Zarpámos do porto do Funchal para uma viagem de três horas e meia até chegar à Deserta Grande, ilha vulcânica que, a par com o Ilhéu Chão e o Bugio, formam as ilhas Desertas, a sudeste da ilha da Madeira. No veleiro Buteo, uma antiga embarcação que já serviu para ir buscar o peixe capturado ao largo da costa alentejana, e também já foi de atividade turística no Algarve, sentimos o Atlântico mais próximo do estômago, mas a travessia correu sem percalços.
Uma pequena expedição estava preparada para os três dias seguintes, em que, na companhia da bióloga marinha Rosa Pires e dos vigilantes da Natureza Lourenço Alves, Ricardo Gouveia e Nélio Caires, assistimos à rendição das equipas, pernoitámos na camarata e patrulhámos a costa deste território autossustentável no meio do oceano, habitat endémico de tarântulas, aves marinhas, lagartixas, aranhas, escaravelhos, caracóis e da sua mascote, o lobo-marinho, espécie ameaçada que continua a depender do Homem para subsistir. Por agora, a União Internacional para a Conservação da Natureza considera o lobo-marinho uma espécie ameaçada, mas já esteve como espécie criticamente ameaçada, o grau imediatamente anterior à extinção. Restam cerca de 700 lobos-marinhos entre o Mediterrâneo Oriental e o Oceano Atlântico.
No bote de borracha estivemos tão perto da foca-monge do Mediterrâneo (Monachus monachus) que até tivemos vontade de lhe fazer uma festa. Mas observar sem ser observado foi o conselho mais repetido ao longo da reportagem, que pode ler na revista VISÃO desta semana.