BIO11 - Evolução

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APARECIMENTO DOS SERES EUCARIONTES

A evolução celular refere-se à origem e posterior modificações das células, incluindo como ganharam as suas
organelas, no caso das células eucarióticas.
Segundo os dados que existem atualmente, os seres procariontes são muito mais antigos que os seres
eucariontes uma vez que os vestígios mais antigos conhecidos de seres eucariontes são de há 1,5 mil milhões
de anos, enquanto os vestígios de seres procariontes datam de há pelo menos 3,8 mil milhões de anos, o
que levou a alguns cientistas admitirem a hipótese algumas hipóteses para o aparecimento dos eucariontes.

Modelo autogénico
Segundo a hipótese autogénica os seres eucariontes são o resultado de uma evolução gradual dos seres
procariontes. A célula procarionte inicial apresentava invaginações da membrana plasmática e algumas
destas invaginações terão sofrido especializações nas suas funções, dando origem a novos sistemas
endomembranares. Uma dessas invaginações terá cercado o material genético, DNA, o que terá dado origem
ao núcleo individualizado. Alguns fragmentos de DNA teriam posteriormente abandonado o núcleo e originado
as mitocôndrias e cloroplastos, ao serem alojados noutros sistemas membranares no interior da célula.
Segundo esta hipótese todo o DNA presente na célula tem uma origem comum.
Esta hipótese é apoiada pelo facto de as membranas intracelulares das células eucarióticas atuais manterem
a mesma assimetria da membrana plasmática: a face voltada para o interior das estruturas intracelulares é
semelhante à face externa da membrana plasmática e a face das estruturas intracelulares voltada para o
citosol é semelhante à face interna da membrana plasmática. Mas a suposta origem comum do material
genético do núcleo e dos organelos não é corroborada pelas observações, o DNA presente nas mitocôndrias
e nos cloroplastos revelam uma estrutura muito mais próxima do DNA das bactérias (procariontes) do que do
DNA nuclear.

Modelo Endossimbiótico
Os pontos mais importantes da hipótese são:
· uma célula procariótica terá captado outras células procarióticas de menores dimensões (células
hóspedes) que permaneceram no interior da célula hospedeira, resistindo à digestão;
· estabeleceram-se relações de simbiose entre a células hospedeira e as células hóspedes;
· a estreita simbiose entre hospedeira e hóspedes tornou-se tão eficaz que se tornaram dependentes,
constituindo organismos singulares;
· as células hóspedes tornaram-se os organelos da célula eucariótica;

