Freud EAD Aula 9

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Freud - Teoria, Prática e

Casos Clínicos

Homem dos Ratos

Um homem com formação acadêmica, que desde a infância tem ideias


obsessivas, há quatro anos vem sofrendo com elas de maneira mais intensa, e
por isso procurou Freud. O temor principal de sua doença é que algo aconteça a
duas pessoas a quem ama: o pai e a uma dama, da qual é admirador.

O início do tratamento e a primeira (e única) regra da psicanálise


Freud já tem suas formulações clínicas bem experimentadas e fundamentadas, e
assim na primeira sessão já apresenta a primeira e única regra da psicanálise:
diga tudo o que vier a cabeça sem censura... p. 14

Dúvidas sobre sua índole


Interessante que logo na primeira sessão ele já relata sobre seus impulsos de
delinquência, isso marcada todo o caso: sou um criminoso ou não? Sinto amor
ou ódio? Sou sujo ou limpo? Etc...

Precocidade na vida sexual


Um relato característico em casos de neurose obsessiva: o início precoce da vida
sexual. Enquanto as histéricas “não se lembram” ou dissociam suas lembranças e
relatos, o sujeito do tipo clínico obsessivo lembra, e lembra até demais, e essa
cena envolve precocidade, saliência de sua parte... como um pequeno
pervertido. Isso leva muitas vezes o sujeito obsessivo a se pensar perverso.
Desde cedo Paul relata experiências de muitas intimidades com governanta e
empregadas, estás que inclusive estimulavam à bulinações, práticas voyeurs etc.

Mas será que sabe o que faz?


Apesar da precocidade, não podemos nos esquecer que se trata de uma criança,
ainda perdida em suas pulsões parciais e vontade de saber, e que lhe falta
maturidade para uma série de compreensões. Não é à toa que em uma conversa
das empregadas escuta que ele não sabe como fazer... acaba cando num lugar
de “tolo”, lugar esse que aparecerá algumas vezes no caso, como por exemplo
do “amigo” que só o tratava bem porque desejava sua irmã, assim como em
outro momento algo xingar o pai utiliza palavras que não são ofensivas...

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O inventário de uma neurose obsessiva


“Portanto: um instinto erótico e uma revolta contra ele, um desejo (ainda não
obsessivo) e um temor (já obsessivo) que a ele se opõe, um afeto penoso e um
impulso a atos de defesa; o inventário da neurose está completo” - p. 17

O grande medo obsessivo e o castigo dos ratos


Nessa sessão, Paul relata o que foi o gatilho para procurar Freud, o famoso relato
de um castigo e o pensamento automático que se formou. Nos exercícios
militares um capitão cruel passa a contar de alguns tipos de formas de tortura e
relata a tortura dos ratos, em que um balde é preso junto as nadegas da pessoa,
e, famintos e desesperados pelo calor, só podem sair por algum lugar, o ânus do
torturado, sendo este comido por dentro (reto). Ao nal do relato contado a
Freud, Paul está com o rosto horrorizado, porém um sorriso lhe escapa
levemente, algo como um prazer no horror e na sequência traz a ideia, que
depois se transforma em medo, de que tal castigo acontecesse a uma pessoa
amada. Primeiramente associado a amada e depois associado ao pai.
Somado a este episódio acontece o outro, da perda do pincenê durante
exercícios militares, que Paul poderia ter reencontrado mas preferiu não e
encomendou outro ao seu oftalmo, e no dia seguinte ao pedido, o mesmo
capitão entrega o pincenê comprado a Paul e avisa que o tenente A havia pago e
agora Paula deveria pagar a A. Porém depois descobre que quem pagou foi B,
mas as ordens era para pagar a A, ordens desse capitão cruel, e assim entra em
um grande con ito mental sobre como pagar e a quem pagar.

O inconsciente é o infantil de cada um


A noção de inconsciente é abordada por Freud em diversos momentos de sua
obra, por vezes de maneira profunda e em outras de forma passageira e
igualmente rica, em determinado trecho, ao se referir à moralidade bondosa de
Paul e sua contraparte “má”, Freud associa o inconsciente ao infantil de cada um
de nós:
"O inconsciente seria o infantil, mais exatamente, aquela parte da pessoa que
então se separou dela, não acompanhou o desenvolvimento posterior e por isso
foi reprimida. Os derivados desse inconsciente reprimido seriam os elementos
responsáveis pelo pensar involuntário em que consiste o seu sofrimento. Ele
poderia, digo eu, descobrir mais uma característica do inconsciente; pre ro que

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ele mesmo o faça. — De imediato não tem o que dizer, expressa a dúvida de que
seja possível desfazer mudanças há tanto existentes. O que se faria, em especial,
contra a [sua] ideia do Além, que não pode ser logicamente refutada? — Eu não
contesto a gravidade do seu caso e a importância de suas construções, mas digo
que sua idade o favorece bastante, assim como a natureza intacta de sua
personalidade, e nisso expresso um bom juízo a seu respeito, o que visivelmente
o alegra. "

O excesso de proteção…

Talvez hoje não seja uma grande novidade que, por trás da cordialidade e
excesso de educação esteja aspirações agressivas e violentas. Isso ca muito
claro no diálogo de políticos que claramente gostariam de se ofender e que se
tratam da maneira mais educada possível, com muitas e muitas palavras
complexas. Podemos chamar isso de “formação reativa”, um tipo de defesa
egóica que inverte o sentido do impulso original, do ódio para o amor, mas de
forma caricatural.

