O Romantismo No Brasil
O Romantismo No Brasil
O Romantismo No Brasil
ROMANTISMO
NO BRASIL
Contexto histórico-social
• Surgiu poucos anos depois de nossa independência política (1822).
• Por isso, as 1ªas obras literárias e os 1ºs artistas românticos mostravam-se empenhados em definir um
perfil da cultura brasileira, no qual o “nacionalismo” era o traço essencial.
• Com a invasão de Portugal por Napoleão, a Coroa portuguesa mudou-se para o Brasil em 1808 e elevou
a colônia à categoria de Reino Unido, ao lado de Portugal e Algarves. Assim, a colônia passou por uma
série de mudanças, entre as quais a criação de escolas de nível superior, a fundação de museus e
bibliotecas, a instalação de tipografias e o surgimento de uma imprensa regular.
• Independência política: intelectuais e artistas passaram-se a dedicar-se ao projeto de criar uma cultura
brasileira identificada com as raízes históricas, linguísticas e cultural o país.
• O Romantismo literário brasileiro, além de ser uma reação à tradição clássica, assumiu a conotação de
movimento anticolonialista e antilusitano (rejeição à literatura colonial, modelos culturais portugueses).
As 3 gerações do Romantismo brasileiro
• Essa divisão, contudo, engloba principalmente os autores de poesia. Os romancistas não se enquadram
bem nessa divisão, uma vez que suas obras podem apresentar traços característicos de mais de uma
geração.
• Assim, as 3 gerações de poetas românticos brasileiros são:
• 1ª Geração: nacionalista, indianista e religiosa (Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães)
• 2ª Geração: marcada pelo “mal do século”; egocentrismo exacerbado, pessimismo, satanismo e atração
pela morte (Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire)
• 3ª Geração: grupo condoreiro; poesia de cunho político e social (Castro Alves)
Gonçalves Dias (1823-1864)
• Filho de um português e de uma cafusa.
• Iniciou seus estudos no Maranhão e completou-os em Coimbra (Direito)
• Voltou ao Brasil em 1845, já com vários escritos
• Fixou-se no Rio de Janeiro e ali publicou várias obras: Primeiros cantos, Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão,
Últimos cantos e Os timbiras.
• Fez várias viagens pelo país, incluindo a Amazônia, e chegou a escrever um “Dicionário da língua tupi”.
• Sua obra pode ser considerada a realização de um verdadeiro projeto de construção da cultura brasileira.
• Buscou captar a sensibilidade e os sentimentos o nosso povo, com uma poesia voltada para o índio e para a natureza
brasileira, com linguagem simples e acessível.
• Sua obra poética inclui os gêneros lírico (“Canção do exílio”) e épico (“I Juca Pirama”).
• Na épica conta os feitos heroicos de índios valorosos, substitutos da figura do herói medieval europeu.
• Na lírica, os temas mais frequentes são a pátria, a natureza, Deus, o índio e o amor não correspondido.
A épica de Gonçalves Dias
• Destacam-se 2 poemas: “I-Juca-Pirama” e “Os timbiras”.
• I-Juca-Pirama:
• Considerado o mais perfeito poema épico-indianista de nossa literatura.
• Narra a história vivida por um índio tupi que cai prisioneiro de uma nação inimiga: os timbiras.
• O drama do prisioneiro reside nos sentimentos contraditórios provocados por sua prisão: de um lado,
deseja morrer lutando, como guerreiro corajoso que sempre fora; de outro, deseja viver para cuidar do
pai, doente e cego.
Rousseau e a bondade natural
• Segundo Jean-Jacques Rousseau, filósofo
iluminista do século XVIII, o ser humano
nasce naturalmente puro, mas é corrompido
pela civilização. Assim, em contraposição à
vida urbana e social, o filósofo valorizava a
vida natural, bem como a ingenuidade da
criança e do selvagem, ainda não
contaminados.
