Da Foraclusao Aos Fenomenos Elementares Aula Claudia Hensel

Fazer download em pptx, pdf ou txt
Fazer download em pptx, pdf ou txt
Você está na página 1de 107

LAPSICON-UFF/ LAPEHS – UFRJ

DA FORACLUSÃO AOS FENÔMENOS


ELEMENTARES

Prof. Cláudia Henschel de Lima


Professora Associada III. Universidade Federal
Fluminense. Campus de Volta Redonda.
Professora Permanente - Programa de Pós-Graduação em
Psicologia – UFRJ e PROFIAP/UFF.
A fórmula do desencadeamento da neurose segundo Freud
[As neuropsicoses de defesa (1894)]

Núcleo do mecanismo psíquico das neuropsicoses: Defesa

1. Ênfase: Causalidade psíquica (processo psíquico de


defesa).
2. Defesa: no centro da dinâmica entre representação
psíquica e afeto.
3. Recalcamento: processo único de defesa na etiologia
das neuropsicoses de defesa (neurose e psicose).
defesa
CONJUNTURAS DE DESENCADEAMENTO FATORES ESTRUTURAIS:

NEUROSE RECALCAMENTO SINTOMAS

PSICOSE FORACLUSÃO FENÔMENOS


ELEMENTARES
RECALCAMENTO E FORACLUSÃO COMO PROCESSOS
CONSTITUTIVOS DO PSIQUISMO

 Na neurose: A defesa (em 1915: o recalcamento) separa a representação


psíquica e o afeto. O afeto pode:
 Se converter a uma parte do corpo - conversão histérica.
 Investir em outras representações psíquicas, aparentemente distantes da
representação psíquica original - representações obsessivas.

 Na psicose: Ocorre a rejeição da representação e do afeto com


desconhecimento quanto à ocorrência da representação
Em que ponto localizamos o desencadeamento? Dois
extremos das estruturas
Nas neuroses: no ponto em que o psiquismo passa a usar excessivamente os
processos de defesa.

Razão disso: Uma conjuntura de desencadeamento coloca uma pergunta para o


sujeito: quem eu sou para o outro? Que valor/lugar tenho neste mundo? – a
organização sintomática já não responde mais exigindo um trabalho mais intenso
do psiquismo na mobilização de defesas para preservar a resposta sintomática e a
regulação pulsional.
Ex: caso Elisabeth Von Ritter.
Resolução sintomática para as pulsões: ser a filha de seu pai.
Morte da irmã: mostra o limite da resposta sintomática e a emergência do sintoma
conversivo.

Nas psicoses: Uma conjuntura de desencadeamento coloca o sujeito diante da


certeza de que o outro quer seu mal - a certeza e a desconfiança em relação ao
outro tendem a aumentar até a eclosão dos fenômenos elementares.
Processo de rejeição (foraclusão) na psicose e recalcamento
primário na neurose

 Processos que se referem à fundação do psiquismo – ainda tomado por uma


condição de funcionamento autoerótico, ou seja, com as pulsões parciais
atuando isoladamente no corpo e dominando a relação da criança com a
realidade - duram em torno de 18 meses.

 Atuam sobre o funcionamento pulsional.

 Hegemônicos na constituição da separação entre dentro (psiquismo, a


subjetividade) e fora (realidade, os outros) e na regulação pulsional e na
dinâmica da relação com o pensamento.

 Essa distinção não se dá por meio de um processo de maturação neural, em


si. Mas pela antecipação desse processo maturacional por meio das
condições materiais da linguagem.
Dois modelos (articulados) de formalização da constituição do
psiquismo (em Lacan)

IMAGINÁRIO SIMBÓLICO
Da psicose paranóica em suas relações com Função e Campo da Fala e da Linguagem em
a personalidade (1932/1987) Psicanálise (1953).
Formulações sobre a causalidade psíquica O Seminário. Livro 2:O Eu na Teoria e na
(1946/1998). Técnica da Psicanálise (1954-1955).
O estádio do espelho como formador da O Seminário. Livro 3: As Psicoses (1955-
função do eu (1949/1998). 1956).
Introdução teórica às funções da Seminário sobre A Carta Roubada (1956).
psicanálise em criminologia (1950/1998).
O Seminário. Livro 1. Os Escritos Técnicos A Instância da Letra no Inconsciente ou a
de Freud (1953-1954/1983). Razão desde Freud (1957).
De uma Questão Preliminar a todo
Tratamento Possível da Psicose (1957-1958).
O tema da imagem especular é introduzido por Lacan com o caso Aimée
(1932).

Diagnóstico de Margueritte Anzieu (Aimée): paranóia de autopunição.

O caso, evidencia que o sujeito paranóico pode desdobrar-se especularmente


e mesmo falar com o seu duplo.

Este fato pode ser demonstrado pela tendência, não rara nesses casos, de o
paranóico quebrar vidraças e espelhos, na medida em que estes lhe mostram o
duplo do seu eu, sem a mediação do simbólico.
HUGUETTE DUFLOS
MARGUERITTE ANZIEU
Um dia, enquanto eu trabalhava no escritório, sempre
procurando em mim de onde poderiam vir estas ameaças
contra meu filho, ouvi uma de minhas colegas falar de
Madame Z, Huguette-Duflos. Compreendi que era ela quem
estava contra mim. Eu falara mal dela. Todos a
consideravam distinta, de classe. Eu protestara dizendo
que era uma puta. Era por isto que ela devia me querer
mal.
(Jacques Lacan. Da psicose paranóica em suas relações com a personalidade. Rio
de Janeiro, Forense-Universitária)
Mme Huguette ex-Duflos, la grande actrice classée première à
notre Concours des Vedettes, a été blessée par une démente

Le Petit Journal Illustré


n°2106
3 mai 1931
Une des plus grandes actrices du théâtre et du cinéma français,
Mlle Huguette ex. Duflos que mes lecteurs ont classé première
de notre référendum, Concours des vedettes de cinéma, a été
victime il y a quelques jours d'une folle.
Elle se rendait au théâtre Saint-Georges où elle joue
actuellement lorsqu'elle fut abordée par une femme
correctement vêtue qui lui demanda :
- C'est bien vous, Huguette ex. Duflos?
La question fut posée avec un tel ton de menace que l'artiste,
après avoir répondu affirmativement voulut pénétrer rapidement
dans le théâtre. Comme elle en franchissait le seuil, l'inconnue
l'arrêta par le bras et lui dit :
- Ah! il y a assez longtemps que vous me faites souffrir!
Comme Mme Huguette ex. Duflos tentait de se dégager, la
femme, furieuse, brandit un couteau qu'elle avait, ouvert dans
son sac, et frappa. L'artiste para de la main droite et fut
profondément blessée à la base de l'auriculaire.
A cet instant l'énergumène fut maîtrisée par le personnel du
théâtre et par le chauffeur de l'artiste. Au commissariat où elle
fut conduite, on s'aperçut bientôt qu'on avait affaire à une
démente.

Tous nos lecteurs apprendront avec joie que Mlle Huguette ex.
Duflos est en bonne voie de guérison.
Conjunturas de desencadeamento (mudanças da situação vital do
paciente) em Da Psicose paranoica em suas Relações com a
personalidade (1932/1987).

A mudança da posição social.

Aposentadoria.

Casamento.

Divórcio.

Perda dos pais e de entes queridos.

Gravidez.

Nascimento dos filhos.


Conjuntura da gestação do primeiro filho e o desencadeamento das
interpretações delirantes em Aimée.

1. As conversas dos colegas de trabalho parecem visá-la diretamente: criticam seus atos,
caluniam sua conduta e anunciam infelicidades terríveis para ela.
2. Na rua pessoas, que ela jamais conhecera, passam por ela e cochicham contra seu modo
de viver, desprezando-a.
3. Nos jornais, reconhece alusões diretas e dirigidas contra ela: são acusações que vão se
tornando cada vez mais claras e cuja intenção é provocar a morte do bebê que está
gestando. Lacan (1932/1987p. 155-156) localiza aqui, frases que Aimée disse para si
mesma: Por que fazem isso comigo? Eles querem a morte de meu filho. E esta criança não
viver, eles serão responsáveis.
4. Seu sono é perturbado por pesadelos com caixões e equivalem a alucinações. Os estados
afetivos do sonho se misturam às perseguições diurnas.
5. Torna-se violenta e agressiva, assustando as pessoas que a cercam: um dia, armada com
uma faca, fura os pneus da bicicleta de um colega, atira um vaso d’água e depois um
ferro de passar roupa no marido.
Alguns testemunhos de Aimée, extraídos do laudo dessa primeira internação após o
nascimento do segundo filho.

