Grande Prêmio dos Estados Unidos de 1970
Grande Prêmio dos Estados Unidos de Fórmula 1 de 1970 | |||
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Décimo GP dos EUA em Watkins Glen | |||
Detalhes da corrida | |||
Categoria | Fórmula 1 | ||
Data | 4 de outubro de 1970 | ||
Nome oficial | XIII United States Grand Prix[1] | ||
Local | Watkins Glen International, Watkins Glen, Nova Iorque, EUA | ||
Percurso | 3.780 km | ||
Total | 108 voltas / 408.240 km | ||
Condições do tempo | Nublado, seco | ||
Pole | |||
Piloto |
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Tempo | 1:03.07 | ||
Volta mais rápida | |||
Piloto |
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Tempo | 1:02.74 (na volta 105) | ||
Pódio | |||
Primeiro |
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Segundo |
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Terceiro |
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Resultados do Grande Prêmio dos Estados Unidos de Fórmula 1 realizado em Watkins Glen em 4 de outubro de 1970. Décima segunda etapa do campeonato, nela Emerson Fittipaldi, da Lotus-Ford, conseguiu a primeira vitória de sua carreira com Pedro Rodríguez em segundo pela BRM e Reine Wisell em terceiro pela Lotus-Ford. Graças a esse resultado a equipe de Colin Chapman assegurou o título de Jochen Rindt, o único campeão mundial post-mortem na história da categoria.[2][3][nota 1]
Resumo
[editar | editar código-fonte]Lotus versus Ferrari
[editar | editar código-fonte]Presente na Fórmula 1 desde o Grande Prêmio de Mônaco de 1958,[4] a Lotus somou 41 vitórias e três títulos mundiais de pilotos com Jim Clark e Graham Hill, além de igual número de títulos entre os construtores antes de chegar aos Estados Unidos para mais uma etapa do campeonato de 1970. Por sua vez a Ferrari conseguiu 45 vitórias, seis títulos mundiais de pilotos e dois de construtores desde a sua estreia no Grande Prêmio de Mônaco de 1950, graças aos talentos de Alberto Ascari, Juan Manuel Fangio, Mike Hawthorn, Phil Hill e John Surtees, dentre outros condutores de parte a parte.[5][nota 2]
Equivalentes em termos numéricos, os dois times chegaram à pista de Watkins Glen International em situações distintas: a Lotus não disputou as duas últimas provas em respeito à memória de Jochen Rindt, morto em 5 de setembro durante os treinos para o Grande Prêmio da Itália, enquanto a Ferrari soma três vitórias consecutivas, razão pela qual Jochen Rindt lidera o campeonato com 45 pontos enquanto Jacky Ickx vem a seguir com 28 pontos, sendo o único piloto capaz de tomar o título do finado corredor austríaco.
A morte trágica de Jochen Rindt foi seguida pela aposentadoria de John Miles, titulares da Lotus até a estreia de Emerson Fittipaldi como terceiro piloto da equipe no Grande Prêmio da Grã-Bretanha[6] e o brasileiro marcou seus primeiros pontos na corrida seguinte, o Grande Prêmio da Alemanha.[7] Mesmo sendo um calouro, Fittipaldi exercerá papel decisivo na corrida norte-americana, pois seu novo companheiro de time é o estreante Reine Wisell.[8] Por sua vez a Ferrari aposta na combinação entre o arrojo do novato Clay Regazzoni e a experiência de Jacky Ickx, vice-campeão mundial de 1969.
