Arte Brasileira Fase Colonial 2 PDF
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O triunfo da f
Prof. Marcus Tadeu Daniel Ribeiro
Arquitetura, escultura, pintura no Brasil colonial Aps a expulso dos holandeses, volta a supremacia portuguesa sobre o desenvolvimento colonial brasileiro. uma poca em que a arte cresce sob o apogeu da cultura do acar e, em seguida, do incio da explorao do ouro em Minas Gerais. Ela serve de maneira plena ao triunfo da Igreja Catlica no Brasil, produzindo grandes obras de arte, mais ou menos entre meados do sc. XVII at 1763, quando a sede do Vice-reinado transferida para o Rio de Janeiro. Alguns observadores chamam esta etapa de perodo monumental da fase colonial.
Aspectos histricos
Aps a expulso dos holandeses, segue-se uma etapa de pujana econmica para a mais rica colnia portuguesa. O ciclo do acar retomado e a descoberta de grandes jazidas de ouro, no final do sculo XVII, daria um novo rumo economia do Brasil e de Portugal. Cidades como Olinda, Salvador, So Luiz, Parati vo num crescer de desenvolvimento. A arquitetura vernacular adquire a sua personalidade. A arte sacra ganha novo impulso, e edificaes religiosas importantes so erguidas em vrios ncleos populacionais do Brasil. Figura 1 - Relevo do Convento Nesse contexto, surgem edifcios tpicos da administrafranciscano de Nossa Senhora o portuguesa no Brasil, como o caso das casas de dos Anjos (Penedo, AL) cmara e cadeia. dessa poca tambm a assinatura de vrios tratados internacionais (Tratado de Santo Ildefonso, Tratado de Madri), dando conta dos limites da Amrica Portuguesa, to disputados entre Portugal e Espanha. Com isto, diversifica-se e desenvolve-se a arte da construo de fortalezas. A pujana econmica, no entanto, ser o novo elemento identificador da arte deste perodo, que adquirir uma dimenso monumental. Trata-se da fuso entre uma demanda de natureza espiritual, pois que desta fase o momento de maior propaganda dos doutrinadores crisMarcus Tadeu Daniel Ribeiro
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tos, e as condies materiais para que este processo se d de forma inexorvel. As igrejas todo de ouro, bem como a arquitetura franciscana sero um reflexo deste casamento entre os imperativos da f e as convenincias do mundo material.
Os conventos franciscanos
Em sua obra A arquitetura Religiosa Barroca no Brasil, Germain Bazin assinala que, enquanto a arquitetura jesutica reproduz, na colnia portuguesa, os modelos e partidos dos tratadistas europeus, a arquitetura franciscana obtm solues inditas e criativas, constituindo-se numa verdadeira escola de construtores dessa ordem. Especialmente os conventos situados entre Salvador e Joo Pessoa, onde a economia do acar forneceu condies materiais mais efetivas ao desenvolvimento artstico, pode-se encontrar a mais genuna arquitetura barroca de dimenso monumental, com solues autctones.
A exemplo do que ocorreu com os jesutas, os conventos franciscanos esto presentes desde o incio da colonizao, datando de 1585 a fundao, em Olinda, do priMarcus Tadeu Daniel Ribeiro
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meiro convento franciscano no Brasil, em devoo a Nossa Senhora das Neves. A este seguiram-se vrios outros conventos, fundados ao longo de fins dos Quinhentos e principalmente da primeira metade do sculo XVII, mas reconstrudos na segunda metade do sculo XVII.
Cronologia O convento de Salvador fundado em 1587 e remodelado em 1686. Depois veio o de Igarau (Pernambuco), feito em 1588 e reconstrudo numa obra que se iniciaria em 1661 e se estenderia at 1693. O de Joo Pessoa (Paraba) data de 1590, tendo sido reformado no incio do sculo XVIII, j com gosto rococ. O de Vitria (Esprito Santo) de 1591 e o do Rio de Janeiro, de 1606, mesmo ano em que se constri o de Ipojuca (Pernambuco), que ser refeito em 1654. O da Vila de So Francisco, na Bahia, data de 1629 e o de Serinham (Pernambuco) do ano seguinte, o qual ser remodelado em 1654. Em Santos fundado um em 1639. Na Bahia, o de Cairu, que de 1650, ser remodelado a partir de 1654. O de Nossa Senhora da Penha (Esprito Santo) data de 1650 e o de Itanham (So Paulo) de cinco anos depois. Em 1658 funda-se a ordem franciscana em So Cristvo (Sergipe), mas de 1693 o incio efetivo da construo do atual imvel que l se encontra. Em Penedo e em Marechal Deodoro (Alagoas) a ordem se estabelece em 1660, sendo de 1682 o incio da construo do cenbio* de Penedo e, de 1684, o de Marechal Deodoro.