1. “Não pensem que eu tenha inveja das mulheres que não dão o que falar delas, das
princesas que não sentiram a covardia na pele e não sabem o que é uma afronta”.
2. “Há pessoas que constroem currais para melhor me tomarem por uma vaca leiteira”.
3. “Há também coisas muito vis e remotas sobre mim que são verdadeiras, verdadeiras,
verdadeiras, mas a planície está a favor do vento”.
4. “Há também comentários de comadres de casas de Tolerância e certo
estabelecimento público”.
5. “É por esta razão que eu não respondo ao Sr. X, o cavaleiro da Natureza, e também por
uma outra”.
6. “Antes de mais nada que querem de mim? Que eu construa para vocês grandes frases,
que eu me permita ler com vocês este cântico: Ouçam do alto do céu, o grito da pátria,
católicos e franceses sempre”.
Índices diagnósticos à serem observados para o diagnóstico de paranoia, com
base no caso Aimée

Os perseguidores personificam um ideal de malignidade contra a qual sua necessidade de


agressão vai se expandindo, crescendo.
A representação de si mesmo personifica um ideal de pureza e devotamento, totalmente
oposto ao ideal de malignidade dos perseguidores.
O sujeito paranoico é objeto das investidas do perseguidor: é uma vítima eleita.
Falta um termo entre o ser do sujeito e a imagem ideal, o Édipo, como condição do
sentimento de realidade.
Neutralização da categoria sexual em que o sujeito paranoico se identifica. Isso explica o
caráter platônico da erotomania e da prevalência de amizades femininas no caso de
mulheres paranoicas.
A história do sujeito paranoico é constituída por uma luta para realizar uma vida comum, ter
deveres familiares ou posições sociais.
A intervenção de um terceiro estirpa, do sujeito paranoico, suas posições sociais ou
deveres familiares.
Emergência do fenômeno do delírio paranoico.
O sujeito paranoico realiza com sua conduta, com seu ato, o próprio mal que denuncia.
O Estádio do Espelho

O estádio do espelho como formador da função do eu


(1949/1998).

Freud: Sobre o Narcisismo: Uma Introdução (1914) – a


constituição do eu como projeção de imagem.

Estádio do Espelho e Narcisismo


O estádio do espelho é uma releitura freudiana do narcisismo.
Freud (1914) já acentuara a relevância do outro na constituição do eu. É
conhecida a fórmula do narcisismo, em Freud, de que se trata de uma
projeção do Ideal do eu, dos pais, sobre a criança.
À que se refere o modelo do Imaginário para a
investigação acerca da constituição do Eu?

 À simbolização primordial: inscrição do significante no


psiquismo por meio da identificação ao outro.

 A organização das pulsões autoeróticas em torno do eu e


diferenciação da realidade.
Dois tempos teóricos de construção do Esquema L (Lacan, 1956/1998).
O Seminário. Livro 2 (1954-1955)
O seminário sobre “A carta roubada”. (1956/1998).

Avanço e simplificação do estádio do espelho


O Esquema L – Imaginário

[Pulsões (regime
autoerótico)] /
Sujeito Cuidadores

Linguagem/
simbólico
Esquema L.
Formalização da constituição do eu por meio da alienação ao outro.

1. A experiência do corpo fragmentado no


Id (Es) - autoerotismo.
Se transforma pela:
2. Relação com o outro (a’).
3. Constituindo uma projeção de imagem
(eu) em uma unidade totalizante (a).

Presença da estrutura da linguagem (A):


essa estrutura, por meio dos significantes,
ordenam a constituição do eu.
O que o Esquema L formaliza sobre as características estruturais da
psicose e seu desencadeamento:

1. Permite formalizar que a característica estrutural da psicose: regressão ao


estádio do espelho, com todos os traços característicos: despedaçamento
corporal e hegemonia do transitivismo.

2. Permite formalizar o efeito do desencadeamento: despedaçamento corporal e


fenômenos hipocondríacos

Considerando Schreber como exemplo: experiência de ser um desperdício, um


cadáver leproso que carrega outro cadáver leproso.
Onde situar a foraclusão no Esquema L?

Esquema L - Oposição entre:


Fenômenos do imaginário
(Transitivismo)
e
Fenômenos do simbólico
(Eixo do inconsciente - metáfora e metonímia, formações do inconsciente).

Indica o desconhecimento, por parte do eu, com relação a cadeia de


significantes que o constituem.
Avanço da lógica do significante: Lacan introduz na compreensão da
constituição do eu, a anterioridade da estrutura da linguagem.
O que o Esquema L formaliza:

1. Tudo o que ocorre no nível do eu e em sua relação com a


realidade, depende do significante.
2. Como, para além do eu, dessa projeção de imagem, situa-se o
inconsciente, o sujeito determinado pela linguagem.

Consideremos, ainda, um segundo esquema, para visualizarmos a


determinação do sujeito pelo significante:
S1 S2
S
A determinação do sujeito pela linguagem

O significante está presente desde cedo para o ser humano, e


presente em todas as dimensões da vida humana.

“(...) o símbolo já está ali, imenso, englobando-o por toda a parte, de


que a linguagem existe, enche bibliotecas, transborda, rodeia todas
as suas ações, guia-as, suscita-as, de que vocês estão engajados,
que ela pode solicitá-los insistentemente a todo o momento para que
vocês se desloquem e sejam levados a alguma parte. Tudo isso
vocês esquecem diante da criança que está se introduzindo na
dimensão simbólica. Portanto, coloquemo-nos no nível da existência
do símbolo como tal, enquanto nós estamos aí, imersos.”
(Lacan, 1955-1956/1986, p. 98).
O funcionamento da linguagem na psicose

Permite que observemos as consequências mais dramáticas da foraclusão, ou


seja, de uma relação com a linguagem em que o significante retorna como se
viesse de fora:

Fatores estruturais – modo de transmissão da linguagem. E não é algo estanque:


trata-se da operatividade da linguagem.

Referências:
 Declínio da imago paterna (Lacan, J. Complexos Familiares ]1938]. In: Lacan, J. Outros
Escritos)
 Foraclusão do Nome-do-Pai (Lacan, J. O Seminário. Livro 3. As Psicoses [1955-1956])
 Evaporação do Nome-do-Pai (Lacan, J. O Seminário. Livro 16. De um Outro ao outro
[1968-1969])
Formas de sofrimento psíquico a partir do funcionamento da imago paterna
(Lacan, 1938)

COMPLEXOS DEFINIÇÃO PERTURBAÇÃO SINTOMA

Complexo de A imago materna é dominante e Fixação no Complexo do 1. Greve de fome da anorexia.


Desmame necessária para a sobrevivência da Desmame –
(seis primeiros criança ainda em experiência de Presença excessiva ou 2.Envenenamento lento de
meses de vida) despedaçamento corporal e sua ausência da mãe certas toxicomanias orais.
angústia correspondente.
3. Neuroses gástricas.

4.Suicídios não violentos.

Complexo de A imago do semelhante é dominante Fixação no Complexo de 1. Psicoses.


Intrusão oferecendo a imagem unificadora das Intrusão –
(de 6 a 18 pulsões em torno do eu. Trata-se, Captura narcísica 2.Delírio a dois.
meses) neste momento da formação do eu
ideal e se apresenta como a solução 3.Hipocondria.
do Complexo do Desmame.

Complexo de A imago paterna é dominante Declínio da imago paterna 1.Neurose obsessiva


Édipo 2.Histeria
(a partir de
18 meses) Neuroses contemporâneas:
Falência paterna neurose de fracasso, neurose
A Metáfora Paterna (Lacan, 1955-1956)

Legenda:
NP – Significante que ordena o mundo e as grandes questões da existência humana.
DM – Desejo da mãe. Representa a ligação imaginária do sujeito com o outro.
X – A significação desconhecida que o DM assume para o sujeito.
A – O lugar dos significantes.
Falo (Φ) – É o significante da vida, do sentimento de vida. É o que permite ao sujeito se
identificar com seu ser vivente. Φ localiza, para o sujeito, o que ele é para o Outro em sua
condição de vivente, bem como a unificação das pulsões.
A/Falo – A significação fálica (-φ).
Valor que Lacan concede à ação do significante específico do NP.

Regular o impacto imaginário que o significante tem incialmente sobre o sujeito e


representado na fórmula pelo DM, inscrevendo o sujeito na ordem simbólica e
constituindo a significação fálica, que confere ao sujeito um lugar no Outro.

