Resumo Direito Civil LFG
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DIREITO CIVIL PARTE GERAL PESSOAS NATURAIS Conceito de personalidade jurdica A personalidade jurdica um atributo essencial para ser sujeito de direito (art. 1 do CC). Para a teoria geral do direito civil a personalidade uma aptido genrica para titularizar direitos e contrair obrigaes. Incio da personalidade jurdica da pessoa natural O incio da personalidade marcado pelo nascimento com vida, conforme dico do art. 2 do CC. Clinicamente o nascimento afervel pelo exame de docimasia hidrosttica de Galeno. Proteo jurdica do nascituro Nascituro o ente j concebido, mas ainda no nascido. Deixando de lado as discusses tericas sobre o incio da personalidade jurdica, certo que a segunda parte do art. 2 do CC expressamente pe salvo os seus direitos. Assim, pode-se afirmar que na legislao em vigor o nascituro: a) titular de direitos personalssimos (como o direito vida); b) Pode receber doao, conforme dispe o art. 542 do CC: A doao feita ao nascituro valer, sendo aceita por seu representante legal; c) Pode ser beneficiado por legado e herana (art. 1798 do CC); d) Pode ser-lhe nomeado curador para a defesa dos seus interesses (arts. 877 e 878 do CPC); e) O Cdigo Penal tipifica o crime de aborto; f) Tem direito a alimentos. Capacidade de direito e capacidade de fato Por capacidade de direito, tambm conhecida como capacidade de gozo ou capacidade de aquisio, pode ser entendida como a medida da intensidade da personalidade. Todo ente com personalidade jurdica possui tambm capacidade de direito, tendo em vista que no se nega ao indivduo a qualidade para ser sujeito de direito. Personalidade e capacidade jurdica so as duas faces de uma mesma moeda. A capacidade de fato, ao contrrio da capacidade de direito possui estgios definidos no prprio Cdigo Civil. Ele distingue duas modalidades de incapacidade, a saber: a incapacidade em absoluta e a relativa. Trata-se de um divisor quantitativo de compreenso do indivduo. De acordo com o art. 3 do CC so considerados absolutamente incapazes: a) Os menores de 16 anos (art. 3, I) b) Aqueles que sofrem de doena ou deficincia mental (art. 3, II) c) Os que por causa transitria no puderem exprimir sua vontade (art. 3, III) De acordo com o art. 4 do CC so considerados relativamente incapazes: a) Os maiores de 16 e menores de 18 anos (art. 4, I); b) Os brios habituais e os viciados em txico (art. 4, II);
c) Os deficientes mentais que tenham o discernimento reduzido (art. 4, II); d) Os excepcionais sem desenvolvimento mental completo (art. 4, III) e) Os prdigos (art. 4, IV) Emancipao Trata-se de um uma hiptese de antecipao da aquisio da capacidade civil plena antes da idade legal. Trs so as formas de emancipao: a) Emancipao voluntria aquela concedida por ato unilateral dos pais em pleno exerccio do poder parental, ou um deles na falta do outro. b) Emancipao judicial Realiza-se mediante uma sentena judicial, na hiptese de um menor posto sob tutela. Antes da sentena o tutor ser, necessariamente, ouvido pelo magistrado (Cdigo Civil art. 5, pargrafo nico, I, segunda parte). c) Emancipao legal Ocorre em razo de situaes descritas na lei. O art. 5 do CC nos traz as seguintes situaes: 1- O Casamento; 2- Exerccio de emprego efetivo; 3- Colao de grau em curso de ensino superior; 4- Estabelecimento civil ou comercial, ou a existncia de relao de emprego, desde que, em funo deles, o menor tenha economia prpria. Extino da personalidade jurdica da pessoa natural A morte o momento no qual a personalidade se extingue. No se admite no ordenamento ptrio a hiptese de morte civil ou qualquer outro modo de perda da personalidade sem vida. Todavia possvel cogitar de uma presuno de morte, conforme se depreende da leitura do art. 7 do CC. O referido dispositivo trata de duas hipteses de morte presumida. A primeira trata da probabilidade extrema de morte daquele que se encontre em perigo de vida. (CC art. 7, I). A segunda hiptese trata dos desaparecidos em campanha de guerra ou feito prisioneiro, caso no seja encontrado at 02 dois anos aps o trmino da guerra (CC art. 7, II). Ausncia das pessoas naturais Ausente aquele que desaparece de seu domiclio, sem que dele se tenha notcias. Assim, para caracterizar a ausncia a no-presena do sujeito deve somar-se com a falta de notcias. A ausncia um processo no qual a proteo dos bens do desaparecido d lugar proteo dos interesses dos sucessores. Este processo tem trs estgios, conforme a menor possibilidade de reaparecimento do ausente: a) Declarao da ausncia e curadoria dos bens; b) Sucesso provisria; e c) Sucesso definitiva.
PESSOA JURDICA O art. 44 do CC prev cinco espcies de pessoa jurdica de direito privado. So elas: a) Associaes: So entidades formadas pela unio de indivduos com o propsito de realizarem fins no-econmicos. A assemblia geral o rgo mximo das associaes. Ela possui poderes deliberativos e o art. 59 do CC estabeleceu-lhe competncias absolutas: 1) eleger os administradores; 2) destituir os adminitradores; 3) aprovar contas; e 4) alterar o estatuto. b) Sociedades: So as entidades formadas pela unio de pessoas que exercem atividade econmica e buscam o lucro como objetivo. Dependendo do tipo de atividade realizada, as sociedades podem ser simples ou empresrias. As formas societrias previstas no nosso ordenamento so: 1) sociedade em nome coletivo; 2) sociedade em comandita simples; 3) sociedade limitada; 4) sociedade annima; e) sociedade em comandita por aes. c) Fundaes: So entidades resultantes de uma afetao patrimonial, por testamento ou escritura pblica, que faz o seu instituidor, especificando o fim para o qual se destina. Para a criao de uma fundao, h uma srie ordenada de etapas que devem ser observadas, a saber: 1) Afetao de bens livres por meio do ato de dotao patrimonial; 2) Instituio por escritura pblica ou testamento; 3) Elaborao dos estatutos (H duas formas de instituio da fundao: a direta, quando o prprio instituidor o faz, pessoalmente; ou a fiduciria, quando confia a terceiro a organizao da entidade). 4) Aprovao dos estatutos ( o rgo do Ministrio Pblico que dever aprovar os estatutos da fundao, com recurso ao juiz competente, em caso de divergncia); 5) Realizao do registro civil. d) Partidos Polticos: So entidades com liberdade de criao, tendo autonomia para definir sua estrutura interna, organizao e funcionamento, devendo seus estatutos estabelecer normas de fidelidade e disciplina partidria (art. 17 da CF). O 3 do art. 44 do CC estabelece que os partidos polticos sero organizados e funcionaro conforme o disposto na Lei n. 9.096/95. e) Organizaes religiosas: So entidades que muito se assemelham s associaes. Contudo, o 1. Do art. 44 do CC garante-lhes liberdade de criao, organizao, estruturao interna, sendo vedado ao poder pblico negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos.