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A reconstruo que se verifica especialmente nos conventos nordestinos se deve pilhagem e destruio das ordens pelos holandeses entre 1624 e 1654. Praticamente nenhuma igreja nem cenbio hoje existente mantm as suas caractersticas daquela primeira etapa, sendo todos os conventos reconstrudos aps a expulso dos holandeses. Portanto, os conventos atuais constituem uma arquitetura j plenamente barroca, com caractersticas diferentes daquelas que os holandeses encontraram quando aqui chegaram.
Figura 4 - Teto da nave da igreja do Convento de Nossa Senhora das Neves, em Olinda (PE)
Sob o ponto de vista sociolgico, os conventos franciscanos, bem assim a ordem terceira a eles relacionada, encontram-se ligadas aos setores hegemnicos da sociedade, dispondo, portanto de recursos materiais para desenvolver um trabalho artstico refinado e de bom gosto.
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Caractersticas Frontispcio* D-se o nome de frontispcio ou frontaria* fachada principal de um edifcio, seja ele religioso ou no. Observe-se a fachada do Convento de Nossa Senhora das Neves, que apresenta traos muito peculiares, existentes em praticamente todos os edifcios religiosos dessa ordem. A presena da galil*, cuja portada encimada por arcos plenos, uma constante nos conventos franciscanos. Notam-se tambm janelas no coro de cima*, arrematadas por sobrevergas* adornadas ao gosto barroco. Esta parte da fachada costuma ser enFigura 5 - Convento de So Crisquadrada por duas aletas* curvilneas, que ajudam a tvo (SE) conferir o gosto gracioso da arquitetura barroca. O fronto superior igualmente curvilneo, em cujo tmpano* v-se um nicho*, onde figura uma imagem de Nossa Senhora1. Os pinculos*, com seu aspecto pontiagudo, encontram-se espalhados em meio parte mais alta do edifcio e ajudam a conferir um gosto adorno das solues barrocas. O frontispcio do Convento de Nossa Senhora dos Anjos (Penedo, AL) no possui pinculos e o tmpano do fronto tem um relevo da ordem.
comum encontrar-se tambm nos tmpanos barrocos um pequeno culo*, que pode ser circular ou polilobado e se destina a facilitar a ventilao do templo.
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Duas tipologias marcam os frontispcios dos conventos franciscanos: a de Ipojuca, que seguida pelos conventos de Olinda (PE), Penedo (AL), So Cristvo (SE) e Marechal Deodoro (AL), e a de Cairu, que imitada por outros conventos, como o de Joo Pessoa, Igarau, Santo Antnio de Paraguau (PE). Enquanto os conventos da tipologia Ipojuca se caracterizam por um fronto curvilneo e adornos que conferem um tom barroco a uma estrutura clssica, os conventos da tipologia Cairu caracterizam-se pelo frontispcio piramidal, com a ampliao da galil e a diminuio do frontispcio, como no convento de Sto. Antnio de Joo Pessoa. Uma torre sineira recuada Uma outra caracterstica muito presente nos edifcios da ordem franciscana a presena de apenas uma torre sineira*, o que confere Figura 7 - Frontispcio do Con- um idia de dinamismo fachada, onde prepondera 2 vento de Santo Antnio (Joo uma diagonal compositiva. Normalmente a torre sineiPessoa, PB) ra encontra-se deslocada do plano da fachada principal, como se pode ver no Convento de Nossa Senhora dos Anjos, situado em Penedo, que aparece no extremo esquerdo da fotografia, arrematada por um coruchu* piramidal. 