Filosofia11 Ciencia-Poder e Riscos

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Filosofia 11º ano

Ano lectivo 2006/2007 Tema 1.


Ciência, poder e riscos

Ana Rita Soares


Inês Sofia Alves 1/21
Filosofia 11º ano
Ano lectivo 2006/2007 Tema 1.
Ciência, poder e riscos

Índice

ÍNDICE.........................................................................................................................................................2
INTRODUÇÃO:..........................................................................................................................................2
CULTURA CIENTÍFICO-TECNOLÓGICA...........................................................................................4
AS 3 VAGAS DE MUDANÇA PROPOSTAS POR ALVIN TOFFLER.................................................5
RELAÇÃO E PROBLEMAS RELATIVOS À GLOBALIZAÇÃO, ECOLOGIA, DIALÉCTICA E
BIOÉTICA....................................................................................................................................................7
OS DOIS LADOS DA CIÊNCIA................................................................................................................9
CIÊNCIA – UM PODER COM CONSEQUÊNCIAS............................................................................11
LADO NEGRO DA CIÊNCIA - OS RISCOS ........................................................................................14
O OUTRO LADO DA CIÊNCIA – O LADO ESPECTACULAR.........................................................16
CONCLUSÃO:...........................................................................................................................................17
GLOSSÁRIO:............................................................................................................................................18
BIBLIOGRAFIA:......................................................................................................................................20

Introdução:

O homem não sabe mais do


que os outros animais;
sabe menos.
Eles sabem o que precisam saber. Nós não.
Fernando Pessoa
(1888-1935)

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Ciência, poder e riscos
A ciência é o motor de toda a existência
humana. E, como o poeta diz, não conseguimos
chegar ainda ao nosso objectivo: sabermos tudo o que precisarmos
de saber. No entanto, a ciência não é só fonte de verdade. Não traz
um conhecimento livre de crueldade e maldade. Muitos perigos e
caminhos obscuros podem suceder de uma grande descoberta
científica. Tudo depende do uso, da consciência e dos limites que
entendemos enquadrar em toda a investigação científica.
Muitas guerras podem resultar de uma ciência mal utilizada.
Mas ao mesmo tempo as tecnologias podem promover a paz. Muitas
mortes podem resultar de um vírus antropogénico mas muitas vidas
se podem salvar graças ao desenvolvimento da medicina. A bomba
nuclear resultou de uma descoberta importantíssima de interacção de
núcleos e consequentes resultados. Mas, como em todas as acções,
todas as opções, todas as decisões que tomamos na nossa vida, a
ciência é também uma livre escolha, uma deliberação séria a que
devemos respeitar vários aspectos, como as consequências, os meios
e a ética.
Sabemos que o poder em si não é nem bom nem mau, mas um
aspecto inevitável das relações humanas. E o poder sempre existiu
desde o início do Universo. O problema com que nos deparamos
actualmente é da desagregação da estrutura do poder, o que
mantinha o mundo coeso e hierarquicamente estabilizado.
Neste trabalho iremos abordar com certa profundidade a ciência
e principalmente as consequências que resultam do mundo científico.
É importante perceber que meios e com que finalidade devemos
utilizar a ciência, e não esquecer que a ética é um aspecto muito
importante a considerar quando se fala, trabalha e analisa a ciência.
Porque a ciência por ser tão poderosa e importante se pode tomar
consequências espectacularmente perigosas ou extraordinariamente
importantes para o Bom desenvolvimento humano. O problema é
delimitar esses limites que separam o Bom e o Mau uso da ciência. E

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como Nietzsche diz: “A verdade ao serviço da vida
e não a vida ao serviço da verdade.”

