Como Podemos Pensar - Vannevar Bush

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Ps-Graduao em Cincia da Informao e Documentao ECA/USP 1 sem.

/2004

TEXTO ORIGINAL
BUSH, V. As we may think. Atlantic Monthly, v.176, 1, p.101-108, 1945. Disponvel em: <http://www.theatlantic.com/unbound/flashbks/computer/bushf.htm> . Acesso em: 28 fev. 2004.

TRADUO LIVRE DE FBIO MASCARENHAS E SILVA


Como podemos pensar Como diretor do Office of Scientific Research and Development, o Dr. Vannevar Bush coordenou as atividades de cerca de seis mil cientistas americanos conduzindo a aplicao da cincia na guerra. E, embora o combate tenha terminado, ele mantm neste importante artigo, um incentivo aos cientistas. Ele espera que os cientistas devam se voltar para a difcil tarefa de tornar acessvel nosso emaranhado estoque de conhecimento. Durante anos as invenes ampliaram o poder fsico do homem, melhor do que os poderes de sua mente. Martelos que multiplicam os punhos, microscpios que aguam os olhos, e mecanismos de destruio e deteco so conseqncias, mas no os fins, da cincia moderna. Agora, diz o Dr. Bush, os instrumentos esto em nossas mos, os quais, se corretamente desenvolvidos, tornaro acessveis o conhecimento herdado de eras. O aperfeioamento destes instrumentos pacficos deve ser o primeiro objetivo de nossos cientistas enquanto emergem de seu trabalho blico. Como o famoso discurso The American Scholar" proferido por Emerson em 1837, este artigo do Dr. Bush clama para uma nova relao entre o pensamento humano e a totalidade de nosso conhecimento.- O EDITOR

certamente continuaram suas pesquisas em seus habituais e pacficos laboratrios, pois seus objetivos continuaram sendo os mesmos. Os fsicos que tiveram que se expor mais incisivamente, que sofreram perseguies acadmicas por estarem criando notveis dispositivos destrutivos, que planejaram novos mtodos para suas inesperadas atribuies. Contriburam nos dispositivos que foraram o inimigo a recuar, trabalhando em esforos conjuntos com os fsicos dos nossos aliados. Sentiram dentro de si a agitao de um feito herico. Foram parte de uma grande equipe. Agora, que a paz se aproxima, se perguntam sobre onde encontraro objetivos dignos de suas potencialidades. Qual o benefcio permanente da cincia que o homem tem feito uso, e das novas ferramentas, que pesquisa influenciou a sua existncia? Primeiramente, aumentou o controle de seu ambiente material, melhorando seu alimento, sua roupa, seu abrigo; aumentou sua segurana, liberando-o em parte da dependncia de uma vida exposta. Aumentou o conhecimento de seus prprios processos biolgicos de modo que se livrou de algumas doenas e prolongou sua existncia. E est progredindo a interao entre suas funes fisiolgicas e psicolgicas, dando esperanas de melhorias na sade mental A cincia proveu a comunicao mais rpida entre indivduos; proporcionou o registro do seu pensamento e permitiu ao homem manipular e utilizar esses registros de modo que o conhecimento evolusse e preservasse a vida de uma

Esta no foi uma guerra de cientistas; foi uma guerra em que todos tiveram uma participao. Os cientistas, abandonando suas velhas rivalidades profissionais em pr de uma causa comum, compartilharam muito e aprenderam bastante. Foi divertido trabalhar numa parceria eficaz. Agora, para muitos, isto parece estar se aproximando do fim. O que os cientistas iro fazer a partir de agora? Para os bilogos, e particularmente para os mdicos, pode haver uma certa indeciso, em razo da guerra ter duramente requerido-os abandonar suas antigas linhas de pensamento. Muitos

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raa melhor individualmente.

coletivamente

do

H um crescimento no volume de pesquisa, entretanto isto a evidencia ainda mais que estamos nos especializando. O pesquisador influenciado pelas descobertas e concluses de milhares de outros trabalhos concluses ao quais ele no consegue encontrar tempo para utilizar, muito menos para lembrar onde esto disponveis. Contudo, a especializao torna-se cada vez mais imprescindvel para o progresso, e o esforo para construir pontes entre disciplinas proporcionalmente superficial. Profissionalmente, nossos mtodos de transmisso e reviso dos resultados de pesquisa so antigas heranas, que agora esto totalmente inadequadas para tais fins. Se o tempo desperdiado na redao e leitura de trabalhos escolares pudesse ser avaliado, a proporo entre estes dois pode surpreender. Aqueles que conscientemente, pela leitura afim e contnua, se esforam para se manterem atualizados em sua especialidade, evitam avaliar a fundo o grau de esforo que poderia ser reduzido. O conceito das leis genticas de Mendel ficou perdido no mundo por toda uma gerao, porque sua publicao no alcanou os poucos que seriam capazes de assimila-la e melhora-la; e este tipo de catstrofe est se repetindo indubitavelmente com todos, enquanto os resultados verdadeiramente significativos ficam perdidos entre os irrelevantes. A dificuldade parece ser nem tanto aquilo que publicamos indevidamente sobre a amplitude e diversidade dos interesses atuais, porm, o crescimento das publicaes alm da nossa habilidade de fazer um uso eficaz destas. O acmulo da experincia humana est se expandindo em uma taxa extraordinria, e forma que adotamos para usar este emaranhado de informaes o mesmo usado na poca das embarcaes de velas quadradas. Mas h sinais de uma nova e poderosa mudana a este respeito: as clulas

