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Bula pontifícia: diferenças entre revisões

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O termo '''Bula Pontifícia''' refere-se não ao conteúdo e à solenidade de um documento pontifício, como tal, mas à apresentação, à forma externa do documento, a saber, lacrado com pequena bola (em latim, "bulla") de cera ou metal, em geral, chumbo (''sub plumbo''). Assim, existem ''Litterae Apostolicae'' ([[carta apostólica]]) em forma ou não de bula e também [[Constituição Apostólica]] em forma de bula.
O termo '''Bula Pontifícia''' refere-se não ao conteúdo e à solenidade de um documento pontifício, como tal, mas à apresentação, à forma externa do documento, a saber, lacrado com pequena bola (em latim, "bulla") de cera ou metal, em geral, chumbo (''sub plumbo''). Assim, existem ''Litterae Apostolicae'' ([[carta apostólica]]) em forma ou não de bula e também [[Constituição Apostólica]] em forma de bula.


[[Ficheiro:Bula julio2papa.jpg|thumb|left|220px|<center>Bula fundacional do [[Colégio de Santa Maria de Jesus]], embrião da [[Universidade de Sevilha]], emitida pelo [[papa Júlio II]]</center>]]
[[Ficheiro:Bula julio2papa.jpg|thumb|esquerda|220px|<center>Bula fundacional do [[Colégio de Santa Maria de Jesus]], embrião da [[Universidade de Sevilha]], emitida pelo [[papa Júlio II]]</center>]]


Por exemplo, a carta apostólica "Munificentissimus Deus", bem como as Constituições Apostólicas de criação de dioceses. A bula mais antiga que se conhece é do [[Papa Agapito I]] (535), conservada apenas em desenho. O mais antigo original conservado é do [[papa Adeodato I]] (615-618).
Por exemplo, a carta apostólica "Munificentissimus Deus", bem como as Constituições Apostólicas de criação de dioceses. A bula mais antiga que se conhece é do [[Papa Agapito I]] (535), conservada apenas em desenho. O mais antigo original conservado é do [[papa Adeodato I]] (615-618).


Explica a página da Torre do Tombo, em Portugal que dos séculos XI ao XV numerosos diplomas pontifícios com diverso valor jurídico, como as ''Constitutiones'' (leis gerais eclesiásticas) ou as ''Decretales'' (disposições de governo da Igreja, também chamadas ''litterae decretales'') receberam a mesma forma de validação, ou seja, a aposição de um selo pendente de chumbo, designado por '''bulla''', por ser o resultado da compressão de uma esfera de chumbo entre duas matrizes.
Explica a página da Torre do Tombo, em Portugal que dos séculos XI ao XV numerosos diplomas pontifícios com diverso valor jurídico, como as ''Constitutiones'' (leis gerais eclesiásticas) ou as ''Decretales'' (disposições de governo da Igreja, também chamadas ''litterae decretales'') receberam a mesma forma de validação, ou seja, a aposição de um selo pendente de chumbo, designado por '''bulla''', por ser o resultado da compressão de uma esfera de chumbo entre duas matrizes.


E prossegue a explicação: Tal forma de validação (a "''bulla''") passou a ser usada como designação de todos os diplomas pontifícios, ou, vulgarmente, bulas. Além do selo pendente de chumbo, comum a estes diplomas, nas ''litterae iustitiae'', ou seja, nas disposições de governo resolvidas pelo Papa em conformidade com o Direito, o selo está suspenso por meio de fio de cânhamo. Já nas ''litterae gratiae'' ou ''litterae tituli'', disposições de governo em que o Papa graciosamente concede dispensas e indulgências solicitadas, o selo de chumbo está suspenso por fio de seda amarela e vermelha. No anverso do selo são representados em efígie os Apóstolos Pedro e Paulo e no reverso o nome e o numeral do Papa.
E prossegue a explicação: Tal forma de validação (a "''bulla''") passou a ser usada como designação de todos os diplomas pontifícios, ou, vulgarmente, bulas. Além do selo pendente de chumbo, comum a estes diplomas, nas ''litterae iustitiae'', ou seja, nas disposições de governo resolvidas pelo Papa em conformidade com o Direito, o selo está suspenso por meio de fio de cânhamo. Já nas ''litterae gratiae'' ou ''litterae tituli'', disposições de governo em que o Papa graciosamente concede dispensas e indulgências solicitadas, o selo de chumbo está suspenso por fio de seda amarela e vermelha. No anverso do selo são representados em efígie os Apóstolos Pedro e Paulo e no reverso o nome e o numeral do Papa.


