7 Farsa Ines Pereira

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FARSA DE INÊS PEREIRA

«Sem casamento, que enfadamento…»


1.1.
A divisão do excerto baseia-se na entrada das personagens em cena.
- Cena I: monólogo de Inês.
- Cena II: diálogo entre Inês e a Mãe.
- Cena III: diálogo entre Lianor Vaz e a Mãe.

2.
A ideia recorrente no monólogo de Inês é a de cativeiro.
Os três fatores que motivam essa ideia são
- o confinamento ao espaço da casa «que nam sai senão à porta?»,
- a subjugação à autoridade materna «a tarefa que lhe dei», e
- a obrigação de trabalhar nos lavores «Renego deste lavrar».
3.
Inês é uma jovem preguiçosa, ambiciosa, revoltada e inconformada por
não poder fazer o que quer, desejando libertar-se da vida que leva.

4.1.
O relacionamento entre Inês e a Mãe é pouco amistoso/conflituoso.
Ambas têm pontos de vista diferentes:
Inês detesta as tarefas domésticas e deseja casar-se para se libertar do
jugo da mãe «Prouvesse a Deos que já é rezão/ de nam estar tam
singela».
A mãe, pelo contrário, acusa Inês de ser preguiçosa e apressada para se
casar «como queres tu casar/com fama de preguiçosa» e «Nam te
apresses tu Inês».
4.2.
À semelhança das cantigas de amigo, a mãe tem um papel de
confidente, conselheira e de autoridade.

5.
Lianor relata o seu encontro com um clérigo que desejava um encontro
íntimo com ela.
Apesar de inicialmente se mostrar indignada com as intenções do
clérigo, subentende-se que o frade foi bem-sucedido nos seus intentos.
Lianor, perante Inês e a Mãe, deixa transparecer o prazer que tal
experiência lhe proporcionou.
6
Inês está a «lavrar», ou seja, a coser ou bordar, um travesseiro
(provavelmente para o enxoval).
A Mãe vem da missa.
Lianor é uma alcoviteira que arranjava casamento. O episódio que relata
pretende ainda alertar Inês para o perigo que as mulheres solteiras
correm por não terem ninguém que as defenda.

7.
a) Interrogação retórica
b) Ironia
7.1.
Com a ironia, a Mãe pretende mostrar a Inês que já adivinhava que ela
não estava a trabalhar como era suposto. Mostra-se trocista.

Gramática
a) Síncope de «d»; sinérese
b) Paragoge de «s»
c) Epêntese de «m»
d) Metátese de «i» (breviariu- > breviairo)
FARSA DE INÊS PEREIRA
«Pretendente apresentado e logo rejeitado»
1.
- Cena I: versos 170-259 (apesar de não haver didascália, Lianor sai de
cena)
Lianor vem com uma proposta de casamento para Inês. Esta mostra-se
ansiosa, mas também desconfiado sobre o seu pretendente. Aceita ler a
carta de Pero Marques.
- Cena II: versos 259-274
Inês aceita receber Pero Marques, com o intuito de gozar com ele,
enquanto a Mãe, levando a sério o pretendente, lhe pede para se
arranjar.
1.
- Cena III: versos 275-283
Monólogo de Pero Marques em que, desnorteado, se questiona sobre a
morada certa de Inês Pereira.
- Cena IV: versos 284-334 (apesar de não haver didascália, a Mãe sai de
cena)
Encontro de Inês e Pero, em que é visível a sua incompatibilidade.
- Cena V: versos 335-390
Apesar das boas intenções de Pero Marques, este é rejeitado por Inês.
2.
A mãe põe em evidencia a esperteza da filha que, para alcançar os seus
objetivos, é capaz de tudo.

3.
A carta
- prepara o encontro com Pero Marques
- faz a primeira apresentação / caraterização da personagem
(homem com boas intenções, cerimonioso, ingénuo),
- refere a sua intenção de casamento e
- revela, desde logo, a atitude jocosa de Inês para com este pretendente.
4.
A verdadeira intenção de Inês é gozar com Pero Marques: «logo em
chegando aqui/pera me fartar de rir» (vv. 263-264)

5.
Embora rico e apaixonado por Inês, Pero revela-se pouco à vontade em
sociedade, um verdadeiro simplório, ignorante e desajustado. É, porém
respeitador, carinhoso, bom e preocupado com a reputação de Inês.
Mostra-se ainda persistente, pois mesmo depois de rejeitado, continua
a demonstrar o seu interesse por Inês.
5.1.
Para Inês, o seu marido não tem de ser rico, mas ser sensato,
inteligente, culto, hábil com as palavras e saber estar em sociedade
«Porém nam hei de casar/senam com homem avisado/inda que pobre e
pelado/seja discreto em falar» (vv. 184-187).
Pero Marques é o oposto do ideal de marido de Inês, pois é um simples
campónio, ingénuo e rude.
6.
Pero Marques, com a melhor das intenções, quer presentear Inês com
peras que guardou no capuz. Contudo, o seu capuz é um verdaeiro
armazém, em que tudo cabe: «peas» (cordas), «perlas», «três
chocalhos» e «um novelo». Inês, contrariada, ajuda-o, mas as peras não
aparecem.

