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Conde de Tarouca

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Armas do Conde de Valença, no Livro do Armeiro-Mor (1509). Estas armas são idênticas às dos Meneses também Condes de Tarouca (1499) e depois Marqueses de Penalva (1750).

O título de Conde de Tarouca foi um título nobiliárquico de Portugal criado a 24 de Abril de 1499 por D. Manuel I em favor de D. João de Meneses, quarto varão de D. Duarte de Meneses, Conde de Viana. Quando, 250 anos mais tarde, o 5.º Conde de Tarouca foi elevado a Marquês de Penalva por D. João V, os primogénitos desta Casa passaram a designar-se por Condes de Tarouca durante a vida de seus pais.

Este título de Marquês de Penalva que absorveu a Casa de Tarouca foi criado a 7 de Fevereiro de 1750 por D. João V em favor de Estêvão de Meneses, 5.º Conde de Tarouca. Embora tenha sido outorgado em vida do primeiro titular, o título de Marquês de Penalva foi ainda renovado nos 6.º, 7.º e 10.º condes de Tarouca, como se explica infra.

Ambos estes títulos foram descritos por, entre outros, D. António Caetano de Sousa nas Memorias Historicas e Genealogicas dos Grandes de Portugal.[1] Anselmo Braamcamp Freire no Vol. I dos Brasões da Sala de Sintra, dedica aos Meneses o Cap. VI, em que se explicam as origens dos vários ramos, entre eles o da Casa de Tarouca.[2]

Os condes de Tarouca descendiam de D. João Afonso Teles de Meneses, Conde de Ourém e irmão de D. Martim Afonso Telo de Meneses, o pai da rainha D. Leonor Teles e do Conde de Neiva; deste último descendem por sua vez os Condes de Cantanhede e Marqueses de Marialva, e ainda os Condes da Ericeira e Marqueses de Louriçal, parentes dos Condes de Tarouca e Marqueses de Penalva.

De notar que o primeiro Conde de Tarouca era irmão de D. Henrique de Meneses, Conde de Valença, etc., sendo ambos netos do célebre D. Pedro de Meneses, primeiro capitão de Ceuta após a conquista da cidade em 1415 por D. João I e os infantes D. Duarte D. Pedro e D. Henrique, e primeiro Conde de Vila Real em 1424.

De notar por fim que a Casa de Tarouca, mais tarde de Penalva, teve durante os séculos XVI e XVII uma das menos regulares linhas de sucessão da alta nobreza portuguesa da era, como se explica infra.

Condes de Tarouca (1499)

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Título de Conde de Tarouca nas Memorias Historicas e Genealogicas dos Grandes de Portugal (1755).
D. Duarte de Meneses, Vice-rei da Índia, bisneto do 1.º Conde de Tarouca e pai do 2.º conde, in Ásia Portuguesa de Manuel de Faria e Sousa (1675).
Costados dos Condes de Tarouca e Marqueses de Penalva.

A família dos Condes de Tarouca do século XVI é principalmente notável por três factores:

  1. Em primeiro lugar, por causa da fortíssima presença de varões da família no Norte de África, no governo de várias praças marroquinas, principalmente na primeira metade do século. Isto deveu-se à herança de D. Pedro de Meneses, o avô do primeiro Conde de Tarouca, que fez do governo de Ceuta desde a conquista da cidade em 1415 até falecer em 1437 a base da construção da Casa de Vila Real.[3] Como resultado, o irmão mais velho do futuro 1.º conde, o Conde de Valença, esteve por exemplo presente na conquista de Arzila em 1471, ficando como governador da praça até falecer em 1480. Então, o governo da praça passou para o futuro 1.º conde até 1486, para este depois passar a governar Tânger. E seria principalmente nesta praça que os familiares do Conde de Tarouca estariam presentes na centúria de Quinhentos, transformando quase o cargo numa dignidade hereditária (ver infra).
  2. Em segundo lugar, e de maneira semelhante a outros casos na alta nobreza, por causa do muito elevado número de varões com os mesmos nomes ― Pedro, Duarte, Henrique e João ― nesta época, o que faz com que as identidades facilmente se confundam; é assim necessária bastante prudência ao investigar esta linhagem nesta centúria. Apenas para dar um exemplo, o 1.º conde, ele próprio filho de um Duarte de Meneses, teve, para além do filho e do bisneto mencionados infra também chamados Duarte de Meneses ― ambos capitães de Tânger e governadores da Índia ― ainda um neto e um sobrinho do mesmo nome ― ambos também capitães de Tânger na mesma época!
  3. Em último lugar, de um ponto de vista nobiliárquico, por causa do muito longo hiato entre o 1.º e o 2.º conde, visto o título não ter sido renovado nem no filho, nem no neto, nem no bisneto do primeiro conde; apenas o trineto viu renovado o título em sua pessoa.

