O Novo Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação No Brasil: Desafios para A Universidade
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98 Desenvolvimento em Debate
O novo marco legal de ciência, tecnologia e inovação no Brasil
Resumo Abstract
Este artigo promove uma reflexão sobre a This article promotes a reflection on the evolution of
evolução da legislação brasileira relacionada à Brazilian legislation related to Science, Technology
Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), do ponto and Innovation (CT&I), from the point of view of
de vista das Universidades inseridas em um Universities inserted in a National Innovation System.
Sistema Nacional de Inovação. O estudo teve The study had empirical-theoretical characteristics
características empírico-teóricas e natureza and qualitative nature, seeking to identify the
qualitativa, buscando identificar os principais main challenges imposed on Universities for the
desafios que se colocam às Universidades para assimilation of the new CT&I Legal Framework
a assimilação do novo Marco Legal de CT&I (MLCTI). The results indicate that the enactment
(MLCTI). Os resultados indicam que apenas of new laws alone does not lead to a substantial
a promulgação de novas leis não leva a uma change in the positioning of the actors involved,
mudança substancial no posicionamento dos including Universities. To this end, it is necessary to
atores envolvidos, incluindo as Universidades. Há understand the possibilities opened by the MLCTI and
que se compreender, para isso, as possibilidades to develop a culture and institutional environment
abertas pelo MLCTI e desenvolver uma cultura better suited to the new context, establishing bridges
e um ambiente institucional mais adequados with the productive sector, based on different
ao novo contexto, estabelecendo pontes com o strategies and policies.
setor produtivo, a partir de diferentes estratégias
e políticas. Keywords: Regulatory Framework, Universities,
Systems of Innovation, Technology Transfer.
Palavras-chave: Marco Regulatório, Universidades,
Sistemas de Inovação, Transferência de
Tecnologia..
INTRODUÇÃO
Nos países em desenvolvimento, as universidades públicas e os institutos públicos
de pesquisa costumam ser os principais locus das pesquisas nacionais, o que torna
cada vez mais relevante a criação de um arcabouço legal e de estruturas próprias
para fomento e facilitação das pontes entre a academia e a sociedade, especialmente
com o setor industrial, com vistas à promoção das atividades de P&D e de inovação,
(WIPO, 2010), levando-se em consideração que o locus preferencial da inovação é a
empresa. Essas interações dependem da existência de estruturas de suporte, como
recursos financeiros e humanos, políticas de incentivo e de apoio ao desenvolvimento
de novas tecnologias e conhecimento, políticas de financiamento e fomento, políticas
de propriedade intelectual. Além disso, também é necessária a criação de uma cultura
favorável à proatividade da comunidade acadêmica frente a esse novo arcabouço e
dinâmicas concebidas. O estabelecimento dessas estruturas é importante não apenas
para profissionalizar a s a tividades d e p roteção, a nálise e v aloração t ecnológica,
como também para os processos negociais e para estimular e facilitar a criação de
um ambiente no qual a transferência de tecnologia, o espírito empreendedor e a
valorização da criatividade e dos direitos à ela relacionados possam gerar círculos
virtuosos de conhecimento e inovação.
Sendo assim, o objetivo deste trabalho é o de promover uma reflexão sobre os
desafios q ue s e colocam p ara a a ssimilação d o n ovo M arco Legal d e C T&I – i mple-
mentado pela lei n. 13.243/2016, com foco especial na atuação das Universidades
Públicas, que efetivamente exercem atividades de ensino e pesquisa. Para tanto,
foi realizada uma pesquisa empírica-documental sustentada por um arcabouço
conceitual que tem o progresso técnico e a dinâmica da inovação como motores do
desenvolvimento econômico e social. Por meio de buscas on-line foram identificados
artigos de opinião, notícias, relatórios técnicos, legislação etc. Os dados são
provenientes de diferentes fontes – repositórios institucionais, jornais (de grande
circulação ou de entidades e associações científicas e d e f omento à p esquisa e à
inovação), entre outros, bem como de diferentes atores – formuladores de políticas,
técnicos, cientistas, juristas e outros. Devido à amplitude da temática e dos resultados
obtidos, optamos por uma abordagem mais suscinta, com foco na evolução do marco
legal da CT&I, e na identificação de gargalos e desafios para a sua assimilação pelas
universidades.
