O Movimento Estudantil em São José dos Pinhais – Paraná (2007-2015)
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O Movimento Estudantil em São José dos Pinhais – Paraná (2007-2015) - Rudá Morais Gandin
O movimento estudantil em São José
dos Pinhais – Paraná (2007-2015)
Editora Appris Ltda.
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Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Rudá Morais Gandin
Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieira
O movimento estudantil em São José
dos Pinhais – Paraná (2007-2015)
PREFÁCIO
Como uma das expressões do protagonismo juvenil – e por muito tempo o seu termômetro – o movimento estudantil continua se apresentando como um importante espaço de inserção e participação política para uma parcela dos estudantes. Ele tem atravessado o tempo, se reinventando, assumindo novas lutas e incorporando outras formas de intervenção. São as ocupações em defesa de uma educação pública e de qualidade, a criação de inúmeros coletivos de estudantes feministas, antirracistas e LGBTQIA+, a realização das bienais de arte e cultura, o diálogo com outros movimentos sociais, os enfrentamentos às políticas neoliberais, entre tantas outras lutas e modos de organização coletiva que demonstram sua força e pluralidade.
A partir de seus diferentes espaços, o movimento estudantil tem historicamente protagonizado, não sem tensões, dificuldades e recuos, uma série de manifestações e lutas políticas que pautam um projeto de país construído e atualizado no cotidiano dos estudantes. Por sua efervescência e diversidade tem sido também um laboratório de experimentações que tem a política como centro. Compreender um movimento como esse exige dedicação e esforço analítico.
Foi o que fizeram Rudá Morais Gandin e Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieira neste belíssimo e comprometido trabalho ao analisarem as práticas de estudantes que construíram a União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São José dos Pinhais no período de 2007 a 2015. Com um olhar arejado e atento às expressões políticas empreendidas por esses jovens, os autores não só contribuem com o campo de estudos que discute as relações entre juventudes e política, como inscrevem esta obra entre as mais competentes produções acadêmicas que se debruçam sobre a participação estudantil, especialmente nos períodos mais recentes.
A análise que oferecem realça a complexidade que constitui o movimento, não se deixando capturar por visões simplificadoras que, muitas vezes, o toma como homogêneo, uniforme, tendência presente em alguns estudos sobre a organização dos estudantes. Destaca a diversidade que o compõe, exigindo-nos também afirmar a existência não de um movimento, mas de movimentos estudantis que dialogam, negociam, realçando uma porosidade que produz uma militância que se reinventa.
Os autores dividem conosco a história de estudantes secundaristas que construíram um movimento estudantil permeado por relações de amizade, por um intenso diálogo com associações e grupos da sociedade civil, por um desejo em fortalecer uma entidade que de fato os representasse e expressasse seus anseios, e por uma ideia generosa de transformação social. Sim, em uma área em que se privilegia a pesquisa e o debate da participação dos estudantes no espaço das universidades, Rudá e Alboni direcionam o olhar para as ações do movimento estudantil secundarista, discutindo suas particularidades. Além disso, contribuem também com o enriquecimento da área ao analisarem as lutas e enfrentamentos protagonizados por uma entidade localizada no sul do país, ampliando o espectro de estudos para além do eixo Rio-São Paulo.
Em uma escrita fluida e uma indispensável bagagem teórica, Rudá e Alboni nos convidam a vivenciar o registro que fizeram de uma história que conheceram de perto: ele por ter participado do movimento que pesquisou e que ainda hoje atravessa sua vida; ela por ter acompanhado com afinco essa experiência política a partir das questões levantadas durante o trabalho, contribuindo para as interpretações aqui contidas. A partir dos relatos, memórias e afetos de militantes da época, eles revisitam, com o rigor necessário, a trajetória de estudantes secundaristas que ousaram lutar por suas demandas, reivindicações e direitos. E ainda que sejam muitos os desafios em realizar uma pesquisa como esta, em que um dos autores também foi integrante do movimento analisado, decidiram empreendê-la por acreditarem na impossibilidade de produzirem um conhecimento acadêmico que não assuma os valores que os constituem, seus olhares sobre o mundo e, por que não, suas vivências.