Cultura científico-tecnológica

Para melhor “entrarmos” no tema e conseguirmos uma reflexão


mais profunda foi-nos importante referir e esclarecer algumas
das características mais importantes da sociedade, da era em
que vivemos. Uma era de comportamentos impulsivos, de
grandes avanços científicos e principalmente de grandes e
numerosas mudanças.
Esta cultura (ocidental do século XX, início do século XXI),
também chamada cultura de massas, sociedade de consumo
e/ou era da comunicação, é caracterizada pelo grande poder
científico, ou de investigação em que actualmente se encontra.
É por isso uma cultura:

1. De massas: tudo o que produz, fabrica ou permuta é em


grande escala, ou seja, num número muito elevado para
satisfazer as colossais necessidades do Homem uniforme e
contemporâneo. Tudo é feito com os menores gastos,
industrialmente (evita custos de mão de obra, rapidez e
diminuição de erros industriais)

2. De grandes centros de investigação científica: também


chamados os Big Science. Para além de concentrarem os
melhores instrumentos, é onde também se reúnem a
comunidade científica para debater problemáticas.

3. De grandes empresas de telecomunicações que


aproximou indivíduos da mesma cultura ou de culturas diferente
aumentando gradualmente a globalização e a uniformidade
cultural.

4. De mudanças sociais, comportamentais e de


entendimento humano.
E é neste ultimo aspecto que pretendemos clarificar, reflectir e
concluir para podermos começar a perceber quais as
“consequências” da ciência.
Por um lado estas mudanças sociais libertaram os indivíduos
sociais de crenças retrógradas (por vezes ridículas) e de muitos
tabus. Trouxeram uma vida mais estável, mais confortável e
passiva e aumentaram a esperança média de vida.
Transformaram “sociedades de sobrevivência” em “sociedades

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de abundância”, facilitaram a comunicação social
intercontinental, engolindo-nos numa aldeia
global, e permitiram-nos formar uma ideia do que
nos rodeia muito mais correcta e real (graças também à enorme
precisão dos instrumentos resultantes da tecnociência).
Mas por outro lado tornou-nos escravos do tempo, do
consumismo e das grandes empresas comerciais “roubando” o
tempo disponível para amigos e família, originaram excedente
mão-de-obra e, consequentemente grande número de
desemprego, e impuseram-nos uma cultura de massa, sem
profundidade, ideologicamente condicionada e manipulada. Em
termos mais próximos da realidade científica, a ciência e a
tecnologia definiram uma racionalidade muito mais objectiva e
mecânica ao invés da racionalidade humana, produzida pelo
pensamento e valores humanos.

As 3 vagas de mudança propostas por Alvin


Toffler

Alvin toffler, um autor futurista escreve um livro no século XX, The


Third Wave. Toffler admite que a história económico-social mundial se
pode dividir em três vagas, ou seja, três eras:

• Primeira vaga: este período (8000 a.C até 1750) é


marcado pelo desenvolvimento agrícola e caracterizado
pelo trabalho físico;

• Segunda vaga: Período (de meados do século XVIII a fins


do século XX) de grande prosperidade e evolução
industrial, caracterizada pelo aparecimento e
modernização de máquinas industriais e trabalhadores
(operários e proletariados)

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• Terceira vaga: Período contemporâneo
(desde o século XXI prolongando-se até
um futuro indefinido bem largo) caracterizado pela
explosão das técnicas de comunicação e informação. Esta
vaga é protagonizada pela tecnologia da informação,
pelos trabalhadores do conhecimento baseados em
computadores, electrónica, biotecnologia, etc. Esta era da
informação abre um grande número de actividades
empregadoras como os serviços ligados ao design, ao
marketing e o apoio ao cliente. É um momento de grande
competição pois a vida das empresas que nascem nesta
vaga é de muita curta duração (devido aos aspectos
estruturais e também ao grande número de oferta desta
actividade). Esta vaga significa então, mudança profunda
baseada no saber.

