Erros em Matemática: Refletindo sobre sua Origem
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Sobre este e-book
Com o intuito de refletirmos, todos os professores, não só os de Exatas, sobre como estamos abordando os erros de nossos estudantes e como estamos sujeitos, enquanto seres humanos, a decisões espontâneas, o autor divide o que vivenciou como professor e pesquisador matemático.
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- Nota: 5 de 5 estrelas5/5achei perfeito o book,esta de parabens para quem escreveu,obrigada pela leitura
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Erros em Matemática - Felipe Corrêa da Cruz Escobar
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO ENSINO DE CIÊNCIAS
A minha mãe e irmã, pelos exemplos pessoais e profissionais.
A minha esposa, Nelissa, por todo o companheirismo e apoio.
A minhas sobrinhas, Maria e Clara, fontes de alegria só por suas presenças.
Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.
(Chico Xavier)
PREFÁCIO
O erro nas provas e testes de Matemática sempre foi subjugado por boa parte dos professores. Quem erra, em geral, é punido, seja por distração, seja por falta de conhecimento, inclusive dos critérios de correção de uma dada questão.
Punir o erro com perda de pontos sempre me pareceu desperdiçar o mais rico conhecimento que o estudante está demonstrando naquele momento. Contudo, isso vem de tempos na arcaica formação de professores brasileira, e muitos repetem o que aprenderam nas suas formações universitárias. No contexto universitário, pouco ou nada se discute ou estuda com profundidade sobre como os estudantes aprendem, que metodologias alternativas há para se promover a aprendizagem ou como o erro deveria ser de fato tratado como um conhecimento que denuncia um ensino malconduzido e muitas vezes retificado em detrimento da aprendizagem.
Dessa forma, o erro é conhecimento, legítimo, que deve ser analisado, investigado e que deve guiar novas formas de ensinar; principalmente, deve regular as aprendizagens, como nos orienta Philippe Perrenoud. Quem erra, na verdade, resolveu outro problema distinto do que lhe fora de fato apresentado. Assim, cabe ao professor-pesquisador investigar os acertos e também os erros, pois ambos são conhecimentos legítimos e que revelam em que campo semântico o estudante está e como pode avançar na sua aprendizagem por meio da mediação docente.
Essas ideias são compartilhadas pelo autor desta importante obra para a educação matemática, o educador matemático e professor-pesquisador Felipe Escobar. Durante a pesquisa realizada que dá origem ao presente livro, eu e Felipe descobrimos que a maioria dos professores retifica o acerto e penaliza o erro, logo exclui muitos estudantes da aprendizagem significativa e do prazer de aprender matemática.
Eu aprendi que a Ciência sempre foi uma construção social obtida mais por tentativas e erros do que por tentativas e acertos imediatos. No contexto escolar essa lógica se inverte. Muitos professores criam provas e testes sem nunca terem testado as questões, copiam questões de livros e não entendem que essa forma de agir cria hierarquias de excelência que penalizam a maioria dos estudantes. São gabaritos pré-fabricados que muitas vezes são surpreendidos pela criatividade dos estudantes e que não preveem resoluções corretas ou não com muito conhecimento implícito.
O autor do livro revela em sua pesquisa que a valorização do erro e do acerto constituem a valorização de um conhecimento importante e autoral de cada estudante que orientará cada professor em suas próximas ações na sala de aula de Matemática. São diversas análises efetuadas na pesquisa de Escobar que revelam a importância que deve ser dada ao tratamento dos acertos e dos erros. Entendemos que, entre as habilidades e competências dos professores-pesquisadores, está a de construir instrumentos examinativos e avaliativos e destes extrair as produções de significados de cada estudante.
Corrigir provas não constitui uma habilidade muito refinada, embora necessária, mas nunca uma atividade suficiente. Estruturar um bom instrumento para verificar o que o estudante aprendeu é o primeiro passo. O seguinte é analisar o que o estudante de fato aprendeu e o que pode ser melhorado para que a aprendizagem se concretize.
Não é fácil ser um professor-pesquisador, nunca será fácil, e aí está a verdadeira motivação. Muitas vezes sairemos a navegar buscando um continente e, ao errarmos
, encontraremos outros continentes. O mundo foi sendo descoberto assim. Quer dizer que errar
aos navegadores de nada serviu?
Fica o convite para a leitura, reflexão e prática de avaliação que vem da leitura desta importante obra da Educação Matemática brasileira.
