Teatro de Revista

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FACULDADE CAL DE ARTES CÊNICAS

3º período: História do Teatro Brasileiro I

Professora Elza de Andrade

O TEATRO DE REVISTA

Teatro Realista – 2a fase (1884-1907)

APOSTILA 6

 Realismo 2a fase

 Revista de Ano

 Estrutura Dramatúrgica do Teatro de Revista

 Decadência
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REALISMO (2a fase) - 1884 até 1a década século XX

O TEATRO DE REVISTA

Realismo 1a fase - 1855 até 1884. Teatro Ginásio Dramático, Empresário Joaquim
Heliodoro. Surgimento dos Dramas de Casaca (peças de tese), onde eram discutidas as
questões sociais mais importantes, dentro da moral da classe burguesa. Nos jornais, a
polêmica entre as interpretações de Furtado Coelho (novo ator realista) e João Caetano (o
nosso mais importante ator romântico). Grande parte do repertório realista será formado
por autores franceses traduzidos.

Realismo 2a fase - 1884 até a 1a década do século XX. Vão predominar a comédia ligeira,
a opereta e o Teatro de Revista. O maior nome deste período será o de Artur Azevedo.

1. Na França a passagem do realismo para o naturalismo vai determinar a elaboração de


novos conceitos e definições para a cena, que vão inaugurar o conceito de encenação
moderna.

2. No Brasil, apesar de termos tido uma 1a fase realista, importada da França, não
acontece no Brasil a passagem do realismo para o naturalismo. Por que?
Foi na comédia onde melhor se estabeleceram os princípios realistas. E então deixando
para atrás trinta anos de dramalhão e dez anos de peças de tese, o público preferiu
outros gêneros de espetáculos, mais leves e de natureza bem menos literária,
importados diretamente de Paris: o vaudeville, a revista, o café-concerto, a mágica
(feérie) e a opereta. O Rio de Janeiro tentava ultrapassar o próprio provincianismo,
importando a boêmia parisiense e os gêneros de sua vida noturna.

3. Em 1846 a opereta francesa fez sua estréia no Brasil, com sucesso espetacular. A
opereta é uma peça musicada de assunto cômico e sentimental, com estrofes cantadas
que se alternam com as partes faladas. Devido a seu sucesso, a opereta francesa aponta
aos autores nacionais o rumo a seguir. Começam a surgir as adaptações, as paródias, a
nacionalização do gênero – o Teatro de Revista.

4. Entre 1859 e 1878 - Alcazar Lyrique – uma casa de espetáculos na rua Uruguaiana, fez
grande sucesso apresentando as companhias francesas de operetas.

Re-Vista / Re-Visão / Revistas de Ano

5. Em 1884 estréia a primeira revista de sucesso: O Mandarim Revista do Ano de 1883, de


Artur Azevedo e Moreira Sampaio. Ao passar em revista os acontecimentos do ano
anterior, esta forma de construção dramática seguia o modelo francês. Porém os
assuntos, os personagens, os tipos, o humor e a irreverência eram caracteristicamente
brasileiros.
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6. As Revistas de Ano faziam um resumo crítico dos acontecimentos do ano anterior.


Divididos em 3 atos, apresentavam duas ccategorias de ações diferentes: o fio
condutor e quadros episódicos.

7. O Fio Condutor - era a espinha dorsal, que possibilitava o desenrolar dos fatos,
suscitando o surgimento de várias situações episódicas. A receita aparentemente era
simples: uma busca ou perseguição a alguém ou a alguma coisa, que sempre escapava
por um triz. E movidos por esta ação de perseguir ou buscar, os personagens iam se
deparando com os quadros episódicos, através dos quais se criticava a realidade
imediata.

8. O Tribofe - Revista do Ano de 1891, é considerada a comédia nacional de maior êxito


desta época. Uma família de roceiros chega à capital federal em busca do noivo da
filha Quinota. Seu Eusébio, D. Fortunata, Juca, Quinota e a empregada Benvinda
passam, na nova metrópole, por diversos apuros, sustos. A perseguição ao noivo em
O Tribofe era o pretexto para se comentar os acontecimentos do ano anterior. Este texto
é o embrião de A Capital Federal (1897) escrita pelo mesmo Artur Azevedo.

