Guerra convencional
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A guerra convencional é uma forma de guerra conduzida com o uso de armas convencionais e táticas de campo de batalha entre dois ou mais estados em confronto aberto. As forças de cada lado são bem definidas e lutam usando armas que visam principalmente o exército adversário. Geralmente, é travada com o uso de armas convencionais, não químicas, biológicas, radiológicas ou armas nucleares.[1]
O propósito geral da guerra convencional é enfraquecer ou destruir o exército adversário, anulando sua capacidade de se envolver em guerra convencional. No entanto, ao forçar a capitulação, um ou ambos os lados podem eventualmente recorrer a táticas de guerra não convencional.[1]
História
[editar | editar código-fonte]Formação do Estado
[editar | editar código-fonte]Inicialmente, o Estado foi defendido por Platão,[2] mas encontrou maior aceitação na consolidação do poder sob a Igreja Católica Romana. Os monarcas europeus ganharam poder à medida que a Igreja Católica foi despojada do poder temporal da Santa Sé e substituída pelo direito divino dos reis. Em 1648, as potências da Europa assinaram o Tratado de Vestfália, que pôs fim à violência religiosa em prol do governo e perspectiva puramente políticos, marcando o nascimento do estado moderno.[3]
Dentro do paradigma estatista, apenas o Estado e seus representantes designados podem portar armas e entrar em guerra. Dessa forma, a guerra passou a ser compreendida apenas como um conflito entre estados soberanos. Os monarcas fortaleceram essa ideia e deram a ela a força da lei. Qualquer nobre tinha permissão para iniciar uma guerra, mas os monarcas europeus tiveram que consolidar o poder militar em resposta às Guerras Napoleônicas.[4]
Paradigma de Clausewitz
[editar | editar código-fonte]A Prússia foi um dos países que tentou acumular poder militar. Carl von Clausewitz, um dos oficiais da Prússia, escreveu Da Guerra, uma obra enraizada exclusivamente no mundo do estado.[5] Todas as outras formas de conflito intrastatal, como rebelião, não são consideradas, pois, em termos teóricos, ele não conseguia abordar a guerra antes do surgimento do estado. No entanto, no final de sua vida, ele ficou cada vez mais ciente da importância de atores militares não estatais, como é revelado em suas concepções de "o povo em armas", que ele observou surgir das mesmas fontes sociais e políticas que a guerra interestadual tradicional.[6]
Práticas militares como raides ou vinganças familiares foram então rotuladas como atividades criminosas e sem legitimidade. Esse paradigma de guerra refletia a visão da maior parte do mundo modernizado no início do século XXI, como comprovado pela análise dos exércitos convencionais da época: grandes, de alta manutenção e tecnologicamente avançados, projetados para competir contra forças semelhantes.[7]
Clausewitz também abordou a questão do casus belli. Guerras haviam sido travadas por razões sociais, religiosas ou mesmo culturais, e Clausewitz ensinou que a guerra é meramente "uma continuação da política por outros meios". É um cálculo racional no qual os estados lutam por seus interesses (sejam eles econômicos, relacionados à segurança ou outros) uma vez que o discurso normal teve um fim.[8]
Prevalência
[editar | editar código-fonte]A maioria das guerras modernas foi conduzida usando meios convencionais.[9] O uso confirmado de guerra biológica por um estado-nação não ocorreu desde 1945, e a guerra química foi usada apenas algumas vezes (o último confronto conhecido em que foi utilizada foi a Guerra Civil Síria). A guerra nuclear ocorreu apenas uma vez: quando os Estados Unidos bombardearam as cidades Hiroshima e Nagasaki no Japão em agosto de 1945.[10][11]
Após a Segunda Guerra Mundial