I-Juca-Pirama
• 484 versos divididos em 10 cantos
• O título do poema é tirado da língua Tupi e significa “aquele que vai ser morto”
• O poema descreve o drama vivido por um índio tupi, sobrevivente de sua tribo, que é capturado pelos
timbiras e deve ser morto em um ritual. Porém, deve antes relatar suas façanhas, para provar que é digno
de ser sacrificado.
• O tupi revela que deixou sozinho o pai velho e cego, pedindo para ser libertado a fim de cuidar dele, que
não deve tardar a morrer. Promete voltar a ser prisioneiro depois que o pai morrer. O cacique timbira
consente em libertá-lo, mas sem a promessa de voltar por não querer “com carne vil enfraquecer os
fortes”.
I-Juca-Pirama
• Liberto, o guerreiro tupi volta ao local onde deixara o pai. Pelo cheiro das tintas no corpo do filho, o pai
percebe que ele fora preso e libertado, o que contraria a ética indígena. Com indignação, o pai exige que
voltem ambos à tribo dos timbiras.
• Chegando lá, o filho é amaldiçoado pelo pai, pois teria chorado em presença dos inimigos, desonrando os
tupis. Para provar sua coragem, o filho se lança em combate contra toda a tribo timbira. O barulho da
disputa faz o pai perceber que o filho lutava bravamente. O chefe timbira, então, pede-lhe que pare, pois
já tinha provado seu valor. Pai e filho se abraçam, reconciliados, pois a honra tupi fora restaurada. A
história é contada por um velho índio timbira, como uma recordação.
I-Juca-Pirama – Canto IV
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Já vi cruas brigas,
De tribos imigas,
E as duras fadigas
Da guerra provei;
Nas ondas mendaces
Senti pelas faces
Os silvos fugaces
Dos ventos que amei.
I-Juca-Pirama - Canto IV
Andei longes terras
Lidei cruas guerras,
Vaguei pelas serras
Dos vis Aimorés;
Vi lutas de bravos,
Vi fortes - escravos!
De estranhos ignavos
Calcados aos pés.
E os campos talados,
E os arcos quebrados,
E os piagas coitados
Já sem maracás;
E os meigos cantores,
Servindo a senhores,
Que vinham traidores,
Com mostras de paz.
Ao velho coitado
De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Que resta? – Morrer.
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
Deixai-me viver!
I-Juca-Pirama – Canto
IV
Aos golpes do imigo,
Meu último amigo,
Sem lar, sem abrigo
Caiu junto a mi!
Com plácido rosto,
Sereno e composto,
O acerbo desgosto
Comigo sofri.
O velho no entanto
Sofrendo já tanto
De fome e quebranto,
Só qu’ria morrer!
Não mais me contenho,
Nas matas me embrenho,
Das frechas que tenho
Me quero valer.
I-Juca-Pirama - Canto IV
Então, forasteiro,
Caí prisioneiro
De um troço guerreiro
Com que me encontrei:
O cru dessossego
Do pai fraco e cego,
Enquanto não chego
Qual seja, - dizei!
• 2) Na 6ª estrofe do canto IV, o prisioneiro faz um pedido aos inimigos: " Deixai-me viver! ".
• a) Que motivos alega, na 10ª e na 11ª estrofes, para que o deixem vivo?
• b) Identifique na última estrofe os versos em que o prisioneiro propõe um acordo. Qual é esse acordo?
• 3) Seguindo os modelos do Romantismo europeu e a atração pelo medievalismo, nossos escritores encontraram no
índio brasileiro o representante mais direto de nosso passado medieval - único habitante nestas terras antes do
Descobrimento. Além disso, vivendo distante da civilização, nosso índio correspondia plenamente à concepção
idealizada do " bom selvagem ", defendida por Rousseau. Observe o comportamento do índio tupi e indique:
• a) uma característica dele que se assemelhe às do cavaleiro medieval;
• b) uma atitude dele que reforce o mito do " bom selvagem".