Requiem (Berlioz)
"Grande Messe des Morts" | |
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Primeira edição da partitura (Paris, 1838) | |
Composição | Hector Berlioz |
Época de composição | 1837 |
Estreia | 1837 |
Tipo | Requiem |
Catalogação | Op. 5 |
Duração | Cerca de 90 minutos |
Instrumental |
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A Grande Missa dos Mortos (em francês: Grande Messe des Morts), ou Requiem, Op. 5, é uma composição musical de Hector Berlioz de 1837. A Grande Messe des Morts é uma das obras mais conhecidas de Berlioz, com uma soberba orquestração de instrumentos de sopro e metais, incluindo quatro conjuntos de metais antifonários de fora do palco. A obra deriva o seu texto da tradicional Missa de Requiem Latina. Tem uma duração de aproximadamente noventa minutos, embora haja gravações mais rápidas de menos de setenta e cinco minutos.
A obra foi escrita para uma enorme orquestra e coro. Na sua primeira apresentação, havia no total 400 cantores e músicos juntos, incluindo 20 instrumentos de sopro, 12 trompas, mais de 100 cordas e 4 conjuntos de metais posicionados nos quatro cantos do palco do concerto.[1]
O Requiem de Berlioz é talvez um dos menos religiosos já escritos. O próprio Berlioz não era um homem profundamente religioso. O Requiem é uma obra religiosa, mas não expressa nenhuma fé pessoal profunda do próprio Berlioz. A obra tem por base o texto latino para a Missa dos Mortos, mas Berlioz foi muito liberal com o texto original quando compôs o Requiem ao incluir discricionariamente texto em vários movimentos para atender à necessidade dramática da música.[1]
Mas o Requiem aparentemente ocupava um lugar especial no coração de Berlioz. No final da sua vida, Berlioz escreveu a um amigo: "Se eu fosse ameaçado com a destruição de todas as minhas obras excepto uma, eu deveria pedir misericórdia pela Messe des Morts".[1]
História
[editar | editar código-fonte]In 1837, Adrien de Gasparin, o Ministro do Interior da França, encomendou a Berlioz a composição de uma Missa de Requiem para celebrar a memória dos soldados mortos na Revolução de Julho de 1830. Berlioz aceitou o pedido, tendo já antes querido compor uma imponente obra orquestral.
A estreia não ocorreu na cerimónia de memória dos soldados que morreram na Revolução de 1830, tendo sido adiada e ocorrido na cerimónia de memória da morte do General Damremont e os soldados mortos no Cerco de Constantina (Argélia), nos Les Invalides, em 5 de Dezembro de 1837, tendo por maestro François Antoine Habeneck.
Nas suas Mémoires autobiográficas, Berlioz afirmou que Habeneck colocou seu bastão durante a dramática Tuba mirum (parte do movimento Dies irae) enquanto ele tomava uma pitada de rapé, incitando o compositor a subir ao pódio para conduzir o resto da obra, evitando assim o desastre do espectáculo. A estreia foi um sucesso completo.[2]
Berlioz reviu a obra duas vezes em sua vida, primeiro em 1852, fazendo a revisão final em 1867, apenas dois anos antes de sua morte.
Estrutura
[editar | editar código-fonte]O Requiem de Berlioz's tem dez movimentos, tendo a seguinte estrutura:
- Intróito
- 1. Requiem aeternam & Kyrie: Introitus
- Sequentia
- 2. Dies irae: Prosa, Tuba mirum
- 3. Quid sum miser
- 4. Rex tremendae
- 5. Quaerens me
- 6. Lacrimosa
- Ofertório
- 7. Domine Jesu Christe
- 8. Hostias
- 9. Sanctus
- 10. Agnus Dei
Instrumentação
[editar | editar código-fonte]O Requiem está definido para uma orquestra muito grande, incluindo quatro coros de metais nos cantos do palco, e o coro vocal:[3]
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Quanto ao número de cantores e cordas, Berlioz indicou na partitura que "o número [de artistas] indicado é apenas relativo. Se o espaço permitir, o coro pode ser dobrado ou triplicado e a orquestra ser proporcionalmente aumentada. Mas no caso de um coro excepcionalmente grande, digamos de 700 a 800 vozes, a totalidade do coro só deve ser usado para o Dies irae, o Tuba mirum, e o Lacrimosa, sendo os restantes movimentos restringidos a 400 vozes."
A obra estreou com mais de quatrocentos artistas.
Análise
[editar | editar código-fonte]- Primeiro movimento
- O Requiem abre gravemente com os violinos, cornos, oboés e cornes ingleses entrando gradualmente antes dos coros. A música torna-se a seguir mais agitada e desesperada. O primeiro movimento contém as duas primeiras secções da Missa de Requiem (Introito e Kyrie).
- Segundo movimento
- A Sequência começa no segundo movimento com o Dies iræ, que descreve o Juízo Final. Os quatro conjuntos de metais colocados nos cantos do palco aparecem nesse movimento um a um; eles são acompanhados por 16 tímpanos, 2 bombos e 4 gongos. O crescimento do som é seguida pela entrada dos refrões. Os instrumentos de sopro e as cordas terminam o movimento.
- Terceiro movimento
- O terceiro movimento, Quid sum miser, é curto e descreve o que acontece após o julgamento final. A orquestra é reduzida a dois cornes ingleses, oito fagotes e aos violoncelos e contrabaixos.
- Quarto movimento
- O Rex tremendæ contém oposições contrastantes. O coro canta imediatamente com um ar suplicante, como se pedisse ajuda e majestosamente.