Ficha de Trabalho de Biologia e Geologia • 1


A hipótese endosssimbiótica admite que os sistemas endomembranares e o núcleo resultaram de
invaginações da membrana plasmática, e que as mitocôndrias e os cloroplastos por seu lado seriam até há
cerca de 2000 milhões de anos (M.a.) organismos autónomos. Os ancestrais das mitocôndrias seriam
organismos com a capacidade de produzir energia utilizando oxigénio no processo de degradação de
compostos orgânicos (bactérias aeróbias). Os ancestrais dos cloroplastos seriam semelhantes às atuais
cianobactérias, isto é, procariontes com a capacidade de produzir compostos orgânicos utilizando energia
luminosa.
Existem organismos que não possuem mitocôndrias, como a Giardia lamblia e a Pelomyxa palustris, que
apoia o modelo de que a formação do invólucro nuclear teria precedido a incorporação dos ancestrais das
mitocôndrias. A ausência de cloroplastos de células eucarióticas em animais e fungos é explicada pela forma
sequencial com que se estabeleceram as relações simbióticas: as primeiras relações endossimbióticas terão
sido estabelecidas com os ancestrais das mitocôndrias e, apenas algumas dessas células posteriormente,
teriam estabelecido relações endossimbióticas com os ancestrais dos cloroplastos. Dados recentes indiciam
que as mitocôndrias terão derivado de bactérias muito semelhantes às atuais α-proteobactérias, que são
capazes de realizar fosforilação oxidativa, obtendo ATP e que os cloroplastos derivam de uma endossimbiose
entre uma célula eucariótica primitiva e cianobactérias.
Esta hipótese endossimbiótica para a origem das mitocôndrias e dos cloroplastos reúne um grande consenso
entre a comunidade científica e as evidências biológicas e bioquímicas que a apoiam são várias:
· atualmente, continuam a verificar-se alguns casos de simbiose obrigatória entre bactérias
(procariontes) e protozoários (eucariontes), entre outros;
· as mitocôndrias e os cloroplastos têm dimensões muito semelhantes às dos procariontes atuais;
· as mitocôndrias e os cloroplastos produzem as suas próprias membranas internas e replicam-se por
um processo semelhante à bipartição, que ocorre nas bactérias;
· as mitocôndrias e os cloroplastos têm o seu próprio matéria genético, apresentando uma molécula
de DNA circular, sem histonas (semelhante ao DNA da maioria dos procariontes atuais e muito
diferente do DNA nuclear);
· os ribossomas dos cloroplastos são mais semelhantes aos ribossomas dos procariontes do que aos
ribossomas do citoplasma das células eucarióticas
· os ribossomas das mitocôndrias, embora muito variáveis consoante o organismo eucarionte onde se
encontram, são genericamente mais parecidos aos ribossomas dos procariontes do que aos dos
eucariontes;
· o aminoácido iniciador da cadeia polipetídica nas mitocôndrias e nos cloroplastos é a formil-metionina,
como nas bactérias, e não a metionina, como nos eucariontes e nas arqueobactérias;
· a síntese proteica nas mitocôndrias e nos cloroplastos é inibida pelas mesmas substâncias que inibem
a síntese em procariontes (estreptomicina e cloranfenicol), mas não pelas substâncias que inibem em
eucariontes (cicloheximida);
· nas membranas internas das mitocôndrias e dos cloroplastos existem enzimas e sistemas de
transporte semelhantes aos dos atuais procariontes (corroborando a ideia de que as membranas
internas derivem das membranas dos procariontes endossimbióticos).

Contudo esta hipótese é também controversa:

· como se processa o controlo da expressão de genes nos diferentes compartimentos celulares, dado
que alguns dos genes necessários ao funcionamento das mitocôndrias e dos cloroplastos estão
presentes no núcleo das células eucarióticas (argumento a favor da hipótese autogénica);
· como e quando, ao longo da evolução, terão migrado partes do material genético dos organitos para
o núcleo das células.

Apontamentos de Biologia e Geologia • 2


Aparecimento da multicelularidade
O aumento do tamanho de um organismo pode ser conseguido por via do aumento do volume celular ou por
meio do aumento do número de células. Os eucariontes de maiores dimensões enfrentam desafios ao nível
das trocas de substâncias necessárias ao metabolismo celular e as respostas aos estímulos do meio que
ocorrem ao nível da superfície celular. O aumento da dimensão das células implica um aumento significativo
do volume relativamente à área superficial (diminuição da relação área/volume), tornando menos eficientes
as trocas de substâncias para as células de maiores dimensões. A formação de colónias de organismos
unicelulares poderá ter sido uma estratégia para lidar com esta limitação. Inicialmente, todas as células teriam
as mesmas funções na colónia, mas ao longo do tempo algumas das células ter-se-ão especializado em
determinadas funções. A diferenciação celular terá conduzido a uma maior interdependência estrutural e
funcional das células, originando verdadeiros organismos multicelulares.
Atualmente, conhece-se um grupo de algas relacionadas taxonomicamente com diferentes graus de
multicelularidade, que alguns cientistas defendem representar diferentes estados de associação celular.
• Chlamydomonas reinhardtii – alga unicelular com dois flagelos (biflagelada)
• Gonium pectorale – organismo colonial formado por 8 células idênticas biflageladas, que resulta da
divisão de uma célula inicial que se mantém agregada às células-filhas
• Volvox aureus – colónia de eucariontes unicelulares, entre 1000 e 2000 células, onde já se distinguem
dois tipos de células: as células somáticas – biflageladas unem-se entre si por filamentos
citoplasmáticos e são responsáveis pela nutrição e pelo movimento da colónia; e as células
reprodutivas – de maiores dimensões que as somáticas são responsáveis pela reprodução da colónia

