Beijo fraternal socialista
O beijo fraternal socialista ou abraço fraternal socialista é uma forma especial de saudação entre os estadistas de países comunistas. Este ato demonstra a ligação especial que existe entre os estados socialistas.[1]
O beijo fraternal socialista consiste em um abraço, combinado com uma série de três beijos em bochechas alternadas.[2] Em casos raros, quando os dois líderes, consideram-se excepcionalmente próximos, os beijos eram dados na boca, ao invés de nas bochechas.
O abraço fraterno socialista consiste em uma série de três abraços apertados, alternando entre os lados esquerdo e direito do corpo, sem beijos.[3] Esta saudação modificada foi adotada pelos líderes comunistas na Ásia, que não tem uma tradição de beijar as bochechas como saudação. Durante a Guerra Fria, líderes comunistas na Ásia consentiam em receber beijos de europeus e cubanos, mas eles mesmos omitiam o beijo.
Desde o fim do comunismo na Europa Oriental, o beijo fraternal socialista desapareceu. No entanto, o abraço fraternal socialista continua a ser trocado entre líderes comunistas na Ásia. Além disso, Cuba também adotou a forma asiática do ritual.[4][5]
História
[editar | editar código-fonte]Este ritual originou-se na prática européia de beijar as bochechas como uma saudação entre os membros da família ou amigos próximos. Ele também seria associado com o Beijo Fraternal Ortodoxo Oriental — ou Beijo de Páscoa,[6] que, entrincheirado nos ritos da Igreja Ortodoxa, carregava uma força de expressão substancial e assim fazia parte da vida cotidiana da região.
Como um símbolo de igualdade, fraternidade e solidariedade, o beijo fraternal socialista era uma expressão de pathos e entusiasmo dentro do emergente movimento operário entre meados e finais do século XIX. Nos anos que seguiram à Revolução de Outubro e à subsequente Internacional Comunista, uma ritualização do gesto, até então espontâneo, tornou-se uma saudação oficial entre camaradas comunistas. O reforço simbólico do sentimento de camaradagem também obteve sucesso pelo fato de muitos comunistas e socialistas terem de fazer viagens longas, árduas e perigosas para a isolada Rússia bolchevique. Dessa forma, a tão experimentada solidariedade internacional se expressava na forma de abraços e beijos tempestuosos.
Com a expansão do comunismo após a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética não estava mais isolada como o único país comunista. O beijo fraternal socialista tornou-se uma saudação ritualizada entre os líderes dos países comunistas. A saudação também foi adotada pelos dirigentes socialistas do Terceiro Mundo,[7][8] bem como os líderes de movimentos de libertação alinhados com os socialistas, como a Organização de Libertação da Palestina e o Congresso Nacional Africano.[9][10]
Kremlinologia
[editar | editar código-fonte]Alguns kremlinologistas que estudam a URSS prestam muita atenção para determinar as ocasiões em que o abraço fraternal era trocado entre os líderes comunistas. A omissão do abraço costumeiro é tomada para indicar um nível mais baixo de relações entre os dois países.[11]
Por exemplo, após a ruptura sino-soviética, os chineses recusavam-se a abraçar suas contrapartes soviéticas ou a tratá-las como "camaradas".[11] Mesmo com a normalização das relações em 1989, os chineses continuaram a omitir o abraço fraterno ao saudar os líderes soviéticos, ao mesmo tempo em que trocavam o abraço fraterno com líderes de outros países comunistas.[12] Isso foi feito para enfatizar que as relações sino-soviéticas não estavam retornando ao nível que estavam na década de 1950, antes da ruptura; o protocolo chinês insistia especificamente em "apertos de mão, sem abraços".[13]
Devido ao seu significado simbólico, os líderes comunistas muitas vezes trocavam o abraço fraterno, mesmo que existissem divergências sérias, para evitar passar a impressão ao público de que as relações estavam tensas. Por exemplo, embora a China e o Vietnã contestem a soberania das Ilhas Spratly, os líderes chineses e vietnamitas continuam a trocar o abraço fraternal socialista.
Beijos na bochecha
[editar | editar código-fonte]O beijo fraternal socialista não deve ser confundido com os beijos na bochecha costumeiros entre líderes mundiais. Por exemplo, é tradicional para o presidente da França cumprimentar líderes mundiais beijando-os nas duas faces.[14][15] Este não é um beijo fraternal socialista, porque há apenas dois beijos, e ele não carrega nenhum significado ideológico. Na França é praticado por presidentes gaulistas, bem como pelos socialistas.
Na cultura popular
[editar | editar código-fonte]O beijo fraternal se tornou famoso por meio de Erich Honecker e Leonid Brejnev, que foram fotografados realizando o ritual. A fotografia tornou-se famosa e posteriormente foi transformada em um grafite no Muro de Berlim chamado Meu Deus, Ajuda-me a Sobreviver a Este Amor Mortal.
Referências
- ↑ «Photos: A History of Lip-Locking in Russia, Home of the "Socialist Fraternal Kiss"»
- ↑ «Romania Cool Toward Gorbachev's First Visit»
- ↑ Chinese Premier Li Keqiang begins Vietnam visit. Reuters. 13 de outubro de 2013. Consultado em 11 de dezembro de 2018
- ↑ «Chinese President Xi Jinping awarded Cuba's Jose Marti Medal»
- ↑ «Castro brothers' China complex»
- ↑ «The Politics of the Kiss»
- ↑ SYND 28 3 77 RUSSIAN PRESIDENT PODGORNY GREETED BY PRESIDENT KAUNDA. AP Archive. 24 de julho de 2015
- ↑ Venezuelan president Hugo Chavez meets Chinese President Jiang Zemin. AP Archive. 21 de julho de 2015
- ↑ «Yasser Arafat & Deng Xiaoping»
- ↑ «Muammar Gaddafi»
- ↑ a b «Summit Stumper: Will Deng Hug Gorbachev?»
- ↑ «Daily Report: People's Republic of China». United States Foreign Broadcast Information Service
- ↑ Radchenko, Sergey (2014). Unwanted visionaries: the Soviet failure in Asia at the end of the Cold War. [S.l.: s.n.] ISBN 9780199938773
- ↑ Arrivée en France du président Hu Jintao no YouTube
- ↑ «Sarkozy and Merkel inject new life into alliance»
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Schimmel, Claudia, Der ‚sozialistische Bruderkuß‘ (PDF) (em alemão)