Do GATT À OMC
Do GATT À OMC
DO GATT OMC: O QUE MUDOU, COMO FUNCIONA E PERPECTIVAS PARA O SISTEMA MULTILATERAL DE COMRCIO
Cludio Ferreira da Silva1
110
papel destacado ao difundir a utilizao da clusula de nao mais favorecida, que estendia a todos os pases os benefcios negociados bilateralmente. Aps a quebra da Bolsa de Nova York em 1929, assumiram um comportamento acentuadamente protecionista, aumentando suas tarifas aduaneiras de 38% para 52% (Smoot-Hawley Act), fato que levou seus parceiros a impor restries comerciais e a desvalorizar suas moedas. Tal comportamento se disseminou, culminado na imposio de barreiras comerciais cada vez maiores. Assim, o protecionismo norte-americano terminou levando a um resultado exatamente oposto ao esperado, pois reduziu o seu comercio externo, ajudando a aprofundar a depresso que se queria atenuar.[Krugman e Obstfeld, 1994, p.241]. Ao final da 2a. Guerra Mundial, a postura dos Estados Unidos era bastante distinta daquela adotada aps a 1a. Guerra Mundial. Temendo a repetio da guerra comercial dos anos 30 (que contriburam para deflagrar) e conscientes de que negociaes bilaterais por si s no seriam suficientes para garantir a cooperao em nvel mundial nem os mercados para seus produtos manufaturados, assumiram ento a liderana da liberalizao multilateral do comrcio. Foi sob seus auspcios que o Conselho Econmico e Social da recmcriada Organizao das Naes Unidas (ONU) convocou uma Conferncia sobre o Comrcio e Emprego. Nela foi apresentado o documento intitulado Acordo Geral sobre Tarifas e Comrcio (GATT), que foi escrito basicamente pelos Estados Unidos e a Inglaterra, propunha regras multilaterais de comrcio internacional, com o objetivo de evitar a repetio da onda protecionista que marcou os anos 30. Posteriormente, outras sugestes foram incorporadas, e o Acordo foi assinado por 23 pases, entre eles o Brasil, durante a Rodada Genebra (1947), a primeira das grandes rodadas de negociaes multilaterais de comrcio. O principal objetivo do GATT era a diminuio das barreiras comerciais e a garantia de acesso o mais eqitativo aos mercados por parte de seus signatrios e no a promoo do livre comrcio. Seus idealizadores acreditavam que a cooperao comercial aumentaria a
Universitas - Relaes Int., Braslia, v. 2, n.2, p. 109-125, jul./dez. 2004
111
interdependncia entre os pases e ajudaria a reduzir os riscos de uma nova guerra mundial [Hoekman e Kostecki, 1995, p. 15]. O Acordo deveria ter um carter provisrio e vigir apenas at a criao da Organizao Internacional de Comrcio (OIC). As negociaes para tanto foram realizadas na Conferncia de Havana em 1948, mas a OIC terminou no sendo criada em razo da recusa do Congresso norte-americano em ratificar o Acordo. Assim, o sistema idealizado em Bretton Woods ficou apenas com dois pilares o Fundo Monetrio Internacional (FMI) e o Banco Mundial. O GATT incorporou muitas das provises da OIT, contidas na Carta de Havana (subscrita por 53 pases, inclusive o Brasil), e foi adquiridas progressivamente atribuies de uma organizao internacional. No entanto,no perdeu o seu carter de acordo provisrio nem obteve uma personalidade jurdica prpria, como o FMI e o Banco Mundial. Alm da onda protecionista, outros movimentos reforaram a percepo de que as regras multilaterais de comrcio vigentes eram insuficientes para dar conta da nova realidade do comrcio internacional: por um lado, a economia se globalizava, os fluxos de capitais cresciam e o comrcio de servios tornava-se crescentemente mais importante para muitos pases; e por outro, as regras multilaterais continuavam na prtica, e mesmo assim com excees, restritas ao comrcio de bens manufaturados. No havia um acordo entre sobre salvaguardas, regras para