A multicelularidade permite aos organismos lidar com alguns conflitos ao nível estrutural e funcional
conferindo algumas vantagens evolutivas:
• maiores dimensões, mantendo-se equilibrada a relação área/volume das células para possibilitar
trocas eficientes com o meio
• maior diversidade, proporcionando melhor adaptação a diferentes ambientes
• diminuição da taxa metabólica, com uma maior eficácia no uso da energia, através da especialização
celular
• maior independência em relação ao meio ambiente, devido a uma mais eficaz homeostasia (equilíbrio
dinâmico do meio interno) resultante de uma interdependência dos vários sistemas de tecidos e
órgãos.

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EVOLUCIONISMO VS FIXISMO

O fixismo, tal como a palavra indica, considera que as espécies são fixas, permanecendo imutáveis ao longo
do tempo sem se modificarem. As hipóteses fixistas de imutabilidade consideram que as espécies
permanecem iguais desde o momento em que surgiram até aos dias de hoje.
O evolucionismo admite que as espécies podem sofrer transformações ao longo do tempo. Surge como
consequência das propostas para as mudanças geológicas ocorridas na superfície terrestre. O
uniformitarismo defende que:
· as leis naturais são constantes no espaço e no tempo;
· a maioria das alterações geológicas dá-se de forma lenta e gradual;

Estas ideias gradualistas, foram assim, aplicadas às mudanças sofridas pelos seres vivos. Surgem as
primeiras teorias evolucionista.

Lamarckismo
Lamarck, naturalista francês, botânico no Jardim Botânico de Paris ao serviço do rei, elaborou diversos
estudos taxonómicos que o levaram a concluir que as espécies não só se relacionam entre si, como sofrem
alterações ao longo do tempo.
A sua teoria baseava-se em dois princípios:
· Lei do Uso e do Desuso – a necessidade de um certo órgão em determinado ambiente cria esse
órgão e a função modifica-o, isto é, quando um órgão é muito utilizado desenvolve-se e torna-se
vigoroso e quando não é utilizado degenera e atrofia.
· Lei da Herança de Caracteres Adquiridos – as modificações adquiridas pelo indivíduo, pelo usos e
desuso de um determinado órgão, são transmitidas aos descendentes.

Estas ideias de Lamarck embora muito importantes foram muito contestadas. As principais críticas a Lamarck
foram:
· a teoria de Lamarck admitia que os seres vivos se modificavam com o objetivo último de se tornarem
melhores
· a lei do uso e do desuso, embora válida para alguns órgãos, não explicava todas as modificações
· a lei da herança de caracteres adquiridos, não é observável. A atrofia ou o desenvolvimento de
determinadas estruturas adquiridas durante a vida de um individuo não são transmitidas à
descendência

Os avanços científicos vieram demonstrar que as características do indivíduo – fenótipo – são resultado da
interação do material genético herdado dos progenitores – genótipo – com o meio ambiente. Lamarck
incorporava ainda na sua teoria os princípios que viriam a ser refutados, como por exemplo, episódios de
criação por geração espontânea, ou propósitos finalistas de “melhoria” como força evolutiva.

Darwinismo
Darwin expõe as suas ideias evolucionistas, em 1858, no livro A “Origem das Espécies”, expondo também as
suas observações que recolheu durante a sua viagem a bordo do HMS Beagle à volta do mundo. A sua Teoria
da Seleção Natural baseou-se em dados de vários tipos:
· Dados biogeográficos – por um lado, a uniformidade entre os seres vivos levou-o a considerar uma
ancestralidade comum, e por outro, a existência de variabilidade entre populações de locais próximos
levou-o a admitir a possibilidade de cada uma dessas populações ser o resultado de um processo de
transformação continuado condicionado às condições ambientais particulares
· Dados geológicos – durante a sua viagem a bordo do Beagle, Darwin leu o livro de Lyell “Princípios
de Geologia”, que o ajudou a compreender a importância da noção do tempo geológico e dos
fenómenos geológicos que atuaram e atuam na natureza, nos processos de transformação lentos e
graduais.
· Dados económicos e sociais – já regressado da sua viagem de circum-navegação Darwin teve acesso
à obra de Thomas Malthus “Ensaio sobre o princípio da população”, onde o autor defendia que a
população humana tende a crescer exponencialmente enquanto os recursos crescem

