ACSL - Orbitas Do Sitio
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S U B S D I O S PA R A O E S T U D O DA P O L T I C A I N D I G E N I S TA N O B R A S I L , 19101967
AS RBITAS DO STIO
AS RBITAS DO STIO
SUBSDIOS AO ESTUDO DA POLTICA INDIGENISTA NO BRASIL, 19101967
Copyright Antonio Carlos de Souza Lima, 2009 Capa, projeto grfico, escaneamento, montagem e tratamento de originais Jorge Tadeu Martins da Costa
As rbitas do stio: subsdios ao estudo da poltica indigenista no Brasil, 19101967. Antonio Carlos de Souza Lima Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, LACED/Museu Nacional/UFRJ, 2009. 252 p. 21 x 29,7 cm ISBN: 978-85-7740-069-0 Inclui mapas, grficos, tabelas e quadros.
Servio que tem para campo de ao toda a vastido do territrio nacional, desdobrando-se em uma sequncia de atos que no podem ser interrompidos, sob pena de malogro de todo o trabalho em andamento, de todo esforo despendido, Servio que se dirige a um tempo natureza selvagem do solo e natureza selvagem de seu habitante, necessitando do emprego de mtodos experimentais de cultura e da prtica de processos cientficos de civilizao no desbravamento das terras e no trato da alma humana, Servio que, para ser eficaz, para desenvolver-se, para produzir e consolidar-se, carece de um exerccio continuado distribudo por uma multiplicidade de rgos convergentes, um tal Servio, assim caracterizado, atenta a enormidade do territrio nacional, ou melhor, a disseminao das tribos indgenas na grande rbita de sua vida nmade por esse imenso territrio, s pode ser executado por crescido nmero de funcionrios de vrias categorias, num grande cerco de paz, num assdio extenso e paciente.
Este livro foi viabilizado por recursos do projeto DIVERSO - Polticas para a Diversidade e os Novos Sujeitos de Direitos: Estudos Antropolgicos das Prticas, Gneros Textuais e Organizaes de Governo, realizado com financiamento da FINEP, atravs do Edital de Cincias Sociais 2006 (Convnio FINEP/ FUJB n 01.06.0740.00, REF: 2173/06 ) e pelo projeto Cooperao tcnica internacional, Povos indgenas e Polticas Governamentais, bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq para o perodo 20092012 (Processo CNPq n 300904/2008-8).
Todos os direitos desta edio reservados Contra Capa Livraria Ltda. <[email protected]> www.contracapa.com.br Rua de Santana, 198 | Centro 20230-261 | Rio de Janeiro RJ Tel (55 21) 2508.9517 | Fax (55 21) 3435.5128
Sumrio
Apresentao
Montando o Cerco: grficos, tabelas, mapas, legislao, textos e quadros sobre o Servio de Proteo aos ndios (SPI), 19101967
11
Grficos
23 31 35 81 133
Tabelas
Mapas
Legislao
Textos
153
Apresentao
Trs dcadas depois de sua constituio, um balano inicial revela que o acervo de documentos relativos histria do indigenismo brasileiro no sculo XX depositado no Museu do ndio contribuiu para a elaborao de centenas de artigos, dissertaes e teses sobre a cultura indgena e a poltica indigenista, envolvendo atividades do Servio de Proteo aos ndios (SPI), do Conselho Nacional de Proteo aos ndios (CNPI), da Comisso Rondon e da Fundao Brasil Central (FBC). O antroplogo Antonio Carlos de Souza Lima foi um dos primeiros cientistas sociais a fazer observaes sobre a organizao desse acervo: constatou ento a marginalizao de boa parte da documentao administrativa do SPI, o que produziu lacunas at hoje existentes na histria dessa instituio. Isso, contudo, no impediu que Souza Lima elaborasse uma obra seminal, em que analisa a interveno do Estado brasileiro em face dos povos indgenas desde os primrdios da conquista do Brasil. A noo de poder tutelar, construda nessa pesquisa para a elaborao de sua tese de doutorado, tem sido profcua, sendo empregada em inmeros trabalhos sobre as mais diversas realidades sociais. Para desenvolver a pesquisa da tese, Souza Lima contou com a colaborao em campo de jovens e talentosos historiadores e cientistas sociais, que coletaram documentos, produzindo uma das maiores sistematizaes de informaes j vistas em trabalhos antropolgicos. Coordenando essa equipe de estagirios do Programa de Estudos de Terras Indgenas (PETI), coube a Souza Lima lapidar o material de campo, transformando-o numa tese inovadora sobre o indigenismo brasileiro, que supera as obras propagandsticas ento predominantes nessa rea. Os dados que Souza Lima apresenta aqui constituem, originalmente, a maior parte do segundo volume de sua tese e so uma amostra do potencial do acervo depositado no Museu do ndio: listagens inditas de diretores, inspetores e outros servidores indigenistas, organogramas histricos das organizaes, tabelas de oramentos, mapas raros, legislaes regimentais e snteses de informaes regionais sobre a ao do SPI. Trabalhando h trinta anos com tal acervo, at hoje sou surpreendido por novas revelaes que o manuseio de mais de quinhentos mil documentos proporciona. H ainda muito material indito a explorar, como a imensa documentao relativa aos estados do Mato Grosso e do Par. A divulgao das fontes primrias utilizadas por Souza Lima valoriza um acervo cujo desvendamento pode colaborar para o amadurecimento de propostas polticas relativas ao futuro dos povos indgenas do Brasil. Cabe a novos pesquisadores colocar mos obra, agradecendo a generosidade do antroplogo que aqui divulga suas fontes de pesquisa. Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 2009
