventos que o seguem. John
Nelson Darby (1800–1882) foi o principal formulador dessa teoria.

• Ensinos do Dispensacionalismo

• Os principais ensinamentos do dispensacionalismo incluem:

A) Deus lida com a humanidade de maneiras diferentes em cada uma


das dispensações, oferecendo um plano de salvação distinto em cada
uma.

B) Os propósitos supremos de Deus na terra são voltados para Israel,


e a igreja é vista como um plano alternativo. Por isso, a igreja será
arrebatada para que as promessas de Deus se cumpram em Israel,
incluindo a reconstrução do templo.

C) Haverá uma segunda chance de salvação após o arrebatamento,


por meio de Israel.

D) O anticristo se manifestará durante os últimos sete anos da história,


referidos como a “última semana” de Daniel 9. Esse período, também
conhecido como a Grande Tribulação, ocorrerá após o arrebatamento
secreto da Igreja. Nos primeiros três anos e meio, o anticristo fará um
pacto de paz com Israel, mas nos últimos três anos e meio, quebrará
esse acordo, se revelando como uma figura demoníaca que perseguirá
os fiéis e profanará o templo em Jerusalém, culminando no retorno de
Cristo para derrotá-lo.

E) A morte do anticristo ocorrerá no contexto da segunda vinda de


Cristo, marcará o início definitivo do reino eterno de Deus por meio
de Israel.

Doutrinas Fundamentais 89
DISPENSAÇÃO INÍCIO TÉRMINO FATOS

Criação Queda Antes do Pecado;


envolvia reprodução do
1 INOCÊNCIA
homem, e domínio da
Gn 1:27; 2:25- Gn 3:9-13
natureza
17
Após a Queda Dilúvio Noé Após Pecado; envolvia
maldição e morte pelo
2 CONSCIÊNCIA
pecado; e promessa do
Gn 3:14-19 Gn 8:15-22
redentor

Após Dilúvio Torre Babel Após Dilúvio; envolvia


povoar toda a terra e a
3 GOVERNO HUMANO
governar
Gn 9:1-17 Gn 11:7-32

Abraão Saída do Egito Após chamado de


Abraão; envolvia a
4 PATRIARCAL
criação de Israel e uma
Gn 12:1-8 Ex cap. 19
terra prometida

Lei/Moisés Ascenção de Revelação da Lei;


envolvia a obediência
5 MOSAICO OU LEI Jesus da Lei para Israel
Ex 20:1-17 Atos cap.1 receber bençãos de
Deus

Pentecostes Arrebatamento Após Batismo com


ES/início da Igreja;
6 GRAÇA OU IGREJA
Evangelho para todas
Atos cap. 2 I Ts 4:13-18
as nações (gentios)

Período de Grande
Tribulação (7 Anos)
ARREBATAMENTO 2ª Vinda de Jesus
Retorno a Dispensação da Lei
Para Salvação de Israel
2ª Vinda de Fim dos 1000 Durante Mil Anos;
Reino de Jesus na terra,
7 Jesus Anos
MILÊNIO profecias do AT sendo
Mt 25:31-46 Ap 10:1-6; Is cumpridas.
11:1-16
ESTADO ETERNO - Apocalipse 21:1 a 22:5

• Problemas do Dispensacionalismo

◊ O dispensacionalismo é estruturado com base em uma abordagem


interpretativa que segmenta a profecia das 70 semanas de Daniel 9,
desconsiderando a sequência histórica contínua da profecia. Ele separa
parte do cumprimento para o passado e projeta outra parte para o
futuro, sem apresentar uma base sólida ou critério objetivo para essa
divisão seletiva, comprometendo a coerência da interpretação profética.