O art. 44 do CC no um rol taxativo. Outras espcies como as cooperativas e as entidades desportivas no foram previstas neste dispositivo FATO JURDICO Conceito de fato jurdico lato sensu Os acontecimentos, indistintamente considerados, que geram direitos subjetivos so chamados, em sentido amplo, de fatos jurdicos ou fatos jurgenos. Fato jurdico em sentido estrito So todos os acontecimentos naturais que determinam efeitos na rbita jurdica. Os fatos jurdicos em sentido estrito subdividem-se em: a) Ordinrios So fatos da natureza de ocorrncia comum, costumeira, cotidiana: o nascimento, a morte, o decurso do tempo. b) Extraordinrios So fatos inesperados, s vezes imprevisveis: um terremoto, uma enchente, o caso fortuito e a fora maior. Ato jurdico em sentido estrito O ato jurdico em sentido estrito, constitui simples manifestao de vontade, sem contedo negocial, que determina a produo de efeitos legalmente previstos. Negcio jurdico Trata-se de uma declarao de vontade dirigida provocao de determinados efeitos jurdicos. Com efeito, para apreender sistematicamente o tema faz-se mister analis-lo sob os trs planos em que o negcio jurdico pode ser visualizado: a) Plano de existncia Um negcio jurdico no surge do nada, exigindo-se, para tanto que seja considerado como tal, o atendimento a certos requisitos mnimos. Neste plano no se cogita de invalidade ou eficcia do fato jurdico, importa, apenas, a realidade da existncia. Tudo, aqui, fica circunscrito a se saber se o suporte ftico suficiente se comps, dando ensejo incidncia (MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurdico (Plano da Existncia). So Paulo: Saraiva, 2000, p. 83.) b) Plano de validade O C.C. no art. 104 enumera os pressupostos de validade do negcio jurdico: a) agente capaz; b) objeto lcito, possvel, determinado ou determinvel; c) forma prescrita ou no defesa em lei. c) Plano de eficcia Ainda que um negcio jurdico existente seja considerado vlido, ou seja, perfeito para o sistema que o concebeu, isto no importa em produo imediata de efeitos, pois estes podem estar limitados por elementos acidentais de declarao. A lei civil dispe sobre trs tipos de elementos acidentais: 1) Condio Elemento voluntrio que subordina o nascimento ou extino do direito subjetivo a acontecimento futuro e incerto. A modalidade suspensiva provoca a aquisio do direito, j a resolutiva, uma vez realizado o negcio, permite a extino de seus efeitos na eventualidade de o fato previsto vir a
acontecer. 2) Termo o marco temporal que define o comeo ou o fim dos efeitos jurdicos de um negcio jurdico. Pode ser legal ou convencional. O primeiro decorre da lei o segundo, de clusula contratual. O termo se caracteriza pela futuridade e certeza. O termo pode ser suspensivo ou resolutivo. O primeiro, tambm denominado inicial (dies a quo) o dia a partir de quando os efeitos de um negcio jurdico comeam a produzir. Ele no instaura a relao jurdica, que j existe. Neste sentido a regra do art. 131, a qual informa que o termo inicial suspende o exerccio, no a aquisio do direito. O segundo corresponde ao dia em que cessam os efeitos do ato negocial. O C.C. por seu art. 1923, prev a hiptese de legado a termo inicial ou suspensivo. A doutrina registra ainda o termo de graa, que concedido pelo juiz no curso dos processos mediante dilao de prazo. 3) Encargo ou modo a clusula geradora de obrigao para a parte beneficiria em negcio jurdico gratuito e em favor do disponente, de terceiro ou do interesse pblico. um peso atrelado a uma vantagem (uma restrio), e no uma prestao correspectiva sinalagmtica. O encargo pode ser uma restrio no uso da coisa, ou pode ser uma obrigao imposta quele que beneficirio. Defeitos do negcio jurdico Trata-se dos defeitos dos negcios jurdicos, que se classificam em vcios de consentimento aqueles em que a vontade no expressada de maneira absolutamente livre e vcios sociais em que a vontade manifestada no tem, na realidade, a inteno pura e de boa f que enuncia. So vcios de consentimento: a) Erro ou ignorncia Trata-se de uma falsa percepo da realidade, ao passo que a ignorncia um estado de esprito negativo, o total desconhecimento do declarante a respeito das circunstncias do negcio. O erro, entretanto, s considerado como causa de anulabilidade do negcio jurdico se for: a) essencial (substancial); e b) escusvel (perdovel). b) Dolo Trata-se de um artifcio ou expediente astucioso, empregado para induzir algum prtica de um ato jurdico que o prejudica, aproveitando ao autor do dolo ou a terceiro. Pode-se classificar o dolo em principal e acidental. O principal quando a causa determinante do negcio. O acidental leva a distores comportamentais que podem alterar o resultado final do negcio. A distino tem relevo para fins que o principal enseja a anulao do negcio e o acidental s pode levar s perdas e danos. c) Coao Trata-se da violncia apta a influenciar a vtima a realizar negcio jurdico que a sua vontade interna no deseja efetuar, da a possibilidade de sua anulao. So dois tipos de coao: fsica (vis absoluta) e moral (vis compulsiva). Importante notar, que a doutrina entende que a vis absoluta neutraliza completamente a manifestao de vontade, tornando o negcio jurdico inexistente, e no simplesmente anulvel. d) Leso Trata-se de um vcio que permite a deformao da declarao de vontade por fatores pessoais do contratante, diante da inexperincia ou necessidade, exploradas indevidamente pelo locupletante.
