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Heterossexualização

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A heterossexualização (em inglês: straightwashing) é a prática de apresentar pessoas ou personagens homossexuais ou bissexuais na realidade ou na literatura como heterossexuais ou alterar informações sobre figuras históricas para fazer sua representação obedecer à heteronormatividade. Também é frequente na apresentação de figuras históricas no que se limita a este aspecto de suas biografias.[1][2]

Straightwashing é um termo relativamente contemporâneo que aumentou em uso e reconhecimento nos últimos anos.  Apesar de uma presença crescente de personagens e histórias LGBT na televisão dos Estados Unidos, as preocupações sobre a heterossexualização de personagens e histórias gays persistem. Habitualmente, justifica-se a heterossexualização por possíveis reacções da audiência à normalização e visibilidade da diversidade sexual.[3]

Nos Estados Unidos, de 1930 a 1968, o Código Hays fez com que os grandes estúdios eliminassem personagens ou referências gays dos filmes. O documentário de 1995, The Celluloid Closet, mostra como alguns roteiristas e diretores tentaram usar a codificação queer para introduzir sutilmente personagens, papéis ou temas gays, sem que isso fosse notado pelos censores, como com Gore Vidal adicionando um relacionamento gay em Ben- Hur.[4]

Na historiografia, o processo de heterossexualização foi reforçado e a homossexualidade de muitas figuras históricas censurada. Algumas cartas do compositor Pyotr Ilyich Tchaikovsky nas quais ele expressava seus sentimentos homossexuais e sua ausência de atração sexual por mulheres, foram censuradas e inéditas até 2018.[5] A homossexualidade de Frederico, O Grande que era notoriamente conhecida e comentada durante sua vida e as cartas de cunho homossexual do Imperador foram censuradas por décadas pelos historiadores alemães.[6]

Relatos históricos das sufragistas lésbicas Eva Gore-Booth e Esther Roper em alguns casos limitam sua sexualidade, com o historiador Gifford Lewis se recusando a reconhecer que ambas que fossem lésbicas em suas biografias.

New York Times

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O The New York Times publicou não mais do que dois artigos de primeira página por ano que faziam qualquer tipo de referência aos gays desde o final da Segunda Guerra Mundial até 1965, esse número não aumentou muito nos 20 anos seguintes.[7] Era raro que algo publicado fosse positivo; a maioria via os gays como ameaças à segurança na época da Guerra Fria, o historiador David K. Johnson apontou a invisibilidade dos gays neste período de tempo e a perseguição do governo e da mídia contra homossexuais.[8]

Em 1981, a crise da AIDS também recebeu pouca atenção da mídia, mesmo com o rápido aumento da taxa de mortalidade. O New York Times não mencionou a AIDS até anos após o surto e finalmente chegou à primeira página em 1983.[9] Vários historiadores comentaram sobre o silêncio do The Times em relação às questões LGBT, especialmente a crise da AIDS.[10] A Cobertura no New York Times permaneceu pouco frequente até meados da década de 1980 e depois aumentou dramaticamente. Essa mudança na mídia é vista como um reflexo das mudanças na sociedade, marcada com eventos como a morte de Rock Hudson, as declarações de Ronald Reagan sobre a AIDS em 1987 e a proposta de campanha do presidente Bill Clinton em 1992 e o debate no Congresso no início de 1993 sobre a proibição de lésbicas e gays nas forças armadas aumentaram a cobertura do The Times sobre questões gays e lésbicas.[7]

No Cinema americano, por meio do Código Hays, salvo exceções, a prática da heterossexualização foi regra em Hollywood entre as décadas de 30 e 60. Um dos filmes alvos do Código foi na versão cinematográfica do romance de Truman Capote, Breakfast at Tiffany's . No livro, a personagem principal tinha "clientes homens e mulheres", mas no filme ele só aparece como heterossexual, o personagem de Paul, que é gay também é transformado em heterossexual e a relação de amizade entre ambos é transformada em um romance inexistente na obra original.[11]

Um caso emblemático e polêmico foi a versão cinematográfica da peça de Tennessee Williams, Cat on a Hot Tin Roof . Na peça, Brick Pollit é retratado como amante de um patriarca da família chamado Skipper. Na versão cinematográfica de 1958, o arco da história do relacionamento gay é substituído pela história da frustração de Skipper com sua carreira no futebol enfraquecida e um casamento heterossexual sem sexo, além do filme ter substituído a crítica inicial da peça a homofobia e ao sexismo. O filme sofreu críticas ferozes de Williams que afirmou que o filme "Este filme fará a indústria retroceder 50 anos, vá para casa!"[12] O filme também sofreu críticas do ator protagonista Paul Newman, que era um notório apoiador da causa gay.[12]