90 Doutrinas Fundamentais
◊ O dispensacionalismo sustenta que Deus utiliza diferentes meios de
salvação ao longo das dispensações — ora pela Lei, ora pela graça, ora
pelo Reino. No entanto, ao analisarmos o texto bíblico sem pressupostos
filosóficos ou esquemas interpretativos artificiais, fica claro que o único
meio de salvação, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, é pela
graça, através do sangue de Cristo derramado na cruz. A Bíblia revela
que a graça de Deus, por meio do sacrifício de Cristo, é o único caminho
para a redenção da humanidade em todas as eras.
◊ O dispensacionalismo separa os planos de Deus para Israel e para a
Igreja, justificando o arrebatamento da Igreja para que os propósitos
divinos se cumpram exclusivamente com Israel. No entanto, a Bíblia não
faz essa distinção. Ela apresenta a Igreja como a continuidade do povo
de Deus, o “Israel espiritual,” herdeira das promessas condicionais do
Antigo Testamento. Essas promessas, segundo a Bíblia, se cumprirão
com a Igreja, não sendo mais exclusivas de uma nação física (Romanos
9-11).
◊ A Bíblia não apresenta a volta de Jesus como um evento secreto, mas
como um acontecimento de impacto universal. Os céus serão abalados,
e todos, tanto justos quanto ímpios, verão a manifestação de Cristo nas
nuvens (Mateus 24:29-30). Os justos serão ressuscitados, e a glória de
Deus será visível a todos no momento do juízo (1 Tessalonicenses 4:16-
17). O texto que menciona “um será levado e outro deixado” (Mateus
24:40-41) não pode ser usado para apoiar o arrebatamento secreto, pois
ele se refere à separação entre os salvos e os perdidos. Os ímpios não são
deixados vivos, mas destruídos pela manifestação de Cristo, conforme
2 Tessalonicenses 1:7-9. Não há base bíblica para acreditar que a vida
na terra continuará normalmente após o retorno de Jesus, uma vez que
esse evento marcará o fim da história humana como a conhecemos.
◊ A Bíblia ensina que não haverá uma segunda oportunidade de salvação
após a volta de Jesus. O tempo de salvação é agora, durante a vida
presente, e nosso destino eterno é selado após a morte (Hebreus 3:15;
9:27). Embora a graça esteja disponível hoje, haverá um momento em
que, como nos dias de Noé, essa oportunidade se encerrará para sempre
(Apocalipse 22:11). Após esse ponto, o destino de toda a humanidade
estará definitivamente selado.

2. A SEGUNDA VINDA DE CRISTO


A Bíblia faz um chamado claro para que os crentes se preparem para o cumprimento
das profecias e a consumação do plano redentor de Deus. Ela oferece uma visão
detalhada de como Deus conduzirá a história ao seu clímax, revelando Seu plano
de salvação e exortando os crentes a estarem vigilantes e prontos para os eventos
que antecedem a segunda vinda de Cristo. Vivemos no “tempo do fim”, e, por isso, a
vigilância espiritual é essencial, pois o destino eterno de cada pessoa está em jogo.

Doutrinas Fundamentais 91
Jesus retornará a este mundo para pôr fim a toda dor e sofrimento, e para reunir os
redimidos com o Salvador por toda a eternidade. A mensagem final das Escrituras
centra-se nessa promessa, que deve ser a maior esperança de todos os cristãos:
“Certamente venho sem demora” (Ap 22:20).

• A Certeza da Segunda Vinda


A Bíblia fala repetidamente sobre o retorno de Jesus como um evento real e iminente.
Desde o Antigo Testamento até os ensinamentos de Jesus e dos apóstolos, o segundo
advento de Cristo é uma promessa central para os cristãos. Cristo prometeu que,
após retornar ao Pai, Ele viria outra vez para levar Seu povo (João 14:3). O retorno
de Jesus não é apenas uma ideia simbólica ou metafórica, mas uma realidade que
marca o fim do pecado e o início do Reino eterno de Deus. Essa certeza é sustentada
pela primeira vinda de Cristo, que confirmou o plano de Deus para a salvação da
humanidade e garantiu a vitória sobre o pecado e a morte (Hebreus 9:28).

• O Modo da Segunda Vinda


A maneira como Cristo retornará é descrita detalhadamente nas Escrituras. Seu
retorno será literal, pessoal, visível e glorioso. Quando Jesus ascendeu ao céu, os
anjos disseram aos discípulos que Ele voltaria da mesma forma (Atos 1:11). Ele
virá em poder e glória, acompanhado de anjos e com um esplendor celestial que
todos verão (Mateus 24:30; Apocalipse 1:7). O retorno será audível, com o som
da trombeta de Deus e a voz do arcanjo, anunciando a reunião dos escolhidos (1
Tessalonicenses 4:16). Além disso, o retorno será súbito e inesperado, pegando
muitos de surpresa, mas aqueles que estiverem preparados estarão prontos para
encontrar o Salvador (Mateus 24:43-44).