fotoeltricas, capazes de enxergar coisas a partir de uma percepo fsica; a fotografia avanada, que pode gravar o que visvel ou no; vlvulas, capazes de controlar potentes mecanismos usando uma fora menor do que a usada por um mosquito para bater suas asas; tubos de raios catdicos, executando eventos, que, se compararmos, um microssegundo um a infinidade de tempo; combinaes de rel, que realizam seqncias complexas de maneira mais segura e rpida do que qualquer operador humano. Estes so vrios auxlios mecnicos que repercutiro na transformao dos registros cientficos. Dois sculos atrs, Leibnitz inventou uma mquina de calcular que incorporava a maioria das caractersticas dos atuais dispositivos com teclados, mas no tinha como utiliza-la. A conjuntura econmica era desfavorvel pois o trabalho requerido para constru-la, numa poca anterior a produo em massa, extrapolava o retorno da sua utilidade, j que tudo que ela faria poderia ser suficientemente feito usando somente o lpis e o papel. Alm disso, estaria sujeito a freqentes avarias, de tal maneira que no seria possvel depender dela. Neste perodo e mesmo depois, complexidade e insegurana eram sinnimos. Babbage, mesmo com generoso apoio para a poca, no conseguiu produzir sua grande mquina aritmtica. Sua idia era bem interessante, mas os custos da construo e de manuteno eram altos demais. Se um fara detalhasse e explicitasse o projeto de um automvel, e o concretizasse, usando todos os recursos de seu reino para produzir as milhares de peas, esse quebraria na primeira viagem a Giza. As mquinas com componentes permutveis podem agora ser construdas com um esforo bem menor. E apesar de toda a complexidade, elas funcionam de forma confivel. Veja uma mquina de escrever simples, ou a cmera cinematogrfica, ou o automvel. As conexes eltricas deixaram de falhar quando foram entendidas a fundo. o

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caso da central telefnica automtica, com milhares de conexes, e ainda sim funcionam com segurana. Um fio de metal, dentro de um frgil recipiente de vidro, aquecido e incandescente, ou seja, as vlvulas de um rdio, so distribudas em milhes de quantidades, e quando conectadas em sockets como trabalham! Suas delicadas partes, o posicionamento e alinhamento precisos envolvidos na sua fabricao, ocupariam o tempo de um arteso por meses; e hoje se fabrica por trinta centavos cada. O mundo chegou na era dos dispositivos complexos baratos de grande confiabilidade; e algo est por vir atravs disto.

operar seu obturador e deslocar sua pelcula ser acionada simultaneamente quando a pelcula for introduzida. Isso produzir resultados em todas as cores. Ela poder ser estereoscopica, e registrar as imagens com duas lentes de vidro separadas, porque os impressionantes progressos na tcnica estereoscopica esto em todos os lugares. O cabo que aciona o seu obturador pode chegar a quem maneja a cmera atravs de uma luva que estar ao alcance fcil de seus dedos. Um aperto rpido, e o retrato feito. A lente ter um quadrado de linhas finas desenhados no canto superior. Quando um objeto estiver alinhado, estar enquadrado para ser fotografado. Ento, enquanto o cientista do futuro se move no laboratrio ou no campo de pesquisa, e cada vez que observar algo digno do registro, dispara o obturador e ouvir um clique. Tudo isto fantstico? A nica coisa fantstica a idia de fazer tantos retratos quanto achar interessante. Haver uma fotografia seco? Atualmente existem dois tipos. Quando Brady fez retratos da guerra civil, a placa tinha que estar molhada no momento da exposio. Atualmente deve estar molhada durante a revelao, e no futuro, talvez, no necessite estar molhada em nenhuma fase. Durante muito tempo existiram pelculas impregnadas com tinturas diazicas que produziam uma fotografia sem precisar da revelao, e a imagem ficava pronta logo aps a cmera ser acionada. Uma exposio ao gs amnico destri a tintura no exposta, e o retrato pode ento ser exposto luz e conseqentemente examinado. O processo atual lento, mas algum pode acelera-lo no futuro, pois h cientistas que se entretero com as pesquisas a respeito de materiais fotogrficos. Em muitos casos seria bem interessante poder usar a cmera e ver imediatamente o retrato. Um outro processo usual tambm lento, e mais ou mais menos desajeitado. Por cinqenta anos foram usados papis impregnados de substncias qumicas

Se um documento importante para a cincia, deve ser preservado, armazenado, e principalmente consultado. Hoje, registramos convencionalmente pela escrita e pela fotografia, em seguida imprimimos; mas tambm gravamos em pelcula, em discos de cera, e em meios magnticos. Ainda que os novos mtodos de gravao no tenham sido lanados, estes atuais esto certamente em fase de transformao e avano. Certamente o progresso da fotografia no est cessando. Lentes e materiais mais estveis, cmeras mais automticas, minuciosos sistemas que permitirem o avano de uma mini cmera, so todos iminentes. Deixe-nos projetar esta tendncia para um lgico, e talvez inevitvel resultado. A cmera do futuro ter na sua parte frontal uma salincia um pouco maior do que uma noz. Tirar fotografia com 3 milmetros quadrados, para ser projetada ou ampliada posteriormente, depois de tudo necessitar somente um dcimo do tamanho atual. A lente de foco universal para qualquer distncia adaptada a olho nu, simplesmente porque seu comprimento focal curto. H uma fotoclula interna na noz, tal qual existe atualmente em qualquer cmera, que se ajusta automaticamente a exposio para uma larga escala de iluminao. Haver uma pelcula na noz para cem exposies, e a mola para