Carlos Augusto da Rocha Freire Doutor em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ Pesquisador do Museu do ndio
Montando o Cerco: grficos, tabelas, mapas, legislao, textos e quadros sobre o Servio de Proteo aos ndios (SPI), 19101967
Alguns motivos me impeliram deciso de divulgar o presente material, que contm os grficos, as tabelas, os mapas, as leis e, sobretudo, os quadros elaborados com informaes concernentes atuao dos postos indgenas do Servio de Proteo aos ndios (SPI). Junto com a reproduo de fotografias extradas de ndios do BrasiI (Rondon 1946, 1953a, 1953b), compuseram o segundo volume de minha tese de doutorado, defendida em 26 de agosto de 1992 no Programa de Ps-Graduao em Antropologia Social do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob a orientao do professor Luiz de Castro Faria. Nesse material preparado com base em fontes diversas, e que constitui cerca de um quarto das fontes que pude pesquisar, buscava demonstrar a sorte de contedos em que minhas interpretaes se respaldavam. O primeiro volume da tese se transformou em livro homnimo mesma, intitulado Um grande cerco de paz: poder tutelar, indianidade e formao de Estado no BrasiI (Souza Lima 1995). O primeiro motivo que me levou a publicar o segundo volume de minha tese 17 anos aps sua montagem que ele foi pensado para tornar pblico um tipo de material que, at 1992, era dificilmente alcanvel, e que, em parte, reflete os longos anos de pesquisas (iniciados mais intensamente em 1984 e finalizados em 1991) dedicados elaborao de uma dissertao de mestrado (Souza Lima, 1985) e referida tese de doutorado. Nessas pesquisas, beneficiei-me em especial, durante o mestrado, da assistncia de pesquisa e, durante projeto financiado pela Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais (ANPOCS) de 1985 a 1987, em nosso nome, da parceria de Jurandyr Carvalho Ferrari Leite. Ele foi responsvel ainda pela primorosa editorao de toda a tese, num momento particularmente difcil de minha vida pessoal, o que se constituiu numa ajuda de valor inestimvel. Aps defender a tese, imprimi 21 exemplares de seus dois volumes a internet e seus repositrios de textos eram um sonho longnquo para serem enviados por correio a diversas instituies governamentais e no-governamentais, em especial bibliotecas vinculadas questo indgena, graas a recursos provenientes do Projeto Estudo sobre Terras indgenas no Brasil (PETI), financiado pela Fundao Ford e coordenado por Joo Pacheco de Oliveira.1 O envio do segundo volume se justificava ainda mais, j que buscava propiciar leituras alternativas ao meu olhar sobre os dados organizados com base em material slido, localizvel nos arquivos de microfilmes do Museu do ndio/FUNAI, que naquele momento ainda estavam bastante desorganizados. Esperava que isso estimulasse outros pesquisadores a seguir o mesmo caminho e a instituio a trabalhar na indexao e na plena disponibilizao da verdadeira mina de preciosidades que so tais arquivos.2
1 Acerca do PETI, ver http://www.laced.etc.br/peti.htm e http://www.laced.etc.br/pdfs/TERRASI1.PDF, http:// www.laced.etc.br/pdfs/TERRASIN.PDF, http://www.laced.etc.br/pdfs/ATLASIND.PDF, http://www.laced.etc.br/ periodicos/resenha_debate.htm, http://www.laced.etc.br/livros_indigenismo_territorializacao.htm. 2 Tanto na tese quanto no livro, mencionei as agruras da pesquisa naquele momento, muito distantes do que hoje o Museu do ndio uma pena, alis, que trabalhos como o de Todd A. Diacon (2004) considerem o meu livro Um grande cerco de paz: poder tutelar, indianidade e formao de Estado no Brasil (Souza Lima 1995) exagerado e revisionista, tendo pesquisa rasa e limitada sobre perodo to restrito, e recaiam na chave de que eu estava preocupado em ser contra Rondon, e no em etnografar a ao de Estado, do qual ele era um dos atores. Se Diacon tivesse sido mais cuidadoso e lido a tese, uma vez que o segundo volume dela est descrito no livro, bem como fosse menos ligado a determinadas redes sociais, talvez tivesse se revelado menos simplrio em suas interpretaes de meus intentos analticos.