• Os Sinais da Segunda Vinda


Vários sinais no mundo natural, social e religioso indicam a proximidade do retorno
de Cristo. Jesus previu que haveria grandes terremotos, sinais no sol, na lua e nas
estrelas, e um aumento da iniquidade no mundo (Mateus 24:6-12; Lucas 21:25-26).
Esses eventos incluem o grande terremoto de Lisboa em 1755, o escurecimento do
sol em 1780 e a chuva de meteoros em 1833, que foram vistos como o cumprimento
das profecias de Apocalipse (Apocalipse 6:12-13). A partir destes sinais marcantes
na natureza, descritos pela profecia, inicia-se o fim do tempo do fim. No mundo
religioso, a profecia descreve o surgimento de falsos cristos e a pregação do
evangelho a todas as nações como sinais do fim iminente (Mateus 24:14, 24).

• Sequência dos Últimos Eventos Escatológicos Cumpridos

• Início do “Fim do Tempo do Fim” - Abertura do 6º Selo (Apocalipse


6:12,13 / Joel 2: 28-31) - Terremoto de Lisboa (1755), Escurecimento do Sol
(1780), Chuva de Meteoros (1833).
• Início da Proclamação das 3 Mensagens Angélicas de Apocalipse 14 -
(1831).
• Início do Juízo Investigativo no Céu (1844).

92 Doutrinas Fundamentais
• Intensificação das guerras e do poderio destrutivo bélico – 1ª. Guerra
Mundial (1914 – 1918) ; 2ª. Guerra Mundial (1939 – 1945) até o momento
presente.
• Surgimento dos EUA como potência mundial (1914-1918) – besta que
surge da terra - Apocalipse 13.
• Sinais no Mundo Religioso :
◊ Despertamento religioso na igreja remanescente (início século 18 –
meados século 19) e no cristianismo apostatado.
◊ Início da reconstrução do poder papal – Apocalipse 13 ( 1929 até os
nossos dias ).
◊ Surgimento do Ecumenismo - Conselho Mundial de Igrejas em 23
de agosto de 1948 - Amsterdã, Holanda.
◊ Surgimento do Espiritismo Moderno - fenômeno das irmãs Fox,
Margaret e Kate Fox, que afirmaram ter se comunicado com um
espírito por meio de batidas em uma casa na vila de Hydesville, no
estado de Nova York – EUA (1848).
◊ Surgimento da teoria Evolucionista, abrindo espaço para o
crescimento do ateísmo – lançamento da obra “Origem das
Espécies” de Charles Darwin (1859).
◊ Surgimento do movimento Pentecostal - Avivamento da Rua Azusa-
EUA, com ênfase no dom de línguas , movimento carismático
(1906).
◊ Surgimento do Neopentecostalismo – com ênfase na teologia da
prosperidade, exorcismo e operação de milagres – 2 Pedro 2:1-3
(final da década de 1960).

• Sequência dos Últimos Eventos Escatológicos Aguardados

◊ Derramamento da Chuva Serôdia


CHUVA TEMPORÃ CHUVA SERÔDIA

Iniciada no Pentecostes, com a entro- Não se sabe exatamente quando co-


nização de Cristo. meça (fim), mas termina com a saída
de Cristo do santuário celestial. (E
Recebereis Poder, 329)
Posterior a 1˚ VInta, ascensão Precede a 2ª vinda

Marca o inicio da Igreja Marca a Igreja do tempo do fim

Missão: inicio da evangelização Missão: fim da evangelização

Abrangência Limitada Abrangência mundial

◊ Processo de Sacudidura dentro do Remanescente – verdadeiros cristãos


permanecem no caminho da verdade enquanto os professos cristãos
abandonam a fé no advento – (Amós 9:9)

Doutrinas Fundamentais 93
◊ Selamento dos justos ( ver livro “Eventos Finais” capítulo 15).
◊ Sinal da Besta e formação da imagem da Besta – imposição das leis dominicais
- Apocalipse 13:14-17.
◊ União tríplice dos poderes das trevas – Apocalipse 16:13,14.
◊ Fim do tempo da graça – Apocalipse 22:11,12.
◊ Tempo de Angústia de Jacó (ver livro Grande Conflito, capítulo 39).
◊ Derramamento das 7 últimas pragas – Apocalipse 16.
◊ Perseguição final do povo de Deus
◊ Ressurreição Especial
◊ Eventos Cataclísmicos prenunciando a volta de Jesus (Apocalipse 6:14,15)
◊ Anúncio do Retorno de Jesus para os justos
◊ Volta de Jesus (ressurreição dos justos, transformação dos justos, arrebatamento
dos salvos, morte dos ímpios, início do milênio).