- Quinto movimento
- Quærens me é um movimento suave e calmo, inteiramente a cappella.
- Sexto movimento
- O Lacrimosa é em 9/8 e é considerado como o centro do Requiem. É o único movimento escrito em forma reconhecível de sonata, e é o último movimento expressando tristeza. O efeito dramático deste movimento é amplificado pela junção de muitos metais e instrumentos de percussão. Este movimento conclui a secção Sequentia da missa.
- Sétimo movimento
- Este movimento começa com o Ofertório. Domine Jesu Christe é baseado sobre um motivo de três notas: La, Si♭ e La. Este motivo cantado pelo coro se entrelaça com a melodia da orquestra. Dura cerca de dez minutos, quase até o final do movimento que termina calmamente. Robert Schumann ficou muito impressionado com as inovações deste movimento.
- Oitavo movimento
- A conclusão do Ofertório, Hostias, é curto e escrito para vozes masculinas, oito trombones, três flautas e cordas.
- Nono movimento
- O Sanctus é cantado por um tenor. As flautas tocam notas longas. As vozes femininas também cantam, talvez respondendo ao teor. As cordas graves e os pratos juntam-se a eles. Uma fuga cantada por todo o coro, acompanhada por toda a orquestra, termina o movimento. Na versão original, Berlioz usa 10 tenores para a parte solo.
- Décimo movimento
- O movimento final contem o Agnus Dei e a Comunhão da missa tocado por cordas e sopros. O movimento reutiliza as melodias e os efeitos dos movimentos anteriores.
Gravações notáveis
[editar | editar código-fonte]Maestro | Orquestra e coro | Tenor | Gravado em | Data |
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Jean Fournet | Orquestra da Radio Paris e o Émile Passani Choir | Georges Jouatte | Igreja de Santo Eustáquio (Paris) | Setembro 1943 |
Hermann Scherchen | Chœurs de la RTF et Orchestre du Théâtre national de l'Opéra de Paris | Jean Giraudeau | Saint-Louis des Invalides, Paris | Abril 1958 |
Charles Munch | Orquestra Sinfônica de Boston, New England Conservatory Chorus | Léopold Simoneau | Symphony Hall, Boston | Abril 26 & 27, 1959 |
Thomas Beecham | Royal Philharmonic Orchestra, Royal Philharmonic Chorus | Richard Lewis | Dezembro 1959 | |
Eugene Ormandy | Philadelphia Orchestra, Temple University Choir | Cesare Valletti | Philadelphia | Abril 1964 |
Charles Munch | Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara, Bavarian Radio Choir | Peter Schreier | Salão de Hércules, Munique | Julho 1967 |
Colin Davis | London Symphony Orchestra, Coro da London Symphony | Ronald Dowd | Catedral de Westminster, Londres | Novembro 1969 |
Leonard Bernstein | Orchestre National de France and the Choeurs de Radio France | Stuart Burrows | Saint-Louis des Invalides, Paris | Setembro 1975 |
André Previn | London Philharmonic Orchestra, Coro da London Philharmonic | Robert Tear | Abril 1980 | |
Robert Shaw | Orquestra Sinfônica de Atlanta | John Aler | Atlanta Symphony Hall | Novembro 10–12, 1984 |
James Levine | Berliner Philharmoniker, Ernst Senff Chor | Luciano Pavarotti | Jesus-Christus-Kirche, Berlin | Junho 1989 |
Seiji Ozawa | Orquestra Sinfônica de Boston, Tanglewood Festival Chorus | Vinson Cole | Outubro 1993 | |
Paul McCreesh | Wroclaw Philharmonic Orchestra, Wroclaw Philharmonic Choir, Gabrieli Players and Consort | Robert Murray | Igreja de S. Maria Madalena, Wrocław | Setembro 2010 |
Colin Davis | Orquestra Sinfônica de Londres, Coro da London Symphony, Coro da London Philharmonic | Barry Banks | Catedral de São Paulo (Londres) | Junho 2012 |
Notas
[editar | editar código-fonte]- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Requiem (Berlioz)».
- ↑ a b c «Hector Berlioz – Requiem – General Information». Consultado em 29 de dezembro de 2005. Arquivado do original em 27 de outubro de 2015
- ↑ «Hector Berlioz – The Requiem – Historical Background». Consultado em 14 de junho de 2006. Arquivado do original em 27 de outubro de 2015
- ↑ Jürgen Kindermann, ed. Hector Berlioz: New Edition of the Complete Works, vol. 9 Kassel: Bärenreiter-Verlag, 1978
Fontes
[editar | editar código-fonte]- Michael Steinberg, "Hector Berlioz: Requiem." in Choral Masterworks: A Listener's Guide. Oxford: Oxford University Press, 2005, 61–67.
Leituras adicionais
[editar | editar código-fonte]- Frederick Niecks, "Berlioz's Messe des Morts and Its Performance in Glasgow". The Musical Times and Singing Class Circular 25, no. 493 (1 Marcço 1884): 129–31.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Cópia arquivada». Consultado em 18 de maio de 2018. Arquivado do original em 12 de setembro de 2015
- [[scores:{{{id}}}|Requiem]]: partituras livres no International Music Score Library Project.
- Gravações livres da Grande messe des morts in the Choral Public Domain Library (ChoralWiki)
- David Cairns, "The Grand Messe des Morts and the Absence of God, Gresham College, 26 Junho 2012, [1]