6.1.
O cómico de situação está presente nesta cena. A atrapalhação de Pero
Marques, o desagrado de Inês e os objetos que, muito provavelmente,
caem em palco, contribuem para uma situação que suscita riso.
7.
Enquanto Pero se preocupa com a segurança de Inês por estar sozinha e
às escuras, esta, mais atrevida, fica desapontada por Pero Marques não
ter tentado aproveitar-se do facto de estarem sós para lhe dizer «mil
doçuras» e tentar cortejá-la, mostrando o seu lado romântico.

8.
Ao longo do discurso de Inês é evidente a ironia. Os vários momentos
irónicos servem o propósito de troçar e ridicularizar Pero Marques,
dizendo o oposto daquilo que verdadeiramente pensa.
8.1.
Por exemplo:
«Oh Jesu que João das Bestas/olhai aquela canseira» (vv. 291/292)
«O galante despejado» (v. 341)
«Quam desviado este está./Todos andam por caçar/suas damas sem
casar/e este tomade-o lá.» (vv. 345-348)
«Olhai se o levou o gato» (v. 371)
FARSA DE INÊS PEREIRA
«Aparece um escudeiro e é solteiro»
1.
- Cena I: versos 391-422
Conselhos da Mãe.
- Cena II: versos 423-501
Descoberta do marido ideal.

2.
(G) ; (B) ; (D) ; (C) ; (F) ; (A) ; (H) ; (E)
3.
O par de Judeus, Latão e Vidal, são judeus casamenteiros e apresentam
as mesmas características.
Ambos são a caricatura do judeu hábil no comércio – faladores,
insinuantes, maliciosos, falsamente humildes e serviçais.
Nesta peça, rivalizam com Lianor Vaz, nos seus serviços de
intermediários matrimoniais.
GRAMÁTICA

a) Complemento do nome (derivado do verbo «representar»).


Complemento do nome (derivado do verbo «atrair»).
b) Modificador restritivo do nome
c) Complemento do nome (nome icónico).
d) Modificador apositivo do nome.
FARSA DE INÊS PEREIRA
«Casamento celebrado, casamento frustrado?»
1.
O Escudeiro duvida dos elogios feitos pelos Judeus e imagina Inês feia e
sem qualquer interesse, troçando dela.
Este comportamento é paralelo ao da própria Inês quando ridicularizou
Pero Marques, após ler a sua carta e antes de o conhecer.
2.1.
Quer o Escudeiro quer a Mãe aconselham discrição e silêncio ao Moço e
a Inês, respetivamente.
O Escudeiro tem como objetivo parecer importante e de estatuto social
elevado: «E se me vires mintir/gabando-me de privado/está tu
dissimulado/ou sai-te lá fora a rir (vv. 538-541).
A Mãe aconselha a filha a ter compostura e discrição de forma a parecer
a esposa ideal: «hás-te de pôr em feição/e falar pouco e nam rir./E mais
Inês nam muito olhar» «porque a moça sesuda/é ũa perla pera amar«
(vv. 522-528).
No fundo, ambos escondem o seu verdadeiro ser e querem bem parecer
um ao outro
3.
Enquanto o Escudeiro não para de falar, elogiando Inês e a si próprio,
Inês segue os conselhos da Mãe, mantendo-se em silêncio.

4.
Os apartes desmascaram a verdadeira situação do Escudeiro, pelintra e
falso, ao contrário da imagem que quer passar - «um tavanês/mor
doudo que Deos criou» (vv. 599-600).
5.1
Os Judeus fazem tudo para convencer Inês a casar, elogiam o Escudeiro
«escudeiro cantador/e caçador de pardais/sabedor, rebolvedor,/falador,
gracejador» (vv.662-665), e dizem que é melhor casar logo, antes que
outro pretendente «carrapatento» (v.672) avance.
A Mãe argumenta que é melhor esperar por alguém com a mesma
condição social «Nam te é milhor mal por mal/Inês u bom oficial/[…]
com teu igual?» (vv. 682-686) e adverte-a que pode tratar-se de um
vadio (v. 692).
6.
A intenção crítica presente nos versos «Dai-nos cá senhos
ducados./Amenhã vo-los darão.» é denunciar o verdadeiro motivo que
levou os Judeus a ajudar Inês a encontrar marido: o dinheiro.