3 O frontispcio do convento de Joo Pessoa tambm apresenta a torre sineira recuada. Mirante Na extrema direita da fotografia do Convento de Nossa Senhora dos Anjos v-se um pequeno torreo, que se projeta para cima a uma altura equivalente a um andar acima do cenbio, que um lugar onde os frades franciscanos ficavam, a contemplar a obra do Criador. Sendo uma ordem contemplativa, o mirante tinha importncia crucial para os franciscanos. Chamin da cozinha Em alguns conventos franciscanos pode-se perceber uma chamin monumental usada pelos frades para preparar seus alimentos, bem como aqueles outros feitos para suas obras sociais. No convento de Nossa Senhora dos Anjos a chamin aparece de forma bastante ntida frente da fachada. Cruzeiro monumental localizado no adro* Todo convento franciscano possui, sua frente, um adro amplo, que um espao de transio entre o espao urbano e a clausura, podendo ser compreendido, como observou Benedito Lima de Toledo, como um espao de transio entre o mundano e o sagrado4. Dali, concentravam-se as pessoas para sair em procisso nos dias
O Convento de Nossa Senhora das Neves (Olinda, PE) apresenta uma nica torre sineira, que se encontra deslocada do pano da fachada, estando sua visibilidade nesta foto encoberta pelo fronto curvilneo da fachada. Os coruchus piramidais so caractersticos da fase anterior, quando preponderaram as solues maneiristas, austeras por excelncia. TOLEDO, Benedito Lima de. Do sculo XVI ao incio do sculo XIX. In: ZANINI, Walter. Histria Geral da Arte no Brasil. So Paulo: Instituto Walter Moreira Salles, 1983. p. 140, v. 1
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santos. Nesse adro, h sempre uma grande cruz erguida sobre um embasamento largo (soco), a que se d por nome cruzeiro. Em Penedo v-se um cruzeiro pequeno, por no ser mais o original, que se perdeu nas mos de um prefeito anticlerical, que o substituiu por figuras mitolgicas nuas.5 Trabalhos de restaurao recentes restituram o cruzeiro ao local. Obra de talha rica Dadas as suas vinculaes com os segmentos mais ricos da sociedade, a obra de talha que adorna o interior de uma igreja franciscana sempre marcada pelo apuro e, no raro, pela riqueza. Na imagem do interior da Igreja de Nossa Senhora das Graas, do convento franciscano de Olinda, percebe-se esse requinte, com retbulo* adornado com elementos dourados e brancos. A obra de talha do convento de Salvador um eloqente exemplo dessa exuberncia artstica, conforme se poder apreciar mais frente. Tetos pintados com motivos religiosos Os tetos das igrejas franciscanas, seguindo a tradio da pintura barroca, so adornados com pinturas e obras de talha. Em alguns casos, as pinturas apresenta-se divididas em vrios painis. Isso ocorre no Convento de Nossa Senhora das Graas, em Olinda. Em outras, como no Convento de Penedo, a pintura apresenta-se inteiria, com carter ilusionista, que simula um cu em glria que se descortina diante dos olhos dos fiis. Leo Ballet assinala que os tetos barrocos que produzem essa sensao de ilusionismo so representaes tpicas de uma poca histrica marcada pelo poder absolutista. Para esse historiador holands, da mesma forma que o absolutismo a negao de qualquer limite, o teto pintado sobre uma abbada de bero, forjando uma viso mstica e celestial, rejeita tambm as limitaes materiais do espao fsico e se abre diante do olhar do fiel para o infinito para um cu em glria6.
Figura 9 - Andrea del Pozzo. Apoteose a Santo Incio. 168890, Teto da Igreja de Il Ges (Roma).
O exemplo europeu mais relevante de tetos pintados com motivos religiosos e de efeito ilusionista encontrase na Igreja de Il Ges, em Roma, onde trabalhou o Padre Andrea del Pozzo. A Apoteose a Santo Incio uma pintura parietal onde se v uma alegoria retratando os quatro continentes, tendo, ao centro, a figura do santo cercado de anjos. Essa obra serviria de referncia para vrios outros trabalhos que se fariam mundo afora, retratando-se cenas msticas nos tetos de igrejas barrocas.