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aritmeticamente. Esta relação entre a população e os recursos disponíveis leva a um excedente
populacional e à escassez dos recursos, ocorrendo uma seleção natural, condicionada pela fome se
os recursos forem alimentares. Darwin transpôs esta ideia para as populações naturais, onde face a
um meio com recursos finitos haveria uma luta contínua pela sobrevivência.
· Dados de seleção artificial – a seleção artificial efetuada pelo Homem é uma técnica utilizada desde
os primórdios dos tempos, com o objetivo de apurar determinadas características de animais ou
plantas, selecionando-se indivíduos portadores dessas características e promovendo cruzamentos
entre eles. Desta maneira assegura-se que a frequência das características selecionadas aumenta
progressivamente na descendência. Na natureza, um processo semelhante deverá atuar sobre os
seres vivos, onde são selecionados os indivíduos com características que conferem mais vantagens
em determinado ambiente, chamando a este mecanismo seleção natural.

As ideias de Darwin, aceites por alguns foram também alvo de fortes críticas por parte da não só comunidade
em geral mas também da científica, dado que punha em causa algumas crenças e convicções e também não
explicava alguns fatores como: as lacunas estratigráficas com ausências de algumas formas fósseis
intermédias que corroborassem a ideia de uma evolução lenta e gradual dos seres vivos; a presença de uma
grande heterogeneidade entre os indivíduos; e o mecanismo de transmissão das características entre
gerações.
Darwin propõe a que ficou conhecida pela Teoria da Seleção Natural. O grande avanço de Darwin foi expor
um mecanismo para a evolução – a seleção natural. Segundo a sua teoria:
· a população é a unidade evolutiva;
· nas populações existe heterogeneidade, isto é, os indivíduos apresentam variabilidade nas suas
características;
· o ambiente atua sobre as populações exercendo seleção natural em que os indivíduos mais aptos
têm mais probabilidade de sobreviverem e se reproduzirem;
· os indivíduos mais aptos têm um maior sucesso reprodutor, logo maior número de descendentes –
reprodução diferencial;

Darwin foi, contudo, incapaz de explicar:


· como é que a variabilidade intraespecífica surge;
· como é que as caraterísticas são transmitidas à descendência;

Neodarwinismo ou teoria sintética da evolução


A TSE em três ideias chave:
· a variabilidade genética nas populações
· a seleção natural é o mecanismo principal (mas não único) da evolução
· o gradualismo permite explicar que as grandes modificações resultam da acumulação ao longo do
tempo de pequenas alterações

A variabilidade genética das populações, consideradas como unidades evolutivas, é resultado das mutações
e da recombinação génica (meiose e fecundação). As mutações são alterações que ocorrem no material
genético de determinado indivíduo, ao nível dos genes – mutações génicas, ou envolvendo porções
significativas do cromossoma - mutações cromossómicas. Grande parte das mutações não conferem
vantagens ao indivíduo, mas se não impedirem o individuo de se reproduzir ganham um carácter evolutivo,
ao serem transmitidas às gerações seguintes. A seleção natural atua sobre a variabilidade dos indivíduos
numa determinada população. os indivíduos com a pool genética melhor adaptada ao meio terá um maior
sucesso reprodutor provocando um aumento da frequência dos alelos responsáveis pelas características mais
vantajosas.