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que escurecem cada ponto onde h contato eltrico, tal mudana qumica se d atravs de um composto do iodo existente no papel. Usava-se para criar os registros um ponteiro que se movia sobre a superfcie do papel produzindo traos nele. Se o potencial eltrico do ponteiro variasse enquanto se movia, a linha ficaria mais clara ou escura de acordo com o potencial. Este esquema usado na transmisso do fac-smile. O ponteiro desenha sobre a superfcie do papel um conjunto de linhas com pequenos espaos entre elas. Enquanto se move, seu potencial varia conforme a corrente recebida de uma estao distante por meio de fios, e estas variaes reproduzem, atravs de uma clula fotoeltrica, o retrato original. Em cada instante, a tonalidade da linha que est sendo desenhada igualmente feita a partir da tonalidade do original que est sendo lido pela clula fotoeltrica. Assim, quando a fotografia original for totalmente explorada, uma cpia estar pronta para quem estiver recebendo-a. Usando as clulas fotoeltricas similarmente a forma que feita uma fotografia, uma cena qualquer poderia tambm ser representada linha a linha. Este instrumento seria uma cmera, com a caracterstica adicional de tirar fotos a uma grande distncia. O processo seria lento e o retrato pobre em detalhes, entretanto, significaria um outro processo de fotografia seco, em que o retrato estaria pronto instantaneamente. Mas algum muito ousado poderia predizer que tal processo continuar sempre sendo desajeitado, lento, e pobre em detalhe. O equipamento de televiso transmite hoje dezesseis imagens por segundo numa qualidade razovel, envolvendo somente duas diferenas essenciais do processo descrito acima. Primeiro: o registro feito por um feixe mvel de eltrons e no por um ponteiro, em razo do feixe de eltron poder se mover rapidamente atravs do retrato. A outra diferena envolve meramente o uso de uma tela que acende momentaneamente quando tocada pelos

eltrons, diferentemente de um papel ou uma pelcula quimicamente tratada, onde o registro permanente. Esta velocidade necessria na televiso, porque ela precisa transmitir imagens com movimento. Usando a pelcula quimicamente tratada no lugar da tela incandescente, permitindo transmitir uma imagem esttica, teramos uma cmera rpida para fotografia a seco. A pelcula tratada necessitaria ser mais rpida que os modelos atuais, mas provavelmente ser. A maior objeo para este esquema refere-se colocao da pelcula dentro de uma cmara de vcuo, posto que os feixes de eltron comportam-se normalmente somente em um ambiente rarefeito. Esta dificuldade deve ser evitada para que o feixe de eltron, seja posto em um lado de uma divisria, pressionando a pelcula do outro lado, permitindo aos eltrons atravessarem perpendicularmente a sua superfcie, impedindo que se espalhem pelos lados. Tais divisrias, mesmo que estranhas, poderiam certamente ser construdas, e no significam um entrave para o desenvolvimento desta tcnica. Da mesma forma que a fotografia a seco, a microfotografia tem ainda uma grande distncia a percorrer. O esquema bsico de reduzir o tamanho do registro, para examina-lo atravs da projeo, tem grandes chances de ser ignorado. A combinao da projeo tica e da reduo fotogrfica est produzindo j alguns resultados em microfilme para finalidades educativas, e suas potencialidades so altamente sugestivas. Hoje, com o microfilme, as redues so feitas num fator linear de 20 sem que a qualidade da projeo seja prejudicada. Os limites variam conforme a granulosidade da pelcula, a excelncia do sistema tico, e eficincia das fontes de luz utilizadas. E todos estes fatores esto melhorando rapidamente. Suponhamos uma relao linear de 100 para o futuro. Considere a pelcula da mesma espessura que o papel, embora uma pelcula mais fina seja certamente

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vivel. Mesmo nestas circunstncias, haveria um fator total de 10.000 entre o volume do registro ordinrio em forma de livros, e sua rplica do microfilme. Toda a Enciclopdia Britnica poderia ser reduzido ao volume de uma caixa de fsforos. Uma biblioteca de um milho de volumes poderia caber no canto de nossa mesa. Se, desde a inveno dos tipos mveis, a raa humana produziu um acervo total, em forma de revistas, correspondncias, livros, folhetos publicitrios e jornais, equivalente a um bilho de livros, tudo isto comprimido poderia ser carregado em uma caminhonete. A mera compresso, naturalmente, no o bastante; necessitamos no somente registrar e armazenar, mas tambm consult-lo, sobre isto voltarei a comentar adiante. Inclusive a maior biblioteca moderna no consultada de maneira geral, pois somente alguns exploram pequenas pores dela. A compresso importante, principalmente, em relao aos custos. O material para o microfilme da Enciclopdia Britnica custaria um nquel, e poderia ser enviado para qualquer lugar por um centavo. Quanto custaria imprimir um milho de cpias? Para imprimir uma folha de jornal, em grande escala, custa uma pequena frao de um centavo. O material inteiro da Enciclopdia no formulrio reduzido do microfilme caberia em uma folha de 8 por 11 polegadas, e atravs dos mtodos fotogrficos do futuro, a reproduo em grandes quantidades provavelmente custaria algo em torno de um centavo a unidade, com exceo dos custos materiais. E a confeco da cpia original? Isso introduz o assunto seguinte.