A distinção económico-social é muito importante para perceber


as mudanças que a evolução da ciência têm alcançado.
Na segunda vaga houve um empenho em termos produtivos em
grande escala. Materiais, técnicas e produção em massa foram
aspectos característicos daquele período.
E assim surgiu a sociedade consumista, ou seja, a sociedade
científico-tecnológica. A explosão demográfica originou necessidades
em grande escala que foram “saciadas” pelo melhoramento da
técnica e aumento da produção, durante a terceira vaga.

Este desenvolvimento a grande escala acarretou uma cadeia de


necessidades (talvez mais supérfluas) viradas não tanto para as
necessidades materiais ou físicas, mas relacionadas com o
desenvolvimento humano, desenvolvimento dos valores, da imagem,
da comunicação, etc. Hoje em dia a sociedade ocidental já não
necessita (necessariamente) de ir ao médico para saber o que tem,
em casos menos graves. Um cidadão já não necessita de se deslocar

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até à cidade para pagar as contas ou fazer compras.
Concluímos que cultura ocidental está incluída na
terceira vaga como uma ponte entre necessidades/objectivos. Na
verdade a ciência aparece nesta era não como um fim em si, mas
sobretudo como um instrumento de outros fins que não o puro avanço
dos conhecimentos.
Toffler defende, assim, uma sociedade de “usar e deitar fora” ao
explicitar-se acerca das empresas que não sobrevivem às exigências
voláteis do ser humano.

Relação e problemas relativos à globalização,


ecologia, dialéctica e bioética

Ecologia O principal problema da ecologia é tentar


resolver os problemas ecológicos que o Homem se defronta e
que ameaça a sobrevivência da humanidade. Mas a questão
ecológica não diz respeito directamente à integração do homem
na natureza, mas passa pela relação do homem com o
ambiente cultural e deste com a natureza. O que os problemas
ecológicos põem em questão são portanto os ambientes
culturais, o homem não vive em nenhum ambiente natural
próprio, somente em ambientes culturais, criados por ele
mesmo, assim esses ambientes tornam-se cada vez mais
desumanos e desnaturais. A solução para este problema está
em criar ambientes culturais baseados em valores humanos e
capazes de mediar a relação do homem com a natureza.

Globalização A globalização tenta explicar a


tendência de evolução do sistema mediático como elo de
ligação entre os indivíduos num mundo que fica cada vez mais
pequeno perante o efeito das novas tecnologias da

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comunicação.
Considera-se que, com os novos media, o mundo
se torna uma pequena aldeia, onde todos podem falar com
todos e o mais insignificante dos rumores pode ganhar uma
dimensão global. Poderemos então assistir a um “afundamento”
da diversidade cultural e um crescente esquecimento de
tradições.

Dialéctica Método para compreender o objecto de


um estudo, que consiste em colocá-lo de novo na realidade
movente, histórica, concreta;
(Do gr. dialektiké (tékhne), «a arte de discutir», pelo lat.
dialectìca-, «dialéctica»). A dialéctica pode ser resumida como a
negação da negação. Isto porque tem origem na negação de
uma tese e consequente síntese (que será alvo de negação) –
tese, antítese e síntese. Segundo Hegel tudo se desenvolve por
oposição dos contrários, e assim será uma constante incerteza
do futuro em que nada é definitivo nem absoluto. Nada é
perene. Assim, “quem diz dialéctica, não diz só movimento,
mas, também autodinamismo” (Politzer, 1979-2005)

Bioética O principal problema da bioética é tentar emitir


pareceres sobre os problemas morais suscitados pela
investigação nos domínios da biologia, da medicina e da saúde,
ou seja, tem como finalidade, estudar as complexas, vitais
questões e encontrar linhas de actuação verdadeiramente
humanizantes.

Os princípios pelos quais a bioética se rege são:


1. Princípio da beneficência: O médico deve actuar no melhor
interesse do doente, promover a saúde ou o bem;
2. Princípio da Justiça: situações iguais têm de ser tratadas de
forma igual;

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3. Princípio da não maleficência: Obrigação de não
fazer ou promover o mal;
4. Princípio da autonomia: Direito concedido ao paciente de
participar nas decisões clínicas.