O NP é denominado de metáfora paterna: devido a sua função de substituto do DM. Seu


resultado é a significação fálica, que pode ser escrita da seguinte forma:

X=(-φ)

Foraclusão: Incide diretamente sobre o significante do NP produzindo um buraco no


funcionamento remissivo da cadeia significante
NP=0

E com resultado na constituição da significação fálica, de modo que verificamos também


um buraco relativo a falência da significação fálica:

Ф=0
A Metáfora Paterna

Substituição do DM pelo NP Constituição do sujeito com


significação fálica
(valor que o ser humano tem para o
outro/lugar que o ser humano tem no
campo da linguagem)
A Metáfora Paterna

1. A redução do pai ao significante, à um significante incluído no tesouro dos


significantes (o grande Outro - A) separando a psicanálise de uma psicologia do
desenvolvimento que ressaltaria a importância da figura do pai e da mãe na
formação do psiquismo. Os novos termos são:
 Significante do Nome-do-Pai.
 Desejo materno.
 Falo.
 A significação desconhecida que o DM assume para o sujeito.

2. A dependência da constituição do sujeito em relação ao que ocorre no


funcionamento do Outro.

3. A dependência da constituição da neurose e da psicose em relação ao que


ocorre no funcionamento do Outro.
O CONCEITO DE FORACLUSÃO

O recurso à linguística estrutural permitiu à Lacan (1955‐


56/1988) avançar um pouco mais nesta formulação e sustentar a
hipótese freudiana a partir de outros termos: a constituição da
estrutura psíquica depende da ação de um significante
primordial sobre a pulsão (o Um do gozo).
Esse significante primordial será denominado de Nome-do-Pai
(NP).

NP – significante que ordena o mundo e as grandes questões da


existência humana:

A relação entre os sexos Se referem a pulsão –


sem representação psíquica.
A vida e a morte
NOME-DO-PAI E ESTRUTURAS PSÍQUICAS

Inscrição do significante no inconsciente pelo consentimento à


linguagem, à ação do NP – formação do sintoma Neurose.

Supressão do NP – desencadeamento com eclosão dos fenômenos


elementares Psicose.

Exemplo princeps do desmoronamento psicótico, do


desencadeamento: Caso Schreber, Aimée.
COMO OCORRE A FORACLUSÃO?
Fórmula do Inconsciente:

S1 S2
S a

Na Foraclusão:
Ausência de referente –vazio de
Tempo lógico 1. S1 0significação
S0 a-a’

Tempo lógico 2. S1 - OPERADOR DE


PERPLEXIDADE
S0 - PERPLEXIDADE
É necessário dar um passo à frente para que aquilo que substitui ou ocupa o
lugar do desejo do Outro materno passe a funcionar como um significante
"plenamente desenvolvido" [...] A substituição subentendida pela metáfora
paterna somente se torna possível pela linguagem e é, portanto, somente na
medida em que um "segundo" significante, S2, for instalado (o Nome-do-Pai,
no início, e depois mais amplamente o significante do desejo do Outro) que o
desejo da mãe é retroativamente simbolizado ou transformado em um
"primeiro" significante (S1).

(Fink, O sujeito e o desejo do Outro. In B. Fink, O sujeito lacaniano: entre a linguagem e o gozo
1998, p. 80)
O CONCEITO DE FORACLUSÃO
Seminário sobre as Psicoses (1955-1956/1988): Lacan não justifica o emprego do
conceito:
(...) após haver refletido bem, lhes proponho adotar definitivamente esta tradução que,
creio, ser a melhor: a foraclusão (Lacan,1955-1956/1988, p. 456).

Maleval, (2002): em seu estudo sobre o conceito de foraclusão oferece uma pista
importante. Esta gira em torno de outro conceito: o Nome-do-Pai – que designa o que,
no significante, encarna a lei.

Dessa forma, Maleval (2002) explica que Lacan adotou um termo mais específico do
que o termo de rejeição.

A foraclusão, em sua significação jurídica permite esclarecer o processo de lesão no


tesouro dos significantes ocorrido na psicose: ali o significante não foi recalcado, mas
foracluído de modo que, o retorno deste significante não ocorre a partir das formações
do inconsciente, mas como se viesse de fora.
COMO OCORRE A FORACLUSÃO?
O que se passa se uma certa falta se produziu na função formadora do pai?
(Lacan. O Seminario. Livro 3. As Psicoses)

Na Foraclusão:

1. S1 0
S0 a-a’

2. S1 - OPERADOR DE PERPLEXIDADE
S0 - PERPLEXIDADE E VAZIO DE SIGNIFICAÇÃO
COMO OCORRE A FORACLUSÃO?

Metáfora impotente
S1 - OPERADOR DE PERPLEXIDADE Metonímia imóvel

S0 - POSÍÇÃO SUBJETIVA DE PERPLEXIDADE E VAZIO DE SIGNIFICAÇÃO - TREMA

Há, sempre, um significante implícito ao fenômeno elementar e que


funciona segundo dois princípios:

Metáfora impotente: Fixação absoluta em um único significante.

Metonímia imóvel: Estado de confusão difusa.


TREMA (Klaus Konrad):

Marca o início da esquizofrenia. Há uma elevação da tensão


psíquica que se expressa no sujeito, sob a forma de uma
sensação de que algo vai lhe acontecer (algo de grave vai lhe
acontecer, ainda que ele ainda não saiba o quê).

Miller (1995): trema = operador de perplexidade.

O paciente se encontra preso no interior de um sistema sem


transcendência, fora do espaço intersubjetivo, como se algo se
revelasse à ele e à mais ninguém.
Características do trema

Estreitamento do campo perceptivo: a experiência subjetiva é de que o mundo está


repleto de barreiras intransponíveis, como uma cela sem grandes possibilidades de
fuga. O sujeito experiencia a perda da liberdade: ele não pode se movimentar devido as
barreiras, ele se sente rejeitado nesse mundo de celas, e que é o seu mundo, sem poder
se comunicar com as pessoas, separado delas por um abismo crescente. A relação
figura-fundo se enrijece progressivamente, porque o fundo experiencial invade o campo
perceptivo e passa a ocupar a figura.
A tensão do campo perceptivo pode pressionar o sujeito a tentar ultrapassar essas
barreiras gerando condutas sem sentido, alterações do comportamento, reações
inadequadas a realidade exterior.
Ocorrência de manifestações somáticas: cefaleia, palpitação, dor pré-cordial, astenia
Ocorrência de letargia e sintomas depressivos.
Ocorrência da desconfiança, sendo difícil perceber os limites entre desconfiança
normal e patológica.
A evolução do trema produz o humor delirante (uma alteração sutil na vivência do
sujeito em relação a tudo o que o cerca - há algo no ar, acontece qualquer coisa, mas
O trema pode ser experienciado como:

A. Pressão ou tensão, inquietação, angústia, às vezes também como animação,


alegria, como acontece na esperança.
B. Culpa ou condenação, como se estivessem a espera de um castigo, como se
o paciente tivesse cometido um crime.
C. Inibição, falta de vontade e de esperança: aqui se confunde com o
diagnóstico de depressão, sobretudo se tivermos em linha de conta o risco de
suicídio.
D. Atmosfera de desconfiança: o paciente enfrenta o mundo inimigo que o
rodeia.
O Trema pode durar de dias a vários anos. No entanto, ao
desaparecer, surge aquilo que já vinha sendo anunciado pela
tensão crescente: o delírio.

Condutas sem sentido, alterações do comportamento, reações


inadequadas a realidade exterior.

Fase da Apofania: resolução


O CONCEITO DE FORACLUSÃO (1955-56/ 1957-58)

Traduz o abismo que existe entre neurose e psicose, ou seja, a estrutura


neurótica é incomparável à estrutura psicótica.

Define a clínica do desencadeamento: assinala o momento em que


identificações imaginárias, por exemplo, não são mais operatórias.

Revoluciona a compreensão do que a tradição clássica francesa denominava


de bouffés delirantes (irrupção do quadro agudo de psicose)

DESENCADEAMENTO FENÔMENOS ELEMENTARES

Posiciona o sujeito sob o status da foraclusão.


Fórmula do desencadeamento:

Não há dúvida de que a figura do prof. Flechsig, em sua gravidade de


pesquisador (...) não ter conseguido suprir o vazio subitamente
vislumbrado da verwerfung inaugural (Lacan, 1955-56/ 1988, p.219)

Eclosão do vazio de significação e perplexidade - decorrente da


verwerfung

Modos de compensação do vazio da foraclusão do significante:


1. Identificação imaginária.
2. Delírio paranoico.
Desencadeamento:

Eclosão do vazio de significação e perplexidade

Plenitude de sentido ou significação delirante - CERTEZA


O CONCEITO DE FORACLUSÃO –
CLÍNICA DO DESENCADEAMENTO
(1955-56, 1957-58)

O sujeito pode viver muito bem no mundo, lançando mão do que melhor lhe parece:
 Bons estudos
 Boa educação
 Habilidades bem feitas
 Algumas originalidades
 Mimetismos (identificação imaginária)
 Engajamentos religiosos

E pode conviver, simultaneamente, com a manifestação de:


 Inquietudes
 Inseguranças
 Angústias Fenômenos Elementares
 Intuições
Predominância das defesas primárias na
psicose
Defesas primárias

Atuam junto com o processo de constituição, uma série de outras


defesas, que denominamos de defesas primárias: defesas
associadas a demarcação da fronteira entre o eu e a realidade (o
campo das relações sociais).

