Hulvã
Hulvã Hulwan حلوان | |
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Localização atual | |
Localização do sítio de Hulvã | |
Coordenadas | 34° 27′ 54″ N, 45° 51′ 18″ L |
País | Irão |
Província | Quermanxá |
Condado | Sarpol-e Zahab |
Dados históricos | |
Fundação | Idade do Bronze |
Abandono | - |
Início da ocupação | Civilização Assíria |
Notas | |
Acesso público |
Hulvã (em árabe: حلوان; romaniz.: Hulwan) foi um antiga cidade da Cordilheira de Zagros, no Iraque Ocidental, localizada na entrada do Passo de Paitaque, atualmente identificada com a vila de Sarpol-e Zahab. Segundo estimado pelos estudiosos árabes, teria sido fundada durante o Império Sassânida pelo xá Cavades I (r. 488–496, 498–531), entretanto estudiosos modernos rejeitam esta teoria, associando-a com a antiga cidade assíria de Chalmanu (Khalmanu) e sua sucessora Cala, que fora capital distrital de Calonita, no Império Selêucida. Durante o Império Sassânida Tardio, Hulvã passou a chamar-se em persa médio "Vitorioso Cavades" (Peroz Kavadh), um nome preservado em sua forma arabizada (Firuz Qubadh).
Sob Cosroes II (r. 590–628), Hulvã passou a fazer parte do Distrito Ocidental do Império Sassânida. Com a Batalha de Cadésia em 636, Isdigerdes III (r. 632–651) refugiou-se na cidade, porém teve de abandoná-la para os árabes após sua derrota na Batalha de Julala em 637; ela seria conquistada por Jarir em 640. Na década seguinte, Hulvã serviu como posto fronteiriço na ainda em curso conquista muçulmana da Pérsia, e foi o local onde os dissidentes persas seriam assentados pelos califas. Sob a égide dos califados muçulmanos, a cidade prosperou nos séculos seguintes como uma cidade comercial e ponto de encontro de viajantes. No século XI, foi controlada por anázidas e cacuídas. Em 1046, foi arrasada pelos turcos seljúcidas e em 1049, um terremoto completou sua destruição.
História
[editar | editar código-fonte]A tradição árabe tardia, como relatado por Atabari, considerou a cidade uma fundação sassânida datando do reinado do xá Cavades I (r. 488–496, 498–531), mas ela é mais antiga: foi conhecida desde tempos assírios como Chalmanu (Khalmanu), quando localizava-se na fronteira entre a Babilônia e Média. Durante o Império Selêucida, foi conhecida como Cala (em grego: Χάλα) e tornar-se-ia capital do distrito de Calonita (em latim: Χαλωνῖτις; romaniz.: Chalonitis).[1][2] Segundo Diodoro Sículo, o nome deriva do assentamento de gregos da Beócia feitos cativos por Xerxes I (r. 486–465 a.C.), que fundaram a cidade de Celonas (em latim: Celonae; em grego: Κέλωναι; romaniz.: Kélonai).[3]
Sob o Império Sassânida, o distrito de Hulvã foi chamado "A Alegria de Cosroes, o Vitorioso" (em persa médio: [Khusraw] Shadh Peroz), e a cidade provavelmente era "Vitorioso Cavades" (Peroz Kavadh). Após a conquista muçulmana da Pérsia, as palavras foram arabizadas e tornar-se-iam conhecidas, respectivamente, [Khusraw] Shadh Firuz e Firuz Qubadh. Embora o resto da Média pertenceu ao distrito (kust) do Norte, sob Cosroes II (r. 590–628) a cidade foi incorporada ao distrito do Ocidente, junto com a Mesopotâmia, pois os governantes sassânidas começaram a usar a Cordilheira do Zagros como retiro de verão fora da capital de Ctesifonte, sobre a planície mesopotâmica.[4]