A leso se compe de dois requisitos: 1) objetivo ou material (desproporo das prestaes avenadas); e 2) subjetivo, imaterial ou anmico (a premente necessidade, a inexperincia ou a leviandade da parte lesada e o dolo de aproveitamento da parte beneficiada). Suas caractersticas so: 1) a leso s admissvel nos contratos comutativos; 2) a desproporo entre as prestaes deve verificar-se no momento do contrato e no posteriormente; 3) a desproporo deve ser considervel. e) Estado de perigo - Identifica-se como uma hiptese de inexigibilidade de conduta diversa, ante a iminncia de dano por que passa o agente, a quem no resta outra alternativa seno praticar o ato. A expresso meu reino por um cavalo, da obra de Shakespeare, pode ser um exemplo para esse vcio. So vcios sociais: a) Simulao uma declarao enganosa de vontade, visando produzir efeito do ostensivamente indicado. um defeito que no vicia a vontade do declarante, uma vez que este se mancomuna de livre vontade para atingir fins esprios, em detrimento da lei ou da prpria sociedade. Importante observar que a simulao deixou de ser uma causa de anulabilidade e passou a figurar entre as hipteses de nulidade do ato jurdico. b) Fraude contra credores Consiste no ato de alienao ou onerao de bens, assim como de remisso de dvidas, praticado pelo devedor insolvente, ou beira da insolvncia, com o propsito de prejudicar credor preexistente, em virtude da diminuio experimentada pelo seu patrimnio. Dois elementos compem a fraude, o primeiro de natureza subjetiva e o segundo objetiva. So eles, respectivamente, o consilium fraudis (o conluio fraudulento) e o eventus damni (o prejuzo causado ao credor). A anulao do ato praticado em fraude contra credores d-se por meio de uma ao revocatrio, denominada ao pauliana. Invalidade do negcio jurdico A previsibilidade doutrinria e normativa da teoria das nulidades impede a proliferao de atos jurdicos ilegais ou portadores de vcios, a depender da natureza do interesse jurdico violado. Sendo assim, possvel afirmar que o reconhecimento desses estados so formas de proteo e defesa do ordenamento jurdico vigente. Dentro dessa perspectiva, correto dizer-se que o ato nulo (nulidade absoluta), viola norma de ordem pblica, de natureza cogente, e carrega em si vcio considerado grave. Por sua vez, o ato anulvel (nulidade relativa), contaminado de vcio menos grave, decorre de infringncia de norma jurdica protetora de interesses eminentemente privados. NULIDADE ABSOLUTA 1- O ato nulo atinge interesse pblico superior. 2- Opera-se de pleno direito. 3- No admite confirmao. 4- Pode ser argida pelas partes, por terceiro interessado, pelo MP, ou, at mesmo, pronunciada pelo juiz. NULIDADE RELATIVA 1- O ato anulvel atinge interesses particulares, legalmente tutelados. 2- No se opera de pleno direito. 3- Admite confirmao expressa ou tcita. 4- Somente pode ser argida pelos legtimos interessados.
5- A ao declaratria de nulidade decidida por sentena de natureza declaratria. 6- Pode ser reconhecida, segundo o CC, a qualquer tempo, no se sujeitando ao prazo prescricional ou decadencial.
5- A ao anulatria decidida por sentena de natureza desconstitutiva 6- A anulabilidade somente pode ser argida, pela via judicial, em prazos decadenciais de quatro (regra geral) ou dois (regra supletiva) anos, salvo norma especfica em sentido contrrio.
Prescrio Direito subjetivo o poder que o ordenamento jurdico reconhece a algum de ter, fazer ou exigir de outrem determinado comportamento. verdadeira permisso jurdica, ou ainda, um poder concedido ao indivduo para realizar seus interesses. Representa a estrutura da relao poder-dever, em que ao poder de uma das partes corresponde ao dever da outra. Importante observar que existem pretenses imprescritveis, afirmando que a prescritibilidade a regra e a imprescritibilidade a exceo. Assim, no prescrevem: a) as que protegem os direitos da personalidade; b) as que se prendem ao estado das pessoas (estado de filiao, a qualidade de cidadania, a condio conjugal); c) as de exerccio facultativo (ou potestativo), em que no existe direito violado, como as destinadas a extinguir o condomnio, a de pedir meao no muro vizinho; d) as referentes a bens pblicos de qualquer natureza, que so imprescritveis; e) as que protegem o direito de propriedade, que perptuo (reivindicatria); f) as pretenses de reaver bens confiados guarda de outrem, a ttulo de depsito, penhor ou mandato; g) as destinadas a anular inscrio do nome empresarial feita com violao de lei ou do contrato (CC, art. 1.167). A pretenso e a exceo prescrevem no mesmo prazo (art. 189 e art. 190). O art. 191 no admite a renncia prvia da prescrio, isto , antes que se tenha consumado. Assim, dois so os requisitos para a validade da renncia: a) que a prescrio j esteja consumada; b) que no prejudique terceiro. Terceiros eventualmente prejudicados so os credores, pois a renncia possibilidade de alegar a prescrio pode acarretar a diminuio do patrimnio do devedor. Em se tratando de ato jurdico, requer a capacidade do agente. Renunciar prescrio consiste na possibilidade de o devedor de uma dvida prescrita, consumado o prazo prescricional e sem prejuzo a terceiro, abdicar do direito de alegar esta defesa indireta de mrito (a prescrio) em face de seu credor. A nica conseqncia da tardia alegao da prescrio diz respeito aos nus de sucumbncia: so indevidos honorrios advocatcios em favor do ru, se este deixou de alegar a prescrio de imediato, na oportunidade da contestao, deixando para faz-lo somente em grau de apelao, nos termos do art. 22 do CPC.
Diz o mencionado art. 193 que a prescrio pode ser alegada pela parte a quem aproveita. A argio no se restringe, pois, ao prescribente, mas se estende a terceiros favorecidos por ela. Registre-se que os relativamente incapazes e as pessoas jurdicas tm ao contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa prescrio, ou no a alegarem oportunamente (art. 195), regra tambm aplicvel decadncia por fora do art. 208 do CC. Finalmente, permitida, tambm, a accessio praescriptionis, isto , a soma do tempo corrido contra o credor ao que flui contra o seu sucessor (art. 196). O prazo, desse modo, no se inicia novamente. E com o principal prescrevem os direitos acessrios (art. 167 do CC/16), regra que deve ser acolhida pela doutrina e jurisprudncia. O Cdigo Civil agrupou as causas que suspendem e impedem a prescrio em uma mesma seo, entendendo que esto subordinadas a uma unidade fundamental. As mesmas causas ora impedem, ora suspendem a prescrio, dependendo do momento em que surgem. Impedimento da prescrio o obstculo ao curso do respectivo prazo, antes do seu incio. Constitui-se em um fato que no permite comece o prazo prescricional a correr. Assim, se o prazo ainda no comeou a fluir, a causa ou obstculo impede que comece. Interrupo da prescrio o fato que impede o fluxo normal do prazo, inutilizando o j decorrido A interrupo depende, em regra, de um comportamento ativo do credor, diferentemente da suspenso, que decorre de certos fatos previstos na lei, como foi mencionada. Qualquer ato de exerccio ou proteo ao direito interrompe a prescrio, extinguindo o tempo j decorrido, que volta a correr por inteiro, diversamente da suspenso da prescrio, cujo prazo volta a fluir somente pelo tempo restante. O efeito da interrupo da prescrio , portanto, instantneo: A prescrio interrompida recomea a correr da data do ato que a interrompeu, ou do ltimo ato do processo para a interromper (art. 202, pargrafo nico). Sempre que possvel a opo, ela se verificar pela maneira mais favorvel ao devedor. O art. 202, caput, expressamente declara que a interrupo da prescrio somente poder ocorrer uma vez. A restrio benfica, para no se eternizarem as interrupes da prescrio. So efeitos da interrupo da prescrio: 1- Inutiliza-se todo o tempo prescricional decorrido, comeando a correr novo prazo. 2- O direito subjetivo atingido beneficiado pela interrupo, dilatando-se o perodo para composio do dano; essa vantagem para o titular do direito subjetivo ofendido corresponde s desvantagens para o prescribente, que v retardado o benefcio que lhe poderia advir da prescrio; 3- A interrupo da prescrio por um credor no aproveita aos outros; igualmente, a interrupo operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, no prejudica os demais co-obrigados (art. 204 do CC). A interrupo por um dos credores solidrios, aproveita aos outros; assim como a interrupo efetuada contra o devedor solidrio envolve os demais e seus herdeiros (CC, art. 204, 1).
