A Política de Assistência Social como afiançadora das Seguranças Sociais: análise da gestão municipal do CRAS Cachoeirinha, em Dourados/MS
De Ledi Ferla
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Sobre este e-book
A obra foca a gestão local em relação à participação e protagonismo dos usuários e a participação dos trabalhadores do SUAS. É dada ênfase na gestão do Serviço de Proteção e Atenção Integral à Família (PAIF) e do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) e dos benefícios assistenciais, apontando as aquisições dos usuários em relação às seguranças socioassistenciais.
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A Política de Assistência Social como afiançadora das Seguranças Sociais - Ledi Ferla
Agradeço a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), que através do Mestrado em Sociologia oportunizou o estudo do tema da política de assistência social, o qual, por sua especificidade, é algo inédito, porém adequado no contexto de crise que enfrentamos no Sistema Único de Assistência Social.
Nesse sentido, agradeço a todos e todas que de uma forma e de outra cooperaram com o processo de construção desta Dissertação, agora publicada na forma de livro. Meu reconhecimento pela generosidade e contribuições que foram fundamentais no sucesso dessa empreitada.
Ao professor Doutor André Zanetic, que incansavelmente dedicou seu tempo como orientador, subsidiando com sugestões valiosas, de forma pacienciosa e segura, meu agradecimento e admiração.
Aos(às) professores(as) da UFGD, gratidão e reconhecimento por me proporcionarem o acesso à aprendizagem, que em muito acrescentou na minha vida acadêmica e profissional. Aos(às) professores(as) que aceitaram participar da Banca de Dissertação: Dr. André Zanetic, Dra. Alzira Salete Menegat, Dr. Cláudio Reis, e Dra. Maria Luíza Rizzotti (convidada). E demais professores(as), que ministraram as disciplinas do Mestrado: Dr. Marcílio Rodrigues Lucas, Dr. Rodolfo Arruda Leite Barros, Dr. Márcio Mucedula Aguiar, Dr. David Giacobbo Scavo, e Dra. Marisa de Fátima Lomba Faria.
À Dra. Maria Luíza Rizzotti, ex-gestora da política de assistência social (nacional e do município de Londrina), Professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR), por gentilmente ter aceitado o convite para participar da banca, tanto de qualificação como de defesa, na qualidade de professora convidada.
À professora Mestre Valdete Barros Martins, que com sua vasta experiência de gestão da assistência social e acadêmica, faz parte da minha trajetória profissional e foi essencial na minha formação, desde o ano de 1997.
Às quatro profissionais do Centro de Referência de Assistência Social – CRAS- Cachoeirinha, que com profissionalismo dedicaram um tempo precioso para dialogarmos sobre o processo de trabalho profissional na política de assistência social. Gratidão pela oportunidade.
Meu especial carinho e reconhecimento pela disposição das seis mulheres usuárias dos serviços e benefícios assistenciais do território do Cachoeirinha, que me acolheram e aceitaram o convite para participar das entrevistas. Pudemos perceber, pelos relatos, a importância dessa política no avanço e alcance dos direitos socioassistenciais, na construção e aquisição da resiliência, da capacidade de sentirem-se cidadãs, pela satisfação de viverem num território que aos poucos foi avançando no alcance das políticas públicas.
Também quero manifestar minha gratidão a todos e todas os(as) colegas profissionais que trabalharam na Secretaria de Assistência Social de Dourados – MS, no período pesquisado. Juntos(as) estivemos coletivamente debatendo, construindo, regulamentando, pesquisando e, dessa forma, implementando o Sistema Único de Assistência Social do Município. Meu reconhecimento pela dedicação de cada uma e cada um nesse processo, em especial à Secretária Daniela Weiler Wagner Hall e a equipe da Secretaria que trabalha diretamente comigo: Ivoneide Messias da Cruz, Potyara Arguelho Mota, Jucerlene Oliveira Teixeira, Tânia Mara Teodoro Teixeira, Maria Madalena dos Santos Marques Gehn, Hilka Myrla Gonçalves Martins, Maria Cristina Amorim Mussury Araújo, Josilene do Nascimento Sobrinho, onde atualmente atuo como Diretora de Gestão do SUAS.
Meu agradecimento e carinho aos amigos e amigas, Reginaldo Candado, Conceição Celestino Barbosa e Valdete Barros Martins, por terem passado dias me dando apoio, dicas e sugestões no aprimoramento do processo da escrita.
E, com certeza, quero manifestar um carinho especial à minha família, que muito me apoiou durante toda minha existência e nesse tempo de estudo. Ao meu pai Orides Ferla (in memoriam), à minha mãe Irene Bidin Ferla, às minhas irmãs Gládis Ferla Baierle, Vânia Ferla Perotti, e ao meu irmão Adelar Ferla. À Hindyra Folador, filha do coração. Às minhas filhas amadas, Alana Ferla Guenzer, Gabrieli Ferla Guenzer, e meu esposo querido Marcelo Guenzer, pelo incentivo diário e força em meus estudos, sendo pacienciosos e tolerantes com minhas ausências, demonstrando carinho e amor, necessários ao bem viver e à felicidade. É uma imensa alegria contar com o amor da minha família. Obrigada por tudo.