Um abraço fraterno no amigo Escobar e em todos que acreditam no professor como um agente que pode e deve fazer a diferença no seu contexto social e político.
Prof.º Dr.º Marco Aurélio Kistemann Jr.
Pesquisa de Ponta - Universidade Federal de Juiz de Fora
APRESENTAÇÃO
Desde 2005, quando ingressei no curso de Ciências com Habilitação Plena em Matemática, pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF), sempre estive envolvido com o ensino, nas monitorias que ministrei – nas disciplinas de Cálculo I e II –, nas aulas introdutórias ao Cálculo, ou mesmo nas aulas particulares, que sempre estiveram presentes em toda minha vida acadêmica e que me acompanham até hoje.
Em outubro de 2009, recém-formado na graduação, tive o prazer de ter contato direto com a Educação Matemática, por meio do II Colóquio em Educação Matemática, organizado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Nele pude vislumbrar quanto há professores espalhados por todo o Brasil preocupados com a aprendizagem de nossos estudantes. Encantado com esse movimento, nutri o grande sonho de cursar o mestrado em Educação Matemática, mas, na época, para ingressar no programa de mestrado, era necessário ter dois anos de experiência em sala de aula, portanto tive de esperar e alimentar esse sonho, ganhando experiência profissional.
No segundo semestre de 2011, cursei uma disciplina isolada, como aluno especial, em Perspectivas Atuais em Avaliação, aumentando a expectativa de entrar para o curso, mas uma aflição ainda me rodeava: o que queria pesquisar em minha dissertação?
Refletindo bastante, veio-me o encantamento pelo minicurso com o tema Investigando Erros Matemáticos no Ensino Fundamental, ministrado no III Colóquio em Educação Matemática, na UFJF, em 2011, e logo me veio a certeza de que queria trabalhar com os erros cometidos por nossos alunos.
Mesmo não tendo sido aprovado na última fase para ingressar no programa de mestrado, em 2012, o sonho não acabou e as observações a respeito do erro cometido pelos alunos foram aumentando. Durante todo esse tempo, trabalhei em escolas públicas e particulares, e as aulas particulares continuaram envolvidas, as quais tornavam possível maior observação e diálogo com os alunos, aguardando a tão esperada chance de entrar no mestrado, o que ocorreu em 2013.
Nessa caminhada, pude observar que muitas são as confusões e dúvidas de nossos alunos em relação à matemática. Não estou falando em cálculo, geometria, trigonometria, álgebra ou em qualquer outro conteúdo mais geral
e aprofundado, que abranja uma grande área de atuação. Refiro-me a uma matemática básica
, ou aos pré-requisitos necessários para cada uma dessas áreas, tais como frações, números decimais, produtos notáveis, raízes, equações, para citar apenas alguns.
Em minha prática de sala de aula, seja explicando algum conteúdo, seja conversando com alunos, corrigindo exercícios ou avaliações, algo sempre me intrigou. O mesmo ocorria durante as aulas particulares, correspondentes a cerca de 50% de meu tempo dedicado ao magistério. Foi nesse momento, no qual há mais proximidade com o aluno, mais tempo para o diálogo e atenção mais especial às suas dúvidas e dificuldades do que em uma sala de aula com 30 alunos, em média, que pude comprovar: minha inquietação tinha fundamento. Então veio o pensamento que viria a ajudar a estruturar o tema de minha pesquisa, hoje livro: Por que os alunos cometem tantos erros com a matemática básica?
Várias pesquisas têm o erro
como tema; o trabalho de Kistemann Jr. (2004), O Erro e a Tarefa Avaliativa em Matemática: uma abordagem qualitativa; e a tese de Cury (1995), as Concepções de Matemática dos Professores e suas Formas de Considerar os Erros dos Alunos, apontam que, para os professores, o erro de seus alunos ocorre, em grande parte, pela defasagem, ou até ausência, de pré-requisitos para a disciplina.
Com alunos de diversos anos escolares, aos quais ofereço acompanhamento particular, inclusive com estudantes do ensino superior – alunos do curso de Engenharia e frequentadores da monitoria de Cálculo I e II, durante minha graduação –, observei que, em sua maioria, mesmo alunos já estudantes de matemática do nível superior costumam cometer erros típicos de alunos do ensino fundamental e médio.
O que mais me incomodava era que esses erros ocorriam de forma mecânica e automática. Não eram situações em que os alunos tentavam resolver algum problema e deparavam-se com alguma dificuldade, para chegar ao resultado esperado; eram erros de operações – como em frações, as quais