Desde ento, tenho verificado que este volume freqentemente consultado onde se encontra disponvel, em geral fora da instituio a que perteno. Soube que, entre outros usos, parte do quadro de postos indgenas foi transformado num banco de dados pelos pesquisadores do Centro de Documentao do Ncleo de Estudos e Pesquisas das Populaes Indgenas (NEPPI) da Universidade Catlica Dom Bosco, no Mato Grosso do Sul, e tem sido corrigido e ampliado. Trata-se do que sempre desejei para o material, afinal nele esto sugeridas dimenses do trabalho do sertanismo governamental, ou seja, as rbitas do stio, as linhas pelas quais a administrao tutelar procurou cercar a circulao indgena, ela prpria marcadora de espaos de natureza distinta. Isso foi feito para perodos descontnuos da existncia do SPI, com base nos elementos que consegui coligir na documentao disponvel. Uma varredura mais ampla, que provavelmente s pode ser feita pela equipe do Museu do ndio ou por pesquisadores a ela associados, traria a dinmica de um Brasil indgena e os processos pelos quais continuo afirmando , menos do que se defenderem os ndios, utilizou-se a mo-de-obra deles e, mesmo que muitas vezes no intencionalmente, contribuiu-se para a depopulao indgena. possvel ver, pelos mapas e pelos quadros, como a empresa tutelar, efetivamente, espraiou-se pelo territrio e (de)limitou e definiu espaos que at ento eram partes das rbitas prprias vida indgena. H muito a ser pesquisado com o fito de recuperar uma histria indgena e ensin-la no pas, e a tarefa do Museu do ndio, na condio de detentor da documentao de quase um sculo de ao tutelar, fulcral para isso. A segunda motivao tem a ver com a conexo entre os momentos em que a tese foi finalizada e em que escrevo esta breve nota. Tanto em 1992 quanto agora, em 2009, vivi momentos de finalizaes e rupturas, (en)cerramentos e perdas, nos quais a impotncia diante da realidade pe em questo os nossos limites. Trata-se de momentos que, hoje, considero aberturas penosas para outras eras e outras vidas no fluxo de tempo a que estamos confinados e chamamos de a condio humana. O material aqui presente, montado durante a elaborao dos dados brutos de pesquisa para a tese, esteve condicionado pela vivncia, desde 1978, do mundo do indigenismo, em inseres que sempre passaram por perspectivas contratutelares.3 So 31 anos, da graduao at hoje, comprometidos (em muitas das acepes desse termo) com e no trabalho sobre as ideologias e as aes de Estado em face dos povos indgenas. hora, portanto, de repensar o j feito, sopesar perdas e ganhos, acertos e erros, e navegar rumo a outros continentes e atividades que me cobram essa tarefa, algumas j em esboo e outras ainda fantasmticas. No momento, preparo trabalhos numa direo que, se no conclusiva, ao menos confere melhor contorno ao que pude fazer em Um grande cerco de paz, em especial no dilogo com os diversos trabalhos que orientei e venho orientando desde ento, bem como na troca de idias com outros profissionais que se tm dedicado ao tema ou a reas correlatas.4 A eles se juntaro em breve trabalhos que, pretendo, possam libertar-me do compromisso assumido, recolocando-o em outro patamar e, at certo ponto, passando-o adiante a quem interessar possa, para usar a expresso que dava ttulo a seminrios organizados pelo professor Luiz de Castro Faria. Estudar a poltica indigenista, a atuao de Estado em face dos povos indgenas, no mais uma escolha abstrusa, como o foi em 1980, quando entrei para o mestrado do Programa de Ps-Graduao em Antropologia Social do Museu
3 Uso a noo de mundo na acepo dada por Howard S. Becker em Art worlds (Becker 1984). 4 Em 1 de agosto de 2007, organizei o seminrio Tutela, de Instituto Jurdico a Forma de Poder: direito, formao de Estado e tradies de gesto no Brasil, com recursos da Fundao de Carlos Chagas Filho de Amparo Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), sobre o qual est em preparao, na editora E-papers, uma coletnea homnima.