É uma obra para ser lida e discutida por professores e estudantes que sentem na pele as dificuldades em construir espaços coletivos e dialógicos de participação, ao tempo em que teimam, insistem, em fazer do cotidiano de suas práticas educativas, um exercício contínuo da democracia.
Em um cenário de recrudescimento de discursos conservadores de cunho fascista, que demoniza o exercício da política como prática de liberdade, igualdade e justiça, e que tem no campo da educação um espaço privilegiado de disputas (como a escola sem partido
), a experiência de participação desses estudantes secundaristas, com todos os desafios de sua época, tem muito a nos ensinar sobre as urgências, exigências e resistências requeridas ao momento presente.
Marcos Ribeiro Mesquita
Professor dos cursos de graduação e pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal)
APRESENTAÇÃO
O livro O movimento estudantil em São José dos Pinhais – Paraná (2007-2015) é um estudo sobre os modos de pensar e agir dos estudantes que faziam parte da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES) do município de São José dos Pinhais, localizado na região metropolitana de Curitiba, no Paraná, no período de 2007 a 2015. Essa agremiação, fundada em 2007, por um conjunto de jovens e Grêmios Estudantis, tinha como objetivo lutar pelos direitos dos estudantes, de acordo com o que afirmaram ex-integrantes, entrevistados para este estudo.
Este livro, ao trazer o que foi vivido, escamoteado pelo tempo, pelos sujeitos que participavam da UMES, argumenta que o movimento estudantil não é um movimento homogêneo, feito por sujeitos idênticos e com vontades equivalentes. Entende-se que se trata de um movimento de movimentos, constituído por múltiplos sujeitos que se conflitam, ao mesmo tempo em que se admitem como diferentes, capazes de criarem propostas e empreenderem ações em conjunto, porque o movimento no qual se encontram é o reflexo da diversidade que os constituí.
Ao seguir os rastros e indícios, como sugere o historiador italiano Carlo Ginzburg, deixado pelos sujeitos, no intuito de compreender a história que os conformou, o presente livro traz à luz um conjunto de práticas, empregadas pelos estudantes no começo deste século, que lograva a conquista de seus desejos e bandeiras. Assumindo os riscos que a pesquisa em história acarreta quando se propõe a privilegiar o corriqueiro, porque muitas vezes afetado pela ausência de documentos, o livro busca apresentar um pouco do que os estudantes faziam e definiam em suas reuniões, congressos e outros eventos. Apoiado em relatos orais, e seguido da perspectiva de um dos autores deste livro, o qual participou da UMES no período em que se debruçou o estudo, o livro revela as relações imbricadas de poder e amizade com as aspirações políticas que marcavam o andar dos sujeitos que formavam o movimento em São José dos Pinhais.
