Descrição de chapéu Venezuela Argentina

Venezuela inicia investigação e deve pedir prisão de Milei e de duas de suas ministras

Procurador-geral do regime diz que governo da Argentina roubou aeronave venezuelana e viola direitos humanos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Buenos Aires

O chavismo aposta em um novo inimigo internacional e, nesta quarta-feira (18), anunciou que a Justiça da Venezuela vai pedir a prisão do presidente da Argentina, Javier Milei, e de suas ministras Karina Milei (Secretaria-Geral) e Patricia Bullrich (Segurança).

O anúncio foi feito pelo procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, aliado próximo de Nicolás Maduro. Em um pronunciamento, ele disse que designou procuradores para investigar o que chama de roubo de um avião do país por Buenos Aires, além de graves violações de direitos humanos no governo do ultraliberal Milei.

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, durante pronunciamento em Caracas
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, durante pronunciamento em Caracas - Federico Parra - 5.set.24/AFP

Saab afirmou que um tribunal caraquenho deve começar a análise da matéria; a Justiça venezuelana também está dominada pelo chavismo. A medida tem pouco efeito prático, mas um lastro simbólico relevante.

O timing, porém, não é surpreendente: os anúncios chavistas ocorrem na mesma semana em que avança na Justiça da Argentina uma ação que poderia, no mesmo sentido, pedir a prisão do ditador Nicolás Maduro, de seu agora ministro do Interior e número 2 do chavismo, Diosdado Cabello, além de outras dezenas de figuras.

O argumento é que essas figuras, por meio da repressão, ergueram a pior ditadura cívico-militar da região hoje. Ex-presos políticos e ex-deputados venezuelanos asilados na Argentina têm falado a um tribunal de Buenos Aires para compor as denúncias.

Tanto a ação que se desenrola na Argentina com apoio de figuras como Patricia Bullrich quanto a que agora é sinalizada por Caracas têm como base o princípio da jurisdição universal, parte do direito internacional segundo a qual Estados e organizações podem reivindicar jurisdição criminal contra alguém independentemente de onde o crime tenha sido cometido e também da nacionalidade do acusado.

São ações, em geral, de peso argumentativo e principalmente ligadas a crimes de genocídio ou de guerra, contra a humanidade, execuções extrajudiciais, tortura ou desaparecimentos forçados, normalmente difíceis de serem avaliados de forma independente em sistemas de Justiça ligados a autocracias.

Maduro e seu regime já são alvos de uma investigação no TPI, o Tribunal Penal Internacional, baseado na holandesa Haia. A Argentina é um dos países que apoia essa investigação; o governo local havia se dissociado das acusações, mas, quando Milei assumiu a Casa Rosada, juntou-se novamente ao caso.

Tarek disse que parte da investigação contra o presidente argentino e suas ministras se deve à apreensão de um avião cargueiro venezuelano na Argentina, a pedido dos Estados Unidos, devido às sanções internacionais. O veículo foi enviado aos EUA e, segundo Caracas, completamente desmontado.

A aeronave em questão, um Boeing 747 de carga, pertencia à Emtrasur —filial da companhia aérea estatal venezuelana Conviasa— e havia sido vendida para a ditadura por uma empresa do Irã, a Mahan Air.

Em resposta, a chancelaria argentina afirmou em nota na noite desta quarta-feira que "o caso foi resolvido pelo Poder Judicial, que é independente e sob o qual o Executivo não pode nem deve ter ingerência alguma". A decisão de confiscar o avião foi de um juiz.

"O governo argentino lembra ao regime venezuelano que na Argentina impera a divisão dos Poderes e a independência dos juízes, algo que lamentavelmente não ocorre na Venezuela", conclui a nota.

Mas Tarek também entrou na política doméstica argentina e afirmou ter designado outros procuradores para investigarem potenciais violações de direitos humanos no governo Milei, que em sua narrativa poderiam constituir crimes contra a humanidade.

Mencionou especificamente a repressão contra aposentados que têm protestado contra o veto do presidente a uma recomposição do valor das aposentadorias em cenas que, no mais, também comoveram a própria Argentina nas últimas semanas.

"O senhor representa um projeto de ultradireita dos mais retrógrados da política internacional", disse o procurador-geral referindo-se a Milei. "O senhor renunciou à soberania do seu próprio país."

O governo de Javier Milei é um dos mais críticos a Nicolás Maduro na região. Na embaixada argentina em Caracas, que está atualmente sob os cuidados do Brasil após a equipe diplomática argentina ser expulsa do país, estão há meses seis asilados políticos que são membros do alto escalão da campanha de Edmundo González e María Corina Machado.

O assédio à sede diplomática há pouco mais de uma semana, quando forças de segurança cercaram o espaço, foi definidor para a decisão de González de exilar-se na Espanha.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.