Maranello sai na frente
[editar | editar código-fonte]Jacky Ickx assegurou a pole position corroborando o bom momento da Ferrari enquanto Jackie Stewart ficou em segundo lugar com sua Tyrrell enquanto a segunda fila contava com a Lotus de Emerson Fittipaldi e a BRM de Pedro Rodríguez enquanto Chris Amon ficou em quinto com a March e Clay Regazzoni levou a outra Ferrari ao sexto lugar num grid formado com vinte e quatro carros.[9]
Para a etapa norte-americana a Surtees disponibilizou um segundo carro para Derek Bell enquanto a BRM inscreveu um quarto carro para Peter Westbury, bicampeão britânico de subida de montanha, mas este não conseguiu classificar-se à disputa, mesmo destino de Pete Lovely numa Lotus privada e Andrea de Adamich guiando uma McLaren-Alfa Romeo. Na seara dos estreantes o sueco Reine Wisell classificou sua Lotus em nono lugar enquanto o norte-americano Gus Hutchison sairá na vigésima segunda posição.[10]
Jochen Rindt campeão
[editar | editar código-fonte]Jackie Stewart fez uma boa largada e conseguiu a ponta enquanto Pedro Rodríguez e Jacky Ickx revezavam-se em segundo lugar durante boa parte da prova. Até a consolidação deste cenário, contudo, Rodríguez estava adiante das duas Ferrari enquanto Fittipaldi caiu para oitavo. Cauteloso, o brasileiro atingiu a zona de pontuação na décima quinta volta enquanto Stewart mantinha-se adiante de Ickx e Regazzoni colocava-se à frente de Rodríguez e Amon. Quando Regazzoni e Amon foram aos boxes trocar os pneus, Fittipaldi subiu para o quarto posto antes da metade da prova. Na volta 57, foi a vez de Jacky Ickx parar para corrigir um vazamento de combustível e enterrou ali suas chances de título.[10] Nesse momento Stewart estava adiante de Rodríguez e Fittipaldi chegava ao terceiro lugar tendo atrás de si seu companheiro de equipe, Reine Wisell.[10][3]
Após liderar por oitenta e duas voltas, Stewart abandonou por causa de um defeito em sua Tyrrell e assim Rodríguez alcançou a liderança com vinte segundos de vantagem sobre Fittipaldi, mas a sorte do mexicano mudou após a centésima volta quando a BRM chamou seu piloto para reabastecer e assim Fittipaldi chegou ao primeiro lugar. Graças ao bom trabalho executado no pit lane, Rodríguez voltou em segundo adiante de Wisell, ordem inalterada até o fim da corrida. Completando a zona de pontuação, os outros pilotos ficaram a uma volta do vencedor: em quarto lugar chegou a Ferrari de Jacky Ickx numa excelente prova de recuperação cujo ato final foi superar a March de Chris Amon a quatro voltas do final enquanto Derek Bell marcou o único ponto de sua carreira ao chegar em sexto com a Surtees.
Emerson Fittipaldi completou as 108 voltas da prova e recebeu a bandeirada com 36 segundos de vantagem sobre Rodriguez. Ao cruzar a linha de chegada, ele viu Colin Chapman pulando e jogando seu boné para o alto[11] tal como nas vitórias de Jim Clark, Graham Hill e Jochen Rindt.[nota 3] Graças à sua primeira vitória na Fórmula 1, o brasileiro sacramentou o título mundial de Jochen Rindt entre os pilotos e o da Lotus entre os construtores. "Emerson é o ganhador aqui e Jochen o campeão mundial. E tinha que ser assim. Ambos mereciam, o primeiro porque é um grande volante e Rindt porque era o melhor do mundo atualmente",[12] disse o proprietário da Lotus ao comentar o resultado do Grande Prêmio dos Estados Unidos, cuja imagem final tinha Emerson Fittipaldi no alto do pódio tendo ao seu lado o mexicano Pedro Rodriguez e o sueco Reine Wisell, este satisfeito com o melhor resultado de sua carreira.[8][13] Um público estimado em 110 mil pessoas assistiu a corrida.[14]
Primeira vitória do Brasil
[editar | editar código-fonte]Primeiro brasileiro a vencer na Fórmula 1, Emerson Fittipaldi deixa os Estados Unidos em décimo lugar no mundial de pilotos (12 pontos).[nota 4] O êxito em terras norte-americanas atestou o talento precoce do brasileiro, pois o mesmo venceu logo em sua quarta corrida na categoria e ainda foi alçado à história, pois tornou-se o primeiro sul-americano a triunfar desde o pentacampeão Juan Manuel Fangio no Grande Prêmio da Alemanha de 1957.[15] O ídolo argentino, aliás, foi lembrado por Fittipaldi em meio à euforia pela vitória, tal como um amigo recém-falecido: "Rindt é a pessoa que sempre tive em mente desde que iniciei a correr, há 14 meses. Ele e Juan Manuel Fangio sempre foram meus ídolos".[14]
