HAGADÁ
HAGADÁ
HAGADÁ
Esta mesa em torno qual nos reunimos esta mesa !om as matz"t e !om as er#as amar$as esta mesa de %essa!& !om sua toal&a ima!ulada esta mesa n'o ( uma mesa) ( m*$i!a em+ar!a,'o !om a qual na#e$amos -elas +rumas do -assado em +us!a das mem"rias de nosso -o#o. A esta mesa sentemo-nos, pois. Somos muitos, nesta noite. Somos os que esto e os que j foram: somos os pais e os filhos, e somos tambm os nossos antepassados. Somos um povo inteiro, em torno a esta mesa. Aqui estamos, para celebrar, aqui estamos para dar testemunho. Dar testemunho a misso maior do juda smo. Dar testemunho distin!uir entre a lu" e as trevas, entre o justo e o injusto. # relembrar os tempos que passaram para que deles se e$traia o presente a sua li%o.
&a!ad Alemanha '()* +lhemos, pois, a mat" que est sobre a mesa. ,ste o po da pobre"a que comeram os nossos antepassados na terra do ,!ito. -uem tiver fome . e muitos so os que t/m fome, neste mundo em que vivemos . que venha e coma. -uem estiver necessitado . e muitos so os que amar!am necessidades, neste mundo em que vivemos . que venha e celebre conosco o 0essach. # o le!ado tico de nosso povo, a mensa!em contida neste simples alimento, neste po "imo que sustentou no deserto, e o que o vem sustentando ao lon!o das !era%1es. # preciso ser justo e solidrio, preciso amparar o fraco e ajudar o desvalido.
Deserto no ,!ito + deserto que hoje temos de atravessar no uma e$tenso de areia estril, calcinada pelo sol implacvel. # o deserto da desconfian%a, da hostilidade, da aliena%o de seres humanos. 0ara esta travessia temos de nos munir das reservas morais que o juda smo acumulou, das poucas e simples verdades que constituem a sabedoria do povo. Ama teu pr2$imo como a ti mesmo. 3eparte com ele teu po. 4onvida-o para tua mesa. Ajuda-o a atravessar o deserto de sua e$ist/ncia. 5u me per!untas, meu filho, porque diferente esta noite de todas as noites6'7. 0orque todas as noites comemos chamets e mat", e esta noite somente mat". 0orque todas as noites comemos verduras diversas, e esta noite somente maror. 0orque molhamos os alimentos duas ve"es. 0orque comemos reclinados.
,u te a!rade%o, meu filho. A!rade%o-te por per!untares. 0orque, se me per!untas, no posso esquecer: se inda!as, no posso ficar calado. 0or tua vo" inocente, meu filho, fala a nossa consci/ncia. 5ua vo" me condu" 9 verdade. 0or que esta noite diferente de todas as noites, meu filhos: 0orque esta noite lembramos. ;embramos os que foram escravos no ,!ito, aqueles sobre cujo dorso estalava o lte!o do <ara2. ;embramos a fome, o cansa%o, o suor, o san!ue, as l!rimas. ;embramos o desamparo dos oprimidos diante da arro!=ncia dos poderoso. ;embramos com al vio: o passado. ;embramos com triste"a: o presente. Ainda e$istem <ara2s. Ainda e$istem escravos. +s <ara2s modernos j no constr2em pir=mides, mas sim estruturas de poder e imprios financeiros. +s <ara2s modernos j no usam apenas o lte!o: submetem cora%1es e mentes mediante tcnicas sofisticadas.
<ara2s modernos Seus escravos se contam aos milh1es, neste mundo em que vivemos. So os ne!ros privados de seus direitos, na >frica do Sul? os poetas que, em 4uba, no podem publicar seus versos? os imi!rantes a quem, na ,uropa, est reversado o trabalho pesa e a hostilidade dos !rupos fascistas? os refuseni@s soviticos que clamam por sua identidade? as mulheres e os jovens fanati"ados pelo re!ime do Aiatol, os prisioneiros pol ticos do 4hile, os famlicos do Sahel e do nordeste brasileiro, as popula%1es ind !enas lentamente e$terminadas em tantos lu!ares? os operrios e$plorados e os camponeses sem terra.