estgio do procedimento, deixar de escrever a mo ou mquina para narrar diretamente para o registro? Hoje possvel fazer de forma indireta, falando a uma taquigrafa ou a um cilindro de cera; mas j existem todos os elementos para, se quiser, conseguir que suas falas sejam gravadas em um tape. E tudo que se precisa utilizar os mecanismos j existentes e alterar sua linguagem. Em uma recente exposio Internacional, se apresentava uma mquina denominada VODER. Uma senhorita apertava as teclas do equipamento, e este emitia palavras audveis e reconhecveis. Em nenhum momento as cordas vocais humanas entravam em ao, pois as teclas combinavam vibraes de origem eltrica, que passavam posteriormente para um alto-falante. Nos laboratrios Bell h uma mquina que faz o contrrio do VODER, chamada VOCODER, na qual o alto-falante substitudo por um microfone que capta o som. Ao se falar no microfone, observa-se as correspondentes teclas se mexendo. Isto poderia constituir um dos elementos do sistema que estamos postulando. O outro elemento seria o taqugrafo, que de certo modo um dispositivo que podemos encontrar, geralmente, em certos encontros pblicos nos quais uma senhorita aperta languidamente algumas teclas observando ao redor da sala ou algumas vezes o orador com um ar inquietante. Do taqugrafo vai surgindo uma tira larga de material que reflete, numa linguagem fontica simplificada, tudo o que supostamente o orador falou durante a sua interveno. Esta tira de informao h de ser posteriormente reescrita em linguagem ordinria, j que em sua forma original no est inteligvel a leigos. Se combinarmos os dois elementos anteriores, fazendo o VACODER operar o taqugrafo, teremos como resultado uma mquina capaz de escrever medida que se fala. Nossas linguagens atuais no esto adaptadas a este tipo de mecanismo. estranho que os inventores no tenham concebido a idia de criar uma linguagem

Para registrar usamos o mtodo de exercer presso com um lpis ou apertar as teclas de uma mquina de escrever. Posteriormente se d o processo de compilao e correo, seguido de um intrincado processo de composio tipogrfica, impresso e distribuio. O autor do futuro, em relao ao primeiro

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universal que se adapte melhor a transmisso e a gravao de nossas falas. A mecanizao poderia, sem dvida, forar sua criao, em especial no campo dos estudos cientficos, no qual o jargo cientfico se converteria em algo menos inteligvel para um leigo no assunto. Podemos criar j uma imagem mental do investigador do futuro trabalhando em seu laboratrio. Suas mos sero livres e ele no estar preso a um local fixo, podendo se locomover em seu espao de trabalho levando consigo suas observaes, e tirando fotografias e anotando comentrios. O tempo automaticamente registrado em ambos. Se ele estiver em campo, pode manter-se conectado ao seu gravador atravs de ondas de rdio. Assim, ao revisar posteriormente suas anotaes, o gravador poderia registrar tambm seus comentrios para inclui-los no arquivo do projeto. Esta gravao estaria junto com as fotografias tiradas na pesquisa e poderiam ser miniaturizadas para serem examinadas posteriormente por meio de uma projeo. Muitas coisas acontecero, sem dvida, entre o processo de coleta e observao de dados, extraes de material do registro existente e insero final do novo material a um arquivo comum. No existe nenhum substituto mecnico para o pensamento criativo; o pensamento criativo e o pensamento repetitivo so bem diferentes, e para este ltimo podem existir poderosos auxlios mecnicos. Somar uma coluna de nmeros constitui um processo relacionado ao pensamento repetitivo, e h muito tempo que j se desenvolveram mquinas para este fim. certo que a mquina est controlada, certas vezes, por um teclado, e torna-se necessrio um certo tempo de processamento para ler os nmeros e mostrar as teclas correspondentes, mas isto imprescindvel, pois j h mquinas capazes de ler sries de cifras impressas atravs de clulas fotoeltricas. Nestas mquinas se combinam as aes das clulas fotoeltricas que exploram o texto impresso, a ao de circuitos eltricos

que classificam as variaes eltricas resultantes, e a ao dos circuitos de reles que interpretam o resultado para que a ao dos solenides pressione a tecla correspondente a quantidade lida. Todas estas complicaes decorrem principalmente da rudimentar forma que aprendemos a escrever os nmeros. Se os registrssemos de maneira posicional, simplesmente mediante a disposio de um conjunto de pontos em um carto, os mecanismos automticos de leitura seriam comparativamente mais simples. De fato, se os pontos fossem perfurados, poderamos utilizar as mquinas base de cartes perfurados que a Hollerith criou para a contagem do censo, sendo atualmente bastante usada no comrcio. Alguns tipos de negcio mais complexos podem funcionar duramente sem estas mquinas. A soma somente um tipo de operao. Sem dvida, a computao aritmtica auxilia outras operaes, como subtrao, multiplicao e diviso, alm de certos mtodos para armazenar temporariamente os resultados, para recupera-los a fim de manipula-los e para apresentar os resultados finais em forma impressa. As mquinas que cumprem tal finalidade so, hoje em dia, de dois tipos: mquinas de teclado para contabilidade e similares, onde se controla manualmente a introduo de dados e automaticamente seu funcionamento, geralmente, leva em considerao o tipo de operao a realizar; e as mquinas baseadas em cartes perfurados, as quais as distintas operaes so encomendadas a uma srie de mquinas diferentes que trocam fisicamente os cartes. Ambas so de grande utilidade mas, se considerarmos a necessidade de processos computacionais mais complexos, podemos dizer que ambas se encontram em fase puramente embrionria. O contador eltrico rpido apareceu logo aps os pesquisadores considerarem desejvel a contagem dos raios csmicos. Para este propsito, os prprios fsicos construram aparatos de vlvulas terminicas capazes de contar os

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impulsos eltricos a uma velocidade de 100.000 impulsos por segundo. As mquinas aritmticas do futuro sero de natureza eltrica e funcionaro a uma velocidade 100 vezes superior as atuais ou talvez mais. Alm disso, sero muito mais versteis que as mquinas comerciais de hoje em dia, de modo que poderiam ser adaptadas para abordar uma variedade maior de operaes. Sero controlados por cartes ou pelculas com emulso fotossensvel, selecionaro os dados e os manipularo segundo as instrues pr-estabelecidas, faro complexos clculos aritmticos a velocidades bem maiores e registraro os resultados, tornando-os facilmente acessveis para distribuio ou posterior manipulao. Tais mquinas tero um enorme objetivo: somente uma ser alimentada pelas instrues inseridas por vrias senhoritas munidas de teclados individuais, e produziro em poucos minutos vrias horas de resultados impressos. Sempre haver muitas coisas para calcular nos assuntos especializados das pessoas dedicadas a complexas tarefas.