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BAZIN, Germain. Arquitetura Religiosa Barroca no Brasil. Rio de Janeiro: Record, [1983]. v. 1, p. 151. Cf. LEVY, Hannah. A propsito de trs teorias sobre o Barroco. Revista do Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional. Rio de Janeiro, Ano 5, 1941. p. 259-284
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O frontispcio dessa igreja posterior ta de sua reforma, feita na segunda metade do sculo XVII. Parece tratar-se de uma reformulao levada a efeito de forma tardia em pleno sculo XVIII. O fronto superior, adornado com as volutas, tem no meio um culo* emoldurado por adornos circulares e concntricos, que simulam os raios do sol. O cruzeiro do Convento de Nossa Senhora dos Anjos o menor dentre todos os conventos dessa ordem. Esse convento fica localizado na cidade de Penedo, s margens do Rio So Francisco, bem na divisa entre Sergipe e Alagoas. Y.Z
Figura 10 - Convento de Nossa Senhora dos Anjos (Penedo, AL)
Claustro colado ao corpo da igreja. Os claustros dos conventos franciscanos situam-se normalmente no lado esquerdo da igreja (direito de quem olha para a fachada.) O lado esquerdo tambm chamado de lado da epstola. No claustro, acham-se as celas, a biblioteca, o acesso cozinha e ao refeitrio, bem como ao mirante. Normalmente, os claustros franciscanos, marcados pela herana renascentista, tm uma galeria arqueada, seguindo a ordem toscana (observar o capitel* da coluna* no primeiro plano da fotografia). Lado da epstola e lado do Evangelho. Quando nos referimos ao lado esquerdo e o lado direito de uma igreja, precisamos tomar alguns cuidados. Lado direito da igreja, rigorosamente, aquele que est esquerda de quem olha para a fachada. E o lado esquerdo encontra-se direita de quem olha para a fachada. Para no haver confuses, convencionou-se chamar o lado direito de lado do Evangelho e o esquerdo de lado da Epstola.
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Figura 11 - Claustro do Convento N. S. dos Anjos (Penedo, AL). Disponvel em http://static.panoramio.com/photos/original/2735597.jpg (foto de Vincius Antnio de Oliveira Dittrich)
O convento franciscano de Salvador Trata-se de um conjunto religioso que escapa tipologia da arquitetura conventual dessa ordem. Mas nem por isso menos importante do que os demais. Ao contrrio. Sua escala, seu frontispcio equilibrado, mostrando ainda a persistncia tardia do gosto que precedeu o estilo barroco, a riqueza de sua obra de talha, toda dourada e com motivos barrocos, e outros elementos artsticos importantes fazem dessa igreja e do cenbio uma das edificaes religiosas mais importantes do Brasil. O convento dos franciscanos foi fundado na Bahia no ano de 1587. Com a invaso de Salvador pelas foras holandesas (1624), todavia, o imvel foi destrudo, para ser reerguido praticamente um sculo depois (1686), por ordem do superior Frei Vicente das Chagas. Esta reconstruo, que se inicia pelo claustro normalmente, a construo dos conventos era feita a partir do claustro, pois era ali onde ficavam as celas dos religiosos , estende-se at 1723, quando a frontaria da igreja acabada.
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Esta fachada apresenta uma soluo interessante, pois enquanto se podem ver elementos j tipicamente barrocos, como o fronto central do edifcio religioso, marcado pela presena de contornos curvilneos e alambicados, as torres sineiras so ainda da tradio maneirista, com uma linearidade retilnea, acentuada pelos ngulos retos formados entre cunhais e cornijas. O equilbrio desse frontispcio percebido no enquadramento das duas torres sineiras em ambos os lados do prtico central, o que tambm remete sua concepo estilstica mais prxima ao maneirismo. Tambm o arremate dos campanrios*, em formato piramidal os coruchus , apresenta um gosto maneirista.
Figura 12 - Fachada do Convento de So Francisco (Salvador, Bahia)
A construo do imvel ficou a cargo do Mestre Manuel de Quaresma, tendo sido ajudado por outros artistas, como o Frei Lus de Jesus, cognominado Torneiro, autor da balaustrada do corpo da igreja, de alguns dos mveis da sacristia e de elementos da talha da igreja, e o frei Jernimo da Graa, que pintou o teto e fez-lhe tambm a dourao, a partir da dcada de 1730. Entre 1738 e 1743, fez-se a maior parte dos trabalhos de talha e seu correspondente douramento, com destaque aos retbulos laterais e ao arco cruzeiro, sob a direo do Frei Gervsio do Rosrio e do superior Frei Manuel do Nascimento7. A obra de talha de uma riqueza exemplar e bem faz jus fama de erudio e de requinte da decorao das igrejas dos conventos franciscanos. Pode-se notar, no interior do templo, o gosto barroco manifestado de maneira clara nas volutas douradas, na sensibilidade pela
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profuso de adornos, no esforo por constituir um ambiente adornado por elementos dispostos de maneira a formar um ambiente mstico, com uma talha rica que percorre toda a nave central, o teto, as capelas laterais, o altar-mor.