0ara estes, ainda no che!ou o dia da travessia. ,stes ainda no encontraram a sua 5erra 0rometida. 0ara eles, a vida ainda amar!a como o maror. # a eles tambm que lembramos nesta noite, meu filho. 4om eles repartirmos, em ima!ina%o, o nosso peda%o de mat". Ao sejas como o in!/nuo, que i!nora os dramas de seu mundo. Ao sejas como o perverso, que os conhece, mas nada fa" para mudar a situa%o. 0er!unta, meu filho, per!unta tudo o que queres saber . a dBvida o caminho para o conhecimento.
&a!ad de Cordeau$, 'D'E. Fas quando te tornares sbio, procura usar a tua sabedoria em benef cio dos outros. 3eparte-a, como hoje repartirmos nossa mat". Se!ue o conselho de nossos sbios, e lembra a sa da do ,!ito, no s2 na noite de 0essach, mas todos os dias de tua vida. <alemos deste povo, ento. <alemos dos judeus: pequeno !rupo humano que viria a desempenhar um !rande papel na hist2ria da humanidade. Gm povo inquieto. Gm povo que no buscava o repouso, nem para si, nem para os outros povos. & cerca de 8HHH anos a trajet2ria deste povo teve in cio - quando Abrao dei$ou o seu lu!ar de ori!em,
na re!io entre o 5i!re e o ,ufrates, para ir a 4anaan. 0ois disse-lhe o Senhor: ISai de tua terra, e da terra de tua !ente, e da casa de teu pai, e vem para a terra que eu te mostrarei? ,u farei de ti uma !rande na%o, e te aben%oarei, e farei !rande teu nome?e sers uma ben%o? , eu aben%oarei quem te aben%oar, e amaldi%oarei quem te amaldi%oar? e em ti sero todos os povos da terra aben%oados.J KL/nesis 'M, '-EN Fas no cessou com a che!ada a 4annan e pere!rina%o judaica. 0ovo nOmade, os hebreus deslocavam-se constantemente. , por isso no constru ram !randes cidades, nem monumentos comparveis 9s pir=mides. + que os hebreus levavam consi!o, em suas mi!ra%1es, era a sua tradi%o, era a palavra do Senhor, da qual eram !uardies? a palavra que deu ori!em ao livro sa!rado, a C blia, seu !rande le!ado para a humanidade 6M7.
5or - o 0entateuco De Abrao nasceu Psaac, de Psaac Qacob, e de Qacob, Qos e seus irmos. Qos, o vidente? Qos, que se tornou vi"ir do <ara2. 4om Qos foram 5er seus in!ratos irmos, quando a fome assaltou as terras de 4anaan. Aa terra de Loshen foram viver, e ali se multiplicaram como as estrelas no cu e os !ros de areia das praias do mar. Fas ento nuvens ne!ras sur!em neste cu tranqRilo. Gm novo <ara2 reina no ,!ito? ele teme que os filhos de Psrael, a!ora numerosos, se rebelem contra ele. , decreta: toda crian%a judia, de se$o masculino, deve ser morta ao nascer.