[editar | editar código-fonte]O Estado e os princípios de Clausewitz atingiram seu auge nas Guerras Mundiais, durante o século XX, mas também lançaram as bases para sua dilapidação devido à proliferação nuclear. Durante a Guerra Fria, as superpotências procuraram evitar conflitos abertos entre suas respectivas forças, pois ambas reconheciam que tal confronto poderia facilmente escalar e envolver rapidamente armas nucleares.[12] Em vez disso, as superpotências lutaram entre si por meio de seu envolvimento em guerras por procuração, acumulações militares e impasses diplomáticos. Assim, ainda não ocorreu uma guerra convencional direta entre duas potências nucleares, exceto por dois confrontos breves entre China e União Soviética em 1969 (Conflito sino-soviético) e entre Índia e Paquistão em 1999 (Guerra de Kargil).[13][14][15][16]
No entanto, guerras convencionais foram travadas desde 1945 entre países sem armas nucleares, como a Guerra Irã-Iraque e a Guerra Eritreia-Etiópia, ou entre um estado nuclear e um estado não nuclear mais fraco, como a Guerra do Golfo e a Guerra Russo-Ucraniana.[17][18][19]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b Fabian, Sandor. «IRREGULAR VERSUS CONVENTIONAL WARFARE: A DICHOTOMOUS MISCONCEPTION». Consultado em 17 de janeiro de 2024
- ↑ Cerqueira, Luiz Aires. «A REPÚBLICA DE PLATÃO, O ESTADO IDEAL – Segundas Filosóficas». Consultado em 12 de janeiro de 2024
- ↑ Brito, Thais (26 de janeiro de 2021). «Paz de Westfália: o marco das Relações Internacionais | Politize!». Consultado em 12 de janeiro de 2024
- ↑ Vieira, Jadir. «A arte da guerra: as dez táticas mais eficazes da Antiguidade» (PDF). UFSC. Consultado em 17 de janeiro de 2024
- ↑ Clausewitz, Carl von (5 de abril de 2017). Da guerra. [S.l.]: WWF Martins Fontes
- ↑ Smith, M.L.R. "Guerrillas in the mist: reassessing strategy and low intensity warfare". Review of International Studies. Vol. 29, 19–37. 2003
- ↑ «O conceito de Guerra de Clausewitz». Brasil Escola. Consultado em 17 de janeiro de 2024
- ↑ Banta, Benjamin (5 de agosto de 2019). «The New War Thesis and Clausewitz: A Reconciliation». Global Policy. Consultado em 17 de janeiro de 2024
- ↑ Costa, D., 2019. Os novos tipos de guerra. Cadernos de Estudos Estratégicos, (1), pp.17-28.
- ↑ Ham, Paul (5 de agosto de 2014). Hiroshima Nagasaki: The Real Story of the Atomic Bombings and Their Aftermath (em inglês). [S.l.]: Macmillan
- ↑ Silva, Daniel. «Guerra civil síria e ataque contra armas químicas». Brasil Escola. Consultado em 17 de janeiro de 2024
- ↑ Júnior, A.W.T., 2021. A Dissuasão Convencional como Estratégia: Rússia, China e Irã Comparados. Centro de Estudos Estratégicos do Exército: Análise Estratégica, 19(1), pp.7-32.
- ↑ Jasjit Singh, ed. (1999). Kargil 1999: Pakistan's fourth war for Kashmir. New Delhi: Knowledge World [u.a.]
- ↑ Rodrigues, Pedro. «Guerra por procuração (Proxy War)». InfoEscola. Consultado em 17 de janeiro de 2024
- ↑ Kuisong, Y. (agosto de 2000). «The Sino-Soviet Border Clash of 1969: From Zhenbao Island to Sino-American Rapprochement». Cold War History (em inglês) (1): 21–52. ISSN 1468-2745. doi:10.1080/713999906. Consultado em 12 de janeiro de 2024
- ↑ Altman, Max (2 de março de 2021). «Hoje na História: 1969 - Tropas soviéticas e chinesas entram em confronto». Opera Mundi. Consultado em 17 de janeiro de 2024
- ↑ Lebelem, C. and Villa, R.D., 2022. A guerra russo-ucraniana: impactos sobre a segurança regional e internacional. CEBRI-Revista: Brazilian Journal of International Affairs, (3), pp.112-136.
- ↑ Aquino, Caroline Freire. «O conflito entre a Etiópia e a Eritréia» (PDF). Conflitos Internacionais. 7 (3)
- ↑ Gallas, Daniel (14 de março de 2022). «Além da Guerra na Ucrânia: 7 conflitos sangrentos que ocorrem hoje no mundo». BBC. Consultado em 17 de janeiro de 2024
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Changing Nature of Warfare». National Intelligence Council. 2004. Consultado em 30 de janeiro de 2006. Cópia arquivada em 15 Junho de 2006
- Stathis Kalyvas (2003). «The Sociology of Civil Wars: Warfare and Armed Groups». Armed Groups Project. Consultado em 30 de janeiro de 2006. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2006