Isolacionismo extremo
Negação
Controle onipotente
Idealização e desvalorização extremas
Projeção, introjeção e identificação projetiva
Cisão do eu
Psicopatologias associadas a constituição do eu no eixo
imaginário

Traço principal: inflação dos fenômenos no imaginário.

Características narcisistas, em um extremo Psicose, em outro


extremo
Isolacionismo extremo

Associado ao funcionamento autoerótico das pulsões.

Nas neuroses: se apresentam por meio de uma mudança de estado da


consciência como meio de fuga de uma situação conflituosa para o sujeito mas
sem modificação ou deturpação da realidade.
Ex1 : a criança muito estimulada ou que está aflita pode recorrer ao sono. Nesses
casos, é uma defesa automática e autoprotetora.
Ex2: fuga de relações sociais por meio da criação de um mundo fantasioso
interno, uma espécie de teatro privado.
Nos casos de psicose: experiências de intrusão emocional dos
cuidadores/negligência ou abandono são indutoras do recurso psíquico ao
isolacionismo.
Nos casos graves de autismo: o isolacionismo aparece como recusa autista - ou
seja, ocorre a recusa de tudo o que vem do exterior com risco de isolamento, de
solidão autística extrema (Kanner, 1943)
Negação

É a recusa em aceitar que experiências dolorosas estejam acontecendo. Tem uma


relação direta com a lógica dos momentos iniciais da constituição do psiquismo
por tentar organizar a realidade a partir da centralidade do eu.
Nas neuroses: reação inicial de uma pessoa diante da perda de um objeto
amoroso, pode ser “Não, isto não está acontecendo”, ou que, diante de uma
situação grave, afirma estar tudo ótimo.

Ex. (McWilliams, N. 2014): Um casal continuava a ter filhos, mesmo após a perda
de 3 filhos por uma causa genética, que apenas pais em negação não teriam
percebido. Eles recusavam-se a lamentar a morte dos filhos, ignorando o
sofrimento de seus outros filhos saudáveis (pela perda dos irmãos), resistiam em
buscar aconselhamento genético para a situação e afirmavam que a perda dos
filhos era vontade de Deus, que sabia o que era melhor para as crianças.
Negação

Nas psicoses: o paciente pode entrar em mania porque nega suas limitações
físicas (necessidade de sono, descanso, de rotina alimentar, de regulação
financeira, de reconhecer que é mortal). Esses casos, acabam alternado com um
quadro depressivo, devido ao colapso do próprio paciente no quadro maníaco.
Controle Onipotente

É o processo de narcisismo primário, em que não há diferenciação entre o mundo


e o eu. Lacan o qualifica como transitivismo narcísico, devido a indiferenciação
entre o eu e o outro. É uma defesa caracterizada pelo sentimento de onipotência,
grandeza narcísica.
Na vida normal: Aparece na forma do sentimento de onipotência, quando se age
de acordo com a própria vontade de forma eficaz e se interpreta experiências
como se decorressem do poder do eu sem restrições. O que, também, agrega a
característica de concorrer e superar os outros. [De certa forma, é um
sentimento muito valorizado pelo neoliberalismo].
Nas psicoses: Megalomania.
Nas psicopatias (McWilliams) [antigas sociopatias]: busca do exercício do poder
com questões éticas relegadas a segundo plano.
Idealização e Desvalorização extremas

O sentimento de onipotência se transfere para os cuidadores, que passam por um processo


de idealização em que a criança pequena precisa crer que os pais podem protegê-la de todos
os perigos da vida: dos machucados, dos lugares assustadores, da própria morte. A tendência
é que haja a desvalorização dos pais como condição do processo de separação.

Traço psicopatológico: alternância brusca entre idealização e desvalorização – a idealização


é apenas uma fase brusca e anterior a desvalorização profunda.
Nas neuroses: por ex., o homem que acredita que o oncologista de sua parceria é o único
especialista em câncer capaz de curá-la, é aquele que tende a abrir uma ação judicial caso a
parceira venha a morrer.
Nas configurações narcisistas: recurso à idealização e desvalorização primitivas.
Apresentam características de reafirmação de sua fama e valor para os outros, que se
expressam pelo sentimento de que precisam aperfeiçoar o eu.

Psicoterapia: a relação transferencial é frágil e caracterizada pela alternância entre


idealização e desvalorização. Pensam que seu psicoterapeuta pode andar sobre as águas,
que é o único que detém todo o saber sobre seu caso.
Projeção, Introjeção e Identificação Projetiva

Freud (1925) definira a projeção e a introjeção, por meio dos termos, em alemão,
Ausstossung e Bejahung (em português, expulsão e afirmação). E se refere a
processos primitivos de constituição da distinção entre o eu e a realidade e de
simbolização primordial.

A projeção na vida normal: Aparece na forma da intuição, de picos de


sincronicidade não-verbal e experiências de união mística com outras pessoas
(envolvem a projeção no outro); pode, também, aparecer na forma da projeção de
conteúdos destrutivos sobre o campo da realidade podendo criar mal-entendidos
de cunho persecutório.

A introjeção na vida normal: É fundamental na constituição do psiquismo porque


se articula ao processo de identificação. Crianças pequenas tomam, para si,
atitudes, afetos de pessoas com quem se identificação (identificação ao traço
primário).

PROCESSO DIALÉTICO QUE ENVOLVE A PROJEÇÃO E A INTROJEÇÃO.


Cisão do eu

É um processo de defesa em que a realidade é ordenada segundo os valores de


bem ou mal. Nesse uso da defesa, os atores da realidade não são percebidos
como pessoas boas e más, mas como pessoas cindidas em boas ou más, boas
versus más, sem ter, na divisão ou ambivalência, instrumentos de ordenação do
mundo.
Somatização

É um processo de defesa em que estados emocionais se expressam no corpo.


A somatização ocorre quando a criança tem cuidadores que pouco auxiliam na
transmissão de ferramentas simbólicas para nomear suas emoções. Pacientes
somáticos padecem de alexitimia, ou seja, falta de palavras para expressar o
afeto, e de fragilidade na simbolização.
FENÔMENOS ELEMENTARES
Analogia entre a psicose e um cristal trincado, com linhas de
clivagem invisíveis.
(Freud, S. A Dissecção da Personalidade Psíquica, 1933/2010)

“Se lançamos um cristal ao chão, ele se quebra, mas não


arbitrariamente; ele se parte conforme suas linhas de separação, em
fragmentos cuja delimitação, embora invisível, é predeterminada
pela estrutura do cristal. Os doentes mentais são estruturas assim,
fendidas e despedaçadas”.
(Freud, 1933/2010, p. 141)
Analogia entre estrutura e cristal trincado

Um desses cristais – estrutura da psicose (um sujeito despedaçado


em seu eu)

Um traço marcante do processo psicótico: a forma como os


pacientes julgam ter se tornado objetos da observação alheia.

Externalidade subjetiva: a instância que é a nossa consciência


moral está nitidamente separada do eu e deslocada para a
realidade externa. (Freud, 1933/2010, p. 64)

Comprometimento na organização do pensamento, do sentido do eu


e da própria apreensão da realidade externa
IRRUPÇÃO DA SÍNDROME S OU DE AUTOMATISMO MENTAL

Se vocês lerem, por exemplo, o trabalho que fiz sobre· a psicose paranoica, verão
que enfatizo nele o que chamo, tomando emprestado o termo a meu mestre
Clérambault, os fenômenos elementares, e que tento demonstrar o caráter
radicalmente diferente desses fenômenos em relação ao que quer que seja que
possa ser tirado do que se chama a dedução ideica, isto é, do que é
compreensível para todo o mundo.