Decadncia Existem direitos subjetivos que no fazem nascer pretenses, porque destitudos dos respectivos deveres. So direitos potestativos. O direito potestativo o poder que o agente tem de influir na esfera jurdica de outrem, constituindo, modificando ou extinguindo uma situao subjetiva sem que esta possa fazer alguma coisa se no sujeitarse. So direitos potestativos o do patro dispensar o empregado, o do doador revogar a doao simples, o de aceitar ou no a proposta de contratar, o de aceitar ou no herana. O lado passivo da relao jurdica limita-se a sujeitar-se ao exerccio de vontade da outra parte. E no havendo dever, no h o seu descumprimento, no h leso. Consequentemente, no h pretenso. O tempo limita o exerccio dos direitos potestativos pela inrcia do respectivo titular, a qual recebe o nome de caducidade. Esta, em sentido amplo, significa extino de direitos em geral, e em sentido restrito, perda dos direitos potestativos quando toma o nome de decadncia. Seu fundamento o princpio da inadmissibilidade de conduta contraditria. A decadncia traduz-se, portanto, em uma limitao que a lei estabelece para o exerccio de um direito, extinguindo-o e pondo a termo ao estado de sujeio existente. Aplica-se s relaes que contm obrigaes, sendo objeto de ao constitutiva. A decadncia estabelecida em lei ou pela vontade das partes em negcio jurdico, desde que se trate de matria de direito disponvel e no haja fraude s regras legais. Enquanto a prescrio deve ser alegada pela parte interessada, a decadncia no suscetvel de oposio, como meio de defesa. Sendo matria de ordem pblica, dispe a lei (CC, art. 209) que nula a renncia decadncia fixada em lei, sendo de admitir-se, a contrario sensu, ser vlida a renncia decadncia estabelecida em negcio jurdico pelas partes. No caso de decadncia legal, deve o juiz conhece-la de ofcio (CC, art. 210). DIREITO DAS OBRIGAES Conceito e elementos Obrigao a relao jurdica em virtude da qual uma ou mais pessoas determinadas devem, em favor de outra ou de outras, uma prestao de carter patrimonial. Por outras palavras: Obrigao o vnculo jurdico temporrio pelo qual a parte credora (uma ou mais pessoas) pode exigir da parte devedora (uma ou mais pessoas) uma prestao patrimonial e agir judicialmente ou mediante instaurao de juzo arbitral sobre o seu patrimnio, se no for satisfeita espontaneamente. Seus elemento so: os sujeitos, o objeto e o vnculo jurdico. Os sujeitos so: a parte credora (uma ou mais pessoas fsicas ou jurdicas) e a parte devedora (uma ou mais pessoas fsicas ou jurdicas). O objeto a prestao (dar, fazer ou no fazer alguma coisa). A prestao deve ter contedo patrimonial e ser lcita, possvel e determinada ou determinvel.
Obrigaes naturais So as que no podem ser reclamadas em juzo, embora lcitas.A idia de obrigao imperfeita ou natural tambm vlida para as dvidas de jogo e de aposta, agora tratadas no art. 814 do Cdigo Civil A obrigao natural confere hoje juridicidade obrigao moral e ao dever de conscincia reconhecidos e cumpridos pelo devedor, que, posteriormente, no pode reaver o pagamento feito conscientemente. Pagamento Pagamento todo cumprimento de obrigao, importando em dar, fazer ou no fazer. O pagamento feito na forma estipulada, no podendo o credor ser obrigado a receber parcialmente o dbito, salvo em casos especiais previstos pela lei, como na substituio do devedor por seus herdeiros, que s so responsveis pelo dbito na proporo dos seus quinhes (art. 1.997 do CC). Qualquer pessoa pode pagar uma dvida, sua ou de outrem. Mas o Cdigo Civil distingue: o pagamento pode ser feito por terceiro interessado ou por terceiro no interessado. O termo interessado a tem sentido tcnico: aquele que pode ser responsabilizado pelo dbito, como, por exemplo, o avalista ou um terceiro garantidor da dvida. No entanto, se algum parente ou amigo do devedor e deseja auxili-lo, tambm pode pagar, mas os efeitos so diversos. Inadimplemento e mora O inadimplemento ou no-cumprimento da obrigao na maneira estipulada pode revestir formas diversas. A destruio da coisa e a ilicitude do negcio jurdico, em virtude de lei nova, importam em impedir de modo definitivo o cumprimento da obrigao. O inadimplemento total, cabal e definitivo pode ser fortuito ou culposo, ensejando, na ltima hiptese, a responsabilidade do inadimplente. Pode, diversamente, ter havido um simples atraso no adimplemento da obrigao, que no foi cumprida no tempo fixado, mas o foi posteriormente. Esse atraso ou retardamento importa num inadimplemento temporrio, quer por parte do devedor (mora debitoris ou mora solvendi), quer por parte do credor (mora creditoris ou mora accipiendi). Mora o retardamento culposo no cumprimento da obrigao, quando a prestao ainda til para o credor. A mora debitoris pressupe uma dvida lquida e certa, vencida e no paga em virtude de culpa do devedor. Uma vez que haja mora, o devedor responde tambm pela impossibilidade da prestao resultante de caso fortuito ou fora maior, salvo se provar a iseno de culpa ou que o dano ainda sobreviria se a obrigao fosse oportunamente desempenhada. A constituio em mora se realiza de pleno direito, ou seja, pelo simples advento do termo ou decurso do prazo, sem necessidade de qualquer interpelao judicial. o princpio dies interpellat pro homine (art. 397 do CC). H mora do credor quando este se recusa a receber o que lhe devido, na forma contratual ou legal (art. 394 do CC). Os efeitos da mora creditoris importam em transferir a responsabilidade pela conservao da coisa ao credor, como se tradio tivesse havido, devendo o credor ressarcir o devedor pelas despesas que teve,