O cientismo defende que a ciência é o melhor


Cientismo:
método para o conhecimento de todas as coisas.
Através da investigação contínua, o Homem consegue preencher a
necessidade do próprio conhecimento humano. Os seguidores do
cientismo assumem uma visão estritamente materialista da realidade
que acabam por negar a espontaneidade dos fenómenos naturais;
além de que defendem que apenas a ciência e a tecnologia podem
resolver os problemas do ser humano. Ora, isto é claramente errado,
pois ciências soft (como as ciências humanas, sociais, etc.) são o
grande controlo das ciências hard (as ciências exactas como
Matemáticas, química, física, etc.). No Anexo 1 encontra-se a nossa
pesquisa sintética sobre as razões da queda desta corrente filosófica.

Os dois lados da Ciência

“Não nos é perguntado antes se queremos ser


fortes; poderia ser que preferia ser bons, nada
mais que bons; justos, nada mais que justos;
discretos, em último caso, nada mais que
discretos. E se nos proíbe a direcção, nos impõe o

dever da incultura.”
(La Reforma Liberal, 1993,
p.32).

Será então a ciência um bem essencial ou uma arma de


destruição maciça?

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Não é uma pergunta fácil de responder.
Sabemos que a ciência pode tomar lados muito
diferentes e paradoxos, mas é importante conseguirmos ter uma
opinião formada sobre este problema para tentar encontrar a solução.
Quando nos referimos a ciência lembramo-nos de
desenvolvimento, melhoria das condições de vida, conhecimento. Mas
por trás de todo esse lado “brilhante” existe um muito obscuro. O
mau uso da ciência. Se é verdade que a liberdade de investigação é
um direito fundamental, porém, tal como todas as liberdades, existem
limites a respeitar.

A ciência, hoje em dia, é usada maioritariamente para fins


económicos e a concepção grega
do saber em busca da verdade, o
saber por saber, foi já esquecida
por muitos. E a verdade é que a
definição genuína de ciência como
busca da verdade, conhecimento
puro, etc., está completamente
degradada. Por detrás de muitas
investigações científicas encontram-se poderes políticos, interesses
económicos, ou apenas a investigação malícia. E os cientistas por
mais imparciais e neutros que queiram ser, acabam sempre por, eles
próprios, se tornarem em instrumentos. Assim grande parte da
comunidade científica torna-se um funcionário ao serviço dos
“grandes patrões” (aqueles que pagam por uma investigação
interesseira e muitas vezes discutível!).
Infelizmente este é um dos lados negras da ciência, que
podemos caracterizar como um poder e uma tecnocracia regida por
interesses económico-sociais em que os proletariados se tornam no
fim condutor da investigação e os verdadeiros cientistas apenas
meros instrumentos, ou meios para atingir as teorias à partida
conjecturadas. As ciências devem estar ao serviço da humanidade

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como um todo e devem contribuir para dar a todos um
conhecimento mais aprofundado da natureza e da
sociedade, uma qualidade de vida melhor e um ambiente são e
sustentável para as gerações actuais e futuras.

Ciência – Um poder com consequências

A finalidade de qualquer ser humano é ser feliz, como todos nós


sabemos. E, apesar de essa
Não é a satisfação da vontade que
felicidade ser muito é a causa do prazer (- eu quero
subjectiva (pois a felicidade combater esta teoria superficial – a
absurda falsa moedagem
só advém na procura do psicológica das coisas próximas -),
saber, e não na chegada à mas é o facto de que a vontade
quero ir mais longe e tornar-se
verdade), é possível alcançá- senhora do que se encontra sobre
la, percorrendo o caminho da o seu caminho. O sentimento de
prazer reside precisamente na
investigação. O problema insatisfação da vontade, na
surge quando alguém tenta incapacidade da vontade para se
satisfazer sem adversário e
alcançar essa felicidade resistência.”
através da manipulação da (Nietzsche, La Volonté de
Puissance)
natureza ou da comunidade
humana. Em geral, o ser humano tem uma vontade inexplicável de
conseguir o poder absoluto sobre a natureza, sobre a restante
sociedade e até sobre aquilo que ele próprio desconhece. A ciência
entra então em acção como meio para atingir esse poder absoluto
sobre tudo que o rodeia. É chamado o mau uso da ciência ou a
ciência maligna.