(Lacan, J. O Seminário. Livro 3. As Psicoses [1995-56/1988], p.29)


Gaetan de Clérambault
(1872-1934):

Desencadeamento da psicose – irrupção da Síndrome S: delírios e


alucinações são secundários em relação a Automatismo Mental

Define a experiência subjetiva, mais ampla, de sentir:

Que está sendo objeto de alusões (pensamento precedido)


Que o pensamento está sendo penetrado por ideias estranhas
(exterioridade).
Que a linguagem está sendo repetida (Eco).
Que as palavras são comentadas por outros.
Que as ações estão sendo previamente anunciadas (enunciação de atos)

São fenômenos que ressoam em seu íntimo e são sentidos como alheios à
própria subjetividade.
Eu sou angustiada pela auto-sugestão que ordena a meu coração que pare de
bater. A cada vez, sou obrigada a dar contra-ordens. É do gênero ‘pare meu
coração...eu quero que você pare...’ como vindo do exterior de mim. É uma voz
bem clara. Às vezes, é como se eu falasse e não tivesse voz.(...) – CARÁTER
XENOPÁTICO DA LINGUAGEM

(...) O apresentador da TV, eu envio para ele imagens de santos e de sexos; eu


não estava segura, mas ele ficava perturbado, eu tenho o sentimento de me
desdobrar. – EXTERIORIDADE E DESDOBRAMENTO DO PENSAMENTO.

(...) Às vezes, vejo uma mão segurando uma faca e que a enfia em meu coração;
como uma imagem transparente, que vai embora quando eu digo ‘sai Satanás’ –
EXTERIORIDADE ALUCINATÓRIA

(Tyszler, J.J. Clérambault, 2009,p.156)


LISTA DAS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DE AUTOMATISMO MENTAL (SÍNDROME S)
1. Fenômenos positivos no nível do funcionamento ideo-verbal:

 Pensamento automático: pensamentos surpreendentes sobre algum tema que não se origina no próprio sujeito (de
Clérambault, 1920a).

 Controle do pensamento: o pensamento é influenciado e dirigido por um agente externo (de Clérambault, 1920a).

 Eco de pensamento: os pensamentos são ouvidos de forma repetitiva, como vindos de fora (de Clérambault, 1920a).

 Confusão e distração devido a pensamentos indetermináveis ​(de Clérambault, 1920a).

 Exterioridade do Pensamento: os pensamentos ocorrem na mente antes que o indivíduo enquanto pensador pudesse os
produziu (de Clérambault, 1923).

 Pensamento pré-lógico primitivo: o pensamento é preocupado por brincar com números, sílabas, cores, ritmo na fala,
repetições, fazendo grossas analogias (de Clérambault, 1923).

 Pensamento fragmentado (de Clérambault, 1924b).

 Falso reconhecimento (de Clérambault, 1924b).

 Substituição de pensamento: processos de pensamento em andamento são perturbados por pensamentos impostos (de
Clérambault, 1924b).

 Aprosexia: o pensamento é muito rápido, há uma incapacidade de focar a atenção nele (de Clérambault, 1924b).

 Estranhamento: objetos comuns e pessoas são repentinamente experienciados como estranhos (de Clérambault, 1926).
LISTA DAS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DE AUTOMATISMO MENTAL (SÍNDROME S)

2. Fenômenos negativos no nível do funcionamento ideo-verbal:


 Interrupções e espaços em branco nos processos de pensamento (de Clérambault, 1924b).
 Desaparecimento de pensamentos (de Clérambault, 1924b).
 Perplexidades sem objeto (de Clérambault, 1926) .

3. Fenômenos positivos ao nível do funcionamento motor:


 Experiência de ser forçado e dirigido ao nível de suas ações (de Clérambault, 1920a).
 Escrita automática: anotando as coisas além do controle consciente (de Clérambault, 1920).

4. Fenômenos negativos ao nível do funcionamento motor:


 Inibições motoras (de Clérambault, 1924b).

5. Fenômenos positivos ao nível do funcionamento afetivo-sensorial:


 Perturbação cenestésica ou cenestopatia: sensações estranhas que podem ser prazerosas ou desagradável e
manifesta em todo o corpo ou em áreas específicas (de Clérambault, 1920a).
 Percepções sensoriais estranhas, como no nível olfativo (de Clérambault, 1923).
 Percepção quase visual automática de memórias (de Clérambault, 1924b).
 Disestesia: sensação de toque anormal envolvendo sensações dolorosas, como agulhas ou correntes (de
Clérambault, 1926).
 Estados afetivos súbitos, como tristeza, ansiedade, alegria ou raiva, experimentados como inadequados (de
Clérambault, 1924b).
 Medos e impulsos obsessivos alienantes que ocupam a mente (de Clérambault, 1924b).
 Emoções sem objeto (de Clérambault, 1926).

6. Fenômenos negativos no nível do funcionamento afetivo-sensorial –


 Fadiga repentina (de Clérambault, 1924b).
Síndrome S (Clérambault)
Define uma série de fenômenos disruptivos que afetam o eu, o pensamento, a
percepção e a linguagem.

Natureza dos fenômenos disruptivos: corpo estranho, xenopático, externo, ao qual,


posteriormente, a mente reagiria tentando produzir uma resposta que pudesse dar
conta dessa emergência originariamente desprovida de sentido.

Sindrome S (Clérambault)

Fenômenos Elementares (Lacan)


Essa denominação se deve ao fato de Lacan localizar esses fenômenos de
externalidade como peça-chave para o diagnóstico de psicose, ou seja:

Como sinais patognomônicos da psicose indicando sua estrutura e,


mais: sendo agudos (desencadeamento) ou discretos (piscoses não
desencadeadas
Fenômenos elementares em pacientes não desencadeados –
um exemplo

Trata-se de um paciente, bem-sucedido em sua carreira no campo jurídico, cuja


vida não havia sido significativamente perturbada por sintomas ou inibições
manifestos, até o momento em que ele passa a padecer de uma crise de
angústia intensa. Depois de um bom tempo de tratamento, o sujeito consegue
localizar o que condicionava a sua apreensão e decide então encerrar sua
análise. Nas últimas sessões, entretanto, surpreende o analista com a crença
delirante de que todas as pessoas cujo prenome era igual ao dele
compartilhavam um mesmo ancestral comum.
(Darian Leader. Além da depressão: novas maneiras de entender o luto e a melancolia , 2011, p. 22)
Definição do conceito de fenômenos elementares

São elementares como o é, em relação a uma planta, a folha em


que se poderá ver um certo detalhe do modo como as nervuras
se imbricam e se inserem – há alguma coisa de comum a toda
planta que se reproduz em certas formas que compõem sua
totalidade.
(Lacan, 1955-1956/1988, p.29)
Os fenômenos da Síndrome S evidenciam a determinação do significante na
constituição do sujeito segundo o funcionamento do inconsciente à céu aberto.
Lacan (1955-1956/1988) denomina tais fenômenos a partir de uma nova
terminologia:

São fenômenos elementares – precisamente porque não podem ser


considerados de forma diferente do funcionamento de toda a estrutura da
psicose.

Incluem os fenômenos de corpo e de linguagem – precisamente em função


desse caráter estrutural.

A denominação de fenômenos elementares define a relação entre alucinação e


delírio, para a psicanálise:

Alucinação Verwerfung Delírio


Evidência do caráter parasitário da palavra (sem necessidade de
intervenção de um órgão sensorial):

Alucinação que serve de exemplo em O Seminário. Livro 3. As


Psicoses (1955-1956):

PORCA

Eu venho do salsicheiro
Um estudo de caso de O Seminário. Livro 3. As Psicoses
Trata-se de uma paciente paranoica. Separada do marido (um açougueiro que a
havia ameaçado de cortá-la em rodelas), voltara a morar com a mãe, com a qual
convivia numa espécie de delírio a dois. Ambas sentem como particularmente
intrusiva a interferência ocasional de uma vizinha, de vida sexual aparentemente
intensa.
Imaginário
a (paciente)_____________________a (mãe)

Vizinha

Um dia, ao cruzar no corredor com o amante casado da tal vizinha, a paciente


escuta-o dizer : Porca!

O que a paciente declara (Eu venho do salsicheiro) não é uma subjetivação. Mas já uma
externalidade de sua condição subjetiva: aparece retornando sobre ela como se viesse de
fora
Um estudo de caso de O Seminário. Livro 3. As Psicoses

Na internação, Lacan lhe pergunta se ela teria dito algo àquele homem
imediatamente antes, ao que ela admite que sim: Eu venho do salsicheiro.

Esquema da alucinação:

PORCA (S1 retornando de fora) // EU VENHO DO SALSICHEIRO (S2)

Declaração sem referente e sem


Alucinação significação

Ruptura da cadeia significante com experiência de vazio: a paciente rejeita


para fora de sua realidade psíquica, a própria condição de seu ser –
despedaçado, fragmentado.
Eu, a porca, venho do salsicheiro, e estou disjunta, corpo
fragmentado, membro dissociado, delirante, e meu mundo cai
em pedaços tal como meu eu.
(Lacan, 1955-1956/1988, p.84)
Fenômenos elementares:

Definem como o significante se manifesta no campo da percepção, ao modo de um


significante fora da cadeia discursiva.