depois da mora, pela conservao do bem e sujeitando-se ainda a receb-lo pelo seu maior valor, se este oscilar entre o tempo do vencimento e o do pagamento, interrompendo, outrossim, o curso dos juros (art. 400 do CC). Pagamento em consignao Pagamento em consignao o depsito judicial da coisa devida ou depsito em estabelecimento bancrio, se for dbito em dinheiro, para liberar o devedor, nos casos legais (art. 334 do CC). Pagamento com sub-rogao A sub-rogao a substituio de uma pessoa ou de uma coisa por outra pessoa ou coisa, numa relao jurdica. Sub-rogao pessoal pode ser: a) por fora de lei, a transferncia do crdito ao pagador de dvida alheia (casos do art. 346 do CC); b) por fora de contrato ou de recibo com tal fim, a transferncia do crdito prprio ou alheio, pelo pagamento (art. 347 do CC). Distingue-se da cesso de crdito, porque esta se faz antes do pagamento e a sub-rogao se faz por causa do pagamento. Imputao do pagamento Imputao a escolha da parcela a ser quitada num pagamento parcial do devedor que tem vrios dbitos em relao a um s credor. Quando o devedor tem vrios dbitos em relao ao mesmo credor e paga quantia insuficiente para a liquidao de todos, o problema que surge o de saber quais os dbitos que devem ser considerados pagos, ou seja, com relao a que dbitos o pagamento deve ser imputado. A imputao pode decorrer de acordo entre os interessados ou de determinaes legais. Dao em pagamento Os elementos necessrios da dao em pagamento so, pois, a existncia de uma dvida e o pagamento desta pela entrega de uma coisa diferente da prometida, com assentimento do credor e visando extino da obrigao. A dao em pagamento extingue a obrigao, pouco importando que a coisa dada em pagamento tenha valor maior ou menor do que a prestao originariamente devida. Novao A novao a transformao de uma obrigao em outra, ou melhor, a extino de uma obrigao mediante a constituio de uma obrigao nova que se substitui anterior, distinguindo-se a prestao antiga da nova, seja pelo valor ou natureza da prestao, seja por modificao do credor ou do devedor. Para que haja novao so elementos necessrios: a) uma obrigao anterior, embora possa ser simples obrigao natural, condicional ou anulvel; b) uma obrigao nova que extingue a anterior; c) a vontade de realizar novao (animus novandi) extinguindo a obrigao anterior, em virtude da criao da obrigao nova; e d) capacidade das partes para novar e para dispor. Compensao A compensao meio de extinguir as dvidas de pessoas que, ao mesmo tempo, so credora e devedora uma da outra at o limite da existncia do crdito recproco (art. 368 do CC).
Confuso A confuso a extino da obrigao decorrente da identificao numa mesma pessoa das qualidades de credor e devedor (art. 381 do CC). Como a compensao, a confuso s pode ser alegada entre credor e devedor. Remisso de dvida Remisso das dvidas a renncia do credor ao crdito que existe em seu favor, necessitando, para se tornar irrevogvel, o acordo de vontades do credor e do devedor. A simples declarao do credor importa em extino da dvida, mas pode ser revogada at o momento em que o devedor aceita a remisso. Transao A palavra transao utilizada em sentidos diversos. Na acepo mais ampla e menos tcnica, significa qualquer espcie de negcio. Em sentido restrito, o negcio jurdico bilateral pelo qual os interessados, por concesses mtuas, evitam ou terminam um litgio (art. 840 do CC). Clusula penal A clusula penal um pacto acessrio, regulamentado pela lei civil (arts. 408 a 416 do CC), pelo qual as partes, por conveno expressa, submetem o devedor que descumprir a obrigao a uma pena ou multa no caso de mora (clusula penal moratria) ou de inadimplemento (clusula penal compensatria). A clusula penal se apresenta geralmente sob a forma de pagamento de determinada quantia em dinheiro, admitindo-se todavia a clusula cujo contedo seja a prtica de ato ou mesmo uma absteno por parte do inadimplente. A multa convencionada no momento da realizao do ato jurdico ou posteriormente, revertendo em favor da parte inocente ou de terceiro (v. g., obra beneficente). O valor da multa deve ser determinvel, recorrendose eventualmente a vrios fatores para a fixao definitiva do seu montante. A clusula penal moratria quando se aplica em virtude de mora do devedor e sem prejuzo da exigncia da prestao principal.
RESPONSABILIDADE CIVIL A responsabilidade civil definida como a situao de quem sofre as conseqncias da violao de uma norma, ou como a obrigao que incumbe a algum de reparar o prejuzo causado a outrem, pela sua atuao ou em virtude de danos provocados por pessoas ou coisas dele dependentes. Elementos da responsabilidade civil So elementos estruturais da responsabilidade civil: a) Ao ou omisso do agente - A responsabilidade pode derivar de ato prprio, de ato de terceiro que esteja sob a guarda do agente, e ainda de danos causados por coisas e animais que lhe pertenam. b) Culpa ou dolo do agente - A obrigao de indenizar no existe, em regra, s porque o agente causador do dano procedeu obejtivamente mal. essencial que ele tenha agido com culpa. Agir com culpa
significa atuar o agente em termos de, pessoalmente, merecer censura ou reprovao do direito. (Primeira parte do art. 927 do CC) c) Relao de Causalidade - a relao de causa e efeito entre a ao ou omisso do agente e o dano verificado. Vem expressa no verbo causar, utilizado no art. 186. As principais teoria sobre a relao de causalidade so: 1) Teoria da equivalncia das condies toda e qualquer circunstncia que haja concorrido para produzir o dano considerada uma causa. A sua equivalncia resulta de que, suprimida uma delas, o dano no se verifica. O ato do autor do dano era condio sine qua non para que o dano se verificasse. 2) Teoria da causalidade adequada Somente considera como causadora do dano a condio por si s apta a produzi-lo. Se existiu no caso em apreciao dano somente por fora de uma circunstncia acidental, diz-se que a causa no era adequada. d) Dano - Sem a prova do dano, ningum pode ser responsabilizado civilmente. O dano pode ser material ou simplesmente moral DIREITOS REAIS Caractersticas dos direitos reais Os direitos reais se apiam na relao entre homem e coisa, sendo que esta deve possuir valor econmico e suscetvel de apropriao. No dizer de Silvio Rodrigues, so os direitos que se prende coisa, prevalecendo com a excluso de concorrncia de quem quer que seja, independendo para o seu exerccio da colaborao de outrem e conferindo ao seu titular a possibilidade de ir buscar a coisa onde quer que ela se encontre, para sobre ela exercer o seu direito. DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA Da superfcie Trata-se de direito real de fruio ou gozo sobre coisa alheia, de origem romana. Surgiu da necessidade prtica de se permitir edificao sobre bens pblicos, pertencendo o solo em poder do Estado. Das servides Servido um encargo que suporta um prdio denominado serviente, em benefcio de um outro prdio chamado dominante, conferindo ao titular o uso e gozo do direito ou faculdade. Do usufruto Trata-se de um direito real sobre coisa alheia conferido a algum de retirar, temporariamente, da coisa alheia os frutos e utilidades que ela produz, sem alterar-lhe a substncia (Art. 1225, IV, CC). Do uso O usurio usar da coisa e perceber os seus frutos, quando o exigirem as necessidades pessoais suas e de sua famlia (art. 1412). No que diz respeito s necessidades pessoais, deve-se ter em considerao a condio