Após a batalha de Cadésia em 636, o último governante sassânida, Isdigerdes III (r. 632–651), tomou refúgio em Hulvã por um tempo durante sua fuga de Ctesifonte.[1][5] Após outra pesada derrota na Batalha de Jalula em 637,[6][7] Isdigerdes deixou Hulvã para as províncias orientais de seu reino, e a cidade caiu para as mãos dos árabes sob Jarir em 640.[8] No começo dos anos 640, a cidade foi de importância estratégia como um posto de fronteira entre as terras baixas mesopotâmicas e o planalto iraniano ainda controlado pelos sassânidas, e foi guarnecida com tropas, incluindo desertores persas (os Khamra), que foram assentados ali sob os califas ortodoxos.[4]
No período islâmico inicial, até o século X, a cidade é descrita "como uma cidade florescente em um distrito fértil produzindo muitas frutas" (L. Lockhart).[1] Estava situada sobre a Estrada do Coração, e foi a primeira cidade da província de Jibal a tonar-se um ponto de intrincamento de viajantes a leste de Bagdá.[9] No entanto, como no período sassânida, esteve fiscalmente vinculada com as terras baixas mesopotâmicas (o Sauade). Sob o califa omíada Moáuia I (r. 661–680), tornou-se a capital do Jibal Ocidental (Mah al-Kufa).[10]
Segundo o viajante do século X ibne Haucal, a cidade tinha metade do tamanho de Dinavar, e suas casas foram construídas com pedra e tijolo. Embora o clima fosse quente, tâmaras, romãs e figos cresceram abundantemente. Segundo a obra do século X Os Limites do Mundo, os figos da cidade eram desidratados e amplamente exportados, enquanto Mocadaci adiciona que a cidade foi cercada por um muro com oito portões, e inclusive, ao lado de uma mesquita, um sinagoga judaica.[11]
A cidade também foi uma província metropolitana da Igreja do Oriente entre os séculos VIII e XII.[carece de fontes] Em torno do fim do século XI, a cidade foi governada pela semi-independente dinastia anazida, até serem expulsos pelos cacuídas.[12] Foi tomada e incendiada pelos turcos seljúcidas em 1046, enquanto um terremoto em 1049 completou a destruição da cidade. Embora reconstruída, nunca recuperou sua antiga prosperidade, e é atualmente conhecida como a pequena vila de Sarpol-e Zahab.[1]
Referências
- ↑ a b c d Lockhart 1986, p. 571–572.
- ↑ Huart 2013, p. 10.
- ↑ Smith 1870, p. 596.
- ↑ a b Morony 2005, p. 141.
- ↑ Zarrinkub 1975, p. 12–13.
- ↑ Zarrinkub 1975, p. 13.
- ↑ Morony 2005, p. 192–193.
- ↑ Zarrinkub 1975, p. 19.
- ↑ Le Strange 1905, p. 62–63, 191, 227–228.
- ↑ Morony 2005, p. 142.
- ↑ Le Strange 1905, p. 191.
- ↑ Busse 1975, p. 297–298.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Busse, Heribert (1975). «Iran under the Būyids». In: R.N. Frye. The Cambridge History of Iran, Volume 4: From the Arab Invasion to the Saljuqs. Cambridge: Cambridge University Press
- Huart, Clément (2013). Ancient Persia and Iranian Civilization. [S.l.]: Routledge. ISBN 1136199802
- Le Strange, Guy (1905). The Lands of the Eastern Caliphate: Mesopotamia, Persia, and Central Asia, from the Moslem Conquest to the Time of Timur. Nova Iorque: Barnes & Noble, Inc. OCLC 1044046
- Lockhart, L. (1986). «Ḥulwān». The Encyclopedia of Islam, New Edition, Volume III: H–Iram. Leida e Nova Iorque: BRILL. ISBN 90-04-08118-6
- Morony, Michael G. (2005). Iraq After the Muslim Conquest. [S.l.]: Gorgias Press LLC. ISBN 1593333153
- Smith, William (1870). Dictionary of Greek and Roman Geography. 1. [S.l.]: Little, Brown and Company
- Zarrinkub, Abd al-Husain (1975). «The Arab conquest of Iran and its aftermath». In: Frye, R. N.; Fisher, William Bayne; Gershevitch, Ilya; et al. The Cambridge History of Iran, Volume 4: From the Arab Invasion to the Saljuqs. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-20093-8