Mon Laferte, a 'voz rebelde' do Chile, chega ao Brasil: 'Tentando há anos'
A cantora chilena Mon Laferte, 41, acumula bilhões de reproduções nas plataformas de música e shows mundo afora. Pela primeira vez, ela coloca o Brasil na rota de suas apresentações com único show em São Paulo, no Tokio Marine Hall, na próxima terça-feira (18).
Primeira vez
"Estava ouvindo Elza Soares agora há pouco, é inspiração para o que estou criando agora", diz Mon Laferte ao conversar com o Toca por videochamada diretamente da Cidade do México, onde vive há 18 anos. Fã de Chico Buarque e Maria Bethânia, ela não esconde a felicidade de cantar pela primeira vez no Brasil.
Estou muito emocionada. Não posso acreditar que vou cantar em São Paulo. Estou tentando ir há anos. 'Ah, quero ir ao Brasil'... Estou apaixonada por toda a sua cultura, sua música está sempre presente na minha playlist. Estou enlouquecida com esse show.

Ela sabe que precisa superar a barreira linguística de um país que se abre pouco para os demais vizinhos latino-americanos. "Estamos indo, né? Não vou fazer um estádio, mas é muito emocionante estar no Brasil. É verdade que a música em espanhol é mais difícil de conectar aí. Aqui, sim, chega a música em português... Tomara que essa barreira vá se quebrando e que possamos fazer mais coisas."
Será a primeira vez de Mon Laferte cantando no Brasil, mas não será a primeira vez que pisa em solo brasileiro. "Há muitos anos fui passar alguns dias no Rio. Queria ir, mas não tinha dinheiro para ficar muito tempo, foi uma mini-férias de pobre (risos). Mas que maravilha. Me apaixonei."
Cantora traz ao Brasil a reta final da turnê "Autopoiética", disco que mistura diferentes estilos da música hispano-americana e levanta temas ligados a metamorfose da mulher e sua liberdade. Lançado em 2023, ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Alternativa. No entanto, para o Brasil, ela também garante suas antigas baladas para abraçar os fãs que vão vê-la pela primeira vez. "Um pouco de tudo."
Uma voz rebelde?
Jornais já identificaram Mon Laferte como uma "voz rebelde da música latino-americana". Em 2019, a Folha de S. Paulo destacou a rebeldia da artista após ela protestar contra a repressão policial com os seios à mostra no tapete vermelho do Grammy Latino. "No Chile, eles torturam, estupram e matam", estava escrito no colo da artista, em alusão a uma das maiores crises sociais desde a retomada da democracia chilena em 1990.
Não é que eu viva a vida querendo ser rebelde. Mas é verdade que sou um pouco punk. Embora minha música possa ser mais romântica, de mulher sofrida, há muito punk na minha atitude em relação à música e à vida. Sempre vou um pouco contra a corrente, não porque eu procure isso, mas porque é assim que eu sou. Tudo é superdramático para mim, sou muito teatral também. Sim, acho que combina me chamarem de voz rebelde.
O disco e o show "Autopoiética" causaram frisson ao serem lançados, sobretudo entre conservadores que criticam o trabalho progressista de Mon Laferte. "Os humanos têm muita dificuldade em se livrar de ideias que têm, você aprende algo e seu cérebro tem dificuldade em desaprender... No dia a dia, analiso minhas ações porque quero evoluir e quero ser uma versão melhor de mim."
Sinto que às vezes minha música ou minha arte podem fazer isso [refletir], sem também me colocar com uma agenda de 'vou mudar o mundo com minhas canções'. Não, é simplesmente a forma natural como crio arte. Também penso que, se a arte não te faz pensar um pouquinho, é apenas decorativa.

Trajetória
Norma Monserrat Bustamante Laferte é natural de Viña del Mar, cidade litorânea da região de Valparaíso. Começou sua trajetória em um talent show da TV chilena, mas encontrou realmente oportunidades de investir na carreira após se mudar para a Cidade do México há 18 anos. Hoje, também tem a nacionalidade mexicana.
O Chile é um país maravilhoso, amo sua cultura e arte, é um país de poetas, mas eu era muito jovem e não via muitas oportunidades na música porque é um país pequeno. O México é enorme, é a capital da música em espanhol na América Latina. Então, eu disse: 'Bom, vou tentar a sorte'. E, quando cheguei, me apaixonei pelo México, porque também tem muita cultura, música, sabores, cores. Não é que o México tivesse algo que o Chile não tivesse, mas talvez fossem as oportunidades de trabalho.

Até hoje, Valparaíso influencia a música de Mon Laferte. "É uma região superboêmia à noite, onde se ouve tango, valsas e boleros. Naquela época, eu também conheci a música do Brasil, porque também se toca muito... Posso fazer um disco mais alternativo, mais eletrônico, mas sempre há essa essência boêmia na minha música".
Ela também é artista plástica e possui um grande mural em sua cidade natal, que exalta a liberdade feminina. "Cresci rodeada de arte, meu pai é pintor, minha mãe também pinta e escreve poemas, e minha avó fazia música. Desde criança, passava da guitarra para a tela e da tela para dançar, depois fazia uma peça de teatro com minha irmã".
Serviço - Mon Laferte apresenta 'Autopoiética'
Data: 18/03 (terça-feira)
Horário: 21h (portões abrem às 19h)
Local: Tokio Marine Hall (R. Bragança Paulista, 1281 - Várzea de Baixo, São Paulo)
Ingressos a partir de R$ 95,00 (via Ticket Master)
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