Fas um menino escapa. + destino poupa-o para ser o libertador de seu povo: Foiss, que a filha do <ara2 salva das !uas para dele fa"er um pr ncipe. Foiss, 0r ncipe do ,!ito, Foiss, poderoso entre os poderosos. & um instante na vida de cada homem em que ele se v/ diante de seu destino. Gm instante em que lhe dado fa"er a escolha transcendente, a escolha que ser o divisor de !uas de sua e$ist/ncia. ,ste instante che!ou para Foiss. Diante do feitor que espancava cruelmente o escravo judeu, ele no hesitou: tomou o lado do fraco contra o forte, do oprimido contra o opressor. Qo!ou sua sorte com a sorte pobre, desprote!ido povo. , ento que DSus lhe fala. Ao antes do !esto de cora!em, mas depois: como se a divindade s2 se pudesse revelar depois que Foiss descobriu a si mesmo. ,ste o deus de Abrao, o Deus de Psaac, o deus de Qacob? o DSus que fala da sar%a ardente, como a indicar que preciso manter viva a chama da f e da di!nidade. ,ste DSus estende Sua mo para Foiss, e acena-lhe com a promessa que desde ento tem animado a todos os povos: terra e liberdade, liberdade e terra. A doce liberdade, a frtil terra da qual fluiria o leite e o mel.
Dei$e Feu 0ovo SairT , ento, acompanhado de Aro, que por ele falava, Foiss foi ter com o <ara2 e disse:
Dei$a meu povo sair. Dei$a meu povo sair. ,ra a primeira ve" que ecoava esta frase no reduto do poder, mas no seria a Bltima. Aas masmorras dos romanos: dei$a meu povo sair. Aos !uetos medievais: dei$a meu povo sair. Aas aldeias amea%adas pelos po!roms: dei$a meu povo sair. Aa Alemanha na"ista: dei$a meu povo sair. Aa 3Bssia, na S ria, na ,ti2pia: dei$a meu povo sair. ,ste apelo desesperado no encontra eco. A insensibilidade dos poderosos torna-os surdos e ce!os. + sofrimento dos oprimidos clama aos cus. , os cus respondem com fBria. Fas a divindade poupa a seu povo o 2dio. Finha a vin!an%a, di" o Senhor. S2 Deus pode dosar o casti!o do mpio, de maneira a no pa!ar in!usti%a com injusti%a So as for%as da nature"a que Adonai mobili"a para punir os pecadores? como a su!erir a pr2pria nature"a se revolta contra a iniqRidade , v/m as pra!as.
As 'H 0ra!as - Uene"a, 'VM) As !uas se transformam em san!ue. <eras atacam os homens. Lafanhotos devoram as colheitas. 0estil/ncias ceifam vidas. + !rani"o cai sobre as planta%1es. As trevas reinam sobre a 5erra. 4asti!os terr veis, mas que nos soam estranhamente familiares. 0ois hoje, como ontem,
seres humanos fa"em da nature"a palco de luta contra outros seres humanos. A casa do homem uma casa dividida. 0unhos se er!uem amea%adores, vo"es bradam iradas. A !an=ncia e a especula%o sobrepujam a solidariedade e a compensa%o. , de novo as pra!as nos amea%am. As !uas j no se transformam em san!ue, mas nos rios polu dos e nos mares envenenados os pei$es b2iam mortos. As pra!as que devoravam as colheitas foram repelidas, mas ficam nos frutos da terra os res duos dos venenos usados. Pndiscriminadamente. As feras que os homens temiam hoje so pobres criaturas em e$tin%o. Fas o ti!re com dentes atOmicos fa" ouvir o seu ru!ido, os submarinos nucleares percorrem os mares como sinistros ;eviats. ,nquanto enormes contin!entes humanos ve!etam na mais espantosa misria, h nas metr2poles uma minoria que busca no consumismo desenfreado, no lcool e na dro!a, a satisfa%o que jamais encontra.