social do usurio, bem como o lugar onde vive. Da habitao A habitao pode ser entendida como uma modalidade especial de uso moradia. O titular desse direito pode usar a cada para si, residindo nela, mas no alug-la nem emprest-la. E se for conferido a mais de uma pessoa, qualquer delas que a ocupar estar no exerccio de direito prprio, nada devendo s demais a ttulo de aluguel. Do direito do promitente comprador Com o advento do Decreto-Lei n. 58/37, o compromisso tornou-se irretratvel, conferindo direito real ao comprador, desde que levado ao registro imobilirio. O promitente comprador no recebe o domnio da coisa, mas passa a ter direitos reais sobre ela. A Lei n. 6.766/79 veio derrogar o Decreto-Lei n. 58/37, que hoje se aplica somente aos loteamentos rurais. O art. 25 da referida lei declara irretratveis e irrevogveis os compromissos de compra e venda de imveis loteados. Qualquer clusula de arrependimento, nesses contratos, ter-se-, pois, por no escrita. Em se tratando, porm, de imvel no loteado, lcito afigura-se convencionar o arrependimento, afastando-se, com isso, a constituio do direito real. Inexistindo clusula nesse sentido, prevalece a irretratabilidade. Das concesses A lei 11.481/07 introduziu dois novos direitos reais no Cdigo Civil brasileiro, a saber: a concesso de uso especial para fins de moradia e a concesso de direito real de uso. No se trata propriamente de um direito real novo. Desde a edio da Medida Provisria n. 2.220, de 4 de setembro de 2001, editada como diploma substitutivo ao veto dos arts. 15 a 20 do Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257/2001), a concesso de uso especial para fins de moradia compe o rol dos direitos reais. Ocorre que a Lei n. 11.481/2007, responsvel pela introduo do instituto no CC, pouco, ou melhor, praticamente nada acrescentou sobre o instituto, o qual continua submetido ao contedo e contornos normativos da Med. Prov. n. 2.220/2001. Isso porque no foi inserido no CC, ao contrrio dos demais direitos reais, um ttulo especfico sobre esse direito. Pela MP n. 2.220/2001, o direito concesso de uso especial para fins de moradia s ser outorgado quele que, at 30 de junho de 2001, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposio, at duzentos e cinqenta metros quadrados de imvel pblico situado em rea urbana, utilizando-o para sua moradia ou de sua famlia, tem o direito concesso de uso especial para fins de moradia em relao ao bem objeto da posse, desde que no seja proprietrio ou concessionrio, a qualquer ttulo, de outro imvel urbano ou rural (art. 1. da referida Medida Provisria). A concesso exige praticamente os mesmos requisitos do usucapio urbano previsto no art. 183 da CF e no art. 1.240 do CC. Ocorre que a concesso, ao contrrio do usucapio, nada mais do que contrato administrativo pelo qual a Administrao faculta ao particular a utilizao privativa de bem pblico, para que a exera conforme a sua destinao. O que era faculdade, porm, passa a ser direito do possuidor, e a Administrao no pode recusar o contrato. O art. 5. da MP estabelece que " facultado ao Poder Pblico assegurar o exerccio do direito de que tratam os arts. 1. e 2. em outro local na hiptese de ocupao de imvel:
I de uso comum do povo; II destinado a projeto de urbanizao; III de interesse da defesa nacional, da preservao ambiental e da proteo dos ecossistemas naturais; IV reservado construo de represas e obras congneres; ou V situado em via de comunicao". H, como se v, tentativa de trazer essa camada desfavorecida da populao ao mundo legalizado, buscando outorgar-lhe ttulos de direito real, inclusive dispondo, no art. 7. da Med. Prov. n. 2.220/2001, que "O direito de concesso de uso especial para fins de moradia transfervel por ato inter vivos ou causa mortis". O direito de concesso de uso especial para fins de moradia pode ser reconhecido por ato administrativo ou por deciso judicial e tem publicidade, de carter declaratrio, com o registro no Registro Predial (art. 167, I, n. 37, da Lei n. 6.015/73). DIREITO DE FAMLIA CASAMENTO Conceito de casamento Casamento o vnculo jurdico entre o homem e a mulher que se unem material e espiritualmente para constiturem uma famlia. Estes so os elementos bsicos, fundamentais e lapidares do casamento. Pressupostos de existncia jurdica do casamento a) Diversidade de Sexo Nesse sentido a lei clara e no abre espao a qualquer exegese extensiva (art. 1517). As unies estveis de natureza homossexual podem ter relevncia jurdica em outros planos e sob outras formar, mas no como modalidade de casamento. b) Consentimento A falta de consentimento torna inexistente o casamento. c) Celebrao por Autoridade Competente Inexiste casamento se o consentimento manifestado perante quem no tem competncia para celebrar o ato matrimonial. Casamento celebrado perante autoridade incompetente (perante prefeito municipal ou delegado de polcia) no nulo, mas simplesmente inexistente. Pressupostos de validade a) Puberdade No art. 1517 o legislador fixou idade nbil aos 16 anos, independentemente do sexo do nubente. Todavia, a capacidade matrimonial no se confunde com a capacidade civil (18 anos). Desse modo, se um ou ambos os pretendentes no tiverem atingido a maioridade civil, ser necessria a autorizao dos pais ou dos seus representantes legais para a celebrao do ato. Havendo divergncia entre os pais, o interessado poder obter do juiz o suprimento judicial correspondente (pargrafo nico do art. 1517 c/c o art. 1519). A regra do art. 1517 comporta, porm, uma exceo: admissibilidade do casamento para evitar cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez (art. 1520). b) Potncia a aptido para conjuno carnal. Fora as excees legais (casamento de ancios e casamento in extremis art. 1540) os nubentes devem ter aptido para a vida sexual. Dois so os tipos de impotncia que interessam ao direito matrimonial: Impotentia Coeundi (de concepo ou de cpula) Pode gerar a anulao do casamento, desde que interesse a um dos cnjuges anul-lo (art. 1557, III);