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Argumentos a favor do evolucionismo
O evolucionismo é apoiado por vários argumentos:
· Morfológicos/anatomia comparada: o estudo comparativo das semelhanças e das diferenças
estruturais/ anatómicas entre indivíduos. Apoia-se na existência de:
· Estruturas homólogas: apresentam plano anatómico, posição corporal e desenvolvimento
embrionário semelhantes, mas que podem possuir formas e funções diferentes. São
reveladoras de pressões seletivas diferentes e de um processo de evolução divergente;
· Estruturas análogas: organização interna, desenvolvimento e posição corporal diferentes,
mas com função semelhante. São reveladoras de pressões seletivas iguais, em processos
de evolução convergentes;
· Estruturas vestigiais: estruturas sem aparente utilidade para os indivíduos, que foram
perdendo significado, mas que num grupo atual de seres, tem importância morfofuncional;
· Paleontológicos: o estudo dos fósseis permite determinar as relações de parentesco e de evolução
dos seres vivos. É dado destaque a dois tipos de formas fósseis:
· Formas intermédias: fósseis de seres vivos com caraterísticas de dois grupos atuais;
· Formas de transição: representam o organismo que marca a transição para um outro grupo
de seres vivos;
· Embriológicos: o estudo do desenvolvimento embrionário permite estabelecer graus de parentesco,
uma vez que, seres vivos mais aparentados, mantêm embriões semelhantes durante mais tempo;
· Citológicos: analisa padrões e funcionamento de células semelhantes;
· Bioquímicos: analisam moléculas comuns aos diferentes seres vivos, que serão tanto mais
aparentados, quanto mais parecidas forem a sequência das moléculas;
· Biogeográficos: seres vivos que habitam em locais geograficamente próximos, são mais aparentados
entre si. Quanto mais distantes ou isolados se encontrarem mais diferentes serão os indivíduos;

Fatores de Evolução de uma População


A população, do ponto de vista genético, é um conjunto de indivíduos que se reproduz sexuadamente e
partilha um determinado conjunto de genes. Quando estas condições se verificam estamos perante uma
população mendeliana e o conjunto de genes que a caracteriza é o seu fundo genético (do inglês “gene pool’’).
Vários fatores podem atuar sobre o fundo genético de uma população, modificando-o:
· mutação – as alterações genéticas, embora na sua maioria sejam eliminadas por seleção natural, em
alguns casos conferem vantagens aos seus portadores permitindo a sua reprodução e mantendo-se
na população.
· migração – a entrada de indivíduos com fundo genéticos diferentes – alelos diferentes ou mesmos
alelos mas com frequências de ocorrência diferentes – que se integram na nova população e se
reproduzem com os indivíduos nela presentes, provocam uma alteração no fundo genético da
população que os recebeu, existe um fluxo genético. Esta evolução pode também ocorrer com a saída
de indivíduos da população e com eles podem sair determinados alelos ou pode haver uma alteração
na frequência dos alelos.
· deriva genética – consiste na alteração da frequência dos alelos de uma determinada população
devido exclusivamente ao acaso. As populações pequenas são muito mais sensíveis à ocorrência de
deriva genética do que as populações com maior número de indivíduos, podendo observar-se
grandes oscilações nas frequências alélicas de uma geração para a seguinte. Dois casos em que a
diminuição drástica do tamanho da população permite a ocorrência de deriva são o efeito fundador e
o efeito de gargalo.
· efeito fundador – quando um grupo de indivíduos coloniza uma nova área, transportando um
fundo genético mais reduzido do que a população original donde provém.
· efeito de gargalo – (do inglês ‘bottleneck’) fenómenos naturais podem provocar uma redução
do tamanho da população, ficando o fundo genético reduzido e restrito aos indivíduos
sobreviventes. Esta situação pode alterar significativamente as frequências alélicas e alterar
o fenótipo dominante na população.
· cruzamento não aleatório – quando numa população os cruzamentos ocorrem de forma aleatória
entre os indivíduos, diz-se que existe panmixia, e permite a manutenção do fundo genético. Se não
for o caso e os determinados cruzamentos forem preferenciais entre indivíduos com um certo fenótipo,
é provável que a frequência dos alelos responsáveis por esse mesmo fenótipo se torne predominante