Esse tipo de comportamento é visível o tempo todo em Paul, inclusive alguns


fenômenos que variam dai, um deles é o impulso a cometer suicídio, que na
verdade seria decorrente de uma punição sobre si mesmo:

Hostilidade —formação reativa —-> excesso de zêlo (porém inconscientemente sabe-se


criminoso) ——> “merecimento" de punição —> impulso suicida

Outro fenômeno decorrente desse mecanismos é a anulação retroativa, uma


tentativa de “des-pensar”, apagar um pensamento, um desejo hostil, etc. Como
se fazendo algo, ou dizendo algo pudesse desfazer o feito. Algo que fazemos no
dia a dia quando batemos na madeira quando dizemos algo que nos
arrependemos.

Considerações sobre histeria e neurose obsessiva

"A regra, na histeria, é que os motivos recentes para a enfermidade sucumbam à


amnésia, tal como as vivências infantis que os ajudam a transformar sua energia
afetiva em sintomas. Quando não é possível um completo esquecimento, ainda
assim a amnésia corrói o ensejo traumático recente, roubando-lhe ao menos seus

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componentes mais signi cativos. Em tal amnésia enxergamos a prova da


repressão ocorrida. Na neurose obsessiva sucede normalmente de outra forma.
Os pressupostos infantis da neurose podem ter cedido a uma amnésia —
frequentemente incompleta; mas as ocasiões recentes para o adoecimento se
acham preservadas na memória. Aí a repressão utilizou-se de um outro
mecanismo, mais simples, na verdade; em vez de esquecer o trauma, subtraiu-
lhe o investimento afetivo, de modo que na consciência resta apenas um
conteúdo ideativo indiferente, tido por insigni cante. A diferença [entre histeria e
neurose obsessiva] está nos processos psíquicos que podemos construir por trás
dos fenômenos; o resultado é quase o mesmo, pois o conteúdo mnêmico
indiferente é reproduzido muito raramente, não tendo papel na atividade mental
consciente da pessoa. Para diferençar os dois tipos de repressão podemos
recorrer, primeiramente, tão só à garantia do paciente, de que tem a sensação de
que num caso sempre soube aquilo, e no outro o esqueceu há muito tempo” (p.
57)

O jogo de signi cantes

Freud também atribui uma grande importância à questão da linguagem e da fala,


principalmente em seus textos iniciais (a obra máxima disso está em
Psicopatologia da vida cotidiana). Aqui no Homem dos ratos faz uma importante
associação de palavras como determinantes da identi cação do sujeito:

Castigo dos rato —> Pai um rato de jogo —> mordeu uma pessoa como um rato

O que vai delineia uma sobredeterminação:

Um ódio inconsciente pelo pai e a amada (que o deixam no dilema: para


escolher um elimino o outro) - se ativa com a audição do castigo dos ratos…

Que serviu de gatilho para perder propositalmente o pincenê e agora car em


dívida ao A e B diante do ameaçador capitão…

Que o faz se sentir sujo, traiçoeiro, lembrança da mordida que deu e somado a
isso à dívida do dinheiro do pincenê que liga com a lembrança da divida do pai,
um rato de jogo…

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A dívida em dinheiro o faz associar o dinheiro aos ratos (tantos oris tantos
ratos)…

Ao dever isso a Freud… etc.

Formações obsessivas

"Além disso, chega-se a um conhecimento mais apurado das formações


obsessivas por dois caminhos especiais. Primeiro, nota-se que os sonhos podem
oferecer o texto genuíno de um comando obsessivo etc., que na vigília tornou-se
conhecido apenas de forma mutilada e deslocada, como num telegrama
truncado. Esses textos surgem no sonho como falas, contrariando a regra de que
as falas no sonho vêm de falas diurnas.49 Segundo, no acompanhamento
analítico de um caso clínico adquire-se a convicção de que frequentemente
ideias obsessivas consecutivas são no fundo a mesma, embora o seu teor não
seja idêntico. A ideia obsessiva foi rejeitada com sucesso na primeira vez, mas
volta deformada, não é re- conhecida e, talvez justamente por sua deformação,
pode a rmar-se melhor na luta defensiva. Mas a forma original é a correta, que
não raro deixa perceber abertamente o seu sentido. Tendo elucidado
trabalhosamente uma ideia obsessiva ininteligível, às vezes escutamos do
paciente que uma ideia súbita, um desejo ou uma tentação como a que
construímos realmente surgiu antes da ideia obsessiva, mas não permaneceu.
Exigiria muitos detalhes, infelizmente, dar exemplos disso na história do
paciente.” (p. 85)

Deformação por omissão

Aqui está um clássico do estilo do sujeito do tipo clínico obsessivo, ele se lembra
de tudo, tudo, e sofre com isso, exceto de um nexo de ligação entre ideias e por
isso as historias podem parecer sem sentido, o que causa aquela sensação no
analista “mas quanta coisa aparentemente super cial sendo dita”. Na verdade
soa super cial pois sabiamente o nexo de ligação estes oculto. Na frase:

"Se eu me caso com essa mulher, acontece uma desgraça com meu pai"

A princípio parece superstição… mas não é! O que falta ai é um emento da frase,


aparentemente temos duas partes, mas na verdade são três, Paul fala duas, mas
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não é 1 e 2 e sim 1 e 3. A 2a é a parte que a hostilidade de Paul apareceria e


mataria o pai.

Afeto isolado

E por m, mais uma característica clássica desse quadro, o isolamento afetivo,


enquanto a histeria é inundada de afeto e de forma inclusive desorganizada, a
neurose obsessiva, graças a sua capacidade de elidir nexos, consegue “desligar"
o afeto e assim o que escutamos são muitas vezes relatos frios e distantes,
mesmo em situação que claramente tiveram grande conteúdo afetivo.

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