Aova Wor@ ''XH)XMHH' As trevas reinam sobre a 5erra, mas no so as trevas resultantes de um sol eclipsado? so, isto sim, as trevas do obscurantismo, que alimenta o fanatismo e arma o bra%o do terrorista. As pestil/ncias de outrora deram lu!ar 9s doen%as da civili"a%o, i!ualmente mort feras? e de outra parte, se perpetuam entre aqueles que no t/m acesso 9s conquistas da medicina. Dir-se-ia que os homens no aprendem. -ue a escalada do erro . e do casti!o . no tem fim. A paci/ncia do Senhor che!a a seu trmino. Decide dar ao fara2 a prova definitiva de Seu poder:
os primo!/nitos sero e$terminados. Fas pelas portas das casas judaicas, untadas com o san!ue do animal sacrificado, a ira do Senhor passar sem se deter # a 0scoa: a passa!em. Fais uma ve" Deus avoca a si o casti!o. 0ois somente a um des !nio insondvel to espantosa puni%o pode ser atribu da. , o <ara2 cede. 0or fim, o <ara2 cede. 0odeis partir, ele di" a Foiss e Aro. , os judeus partem. Ys pressas: o po que levam sequer pode fermentar. # da mat" que eles a!ora comero. , h ra"o para a pressa. +s poderosos no costumam honrar compromissos.
+ Far Uermelho se abre... 0romessas so esquecidas, tratados so ras!ados. , os e$rcitos do <ara2 vo no encal%o dos fu!itivos, surpreendem-nos 9s mar!ens do Far Uermelho. Fais uma ve" Deus prote!e seu povo. Fais uma ve" um prod !io da nature"a d testemunho da alian%a sa!rada. As !uas do mar se abrem diante dos hebreus e se fecham sobre as armadas do <ara2. # o casti!o definitivo. # um casti!o, mas no um ato de 2dio. 0ois, conta o 5almud, depois que os judeus atravessaram o Far Uermelho, entoaram um hino de a!radecimento ao senhor que ,le recusou di"endo: IAo cantareis enquanto meus outros filhos se afo!amJ. A viol/ncia: Sim, permitida, como resposta 9 viol/ncia.
Fas no permitido a nin!um ale!rar-se na viol/ncia. Ao fim e ao cabo, somos todos irmos. Fesmo quando um destino tr!ico nos coloca face a face, armas na mo. Gma li%o que vale para o +riente Fdio de nossos dias. ,sta a narrativa do Z$odo. Dela, o que lenda: + que &ist2ria: Pmposs vel saber. Aa poeira do tempo confunde-se fantasia e realidade, fato e ima!ina%o. Ao importa, porm. Ao o fato hist2rico que conta, mas sim a li%o que dele se e$trai.
&a!ad Carcelona, Sc. [U 4omo di" o Seder: I,m toda !era%o deve o homem considerar como se tivesse sa do do ,!itoJ. Aeste, como est sinteti"ada toda a !ama de possibilidades que a tradi%o, mais que o frio relato dos acontecimentos, proporciona aos seres humanos. A possibilidade de evocarmos, por uma noite que seja, o terror da escravido. A possibilidade de vivermos, por uma noite que seja, a !l2ria da liberta%o. 4omo se suficiente. Gma noite suficiente. <oi numa noite que Qacob lutou contra o anjo, e, vencendo-o, tornou-se Psrael, le!ando-nos esta li%o: que um povo tem de lutar por sua identidade, ainda que desafiando os mensa!eiros do Senhor. <oi numa noite que Daniel foi salvo da cova dos le1es, mostrando que o justo nada tem a temer, nem mesmo as feras selva!ens.
<oi numa noite que o perverso &aman foi condenado e o povo judeu foi salvo. 0orque a justi%a brilha na escurido da noite como a lu" do dia. Sentem-nos, pois, em torno 9 mesa nesta noite, e tomemos o vinho de 0essach, doce como a liberdade. , falemos da do%ura de ser livres? falemos principalmente aos jovens. Si!amos o que di" o nosso Seder: Icontars a teu filhoJ. 0orque a mensa!em de 0essach diri!ida sobretudo 9s crian%as e aos jovens. 4omo sentinelas na noite, temos de velar por eles, velar para que recebam a mensa!em de liberdade. 0essach a festa das !era%1es. # a festa em que os pais falam a seus filhos. , por isso que a festa do 0essach celebrada em fam lia. Ao num templo, mas em casa.