Impotentia Generandi (de gerar, ou, de procriar) No justifica a anulao do casamento, confirmando-se a idia de que a prole no finalidade do casamento. c) Sanidade O CC no previu a sanidade dos nubentes como condio necessria validade do casamento. O exame pr-nupcial no obrigatrio, salvo no caso de casamento de colaterais de 3 grau (tios e sobrinhos), conforme disposto no Decreto-lei 3.200 de 1941. Pressupostos de regularidade So os que se referem s formalidades do casamento, que ato jurdico eminentemente formal. A lei soleniza-o, prescrevendo formalidades de observncia obrigatria para a sua regularidade. a) Formalidades Preliminares So as que antecedem o casamento. Elas so de trs ordens: habilitao arts. 1525 e 1526 - (nesta fase ocorre a apreciao dos documentos e apurao da capacidade dos nubentes e a inexistncia dos impedimentos matrimoniais); a publicao dos editais art 1527 - (a dispensa dos editais possvel nas seguintes hipteses: se ficar comprovada a urgncia (grave enfermidade, parto eminente, viagem inadivel) e tambm no caso de casamento nuncupativo); e emisso do certificado da habilitao arts. 1533 a 1538 (o oficial extrair o certificado de habilitao durando a eficcia da habilitao por 90 dias). b) Formalidades Concomitantes So as que acompanham a cerimnia e vem detalhadamente previstas nos art. 1533 ao art. 1538. Importante notar que sua inobservncia determina-lhe a nulidade do ato. Dos impedimentos matrimoniais So as circunstncias que impossibilitam a realizao de determinado casamento, noutras palavras, a ausncia de requisito ou ausncia de qualidade que a lei articulou entre as condies que invalidam ou apenas probem a unio civil. Da eficcia do casamento Pelo art. 1565 do CC., homem e mulher, em absoluta igualdade de direitos e deveres, pelo casamento, assumem mutuamente a condio de consortes, companheiros e responsveis pelos encargos da famlia. Instaura-se o regime da co-gesto na sociedade familiar. E para reafirmar a recepo do princpio constitucional da igualdade, o legislador estatui, no pargrafo 1. do citado art que, qualquer dos nubentes, querendo, poder acrescer ao seu o sobrenome do outro. Os efeitos que produz o casamento podem ser encarados como restries que cada um dos cnjuges imps voluntariamente sua liberdade pessoal e que, uma vez assumidas, devem ser respeitadas enquanto durar a unio, os quais do origem aos chamados deveres conjugais (art. 1.566 do CC). Da invalidade do casamento a) Casamento inexistente - O casamento inexistente quando lhe faltam um ou mais elementos essenciais sua formao. O ato, no adquirindo existncia, nenhum efeito pode produzir. b) Casamento nulo - Segundo o disposto no art. 1548 nulo o casamento contrado pelo enfermo mental sem o necessrio discernimento para os atos da vida civil (por no estar em seu juzo perfeito) e por infringncia de impedimentos (previstos no CC., art. 1521, incisos I a VII). A decretao da nulidade pode ser promovida pelo Ministrio Pblico, ou por qualquer interessado (art. 1549). A sentena de nulidade do casamento tem carter declaratrio, uma vez que reconhece apenas o fato que o invalida, produzindo efeitos ex tunc (art.
1563). c) Casamento anulvel - O art. 1550 o CC trata dos casos de casamento anulvel que substituem, em linhas gerais, os outrora denominados impedimentos dirimentes relativos. Seis so as hipteses legais de anulao do casamento. No existem outras, logo, trata-se de uma enumerao taxativa e no exemplificativa. Dissoluo da sociedade conjugal Segundo o disposto no art. 1571 do CC., a sociedade conjugal termina: pela morte de um dos cnjuges, pela nulidade ou anulao do casamento, pela separao judicial ou pelo divrcio. PARENTESCO Toda pessoa se enquadra numa famlia por quatro ordens de relaes: o vnculo conjugal; o parentesco; a afinidade; e o vnculo scio-afetivo. Espcies de parentesco a) Parentesco natural o que se origina da consanginidade. b) Parentesco civil o decorrente da adoo, isto , o vnculo legal que se estabelece semelhana da filiao consangnea, mas independente dos laos de sangue. por fora de uma fico legal que se estabelece este parentesco. Em decorrncia do art. 227, pargrafo 6. da CF, no atual sistema codificado, o adotado tem os mesmos direitos do filho consangneo. c) Parentesco por afinidade - Inicialmente vale ressaltar que o casamento no cria nenhum parentesco entre o homem e a mulher. Marido e mulher so, simplesmente, afins. Embora haja simetria com a contagem dos graus no parentesco, a afinidade no decorre da natureza, nem do sangue, mas to somente da lei. A afinidade, assim como o parentesco por consanginidade, comporta duas linhas: a reta e a colateral. So afins em linha reta ascendente: sogro, sogra, padrasto e madrasta (no mesmo grau que pai e me). So afins na linha na linha reta descendente: genro, nora, enteado, enteada (no mesmo grau que filho e filha). A afinidade na linha reta sempre mantida (art. 1595, pargrafo 2.); mas a afinidade colateral (ou cunhadio) extingue-se com o trmino do casamento. Em assim sendo, inexiste impedimento de o vivo (ou divorciado) casar-se com a cunhada. d) O vnculo scio-afetivo - a proposta indita, no visualizada pelo C/C 1916 e que ganha legtimo reconhecimento na singela frmula do art. 1593 quando se refere ao parentesco que resulta de outra origem. UNIO ESTVEL O termo unio estvel admite dois sentidos, um amplo (lato sensu) e um restrito (stricto sensu). No sentido amplo, desde a posse do estado de casados, com notoriedade de longos anos, at a unio adulterina, tudo se incluiria na noo maior de concubinato. No sentido restrito, a convivncia more uxorio, ou seja, o convvio, de homem e mulher, como se fossem marido e mulher. O termo unio estvel, empregado pelo constituinte de 1988 refere-se unio livre, entre homem e mulher desimpedidos, tanto que o texto constitucional art. 226, pargrafo 3 - refere-se possibilidade de converso em casamento. S se converte em casamento, unio entre homem e mulher no inquinada de impedimento.