imposio de direitos para compensar a existncia de dumping ou subsdios eram bastante precrias, sendo utilizadas de forma discricionria e protecionista. Tudo isso, aliado ao tremor de que se repetissem as guerras comerciais dos anos 30, levou realizao da mais ampla e ambiciosa rodada de negociaes de todo o ps-guerra a Rodada Uruguai. Estava caracterizado pelo impasse de dois grupos de interesse composto por pases desenvolvidos que defendiam a introduo de novos temas como servios e propriedade intelectual (Segundo Rubens Ricupero relacionados indiretamente ao comrcio), e pases em vias de desenvolvimento (reunidos no chamado Grupo dos 77 G77, com destaque para Brasil, ndia, Argentina e Iugoslvia, Paquisto e Egito) que defendiam negociaes em reas tradicionais como agricultura e
Universitas - Relaes Int., Braslia, v. 2, n.2, p. 109-125, jul./dez. 2004
112
txtil (ainda segundo Ricupero medidas de fronteira tradicionais sob a forma de tarifas altas, picos tarifrios, escalada tarifria e de medidas no-tarifrias). O Brasil e outras economias relativamente fechadas viam com reservas a disposio dos EUA e, em menor medida, da Comunidade Econmica Europia, de estender as regras do GATT ao comrcio de servios e de estabelecer regras substantivas para a proteo de direitos de propriedade intelectual, porque no contavam em seu ordenamento jurdico com leis e regulamentos sobre essas matrias e, do seu ponto de vista, poucas vantagens comerciais poderiam ser auferidas dessas propostas. Para Ricupero conceder prioridade aos temas no-comerciais teria quatro conseqncias desastrosas: a) sobrecarga no sistema; b) a ordem natural de prioridades seria invertida; c) os pases que necessitam de maior liberalizao precisariam recorrer a acordos bilaterais e regionais para ver os seus interesses atendidos; d) aumento da hostilidade pblica ao sistema, proveniente quase exclusivamente da reao aos temas comerciais notradicionais. Neste paradoxo entre interesses dos pases do Norte versus pases do Sul transcorridos sete anos do fim da Rodada do Uruguai pode-se constatar a incluso de medidas que protegem alguns dos mais importantes interesses comercias dos pases avanados e o impacto que estas medidas possuem na participao dos pases em desenvolvimento- a questo das medidas de fronteira tradicionais continua viva na agenda comercial, impedem o sistema de realizar toda sua potencialidade. Vale destacar, a propsito as diferentes esferas geocomerciais em que o Brasil projeta-se entre fins de 1994 e princpios de 1995 : no mbito sub-regional, o Mercosul (TEC e personalidade jurdica), no mbito hemisfrico na Cpula de Miami a idia de se conformar, at o ano 2005, uma rea de livre comrcio para as Amricas(Alca)
Universitas - Relaes Int., Braslia, v. 2, n.2, p. 109-125, jul./dez. 2004
113
envolvendo todas as economias do continente, exceo de Cuba.e no mbito multilateral, entra em funcionamento a OMC. Em dezembro de 1990, prazo estabelecido para o encerramento da Rodada, um impasse foi atingido em Bruxelas, principalmente na rea da agricultura, e a Rodada fica bloqueada. O acordo de Marraqueche, que engloba todas as reas negociadas durante a Rodada, foi assinado em abril de 1994. A OMC finalmente entra em operao em janeiro de 1995. Os principais temas negociados foram: a) Criao da OMC; b) rebaixamento tarifrio para produtos industriais e para produtos agrcolas; c) reincorporao dos produtos agropecurios ao sistema multilateral de comrcio; d) reforo das regras do GATT: anti-dumping, subsdios, salvaguardas, regras de origem, etc; e) negociao de um novo processo de solues de controvrsias, que dotou a nova OMC de maior credibilidade; f) prazos de implantao dos temas negociados mais alargados, em especial, para