5radi%o de !era%o em !era%o ,m torno a uma mesa, de modo que as pessoas se possam olhar, de modo que o filho possa ouvir do pai o simples, eloqRente relato. A sa!a de um pequeno povo de incultos nOmades que ensinou a um poderoso imprio uma li%o de justi%a e de di!nidade. ,sta a li%o que os judeus vem repetindo ao lon!o de muitos e muitos sculos. Aos dias esplendorosos do 5emplo de Qerusalm e nos amar!os tempos da disperso. Ao Lalut e a!ora, em Psrael. +s prod !ios da sa da do ,!ito ficaram reverberando pelos sculos afora. 0ois tantos foram, e to notveis, que evoc-los leva-nos ao limite do suportvel: daienu, di" o Seder: bastar-nos-ia. Se nos tirasse do ,!ito e no os justificasse, bastar-nos-ia. Se no abrisse o mar, se no nos desse o man, se no nos desse o Sbado,se no nos desse a 5or . bastar-nos-ia.
+ primeiro a!radecimento ao Senhor pela liberdade: se nos tirasse do ,!ito, bastar-nos-ia. 5odo o resto conseqR/ncia. + man, a ;ei, a 5erra prometida, tudo decorr/ncia da liberta%o do povo.
Seder no Lueto <alemos da luta pela liberdade. <alemos do !ueto de Uars2via. Ao come%o da Se!unda Luerra, Uars2via era um centro judaico de primeira !rande"a, clebre por suas ieshivot, seu teatro diche, seus centros culturais, seus artistas e escritores. Fas ento veio a invaso na"ista, e com ela a fria delibera%o de transformar a cidade num portal para o inferno. -uase meio milho de pessoas foram confinadas na minBscula rea do !ueto, cercado e isolado. ;o!o a fome, a falta de hi!iene, as doen%as come%aram a fa"er suas v timas.
A um ritmo que no era satisfat2rio para os na"is: em julho de ')8M come%aram as deporta%1es para os campos de 5reblin@a, Ausch\it", Faidane@ e Celsen. <oi ento que as or!ani"a%1es juvenis adotaram uma deciso: a de resistir at o fim. Armas e muni%o come%aram a ser contrabandeadas para o !ueto] Aa madru!ada de ') de abril de ')8E um tiro ecoou na rua Aale\@i. ,ra o sinal para a rebelio, que oporia 8H.HHH remanescentes da popula%o judaica, lutadores famintos e mal armados, contra a poderosa mquina de !uerra na"ista. Durante semanas os combatentes resistiram. + comandante do levante, Fordechai Aniele\ic" e seus companheiros, morreram lutando no quartel-!eneral da 3ua Fila, 'D. Ain!um se rendeu.
Ao podemos falar em liberdade sem falar no Lueto de Uars2via. Ao podemos falar em liberdade enquanto outros !uetos e$istirem em nosso mundo. A!ora, meu filho, vamos colocar vinho neste copo, e vamos abrir a porta. 0er!untas se estamos esperando al!um. Sim, esperamos al!um. ,speramos ,liahu &anavi, o 0rofeta ,lias, o precursor do Fessias. # um h2spede ilustre, a!uardado h ^sculos. At hoje no veio, e no certo que nos visite esta noite. Ao tem import=ncia. + importante que nossa porta esteja aberta. 0ara o profeta ou para o nosso vi"inho? para o Fessias ou para o pobre que nos vem pedir um pouco de comida.
-ue espiem, os de fora, por estar a porta aberta. -ue vejam uma fam lia reunida em torno 9 mesa, celebrando. -ue constatem: eles nada t/m a esconder. ,les no praticam rituais secretos, eles no so uma seita misteriosa.