pois os usurios de mtodos de manipulao de dados representam uma pequena parcela da populao. H mquinas capazes de resolver equaes diferenciais, assim como equaes funcionais e integrais. Tambm h numerosas mquinas especiais como o sintetizador harmnico que prediz as mars. No futuro haver outras que inicialmente sero poucas e estaro nas mos dos cientistas. Se a racionalidade cientfica se reduzisse aos processos lgicos da aritmtica, no iramos muito longe em nosso conhecimento do mundo fsico. como se tentssemos explicar o jogo de Poker usando somente a matemtica da probabilidade. necessrio levar em considerao, que o baco, em seus clculos feitos em fios paralelos, permitiu aos rabes formular a numerao posicional e o conceito de zero, sculos antes que o resto do mundo, e foi uma ferramenta muito til, tanto , que a utilizamos at hoje. H uma longa distncia entre o baco e a mquina calculadora com teclado, e existir um grande espao entre estas e as mquinas aritmticas do futuro. Mas no se espera que estas mquinas conduzam o cientista ao ponto que precisa chegar. Se almejamos que o crebro fique livre para abordar tarefas muito mais importantes que a mera transformao repetitiva dos dados, segundo regras pr-estabelecidas, deve-se confiar a estas mquinas o rduo trabalho que a complexa e detalhada manipulao matemtica de dados requer. Um matemtico no somente uma pessoa capaz de manipular nmeros comumente ele no . Tampouco ele se limita s transformaes de equaes utilizando o clculo infinitesimal. O matemtico , fundamentalmente, uma pessoa familiarizada com o uso da lgica simblica a um nvel muito elevado, e em especial, algum que possui um juzo intuitivo sobre a escolha dos processos de manipulao a utilizar. Todos os outros, ele deveria poder delegar as suas mquinas aritmticas com a

Os processos repetitivos de pensamento no se encontram confinados a questes meramente aritmticas ou estatsticas. De fato, cada vez que combinamos e registramos segundo certos processos lgicos estabelecidos, o aspecto criativo do pensamento entra em jogo unicamente na seleo dos dados e no processo a ser utilizado, a manipulao posterior de natureza repetitiva e suscetvel de ser feito por uma mquina. No se tem trabalhado tanto como deveria ter sido alm dos limites da aritmtica, devido, fundamentalmente, a razes econmicas. As necessidades das empresas e o amplo mercado que as esperava, asseguraram a chegada de mquinas aritmticas fabricadas em grande escala, assim, os mtodos de produo avanaram neste setor. Com as mquinas para anlises mais avanadas no ocorreu o mesmo. Para elas, nunca existiu um grande mercado,

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mesma confiana com que utiliza o motor de seu carro. Somente assim, sero efetivas as matemticas na aplicao do crescente conhecimento da fsica atmica soluo de problemas procedentes dos terrenos da qumica, metalurgia ou biologia. Por isso, ainda esto por vir mquinas que permitam aos cientistas manejar questes matemticas avanadas. Algumas destas mquinas sero suficientemente esquisitas para adequar-se ao mais enfadonhos especialista dos atuais artefatos de nossa civilizao.

que empregam um simbolismo que surgiu do nada e que resulta pouqussimo coerente, algo verdadeiramente estranho em um campo freqentemente muito mais lgico. Um novo simbolismo, provavelmente posicional, deveria preceder, aparentemente, a reduo das transformaes matemticas a processos mecnicos. Portanto, a aplicao da lgica aos assuntos cotidianos, vai alm da restrita lgica das matemticas. No futuro, poderemos extrair argumentos de uma mquina com a mesma facilidade com a que hoje em dia introduzimos as vendas numa caixa registradora. Uma mquina de lgica no ter o mesmo aspecto que tem as caixas registradoras atuais, e nem mesmo o formato das modernas mquinas. O mesmo ocorre com a manipulao das idias e seu registro em um documento. Neste aspecto podemos afirmar que as coisas tm piorado com o tempo, pois somos capazes de continuar ampliando a produo de documentos mas no de consulta-los. Uma consulta importante no se limita, certamente, a mera extrao de dados para investigao cientfica, mas ao que est relacionado ao processo ao qual o ser humano faz uso dos conhecimentos herdados. A ao de maior importncia a seleo, e nos deteremos nela mais adiante. possvel existir milhes de pensamentos importantes (e tambm a soma das experincias em que eles se basearam) depositados em muros de pedra das formas arquitetnicas aceitveis, mas se um estudioso faz assduas buscas, no acessar mais do que um deles por semana, e provavelmente sua sntese no estar a altura das exigncias de sua poca. A seleo, no sentido mais amplo, como um machado na mo de um carpinteiro. Contudo, num sentido mais restrito e em outras reas, algo j feito mecanicamente. Assim, o pessoal administrativo de uma empresa pode colocar num interior de uma mquina de seleo, milhares de cartes perfurados