Para comprovar esta situação (que é bem real e próxima de


nós, e não apenas fruto de ficção científica) reflectimos sobre vários
exemplos que, ao longo da história nos assustaram ou aos quais

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sofremos controvérsias, de certo modo, pelo poder
que conseguiram alcançar:

1. Aborto e eutanásia:
Através de vários avanços na medicina já é possível interromper
a gravidez de forma mais segura e higiénica. Assim, como pôr fim
a uma vida de sofrimento. Então os abortos poderão tornam-se
muito mais alcançáveis por qualquer mulher, e a eutanásia uma
opção do paciente. Mas esta é apenas a visão científica. A ética
entra por este tema pondo à prova a parte moral e ética da
questão. Será correcto matar um ser humano? Não será um acto
profano? Não será neste caso, o avanço científico (ou o uso dele)
um atentado à vida humana?

2. OGMs (Organismos Geneticamente Modificados)


As descobertas na área da bioquímica/biotécnica permitiram as
Fig.1 – manifestação ecologista contra combinações genéticas de vários
OGMs
organismos, conduzindo assim a uma
selecção artificial da natureza, ao
benefício das preferências humanas. Foi
muito importante este avanço para a
produção de insulina através da
modificação genética da bactéria
Escherichia coli. Mas não terá este avanço uma porta destrancada
para a modificação do mundo natural, e consequentemente do
sentido da vida? Muitas técnicas se encontram em desenvolvimento
para alcançar o “bovino potencial”. (bovino geneticamente
modificadas que apenas apresentam os órgãos e tecidos importantes
para a alimentação humana.) Qualquer um de nós se repugna ao ler
este tipo de notícias, porque é lógico que este tipo de aproveitamento
das técnicas científicas é resultado de uma crescente ambição e
egoísmo em relação à natureza e a tudo que nos rodeia.

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3. Cirurgias plásticas
Á partida esta “ciência” não sugere
qualquer controvérsia de implicação
moral. A cirurgia plástica foi uma área da
medicina que surge pela primeira vez na
terceira vaga (na sociedade consumista)
e que tem em atenção as necessidades
mais supérfluas da população (não Fig. 2 – “Montra de acessórios” faciais
levando a palavra ao seu sentido pejorativo). É importante
afirmarmo-nos perante a nossa comunidade, corrigirmos pequenos
defeitos que nos fazem menos felizes, ou tratar de problemas que
são realmente um pesadelo ao espelho. A imagem tem-se tornado
cada vez mais importante e a medicina arranjou um “buraco
negro” capaz de sugar todas essas deficiências.

Mas, esta nova necessidade/solução põe à prova o nosso sentido


como indivíduos genuínos, originais e até pode conduzir ao
afundamento dos valores mais importantes dentro de uma
sociedade quando agimos em comportamentos obsessivo-
compuslivos. É importante reflectirmos sobre isto e não termos um
comportamento impulsivo quanto a este tipo de “correcções”. É
necessário sentirmo-nos bonitos por fora para sermos mais felizes,
mas não devemos deixar de nos sentir genuínos e diferentes
perante uma sociedade já por si tão uniforme.