Em conclusão, embora as agremiações estudantis se formem nas instituições escolares, o livro evidencia uma questão a ser pensada por todos que pesquisam, estudam e trabalham com educação – inquietação essa, acredita-se, fundamental para o aprimoramento da escola e da formação de professores, que atuam ordinariamente com os estudantes: onde se encontra a escola na consolidação desses movimentos estudantis que buscam modificar o entorno em que se encontram submetidos, senão quase sempre os obstaculizando de realizar suas ações e práticas? Repensar, com a finalidade de modificar isso, porque se reconhece e se compreende os sujeitos que ingressam no movimento estudantil, é a grande contribuição deste livro.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Sumário
INTRODUÇÃO
OS CAMINHOS DA PESQUISA: PERSPECTIVAS E METODOLOGIA
OS ESTREVISTADOS, A ENTREVISTA E O ENTREVISTADOR
OS CONCEITOS EM QUE SE APOIA A PESQUISA
1
aspectos históricos e políticos dos movimentos estudantis no país
1.1 PREAMBULANDO SOBRE O MOVIMENTO ESTUDANTIL
1.2 O MOVIMENTO ESTUDANTIL BRASILEIRO
1.3 OS MOVIMENTOS ESTUDANTIS CLÁSSICOS E AUTOGESTIONÁRIOS: REFLEXÕES E CRÍTICAS
1.4 ASPECTO INSTITUCIONAL DO MOVIMENTO ESTUDANTIL
2
OlHANDO OS DOCUMENTOS: FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DA UMES
2.1 A FORMAÇÃO POLÍTICA E EDUCACIONAL DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS
2.1.1 O processo educacional em São José dos Pinhais durante os primeiros anos da República e o Estado Novo
2.1.2 Processo educacional em São José dos Pinhais de 1988 a 2015, a partir da Constituição Cidadã
2.1.3 Matrículas e números do município em relação à educação: os Grêmios Estudantis Costa Viana e Walquíria Afonso da Costa
2.2 O CONTEXTO POLÍTICO PRECEDENTEÀ FUNDAÇÃO DA UMES
2.3 FORMAÇÃO, PERFORMANCE E IDEIAS DA UMES
2.3.1 Os congressos da UMES após sua fundação
2.3.2 A atuação da UMES
3
as práticas estudantis
3.2 A FORMAÇÃO DA UMES
3.3 A PARTICIPAÇÃO DOS PARTIDOS POLÍTICOS NA UMES SEGUNDO A ÓTICA DOS SEUS EX-INTEGRANTES
3.4 A VIDA E A ATUAÇÃO DA UMES
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Muitas são as maneiras de inaugurar uma pesquisa sobre o movimento estudantil sem incorrer na dissimulação da noção, cujo livro de Tariq Ali (2008, p. 20) acerca dos anos de 1960 tratou de apontar: cada geração é única
. Por esse motivo, admitir-se-á de antemão dois pressupostos, com os quais se estabeleceu uma dinâmica de aproximação e afastamento em relação a seus conteúdos, no intuito de confirmar ou rebater os desdobramentos que deles foram emergindo. São eles: (1) os estudantes não se encerram como uma massa uniforme; (2) e sua atuação é sempre um conjunto de relações banhadas em disputas, que se localizam na mais acanhada das entidades por eles dirigidas. Desse modo, a pesquisa que se apresenta alojou-se entre a fresta de duas histórias, conhecidas por sua visibilidade no corpo social, a das organizações estudantis e a das lutas empreendidas pelos estudantes, pois, a despeito de uma quase sempre se abrigar na outra, ambas se acham independentes, ainda que sejam embaladas pelo mesmo sujeito, os estudantes.
Embora tomado amiúde como homogêneo, o movimento estudantil compõe, na verdade, uma rede de grupos partilhando uma cultura de movimento e uma identidade coletiva
(MElucci, 1989, p. 60), que se caracterizam em razão da soma complexa de especificidades geralmente vinculadas de acordo com os sujeitos participantes. Assim, acredita-se que não seja mais possível falar de movimento estudantil, mas de movimentos estudantis. Esse debate, preliminarmente aqui suscitado, deve ganhar fôlego no decorrer deste estudo, quando chegar o momento de explicar o quanto a pluralidade de características desses movimentos pode estar relacionada aos modos de pensar e fazer dos sujeitos engajados. A menção sobre isso, nesse momento da introdução, busca demarcar uma opção não apenas teórico-metodológica a respeito do caráter plural dos movimentos de estudantes, com os quais se quer identificá-los no decorrer desta pesquisa, mas também uma escolha de caráter político, uma vez que se pretende descortinar da invisibilidade o que os estudantes fazem nas frestas, cujo acesso estreito oculta a largura de seu interior.