Esse gosto pela exuberncia e pelo exagero confere, obra barroca, um sentido de unidade que distingue o estilo de todos os demais. A percepo do espao se d em sua inteireza, com apelo sensibilidade do observador, enquanto que a racionalidade, aspecto exaltado na fase anterior (Renascimento e, em parte, o Maneirismo) j, praticamente, no existe mais nesse estilo. Os azulejos do claustro, considerados os mais belos do Brasil por Germain Bazin, vieram de Lisboa e foram colocados em meados do sculo XVIII. Os azulejos portugueses A azulejaria portuguesa, a bem da verdade, uma das mais ricas do mundo. Os azulejos foram introduzidos na Pennsula Ibrica com a invaso moura, no incio do sculo VIII. Tanto a arquitetura espanhola quanto a portuguesa vo-se deixar permear por esse aspecto da cultura rabe.
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Essa prtica chegaria ao Brasil na poca da colonizao, sendo o azulejo um elemento decorativo usado exclusivamente no interior dos edifcios. Com o tempo, o azulejo comeou a seu usado tambm na parte exterior das edificaes, especialmente no Maranho. Essa prtica, at ento ignorada pelos portugueses e pelos espanhis, acabou sendo exportada do Brasil para a antiga metrpole no sculo XVIII. Hoje muito comum o uso de azulejos nas fachadas dos imveis portugueses. Influncia brasileira de contramar. Como se v, muito antes das novelas, o Brasil j exportava cultura para os portugueses.
Outras igrejas franciscanas apresentaro um interior profusamente adornado, no raro com o emprego onipresente de folhas de ouro. o caso, por exemplo, da Capela dos Novios do Convento de Santo Antnio (Recife, PE), conhecida como Capela Dourada, e da exuberante obra de talha da igreja da Ordem Terceira de So Francisco da Penitncia, no Rio de Janeiro. Na arquitetura beneditina, tambm se pode citar a Igreja de Nossa Senhora de Monserrate do Mosteiro de So Bento do Rio de Janeiro. As chamadas igrejas todas de ouro so, ao lado dos conventos franciscanos, expresso do que h de mais genuno e representativo da arte barroca, que ocorre no Brasil numa poca de pujana econmica da fase colonial. o que se ver adiante.
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Figura 15 - Escadaria de acesso ao Convento de Sto. Antnio e Ig. da Ordem 3. Foto de Daniel Schwabe. Disponvel em http://www.flickr.com/photos/ dschwabe/354391478/in/set72057594111378915/
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num centro de excelncia do saber e para ali convergiam intelectuais antes da Independncia, onde se reuniram aliados de Dom Pedro; ali tambm nasceu o esprito de investigador cientfico de pessoas como o frei Jos Mariano Veloso, o mais importante nome da cincia em Portugal e no Brasil dos fins do sculo XVIII e incio do seguinte; o convento de Santo Antnio e a Igreja da Ordem Terceira foram edificaes da predileo da famlia real portuguesa, que ali determinou o enterramento de seus familiares falecidos no Brasil; do adro daquelas duas igrejas descortinava-se encantadora paisagem da cidade do Rio de Janeiro, estendendo-se at o mar, vendo-se as ruas, os telhados das casas e as torres das igrejas da cidade, razo porque daquele ponto muitos pintores registraram vrias paisagens da cidade do Rio de Janeiro.