Durante o século XV a forma tradicional da bula ficou reservada aos diplomas mais importantes e os de teor comum ficaram chamados de ''litterae breves'', com maior simplicidade de forma e com a aposição, sobre o diploma dobrado, de um selo de cera, o ''[[anel do Pescador]]'', que representa São Pedro lançando as redes.
Durante o século XV a forma tradicional da bula ficou reservada aos diplomas mais importantes e os de teor comum ficaram chamados de ''litterae breves'', com maior simplicidade de forma e com a aposição, sobre o diploma dobrado, de um selo de cera, o ''[[anel do Pescador]]'', que representa São Pedro lançando as redes.


A matéria do selo era de chumbo, mas para acentuar a solenidade do diploma e a importância do assunto, em algumas ocasiões tais diplomas receberam selo de prata, dando origem às chamadas '''bulas argênteas'''. Em ocasiões ainda mais raras, o selo podia ser de ouro, o que dava origem às chamadas '''bulas áureas'''. [[Clemente XII]] e [[Benedito XIV]] concederam, entre 1737 e [[1742]], várias graças, formalizadas em sete bulas áureas.
A matéria do selo era de chumbo, mas para acentuar a solenidade do diploma e a importância do assunto, em algumas ocasiões tais diplomas receberam selo de prata, dando origem às chamadas '''bulas argênteas'''. Em ocasiões ainda mais raras, o selo podia ser de ouro, o que dava origem às chamadas '''bulas áureas'''. [[Clemente XII]] e [[Benedito XIV]] concederam, entre 1737 e [[1742]], várias graças, formalizadas em sete bulas áureas.


Na [[Torre do Tombo]], o maior arquivo de Portugal, conserva-se uma colecção de bulas organizada, entre [[1751]] e [[1754]], por Manuel da Maia, ao qual foram mandados entregar todos os breves e bulas expedidos para o Reino e seus domínios, que se encontrassem dispersos por Secretarias de Estado, Secretaria das Mercês, Real Biblioteca e outras repartições. Bulas e breves foram reunidas consoante os pontífices que as emitiram, ordenados alfabeticamente. A colecção mostra documentos sobre conflitos de jurisdição entre o Rei e autoridades religiosas, entre as quais o arcebispo de [[Braga]], os bispos de [[Lisboa]], [[Évora]], [[Lamego]] e de [[Coimbra]], o abade do [[mosteiro de Alcobaça]], o de [[São Vicente de Fora]], o prior do convento de [[Santa Cruz de Coimbra]]; concessão ou ordem de respeito pelos privilégios das Ordens Militares de Cristo, Santiago e Avis; concessão de direitos de padroado sobre igrejas do Reino e Ultramar; criação e regime da igreja Patriarcal de Lisboa; canonização da rainha Santa Isabel; sucessão no governo de bispados; concessão de rendas eclesiásticas ao Rei; ordens para a edificação e reformação de conventos; atribuição ao Rei de Portugal de terras por descobrir; e outros temas.
Na [[Torre do Tombo]], o maior arquivo de Portugal, conserva-se uma colecção de bulas organizada, entre [[1751]] e [[1754]], por Manuel da Maia, ao qual foram mandados entregar todos os breves e bulas expedidos para o Reino e seus domínios, que se encontrassem dispersos por Secretarias de Estado, Secretaria das Mercês, Real Biblioteca e outras repartições. Bulas e breves foram reunidas consoante os pontífices que as emitiram, ordenados alfabeticamente. A colecção mostra documentos sobre conflitos de jurisdição entre o Rei e autoridades religiosas, entre as quais o arcebispo de [[Braga]], os bispos de [[Lisboa]], [[Évora]], [[Lamego]] e de [[Coimbra]], o abade do [[mosteiro de Alcobaça]], o de [[São Vicente de Fora]], o prior do convento de [[Santa Cruz de Coimbra]]; concessão ou ordem de respeito pelos privilégios das Ordens Militares de Cristo, Santiago e Avis; concessão de direitos de padroado sobre igrejas do Reino e Ultramar; criação e regime da igreja Patriarcal de Lisboa; canonização da rainha Santa Isabel; sucessão no governo de bispados; concessão de rendas eclesiásticas ao Rei; ordens para a edificação e reformação de conventos; atribuição ao Rei de Portugal de terras por descobrir; e outros temas.