• Gráfico dos Últimos Eventos

Fechamento 3ª Vinda
Hoje Decreto Dominical Porta da Graça 2ª Vinda Nova Jerusalém

Ecumenismo

Angústia de Jacó
Sinal da Besta
Nova
Milênio Terra

juízo pré-Adventos 7 Pragas


3 Mensagens Angélicas Angústia Juízo Final
Sinais da Volta de Jesus
Selamento / SAcudidura
Espiritismo

Chuva Serôdia / Alto Clamor

Perseguição

Livramento dos Justos

• O Tempo do Fim e o Grande Despertamento Religioso


A Bíblia prevê um grande despertamento religioso antes do retorno de Cristo, um
movimento que levará a mensagem do evangelho a todo o mundo (Apocalipse 14:6-
7). Esse movimento está preparando o caminho para o retorno de Cristo, assim
como João Batista preparou o caminho para Sua primeira vinda. O crescimento
da pregação do evangelho, especialmente com o uso de novas tecnologias e a
expansão da mensagem do advento, é um sinal claro de que estamos vivendo nos
últimos dias (Mateus 24:14). No entanto, ao mesmo tempo, haverá um declínio
espiritual, com muitos afastando-se da fé e caindo na apostasia, conforme predito
nas Escrituras (2 Timóteo 3:1-5).

94 Doutrinas Fundamentais
• A Reunião dos Justos e a Morte dos Ímpios
Quando Cristo retornar, Ele reunirá todos os redimidos, tanto os justos mortos
quanto os justos vivos. Os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro, e os vivos
serão transformados e juntos serão levados para encontrar o Senhor nos ares (1
Tessalonicenses 4:16-17). Esse será um momento de grande alegria para os salvos,
mas de desespero para os ímpios. Aqueles que rejeitaram Cristo e Sua mensagem
enfrentarão a destruição eterna (Apocalipse 6:15-17). O retorno de Jesus será um
divisor de águas, separando os justos dos ímpios e marcando o início de uma nova
era.

• O Estabelecimento do Reino de Deus


O retorno de Cristo marcará o fim dos reinos deste mundo e o estabelecimento pleno
do Reino eterno de Deus. As profecias de Daniel, como o sonho de Nabucodonosor,
descrevem a destruição dos reinos humanos e a criação de um reino que nunca
será destruído (Daniel 2:44). Esse reino será governado por Cristo, o Rei dos reis, e
será um reino de paz e justiça que durará para sempre. O grande clímax da história
será quando Jesus voltar para buscar Seu povo e destruir todo o mal.

• Preparação e Vigilância
A parábola das dez virgens, contada por Jesus, ilustra a importância de estar
preparado para o retorno de Cristo. As virgens sábias mantiveram suas lâmpadas
cheias de óleo, simbolizando uma vida de comunhão constante com Deus e
a presença do Espírito Santo. As virgens néscias, por outro lado, não estavam
preparadas e foram deixadas de fora do banquete (Mateus 25:1-13). Essa parábola
nos ensina que devemos viver em constante vigilância e preparação espiritual,
pois não sabemos o dia nem a hora do retorno de Cristo (Mateus 24:36).

• Consumação da Bendita Esperança


“Aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande
Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tito 2:13). A segunda vinda de Cristo é o evento mais
aguardado pelos cristãos e representa o clímax do plano de Deus para a salvação.
Ela trará o fim do pecado, a destruição dos ímpios e a glorificação dos justos.
Todos os sinais e profecias apontam para a proximidade desse grande evento. Os
crentes são chamados a viver com esperança, vigilância e prontidão, aguardando o
retorno do Salvador que virá em glória para estabelecer Seu Reino eterno e libertar
Seu povo para sempre.

3. O MILÊNIO
O milênio é um período de mil anos que começa logo após a segunda vinda de
Cristo, conforme descrito em Apocalipse 20:1-6. Durante esse tempo, os justos
estarão no céu, vivendo e reinando com Cristo, enquanto os ímpios estarão
mortos e a Terra permanecerá desolada. Satanás, simbolicamente preso, ficará
impossibilitado de enganar as nações, pois não haverá mais pessoas vivas sobre
a Terra. O milênio serve a um propósito importante no plano divino, pois será um
tempo de julgamento e compreensão.