O cientista no a nica pessoa que manipula dados e examina o mundo que o rodeia utilizando processos lgicos. Mas, genericamente, este termo usado para qualquer um que possa ser considerado como uma pessoa lgica, o que equivaleria a elevar um lder sindical britnico a categoria de cavaleiro. Em todos os momentos em que se utilizem os processos lgicos de pensamento, ou seja, sempre que o pensamento discorre por um caminho aceito, existe uma oportunidade para a mquina. A lgica formal pretendia ser um bom instrumento para o professor que buscava educar as almas de seus alunos. Atualmente, possvel construir uma mquina capaz de manipular premissas segundo uma lgica formal mediante o uso de circuitos de reles. Introduzindo um conjunto de premissas em um dispositivo e acionando manivelas, este pode extrair uma concluso atrs da outra. Todas elas estariam de acordo com as leis da lgica, e no errariam mais do que uma mquina calculadora convencional. A lgica pode se transformar em algo enormemente difcil, pois poderia ser importante aumentar o nvel de segurana em seu uso. As mquinas para a anlise de alto nvel tem sido aquelas capazes de resolver equaes e, portanto, de realizar a relao expressa em uma equao segundo uma lgica restrita e bastante avanada. O progresso inibido pela excessiva forma tosca em que as matemticas expressam tais relaes, j

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que contenham dados dos empregados, estabelecendo um cdigo convencionado, e rapidamente, poder receber uma lista de todos os empregados que, por exemplo, vivem em Trenton e falam espanhol. Mesmo estes recursos seriam lentos na hora de encontrar impresses digitais em arquivo com cinco milhes delas. Tais dispositivos de seleo tero a velocidade de reviso de dados aumentada, que atualmente de algumas centenas por minuto. Com o uso de microfilmes e clulas fotoeltricas, esta velocidade chegar a alcanar mil fichas por segundo, e obter uma cpia impressa dos elementos selecionados. Este processo, entretanto, uma seleo simples: examina individualmente os elementos de uma ampla coleo e escolhe aqueles que cumprem as caractersticas anteriormente especificadas. Existe uma forma de seleo que pode ilustrar isto: o sistema telefnico de comutao automtica. Quando um nmero telefnico chamado, a mquina seleciona um, entre milhes de nmeros possveis. Mas, no est considerando todas, e cada uma, das possveis combinaes, pois se detm unicamente subclasse definida pelos primeiros nmeros, para depois, adentrar na subclasse definida pelo segundo dgito, e assim sucessivamente at conectar com o nmero desejado. Este processo dura alguns poucos segundos, ainda que pudesse ser agilizado se houvessem interesses econmicos nisto. Se tal interesse existisse, poder-se-ia substituir os comutadores mecnicos por computadores baseados em vlvulas termoinicas, de tal maneira que o processo de seleo poderia ser feito em um centsimo de segundo. Ainda que no queiram investir o necessrio para esta substituio, a idia aplicvel a qualquer outro ramo. Tomemos por exemplo o prosaico caso das grandes lojas. Cada vez que se realiza uma compra, desencadeada uma srie de processos: o inventrio revisado, o vendedor deve anotar a venda, as contas gerais do estabelecimento devem conter a operao, e o mais importante de tudo,

deve-se cobrar o cliente. Est sendo desenvolvido um dispositivo centralizado que far grande parte destas tarefas, e funciona da seguinte forma: o vendedor coloca num local prprio do sistema o carto que identificar o cliente, tambm os cartes de identificao dele prprio e do produto vendido, todos igualmente perfurados. Ao acionar o sistema, uma srie de contatos eltricos feito atravs dos furos dos cartes que indicam mquina central o tipo de operao que est se realizando, depois impresso o recibo do cliente.

Entretanto, o ponto central da questo da seleo, vai alm do atraso na adoo de mecanismos por parte das bibliotecas, ou da falta de desenvolvimento de dispositivos para a sua utilizao. Nossa incapacidade de acessar um documento provocada pela artificialidade dos sistemas de indexao. Quando se armazenam dados de qualquer classe, eles so postos em ordem alfabtica ou numrica, e a informao pode ser localizada seguindo-se uma trilha atravs de classes e subclasses. A informao est localizada em um nico local, ao menos que existam outros exemplares dela. H certas regras para localiza-la, regras estas que so incmodas e complicadas. E uma vez encontrado um dos elementos, deve-se sair do sistema para tomar um novo rumo. A mente humana no funciona desta forma, ela opera por meio de associaes. Quando um elemento est ao seu alcance, salta instantaneamente para o seguinte, que sugerido pela associao de pensamentos segundo uma intricada rede de atalhos contida nas clulas do crebro. Mas, alguns atalhos, no relacionados comumente, tendem a desaparecer pois os elementos no so permanentes, e a memria, por definio, efmera. Assim, a velocidade de ao, o emaranhado de atalhos, e o detalhe das imagens mentais nos impressionam muito mais do que qualquer outra coisa da natureza.

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O ser humano no pode sonhar em duplicar este processo artificialmente, mas deve ser capaz de aprender com ele, e melhora-lo em alguns pequenos detalhes, posto que os documentos criados pelos seres humanos tem um carter relativamente permanente. A primeira idia que se pode extrair desta analogia est relacionada com a seleo, pois a seleo por associao, e no por indexao, pode ser mecanizada. Certamente no podemos contar com a mesma velocidade e flexibilidade com que so feitas as associaes mentais, mas podemos supera-la, decididamente, em relao permanncia e clareza dos elementos recuperados dos acervos. Consideraremos um dispositivo futuro de uso individual que uma espcie de arquivo e biblioteca privados mecanizados. J que importante um nome, o chamarei de MEMEX. Um MEMEX um dispositivo que permitir a uma pessoa armazenar todos os seus livros, arquivos, e comunicaes, e que mecanizado de tal forma que poder se consultado com grande velocidade e flexibilidade. Na verdade, seria um suplemento ampliado e ntimo de sua memria. O MEMEX consiste de um escritrio, que se bem operado a distncia, constituir primariamente o local de trabalho do utilizador. Na sua parte superior h vrias telas translcidas inclinadas as quais se poder projetar o material a ser consultado. Tambm dispe de um teclado e de um conjunto de botes e alavancas. Seu aspecto se assemelha a qualquer outra mesa de trabalho. Em uma das extremidades est o material de consulta. A questo do volume ser solucionada com a utilizao de um tipo de microfilme parecido com os atuais, porm, sero acrescidos de algumas melhorias, pois somente uma parte do MEMEX ser destinada a armazenagem de material enquanto que o resto ser dedicado ao mecanismo. Alm disso, se o usurio for capaz de introduzir 5.000 folhas de material por dia, precisar de centenas de anos para

