Robert Kurz - Industria Cultural Revisitada
Robert Kurz - Industria Cultural Revisitada
Robert Kurz - Industria Cultural Revisitada
A INDSTRIA CULTURAL NO
SCULO XXI
emissor e receptor estaria de facto superada. A palavrachave interactividade. A mutao sem fim da Internet
teria conduzido nova qualidade da Web 2.0 interactiva, o
que no cessa de ser dito tanto nos suplementos culturais
como no mundo acadmico. Neste nvel qualquer utilizador
pode sempre e em toda a parte ligar-se e do modo mais
personalizado possvel intervir pela palavra (ou pela imagem).
Os passos desta mutao so elucidativos. Vo desde a
pseudo-participao em programas de rdio com participao
telefnica dos ouvintes, jogos de marcar presena com
cumprimentos tolos a todos os que me conhecem etc.,
passando pelo inflacionamento de websites privados, at aos
Blogs, s formas directamente interactivas da funo
comentrio nas mailing lists ou nas edies electrnicas dos
mdia impressos, s redes de amizade da Web 2.0 e aos
servios informativos como o Twitter. Mas todas estas
formas de interaco digital conduziram to pouco a uma
emancipao mediada de modo puramente tecnolgico como
todas as formas anteriores da indstria cultural.
O conceito de um mero dispositivo de rplica foi talvez
escolhido com infelicidade por Adorno e Horkheimer, porque
eles tambm no podiam entender esta funo de modo
reduzido tcnica. Mas trata-se de algo diferente. A
capacidade de rplica organizada apenas no nvel do
objecto e do equipamento e no ao nvel social. A expresso
redes sociais digitais que aparentemente contradiz esta
avalizao no passa de um eufemismo. O social refere-se
aqui a um contexto quase exclusivamente virtual, meramente
simulado; trata-se na maior parte das vezes de amizades
irreais entre avatares. Os verdadeiros indivduos ficam muitas
vezes annimos, ou tiram a mscara apenas de modo
exibicionista na distncia mediaticamente mediada que
aparentemente
permite
uma
proximidade
primitiva
secundria. irrealidade corresponde o no compromisso; de
resto algo de essencial da disposio ntima ps-moderna que
foge de qualquer compromisso como o diabo da cruz. Esta
bvia fenomenologia da Web 2.0 geralmente conhecida e
frequentemente tematizada; no em ltimo lugar nos mesmos
suplementos culturais que gostam de delirar sobre a
interactividade digital. Mas gostam pouco de reflectir sobre os
seus pressupostos ou consequncias.
O pano de fundo constitudo desde logo no pela pura
tecnologia mas sim, como no podia deixar de ser, pelo
desenvolvimento social logicamente corrente e associado
sustentao) exige um embaratecimento que s pode basearse na reduo dos custos de produo. Mas se os custos das
produes culturais so baixados bruta a qualidade sofre
ainda mais que no caso das indstrias de produo material.
O produto ento sempre uma carripana e ainda muito
pior. Pois s possvel racionalizar a produo intelectual ou
artstica como quem racionaliza a produo de guarda-lamas
ou de cambotas custa do completo esvaziamento do seu
contedo. Ela perde o seu prprio valor de uso com a
incorporao directa no sistema do trabalho abstracto,
como j Adorno e Horkheimer deixaram claro no caso da
reverso ou mesmo indistinguibilidade entre contedo
redaccional e publicidade. o que se v por exemplo nos
jornais publicitrios grtis cujos contedos redaccionais, na
medida em que esto estreitamente cruzados e mesmo
francamente misturados com a publicidade, mostram de
modo particularmente crasso a decadncia da reflexo
como expresso cultural e a incoerncia brbara da cultura
capitalista transmitida gratuitamente.
A Internet tem esta natureza de uma produo capitalista de
contedo e de cultura que j apenas paga monetariamente
de modo indirecto e justamente por isso perde o seu valor de
uso,
transformada
numa
organizao
de
massas
individualizada. No se trata aqui de modo nenhum de uma
libertao emancipatria da criatividade, mas sim de uma
espcie de privatizao neoliberal da produo em massa
normalizada da indstria cultural numa escala nunca vista.
Cada um ser a sua prpria indstria cultural j no deve ser
entendido apenas como metfora irnica ou como definio
cultural-simblica, mas para ser tomado letra com todas
as suas implicaes. A forma tecnolgica que corresponde ao
equipamento do sujeito ps-moderno provoca uma enchente
de apresentaes completamente desqualificadas que j no
podem ser avaliadas nem recusadas por qualquer instncia
redaccional.
Portanto cada um o seu prprio meio, a sua prpria revista,
o seu prprio cinema e programa de televiso. Ao contrrio da
produo profissional, aqui de facto j no necessria
qualquer racionalizao para rebaixar o objecto com a prformao capitalista at aptido para o gratuito. As
descuidadas criaes de todo o tipo esto em todo o caso
determinadas pela situao dos seus actores, que no se
conseguem envolver com nada e so movidos pela presso
da concorrncia, pela pressa do servio em abstraccto e por
http://obeco.planetaclix.pt/
http://www.exit-online.org/