pases em desenvolvimentos; g) negociao de diversos artigos do Acordo Geral do GATT, nos seguintes temas: formao de acordos preferenciais de comrcio, balano de pagamentos, alteraes de listas e negociaes de tarifas e empresas estatais de comrcio exterior. A Rodada Uruguai apresentou avanos em reas tradicionais, bem como firmaram-se acordos setoriais para a agricultura e o setor txtil. Destacando-se, fundamentalmente, a criao da OMC, a qual ficou encarregada de conduzir todos os acordos concludos sob os auspcios daquela rodada. Assim, os documentos resultantes so: a Ata Final da Rodada Uruguai, o Acordo constitutivo da OMC e quatro anexos. O Anexo 1 formado pelos Acordos Multilaterais de Comrcio de Bens (Gatt 94),
Universitas - Relaes Int., Braslia, v. 2, n.2, p. 109-125, jul./dez. 2004
114
Acordo Geral sobre o Comrcio de Servios (Gats), Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comrcio (Trips). O Anexo 2 trata das resolues de disputas no mbito da OMC. O mecanismo de Exame de Polticas de Comrcio e Alguns Acordos de Comrcio Plurilaterais (Compras governamentais, Aeronaves Civis, Tecnologia da Informao) encontram-se nos Anexos 3 e 4, respectivamente. Veja a estrutura do Acordo, a seguir:
115
7. Acordo sobre a Implementao do Artigo VI do Gatt 1994 8. Acordo sobre a Implementao do Artigo VII do Gatt 1994 9. Acordo sobre Inspeo Pr-Embarque 10. Acordo sobre Regras de Origem 11. Acordo sobre Procedimentos para o Licenciamento de Importaes 12. Acordo sobre Subsdios e Medidas Compensatrias 13. Acordo sobre Salvaguardas ANEXO I B Acordo Geral sobre Comrcio de Servios (Gats) ANEXO I C Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comrcio (Trips) ANEXO II Entendimento Relativo s Normas e Procedimentos sobre Solues de Controvrsias ANEXO III Mecanismo de Reviso de Polticas Comerciais ANEXO IV Acordos Plurilaterais de Comrcio 1. Acordo sobre Comrcio de Aeronaves Civis 2. Acordo sobre Compras Governamentais 3. Acordo Internacional sobre Produtos Lcteos 4. Acordo Internacional sobre Carne Bovina
116
1994 as modificaes e resultados das negociaes passadas de liberalizao de comrcio, alm de todos os resultados da Rodada Uruguai. Os objetivos vo mais alm da liberalizao comercial sobretudo a busca do crescimento e desenvolvimento econmico internacionais. Em sntese, o Acordo reconhece a importncia do conceito de desenvolvimento sustentvel dentro da rea do comrcio internacional, alm de reconhecer a necessidade de assegurar aos pases em desenvolvimento uma maior parcela no comrcio. A no-discriminao o princpio fundamental do sistema multilateral de comrcio e est expresso nos acordos do GATT/OMC atravs de duas regras: as clusulas de nao mais favorecidas e do tratamento nacional. Funes da OMC: a) implantar acordos da Rodada Uruguai; b) constituir um foro para as negociaes comerciais entre os Estados-membros; c) administrar o Entendimento- Regras e Procedimentos Relativos s Solues de Controvrsias; d) administrar o Mecanismo de Reviso de Polticas Comerciais. Estrutura da OMC: a) Conferncia Ministerial - rgo mximo da organizao, composta pelos representantes dos Estados-membros, a cada dois anos; b) Conselho Geral - composto por embaixadores das misses permanentes junto organizao que dever se reunir quando apropriado; c) Secretariado - chefiado por um Diretor Geral designado pela Conferncia Ministerial, e vrios vice-diretores assessorados por um corpo tcnico, com responsabilidades institucionais;
Universitas - Relaes Int., Braslia, v. 2, n.2, p. 109-125, jul./dez. 2004
117
d) diversos rgos - soluo de controvrsias, reviso de poltica comercial; e) conselhos para bens, servios e propriedade intelectual; f) diversos comits - subordinados aos conselhos, cerca de 30.