7.
O Escudeiro deixa cair a máscara e revela o seu arrependimento em ter
casado «Oh quem me fora solteiro» (v. 730), deixa ainda transparecer
que, para ele, o matrimónio é sinónimo de «cativeiro» (v. 733), ou seja,
uma prisão.
8.
A Mãe dá a sua bênção ao casamento e pede a Brás da Mata que cuide
bem da filha, cumprindo o seu papel de mãe preocupada e protetora.
Esta personagem não tem nome próprio porque é uma personagem-tipo
que representa o princípio maternal.
FARSA DE INÊS PEREIRA
«Que casamento e que tormento!»
1.1.
O Escudeiro proíbe-a de cantar (vv. 781-786); avisa-a de que a palavra
dele é soberana, por isso não deve retorquir ou argumentar
(vv. 793-795); proíbe-a de sair de casa e de falar com mais alguém para
além dele (vv. 799-800); diz-lhe que em casa manda ele (vv. 817-818).

2.1.
De acordo com a ação da farsa, o ditado popular que inicia a cantiga de
Inês sugere que esta conclui, amargamente, que fez a escolha errada
quanto ao homem com quem se casou, tendo, por isso, de se resignar.
Entenda-se que o «bem» seria Pero Marques e o «mal» Brás da Mata.
2.2.
A cantiga relata-nos a desilusão e o desencanto quanto à imagem do
homem ideal com quem almejava casar: cavaleiro culto e de boas
maneiras. Todavia, Brás da Mata revela-se exatamente o oposto.

3.1.
A personagem evolui ao revelar arrependimento por se ter casado com
o Escudeiro e deseja ficar solteira para escolher um marido que possa
controlar e manipular.
4.1.
«Há três meses que é passado» (v.903)

5.
Entre a caracterização de Brás da Mata no início do excerto e a forma
como ele é morto em África existe uma relação de contraste.
Inicialmente, Brás da Mata é caracterizado indiretamente como um
homem rigoroso, tirano, que maltrata a esposa.
No final, a personagem é descrita como cobarde tendo sido morto por
um pastor e não por um guerreiro, como seria de esperar.
Gramática
1.
a)
Epêntese de «i»
b)
Assimilação de «e»
2.
a)
Complemento do nome (derivado do verbo «decidir»)
b)
Modificador apositivo do nome (isolado por vírgulas)
Complemento agente da passiva (por quem?)
c)
Predicativo do CD
Complemento do nome (derivado do verbo «morrer»)
d)
Modificador do GV
Modificador restritivo do nome
Modificador do GV
FARSA DE INÊS PEREIRA
«Bem casar para livre estar…»
1.1.
Inês decide finalmente aceitar Pero Marques como marido, tendo em
conta a desilusão sofrida no primeiro casamento.
Agora, já não acredita nem no amor, nem nos homens e quer vingar-se
do Escudeiro, escolhendo para marido um homem submisso.
(vv. 969-977)
2.1.
Inês afirma que aprendeu com a experiência de vida, ou seja, com o
casamento fracassado com o Escudeiro.
Este ensinou-lhe que mais vale um camponês humilde, que a possa
fazer feliz, que um marido de comportamento refinado, que saiba
cantar e dançar, mas que a maltrate.

3.1.
Inês encontra um ermitão que revela ser um antigo apaixonado, desde
os tempos de criança.
Foi por ela que se tornou ermitão.
Reconhecendo-o, Inês promete visitá-lo na ermida.
4.1.
vv. 1098-1099: «Corregê vós esses véus/e ponde-vos em feição» (depois
do primeiro encontro com o Ermitão, o marido diz-lhe para se ajeitar)
v. 1127: «Marido cuco me levades»
vv. 1133-1134: «Sempre fostes percebido/pera gamo»
vv. 1140-1141: «Sempre fostes percebido/ pera cervo» (é a própria Inês
que insulta o marido, sugerindo que é marido enganado/traído)
5.1.
O objetivo de Gil Vicente é enfatizar a infidelidade de Inês e a
ingenuidade e submissão de Pero, materializando o provérbio que deu
mote à obra «Mais quero um asno que me carregue que cavalo que me
derrube».
6.1.
a)
Cómico de linguagem (trocadilho com o ver «sair»: sair de casa [Inês];
defecar [Pero Marques]) e cómico de caráter (ingenuidade, ignorância
de Pero Marques).
b)
Cómico de situação (Pero leva Inês às costas e canta uma cantiga que
sugere que é um marido traído)
7.
a)
Inês canta a sua vida de tristeza, cativeiro e trabalho.
b)
Lianor propõe Pero Marques para marido e Inês rejeita-o.
c)
Reflexão de Inês sobre as desvantagens do casamento com o Escudeiro.
d)
Inês e o Escudeiro casam com cerimónia e festa.
e)
Inês vive infeliz e sem liberdade com o Escudeiro.
8.
ASNO
Pero Marques
ME
Inês Pereira
CAVALO
Escudeiro
ME
Inês Pereira

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