PREFÁCIO
Na minha trajetória profissional tive a oportunidade de conhecer e conviver com muitas pessoas valorosas, profissionais de serviço social, de outras políticas públicas, trabalhadores e trabalhadoras, de outros campos de atuação nas políticas de proteção social no Brasil, pessoas ligadas aos movimentos sociais, que de forma coletiva somaram e somam para o fortalecimento da proteção social no Brasil. Companheiras/os dos movimentos usuários, pessoas fundamentais na implementação e nos avanços no campo dos direitos sociais, especialmente no movimento da assistência social no estado de Mato Grosso do Sul e no Brasil.
E assim, conheci a Assistente Social Ledi Ferla, profissional de forte ação no campo das políticas públicas, na década de 90 atuando como gestora da assistência social no município de Mundo Novo, período do mandato da saudosa companheira Dorcelina Folador. Posteriormente se deslocou no ano 2001 para Dourados, gestão do então Prefeito Laerte Tetila, inicialmente como técnica na mesma área. Nesse período realizamos coletivamente uma reformulação na pasta que tratava da assistência social, aquela época se realizou um intenso trabalho na direção de transitar essa política pública das mãos do primeiro damismo. A constituição de uma equipe técnica, qualificada e com entendimento do grande desafio que teríamos pela frente, transformar as ações assistencialista para área técnica, desenvolver um trabalho político, técnico e ético, na direção da compreensão da população de que a assistência social não se confunde com benesse, com caridade. Tratamos de debater, mobilizar e instituir medidas legais e políticas para fortalecer os direitos socioassistenciais. Os avanços repercutiram e ali se iniciava uma grande jornada, que deveria ser conduzida com maestria por um gestor do executivo que acreditasse na importante tarefa de traduzir para a população o verdadeiro papel da política de assistência social, assim como a inserção dessa política no campo dos direitos, e no conjunto da Seguridade Social.
Posteriormente, Ledi assume a gestão da política de assistência social no município de Dourados-MS e, por vários anos avança na regulamentação e fortalecimento da política no município tornando-a referência no Estado. Nesse período foram implantadas e implementadas iniciativas que foram consolidando o Sistema Único de Assistência Social no município de conformidade com avanços alcançados, resultados de deliberações democráticas nas instâncias de controle social e nas diversas instâncias de governo. Foi um período fecundo, milhões de usuários/as, trabalhadores/as, gestores/as, rede sócio assistencial, enfim um amplo e belo movimento que ganhou o Brasil, nas gestões do Presidente Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef.
A assistente social Ledi Ferla teve uma contribuição impar nas lutas do Estado de MS, quer seja como gestora, como militante e estudiosa da política de assistência social, haja vista, a conclusão da dissertação de mestrado que ora temos a oportunidade de conhecer. Como pesquisadora se propôs mais uma vez aprofundar os estudos nessa política, e justamente escolhendo o município de Dourados e nele um território que compreende uma das regiões consideradas de grande vulnerabilidade, composta por uma população heterogênea. Território esse que vivenciou todas as transformações propostas e aprovadas pelo Sistema Único de Assistência Social.
O titulo da dissertação já nos chama atenção "A Política de Assistência Social como afiançadora das seguranças sociais: Análise da gestão municipal no CRAS Cachoeirinha, em Dourados/MS.
Inicialmente a autora contextualiza como o Estado capitalista brasileiro favoreceu por muitos anos uma política voltada para a tutela e o favor, impedindo os avanços no reconhecimento dos direitos sociais. Nessa reflexão promove um debate sobre Welfare State e políticas sociais ancoradas em vários teóricos, incluindo nessa reflexão argumentos da professora Potyara Pereira,destacando que esse debate abre uma nova fase organização e oferta da Proteção Social.
A ressalva da autora ao tratar sobre o movimento da Constituinteculminando com a aprovação da nova Constituição em 1988, abre o debatesobre a importância do reconhecimento dos direitos sociais, políticos e humanos no Brasil. Nesse contexto inscreve-se a política de assistência social. O trânsito do assistencialismo para uma politica de direito foi e é um grande desafio.
Na sequência a autora resgata o processo de luta para regulamentar a política de assistência social, que ocorre só em 1993, ou seja, a de assistência social foi a última das três políticas de seguridade social a ser regulamentada. Com a eleição de um governo democrático popular pode-se perceber um movimento na direção dar visibilidade ao papel da Seguridade Social.
Regulamentada pela Lei 8.742/1993, posteriormente alterada pela Lei 12.435/2011, que inclui o Sistema Único de Assistência Social no corpo de Lei, das diversas inclusões na referida Lei podemos destacar que entre os objetivos estabelecidos no art. 2º da citada lei, está claramente descrito que : a proteção social que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, à vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos, assim como, a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais.