Doutrinas Fundamentais 95
No céu, os justos terão a oportunidade de revisar os registros dos ímpios,
confirmando a justiça dos juízos de Deus (1 Coríntios 6:2-3). Esse processo de
investigação permitirá aos salvos entender plenamente as razões pelas quais
alguns não foram salvos e por que o plano de Deus foi justo em cada detalhe. Esse
exame dos registros é conhecido como o julgamento milenial, onde Deus concede
aos salvos um vislumbre de Sua perfeita justiça e misericórdia.

No final dos mil anos, Satanás será solto, e os ímpios serão ressuscitados para
enfrentar o julgamento final, conhecido como o julgamento executivo. Satanás,
os ímpios e todo o pecado serão finalmente destruídos pelo fogo que purificará a
Terra (Apocalipse 20:7-9). Esse evento marca o fim do pecado e do sofrimento no
universo, preparando o cenário para a criação de novos céus e nova terra, onde os
justos viverão eternamente com Deus.

Cristo Desce no Monte


Justos Ressucitados Nova Jerusalém Desce
Justos Vivos Transformados
2ª Vinda 3ª Vinda Ímpios Ressucitados
Justos com Cristo nos ares Satanás Solto
Ímpios Morrem Ajuntamento dos Ímpios
Justos Levados Para o Céus Juízo Final
Destruição dos Ímpios
Terra Transformada

1˚ Ressurreição
1000 Anos 2˚ Ressurreição Nova
Terra
Tempo do Fim

Terra Desolada
Satanás “Amarrado”
Justos Reinam com Cristo
Não há Salvação Para o Ímpio

4. A Nova Terra
Para os justos, a segunda vinda de Cristo marca o início da eternidade. Após serem
transformados e levados aos céus, os salvos viverão por mil anos ao lado de Cristo,
conforme descrito em Apocalipse 20:4-6. Esse período é conhecido como o milênio,
durante o qual os justos terão a oportunidade de compreender plenamente os
juízos de Deus, revisando os registros dos ímpios e participando de um processo
de vindicação da justiça divina.

Ao final do milênio, Deus recriará a Terra, purificando-a de todo mal. Para os


salvos, esse é o início de uma nova era, livre de sofrimento, dor e pecado. Eles
habitarão em segurança ao lado de Deus, desfrutando de uma existência eterna
em perfeita comunhão com o Criador, como originalmente planejado no Éden.

Após o milênio, Deus criará “novos céus e nova terra”, conforme Apocalipse 21:1

96 Doutrinas Fundamentais
e Isaías 65:17. A nova terra será o lar eterno dos justos, onde não haverá mais
dor, sofrimento ou morte. João descreve a nova Jerusalém descendo dos céus,
uma cidade gloriosa onde Deus habitará com Seu povo (Apocalipse 21:2-3). Na
nova terra, tudo será restaurado, e os fiéis desfrutarão de uma vida plena em
harmonia com Deus e a criação. As promessas bíblicas de uma terra renovada são
a culminação do plano de salvação, onde todas as coisas serão feitas novas e o mal
nunca mais se levantará (Naum 1:9). A nova terra é a realização da esperança final,
onde o propósito original de Deus será plenamente restaurado, e a humanidade
viverá em paz e alegria eternas ao lado do Senhor. O plano original de Deus para
a humanidade será plenamente restaurado: toda maldição será extirpada, e os
justos finalmente estarão na presença de Deus, contemplando Sua face e reinando
com Ele por toda a eternidade. A Terra se tornará a capital do Universo, e a graça
de Deus será exaltada por toda a criação. Por toda a eternidade, Sua bondade
e misericórdia serão celebradas, e todo universo proclamará que Deus é amor
(Apocalipse 22:1-6).

PARA REFLETIR

“O Grande Conflito terminou, pecado e pecadores não mais existem, o universo inteiro está
purificado, Daquele que tudo criou emana vida, luz e alegria. Desde o minúsculo átomo até ao
maior dos mundos todas as coisas animadas e inanimadas declaram em sua serena beleza
que Deus é amor.” Ellen White – O Grande Conflito

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Notas:

98 Doutrinas Fundamentais
Doutrinas Fundamentais 99
100Doutrinas Fundamentais

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