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Pasquim

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 Nota: Para o jornal brasileiro, veja O Pasquim.
Imagem de Pasquino

Pasquim (em italiano: Pasquino) é uma forma de sátira, geralmente uma breve paródia anônima em verso ou prosa,[1][2] e também pode ser vista como uma forma de caricatura literária.[3] A palavra foi usada para definir também escritos anônimos colocados em um lugar público e que geralmente contém uma mensagem crítica e satírica contra uma pessoa ou organização, como a igreja ou o governo.[4]

O gênero da pasquinada se tornou popular no início da Europa moderna, no século XVI,[5] embora o termo tenha sido usado pelo menos já no século XV.[3] Pasquinadas podem assumir várias formas literárias, incluindo canção, epigrama e sátira.[3] Em comparação com outros tipos de sátira, a pasquinada tende a ser menos didática e mais agressiva, e costuma criticar pessoas ou grupos específicos.[3]

A pasquinada em verso tem uma fonte clássica nos epigramas satíricos de antigos escritores romanos e gregos, como Marcial, Calímaco, Lucílio e Catulo.[1][3] A sátira menipeia foi classificada como uma espécie de pasquinada.[3] Durante o Império Romano, estátuas eram decoradas com breves versos anônimos ou críticas.[6]

Pasquino em 1550 por Nicolas Béatrizet.

O termo pasquim se popularizou em Roma no início do século XVI, quando surgiu o costume de colocar escritos com críticas satíricas na estátua de Pasquino.[4][7] Esta estátua, que hoje faz parte das chamadas estátuas falantes,[8] foi encontrada em pedaços na lama e resgatada pelo cardeal Oliverio Carafa, que a mandou colocar no bairro Parione, perto da atual Piazza Navona.[9]

Existem muitas teorias sobre a origem do nome da estátua. Ele passou a aparecer como personagem literário, sendo mais influente o tomo Carmina Apposita Pasquino (1512) de Giacomo Mazzocchi.[3] É bastante aceita a teoria de Mazzocchi, que afirmou que Pasquino era o nome de um professor de gramática residente no bairro. Uma espécie de ritual começou a acontecer em torno do Pasquino por volta do ano 1501, durante a festa de São Marcos – celebrada em 25 de abril – os alunos se reuniram em torno da estátua e penduraram epigramas em latim, espanhol e italiano, que geralmente eram elogios aos cardeais e pontífices.[9]

Pasquinadas romanas ao lado da estátua em 2017. Pôsteres na estátua são atualmente proibidos e pasquinadas devem ser colocadas em uma placa lateral

Com o tempo, os escritos começaram a ser colocados em qualquer época do ano, comumente calúnias que eram apresentadas de forma anônima devido ao seu conteúdo. Essa mudança é atribuída principalmente a Pietro Aretino, que usou a estátua para transmitir sonetos satíricos com a intenção de desacreditar vários cardeais durante o conclave após a morte de Leão X e contra o pontífice, após a eleição de Adriano VI; essas obras viriam a ser conhecidas como pasquinate. Réplicas dos escritos postados em Pasquino apareceram em uma estátua próxima chamada Marforio. A festa foi proibida pelo Papa Adriano VI em 1523, retomada por Clemente VII e novamente proibida por Paulo III. A estátua seria guardada por muito tempo pela Inquisição e os libelos tiveram que ser difundidos oralmente.[9]

À medida as pasquinadas se tornavam mais pungentes, seus compêndios também sofreram restrições. O local de publicação de Pasquillorum Tomi Duo (1544) foi transferido para Basel,[10] menos diretamente sob o controle papal, disfarçado na página de título como Eleutheropolis, "cidade da liberdade".[11]

O termo pasquim ainda está em vigor e, embora seu uso tenha sido ampliado para incluir outros tipos de avisos ou folhetos, há também um significado pejorativo.[4]

Referências

  1. a b Spaeth, John W. (1939). «Martial and the Pasquinade». Transactions and Proceedings of the American Philological Association. 70: 242–255. ISSN 0065-9711. JSTOR 283087. doi:10.2307/283087 
  2. Indiana Slavic Studies. [S.l.]: Indiana University. 2000. p. 10 
  3. a b c d e f g Teresa Michałowska; Barbara Otwinowska; Elżbieta Sarnowska-Temeriusz (1990). Słownik literatury staropolskiej: średniowiecze, renesans, barok. [S.l.]: Zakład Narodowy im. Ossolińskich. pp. 555–557. ISBN 978-83-04-02219-5 
  4. a b c Mouton, Pilar García; Grijelmo, Álex (2011). Palabras moribundas. [S.l.]: Penguin Random House Grupo Editorial España. ISBN 9788430609369 
  5. Nussdorfer, Laurie (23 de abril de 2019). Civic Politics in the Rome of Urban VIII. [S.l.]: Princeton University Press. pp. 8–10. ISBN 978-0-691-65635-9 
  6. Sullivan, Robert; Walzer, Arthur, eds. (1 de maio de 2018). «Pasquill the Playne: Critical Introduction». Thomas Elyot: Critical Editions of Four Works on Counsel (em inglês): 155–173. ISBN 9789004365162. doi:10.1163/9789004365162_007 
  7. Toledo, Luis Lorente (1996). Bandos y proclamas del Toledo decimonónico. [S.l.]: Universidad de Castilla La Mancha. p. 16. ISBN 9788487100376 
  8. Karla, Suárez (19 de maio de 2013). «Las estatuas parlantes de Roma». El Informador. Consultado em 27 de novembro de 2016 
  9. a b c Herrero, Ana Vian (1994). El diálogo de Lactancio y un arcidiano de Alfonso de Valdés : obra de circunstancias y diálogo literario. [S.l.]: Presses Univ. du Mirail. pp. 83–96. ISBN 9782858162314 
  10. ("Dois volumes de Pasquinadas"). Pasquillorum Tomi Duo. Quorum primo uersibus ac rhythmis, altero soluta oratione conscripta quamplurima continentur, ad exhilarandum, confirmandumque hoc perturbatissimo rerum statu pij lectoris animum (Johann Oporino, Eleutheropoli (sc. Basel) 1544) (digitalizado)
  11. Spaeth (1939) p. 245 identifica o editor como o humanista tornado protestante Celio Secundo Curio, exilado e professor de oratória em Basel, cujo diálogo satírico Pasquillus Extaticus et Marphorius apareceu pela primeira vez (em latim) nesta obra (Parte 2, p. 426- 529) e rapidamente ganhou uma vida independente em traduções para italiano, francês, alemão, holandês e, um pouco mais tarde, inglês.