O Homem Sem Face de 1993 do Mel Gibson foi outro exemplo de filme que teve seu protagonista gay transformado em hétero em relação a obra original. Poucos anos depois do lançamento do filme, Mel Gibson se envolveu em polêmicas com falas homofóbicas.[11]

No artigo de Stuart Richard "The Imitation Game and the 'straightwashing' of film", sobre o filme The Imitation Game , Richards afirma que o "A sexualidade [gay] de Alan Turing é minimizada e usada como um dispositivo de enredo ", mostrá-lo como um "Herói trágico e um homem excêntrico e reservado"; para tornar o filme "'seguro' para um público potencialmente conservador", o filme apenas o retrata romanticamente com Joan Clarke (Keira Knightley).[13]

Vários outras adaptações como Tróia do Wolfgang Petersen, Além da Linha Vermelha do Terrence Malik e Entrevista com o Vampiro também tiveram seus protagonistas transformados em héteros nas suas versões cinematográficas, evidenciando que a resistência em Hollywood de representar personagens homossexuais persiste.[14]

O personagem John Constantine, interpretado pelo ator Matt Ryan , da série de televisão da NBC Constantine foi muito criticado por não exibir a mesma sexualidade que foi escrita originalmente na série de quadrinhos da DC, Constantine: Hellblazer. Os executivos da TV decidiram que a bissexualidade de John Constantine não deveria ser incluída no programa de TV e ele foi retratado como um homem heterossexual.[14]No entanto, quando Ryan reprisou o papel em Legends of Tomorrow o personagem foi retratado como bissexual.[15]

Referências

  1. What is straightwashing? When Hollywood erases gay characters from films. Pink News. 20 de abril de 2018.
  2. 'Straightwashing': Personajes heterosexualizados por Hollywood. Fotogramas. 5 de julho de 2018.
  3. Queer TV in the 21st Century: Essays on Broadcasting from Taboo to Acceptance. The Journal of Popular Culture. 10 de abril de 2018.
  4. Shariatmadari, David (6 de janeiro de 2015). «Straightwashing at the movies: the Pride DVD shows gay people still make the film industry nervous». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077. Consultado em 8 de julho de 2023 
  5. Alberge, Dalya (2 de junho de 2018). «Tchaikovsky and the secret gay loves censors tried to hide». The Observer (em inglês). ISSN 0029-7712. Consultado em 8 de julho de 2023 
  6. Beacock, Ian P. (23 de maio de 2019). «Queer Ancestry as a Problem of Knowledge in Early 20th-Century Germany». https://historyofknowledge.net/ (em inglês). Consultado em 8 de julho de 2023 
  7. a b Chomsky, Daniel; Barclay, Scott (2010). «The Mass Media, Public Opinion, and Lesbian and Gay Rights». Annual Review of Law and Social Science. 6 (1): 387–403. doi:10.1146/annurev-lawsocsci-102209-152825 
  8. Johnson, David K. The Lavender Scare: The Cold War Persecution of Gays and Lesbians in the Federal Government (em inglês). Chicago, IL: University of Chicago Press 
  9. «Straight news: gays, lesbians, and the news media». Choice Reviews Online (06): 34–3154-34-3154. 1 de fevereiro de 1997. ISSN 0009-4978. doi:10.5860/choice.34-3154. Consultado em 8 de julho de 2023 
  10. Shilts, Randy (1988). And the band played on: politics, people and the AIDS epidemic. Col: A Penguin Book: Current events. New York: Penguin Books 
  11. a b Coletti, Caio. «10 personagens LGBT dos livros e HQs que viraram héteros nos filmes». observatoriodocinema.uol.com.br. Consultado em 8 de julho de 2023 
  12. a b Billington, Michael (30 de setembro de 2012). «Cat on a Hot Tin Roof: Tennessee Williams's southern discomfort». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077. Consultado em 8 de julho de 2023 
  13. https://www.abc.net.au/news/stuart-richards/6001888 (6 de janeiro de 2015). «The Imitation Game and the 'straightwashing' of film». ABC News (em inglês). Consultado em 8 de julho de 2023 
  14. a b https://www.facebook.com/6030918854. «19 Queer Characters Straightwashed for TV and Film». www.advocate.com (em inglês). Consultado em 8 de julho de 2023 
  15. «'DC's Legends Of Tomorrow' Producer Confirms Constantine's Bisexuality». DC (em inglês). Consultado em 8 de julho de 2023