Nacional. Em outras palavras, procuro ultrapassar os limites que me impus e me dedicar a novos ciclos de atividades, espera de uma vaga para se tornarem partes legtimas de minhas preocupaes. A terceira razo para publicar o presente volume se encontra no fato de que, em 2010, cumprir-se-o cem anos da reelaborao pelo Estado nacional brasileiro das formas de gerir as relaes com os povos indgenas, exemplarmente analisadas para o caso dos Ticuna por Joo Pacheco de Oliveira (1988), meu orientador no curso do mestrado em Antropologia do PPGAS, cujo exemplo intelectual sempre foi uma baliza para mim. Em 1910, criou-se o Servio de Proteo aos ndios e Localizao de Trabalhadores Nacionais, que em 1918 se tornaria apenas SPI. Dois anos depois de sua criao, em 1912, seus atores propuseram ao Poder Legislativo o regime tutelar como horizonte de legalidade, o que lhes proporcionaria, em 1928, com a aprovao do Decreto n 5.484 (ver adiante na parte de legislao), os instrumentos necessrios a uma mediao dita protetora e pedaggica dos povos indgenas rumo civilizao, cabendo-lhes operar na justia como seus representantes. Minha obsesso em descrever a ao estatal sobre os povos indgenas buscou, entre muitos outros pontos de apoio, cruzar as reflexes de mile Durkheim (1890-1900) sobre o Estado como grupo sui generis capaz de realizar a produo de representaes integradoras de uma coletividade nacional com as de Max Weber (1922) acerca da administrao em seu papel essencial de tornar cotidiana a dominao e com as de Michel Foucault (1976, 1983) a respeito dos efeitos progressivos dos processos gramaticais e simultneos de subjetivizao e estatizao pelas tecnologias de governo. Inspirado em Clifford Geertz (1980), procurei considerar, em especial, as dimenses de encenao que o exerccio de poderes estatais comporta, redundando na produo de assimetrias uma ou a funo do Estado no sentido da tradio marxista, isto , de dispositivo para a perpetuao de desigualdades econmicas que se materializam hoje em situaes nas quais povos indgenas, muitas vezes detentores de enormes riquezas em suas terras, vivem um cotidiano de grande pobreza material, a despeito de estratgias de luta e reelaborao cultural profundamente criativas e transformadoras. Trabalhei sobre um perodo de aproximadamente cinqenta anos, tendo como horizonte as pesquisas de longa durao sobre a formao de Estados e construo de naes (Elias 1939a, 1939b, 1972) e seu sentido cultural, com nfase nos Estados nacionais surgidos no sculo XIX em decorrncia da colonizao europia (Anderson 1991; Tilly 1990), como o Brasil. No estava interessado em entender a ao tutelar in loco na singularidade da vida de um povo indgena especfico. Outros autores o tm feito de maneira mais profcua do que eu seria capaz, seguindo as pegadas de Joo Pacheco de Oliveira (1988) e de alguns outros autores. Sem negar os poderosos agenciamentos indgenas, eu buscava etnografar o que via de modo privilegiado no exerccio de poderes estatais perante esses povos, mas antevia na ao estatal em face de muitos outros segmentos desse Estado (ps)colonial que o Brasil. Falava-se e ainda se fala muito em descrever relaes de poder, em que dominados e dominantes seriam analisados, e em que estratgias de luta se confrontariam numa mesma etnografia com exerccios de poder, mas em geral as anlises antropolgicas descortinam as estratgias de lutas dos dominados e pouco ou nada se aventuram em estudar os dominantes, salvo raros investimentos em escala micro, que, muitas vezes, deixam escapar onde muitas aes de fato se engendram. Antes que comemoraes, encmios e a reiterao sacralizante se reavivem, instaurando outra vez o culto figura de Rondon refiro-me ao mito mais do que ao ator histrico especfico , e assim louvem o Estado nacional brasileiro, do qual ele smbolo, procuro evitar ser sitiado em minha rbita prpria, como se pretendia fazer com os indgenas em face da colonizao dos espaos territoriais do Brasil republicano. A tentativa
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de levar a um pblico mais amplo o material aqui reunido, estimulando novos trabalhos e sugerindo pesquisas sobre os dados passveis de serem obtidos no extraordinariamente rico acervo documental do Museu do ndio se alia satisfao de conhecer muitos textos sobre o SPI e o indigenismo no Brasil surgidos desde 1992. A esse respeito, ainda mais importante a constatao de que minha escolha de enfrentar essa entidade voltil que o Estado, em vez de estudar casos etnogrficos de povos indgenas especficos, tem demonstrado mrito e proficuidade por ter proposto o tratamento de certas questes em escalas e cortes distintos. Todos esses anos de pesquisa, no entanto, ensinaram-me que, por mais que eu tenha esclarecido e continue a esclarecer minhas intenes, o trabalho sempre acaba sendo lido como uma crtica a Rondon. Da censura branda a certos termos que utilizei num pequeno artigo em recente publicao de divulgao cientfica (onde me queriam