Por isso:

 Caráter parasitário, invasivo.


 Sua ligação profunda com o delírio: o delírio é uma tentativa de reparação, pelo
reencadeamento numa nova cadeia significante privativa do sujeito psicótico.
Hipótese de Lacan:

A alucinação verbal é o estatuto de fenômeno elementar mais


fundamental, na medida em que ela evidenciaria não só a
presença determinante do significante na constituição do sujeito
como também, seu parasitismo sobre o sujeito e sua ocorrência
a céu aberto:

É justamente o que se apresenta no fenômeno da alucinação verbal. No


momento em que ela aparece no real, isto é, acompanhada desse
sentimento de realidade que é a característica fundamental do
fenômeno elementar, o sujeito fala literalmente com o seu eu, e é como
se um terceiro, seu substituto de reserva, falasse e comentasse sua
atividade.
(Lacan, 1955‐56/1988, p.24
Fenômeno elementar:

Alucinação Verwerfung Delírio

(FORACLUSÃO)

Evidencia a mesma força da foraclusão na alucinação e no


delírio.

A alucinação e o delírio são os fenômenos mínimos,


estruturais do funcionamento da psicose.
Hipótese de Lacan:

A alucinação verbal é o estatuto de fenômeno elementar mais


fundamental, na medida em que ela evidenciaria não só a presença
determinante do significante na constituição do sujeito como
também, sua ocorrência a céu aberto:

É justamente o que se apresenta no fenômeno da alucinação verbal. No


momento em que ela aparece no real, isto é, acompanhada desse
sentimento de realidade que é a característica fundamental do fenômeno
elementar, o sujeito fala literalmente com o seu eu, e é como se um
terceiro, seu substituto de reserva, falasse e comentasse sua atividade.
(Lacan, 1955‐56/1988, p.24)
São elementares como o é, em relação a uma planta, a folha em
que se poderá ver um certo detalhe do modo como as nervuras se
imbricam e se inserem – há alguma coisa de comum a toda planta
que se reproduz em certas formas que compõem sua totalidade.
(Lacan, 1955-1956/1988, p.29)
ALUCINAÇÃO
No campo da psiquiatria:

I. ESQUIROL (Tratado Completo das Alinenações Mentais consideradas sob seu aspecto
médico, higiênico e médico-legal, 1838) até Henry Ey (Tratado das Alucinações, 1973):

As alucinações são percepções sem objeto. É uma tradição que situa os fenômenos
alucinatórios como perturbações nos órgãos sensoriais.
“Um homem que tem a convicção íntima de uma sensação atualmente percebida, ainda
que nenhum objeto alcance seus sentidos, se encontra em estado de alucinação; é um
visionário” (Esquirol, 1838, p. 67)

Alucinação Ilusão

A alucinação é sem objeto. A ilusão é uma deformação do objeto percebido.


ALUCINAÇÃO
No campo da psiquiatria:

II. BAILLAGER: redefinição das alucinações como alucinações psíquicas. O paciente não
é um visionário; o paciente apresenta alucinações psíquicas, ou seja, sem o componente
sensorial, e cujas características são:

1. Alucinações são auditivas, concernindo somente ao ouvido: muitos pacientes


recorrem a tampões de ouvido para deixar de ouvir as alucinações.

2. Alucinações estão relacionadas à linguagem: são conversações de alma para alam,


entre interlocutores invisíveis; vozes puramente interiores, conversação sem som,
linguagem do pensamento, conversações por intuição, por magnetismo com
interlocutores invisíveis, vozes interiores que a carne e o sangue não compreendem,
escuta do pensamento.

3. As alucinações são acompanhadas por uma convicção íntima, uma certeza que não
cede pela demonstração de um erro perceptivo.
ALUCINAÇÃO
No campo da psiquiatria:

III. JULES SÉGLAS: A partir da evidência clínica de que os psicóticos podem ouvir o que
eles mesmos pronunciavam sem saber disso, ele ratifica a ligação entre as alucinações
psíquicas e a linguagem:
Sua fonte não é exterior, mas interior.
Está relacionada a linguagem.

“ (...) o que constitui (...) o mais característico desses fenômenos não é o fato de
manifestarem-se como mais ou menos parecidos com uma percepção exterior, mas de
serem fenômenos de automatismo verbal, um pensamento verbal separado do eu (...)”
(Séglas, Prólogo ao livro de Henry Ey, Hallucinations et Délires, 1934, p. VI)

Um fenômeno automático.
Carente de atributos sensoriais
Não tem outro caráter senão o de parecer ao paciente como estranho ao eu.
ALUCINAÇÃO
No campo da psiquiatria:

IV. CLÉRAMBAULT: síndrome de automatismo mental (SÍNDROME S) - caracterizada em seu


conjunto pela ocorrência de antecipação de pensamentos, enunciação de atos, impulsões
verbais e tendências a fenômenos psicomotores, ao passo que às alucinações auditivas
estão associadas vozes objetivadas, individualizadas e temáticas. A despeito da dificuldade
de se definir o conceito de automatismo mental, pode-se afirmar que se trata de uma
síndrome clínica caracterizada por três traços:

1. Caráter não sensorial, é evidenciado pela presença de pensamentos com forma


indiferenciada e abstrata, sem forma sensorial definida.
2. O teor essencialmente neutro, alude ao fato de que não há uma tonalidade afetiva, assim
como não há hostilidade. O que se pode perceber, às vezes, é um estado levemente
eufórico, sendo esse o único estado afetivo congruente com o automatismo mental.
3. Caráter atemático ou anideico, isto é, não conforme a uma sequência de ideias presente,
por exemplo, nos jogos silábicos.

Sonho (Freud, 1900):


 Realização alucinatória do desejo.
 Sustentado pela fantasia.
LACAN
ALUCINAÇÃO AUDITIVA OU VERBAL
(De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose [1957-1958])

As alucinações verbais se dividem em:

 FENÔMENOS DE CÓDIGO
 FENÔMENOS DE MENSAGEM
1.
LACAN
ALUCINAÇÃO AUDITIVA OU VERBAL
(De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose [1957-1958])

FENÔMENOS DE CÓDIGO:

Ocorrência de vozes que se servem da língua fundamental do sujeito.

Ocorrem também as locuções neológicas, criações que submetem a linguagem a variações


de formas (novas palavras compostas, mas numa composição conforme as regras da
língua do paciente) e de emprego. As alucinações instruem o sujeito sobre as formas e
empregos que constituem o neocódigo (o próprio significante, e não o seu significado, é o
objeto da comunicação).

Em Schreber: descreve com “um alemão um tanto arcaico, mas ainda rigoroso, que se
caracteriza principalmente por uma grande riqueza de eufemismos” (LACAN, 1957-1958, p.
544).
LACAN
ALUCINAÇÃO AUDITIVA OU VERBAL
(De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose [1957-1958])

FENÔMENOS DE MENSAGEM

Referem-se às mensagens interrompidas. A voz alucinada limita sua mensagem a um


começo de frase do tipo “Agora eu vou me…” ou “Você deve de fato…” ao qual o sujeito,
nesse caso, Schreber, retruca com o suplemento “render-me ao fato de que sou um idiota”,
por exemplo.

Lacan observa que a frase se interrompe no ponto preciso que indica a posição do sujeito
a partir da própria mensagem.
Esses fenômenos manifestam um quadro de experiências inefáveis,
inexprimíveis, de certeza absoluta e de significação pessoal. Aqui, se situam as
vivências delirantes primárias. Suas características gerais são:

1. Indicam a perda do juízo de realidade, onde o sujeito atribui valor anômalo à


suas percepções internas e externas.
2. São conteúdos impossíveis e contradições internas dotadas de significações
pessoais.
3. Essas significações são sempre auto referenciais, ou seja, se referem sempre
à pessoa, ao ser, do paciente.
4. Essas significações constituem o eixo da vida do sujeito e sua explicação
para tudo que o rodeia.
5. Todas as significações são imunes à retificação ou argumentação de uma
terceira pessoa compondo o que Minkowsky e Lacan definirão como um dos
eixos fundamentais do diagnóstico da psicose: a certeza delirante.
Alucinações corporais (Fenômenos hipocondríacos)

Se referem diretamente aos fenômenos hipocondríacos (língua


do órgão – Freud, 1915), em que vigora a experiência de:
Decomposição.
Desmembramento.
Separação.
Estranheza em relação ao próprio corpo.
Distorção temporal e de deslocamento espacial.