Em 2020 Emerson Fittipaldi relembrou, em depoimento, os 50 anos de sua primeira vitória na Fórmula 1 e nele o bicampeão mundial expôs os bastidores dos dias que antecederam sua consagração, a começar pela surpresa em ser confirmado como primeiro piloto da Lotus, afinal a lógica recomendava a contratação de alguém experiente para soerguer a equipe. A confiança depositada permitiu a Fittipaldi alcançar o terceiro lugar no grid e até mesmo superar uma febre de 40 graus antes do domingo decisivo e quando este chegou, uma surpresa: a pista estava "meio molhada, meio seca" e assim permaneceu até metade da corrida quando seu desempenho melhorou em pista seca e ele pôde assumir a liderança da prova e sentir a emoção da vitória.[16]
Com a fleuma que lhe é peculiar, Emerson Fittipaldi definiu aquele como um dos fins de semana mais marcantes de sua carreira, mas não sem antes expressar surpresa por ter ocorrido há cinquenta anos! Bem-humorado, lembrou a reação que teve ao chegar em Nova York e observar que o funcionário do hotel onde se hospedaria estava lendo o caderno esportivo do The New York Times e nele uma manchete destacava: Emerson who (?) won the U.S.Grand Prix. Ao conferir os documentos de seu hóspede, o homem perguntou "Mas esse aqui é você?". "Sim, sou eu", respondeu o brasileiro.[16]
Classificação da prova
[editar | editar código-fonte]Pos | Nº. | Piloto | Construtor | Voltas | Tempo/Diferença | Grid | Pontos |
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1 | 24 | Emerson Fittipaldi | Lotus-Ford | 108 | 1:57:32.79 | 3 | 9 |
2 | 19 | Pedro Rodríguez | BRM | 108 | + 36.39 | 4 | 6 |
3 | 23 | Reine Wisell | Lotus-Ford | 108 | + 45.17 | 9 | 4 |
4 | 3 | Jacky Ickx | Ferrari | 107 | + 1 volta | 1 | 3 |
5 | 12 | Chris Amon | March-Ford | 107 | + 1 volta | 5 | 2 |
6 | 18 | Derek Bell | Surtees-Ford | 107 | + 1 volta | 13 | 1 |
7 | 8 | Denny Hulme | McLaren-Ford | 106 | + 2 voltas | 11 | |
8 | 7 | Henri Pescarolo | Matra | 105 | + 3 voltas | 12 | |
9 | 11 | Jo Siffert | March-Ford | 105 | + 3 voltas | 23 | |
10 | 15 | Jack Brabham | Brabham-Ford | 105 | + 3 voltas | 16 | |
11 | 29 | Ronnie Peterson | March-Ford | 104 | + 4 voltas | 15 | |
12 | 16 | Rolf Stommelen | Brabham-Ford | 104 | + 4 voltas | 19 | |
13 | 4 | Clay Regazzoni | Ferrari | 101 | + 7 voltas | 6 | |
14 | 9 | Peter Gethin | McLaren-Ford | 100 | + 8 voltas | 21 | |
Ret | 1 | Jackie Stewart | Tyrrell-Ford | 82 | Óleo | 2 | |
Ret | 14 | Graham Hill | Lotus-Ford | 72 | Embreagem | 10 | |
Ret | 2 | François Cevert | March-Ford | 62 | Roda | 17[17] | |
Ret | 30 | Tim Schenken | De Tomaso-Ford | 61 | Suspensão | 20 | |
Ret | 27 | Jo Bonnier | McLaren-Ford | 50 | Cano d'água | 24 | |
Ret | 6 | Jean-Pierre Beltoise | Matra | 27 | Handling | 18 | |
Ret | 31 | Gus Hutchison | Brabham-Ford | 21 | Vazamento | 22 | |
Ret | 20 | Jackie Oliver | BRM | 14 | Motor | 7 | |
Ret | 21 | George Eaton | BRM | 10 | Motor | 14 | |
Ret | 17 | John Surtees | Surtees-Ford | 6 | Motor | 8 | |
DNQ | 32 | Peter Westbury | BRM | ||||
DNQ | 28 | Pete Lovely | Lotus-Ford | ||||
DNQ | 10 | Andrea de Adamich | McLaren-Alfa Romeo | ||||
Fonte:[2] |
Tabela do campeonato após a corrida
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- Nota: Somente as primeiras cinco posições estão listadas e os campeões da temporada surgem destacados em negrito. Em 1970 os pilotos computariam seis resultados nas sete primeiras corridas do ano e cinco nas últimas seis. Neste ponto esclarecemos: na tabela dos construtores figurava somente o melhor colocado dentre os carros de um time.
Notas
- ↑ Voltas na liderança: Jackie Stewart 82 voltas (1-82); Pedro Rodríguez 18 voltas (83-100); Emerson Fittipaldi 8 voltas (101-108).