É oportuno perguntar, portanto: o que diferencia esses movimentos de si mesmos, senão suas práticas no interior de cada grupo? Ao aceitar esse questionamento, reforça-se a divergência com relação às perspectivas que ameaçam o alargamento de proposições que se assentam nas
particularidades, tais como a ocultação das práticas, em que se realçam os modos de pensar e agir dos indivíduos e a recusa da história de suas façanhas. Isso posto, não seria inadequado se remeter à crítica de uma parcela dos historiadores, cuja elaboração tem-se dado nas últimas décadas, a respeito da narrativa dos acontecimentos, a qual Burke (2011, p. 12) chamou de uma visão de cima
, em que o destaque se atribui aos dirigentes políticos. Para esse autor, o surgimento de novas perspectivas de estudo no âmbito da pesquisa em história, preocupadas com a variedade de questionamentos, como a ação dos indivíduos e os movimentos coletivos, evidenciaram a fragilidade do modelo tradicional de explicação histórica, assentada na unilateralidade das narrativas, quase sempre reduzidas aos chamados grandes personagens
. Questionar-se sobre as práticas dissimuladas por entre as grandes histórias
das lutas e organizações estudantis concorre com a preocupação em retirar a história da esteira de uma visão unilateral, sob um único prisma, que, nesse caso, assenta-se na história das grandes
entidades representativas e/ou das grandes
lutas. Desse modo, a história que se pretende empreender nesta pesquisa insere-se na corrente da ciência histórica denominada de História Cultural, a qual se destaca pela preocupação com o simbólico e suas interpretações
(BURKE, 2008, p. 10), cuja redescoberta
a partir dos anos de 1970 tem levado a impulsionar o surgimento de novos problemas e objetos no âmbito da história, que se dedicam a tomar como base a cultura.
Ao contar a história dos estudantes é comum, na ânsia de apresentar os seus grandes feitos, a generalização de alguns traços, quase sempre centrados nas características exibidas pela figura de um líder e/ou de uma única organização, como se essas qualidades coincidissem entre os mais diferentes grupos e indivíduos que se encontram engajados nas causas estudantis. Esses efeitos, marcadamente homogeneizadores, são frequentemente observados nas declarações que se alastram apontando os estudantes, por um lado, como rebeldes
e participativos politicamente
, e, por outro, como apáticos
e pouco interessados pela política
. Embora a memória mais recente sobre os estudantes costume se remeter aos enfrentamentos, quiçá amplamente conhecidos pela sociedade em geral, contra a ditadura civil-militar, iniciada em 1964 e findada em meados dos anos de 1980, e a favor do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, movimento esse conhecido como caras pintadas
, os estudantes e suas formas de organização e participação não se resumem a esses eventos, tampouco podem ser unicamente associados aos traços por eles expressados nessas manifestações. Num eventual deslize
a esse respeito, estar-se-ia incorrendo numa simplificação das relações entre os próprios estudantes e deles com a sociedade, a política e a atuação de suas organizações.
Desse modo, não se pretende, com este estudo, tomar o período que abrange o ano de 1964 a 1980, momento esse definido pela implementação da ditadura civil-militar no país, como limite temporal desta pesquisa, obviamente, como se pode notar, em razão da larga produção da qual já se tem registro e que acabou, para o bem ou para o mal, vinculando a ideia de movimento estudantil às entidades que atuaram naquele período, como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES).
Entende-se, no entanto, que ainda repercute o interesse pela investigação acerca da atuação dos estudantes no período da ditadura civil-militar. Sobre isso, especula-se haver duas tendências que forçam essa predileção, as quais merecem ser examinadas: a existência de circunstâncias pouco exploradas pelos pesquisadores acerca do movimento estudantil nesse período, ou seja, os pesquisadores optam por estudar esse momento porque ele não se encontra esgotado; e a ideia segundo a qual esse período foi o mais fértil quanto à participação dos estudantes na vida política do país, e, portanto, trata-se do único momento em que o movimento estudantil se mostrou, efetivamente, atuante, o que acaba despertando a curiosidade dos pesquisadores e, por consequência, resumindo seus estudos a essa época.
No que se refere à primeira tendência, é possível admiti-la, posto que é comum a história de determinada época guardar uma infinitude de eventos,