9. Outras vezes, o argumento do fio condutor podia também se apoiar na ação de alguém
que iria mostrar a cidade a um visitante, proporcionando ao espectador a retrospectiva
anual. Por exemplo: O Mandarim - Tchin-Tchan-Fó, ao desembarcar no Rio de Janeiro,
é recepcionado pelos Males em Profusão, entre os quais está Olímpia, que é uma cocotte
carioca, que fascina o visitante. Tendo como guia brasileiro o Barão de Caiapó, o
Mandarim sai para conhecer a cidade e encontrar-se com Olímpia. A esposa, Peky -
uma china de cabelinho na venta - persegue-o durante toda a peça a fim de impedir-
lhe a aventura extraconjugal. Correrias, encontros e desencontros marcam as andanças
deste Mandarim que vai esbarrando em inúmeros tipos que caracterizam o cotidiano
nacional.

Estrutura Dramatúrgica do Teatro de Revista

10. Quadros obrigatórios e alegóricos:


da IMPRENSA - onde se apresentavam os jornais da época;
do TEATRO - traçava um panorama cômico das atividades teatrais do ano.
das DOENÇAS - a Varíola, a Febre Amarela apareciam devidamente personificadas.
O ANO VELHO e ANO NOVO também eram personificados.

11. Compère ou Compadre - apresentava os quadros, comentava, pactuava com a platéia.


Conduzia a ação, ligando o espetáculo de ponta a ponta. Era mais uma convenção do
que um personagem. Dupla de compadres - como o tony (mais bobo) e o clown (vivo,
esperto) circenses. Podia haver também a Comère.

Aglutinador, apresentador comentarista, dançarino, cantor, bufão, contador


de piadas, ele atravessa a revista de ponta a ponta como a costurar os
diversos quadros, cristalizando a dinâmica do pacto com a platéia,
característica própria do teatro popular. Este papel era geralmente reservado
ao primeiro cômico da companhia.
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12. Personagens-tipo - Estavam sempre relacionados diretamente com a cidade do Rio de


Janeiro. Tipos sempre presentes:
 O malandro - encarnava o perfil do carioca - às vezes malandro, às vezes cômico. As
comédias gregas já apresentavam personagens trapaceiros, vadios e mulherengos.
Podia ter vários nomes. Mas sempre sabia se virar: trambiqueiro, clandestino, marginal.
E tal como nas ruas do Rio de Janeiro, pelas revistas de ano de Artur Azevedo, desfilam
caloteiros, trapaceiros, assaltantes, todos trajados com o melhor figurino da tipificação
nacional: a bilontragem. Atores: Oscarito, Grande Otelo, Zé Trindade.

Ao desrespeitar as duas maiores instituições do capitalismo, o trabalho e a


família (pois o trambiqueiro estava pronto a cortejar qualquer mulher
bonita, mesmo se ela fosse casada), o malandro deixava entrever a alegria de
ser marginal. Ele desencadeava o jogo com o mito popular de que “nesta
terra se virando tudo dá”. E no sistema moral das revistas, as
malandragens, os trambiques, as marmeladas e os pequenos golpes nunca
eram punidos. No final, tudo era resolvido com o jeitinho brasileiro.

 A mulata - tipo mais sedutor do teatro brasileiro, na disputa do seu coração o


português e o malandro se enfrentam. A parece inicialmente como baiana. As primeiras
mulatas eram atrizes brancas. Linguajar da mulata - vindo da senzala, chega à cidade
e incorpora as gírias, os neologismos à sua maneira peculiar de falar e ficou pernóstica.
A mulata mais famosa - Araci Cortes.

 O caipira - ingênuos sertanejos encantados com o progresso da Capital Federal. Podia


ser um pobre coitado ou um rico fazendeiro do café. Os papéis a ele destinados eram
diversos, transformando-o numa espécie de valor nacional em oposição aos moldes
estrangeiros. (Foi Martins Pena quem introduziu o caipira no teatro brasileiro. 1833 -
Um sertanejo na corte). Artur Azevedo escreveu o personagem Euzébio de O Tribofe
para Brandão, o Popularíssimo. O personagem do caipira imortalizou-se com o ator
Mazzaroppi. A atriz mais famosa foi Alda Garrido.

 O português - Grossos bigodes, tamancos, sotaque, burro, vítima do escracho e do


bom humor do brasileiro, o português da piada.