Outras temáticas controversas e que podem por em risco a ética e


moral humana:
 Transexualidade;
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 Experiências com seres humanos,
embriões e cadáveres em qualquer fase do
ciclo vital;
 Terapia e manipulação genética;
 Técnicas de suicídio;
 Investigação e desenvolvimento de armas biológicas e
químicas;
 Clonagem

Estes são algumas das muitas “soluções” ou áreas a que a ciência


abriu portas. São todas muito controversas pois, apesar da maioria
delas melhorar as nossas condições de vida, trazem muitas vezes
problemas éticos como a violação aos direitos humanos, a destruição
do ser humano como indivíduo único e genuíno, etc.

Lado Negro da ciência - Os


riscos

Espécies ameaçadas pelas empresas de


cosméticas: Para uma conjunção dos dois
conceitos lucro/eficiência, as empresas
cosméticas utilizam animais (espécies como macacos, cães, cobaias,
ratos, etc) para verificarem e confirmarem a sua eficácia. A
preocupação destas multinacionais é o lucro e a rapidez da produção
pelo que os direitos dos animais são esqecidos e muitas vezes as
espécies envolvidas são tratadas como simples objectos descartáveis.

Agressões ao planeta Terra: as emissões de CO2 e SO2 pelos tubos


de escape dos automóveis, pelo desenvolvimento químico-industrial,
e pelo consumo excessivo de eletricidade resultam na poluição do ar
atmosférico.

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Hiroxima e Nagasáqui: Entre outros
exemplos, o progresso científico tornou
possível o fabrico de armas de destruição em
massa. A ciência deve ser utilizada em prol da
vida, da paz, e não do ódio e da agressão a
qualquer tipo de vida.

Experiência sobre os efeitos de radiação atómica em seres


humanos e animais: o desenvolvimento científico nuclear permitiu
grandes avanços a nível de energias rentáveis e até a nível de
terapias medicinais. Mas, como anteriormente já foi dito, grandes
feitos, grandes consequências: um acidente de uma industria nuclear,
como aconteceu com Chernobyl pode afectar e destruir milhares de
pessoas e durante várias gerações. Para além de que as experiências
feitas nos humanos e/ou animais com energias atómicas são muito
perigosas, podendo causar graves deficiências (mutações), e podem
ser ainda fatais.

Sedentarismo e Dependência
tecnológica: com este preparado de “vida
pré-feita”, a sociedade tende cada vez mais
a depender das tecnologias para se
organizar. Assim, uma criança já não tem
tantas oportunidades de desenvolver as suas capacidades (físicas,
cognitivas, práticas, etc.), pois prende-se ao mundo tecnológico, e
confortável. Neste período tudo está feito, tudo está pronto, e nós
encostamo-nos a tudo esquecendo a importância da reflexão, do
desporto, do convívio, etc.

Estas e muitas outras questões fazem-nos reflectir e


consciencializar acerca dos limites éticos dos ilimitados
poderes e riscos da ciência à solta e à venda, sem ética. A

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racionalidade científica produz cada vez mais
irracionalidades e aberrações.

O outro lado da Ciência – o lado Espectacular

O século XX é assinalado por uma enorme prosperidade


científica, tanto a nível de comunicações, de medicina, de conforto
social, de entretenimento, ou mesmo a nível de tecnologia nuclear. As
descobertas médicas, como os antibióticos, as vacinas, as sulfamidas,
etc. permitiram controlar a saúde humana; o transplante de órgãos
em deficiência, que, sem prejudicar vidas, permitiu diminuir a taxa de
mortalidade e aumentar as condições de vida da população. As
técnicas de fertilidade que tornaram felizes e encheram vazios nos
corações de muitos pais e mães que, devido a problemas naturais ou
acidentais, não adquiriram a
capacidade natural de
conceber. E ainda o
desenvolvimento das técnicas
de diagnóstico que
ultrapassaram os obstáculos
aos problemas da população, e
aumentaram a esperança
média de vida.
Para além das melhorias
a nível da saúde e vida
humana, as tecnologias desta
vaga diminuíram distâncias,
aumentaram o número de
caminhos que podemos seguir, o número de opções. Hoje em dia
temos muitas mais possibilidades na educação, em aspectos sociais,
e até profissionais devido aos mass media e aos novos meios de
comunicação (Internet, telemóveis, etc.)