como voz discordante!) a numerosas manifestaes de defesa em seminrios e apresentaes e a textos orgulhosos da filiao ao rondonismo (por exemplo, Gomes 2009), a parafernlia do poder estatal e seus dispositivos prprios de consagrao e entronizao no deixa de se fazer presente. Reitero: defender ou louvar Rondon, a figura mtica, defender e louvar o Estado brasileiro, o qual eu quero continuar a criticar. Mito mito, sempre recontado e nunca matria de verdade ou mentira. Mitos de Estado, Estado so. Com efeito, falar de sertanismo, indigenismo ou poltica indigenista no Brasil traz tona uma determinada carga moral e certos sentimentos nacionalistas, mais ou menos exacerbados de acordo com a posio do ator que deles fala. Embora ainda haja muito a ser pesquisado nesse campo, diversos antroplogos o vm fazendo. Alm do grupo vinculado ao LACED/Museu Nacional, de que Joo Pacheco de Oliveira o pioneiro e formador, so exemplos, entre outros, Alcida Ramos, Stephen G. Baynes, Cristhian Tefilo da Silva e Carla Costa Teixeira, da Universidade de Braslia, John Manuel Monteiro, da Universidade Estadual de Campinas, e Maria Fatima Roberto Machado, da Universidade Federal do Mato Grosso. Porque seria praticamente invivel redigitar o material aqui contido e porque parte dos arquivos originais da tese, gerados no programa nacional denominado Carta Certa, quando a hegemonia da Microsoft ainda se elaborava, foi perdida, uma verso impressa foi escaneada e novamente diagramada em InDesign por Jorge Tadeu Martins da Costa, que conseguiu reduzir em muito a resoluo do arquivo final em pdf, tornando vivel o seu acesso pela internet. Agradeo a ele, bem como Contra Capa Livraria pelo tratamento editorial deste texto introdutrio e a chancela ao projeto. A realizao desse trabalho s foi possvel em razo dos recursos aportados pelo projeto DIVERSO Polticas para a Diversidade e os Novos Sujeitos de Direitos: Estudos Antropolgicos das Prticas, Gneros Textuais e Organizaes de Governo, realizado com financiamento da FINEP, por meio do Edital de Cincias Sociais 2006,5 e coordenado por mim, Adriana de Resende Barreto Vianna (LACED/MN/UFRJ) e Eliane Cantarino ODwyer (PPGA/UFF). O trabalho est inserido tambm nas atividades do projeto Cooperao Tcnica internacional, Povos indgenas e Polticas Governamentais, coordenado por mim na condio de bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq para o perodo 20092012.6 A seguir, transcrevo, editado, um excerto do texto de Um grande cerco de paz, no qual parcialmente descrito o itinerrio da pesquisa e dou os crditos aos pesquisadores que dela participaram. Eu o retomo e atualizo porque o movimento que gerou este volume se entreteceu em muitas trajetrias e trouxe a mim e a outros alguns ganhos importantes. Foi assim que aprendi a treinar pesquisadores, ao mesmo tempo que participava do PETI, e sem dvida isso to ou mais importante que o produto final do texto como anlise crtica.
5 Convnio FINEP/FUJB n 01.06.0740.00, REF 2173/06. Disponvel em: http://www.laced.etc.br/diverso/index. htm. 6 Processo n 300904/2008-8.
Os estudos que redundaram em minha tese de doutorado (Souza Lima 1992) se iniciaram em 1985, antes da defesa de minha dissertao de mestrado (Souza Lima 1985), no projeto de pesquisa As Fronteiras da Nao. O Servio de Proteo aos ndios (SPI), 1910-1930, encaminhado nesse mesmo ano ao ento existente concurso de dotaes para pesquisa ANPOCS/FORD na categoria A (a maior quantia disponvel), a ser realizado com Jurandyr C. F. Leite, ento mestrando em Sociologia pelo IUPERJ.7 Ao pensar o SPI como um dos aparelhos de poder estatizados capazes de intervir para criar o movimento de fronteira, tencionvamos retomar a constituio da prtica da proteo fraternal, tomando como base o perodo em que o Servio integrava o Ministrio da Agricultura, Indstria e Comrcio (MAIC). Do referido projeto, para o qual coligiram informaes, em diferentes momentos, Luiz Csar B. Gonalves Faria, Marcos Otvio Bezerra e Srgio Ricardo Rodrigues Castilho, que acaba de ser admitido como professor adjunto do Departamento de Sociologia e Metodologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), resultaram produtos importantes. Alm de dois relatrios de pesquisa e um texto especfico, fez-se uma comunicao ao Grupo de Trabalho Histria Indgena e do Indigenismo, ento coordenado por Maria Manuela Carneiro da Cunha, em Curitiba, no mbito da Reunio Brasileira de Antropologia (RBA) de 1986. Manuela Carneiro da Cunha foi uma das grandes incentivadoras da pesquisa sobre a histria indgena e do indigenismo no Brasil, da qual Joo Pacheco de Oliveira Filho um dos pioneiros e principais expoentes. Nessa comunicao, Jurandyr Leite e eu apontamos para a percepo
7 Jurandyr Carvalho Ferrari Leite concluiu seu mestrado em 1999 com a dissertao em Geografia intitulada Projeto Geopoltico e Terras/ Indgenas Dimenses Territoriais da Poltica Indigenista (Rio de Janeiro: PPGGUFRJ, 1999), sob a orientao de In Elias de Castro.