 A mulher fatal - a cocotte - fingia amor para tirar dinheiro do português ou do caipira.
Muitas vezes era uma falsa estrangeira.

 A Caricatura viva – Retratava pessoas conhecidas da política, das artes, ou da


sociedade. Na encenação procurava-se copiar a figura. A platéia reconhecia com
facilidade o ridicularizado que geralmente tem um outro nome.
O Carioca - Revista de Artur Azevedo de 1886 - Doutor Sá Bichão, caricatura viva do
professor Castro Lopes, que criara vários termos para substituir as palavras francesas
em uso corrente pelos brasileiros. Foi Castro Lopes quem introduziu:
cinesíforo - no lugar de chauffeur
convescote - piquenique
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cardápio - menu
Na peça o personagem Sá Bichão se assemelha a um personagem de comédia dell’arte,
utilizando-se do latim e de extensas explicações complicadas - um prato cheio para os
revistógrafos.
O presidente Getúlio Vargas se divertia com as caricaturas de sua pessoa no palco,
porém, sem ridicularizações.

13. Metalinguagem - a prática de revelar as técnicas dramatúrgicas e da encenação


sempre seduziu as platéias. A metalinguagem sempre foi um recurso utilizado pelo
teatro popular. Na revista esse procedimento era comum.

14. Coplas - em francês couplets eram composições em versos destinadas a serem cantadas.
No entanto, faziam parte integrante do texto dramático. Apresentava os personagens.
O personagem se apresentava cantando - ária de apresentação.

15. A revista traz uma mudança espacial para os autores brasileiros. Até então,
assistíamos ao teatro de gabinete, aos espaços domésticos íntimos, privados. Com a
revista sobe à cena o espaço público e aberto. A revista supera o realismo
convencional do drama realista e da peça de tese, levando-o aos seus limites:

Lá está a Capital, com suas ruas, prédios, monumentos, personagens típicos


e mazelas características. (...) Lá está a linguagem popular, com seus acentos
e gírias habilidosamente teatralizados. Lá esta a História miniaturizada
num painel anual onde se misturam guerras, personagens ilustres, eleições,
Abolicionismo, República e reclamações do dia-a-dia contra a companhia
telefônica, o preço do transporte ou os serviços de limpeza urbana. Lá está a
Opinião Pública, eminência parda cujo poderio se fortalece nesta passagem
do século XIX para o XX. (Flora Sussekind)

Decadência

Revista de Ano 1884 a 1907


1884 - 1a revista de ano - O Mandarim - de Artur Azevedo e Moreira Sampaio
1907 - a última revista de ano - Ano que passa - também de Artur Azevedo (que morre
em 1908) - porém neste momento a revista de ano já estava ultrapassada. Este último
texto não chega a ser montada, aparece publicado no jornal - folhetim teatralizado.

Revista Carnavalesca - ligação do teatro de revista com a música popular -


abrasileiramento do gênero.

1922 – luxo, ênfase nas coreografias, iluminação. Aparecem as primeiras pernas de fora
(até então malhas cor da carne). Cenários e figurinos valorizados.

1924 - a era das grandes vedetes. A revista ditava a moda dos cabelos “à la garçonne”. A
revista como um grande espetáculo
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1925 - empresário e diretor Jardel Jércolis - Companhia Tró-Ló-Ló - nova revista, mais
requintada, de humor mais sutil.

1930 - a era do seu Gegê - Getúlio Vargas


A revista participava ativamente da campanha eleitoral. Dois candidatos: Julio Prestes e
Getúlio Vargas.
Título das Revistas deste período: Seu Julinho Vai, Seu Julinho Vem; Prestas a Chegar;
Banco do Brasil; Às urnas - todas a favor de Julio Prestes que venceria as eleições em 1 o de
março de 1930, mas, não assumiria. Em 3 novembro de 1930, o presidente Washington
Luiz é deposto e Getúlio Vargas assume o governo provisório.
DIP - Departamento de Imprensa e Propaganda - censura

1940-1963 – Teatro Recreio. A companhia de Walter Pinto. Dercy Gonçalves, Virgínia


Lane, Oscarito. Bem menos ingênua, apresenta já o nu estático. Textos repletos de duplos
sentidos, ficavam abertos à malícia dos espectadores.