Além desta introdução, o artigo apresenta outras quatro partes, que abordam,
respectivamente: breves considerações sobre o SNI brasileiro, suas forças e fragilidades;
apresentação e análise, não exaustivas, do arcabouço jurídico da inovação no Brasil,
bem como das principais inovações introduzidas pela Emenda Constitucional 85/2015
e pelo novo Marco Legal de CT&I (MLCTI) - implementado pela lei n. 13.243/2016 e
Decreto n. 9.283/2018; reflexões sobre os desafios que se colocam para a incorporação
do MLCTI às práticas rotineiras das atividades inovativas das Universidades Públicas
brasileiras; e, finalmente, considerações finais.
Fraquezas
Política CT&I apresenta-se mais como bandeira da comunidade científica e menos como política
estratégia do Estado brasileiro.
Inexistência de uma agenda estratégica consistente e sustentável, a longo prazo, que dê coerência às
políticas públicas realizadas pelas diferentes instituições públicas e que oriente a pesquisa científica e
aos agentes privados em seus esforços de inovação.
Entraves jurídicos e institucionais à inovação: gargalos de coordenação; gargalos de sinergia nas relações
público-privadas; gargalos de aprendizado e experimentação na política; gargalos na seletividade da
política.
Fragmentação e antagonismo entre os subsistemas de educação e pesquisa e de produção e inovação:
por exemplo, agendas de pesquisa desconectadas com as necessidades da sociedade; falta de demanda,
pelo setor industrial, do conhecimento produzido na academia; baixa propensão para inovar do
subsistema de produção e inovação.
Ineficiência do subsistema de política e regulação, especialmente, com a sobreposição de
responsabilidades, descontinuidade dos investimentos e de programas, burocracia excessiva, entre
outras.
Fonte: elaborado pelas autoras a partir de Mazzucato e Penna (2016); Pacheco (2018) e Coutinho e Mouallem (2018).
Pacheco, Bonacelli e Foss (2017, p. 214) explicam que a ideia original era o estabe-
lecimento de Código Nacional de CT&I,
que contemplava a robustez e a complexidade de um compêndio de leis relaciona-
das à CT&I. Após rodadas de audiências e consultas públicas sobre o Projeto de Lei
2177 de 2011, a proposta de um código foi abandonada em favor de uma estratégia
mais pontual que visava modificar a Constituição Federal e revisar a Lei de Inova-
ção, bem como alterar outras normas relativas à CT&I. Essa estratégia resultou na
Emenda Constitucional n. 85, de 26 de fevereiro de 2015, e na Lei n. 13.243, de 12
de janeiro de 2016, que passou a ser conhecida por “Marco Legal da CT&I” (MLCTI).
Pedrosa (2018, p. 10) explica que esse novo permissivo legal representa uma
exceção ao princípio da proibição de estorno, expressamente previsto no art. 167,
VI da CF. Em outras palavras, recursos previstos na Lei Orçamentária podem ser
direcionados/remanejados/transpostos para outras áreas, orgãos etc., com o intuito
de viabilizar projetos estritamente ligados à atividades de ciência, tecnologia e
inovação, bastando, para tanto, a edição de um Decreto do Poder Executivo (exceção
ao princípio da legalidade, já que essa realocação depende de lei).