- ↑ Na Fórmula 1 o mundial de pilotos existe desde 1950, mas o mundial de construtores foi instituído apenas em 1958.
- ↑ Stirling Moss (quatro), Innes Ireland (uma), Jim Clark (vinte e cinco), Graham Hill (quatro), Jo Siffert (uma) e Jochen Rindt (seis) foram responsáveis pelas vitórias da Lotus antes de Emerson Fittipaldi. Cabe registrar: embora fosse contatado pela Rob Walker Racing Team, Jo Siffert venceu o Grande Prêmio da Grã-Bretanha de 1968 utilizando um Lotus 49C concebido por Colin Chapman e Maurice Philippe.
- ↑ Emerson Fittipaldi tornou-se o quadragésimo quarto piloto a vencer uma corrida válida pelo mundial de Fórmula 1 ao triunfar nos Estados Unidos em 1970 num ranking onde Jim Clark era o primeiro com 25 vitórias. Os britânicos também lideravam entre os países com 85 vitórias e o Brasil, com apenas uma, dividia a última posição com a Suécia dentre os quatorze países listados.
Referências
- ↑ a b c «1970 United States GP – championships (em inglês) no Chicane F1». Consultado em 30 de julho de 2020
- ↑ a b «1970 United States Grand Prix - race result». Consultado em 21 de dezembro de 2018
- ↑ a b Fred Sabino (18 de abril de 2018). «Jochen Rindt é até hoje o único campeão póstumo na história da Fórmula 1». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 21 de dezembro de 2018
- ↑ Fred Sabino (18 de maio de 2018). «Lotus e Graham Hill faziam primeira corrida na F1 há 60 anos, em Mônaco». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 3 de agosto de 2020
- ↑ Fred Sabino (21 de maio de 2020). «Há 70 anos, 1º GP de Mônaco de F1 teve estreia da Ferrari, caos no início e 1ª vitória de Fangio». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 3 de agosto de 2020
- ↑ Fred Sabino (18 de julho de 2020). «Cinquenta anos depois, Emerson Fittipaldi relembra estreia na Fórmula 1, em Brands Hatch». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 3 de agosto de 2020
- ↑ Fred Sabino (2 de agosto de 2018). «Primeiros pontos de Emerson Fittipaldi na F1 foram marcados na Alemanha». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 3 de agosto de 2020
- ↑ a b «Drivers – Reine Wisell (em inglês) no grandprix.com». Consultado em 3 de agosto de 2020
- ↑ Associated Press (5 de outubro de 1970). «Emerson venceu nos EUA e ganhou 50 mil dólares. Matutina – Esportes, p. 03». acervo.oglobo.globo.com. O Globo. Consultado em 3 de agosto de 2020
- ↑ a b c «United States GP, 1970 (em inglês) no grandprix.com». Consultado em 3 de agosto de 2020
- ↑ Felipe Siqueira (4 de outubro de 2015). «Há 45 anos, Fittipaldi vencia a primeira, e Rindt virava campeão "post-mortem"». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 9 de agosto de 2020
- ↑ Associated Press (5 de outubro de 1970). «Ganhou em tempo recorde. Vespertina – Geral, p. 38». acervo.oglobo.globo.com. O Globo. Consultado em 4 de agosto de 2020
- ↑ Associated Press; Agence France-Presse (5 de outubro de 1970). «Emerson Fittipaldi ganha o Grande Prêmio dos EUA. Esportes, p. 10». acervo.folha.com.br. Folha de S.Paulo. Consultado em 4 de agosto de 2020
- ↑ a b Associated Press (5 de outubro de 1970). «Corri com o pensamento no meu amigo Rindt. Vespertina – Geral, p. 38». acervo.oglobo.globo.com. O Globo. Consultado em 4 de agosto de 2020
- ↑ Fred Sabino (4 de agosto de 2019). «Juan Manuel Fangio realizou sua obra prima na Fórmula 1 em Nürburgring, em 1957». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 5 de agosto de 2020
- ↑ a b c Fred Sabino (4 de outubro de 2020). «Há 50 anos, Emerson Fittipaldi deu ao Brasil primeira vitória na F1; veja depoimento exclusivo!». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 4 de outubro de 2020
- ↑ Lang, Mike (1982). Grand Prix! Vol 2. [S.l.]: Haynes Publishing Group. p. 137. ISBN 0-85429-321-3
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