Conferncia Ministerial
Conselho Geral
Corpo Apelativo
Diretor Geral
Secretariado
O Processo de Tomada de Decises A OMC toma decises por consenso, isto , quando nenhum pas membro se ope formalmente a uma deciso. Se o consenso no possvel, a deciso tomada por maioria, em votao na qual cada pas ter um voto. O acordo adota maiorias qualificadas para a tomada de decises nos seguintes casos:
Universitas - Relaes Int., Braslia, v. 2, n.2, p. 109-125, jul./dez. 2004
118
A interpretao das disposies de qualquer dos acordos requer maioria de trs quartos (Acordo sobre a OMC, Artigo IX, 2). As emendas, em geral, requerem maioria de dois teros. Isso, no obstante, as modificaes do Acordo sobre a OMC, Artigo X, 1, 2. As disposies do GATT de 1994, do GATS e do Acordo de TRIPS relativas ao tratamento NMF (Tratamento da nao mais favorecida) apenas surtiro efeito quando aceitas por todos os membros. As solicitaes de iseno temporria apresentada por pas membro a respeito das obrigaes impostas pela OMC requerem, para sua aceitao, de maioria de trs quartos (Acordo sobre a OMC, Artigo IX, 2).
Sobre os mecanismos de soluo de controvrsias a Organizao somente entra em ao mediante a solicitao de um ou mais Estados-membros, aps fracasso de entendimentos bilaterais (Consultas Bilaterais). O Conselho Geral administra o sistema de disputas comerciais, funcionado como um rgo de Soluo de Controvrsias, que tem a autoridade para estabelecer painis;
119
(os chamados cdigos), dado que muitas das regras no forma subscritas por todos os pases. OMC: uma organizao permanente, com personalidade jurdica prpria, os compromissos sob seus auspcios so absolutos e permanentes, e o seu sistema de soluo de controvrsias mais efetivo e menos sujeito a bloqueios. Os signatrios dos acordos do Gatt eram chamados de membros. As normas da OMC cobrem comrcio de bens, servios, propriedade intelectual. J na OMC os acordos so praticamente todos multilaterais, ou seja, subscritos integralmente pelos membros.[Rgo, 1996, p.12]
120
De acordo com a primeira clausula, os membros esto obrigados a conceder aos produtos dos demais membros um tratamento no menos faturvel do que aquele que dispensam aos produtos de qualquer outro pas. Assim, se for de 3% a menor tarifa de importao cobrada de um determinado produto por membro, o mesmo tratamento deve ser aplicado imediata e incondicional mente s importaes desse bem originrias de todos os membros da OMC. A clusula da nao mais favorecida til, sobretudo para os pases com menor poder de barganha nas negociaes internacionais, que automaticamente se beneficiam das redues tarifrias negociadas bilateralmente por grandes produtores e importadores, ao mesmo tempo em que lhes d alguma garantia de que no sero alvos preferenciais de medidas protecionistas durante perodos de desacelerao econmica ou de perda de competitividade das indstrias dos pases desenvolvidos. Na prtica, no entanto, os pases em desenvolvimento terminaram sendo os mais atingidos pelas polticas protecionistas adotadas pelos desenvolvidos a partir do final da dcada de 70. H, porm, algumas excees clusula da nao mais favorecida, relacionadas, sobretudo com os acordos de integrao econmica e com as preferncias tarifrias que podem ser concedidas pelos pases desenvolvidos queles em desenvolvimento. [Rgo, 1996, p.13]. A segunda regra estabelece que, aps ingressar em um determinado mercado, o produto importado deve receber um tratamento no menos favorvel do que aquele dispensado ao similar nacional. Ou seja, no pode estar sujeito a impostos ou quaisquer outras restries maiores do que aquela imposta aos bens produzidos internamente. Assim, enquanto a clusula da nao mais favorecida busca evitar a existncia de discriminao entre os diversos pases fornecedores de um determinado produto, a clusula do tratamento nacional procura impedir a discriminao do produto importado em relao aos produtos nacionais.