A Emenda também alterou o “sistema de repartição de competências consti-
tucionais, incluindo ciência e tecnologia no rol das competências comuns e
concorrentes” (PEDROSA, 2018, p. 11). Sendo assim, com a EC 85/2015 os incisos V, do
artigo 23 e o inciso IX, do artigo 24, passaram a ter a seguinte redação (as partes em
negrito foram acrescentadas pela Emenda):
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
9 Lei nº 12.772, de 28 de dezembro Relativa ao Plano de Carreiras e Cargos de Magistério Federal; e Carreira do
de 2012 Magistério Superior
Fonte: elaboração própria.
prazo de três anos consecutivos, renováveis por igual período) (art. 15 da Lei nº
10.973/2004 - Lei de Inovação) – “pesquisador público: ocupante de cargo público
efetivo, civil ou militar, ou detentor de função ou emprego público que realize,
como atribuição funcional, atividade de pesquisa, desenvolvimento e inovação”
(art. 2º, inciso VIII da Lei nº 10.973/2004 - Lei de Inovação);
e) aumento do número de horas que os docentes vinculados ao regime de
dedicação exclusiva podem dedicar a atividades “esporádica de natureza científica
ou tecnológica em assuntos de especialidade do docente, inclusive em polos
de inovação tecnológica”: passou de 120 horas para 416 horas anuais; 8 horas
semanais (alteração no quadro de carreira do Magistério Federal, art. 21, inciso XII
– Lei nº 12.772/2012);
f) incorporação na Lei do conceito de “capital intelectual: conhecimento acumu-
lado pelo pessoal da organização, passível de aplicação em projetos de pesquisa,
desenvolvimento e inovação” (art. 2º, inciso XIV da Lei nº 10.973/2004 – Lei de
Inovação);
g) obrigatoriedade da instituição de uma política de inovação nas ICTs públicas,
nos termos do artigo 15-A da Lei nº 10.973/2004 – Lei de Inovação:
Art. 15-A. A ICT de direito público deverá instituir sua política de inovação, dispon-
do sobre a organização e a gestão dos processos que orientam a transferência de
tecnologia e a geração de inovação no ambiente produtivo, em consonância com
as prioridades da política nacional de ciência, tecnologia e inovação e com a política
industrial e tecnológica nacional.
Parágrafo único. A política a que se refere o caput deverá estabelecer diretrizes e
objetivos:
I - estratégicos de atuação institucional no ambiente produtivo local, regional
ou nacional;
II - de empreendedorismo, de gestão de incubadoras e de participação no ca-
pital social de empresas;
III - para extensão tecnológica e prestação de serviços técnicos;
IV - para compartilhamento e permissão de uso por terceiros de seus laborató-
rios, equipamentos, recursos humanos e capital intelectual;
V - de gestão da propriedade intelectual e de transferência de tecnologia;
VI - para institucionalização e gestão do Núcleo de Inovação Tecnológica;
VII - para orientação das ações institucionais de capacitação de recursos huma-
nos em empreendedorismo, gestão da inovação, transferência de tecnologia e
propriedade intelectual;
VIII - para estabelecimento de parcerias para desenvolvimento de tecnologias
com inventores independentes, empresas e outras entidades.
artigo 2º, inciso VII da Lei nº 10.973/2004 (Lei de Inovação) passou a ter a seguinte
redação:
Fundação de apoio: fundação criada com a finalidade de dar apoio a projetos de
pesquisa, ensino e extensão, projetos de desenvolvimento institucional, científico,
tecnológico e projetos de estímulo à inovação de interesse das ICTs, registrada e
credenciada no Ministério da Educação e no Ministério da Ciência, Tecnologia e Ino-
vação, nos termos da Lei no 8.958, de 20 de dezembro de 1994, e das demais legisla-
ções pertinentes nas esferas estadual, distrital e municipal (grifo nosso).
Redação anterior:
VII - instituição de apoio – fundação criada com a finalidade de dar apoio a proje-
tos de pesquisa, ensino e extensão e de desenvolvimento institucional, científico e
tecnológico de interesse das IFES e demais ICTs, registrada e credenciada nos Minis-
térios da Educação e da Ciência e Tecnologia, nos termos da Lei no 8.958, de 20 de
dezembro de 1994 (grifo nosso).