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em detrimento de outros alelos. Por exemplo, em animais, os caracteres sexuais secundários dão
origem a muitos destes fenómenos.
· seleção natural - a seleção natural acontece sempre que numa população os indivíduos têm
diferentes taxas de sucesso e consequentemente contribuem de forma diferencial para o fundo
genético da geração seguinte. A seleção natural atua sobre o fenótipo (características do indivíduo)
que resulta da expressão de determinados genes (genótipo), favorecendo um determinado fenótipo.
Esta pressão seletiva pode ser: estabilizadora, direcional ou disruptiva.
· estabilizadora – os indivíduos selecionados apresentam os fenótipos intermédios presentes
na população;
· direcional – os indivíduos com um dos fenótipos extremos são favorecidos;
· disruptiva – os indivíduos com fenótipos intermédios são desfavorecidos em relação aos
fenótipos extremos.

Sistemas de classificação
A vontade e a necessidade de organizar o mundo que o rodeia levou o Homem a classificar os seres vivos.
As primeiras classificações feitas pelo Homem teriam um carácter prático, utilizando critérios de utilidade na
sua vida quotidiana – classificação prática. Por exemplo, quando se identificam os animais e as plantas pela
sua perigosidade (perigoso vs. não perigoso). Mais tarde os sistemas de classificação evoluem e utilizam
características estruturais dos seres considerados – classificações racionais.
Todas estas classificações artificiais e naturais surgiram numa época na qual dominavam as ideias fixistas,
baseando-se no facto de os seres vivos não sofrerem qualquer alteração após a sua criação, o chamado
Princípio da Imutabilidade das espécies – classificações horizontais. A ideia de mutabilidade dos organismos
vai influenciar os sistemas de classificação, que no período pós-Darwin passaram a refletir a história evolutiva
dos seres vivos – classificação vertical.
Dentro das classificações racionais e horizontais, os sistemas que utilizam um pequeno número de
características, fazendo com que os poucos grupos discriminativos incluam organismos muito diferentes entre
si – classificação artificial. Contudo, a utilização por parte dos naturalistas, de um grande número de
caraterísticas (essencialmente físicas) para agrupar os seres vivos, permitiu agrupar de forma mais correta
os seres vivos – classificação natural.
As classificações mais atuais, sob uma visão evolucionista da vida, têm em conta que as espécies foram
diversificando ao longo do tempo, agrupando os organismos de acordo com o seu grau de parentesco –
classificação filogenética.

Práticos
Artificiais

Sistema
classificação Horizontais

Naturais Fenética
Racionais

Verticais Filogenética

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Sistemática dos seres vivos
Sistemática é a área do conhecimento biológico que se dedica ao estudo da diversidade dos seres vivos,
funcionando num sistema comparativo que engloba dados da taxonomia e da biologia evolutiva, para tentar
compreender a história evolutiva dos organismos e a suas relações de parentesco. As relações entre os seres
vivos podem ser visualizadas através de árvores evolutivas.
Os termos sistemática e taxonomia são muitas vezes confundidos e usados como sinónimos não o sendo. A
sistemática investiga histórias evolutivas e considera as adaptações ao meio dos organismos. A taxonomia
ocupa-se da identificação, da descrição e da atribuição de nomes científicos (nomenclatura) e elabora
sistemas de classificação para os organismos.
A sistemática utiliza a taxonomia como uma ferramenta para melhor compreender os organismos.
A taxonomia agrupa/ organiza os seres vivos, numa hierarquia definida do seguinte modo:

Podem existir taxa intermédios definidos pelos prefixos: infra, super, sub.
Nomenclatura é o sistema organizado de nomes dados aos organismos biológicos bem como dos princípios
que presidem a essa categorização. Através da nomenclatura impõem-se uma série de regras que facilitam
a atribuição de nomes aos organismos permitindo a comunicação entre os cientistas.
A atribuição de nomenclatura no sistema atual pressupõe alguns requisitos, sendo os mais importantes:
· unicidade: cada nome de um determinado organismo deve ser único permitindo identificar de
imediato o taxon a que se refere.
· universalidade: os nomes utilizados têm de ser compreendidos e aceites internacionalmente
· estabilidade: quaisquer alterações devem ser bem justificadas, analisadas e aprovadas pelas
entidades competentes para evitar equívocos.
As regras da nomenclatura científica biológica são da responsabilidade do Congresso Internacional de
Botânica e, no caso da Zoologia, existe uma comissão que assegura que independentemente do local onde
se encontre o ser vivo terá um único nome que será válido.