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Conclusão:

Todo este problema de demarcação entre Bem/Mal não pode ser


atribuído apenas à consciência e responsabilidade moral dos
cientistas e inventores. É um problema que nos toca a todos,
membros de uma sociedade cientifico-tecnológica. E é por isso uma
responsabilidade colectiva que obriga à consciencialização e reflexão
sobre os vários aspectos pesando e comparando os dois lados.
E como não podemos ter uma atitude radical perante problemas
tão sensíveis e de dimensões e importância tão grandiosa, nós,
autoras desta reflexão, decidimos apresentar a nossa conclusão
acerca desta problemática (que não está isenta de alterações ao
longo do tempo).

É tempo de tomar consciência da complexidade de toda a


realidade – física, biológica, humana, social, política –, e da realidade
da complexidade. É tempo de tomar consciência de que uma ciência
privada de reflexão e de que uma filosofia puramente especulativa
são insuficientes. “Consciência sem ciência e ciência sem
consciência são mutilados e mutilantes.” (Edgar Morin)

Desde a pré-história que o Homem sente uma necessidade


natural de busca de conhecimento. Cada vez que mais se descobre
mais fica por descobrir.
Tanto para controlar doenças, mortes, controlar a natureza e até
a distância, o Homem sentiu necessidade de “entregar” todo o seu
conhecimento às tecnologias. Assim cada vez mais nos tornámos
seres manipuladores e controladores, de maneira que o poder foi
proporcionalmente aumentando. E com o poder muitas
responsabilidades vêm “coladas” como se de anexos se tratassem.
Quanto maior o poder maior será a responsabilidade. Mas muitas
vezes essa responsabilidade é deficiente, o que poderá trazer
sofrimento ao ser humano (o que há partida parece ser uma
contradição pois a ciência nasce com o propósito de fazer feliz o
Homem, mas o sofrimento é algo que se opõe à felicidade). E a culpa
não será do conhecimento, até porque o conhecimento é algo
importantíssimo para o ser humano, para qualquer vida humana (já
que somos seres racionais). O conhecimento é o alimento de qualquer
indivíduo que pertença a uma sociedade. E a busca desse
conhecimento é fundamental tanto para os aspectos já referidos
anteriormente como para a satisfação e sacio desta fome de Verdade.
Deste modo há que entender a demarcação dos dois lados da
ciência como base de qualquer procedimento ou investigação. É
muito importante conseguir controlar até onde vai e pode ir a ciência
e sabe-lo não é tão linear quanto isso.

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Ciência, poder e riscos
A reflexão sobre os nossos valores, inseridos
sobre a nossa cultura, faz-nos saber quando parar. Mas
essa reflexão tem de ser isenta de interesses, de
qualquer género.

Só assim será possível conseguirmos desenvolver e desfrutar de


todas as descobertas e capacidades científicas, conservando e
salvaguardando os nossos valores, a nossa cultura, os nosso planeta,
a nossa dignidade.

“Nem tudo o que é tecnicamente possível é desejável e deve


experimentar-se.”
(loucura tecnológica)

Glossário:

Bioética – estudo das ciências da vida e do seu impacte na moral,


interrogando-se acerca da moralidade da clonagem dos seres
humanos, ou da distribuição dos medicamentos aos doentes dos
países em desenvolvimento.

Cientista – pessoa cuja actividade se desenvolve no domínio das


ciências; investigador científico

Deveres – é uma obrigação, um fundamento ou uma fonte de direito,


um instrumento que mostra o direito, o encargo, o compromisso.

Direitos – é o conjunto de regras de comportamento e de


organização, favorecidas por forças, que se procura impor para se
resolver os conflitos.