== Bulas papais ==
== Bulas papais ==
{{Ver artigo principal|[[Lista de bulas]]}}
{{Artigo principal|[[Lista de bulas]]}}
* ''[[In nomine Domini]]'', [[1059]]—[[Papa Nicolau II|Nicolau II]] (estabelece quem elege o [[Papa]])
* ''[[In nomine Domini]]'', [[1059]]—[[Papa Nicolau II|Nicolau II]] (estabelece quem elege o [[Papa]])
* ''[[Omne Datum Optimum]]'', [[1139]] (reconhecimento da [[Ordem dos Templários]])
* ''[[Omne Datum Optimum]]'', [[1139]] (reconhecimento da [[Ordem dos Templários]])
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== {{Bibliografia}} ==
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* ABRANCHES, Joaquim dos Santos - Summa do Bullario Portuguez. Coimbra, [[1895]];
* ABRANCHES, Joaquim dos Santos - Summa do Bullario Portuguez. Coimbra, [[1895]];
* COSTA, Avelino de Jesus da, e MARQUES, Maria Alegria F. - Bulário português: Inocêncio III (1198-1216). Lisboa: INIC, [[1989]].
* COSTA, Avelino de Jesus da, e MARQUES, Maria Alegria F. - Bulário português: Inocêncio III (1198-1216). Lisboa: INIC, [[1989]].
* JORDÃO, Levi Maria - ''Bullarium Patronatus Portugaliae Regum in Ecclesis Africae, Asiae atque Oceaniae.'' Bulas, Brevia Epistolas, De''creta Actaque Sanctae Sedis ab Alexandro III ad hoc tempus amplectus'', 5 vols. Lisboa: Imprensa Nacional, [[1868]]-[[1873]].
* JORDÃO, Levi Maria - ''Bullarium Patronatus Portugaliae Regum in Ecclesis Africae, Asiae atque Oceaniae.'' Bulas, Brevia Epistolas, De''creta Actaque Sanctae Sedis ab Alexandro III ad hoc tempus amplectus'', 5 vols. Lisboa: Imprensa Nacional, [[1868]]-[[1873]].


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Revisão das 05h05min de 1 de fevereiro de 2012

O termo Bula Pontifícia refere-se não ao conteúdo e à solenidade de um documento pontifício, como tal, mas à apresentação, à forma externa do documento, a saber, lacrado com pequena bola (em latim, "bulla") de cera ou metal, em geral, chumbo (sub plumbo). Assim, existem Litterae Apostolicae (carta apostólica) em forma ou não de bula e também Constituição Apostólica em forma de bula.

Bula fundacional do Colégio de Santa Maria de Jesus, embrião da Universidade de Sevilha, emitida pelo papa Júlio II

Por exemplo, a carta apostólica "Munificentissimus Deus", bem como as Constituições Apostólicas de criação de dioceses. A bula mais antiga que se conhece é do Papa Agapito I (535), conservada apenas em desenho. O mais antigo original conservado é do papa Adeodato I (615-618).

