1 Figuras de Linguagem

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FIGURAS DE LINGUAGEM

William Vieira
Literatura
Drawing Hands, de M. C. Escher, 1948
FIGURAS DE LINGUAGEM
Figuras de linguagem, também chamadas figuras de estilo,
são recursos especiais de que se vale quem fala ou escreve,
para comunicar à expressão mais força e colorido,
intensidade e beleza.

• O estudo das figuras de linguagem faz parte da estilística,


parte dos estudos da linguagem que se preocupa com o
estilo.
As mais importantes são:
1. Metáfora 13. Zeugma
2. Comparação 14. Polissíndeto
3. Alegoria 15. Assíndeto
4. Catacrese 16. Hipérbole
5. Metonímia 17. Eufemismo
6. Antonomásia 18. Antítese
7. Perífrase 19. Paradoxo
8. Pleonasmo 20. Ironia
9. Hipérbato 21. Prosopopeia
10. Anacoluto 22. Gradação
11. Silepse 23. Sinestesia
12. Elipse 24. Apóstrofe
1. Metáfora

É uma comparação subentendida, ou seja, o sentido


gramatical não é explícito.

• O pavão é um arco-íris de plumas.


• (Isto é, o pavão, com sua cauda armada em forma de leque
multicolorido, é como um arco-íris de plumas).

• A vida é uma cartola de mágico.


• No calor da discussão, trocaram ofensas.
• A vida é uma nuvem que voa.
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

A Rosa de Hiroshima
Vinícius de Moraes
O amor é um grande laço
Um passo pr'uma armadilha
Um lobo correndo em círculos
Pra alimentar a matilha

Faltando um Pedaço
Djavan
2. Comparação ou Símile

Trata-se de uma comparação explícita, ao contrário do que


ocorre na metáfora, na qual a comparação é implícita.

• Tempo é como dinheiro.


• A criança é tal qual uma plantinha delicada: precisa de
amor e proteção.

Observação

• Seus olhos são diamantes brilhantes (metáfora).


• Seus olhos são como diamantes brilhantes (comparação).

• Observe que na comparação, os dois termos vêm


expressos e unidos por sentidos comparativos (como, tal,
qual, assim como, etc.).
3. Alegoria

Caracteriza-se pelo conjunto simbólico criado para transmitir


um segundo sentido além do sentido literal.

Observação: alegoria e metáfora

• A metáfora é usada mais pontualmente, se referindo a


termos isolados. A alegoria ocorre na totalidade do texto.
a) Literatura:
A barca como alegoria.
A trilogia indianista de José de Alencar:
• O Guarani.
• Iracema.
• Ubirajara.

• “Esta trilogia se constitui como uma alegoria da origem


do que seria o povo e a nação brasileira, por meio do
encontro do colonizador português com os nativos da
nova terra”.

Eduardo Vieira Martins


professor de Teoria Literária da USP.
b) Arte:

São Francisco em Oração


Caravaggio
4. Catacrese

Caracteriza-se pela palavra ou expressão usada com seu


significado original transposto ou adulterado:

• Embarcar num trem (embarcar = tomar barca).


• Folhas do caderno.
• Dente de alho.
5. Metonímia

É a substituição de uma palavra por outra que mantém


alguma relação de sentido com a anterior. Pode ocorrer
de vários modos:

a) O autor pela obra.


• Ler Jorge Amado, adorar Machado de Assis.

b) A causa pelo efeito, ou vice-versa.


• Os aviões semeavam a morte. (= bombas mortíferas)
(as bombas= a causa; a morte= o efeito).
c) O continente pelo conteúdo:
• A terra inteira chorou sua morte. (= os habitantes da terra).

d) O instrumento pela pessoa que o utiliza:


• Ele é um bom garfo. (= comedor, comilão, glutão).

e) O abstrato pelo concreto:


• A mocidade é entusiasta. (mocidade= moços).

f) A parte pelo todo:


• Ele não tinha teto onde se abrigasse. (teto = casa).
6. Antonomásia

Toda substituição de um nome por outro, ou por uma


expressão que facilmente o identifique.

• O Mestre (algum líder espiritual).


• O rei das selvas (leão).
• O Fenômeno é o maior artilheiro da história dos Mundiais.
7. Perífrase

É a figura que consiste em exprimir por várias palavras


aquilo que se diria em poucas ou em uma palavra.

• A pátria de Voltaire está em guerra.


• (A Franca está em guerra).

• O oxigênio do globo terrestre está terminando.


• (O oxigênio da Terra está terminando).

A perífrase e utilizada sobretudo quando se quer evitar a


repetição de um mesmo termo na mensagem.
8. Pleonasmo

É o emprego de palavras ou expressões de significado


semelhante, com a finalidade de reforçar uma ideia.

• Foi o que vi com os meus próprios olhos.


• Perdoe-me pelo divino amor de Deus!

Eis um exemplo de pleonasmo vicioso:


• A monocultura exclusiva de cana parece prejudicar o solo.
(Monocultura já significa cultura exclusiva).
9. Hipérbato ou inversão

Alteração da ordem direta dos termos da oração.

• Felizes as meninas ficaram.

• As meninas ficaram felizes


• Ordem direta: sujeito > verbo > complemento.
10. Anacoluto

É a quebra ou interrupção do fio da frase, ficando termos


sintaticamente desligados do resto do período, sem função. O
termo sem nexo sintático coloca-se, em geral, no início da
frase para se lhe dar realce.

• Pobre, quando come frango, um dos dois está doente. (Dito


popular).
11. Silepse

Também chamada de concordância ideológica. Faz-se a


concordância com a ideia subentendida e não com a palavra
expressa. Pode referir-se ao gênero, número ou pessoa.

• Vossa Majestade será informado acerca de tudo.