Exemplificando todos estes três factores, e dando apenas alguns exemplos, podemos ver:

  • D. Henrique de Meneses, Conde de Valença, irmão mais velho do 1.º conde: capitão de Arzila (1471-80)
  • D. João de Meneses, 1.º Conde de Tarouca, capitão de Arzila (1480-86) e Tânger (1486-89 & 1501-08)
  • D. Duarte de Meneses, filho do anterior, capitão de Tânger (1508-21 & 1536-39) e Governador da Índia (1522-24)
  • D. João de Meneses, filho do anterior, capitão de Tânger (1539-46)
  • D. Duarte de Meneses, filho do anterior, capitão de Tânger (1574-77) e Vice-rei da Índia (1584-88)
  • D. Luis de Meneses, filho do anterior, capitão de Tânger (1614-15), 2.º Conde de Tarouca

Por esta meia dúzia de exemplos se pode ver como o título saltou três gerações; como eram frequente a presença dos varões da família nas praças marroquinas (e no Oriente); e como certos nomes são vistos com grande frequência. Aqui fica novamente o aviso para investigadores desta linhagem nesta época.

No século XVII vemos novamente uma sucessão interrompida nos Condes de Tarouca, que está na origem do título de Penalva mais tarde. Durante a Guerra da Restauração, o 3.º Conde de Tarouca passou a Espanha, levando consigo dois filhos. Lá foi pelo monarca espanhol feito Marquês de Penalva como recompensa pela sua lealdade à Coroa de Castela, título este nunca reconhecido em Portugal, mas ainda usado pelo seu primogénito em Espanha. O seu filho mais novo, no entanto, levado para Castela ainda pequeno, passou a Portugal ainda durante a guerra e prestou fidelidade a D. João IV. Herdou o senhorio da Casa de Tarouca, mas não o título, que após a sua morte em 1677 foi herdado pela filha. O filho desta, já com varonia Silva, foi então feito Marquês de Penalva em 1750.

Vários membros desta linhagem cultivaram as letras, nomeadamente vários dos Marqueses de Penalva, o 4.º Conde de Tarouca, e o primeiro conde do título, que para além de comandar exércitos em Marrocos escreveu várias composições no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende.

  1. D. João de Meneses, 1.º Conde de Tarouca.
  2. D. Luís de Meneses, 2.º Conde de Tarouca; trineto do anterior.
  3. D. Duarte Luís de Meneses, 3.º Conde de Tarouca; filho do anterior. Passou a Castela durante a Restauração em 1641.
    1. D. Estêvão de Meneses, Senhor da Casa de Tarouca; filho do anterior. Passou a Portugal durante a Restauração em 1664.
  4. D. Joana Rosa de Meneses, 4.º Condessa de Tarouca; filha do anterior. Casou com João Gomes da Silva, irmão do 2.º Marquês de Alegrete e 3.º Conde de Vilar Maior, e 4.º Conde de Tarouca por casamento.
  5. D. Estêvão de Meneses (1695-1758), 5.º Conde de Tarouca; filho do anterior, feito 1.º Marquês de Penalva.
  6. D. Eugénia de Meneses da Silva (1731-1788), 6.ª Condessa de Tarouca e 2.ª Marquesa de Penalva; filha do anterior. Casou com o 6.º Conde de Vilar Maior, 2.º Marquês de Penalva por casamento.
  7. D. Fernando Teles da Silva (1754-1818), 7.º Conde de Tarouca e 3.º Marquês de Penalva; filho dos anteriores.
  8. D. Luís Teles da Silva Caminha e Meneses (1775-1828), 8.º Conde de Tarouca e 5.º Marquês de Alegrete; filho do anterior.
  9. D. Fernando Teles da Silva Caminha e Meneses (1810-1812), 9.º Conde de Tarouca; filho do anterior.
  10. D. Fernando Teles da Silva Caminha e Meneses (1813-1893), 10.º Conde de Tarouca e 4.º Marquês de Penalva; irmão do anterior.
  11. D. Luís Teles da Silva Caminha e Meneses (1837-1863), 11.º Conde de Tarouca; filho do anterior.
  12. D. Eugénia Teles da Silva (1860-1946), 12.º Condessa de Tarouca; filha do anterior.