121
No que se refere ao acordo sobre servios, destaque-se que a concesso de tratamento nacional somente obrigatria para pases que explicitamente assumirem esse compromisso. Disposies quanto ao tratamento no-discriminatrio tambm esto contidas em outros acordos da OMC, com normas de origem, inspeo prvia expedio, medidas de investimentos, relacionadas com o comrcio (Trims) e a aplicao de medidas sanitrias e fitossanitrias. O princpio da reciprocidade complementa a clusula da nao mais favorecida, limitando o incentivo por ela conferido ocorrncia de free-riding. As negociaes realizam-se atravs da troca de concesses em termos de acesso a mercados, e cada negociador procura obter contrapartidas para aquilo que est disposto a oferecer. Na verdade, a reciprocidade que torna possvel a realizao de uma liberalizao mais ampla e o estabelecimento de um cdigo de conduta multilateral. O equilbrio resultante entre direitos e obrigaes vai depender do poder de barganha de cada pas na negociao. [Rgo, 1996, p. 14].
122
esses prazos. Desde 1995, foram compostos mais de 90 painis, cerca de 10 por ano. As Dificuldades que persistem ou se agravaram: custo elevado e maior complexidade dificultam a participao de pases em desenvolvimento (PVD); eficcia da retaliao depende do pas que a aplica; prazos com freqncia descumpridos. O Brasil e o Mecanismo de Soluo de Controvrsias da OMC. O Brasil o PVD que mais participou em contenciosos: cerca de 35 disputas, a maior parte como demandante (nem todas chegaram a painel) . De acordo com o Ministrio das Relaes Exteriores, at dezembro de 2003, o Brasil obteve ganho de causa na grande maioria dos casos; no atual processo de reviso do sistema, o Pas defende: preservao e ampliao das clusulas de tratamento especial e diferenciado e ope-se a qualquer modificao que dificulte o acesso dos PEDs; procedimento acelerado para julgar medidas condenadas em disputa anterior; na fase de implementao das decises, compensao, que fomenta o comrcio, em lugar de retaliao, que o restringe.
Consideraes Finais
A lgica das regras multilaterais de comrcio ainda basicamente determinada pelos Estados-Nacionais, enquanto que a lgica da produo e do comrcio mundial est cada vs mais acima das nacionalidades. Cabe destacar que o sistema multilateral de comrcio, no longo prazo, o mais adequado para reduzir a pobreza e a criao de empregos. Deve-se considerar, tambm, que o sistema comercial em vigor desde a Rodada Uruguai foi, apesar de suas imperfeies, benfico para a maior parte dos pases. De acordo com a OMC, j existem 400 acordos firmados ou em negociao no mundo. O maior problema que grande parte destes
123
acordos exclui pases pobres e, portanto, so prejudiciais ao comrcio internacional. A opo estratgica pela liberalizao comercial aumentou significativamente os graus de liberdade da ao brasileira nos foros multilaterais e permitiu a participao ativa em processo de integrao. [Abreu e Frisch, 1996, p.56]. A combinao das mudanas radicais em curso na poltica comercial brasileira com as transformaes no sistema multilateral de comrcio impe a necessidade de reavaliao da poltica comercial brasileira. Frente importncia destas transformaes, no surpreendente que resultem propostas de significativa reorientao ou redefinio de posturas tradicionais. [Abreu e Frisch, 1996, p.60]. A opo pela OMC representa na verdade uma conseqncia lgica das opes que