Ecologia – é o estudo das interacções dos seres vivos entre si e com


o meio ambiente.

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Ciência, poder e riscos
Ética – é um ramo da filosofia que estuda a natureza
do que é considerado adequado e moralmente
correcto.

Globalização – é um processo de aprofundamento da integração


económica, social, cultural, política e espacial e baixo dos preços dos
meios de transporte e comunicação.

Investigação – estudo ou série de estudos aprofundados sobre


determinado tema, numa área científica ou artística; pesquisa.

Liberdade – para a filosofia liberdade tem várias concepções,


existem teorias que dizem respeito à metafísica, à ética e à filosofia
política. De maneira negativa, liberdade é a ausência de submissão,
de servidão e de determinação, aquela que qualifica a independência
do ser humano. De maneira positiva, liberdade designa a autonomia e
a espontaneidade de um sujeito racional, que qualifica e constitui a
condição dos comportamentos humanos voluntários.

Manipulação genética – conjunto de processos que permitem


alterar ou combinar tecnicamente os genes de um organismo;
engenharia genética;

Poder – é o direito de agir e mandar, de capacidade de exercer a


autoridade, a soberania, a posse do domínio, da influência e da força.

Qualidade de vida – está ligado ao desenvolvimento humano.


Significa que o individuo ou um grupo social tenham saúde física,
mental e que esteja de bem com tudo, ou seja, em equilíbrio.

Responsabilidade – é a obrigação de responder pelas próprias


acções, e prevê que estas acções se apoiem em razões ou motivos.

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Ciência, poder e riscos

Técnica – é o procedimento que têm por objectivo


obter um determinado resultado, seja em que área for, quer da
ciência, da tecnologia ou das artes.

Tecnociência – pode-se definir como aplicação das teorias científicas


aos meios práticos, ou seja, à técnica.

Tecnologia – estudo dos procedimentos técnicos (utensílios,

materiais, etc) na sua relação com o desenvolvimento de uma

civilização. De um modo mais preciso, é a abordagem teórica de uma

técnica particular (agricultura, electrónica, informática…).

Tecnocracia – teoria americana socio-política segundo a qual as

pessoas competentes para tomarem decisões em relação ao conjunto

de uma sociedade deveriam ser os especialistas das diferentes

formas de saber científico, particularmente os economistas. Daí o

termo tomou um sentido pejorativo para designar mais geralmente o

poder efectivo exercido, quer ao nível da empresa, quer ao Estado,

pelos altos funcionários ou pelos coordenadores de técnicos.

Valores – designa o atributo e a qualidade que se dá aos bens


materiais e económicos, sociais, comportamentais, etc.

Bibliografia:

Internet

http://www.consciencia.br/reortagens/clonagem

http://www.centroatl.pt/edigest/edicoes/ed43rot.html

Ana Rita Soares


Inês Sofia Alves 20/21
Filosofia 11º ano
Ano lectivo 2006/2007 Tema 1.
Ciência, poder e riscos
http://sol.sapo.pt/blogs/hpeter/archive/2007/03/08/O-

MUSEU.aspx

http://afilosofia.no.sapo.pt/cienciamedieval.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cientificismo

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dialetica

Livros/Manuais

Problemas do Mundo Contemporâneo – Maria de Lurdes Paixão, Lisboa

Editora, 2004

A Origem da tragédia – Nietzsche, Lisboa Editora, 2001

Os Novos poderes – Alvin Toffler, Livros do Brasil, 1991

Filosofia 11º ano – Luís Rodrigues, júlio Sameiro, Álvaro Nunes

Filosofia – Marcello Fernandes, Nazaré Barros

Razão e diálogo – José Neves Vicente

Software/Enciclopédias/dicionários

Diciopédia, Porto Editora 2006

Infopédia, Porto Editora, 2003-2007

Logos

Ana Rita Soares


Inês Sofia Alves 21/21

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