Embora não se trate de uma ideia nova, pois tem sido desenvolvida pela lite-
ratura especializada, sendo conhecida pelos que atuam nessa área, trata-se do seu
enquadramento/reconhecimento oficial (formal), como um dos “ambientes promo-
tores de inovação”, previstos no artigo 2º, II.
O segundo, é o conceito de risco tecnológico (artigo 2º, inciso III): “risco tecnológico-
possibilidade de insucesso no desenvolvimento de solução, decorrente de processo em
que o resultado é incerto em função do conhecimento técnico-científico insuficiente à
época em que se decide pela realização da ação”. É o reconhecimento da necessidade
de tratamento diferenciado às atividades de CT&I, dadas às suas especificidades e que
requerem, portanto, monitoramento e avaliações que levem em conta essas questões.
Sendo assim, em caso de não atingimento das metas estabelecidas, em face de
problemas ligados aos riscos inerentes ao objeto, não haverá o dever de ressarcimento,
nos termos do artigo 48, inciso I, do Decreto.
Cabe ressaltar que o impacto das mudanças propostas pelo novo MLCTI, mas
também dos vetos à nova Lei ainda foram pouco sentidos, pois não basta uma lei ser
promulgada – sua “instalação” não é automática. É necessário que seja compreendida e
disseminada a ponto de integrar-se às práticas rotineiras. Portanto, a sua disseminação
se dá pela aplicação e uso de suas diretrizes pelos atores do SNI, cada qual a sua maneira
e possibilidades. Papel especial têm as agências de financiamento e de fomento à CT&I,
mas também os órgãos de controle, acompanhamento e avaliação. As universidades
também têm um raio de manobra que possibilita a internalização do arcabouço e
dos instrumentos legais e regulatórios da CT&I, os quais, se bem empregados, podem
mudar o perfil, a conduta e os impactos de suas ações e seu desempenho em ensino,
pesquisa e extensão.
países desenvolvidos, onde, em geral, são vistas como fortemente importantes para o
desenvolvimento técnico-econômico de uma nação.
No entanto, devido aos papéis clássicos da academia e da indústria, a transferência
de tecnologia também pode envolver aspectos indesejáveis, pois existe uma lacuna
cultural entre esses dois atores. Trata-se de um abismo que alguns estudiosos chamam
de “o vale da morte”, pois ambos são essencialmente diferentes, e essas diferenças,
muitas vezes, podem ser conflitantes (WIPO, 2012, p. 4). Sendo assim, “o desafio da
transferência tecnológica é o desafio de interligar essas duas culturas, de construir
uma ponte sobre ‘o vale da morte’, que os separa” (WIPO, 2012, p. 4).
Desde a sua fundação, o objetivo final das universidades tem sido a criação de
conhecimento, sua preservação e disseminação para o benefício das gerações
vindouras. Autonomia e liberdade são duas condições fundamentais para a cultura
acadêmica, cujo propósito é assegurar o seu compromisso com a disseminação do
conhecimento, em seu aspecto mais amplo, sem distinções. A indústria, por outro
lado, possui diferentes metas, sendo que a principal é gerar lucro próprio e, direta ou
indiretamente, proporcionar divisas e riquezas para o país. Sendo assim, na indústria
prepondera o foco em determinados produtos e campos de pesquisa, sob a lógica do
controle e da propriedade. Portanto, um dos grandes desafios que se colocam para
a relação academia-indústria é equilibrar os diferentes interesses: os interesses do
público em geral - beneficiário dos produtos gerados pela academia - notadamente,
a produção e disseminação do conhecimento e a formação de recursos humanos;
e os interesses daqueles que participam do processo - indústria, universidade e
pesquisador. Logicamente que, quando a indústria prospera são criados benefícios
também à sociedade por meio da criação de empregos e do aquecimento da
economia etc. (WIPO, 2012).