Estão localizados como uma atrofia do imaginário (Фo),


decorrente da foraclusão do Nome-do-Pai (NP0).
O aparelho de influenciar em Tausk (1919) – Língua do órgão (Freud,1915)

1) Um instrumento construído pelo delírio, ou ainda é uma máquina composta de caixas,


manivelas, alavancas, rodas, botões, fios, bateria, etc., que normalmente não são bem situadas
e definidas pelo sujeito, só podendo ser evocadas por alusões.
2) Ele pode apresentar imagens ao sujeito, como um cinema, um projetor.
3)Ele é capaz de produzir ou furtar os pensamentos e, ou, sentimentos do paciente via ondas, raios
ou forças ocultas, uma vez que está sob o comando do perseguidor.
4)O aparelho pode produzir ações motoras no corpo do paciente como ereções e poluções. Tais
ações também são efeitos produzidos por correntes elétricas, ou magnéticas, raios-X, etc.
5)Produz sensações muitas vezes indescritíveis, outras são comparadas pelo paciente como, por
exemplo, de uma corrente elétrica.
6)O aparelho é responsável por outros fenômenos somáticos que são sentidos como implantados
no sujeito. Assim, uma erupção cutânea ou um furúnculo é algo atribuível ao aparelho.
7)O aparelho é manipulado por um perseguidor inimigo do sujeito que o coloca em funcionamento
de forma obscura e enigmática.

O aparelho nem sempre se constitui como um aparelho, ou seja, nem sempre o paciente pode
reconhecê-lo como tal, sendo, muitas vezes, reconhecido como uma influência psíquica estranha,
uma sugestão, uma força telepática.
ALUCINAÇÕES TATEIS

O sujeito sente espetadas, choques ou insetos ou pequenos animais correndo


pelo corpo, sobre a pele:

Esquirol (1938) em uma veia lockeana escreveu: “o tato, muitas vezes chamado pela razão para corrigir os outros
sentidos, pode também enganar o insano ..., pode alucinar superfícies ásperas ou extremidades afiadas ferindo sua
pele, pode sentir-se dilacerado por instrumentos de corte”. Sigmond (1848) observou que “alucinações do tato
variam muito; é muito singular encontrar um indivíduo que acredita que têm ratos rastejando sobre ele, ou que
aranhas o infestam...”. (Berrios, G. Alucinações táteis: aspectos conceituais e históricos. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo,
v. 14, n. 3, p. 542-562, setembro 2011, p. 547)

Alucinações com insetos: associados ao delírio de infestação (síndrome de


Ekbom) ou acarofobia (Thiebierge, 1894) ou parasitofobia (Perrin, 1896).

Alucinações táteis sentidas no genitais: o sujeito sente que forças estranhas


tocam, cutucam ou penetram seus genitais. Frequentes na esquizofrenia e em
psicoses tóxicas causadas pelo uso de cocaína (até 15% de usuários de cocaína
podem ter essas alucinações).
ALUCINAÇÃO AUTOSCÓPICA

É uma alucinação na qual o sujeito enxerga a si mesmo, vê seu


próprio corpo como se estivesse fora dele, contemplando-o.

TIPOS:

Fenômeno do duplo: o sujeito experiencia a sensação de que há um


Eu dentro do próprio corpo e um Eu fora do corpo.

Sensação de uma presença: o sujeito tem a nítida sensação de que


um ser invisível o acompanha e que o influencia.
Sinal do espelho:
Se refere a projeção imaginária do corpo no eu. Nas psicoses, especialmente
nas esquizofrenias, é comum o sinal espelho – caracterizado por Capgras
pelo sintoma de estranheza frente a imagem do espelho ao qual o sujeito
responde com controle e angústia.

Introduzido pela Escola francesa (Abély e Delmas) no final dos anos de 1920.
Caracterizado pelo fato de o sujeito revelar-se preocupado com sua imagem, se
examinando longa e fequentemente diante de superfícies refletoras; o sujeito tem a
experiência de estar colado à imagem e, repentinamente, pode ser tomado de horror
diante de algo terrível na superfície do espelho (ele mesmo). Detectado nos estados
melancólicos clássicos e na esquizofrenia, mas não é raro nos casos de psicose
ordinária.
Possui 2 tempos de formação:

1.Observação incessante
2.Recusa da Autoscopia
Karim chamou minha atenção para esse sintoma. Durante vários meses, na
adolescência, passou quatro ou cinco horas por dia em frente ao espelho do seu
quarto. Dez anos depois, a cura analítica proporcionou certa atenuação dos sintomas,
mas ele continua notavelmente preocupado com sua imagem. «No final das aulas [ele
me confidencia], corro para o banheiro para me olhar no espelho.» E acrescenta com
uma pitada de humor: “Percebo que não há ninguém como eu, senão estaria lotado”.
Na rua, precisa ser observado nas vitrines. Ele tem a impressão de estar apegado à
sua imagem. «Estou encerrado [diz ele], num mundo onde a minha imagem está em
todo o lado...» . Uma vez ele teve uma visão horrível no espelho: havia algo horrível ali,
e não era outra coisa senão ele mesmo. Ele literalmente perdeu todo o apoio, tendo
que deitar-se imediatamente na cama em intensa angústia.
(Jean Claude Maleval. Identificaciones imaginarias y estructura psicótica no desencadenada, p. 631)
Primeiro tempo - Observação incessante
O sujeito experiencia o caráter enigmático da imagem. Sente que ocorreu uma
mudança, mas não pode dar conta do que há de inabitual ou anormal. Neste
sentido, a observação incessante é uma resposta ao estranhamento mais ou
menos inquieto que o sujeito experiencia a propósito da mudança que ele
identifica.

O reconhecimento constitutivo da imagem do eu (o estofo do ser) no espelho


simplesmente é impossível ao sujeito. (a textura do simbólico se desfaz).

Jean Pierre me confidencia ver apenas uma imagem vazia. Ela lhe parecia
desabitada. “Sou eu”, diz ele, “mas eu quase não me reconheço . Minha imagem
carece de sentido”.
(Jean Claude Maleval. Identificaciones imaginarias y estructura psicótica no desencadenada, p.
631)
Sinal do espelho - Observação incessante

Ao mesmo tempo, o sujeito tem dificuldade de ficar separado da imagem,


encontrando-a por toda a parte em que vai ou está.

Em termos freudianos, o funcionamento autoerótico da pulsão invade o


campo onde o eu deveria advir.

Tentativa de recorrer à Identificação imaginária

Recorre repetidamente ao espelho

Reconhecimento da própria imagem


Segundo tempo – Autoscopia:

O sujeito experiencia a invasão das pulsões na imagem especular. O exemplo de uma


paciente de 21 anos, descrito por Ostancow (1934) é preciso:

Ao longo de vários anos, ele se devotava a um exame minucioso de sua figura,


permanecendo horas inteiras diante de um espelho. (...) Ele acreditava, dizia, observar que
as pessoas do seu entorno notavam que ele tinha um aspecto cômico, uma pequenina
cabeça, uma testa estreita, toda a estrutura de um frango. Ele alegava ter escutado dizer, a
seu respeito, que ele não tinha nariz e, quando retornava à sua casa, ele se observava no
espelho e, de fato, parecia-lhe que seu nariz havia mudado de formato e que sua testa
tornara-se muito estreita. Essas sensações faziam com que o doente evitasse a sociedade.
Parecia-lhe que os transeuntes zombavam dele, desviavam suas trajetórias para não cruzar
com ele na rua, tapavam o nariz e a boca quando ele se aproximava. Ele também acreditava
que alguém espalhava o boato de que ele se devotava ao onanismo. (Ostancow, 1934).

Na autoscopia, o paciente pode, também, ter a experiência de se ver fora de seu


próprio corpo
Segundo tempo – Autoscopia:

A experiencia de invasão das pulsões na imagem especular se evidencia, no relato de


Ostancow de um paciente melancólico, ao relatar sua experiência de surgimento de uma
cabeça de frango que, em pouco tempo, toma todo o sujeito, que se sente como um animal
ridículo, fedorento e masturbador.

Uma paciente melancólica de Abély (1930) afirmava: “Doutor, por favor me livre desse
mártir; contra minha vontade, sinto-me forçado a observar meu rosto e me é bastante
penoso ver no que eu me transformei; quanto mais eu me examino, mais me parece que eu
possuo uma cabeça de pato”.

O pato e o frango: coisas horríveis que surgem quando falha a transmissão de S2.

Característica repugnante
Solução pelo Imaginário
Tentativa de Identificação Imaginária por autoscopia interativa

NA ESQUIZOFRENIA, EM ESPECIAL: COBRINDO O ESPELHO COM PANOS

A imagem é diferente, mas ela possui a mesma estrutura. Um paciente esquizofrênico,


descrito por Maleval, se via lívido, a tez azul, perdendo seus cabelos, uma imagem de
cadáver.