da transitoriedade do ser indgena como matriz ordenadora da prtica protecionista tutelar do SPI. Devo ressaltar o papel fundamental de Jurandyr Leite na escrita desse texto e na nfase dessa idia. O projeto gerou ainda material emprico significativamente expressivo e que se constitui na base do aqui reunido. Em primeiro lugar, entramos em contato mais direto com o acervo do ento Setor de Documentao (SEDOC) do Museu do ndio/FUNAI, hoje Servio de Arquivos, sob a responsabilidade de Carlos Augusto da Rocha Freire. Nele se encontra, sob a forma de microfilmes, boa parte do material remanescente da documentao interna do SPI, seja de sua diretoria, seja de suas inspetorias regionais. Consultamos tambm a Biblioteca Cndido Rondon, do mesmo Museu. Esse acervo, existente em cpia no Centro de Documentao da FUNAI, em Braslia, foi coletado em distintas unidades regionais e locais dessa instituio ao longo dos anos 1970, tendo, desde ento, sido submetido a um trabalho de seleo e de ordenamento para microfilmagem. A equipe que realizou tal tarefa, dirigida por Carlos de Arajo Moreira Neto, identificou um tipo de informao que chamou de etnolgica, isto , que fizesse referncia aos povos indgenas sob a tutela do SPI. De fato, confundiu-se, sob o rtulo etnolgico, material de cunho administrativo sobre a interveno tutelar com dados sobre o modo de vida indgena e seu relacionamento com esse dispositivo estatal. A outro tipo de informao se chamou de administrativa, terminologia sob a qual foram colocados (e devolvidos s unidades de origem dos documentos, nas quais se encontravam em estado muito precrio) os dados referentes ao funcionamento financeiro, contbil e de pessoal do Servio. A separao, realizada com dificuldade na maior parte dos casos, foi e arbitrria, alm de mope do ponto de vista intelectual, deixando ao estudioso da administrao e ao etnlogo que entende os povos indgenas numa pers-
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pectiva relacional lacunas sociolgicas fundamentais. Pior, porm, foram as condies concretas de consulta documentao. At 1992, existia apenas uma listagem geral que discriminava, entre os mais de quatrocentos microfilmes, aqueles que se referiam ao material da diretoria, aos documentos de cada inspetoria ou da Comisso Rondon, do Conselho Nacional de Proteo aos ndios, a mapas desta instituio e ao Servio (CNPI) Geogrfico do Exrcito, e Fundao Brasil Central (parcialmente cedidos pela extinta SUDECO para microfilmagem pela FUNAI, por fora da importncia da chamada Marcha para Oeste, sob os governos de Getlio Vargas, na histria dos povos indgenas do nordeste do Mato Grosso, de Gois e do sul do Par). Isso quer dizer que nem sempre se podiam reconhecer, na ordem e na numerao dos filmes, critrios cronolgicos ou quaisquer outros que presidissem a organizao dos papis quando foram filmados. Concedido a mim o direito de ser jocoso, diria que o esprito desbravador dos sertanistas de escritrio se apossou do acervo, transformando-o, para seu gudio, numa verdadeira selva: o pesquisador era forado a conceber verdadeiras expedies de reconhecimento do terreno, ou seja, a examinar filme a filme, fotograma a fotograma, at conseguir estabelecer um mapa minimamente ordenado dos documentos a serem abordados (copiados, reproduzidos ou fichados). Para consegui-lo, a condio sine qua non era (e temo que, em parte, ainda seja) ter perguntas seguras, propor problemas capazes de guiar o investigador para fora da floresta. Foi necessrio organizar ndices e quadros de referncia dos microfilmes e seus contedos, sem o que seria impossvel operar: os microfilmes so mais facilmente acessveis quele que procura povos especficos em determinadas inspetorias. Tudo isso foi feito manualmente nos anos 1980, os bancos de dados na rea das cincias sociais eram quimeras e,
quando se apresentavam como alternativas, se transformavam em verdadeiras Medusas, que paralisavam os pesquisadores, estarrecidos pela mgica jamais eficiente e pelos poucos colaboradores capazes de dominar seus cdigos. Pela consulta ao quadro n 3 deste trabalho e pelo conhecimento que adquiri ao lidar com os documentos da diretoria, o mais fcil acesso documentao no deveria inspirar a total confiana na localizao dos documentos passveis de consulta e necessrios pesquisa. Essa desordem teria sido facilmente removida, se uma ficha com certos dados tivesse sido aplicada sobre os microfilmes. Em dias mais recentes, ela poderia informar bancos de dados computadorizados, hoje j no to mgicos nem to desprovidos de sacerdotes intrpretes de seus desgnios. Em 1992, disseram-me que isso estava sendo realizado, para meu alvio pessoal, por uma equipe do Museu Paraense Emlio Goeldi, mas ainda no o vi finalizado. O Museu do ndio, no entanto, produziu inventrios importantes durante esse perodo, em especial o premiado volume intitulado Documentos textuais do SPI Posto Indgena Caramuru-Paraguau: subsdios para pesquisa. Em contrapartida, no parece ter ocorrido a sucessivas gestes da FUNAI que esse acervo e sem excluir o papel da divulgao cientfica e do apoio pesquisa dedicado a certos circuitos delineado pela equipe diretora do Museu indiscutivelmente vital para as lutas e a autoconscincia histrica dos povos indgenas. Como se sabe, muitas vezes essa documentao tambm foi e o ponto de partida para os processos de identificao e delimitao de terras indgenas (Pacheco de Oliveira & Almeida 1998), possuindo, portanto, interesse no s cientfico, como poltico e administrativo. Para conformar um panorama um pouco mais detalhado da poca em que pesquisei, isto , em perodos descontnuos de 1985 a 1991, some-se ao j indicado o pssimo estado dos filmes; a precariedade das mquinas de leitura e repro-