Nesse sentido, tanto a academia quanto a indústria servem à sociedade, mas
enquanto o objetivo direto da indústria é a geração de riqueza, em primeiro lugar para
os seus sócios, sendo o benefício público (sociedade) um subproduto desse objetivo,
na academia, por outro lado, o benefício da sociedade é o objetivo central. “A tentativa
de construir uma ponte sobre este ‘vale da morte’, envolve a infiltração do pensamento
empresarial na academia” (WIPO, 2012, p. 8). Ocorre que essa situação tem gerado
desconforto e até mesmo resistência no seio da academia.
Slaughter e Leslie (1997), por exemplo, usam o termo “capitalismo acadêmico”, para
criticar a interiorização pela academia de valores e lógicas do mercado, que segundo
os autores, podem comprometer e colocar em risco os seus próprios valores, a sua
autonomia e o seu modus operandi. Para Florida (1999), a ideia das universidades como
produtoras de tecnologia e motores do desenvolvimento regional é equivocada, pois,
em última análise elas devem cumprir o seu papel de desenvolvedoras de talentos,
não de tecnologia. Esses pontos de vista baseiam-se no temor de que a crescente
ênfase de governos e dirigentes universitários nas interações e relacionamentos com
a indústria, desenvolvimento de tecnologias patenteáveis e realização de transferência
[...] não basta constar do texto da Lei que parcerias púbico-privadas promoverão
ambientes propícios à inovação, mas sim é necessário o comprometimento dos ato-
res envolvidos para que sejam criados os arranjos jurídico-institucionais necessários
para instrumentalizar as parcerias almejadas (PACHECO; BONACELLI; FOSS, 2017, p.
214).
tecnologia e inovação, por meio de Decreto Presidencial – mais célere (e não de lei, que
é a regra geral), a dispensa de licitação para celebração de contratos de transferência
de e licenciamentos, a simplificação da prestação de contas, entre outras.
Em um nível mais geral, pode-se afirmar que o engajamento de atores como
agências e fundações de fomento e financiamento, de controle, acompanhamento e
avaliação, para a disseminação das novas regras é fundamental, Logo, é necessário
que sejam entendidos e internalizados os ditames do MLCTI e de outros marcos legais
para que seja possível dar conta das novas formas de interação Universidade-Empresa
(U-E). A criação de instrumentos interpretativos como guias e manuais para os usuários
torna-se também um imperativo para a efetivação das regras.
Além disso, é preciso que os estados realizem adaptações em suas leis de inovação
(COSTA, 2018). Especialmente no que diz respeito às leis estaduais6, as adaptações são
urgentes e relevantes, tendo em vista a possibilidade de antinomias jurídicas, ou seja,
eventuais situações conflitantes e contraditórias entre a regra federal (o novo Marco
Legal de CT&I) e as legislações estaduais. Para alguns estados, entretanto, é necessário
que a lei ainda seja criada, ou regulamentada, tendo em vista que nem todos os
estados brasileiros haviam implementado suas leis de inovação até data da entrada
em vigor do novo MLCTI7.
Desse modo, a assimilação do MLCTI pelas universidades e outras ICTs envolve
um conjunto mais amplo de fatores, para além arcabouço normativo e do seu
conhecimento, tendo em vista que requer também um ambiente institucional no qual
a cultura do empreendedorismo, da criatividade e da inovação promova, estimule
e valorize a proatividade da academia. Sem a concorrência desses fatores, o novel
arcabouço legal terá reduzida efetividade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde o final dos anos 1990, imprimiu-se no país um conjunto de leis de
suporte às ações de C&T, reforçadas, posteriormente, por arcabouços legais voltados
fortemente ao estímulo de atividades de Pesquisa e Desenvolvimento e de Inovação.