Outros sujeitos preferem contornar os espelhos ou cobri-los com panos. Uma paciente
esquizofrênica, relata Colette Naud, foi confrontada de surpresa com o espelho, quando
caiu a echarpe com a qual ela o havia coberto. Ela se observou com uma expressão de
terror, deu um grito; em seguida, lançou-se sobre um despertador e o arremessou com
força no espelho que se quebrou (Naud, 1962, p. 13).

Colette Naud chega a debater se não haveria aí o indicativo de entrada em um terceiro


tempo – a reação clástica – que consiste na experiência de quebra do espelho.
Solução pelo Imaginário
Tentativa de Identificação Imaginária por autoscopia interativa
NA ESQUIZOFRENIA, EM ESPECIAL: EMPUXO-À-MULHER

Há situações em que verificamos o empuxo-à-mulher: Schreber apresentava a


“tendência a se desnudar e se observar ao espelho, enfeitar-se como uma mulher com
fitas e galões coloridos etc.” (Schreber, 1903/1975, p. 307). Ele próprio fornece as razões
que podem justificar nessas circunstâncias a autoscopia iterativa: uma observação
conduzida de modo distraído não bastaria para convencê-lo de sua feminilização:

“O observador (...) precisaria fazer o esforço de permanecer junto a mim cerca de dez a
quinze minutos. Nesse caso, qualquer um poderia observar que meu peito,
alternadamente, aumenta e diminui de volume. Naturalmente, permanecem nos braços e
no tórax os pelos viris, que, aliás, em mim estão presentes em pequena escala; também
os mamilos continuam do tamanho pequeno, que corresponde ao sexo masculino. Mas à
parte isso, ouso afirmar que qualquer pessoa que me vir de pé diante do espelho, com a
parte superior do corpo desnuda – sobretudo se a ilusão for corroborada por algum
acessório feminino –, terá a impressão indubitável de um torso feminino”
(Schreber, 1903/1975, p. 228).
Solução pelo Imaginário
Tentativa de Identificação Imaginária por autoscopia interativa
NA ESQUIZOFRENIA, EM ESPECIAL: EMPUXO-À-MULHER

Em um paciente esquizofrênico observado por Abély, o empuxo-à-mulher


associado à autoscopia empresta as formas mais frustradas. Ele passava a
maior parte dos seus dias se examinando.

Uma manhã – relata o médico – estávamos um pouco surpresos ao encontrá-lo


encolhido em um canto, fortemente maquiado, seu rosto estava recoberto de
gesso que ele havia arrancado da parede do dormitório, seus olhos estavam
escurecidos pelo lápis que lhe servia para escrever, seus lábios estavam
horrivelmente tingidos de vermelho com uma substância que não pudemos
definir, talvez com um batom que ele havia mendigado na véspera, na sala de
espera, a uma visitante. Esse pierrô de carnaval não estava nada feliz; ele
parecia ansioso, mal-humorado e claramente hostil. Em seguida, ele escreve
numerosas cartas às perfumarias parisienses pedindo os produtos de beleza
mais heteróclitos. Quando se lhe retirou o espelho, ele tentou se observar nos
vidros das janelas e numa xícara cheia de chá.
(Abély, 1930, p. 30).
Solução pelo Imaginário

Identificação Imaginária
(Personalidades ‘As If’ – Helen Deutsch)

1. Normalidade: Oferece uma compensação para a foraclusão de tal natureza


que o sujeito conduz sua vida normalmente como se possuísse capacidade
emocional completa e sensível para tal.

São intelectualmente preservadas, bem dotadas e compreendem os


problemas intelectuais e emocionais. No entanto, no ponto em que seguem
alguma aspiração profissional, desenvolvem como que um protocolo sem
originalidade. O mesmo ocorre com as relações afetivas: as expressões
afetivas são formais e destituídas de qualquer vivência mais íntima.
Características da Identificação Imaginária
(Personalidades ‘As If’ – Helen Deutsch)

2. Sugestionabilidade: O sujeito apresenta presteza passiva


de ser influenciado e uma identificação de tipo autômato.

3. Presença de tendências agressivas na base da presteza


passiva.

Por que sujeitos ancorados na identificação imaginária


procuram tratamento?

 Episódios depressivos.
 Inibição nos estudos ou no trabalho.
 Transtornos psicossomáticos.
DELÍRIO
Hipótese freudiana do delírio enquanto tentativa de estabilização da psicose

Sua função é análoga à função da fantasia na neurose: estabelecer um dique de


contenção à pulsão de morte.
O novo mundo externo, fantástico, da psicose quer substituir a realidade
externa; por sua vez, o da neurose, prefere ligar-se, como o brinquedo das
crianças, a um fragmento da realidade (...). (Freud, 1924/1982, p.197).

 Mais exitoso: paranoia.

Duas referências freudianas para entender a função do delírio:


 Neurose e psicose (1924)
 A perda da realidade na neurose e na psicose (1924)
DELÍRIO
Na Neurose:

S1 S2
S a Fantasia

Na Psicose:

Tempo lógico 1. S1 0 Ausência de referente –vazio de significação


S0 a-a’

Tempo lógico 2. S1 - OPERADOR DE


PERPLEXIDADE
S0 - PERPLEXIDADE

Tempo lógico 3. S1 Delírio


S0 a-a’
A ESCALA DA CONSTRUÇÃO DO DELÍRIO
(MALEVAL, J.C. La Forclusión del Nombre del Padre):

Expressa a evolução da relação do sujeito com a pulsão.

1. Incubação: Perplexidade inicial, eclosão da angústia e invasão pulsional. Aqui o


significante é imóvel, estático (metonímia imóvel), produtor de uma fixação absoluta
(metáfora impotente):

Em Schreber é observável por meio de algumas características do desencadeamento 1


(1884) atravessando sua vida, com a tentativa de suicídio (ainda que se considerasse
morto) até o agravamento do quadro no ano de 1893 com o desencadeamento 2.

A. DESENCADEAMENTO DE 1884:
1.Hipocondria severa (imagina ter perdido de 15 a 20 quilos; demanda para ser
fotografado).
2.Hipersensibilidade auditiva.
3. Humor irritável e lábil.
B. DESENCADEAMENTO DE 1893:

1. Crises de angústia e insônia.


2. Ideias hipocondríacas com, queixa de amolecimento do cérebro, morte iminente,
hiperestesia.
3. Ideias de perseguição baseadas em alucinações; os pensamentos, aos poucos,
passam a girar em torno de alucinações visuais e auditivas.
4. Estupor alucinatório.
5. Vivências de influência corporal onde seu corpo deveria ser transformado em
corpo de mulher e ser copulado: estava morto, sofria de uma praga, era manipulado
de forma revoltante.

Em alguns sujeitos pode ocorrer de experienciarem uma sensação de tensão , onde


possuem a nítida sensação de que algo acontecerá em seu mundo ainda que no
momento não saiba definir o que é (Trema, de Klaus Conrad). O campo perceptivo,
aqui se estreita em torno da iminência de que alguma coisa vai acontecer; o sujeito
já não é mais livre, já não pode mais se mover como antes, não pode mais decidir.
A ESCALA DA CONSTRUÇÃO DO DELÍRIO
(MALEVAL, J.C. La Forclusión del Nombre del Padre)

2. Tentativa de significação do gozo: Caracterizado pelo trabalho de mobilização


do significante que permite construir uma explicação própria para o que está
acontecendo ao sujeito. Para isso, é comum recorrer à uma figura de autoridade,
próxima ao que seria a função paterna, capaz de localizar o gozo, regular a
pulsão. Mas é um momento que evidencia o carater violento, intrusivo,
estrangeiro e obsceno que o significante assume para o sujeito.

Em Schreber, é observável por meio da seguinte característica do


desencadeamento 2, ocorrido no ano de 1893: vivências de influência corporal
onde seu corpo deveria ser transformado em corpo de mulher e ser copulado:
estava morto, sofria de uma praga, era manipulado de forma revoltante.

Em alguns sujeitos pode ocorrer de experienciarem uma imposição de saber sem


necessidade de demonstração (apofania, de Klaus Conrad).
A ESCALA DA CONSTRUÇÃO DO DELÍRIO
(MALEVAL, J.C. La Forclusión del Nombre del Padre):

3. Trabalho de consentimento ao gozo do Outro: o sujeito consente ao gozo do


Outro porque tem certeza de que, graças a sua experiência, ascende à um
saber essencial. O acesso ao saber supremo demonstra a ocorrência da
megalomania

Em Schreber é observável por meio da formação delirante evidenciada no


desencadeamento 2, ocorrido em 1893 – o Delírio de transformação em
mulher: delírios religiosos e sexuais que envolviam ser escolhido e enviado de
Deus, ser engravidado por Deus para gerar uma nova humanidade.

Você também pode gostar