As armas dos Condes de Tarouca eram as de Meneses de D. Pedro de Meneses, 1.º Conde de Vila Real: Partido de dois traços e cortado de um: I, III e V de ouro, com dois lobos de púrpura passantes e sotopostos; [Vilalobos]) II, IV e VI de ouro, com quatro palas de vermelho. [Lima]. Sobreposto de tudo um escudete de ouro pleno [Meneses].[4]

Estas armas encontram-se no Livro do Armeiro-Mor (fl 48r), no Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas (fl 9v), etc.

Marqueses de Penalva (1750)

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Título de Marquês de Penalva na obra de D. António Caetano de Sousa.

O título de Marquês de Penalva, criado em 1750 para o 5.º Conde de Tarouca, foi renovado na filha e no neto do primeiro marquês, a 6.º Condessa e o 7.º Conde de Tarouca, respectivamente; mas não no filho deste último, por este, o 8.º Conde de Tarouca, neto do 4.º Marquês de Alegrete, ter sido agraciado com o título de 5.º Marquês de Alegrete.

Assim, o título de Marquês de Penalva foi renovado no filho secundogénito do 8.º Conde de Tarouca, após a morte prematura do primogénito. Este 4.º Marquês de Penalva alcancou a idade de oitenta anos antes de falecer em 1893, e viu morrer o seu filho e herdeiro, o 11.º Conde de Tarouca, ainda em 1863. O título de marquês não foi renovado na sua neta, a 12.º e última Condessa de Tarouca.

  1. D. Estêvão de Meneses (1695-1758), 1.º Marquês de Penalva e 5.º Conde de Tarouca; filho dos anteriores.
  2. D. Eugénia de Meneses da Silva (1731-1788), 2.ª Marquesa de Penalva e 6.ª Condessa de Tarouca; filha do anterior. Casou com o 6.º Conde de Vilar Maior, 2.º Marquês de Penalva por casamento.
  3. D. Fernando Teles da Silva (1754-1818), 3.º Marquês de Penalva e 7.º Conde de Tarouca; filho dos anteriores.
    1. D. Luís Teles da Silva Caminha e Meneses (1775-1828), 8.º Conde de Tarouca e 5.º Marquês de Alegrete; filho do anterior.
    2. D. Fernando Teles da Silva Caminha e Meneses (1810-1812), 9.º Conde de Tarouca; filho do anterior.
  4. D. Fernando Teles da Silva Caminha e Meneses (1813-1893), 4.º Marquês de Penalva e 10.º Conde de Tarouca; irmão do anterior.
    1. D. Luís Teles da Silva Caminha e Meneses (1837-1863), 11.º Conde de Tarouca; filho do anterior.
    2. D. Eugénia Teles da Silva (1860-1946), 12.º Condessa de Tarouca; filha do anterior.

As armas dos Marqueses de Penalva eram inicialmente as dos Condes de Tarouca supra: Meneses, de D. Pedro de Meneses. Mais tarde, com a quebra de varonia, foram as suas armas as de Teles da Silva dos Marqueses de Alegrete e Condes de Vilar Maior; ver estes títulos.

Após a queda da Monarquia

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Com a queda da Monarquia e a implantação da República Portuguesa em 1910 foram os titulares à data da implantação da República autorizados a manter e usar os seus títulos até à morte. Com a morte da última Condessa de Tarouca em 1946, os vários títulos da Casa de Penalva encontram-se assim hoje extintos.


Referências

  1. CAETANO DE SOUSA, António: Memorias Historicas e Genealogicas dos Grandes de Portugal, pp. 189-190 (Marqueses de Penalva) e 567-582 (Condes de Tarouca).
  2. BRAAMCAMP FREIRE, Anselmo: Brasões da Sala de Sintra, Vol I, pp. 101-138.
  3. CAMPOS, Nuno Silva: D. Pedro de Meneses e a Construção da Casa de Vila Real (1415-1437). Dissertação de mestrado.
  4. Descrição heráldica in ACADEMIA PORTUGUESA DA HISTÓRIA: Livro do Armeiro-Mor (1509), p. XLVI.
  • Livro do Armeiro-Mor (1509). 2.ª Edição. Prefácio de Joaquim Veríssimo Serrão; Apresentação de Vasco Graça Moura; Introdução, Breve História, Descrição e Análise de José Calvão Borges. Academia Portuguesa da História/Edições Inapa, 2007.
  • BRAAMCAMP FREIRE, Anselmo: Brasões da Sala de Sintra. 3 Vols. 3.ª Edição, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1996.
  • CAETANO DE SOUSA, António: Memorias Historicas e Genealogicas dos Grandes de Portugal. 3.ª Edição, 1755.
  • CAMPOS, Nuno Silva: D. Pedro de Meneses e a Construção da Casa de Vila Real (1415-1437). Dissertação de mestrado. Lisboa: Edições Colibri, 2004.