Na mesma direção torna-se oportuno mencionar que é justamente no artigo art. 6º que se inclui a gestão das ações na área de assistência social, ficando assim organizado sob a forma de sistema descentralizado e participativo, denominado Sistema Único de Assistência Social (SUAS). I - consolidar a gestão compartilhada, o cofinanciamento e a cooperação técnica entre os entes federativos que, de modo articulado, operam a proteção social não contributiva; II - integrar a rede pública e privada de serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social, na forma do art. 6º; III- estabelecer as responsabilidades dos entes federativos na organização, regulação, manutenção e expansão das ações de assistência social; IV - definir os níveis de gestão, respeitadas as diversidades regionais e municipais; V - implementar a gestão do trabalho e a educação permanente na assistência social; VI - estabelecer a gestão integrada de serviços e benefícios; e VII - afiançar a vigilância socioassistencial e a garantia de direitos.
Na pesquisa realizada, a autora aprofunda o debate justamente para mostrar que esse processo de implantação de um novo modelo promove uma ruptura com o antigo formato da política, e assim favorece um conjunto de ações e iniciativas de promoção e alcance dos direitos socioassistenciais no Brasil. A Proteção Social da Assistência Social é assegurada por meio da oferta de serviços, benefícios, programas e projetos às famílias e indivíduos que não possuem condições suficientespara prover asobrevivência. Ao conceituar a proteção social básica e especial nos remete aos artigos 6º da Loas, deixando explícito que essa forma de organização da proteção social não contributiva na política favorece a inclusão de um conjunto de benefícios, serviços, programas e projetos, portanto deixando evidente que o SUAS é um sistema importante no contexto dos direitos sociais e humanos, tornando-se um dos maiores sistemas públicos do mundo em termos de cobertura.
É preciso ressaltar que a pesquisadora propõe uma reflexão sobre as seguranças sócio assistenciais (Acolhida, Renda, Convívio, Autonomia e Apoio e Auxílio), asseguradas por meio da oferta do conjunto de ações previstas no SUAS, materializadas no alcance das proteções Básica e Especial. Nesse contexto destaca a contribuição da professora Aldaíza Sposati que afirma serem necessáriasdiversas mudançaspor parte dosgestorespúblicos, o qualse supõe orientar-se por princípios e valores sociais e direitos sociais, cidadania e dever do Estado, em contraposição às práticas adotadas por representantes de governos antes da CF de 1988 e da LOAS, onde os usuários eram vistos como carentes ou assistidos.
Importante mencionar que na pesquisa há uma preocupação em trazer para o debate o conjunto de normativas aprovadas no período de mais de quinze anos no processo de regulamentação da política, o que torna esse Sistema robusto legalmente e com isso tornando viáveis suas ações. Nesse contexto há registros do processo de implantação da politica de assistência social no município de Dourados, o que inclui a participação da pesquisadora no processo.
Nessa conjuntura se desenvolve o trabalho da pesquisa trazendo o território da Bairro denominado Cachoeirinha como locus da pesquisa e como participantes desse processo usuários e trabalhadoras do SUAS. Sendo que a participação dos usuários se dá na direção de buscar conhecer o alcance das seguranças sócio assistências por parte dos mesmos na oferta dos serviços e benefícios. Nessa direção registra-se a importante contribuição para o debate e avaliação do processo de alcance dos direitos sócio assistenciais ofertados pelo SUAS.
Ainda a pesquisadora ao propor a participação das trabalhadoras do SUAS indaga como as profissionais avaliam o trabalho social realizado no CRAS Cachoerinha, tendo como referência o arcabouço proposto para aprimorar a política no território.
Acredito que a leitura deste livro suscita um conhecimento e aprendizado para quem quer aprofundar a visão sobre a política de assistência social, desde a aprovação na Constituição Federal de 1988, a constituição do SUAS, como modelo de proteção social inovador no contexto dos direitos sociais.
A pesquisa contempla com detalhes o processo de implantação/implementação do SUAS em Dourados, o que destaco de suma importância no contexto do compromisso com a responsabilidade pública de se fazer política social no Brasil.
Por fim, é preciso registrar que a pesquisa ocorre numa conjuntura de enorme descompromisso do governo federal para com as ações da política pública de assistência social, desde 2017, período do golpe contra o governo Dilma Roussef, até o termino do governo Jair Bolsonaro que cortou em trono de 90% dos recursos, e com isso deixando milhões de usuários sem acesso a seus direitos, trazendo enormes prejuízos para os avanços e conquistas nessa área.
Enfim, deixo meu agradecimento em participar desse processo histórico, que muito me honra. O desafio permanece, a luta continua, sigamos firmes para avançar e não retroceder nas conquistas da democracia e consequente alcance dos direitos sociais e humanos.
Por fim, reitero que essa pesquisa deixa um legado de compromisso e aprendizado.
Assistente Social, Professora, Mestra Valdete de Barros Martins