esgotar o espao destinado a armazenagem. O usurio ter total liberdade de espao para alimentar o MEMEX com todo o material que for necessrio. A maior parte dos contedos do MEMEX ser obtida em forma de microfilmes prontos para serem guardados. Livros de todo o tipo, imagens, publicaes peridicas, e, dirios, podem ser introduzidos quando quiser. Do mesmo modo, pode-se introduzir correspondncias comerciais ou outra informao de maneira direta. Na parte superior do dispositivo haver uma superfcie transparente sobre a qual sero postas anotaes feitas mo, fotografias, memorandos e outros materiais. Quando cada uma estiver no local apropriado, usando-se as alavancas, ser possvel, grava-las, no espao vazio do microfilme atravs da tcnica da fotografia a seco. Pode-se consultar o documento mediante o esquema tradicional de indexao. Assim, se o usurio deseja consultar um determinado livro, entra com seu cdigo de classificao atravs do teclado e a capa do livro aparece imediatamente na sua frente, projetada em um dos visores. Os cdigos utilizados freqentemente so mnemnicos, bastando ao usurio consultar um guia, disponvel com um simples toque. Alm do que vimos, o MEMEX possui alavancas suplementares. Quando o usurio move um pouco para a direita, pode folhear o livro que est utilizando, pgina por pgina e com velocidade suficiente para que possa llas facilmente. Movendo a alavanca um pouco mais, folheia o livro de dez em dez pginas, e movendo ainda mais um pouco, o livro apresentado de cem em cem pginas. Acionando a mesma alavanca para a esquerda tem-se exatamente o mesmo efeito, porm as pginas so mostradas no sentido inverso, de trs para frente. Um boto especial conduz o usurio at a primeira pgina do ndice. Qualquer livro de sua biblioteca pode ser consultado com muito mais facilidade em

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comparao a uma estante comum. Alm disso, o usurio pode determinar que um livro, mas utilizado por ele, aparea constantemente em um dos visores. Tambm pode inserir comentrios ou notas nas margens, como se fosse um livro fsico, atravs de um sistema de estiletes de forma similar ao teleautografo1 que se pode ver nas salas de espera das estaes de trem.

estivesse mudando as pginas de um livro. como se vrios elementos fsicos fossem reunidos formando um novo livro. Alm disto, cada item poder ser usado para inmeros atalhos. O proprietrio do MEMEX, digamos assim, est interessado nas origens do arco e flecha. Especificamente est pesquisando a razo pela qual os arcos dos turcos, menores que os dos ingleses, demonstrou-se superior durante as Cruzadas. No MEMEX ter a sua disposio dezenas de livros e artigos que poderiam ser teis para sua pesquisa. Inicialmente ele usa uma enciclopdia para encontrar um breve, mais interessante artigo. Depois, nos registro de Histria, ele encontra algo interessante para relacionar com o material encontrado na enciclopdia. E continua criando atalhos com vrios itens. Se na sua pesquisa ficar evidente que as propriedades elsticas dos materiais disponveis na poca das Cruzadas, guardavam uma grande relao com as propriedades dos arcos, cria um link entre os manuais sobre a elasticidade dos materiais, e, as tabelas de fatores fsicos. Posteriormente, acrescenta outras notas para criar o atalho que associa elementos de seu interesse no labirinto de informaes a sua disposio. Os atalhos no se dissolvem. Vrios anos aps, numa conversa entre amigos, surge o assunto a respeito da resistncia das pessoas s inovaes, mesmo aquelas que so vitais. Ele diz que estudou alguns anos atrs um exemplo concreto da resistncia europia aos arcos pequenos dos turcos. De fato ele construiu um atalho. Apertando um conjunto de teclas, projeta o primeiro atalho criado. Move uma alavanca, conforme sua vontade, e cessa quando encontra o que deseja. Este foi um atalho muito interessante para a referida conversa. Ento, ele ativa o modo de reproduo, fotografa todo o atalho percorrido e entrega-o a seu amigo para que este possa, em seu prprio MEMEX, linkar com seus prprios atalhos.

Tudo isto convencional, com exceo da projeo futura que fizemos dos atuais mecanismos e equipamentos. Isto representa um prximo passo para a indexao associativa, cuja idia bsica consiste em possibilitar que cada um dos elementos selecione ou busque um outro elemento automaticamente e imediatamente. Esta a caracterstica essencial do MEMEX; o processo de relacionar dois elementos diferentes entre si o seu ponto forte. Quando o usurio est criando atalhos, ele nomeia-os, inserindo os nomes correspondentes aos seus CODE BOOK, e os busca atravs do teclado. Estes sero projetados em dois visores adjacentes. Abaixo de cada um deles h alguns espaos vazios, e um ponteiro posto para localizar um destes elementos. Apertando uma tecla faz com que os dois elementos sejam definitivamente associados. Em cada espao do cdigo aparece a palavra do cdigo, e, ainda que o usurio no esteja vendo, ser inserido um conjunto de pontos que ser lido por uma clula fotoeltrica e estes indicaro o nmero do ndice do outro. Assim, quando tiver um destes elementos, pode chamar instantaneamente o outro, bastando apertar um boto situado abaixo do espao do cdigo. Quando vrios elementos estiverem associados entre si, podero ser consultados uns aos outros, na velocidade desejada, usando alavancas que funcionaro como se

Antecessor do fax, foi utilizado para enviar mensagens manuscritas a pontos distantes.