• (Vossa Majestade = o rei (De gênero).

• A maioria dos boias-frias vivem na miséria. (De número)


• Os brasileiros somos otimistas. (De pessoa)
12. Elipse

É a omissão de um termo que facilmente podemos


subentender no contexto. É uma espécie de economia de
palavras.

• Na terra, tanta guerra, tanto engano.


• (Elipse do verbo haver).

• Casa de ferreiro, espeto de pau.


13. Zeugma
A zeugma é um tipo de elipse. Porém, sua diferença consiste
na omissão de um termo que já apareceu explicitamente em
um momento anterior no enunciado.

• O inocente foi, preso; o culpado, solto.


• (Subentende-se o segundo “foi”).

• As mãos eram pequenas e os dedos, finos e delicados.


• (Subentende-se o segundo “eram”).
14. Polissíndeto
Ocorre quando há a repetição intencional da conjunção para
dar ênfase a informação.

• E canta e ri e chora e se desespera.


• Não havia ricos, nem pobres, nem furtos, nem injustiças.
• E o menino resmunga, e chora, e esperneia, e grita, e
maltrata, e abusa de toda a nossa paciência!
15. Assíndeto

Consiste na omissão da conjunção.

• Canta, ri, chora, desespera-se.


• Não sopra o vento; não gemem as vagas; não murmuram
os rios.
16. Hipérbole

Consiste no exagero proposital das coisas, atribuindo-lhes


proporções ou intensidade fora do normal, quer no sentido
positivo, quer no negativo.

• Já lhe disse isso um milhão de vezes!

• Por você eu dançaria tango no teto,


Eu limparia os trilhos do metrô,
Eu iria a pé do Rio a Salvador... (Frejat)
Shampoo para cabelos fortes
17. Eufemismo

Suavização de termos que indicam algo desagradável,


sofrido.

• Não chorem! Que não morreu!


Era um anjinho do céu
Que um outro anjinho chamou!
Era uma luz peregrina,
Era uma estrela divina
Que ao firmamento voou!
Álvares de Azevedo
18. Antítese

É a aproximação de palavras ou expressões de sentidos


opostos. O contraste que se estabelece serve para dar uma
ênfase aos conceitos envolvidos.

• Do riso se fez o pranto.


• Hoje fez sol, ontem, porém, choveu muito.
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?


Se formosa a luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na luz, falta a firmeza;


Na formosura, não se dê constância:
E na alegria, sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,


Pois tem qualquer dos bens por natureza,
A firmeza somente na inconstância.
19. Paradoxo ou oxímoro

Trata-se de uma figura em que se relacionam duas palavras


antônimas, com a finalidade de tentar conciliar conceitos
contraditórios, pensamentos que se excluem mutuamente.

• Amor e fogo que arde sem se ver


E ferida que dói e não se sente
E um contentamento descontente
E dor que desatina sem doer.
Luís Vaz de Camões
20. Ironia

É a figura pela qual dizemos o contrário do que pensamos,


quase sempre com intenção sarcástica.

• Fizeste um excelente serviço!


• (Para dizer: um serviço péssimo).

• Que bonito, Mariana, quebrou as taças da mamãe!


• Que tal falar mais alto para os vizinhos também
participarem na nossa conversa?
21. Prosopopeia ou personificação

Consiste em atribuir vida ou qualidades humanas a seres


inanimados, irracionais, mortos ou abstratos.

• As árvores choram a destruição.


• O dia acordou feliz e o sol sorria para mim.
• O vento assobiava esta manhã.
• Eram cinco horas da manhã e o
cortiço acordava [...]. Um acordar
alegre e farto de quem dormiu de
uma assentada sete horas de
chumbo”.
(O Cortiço, de Aluísio de Azevedo).
22. Gradação

É uma sequência de ideias dispostas em sentido ascendente


ou descendente.

• ... a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar, agride-o e


estonteia-o. (Euclides da Cunha)

• A gradação não se confunde com a simples enumeração,


que não e uma figura. Na enumeração, não ocorre a ideia
de ascendente ou descendente.
23. Sinestesia

É a transferência de percepções da esfera de um sentido


para a de outro, do que resulta uma fusão de impressões
sensoriais de grande poder sugestivo.

• Sua voz doce e aveludada era uma carícia em meus


ouvidos.

• voz: sensação auditiva;


• doce: sensação gustativa;
• aveludada: sensação tátil.
24. Apóstrofe

É caracterizada pelas expressões que envolvem invocações,


chamamentos e interpelações de um interlocutor (seres reais
ou não). Por esse motivo, o apóstrofe exerce a função
sintática de vocativo.

• Senhor Deus dos desgraçados!


Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Navio Negreiro, de Castro Alves
1. (ENEM-2004)
Nessa tirinha, a personagem faz referência a uma das mais
conhecidas figuras de linguagem para

a) Condenar a prática de exercícios físicos.


b) Valorizar aspectos da vida moderna.
c) Desestimular o uso das bicicletas.
d) Caracterizar o diálogo entre gerações.
e) Criticar a falta de perspectiva do pai.
2. (ENEM-2004)

Cidade grande
Que beleza, Montes Claros.
Como cresceu Montes Claros.
Quanta indústria em Montes Claros.
Montes Claros cresceu tanto,
ficou urbe tão notória,
prima-rica do Rio de Janeiro,
que já tem cinco favelas
por enquanto, e mais promete.
(Carlos Drummond de Andrade)
Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a

a) Metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à


própria linguagem.
b) Intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora outros
textos.
c) Ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa,
com intenção crítica.
d) Denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu
sentido próprio e objetivo.
e) Prosopopeia, que consiste em personificar coisas inanimadas,
atribuindo-lhes vida.
GABARITO
•1-e
•2-c

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