Explica a página da Torre do Tombo, em Portugal que dos séculos XI ao XV numerosos diplomas pontifícios com diverso valor jurídico, como as Constitutiones (leis gerais eclesiásticas) ou as Decretales (disposições de governo da Igreja, também chamadas litterae decretales) receberam a mesma forma de validação, ou seja, a aposição de um selo pendente de chumbo, designado por bulla, por ser o resultado da compressão de uma esfera de chumbo entre duas matrizes.

E prossegue a explicação: Tal forma de validação (a "bulla") passou a ser usada como designação de todos os diplomas pontifícios, ou, vulgarmente, bulas. Além do selo pendente de chumbo, comum a estes diplomas, nas litterae iustitiae, ou seja, nas disposições de governo resolvidas pelo Papa em conformidade com o Direito, o selo está suspenso por meio de fio de cânhamo. Já nas litterae gratiae ou litterae tituli, disposições de governo em que o Papa graciosamente concede dispensas e indulgências solicitadas, o selo de chumbo está suspenso por fio de seda amarela e vermelha. No anverso do selo são representados em efígie os Apóstolos Pedro e Paulo e no reverso o nome e o numeral do Papa.

Durante o século XV a forma tradicional da bula ficou reservada aos diplomas mais importantes e os de teor comum ficaram chamados de litterae breves, com maior simplicidade de forma e com a aposição, sobre o diploma dobrado, de um selo de cera, o anel do Pescador, que representa São Pedro lançando as redes.

A matéria do selo era de chumbo, mas para acentuar a solenidade do diploma e a importância do assunto, em algumas ocasiões tais diplomas receberam selo de prata, dando origem às chamadas bulas argênteas. Em ocasiões ainda mais raras, o selo podia ser de ouro, o que dava origem às chamadas bulas áureas. Clemente XII e Benedito XIV concederam, entre 1737 e 1742, várias graças, formalizadas em sete bulas áureas.

Na Torre do Tombo, o maior arquivo de Portugal, conserva-se uma colecção de bulas organizada, entre 1751 e 1754, por Manuel da Maia, ao qual foram mandados entregar todos os breves e bulas expedidos para o Reino e seus domínios, que se encontrassem dispersos por Secretarias de Estado, Secretaria das Mercês, Real Biblioteca e outras repartições. Bulas e breves foram reunidas consoante os pontífices que as emitiram, ordenados alfabeticamente. A colecção mostra documentos sobre conflitos de jurisdição entre o Rei e autoridades religiosas, entre as quais o arcebispo de Braga, os bispos de Lisboa, Évora, Lamego e de Coimbra, o abade do mosteiro de Alcobaça, o de São Vicente de Fora, o prior do convento de Santa Cruz de Coimbra; concessão ou ordem de respeito pelos privilégios das Ordens Militares de Cristo, Santiago e Avis; concessão de direitos de padroado sobre igrejas do Reino e Ultramar; criação e regime da igreja Patriarcal de Lisboa; canonização da rainha Santa Isabel; sucessão no governo de bispados; concessão de rendas eclesiásticas ao Rei; ordens para a edificação e reformação de conventos; atribuição ao Rei de Portugal de terras por descobrir; e outros temas.

Bulas papais

Ver artigo principal: Lista de bulas

Bulas douradas

As bulas douradas foram emitidas não pelo papa, mas por monarcas europeus, como a Bula Dourada de 1356, que determinou a estrutura do Sacro Império Romano-Germânico.

  • ABRANCHES, Joaquim dos Santos - Summa do Bullario Portuguez. Coimbra, 1895;
  • COSTA, Avelino de Jesus da, e MARQUES, Maria Alegria F. - Bulário português: Inocêncio III (1198-1216). Lisboa: INIC, 1989.
  • JORDÃO, Levi Maria - Bullarium Patronatus Portugaliae Regum in Ecclesis Africae, Asiae atque Oceaniae. Bulas, Brevia Epistolas, Decreta Actaque Sanctae Sedis ab Alexandro III ad hoc tempus amplectus, 5 vols. Lisboa: Imprensa Nacional, 1868-1873.