4oe$ist/ncia 0a" So !ente como a !ente. +s cristos, os judeus, os mu%ulmanos, os budistas, somos todos i!uais. Aossas festas t/m nomes diferentes, ocorrem em datas diferentes, mas no fundo, une-nos a ale!ria da celebra%o. ,u sei, meu filho, que nem todos pensam assim. , por isso que a porta precisa ficar aberta. 0ara que o profeta ,lias venha, anunciando a pa" entre os povos. A travessia do Far Uermelho no pOs fim aos infortBnios do povo judeu. Fuito teriam eles de va!ar, ainda, na desola%o do deserto. <oi uma dura prova, a que nem sempre resistiram. -uando mais forte se tornou o assdio da fome e a sede, foram quei$ar-se a Foiss: tu nos trou$este ao deserto, disseram, para que aqui morramos 9 m n!ua. , em seu desespero, che!avam a lembrar com saudade os tempos do ,!ito: ramos escravos, mas t nhamos o que comer. 4omo ,saB, estavam dispostos a trocar sua di!nidade por um prato de comida. Deus no os casti!ou. Ao contrrio: deu-lhes o manjar do cu. + Fan, e as tbuas da lei. Aesta ordem: o alimento e depois o mandamento. A nutri%o para o corpo, se!uida do dever espiritual. , esta mais uma li%o que o juda smo, na sua s2bria e milenar sabedoria, nos transmite: no se pode e$i!ir deveres morais de quem tem fome.
4rian%as do Lueto +s direitos humanos come%am pelo simples, e pelo elementar. +s direitos do homem come%am por um peda%o de po, "imo ou no. Uejo, meu filho, que encontras o afi@oman que escondi 6E7. Fuito bem, tens direito a uma recompensa. + que queres: # uma hist2ria, que queres: Fuito bem. Dei$a que te conte ento uma hist2ria muito curta. # a hist2ria de um homem e de sua mala. + homem j no vive? a mala, que eu saiba, j no e$iste. Fas a mala estava com a fam lia desse homem h muitas !era%1es. Aesta mala ele colocou todas suas coisas quando, jovem ainda, dei$ou sua casa, numa aldeia da 3Bssia c"arista, e foi para a 0olOnia, onde esperava viver. ; ficou al!uns anos, at que teve de fu!ir de novo, por causa da amea%a de bandos anti-semitas. 0e!ou a mala e foi para a Alemanha, a civili"ada Alemanha, pensando encontrar a pa". Fas o ano era ')E)]
0assa!em para a Amrica 4onse!uiu fu!ir para o Crasil, sempre com sua mala. 5rabalhou duro, no comrcio? conse!uiu juntar al!uma coisa e j estava at esquecendo as priva%1es que passara quando, por ocasio dos distBrbios de rua que se se!uiram ao suic dio de LetBlio Uar!as, sua loja foi depredada. <icou to assustado, que decidiu: da em diante, nunca mais desmanchou a mala. ,stava sempre pronto para partir, a qualquer hora do dia e da noite. Urias ve"es pensou que o momento tinha che!ado: quando Q=nio renunciou, em ')V'? quando houve o !olpe militar, em ')V8, e os policiais prenderam os filhos de seu vi"inho. Ao che!ou a ser necessrio. Aparentemente, ele era considerado um homen"inho inofensivo? nin!um se preocupava com ele. Ao entanto, continuava preparado. 0ara o Z$odo. 4omo seus antepassados no ,!ito, que constantemente evocava. Gma noite um ladro entrou na casa e roubou-lhe a mala. , de repente, ele se deu conta: j no podia mais fu!ir. , assim ficou. At que uma noite o Anjo da Forte veio cham-lo? e as pessoas que estavam a seu lado, no quarto do hospital, ouviram-no murmurar bai$inho: ,u no fu!i. ,u estou aqui.
Fesa do Seder A2s estamos aqui. , podemos saborear em pa" nosso manjar, nosso afi@oman. A2s o merecemos, como tudo mereceste. 5u, porque o encontraste? n2s, porque nos encontramos. 4ha! Sameach 687 , meu filho.