Com uma concepção mais clara do papel das empresas nesse processo, mas também
da própria concepção de Sistema de Inovação, a relação Universidade-Empresa fica
ainda mais relevante em países cuja atividade de P&D se encontra fortemente atrelada
às universidades, como é o caso do Brasil. No entendimento de Philippi Jr. (2018),
somente poderemos contornar as dificuldades que bloqueiam a interação eficaz entre
as universidades e as empresas se forem garantidos três elementos essenciais:
1. Projeto de Estado com continuidade, que se mantenha prioritário no curso de
várias administrações sucessivas.
2. Foco em problemas não resolvidos, cujas soluções não existam prontas para
serem importadas.
Notas
1
Carlos Américo Pacheco é o Diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
2
Sobre capacidades estatais, para Evans (2008), devido à crescente importância que ativos intangíveis
assumiram no século XXI, especialmente, as ideias, as habilidades e as redes, torna-se crucial a construção
de mecanismos e instrumentos que capacitem o Estado para a promoção de novas dinâmicas
econômicas e sociais.
3
Ver em Instituto CODEMEC. Leis Estaduais de Inovação. Disponível em: <http://codemec.org.br/geral/
leis-estaduais-de-inovacao/>; e Em discussão: Revista de audiências públicas do Senado Federal, ano 3, n.
12, setembro de 2012. Disponível em: <https://bit.ly/38nmbIO>. Acesso em: Acesso em: 21 nov. 2018.
4
“Este veto impacta diretamente as fundações das universidades, responsáveis, em sua maioria, pelo
trâmite financeiro e burocrático da execução dos projetos de parceria. A alteração da Lei 13.243 propunha
sanar riscos jurídicos na cobrança de taxas de administração por parte das fundações. O efeito esperado
desta proposição era a simplificação da administração dos contratos assinados e a desburocratização
e simplificação dos projetos de P,D&I, que acabam embutindo os custos desta transação em seu bojo
(In: ANPEI. Posicionamento Anpei: vetos presidenciais ao Marco Legal de C,T&I. 14 jan. 2016. Disponível em:
<https://bit.ly/38tFX5A>. Acesso em: 21 nov.2018.
5
Projeto de Lei do Senado n° 226, de 2016. Ementa: Altera a Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, a Lei
nº 8.958, de 20 de dezembro de 1994, e a Lei nº 8.032, de 12 de abril de 1990, para aprimorar a atuação das ICTs
nas atividades de ciência, tecnologia e inovação, e dá outras providências. Ver em: <https://bit.ly/2PeA9Fr>.
Acesso em: 21 nov. 2018.
6
Uma tentativa de contribuir com os desafios dessas novas diretivas no caso do Estado de São Paulo, é
o conjunto de artigos que comentam os termos do Decreto voltado à inovação e a sua capacidade de
implementação e mudança no patamar do desenvolvimento econômico, social e tecnológico do estado.
Ver Monteiro, In: Cadernos de Direito e Inovação n. 1 – “Decreto Paulista de Inovação”. Núcleo Jurídico do
Observatório da Inovação e Competitividade do Instituto
7
Até março de 2018 apenas os estados de São Paulo e Minas Gerais já haviam adaptado as suas leis de
inovaçãoao novo marco e alguns ainda não haviam criado as suas leis de inovação (cf. informações
disponíveis em Izique,C. Marco legal da inovação estreita relação entre instituições científicas e empresas.
Agência FAPESP, 02 demarço de 2018. Disponível em: <https://bit.ly/36Bmdvd). Acesso em: 21 nov. 2018.
Referências
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Disponível em: < https://bit.ly/2t42hlW>. Acesso em: 21 nov. 2018.
ANPEI. A suspensão da Lei do Bem e o abandono à inovação. 15 mar. 2016. Disponível em:
<https://bit.ly/2rsQZaJ>. Acesso em: 20 dez. 2018.
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_____. Emenda Constitucional nº 85, de 26 de fevereiro de 2015. Disponível em: <http://www.
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