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As principais regras da nomenclatura hoje aceites são:
· na designação científica os nomes são sempre em latim ou latinizados;
· os nomes científicos escrevem-se em itálico ou se for num texto manuscrito deverão ser sublinhados
· a espécie deve ser reconhecida por uma nomenclatura binomial, em que a primeira palavra designa
o género e a segunda o restritivo específico da espécie;
· o nome do género é um substantivo, simples ou composto, escrito com inicial maiúscula;
· o restritivo específico é um adjetivo escrito só com minúsculas;
· após o nome da espécie, vem o nome do autor e a data em que pela primeira vez o organismo foi
descrito;
· a designação de subespécie é trinominal, acrescentando-se um terceiro termo em latim
correspondente ao restritivo subespecífico
· todos os taxa superiores à espécie têm nomenclatura uninominal;
· em Zoologia, o nome da família é construído a partir do nome do género mais representativo
acrescentando o sufixo –idae;
· em Botânica, o nome da família é construído a partir do nome do género mais representativo
acrescentando o sufixo –aceae.

Sistema de classificação de Whittaker


Whitakker definiu uma classificação dos seres vivos com base em cinco reinos. Definiu, para esses mesmos
grupos, três caraterísticas distintivas:
· Organização celular:
· Procariótica (unicelular, singular ou colonial);
· Eucariótica (unicelular, singular ou colonial, ou multicelular)
· Interação nos Ecossistemas
· Produtor;
· Macroconsumidor;
· Microconsumidor;
· Modo de nutrição
· Autotrófico (fotossíntese ou quimiossíntese);
· Heterotrófico (por ingestão ou por absorção);

Interação nos
Reinos Nível de organização celular Modo de nutrição Exemplos
Ecossistemas
Procariontes, unicelulares
Autotróficos (fotossíntese e
(solitários ou coloniais), Produtores e Escherichia coli
Monera quimiossíntese) e heterotróficos
geralmente, com parede microconsumidores Streptococcus aureus
(por absorção)
celular de peptidoglicano
Eucariontes, unicelulares
(solitários ou coloniais),
Autotróficos (fotossíntese) e Produtores, Espirogira
multicelulares com
Protista heterotróficos (por absorção e microconsumidores Amiba
diferenciação reduzida
ingestão) e macronsumidores Euglena
Podem apresentar parede
celular

Eucariontes, unicelulares e Cogumelos


Fungi multicelulares (maioria), mas Heterotróficos (por absorção) Microconsumidores Bolores
com diferenciação reduzida Leveduras

Eucariontes, multicelulares
Musgos
com diferenciação tecidular
Fetos
Plantae elevada Autotróficos Produtores
Coníferas
Com parede de natureza
Orquídeas
celulósica

Hidra
Eucariontes, multicelulares
Planária
Animalia com diferenciação tecidular Heterotróficos (por ingestão) Macroconsumidores
Minhoca
elevada
Ser humano

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Domínios de Carl Woese
Na taxonomia biológica é o taxon mais elevado dos organismos, acima do reino. Proposto por Woese e
colegas em 1990, baseado em relações genéticas e não morfológicas como é comum.
Existem três domínios:
· Bacteria – inclui as bactérias;
· Archaea – inclui os procariontes que não se incluem nos Bacteria, como os metanogénicos e alguns
termófilos;
· Eukarya – inclui todos os eucariontes;

Com esta nova classificação os reinos sofrem alterações. A nova classificação é:


· Domínio Archaea – Reino Archaebacteria;
· Domínio Bacteria – Reino Eubacteria;
· Domínio Eukarya – Reinos Protista, Fungi, Plantae e Animalia;

Numa perspetiva molecular de análise do rRNA os Archaea são mais próximos dos Eukarya que dos Bacteria.

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