duo, muitas vezes quebradas e sem as lmpadas; o alto custo do papel para cpias eletrostticas (na maior parte das vezes, tive de adquiri-lo pessoalmente); e o hediondo cheiro de amonaco que essas mquinas exalavam quando os filmes eram copiados. Semelhantes problemas s se mostraram contornveis em razo da boa vontade de alguns funcionrios do Museu, que resistiram a mltiplas presses para que o acervo fosse extinto ou integralmente transferido para Braslia. No nego a importncia de concentrar documentos num nico centro, mas pela importncia que tais dados tm para os povos indgenas, dispersos pelo territrio do pas e com dificuldades de locomoo, bem como pelas incertezas da burocracia estatal, abri-lo repassando-o quer a centros de pesquisa e universidades, quer a organizaes no governamentais teria sido, naquela poca, de grande valia para o conjunto dos interessados, indgenas ou no. Isso foi feito posteriormente, aps ter sido passado (ainda que no integralmente) o perodo de rano, renitente, nas instituies responsveis pelas chaves de operao cotidiana do regime ditatorial. A todos do Museu do ndio que foram capazes de investir na importncia poltica e intelectual desse acervo, sem os quais teria sido impossvel realizar o presente trabalho, agradeo na pessoa de Carlos Augusto da Rocha Freire, sem dvida um dos maiores conhecedores deste acervo. No pode ser dito o mesmo a respeito da Biblioteca do Museu do ndio, em que foram compulsados os textos publicados pelo SPI e, em sua maioria, republicados na dcada de 1940 pelo CNPI, no mbito das Publicaes da Comisso Rondon. Nela, levantamos parte dos Relatrios do Ministrio da Agricultura, Indstria e Comrcio (RMAIC), fonte bsica de algumas teses e mapas para o perodo dos anos 19101930. J em 1991, as colees da Biblioteca eram muito bem organizadas, de fcil acesso e enorme utilidade. Os RMAIC, hoje disponveis na internet em sites de universidades norte-
americanas e sediados em repositrio de um centro de bibliotecas da Universidade de Chicago, merecem meno especial. Em relatrios escritos, Jurandyr Leite e eu mostramos que os Relatrios constituam-se num certo gnero textual, exploramos suas caractersticas e ressaltamos sua funo de justificativa do pedido de oramento para o ano seguinte ao retratado. Isso implicaria uma superestimao sistemtica das atividades desenvolvidas, obrigando o pesquisador a relativizar suas informaes. Por essa razo, criei a grade de variveis em que foi inserida a grande maioria dos dados deles oriundos, compondo um banco por posto indgena para o territrio brasileiro no perodo 19111930, apresentado como Anexo n 3 em Lima (1992) e aqui reproduzido. Tive em mente as caractersticas desse gnero, ao selecionar as citaes que fiz dos RMAIC em Um grande cerco de paz (Souza Lima, 1995). No meu entendimento, documentos como os RMAIC so, alm de gnero, peas de encenao dos poderes estatizados, material cenogrfico. Como o Museu do ndio no dispe da coleo completa dos RMAIC, foi necessrio recorrer ao acervo da Biblioteca Nacional de Agricultura (BINAGRI), centro de documentao do Ministrio da Agricultura (hoje, Agricultura, Pesca e Abastecimento) em Braslia, para complement-la, tendo ainda assim exemplares de anos que no foram encontrados. Na maior parte da pesquisa, lidei com documentos dos microfilmes designados como pertencentes diretoria do SPI, isto , papis que se salvaram do grande incndio ocorrido no Ministrio da Agricultura no incio dos anos 1960. Em projetos posteriores ao de 1985, quando procurei averiguar, individualmente, algumas hipteses para regies especficas, como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paran e Amazonas, recorri aos microfilmes das inspetorias a que os povos nativos nos territrios desses estados se achavam circunscritos. Ao pesquisador da rea, para o qual os dados mais amplamente divulgados
AS RBITAS DO STIO
aqui podem ser valiosos, indico que, em 1992, enviei exemplares da tese s seguintes instituies no Brasil, entre outras: arquivo do Instituto Socioambiental (Ex. PIB/CEDI); Ncleo de Histria Indgena e do Indigenismo/Universidade de So Paulo; Ncleo de Direitos Indgenas, sediado em Braslia; biblioteca da Universidade de Braslia; Programa de Ps-Graduao em Cincias Sociais da Universidade Federal da Bahia; Ncleo de Estudos sobre Etnicidade do Departamento de Cincias Sociais da Universidade Federal de Pernambuco; Museu Paraense Emlio Goeldi, em Belm; e Museu Amaznico da Universidade do Amazonas. A continuidade da pesquisa de 1985 a 1991, sobretudo a de documentos referidos a inspetorias especficas, foi viabilizada pelo auxlio-pesquisa do CNPq concedido ao projeto A Atuao Indigenista do Estado Brasileiro na Expanso sobre o Oeste de So Paulo/Sul do Mato Grosso, 19101930, para o perodo 19861987, no qual trabalharam como auxiliares Nelma Garcia de Medeiros, hoje