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Aparecero formas totalmente novas de enciclopdias, com entrelaados atalhos associativos, prontos para uso no MEMEX e tambm para serem expandidos pelo usurio. O advogado ter ao seu alcance as opinies e sentenas de toda a sua carreira, assim como as de seus amigos e especialistas no assunto. O especialista em patentes ter acesso a milhes de patentes, onde haver feito associaes de acordo com o interesse de sua clientela. O mdico, inseguro com os sintomas do seu paciente, usar o atalho criado quando ele [o mdico] havia estudado um caso similar, e recorrer aos histricos clnicos de seus pacientes, e s referncias clssicas da anatomia e histologia. O qumico, empenhado na sntese de um composto orgnico, ter toda a literatura qumica em seu laboratrio, com atalhos para analogias entre compostos e seus respectivos comportamentos qumicos e fsicos. O historiador, que possui uma vasta histria de um povo, estabelecer paralelos atravs de um atalho referente somente aos elementos mais importantes, podendo seguir a qualquer momento atalhos contemporneos que o conduz atravs de toda uma civilizao. Haver a nova profisso de criador de atalhos, pessoas que tero a tarefa de estabelecer atalhos entre o enorme volume de registros correspondentes. Para os discpulos de qualquer mestre, o legado dele passar a ser no apenas suas contribuies ao acervo mundial, mas tambm as bases que sustentaro seus discpulos. Assim, a cincia pode concretizar os meios em que o homem produz, armazena e consulta o acervo da raa humana. Chamaria mais a ateno se os instrumentos do futuro fossem aqui descritos de maneira diferente desta baseada em instrumentos atuais. Certamente, dificuldades tcnicas de toda ordem foram aqui desconsideradas, mas igualmente foram ignorados os meios at ento desconhecidos que possivelmente iro acelerar o progresso tcnico na mesma intensidade que o advento da vlvula terminica. Para que o exposto

aqui no seja algo banal, por seguir os padres atuais, talvez seja razovel mencionar cada possibilidade, no para profetizar, mas sugerir, pois profecias baseadas no progresso do que j existe algo mais seguro, enquanto que profecias fundamentadas no desconhecido somente um grande chute. Todos os nossos passos para a criao ou absoro material do acervo mundial procede de um dos nossos sentidos o tato quando tocamos as teclas, o oral quando falamos ou escutamos, o visual quando lemos. possvel que algum dia estabeleamos um caminho mais direto? Sabemos que quando os olhos enxergam, toda a informao transmitida ao crebro por meio de vibraes eltricas no canal do nervo tico. Esta uma analogia exata com as vibraes eltricas transmitidas num cabo de televiso: capta a imagem atravs de clulas fotoeltricas e a transmitem at a antena do emissor, que se encarrega de retransmiti-las. Alm disso, sabemos que, se podemos aproximar esses cabos com os instrumentos adequados, no precisamos toca-lo; podemos acelerar estas vibraes por induo eltrica e assim revelar e reproduzir a cena que est sendo transmitida, da mesma forma que uma ligao telefnica feita. Os impulsos que fluem nos nervos do brao de um datilgrafo transportam at seus dedos a informao que chega at seus olhos ou ouvidos, a fim de que os dedos possam apertar a tecla certa. No poderiam essas correntes ser interceptadas, de modo idntico a forma que a informao conduzida ao crebro, ou na admirvel forma metamorfoseada em que ela chega s mos? Atravs do corpo j introduzimos sons nos canais auditivos de surdos e eles podem ouvir. No seria possvel aprender a introduzilos sem o incmodo de, primeiramente, transformar vibraes eltricas em vibraes mecnicas, que posteriormente sero convertidas novamente em vibraes eltricas? Com um par de eletrodos situados no crnio de uma pessoa criamos eletroencefalogramas que

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registram traos que guardam certa relao com os fenmenos eltricos que ocorrem no interior do crebro. Certamente, este registro ininteligvel, exceto quando indicam srias disfunes cerebrais; mas quem se atreveria a estabelecer limites para essas coisas? No outro lado do mundo, toda a forma de inteligncia, quer auditivas ou visuais, foram reduzidas a correntes variveis que usam correntes eltricas para serem transmitidas. No interior do ser humano esse processo ocorre similarmente. Devemos sempre transformar os movimentos eltricos, que queremos passar de um para o outro, em movimentos mecnicos? Este um pensamento sugestivo, mas apenas garantiria prognsticos se os contatos com o real e o imediato no fossem perdidos. Presumivelmente o esprito humano se elevaria se fosse capaz de rever o obscuro passado e analisar mais completamente e objetivamente os problemas atuais. Ele edificou uma civilizao to complexa, que agora precisa mecanizar inteiramente seus registros caso almeje levar a uma concluso lgica seus experimentos, ao invs de meramente bloquear-se por estar sobrecarregando sua limitada memria. Sua vida poderia ser desfrutada melhor se ele pudesse ter o privilgio de esquecer as mltiplas coisas que no necessitasse imediatamente s mos, com a certeza de poder encontra-las quando fosse preciso. As aplicaes da Cincia tm permitido humanidade construir boas moradias, e a viver bem. Mas tambm a habilitou a conduzir muitas pessoas, umas contra as outras, usando armas cruis. Tais aplicaes poderiam permitir tambm abarcar o grande acervo humano e crescer a partir das experincias vividas. Mas um homem pode morrer em um conflito antes de ter aprendido a usar este vasto acervo para seu bem. Entretanto, interromper este processo ou perder a esperana em seus resultados, seria um estgio desafortunado na aplicao da cincia aos desejos e necessidades da humanidade.
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