Decadência
Sendo um gênero diretamente ligado à atualidade, a revista sofreria, inevitavelmente,
as transformações históricas do momento.
A década de 60 nos reservaria profundas remodelações das estruturas sociais,
econômicas e tecnológicas. Havíamos chegado à era da comunicação de massa.
O povo, que já se deixava conquistar pelo cinema, ligava, agora, os aparelhos de
televisão, em busca de diversão.
Os palcos do teatro musicado, amordaçados pela censura política e contaminados
pelos novos valores de comportamento, abriram cada vez mais espaço para a
pornografia explícita.
Houve, a partir daí, uma fragmentação do gênero. Uma vertente, aquela dirigida às
massas e que, ao influenciar o cinema brasileiro, trouxera alegria com as chanchadas
da Atlântida e da Cinédia, passou à televisão. Transformou-se em programas
humorísticos, com suas piadas, seus tipos, seus esquetes, suas músicas também. Ao
atingir, em extensão, através do vídeo, um público muito maior, este tipo de humor
perdeu a magia do espetáculo ao vivo, seu caráter de improvisação e o pacto com a
platéia. No caso, desapareceram seus ingredientes peculiares.
A outra vertente, a da malícia, da festa e da sensualidade da revista no palco,
também se bifurcou. A primeira tendência foi a de periferia, no âmbito popular,
caracterizada pelo descuido, mau gosto e apelação. A segunda, oriunda dos
cassinos, tipo show de exportação, ficou reduzida a uma simples diversão noturna
cosmopolita, calcada somente no luxo e na pornofonia, cujos exemplares típicos
seriam Sargentelli, Carlos Machado ou Chico Recarey.
A revista das décadas anteriores, com sua visão de mundo otimista e ingênua, ficaria
agora deslocada no ambiente cultural moderno. Além disso, as constantes crises
financeiras do país inviabilizam, hoje, apenas ricas produções com elencos
numerosos, cenário e figurinos de altíssimos custos, que marcaram a fase de Walter
Pinto. Nem a brincadeira mambembe do início, nem a ousadia visual e onerosa.
Em vão tentou a revista reerguer-se. Estava contaminada pelos excessos, forçada à
explicitação total. Os títulos das revistas da década de 60, simplesmente os títulos,
revelam o quadro. Vejamos alguns: Strip-Bossa, Strip-tease em Bossa Nova, Strip-
tease da Morta, Strip-tease em fá maior, Strip-tease é nosso.
Sem atrizes, com pobres mocinhas que mal sabiam dizer um texto, mas que tiravam
a roupa, à deriva, a cena da revista aguardava o retorno das grandes vedetes. Elas
chegaram. Travestidas.
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A partir do show Les Girls de Meira Guimarães (1965), os travestis pegaram para si o
papel da mulher do teatro de revista, da mulher que perdera o charme dos tempos
áureos. Com o frisson e o aplomb de la vedête qui rentre, as estrelas Rogéria, Valéria
e Brigitte de Búzios subiram à cena como irreverentes, como o grotesco luxuoso,
para a burguesia da Galeria Alaska. E terminaram se auto-acreditando como um
grande apelo sexual. Dentro destas experiências bem sucedidas também foi muito
interessante o trabalho dos Dzi Croquettes.
Das glórias das grandes mulheres para esta fase da revista-gay, faz-se também uma
curva. O inusitado assume proporções maiores e cai, imediatamente, no vulgar, no
grosseiro. Desce as escadarias em direção aos teatros de quinta categoria onde hoje,
tristemente, um play-back entoa Hello Dolly, ou New York New York para dublagens
baratas das grandes stars do cinema americano. Chamam a isto revista. Mal-
aventurados os desinformados, os pobres de espírito. (Neyde Veneziano. O Teatro
de Revista no Brasil, p.52-53)

Bibliografia

PAIVA, Salvyano Cavalcanti de. Viva o rebolado! Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.

RUIZ, Roberto. O teatro de revista no Brasil: do início à primeira guerra mundial. Rio de
Janeiro: MINC/INACEM, 1988.

SÜSSEKIND, Flora. As revistas de ano e a invenção do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1986.

VENEZIANO, Neyde. O teatro de revista no Brasil. Campinas: Pontes, 1991.

VENEZIANO, Neyde. Não adianta chorar: Teatro de Revista Brasileiro... Oba! Campinas:
UNICAMP, 1996.

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