O concubinato no se confunde com a unio estvel (ou, unio livre), porque naquele h sempre impedimento, enquanto nesta a convivncia pode ser convertida em casamento. ALIMENTOS Alimentos, na linguagem jurdica, tem uma conotao amplssima, que no pode ser reduzida noo de mero sustento (alimentao) mas envolve, tambm, vesturio, habitao, sade, lazer, educao, profissionalizao. Logo, podemos afirmar que alimentos so os auxlios prestados a uma pessoa para prover as necessidades da vida. Fontes da obrigao alimentar A dvida de alimentos pode provir de vrias fontes: a) Vontade das partes Embora hiptese rara ela pode se materializar nos casos de separao consensual, na qual o marido (ou a mulher) convenciona a penso a ser paga ao outro cnjuge. Tambm pode derivar de disposio testamentria (art. 1920). b) Parentesco A lei impe aos pais o encargo de prover a mantena da famlia e, por decorrncia jurdica, a eles compete sustentar e educar os filhos. Da mesma forma, aos filhos compete sustentar os pais, na velhice e quando necessitam de auxlio. c) Casamento e Unio Estvel Por fora do princpio constitucional que inseriu as unies estveis como espcie do gnero maior entidades familiares, os companheiros tambm podem pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver (art. 1694). d) Ato Ilcito Quando o causador do dano fica obrigado a reparar o prejuzo mediante pagamento de uma indenizao, a penso alimentar decorre da responsabilidade civil. o que decorre do disposto no art. 948, II. DIREITO DAS SUCESSES Aspectos gerais A sucesso em sentido restrito designa a transmisso de bens de uma pessoa (autor da herana, tambm chamado de de cujus) em decorrncia de sua morte para uma outra (chamado genericamente de sucessor). Existem duas formas de sucesso no direito brasileiro (art. 1.786 do CC): a) A legtima Resultante de lei. Ocorre sempre que o autor da herana morre sem deixar disposio de ltima vontade; diz-se sucesso ad intestato (art. 1788 do CC). b) A testamentria Resultante da vontade do testador. Deriva do testamento, isto , da manifestao de vontade do testador que, alm da legtima, abre espao vontade soberana do testador, quanto cota disponvel. O direito brasileiro consagrou o sistema da limitada liberdade de testar. o que deflui do disposto nos arts. 1.789 c/c 1.846 do CC. Com efeito, havendo herdeiros necessrios (art. 1.845) diz o art. 1.789 que o testador s pode dispor da metade da herana. Caracterstica da herana
A herana uma universalidade de direito. At a partilha todos os herdeiros encontram-se frente ao esplio como condminos, ou seja, possuidores e proprietrios de uma cota ideal, abstrata, que s se materializar (ou concretizar) no momento da partilha. O estado de indiviso, decorrente da abertura da sucesso, desaparece via inventrio que, minucioso e exato, faz conhecer o complexo de bens transmitido pelo de cujus aos herdeiros. Ele garante a igualdade de quinhes, prepara a partilha e pe fim ao estado condominial. O art. 1.792 ainda precisa que o herdeiro nunca responde ultra vires hereditatis, ou seja, ele no responde pelos encargos superiores s foras da herana. Em outras palavras, a responsabilidade da herana pelas dvidas do defunto limita-se s suas foras. Ordem de vocao hereditria O critrio da vocao a proximidade do vnculo familiar. Assim, os herdeiros mais prximos excluem os mais remotos (salvo hiptese de representao) e os herdeiros de grau igual, quando herdam em nome prprio, recebem uma cota igual da herana. Assim: a) Herdeiros de grau igual: herdam por cabea b) Herdeiros de grau diferente: herdam por estirpe
Herdeiros legtimos So as pessoas indicadas na lei (art. 1.829) como sucessores, na sucesso legal, a quem se transmite a totalidade ou cota parte da herana. A existncia de herdeiros legtimos necessrios impede a disposio testamentria dos bens constitutivos da legtima (art. 1.846). So eles: os descendentes; os ascendentes, e o cnjuge sobrevivente (concorrendo com as duas categorias, conforme prev o inciso I do art. 1829) e o companheiro. Os herdeiros legtimos facultativos so os herdeiros que podem vir a herdar, quando faltarem herdeiros necessrios. Para exclu-los da sucesso basta que o testador disponha dos bens, sem os contemplar. Nesta categoria incluem-se os colaterais at o quarto grau. Sucesso dos descendentes A sucesso dos descendentes ocorre por cabea (quando os herdeiros se encontram no mesmo grau de parentesco do de cujus) ou por estirpe (quando herdeiros de graus diferentes). Sucesso do cnjuge De acordo com o art. 1.830 o chamamento do cnjuge est condicionado a que, na data do bito, no estivesse separado judicialmente de de cujus, nem deste separado de fato h mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivncia se tornara impossvel sem culpa do sobrevivente. Agora, o cnjuge sobrevivente concorre diviso da legtima, em igualdade com os descendentes ou ascendentes do falecido. Em trs hipteses, todavia, a lei deixa de reconhecer vocao hereditria ao cnjuge, atribuindo a herana, em sua totalidade, aos descendentes: a) Se o regime de bens do casal era o da comunho universal; b) Se o regime de bens era o da separao obrigatria; e c) Se o regime de bens era o da comunho parcial, sem que o falecido tenha deixado bens
particulares. A ausncia de patrimnio particular do de cujus importa serem comuns todos os seus bens: por uma circunstncia ftica, essa ltima situao se equipara primeira (de comunho universal) e, portanto, deve merecer igual tratamento. Diante de tais excees regra da concorrncia entre descendentes e cnjuge, ao ltimo caber participar da sucesso em trs hipteses: a) Se o regime de bens do casal era o da separao convencional, isto , aquele livremente adotado pelos cnjuges mediante pacto antenupcial vlido; b) Se o regime de bens era o da comunho parcial, e o de cujus tinha bens particulares (caso em que o cnjuge ser, ao mesmo tempo, herdeiro e meeiro, incidindo a meao, obviamente, apenas sobre o patrimnio comum); c) Se o regime de bens era o da participao final nos aqestos. Tambm aqui haver herana e meao. Quando o cnjuge concorrer com ascendentes, ser irrelevante o regime de bens. A nova lei previu, ainda, com maior extenso, o direito real de habitao sobre o imvel residencial familiar para o cnjuge sobrevivente (art. 1.831). Sucesso dos ascendentes No havendo descendentes, a sucesso devolve-se aos ascendentes. Aqui, tambm, o princpio da proximidade a regra, mas no se admite a representao. E no caso dos pais do de cujus estarem mortos, mas ainda vivos seu av paterno C e seus avs maternos E e F, como se dividir a herana? C receber metade da herana cabendo a outra metade a E e F conjuntamente (art. 1.836, pargrafo 2o. do C.C.). A sucesso do filho adotivo por seus ascendentes cria duas situaes distintas, a saber: a) Adoo plena - A herana do filho adotivo devolve-se aos seus pais adotivos (art. 41, pargrafo 2o. do ECA); b) Adoo Simples A herana beneficiar os ascendentes naturais. Sucesso na unio estvel A sucesso do convivente est prevista no art. 1790 do CC. Sua participao est limitada aos bens adquiridos onerosamente na constncia da convivncia, ficando excludo os bens particulares deixados pelo de cujus. Concorrendo com descendentes comuns receber quota igual a que for paga ao descendente. Se concorrer com descendentes s do falecido receber metade do que cada descendente receber. No havendo descendentes do falecido, o convivente concorrer herana com os outros parentes porventura existentes, tendo direito a no mnimo 1/3 (um tero) da herana. O convivente somente ir receber a totalidade da herana caso o falecido no tenha deixado nenhum parente suscetvel de receber a herana. Neste montante incluem-se os bens particulares.