o Brasil fez no plano multilateral. De fato, com o declnio da UNCTAD, e posteriormente do GATT, a OMC, se tornou o nico frum real para discutir comrcio ou nas expresses utilizadas em Genebra o nico jogo em andamento. A posio do Brasil no GATT/OMC evoluiu de uma posio puramente obstrucionista ou defensiva quando dos preparativos para o lanamento da Rodada Uruguai (1982-1986) at 1988, para uma posio francamente construtiva de apoio ao texto final preparado por Dunkel (Draft Final Act), a partir de 1988 quando h uma mudana na poltica brasileira em relao ao GATT e a futura OMC. [Caldas e Ernst, 2003, p.151] Esse apoio do Brasil ao Acordo Fina, depois modificado principalmente no tema agrcola no implicou, assim como no implica um apoio geral e irrestrito do Brasil ao contedo do texto per se. O apoio do Brasil foi mais ao esforo e ao exerccio de se negociar globalmente uma liberalizao comercial do que um assentimento ao contedo especifico de cada um dos captulos. Como notou um diplomata brasileiro em Genebra, a opo do Brasil era entre um mau acordo ou acordo nenhum, aonde prevaleceria a lei do mais forte. Foi nesse contexto, juntamente com a incapacidade da UNCTAD de gerar qualquer resultado prtico desde o SGP (Sistema Geral de Preferncias) que o Brasil optou pelo GATT.
124
Isso no significa, portanto, que a OMC o rgo preferido pelo Brasil ou que pretenda seguir de forma entusiasmada os resultados da OMC ou de qualquer uma de suas Rodadas. A Rodada Uruguai exemplo disso. Depois de concordar em limitar as suas tarifas a um pico mximo de 35%, o Brasil j aumentou as mesmas em pelo menos trs setores: txteis, brinquedos e automveis. Nesse ltimo caso no apenas o Brasil aumentou suas tarifas como criou um verdadeiro regime completamente fora das normas da OMC e est tentando aplica-lo ao MERCOSUL. Dessa forma, o apoio do Brasil OMC, assim como o apoio do Brasil a liberalizao comercial, na melhor das hipteses seletivo ou restrito a falta de opes por algo mais atraente.[Machado e Veiga, 1997, p.33-42]
Referncia Bibliogrfica
ABREU, Marcelo de Paiva; FRITSCH, Winston. Aspectos estratgicos da poltica comercial brasileira. In J.A.G. de Albuquerque (org.), Sessenta Anos de Poltica Externa 1930-1990, volume II, Diplomacia para o Desenvolvimento, Cultura Editores Associados, So Paulo, 1996. LVARES, J., F. Acordos da Rodada Uruguai: uma viso geral. mimeo, 1994. AMARAL Jnior, Alberto. A OMC e o comrcio internacional. So Paulo: Edies Aduaneiras, 2002. CALDAS, Ricardo, ERNST, Christoph. ALCA,APEC,NAFTA e Unio Europia.Rio de Janeiro: Lmen Jris.2003. HOEKMAN,B., KOSTECKI, M. The political economy of the world trading system: from Gatt to WTO. Oxford: Oxford University Press, 1995. KRUGMAN, P., OBSTFELD,M. International economics: theory and policy. New York: Harpers Collins College Publishers, Third Edition, 1994. MACHADO, Joo Bosco & VEIGA, Pedro da Motta. A ALCA e a Estratgia Negociadora Brasileria. In Revista Brasileira de Comrcio Exterior, n. 51, Estudos FUNCEX, Abril Junho. 1997.
125
NAKABA, Minoru. OMC e o Regionalismo.So Paulo: Edies Aduaneiras, 2002. RGO. Elba Cristina Lima. Textos para Discusso 51. Rio de Janeiro: BNDES, 1996. Sistema BNDES. Sinopse Internacional, n. 5. Rio de Janeiro, 1994. THORSTENSEN, Vera. OMC - Organizao Mundial do Comrcio: as regras do comrcio internacional e a rodada do milnio. So Paulo: Edies Aduaneiras, 1999.