professora de Filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e Frederico Raphael Carelli Duro Brito, gestor pblico, ex-aluno da Escola Nacional de Administrao Pblica, hoje na Secretaria de Cidadania Cultural do Ministrio da Cultura. E tambm por meio de bolsas de iniciao e aperfeioamento concedidas a bolsistas sob minha orientao, e de quotas aos projetos Tutela e Demarcao: uma Anlise Histrica da Criao de Terras Indgenas no Brasil atravs do Estudo de Trs Casos (Parque Indgena do Xingu/MT; Povoao Indgena de S. Jernimo da Serra/PA; e rea Indgena de Panambi, dos Guarani-Kaiow/MS), para o perodo 19881990, e Tutela, Indianidade e Territrio: Estudo da Relao Tutelar a partir de Dois Casos (PIX e S. Jernimo da Serra), ambos apresentados ao CNPq. Marcos Otvio Bezerra foi bolsista de iniciao cientfica em projeto independente de quota, e redigiu sua monografia de concluso de curso de bacharel em Cincias Sociais com base no material
da pesquisa sobre a atribuio de uma territorialidade aos Guarani da rea indgena de Panambi, no Mato Grosso do Sul. Marcos Otvio, atualmente professor associado do Departamento de Sociologia e Metodologia da Universidade Federal Fluminense, foi ento agraciado com o prmio de melhor monografia de graduao da mesma universidade no ano de 1988, tendo sido seu trabalho posteriormente publicado pela Eduff. Em quota pelo primeiro projeto citado, Maria Lucia Pires Menezes, hoje professora associada de Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora, foi bolsista de aperfeioamento em 1988 e em parte de 1989. Seu trabalho redundaria no material que constituiu a base de sua dissertao de mestrado em Geografia, excepcionalmente defendida, sob minha orientao, no Programa de PsGraduao em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1990, e publicada sob a forma de livro pela editora da Unicamp, com o ttulo Parque Indgena do Xingu: a construo de um territrio estatal. Pelo mesmo projeto e como quota de iniciao cientfica, Simone Paraguassu Abrantes, que retornou s cincias sociais, depois de uma carreira na dana flamenca, no mestrado do Instituto de Estudos Latino-americanos da Universidade Livre de Berlim, pesquisou a povoao indgena de So Jernimo da Serra no perodo de maro de 1989 a fevereiro de 1990. O segundo projeto acima referido foi enviado ao concurso de dotaes ANPOCS/FORD de 1989, tendo sido aprovada parte da verba solicitada como dotao A-I. Foi executado em 1989 e no incio de 1990. Novamente a documentao dos microfilmes do Museu do ndio foi pesquisada, mas desta vez no para tratar de casos especficos, e sim luz da idia de retomar, como em 1985 e 1986, a composio de um quadro de carter nacional, cuja abrangncia temporal deveria ultrapassar os marcos consagrados pela historiografia dominante. Era preciso mapear os filmes, selecionar os documentos a serem ficha-
dos ou reproduzidos, l-los e orden-los paralelamente leitura ou ao retorno a textos de carter terico-metodolgico e etnogrfico. Isso ocupou os anos de 1989 e de 1990, e para tanto contei com o trabalho extremamente competente de Jos Maurcio Paiva Andion Arrutti, hoje docente do curso de Educao da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro; Guilherme Martins de Macedo, ex-professor assistente da Universidade Federal do Amazonas, deixando no momento o cargo de gerente tcnico do Projeto Vigisus na Fundao Nacional de Sade para asssumir a atividade de consultor na Agncia Alem de Cooperao Tcnica (GTZ); e em especial de Adriana de Resende Barreto Vianna, amiga e colega como docente no Programa de Ps-Graduao em Antropologia Social, Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde fez mestrado e doutorado, e hoje realiza e orienta pesquisas. Os trs se tornaram, posteriormente, bolsistas de iniciao e aperfeioamento, ao lado de Jair de Souza Ramos, hoje professor associado do Departamento de Sociologia e Metodologia da Universidade Federal Fluminense, quer no projeto apresentado ao CNPq, quer em bolsas da FAPERJ.
Adriana Vianna me ajudou de maneira muito importante, com seu singular e j evidente brilhantismo, na classificao e na ordenao de todo o material utilizado neste trabalho e em Um grande cerco de paz. Jair Ramos e Guilherme Macedo se ocuparam da documentao referente ao Cdigo Civil e ao Decreto n 5.484/1928, tendo lidado com instituies como a Biblioteca Nacional, o Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro e a Ordem dos Advogados do Brasil. Seus dados, todavia, foram pouco incorporados a este texto, em comparao com o volume coletado. A redao final da pesquisa se iniciou em abril de 1991, quando passei a contar, at setembro do mesmo ano, com a excelncia e a pujana do trabalho do economista Allex Chaves Peterlongo, hoje tcnico do Tribunal Regional do Trabalho, na finalizao de levantamentos breves, porm trabalhosos, como os que compem o quadro n 2 e o j citado conjunto de quadros sobre a ao dos postos indgenas, alm da localizao dos mapas que serviram de base aos desenhos em computador realizados por Antonio Arago de Souza, tambm responsvel pelos grficos 4 a 11.
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Textos
Esta obra foi impressa na cidade de So Paulo pela Grfica Bandeirantes para a Contra Capa Livraria em dezembro de 2009
ISBN 978-85-7740-069-0