A fundao da igreja e histrico de suas transformaes Em 1592, vindos do Esprito Santo, os franciscanos chegaram ao Rio de Janeiro, indo instalar-se numa ermida situada naquela elevao. Em 1608 lanaram a pedra fundamental, para construrem uma edificao projetada pelo frei Francisco dos Santos8. O corpo da Igreja de Santo Antnio ainda o mesmo at hoje, ape-
Alm do Frei Francisco dos Santos, a historiadora da arte Sandra Alvim, que fez exaustivos estudos sobre a arquitetura religiosa brasileira, informa que foram tambm autores do projeto os frades Vicente de Salvador, Estvo dos Anjos e Antnio do Calvrio. Cf. ALVIM, Sandra. Arquitetura religiosa colonial..., pg. 193
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sar das sucessivas transformaes pelas quais tem passado ao longo dos anos. A fachada, assemelhada das igrejas franciscanas nordestinas, havia ganho um acrscimo em fins do sculo XVII, passando a apresentar uma galil de arcada tripla, o que perduraria at a reforma de 1777, levada a efeito pelo frei Martinho de Santa Teresa Guerreiro, quando a Igreja ganhou a portada que possui at hoje. Durante a administrao do superior frei Lucas de So Francisco, ocorrida entre 1716 e 1719, ocorre uma grande reforma no templo, com o recuo de 3,45 metros da parede dos fundos da capela-mor; so feitos corredores laterais e tribunas por cima, ampliando-se a largura do templo. No incio do sculo XX, foram feitas transformaes no frontispcio da fachada, de gosto neocolonial, alterando-lhe o partido simplificado que possua at ento e adotando-se a forma que est l at hoje. Mas a edificao, a par dessas transformaes, conseguiu manter o esprito artstico e religioso do Convento. Se verdade que, se alguns aspectos originais da edificao se perderam, especialmente durante o sculo XIX, quando o imvel serviu de caserna para militares, o que ocasionou a perda dos azulejos do refeitrio, tambm certo que os elementos mais essenciais que marcaram sua arquitetura e decorao atravs das obras de talha se mantiveram praticamente inalterados.
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dois altares de cruzeiro, alm do da capela-mor, circunstncia que caracteriza, pela escassez de retbulos laterais, a arquitetura religiosa franciscana brasileira. Mas esses retbulos compem um conjunto de deliciosa harmonia e apuro em sua execuo. O altar-mor consagrado a Santo Antnio, orago do Convento, e os de cruzeiro a Nossa Senhora da Conceio e a So Francisco. Esses retbulos datam de 1620-1624 e sua dourao pouco posterior (1627-1630). A capela-mor inteiramente revestida de talha, estando o teto pintado com passagens da vida de Santo Antnio. Seu autor desconhecido. Os retbulos que se encontram na base do arcocruzeiro (retbulos colaterais) tm um conjunto de linhas concebido de forma adornada, pelo qual se conjugam arcos plenos com os colunelos laterais que enquadram o nicho. A talha que o ornamenta profusa, de gosto genuinamente barroco, formando um efeito pictrico ao ambiente arquitetnico compreendido pelo recinto da capela-mor. A Sacristia, localizada atrs da capela-mor, a mais bonita do Rio, conforme observou o estudioso Germain Bazin em seu livro Arquitetura religiosa barroca no Brasil9. Frei Baslio Rwer, a quem se deve a mais completa memria sobre o cenbio franciscano, no indica data de execuo desse recinto, de grandes dimenses e com um arcaz de rara beleza. Mas uma inscrio na parte detrs desse mvel, descoberta no ano de 1930 por um conservador, indica a data provvel de 1745 para o trmino dos trabalhos da Sacristia e a autoria de Manoel Alves Setbal, o mesmo mestre-de-obras que teria atuado na construo da Igreja do Carmo, localizada na Praa XV de Novembro. Igreja da Ordem Terceira de So Francisco da Penitncia As belezas desse conjunto arquitetnico religioso no se resumem Igreja de Santo Antnio, santo que at hoje possui a maior popularidade no Brasil. A Igreja da Ordem Terceira de So Francisco da Penitncia do Rio de Janeiro constitui-se numa importante edificao setecentista religiosa por seus aspectos artsticos excepcionais: no exterior, por fugir aos costumeiros padres arquitetnicos das igrejas, assemelhando-se a uma casa senhorial portuguesa, como aqueles exemplos de arquitetura civil situados no norte de Portugal (Museu de Aveiro, Cmara de Braga, Solar de Jeosa do Mondego e outras); no interior, pela unidade estilstica de sua obra de talha, pintura e imaginria, conseguida com a cons9
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truo da Igreja e sua decorao em bem pouco tempo, apresentando um estilo tpico de poucos artistas da primeira metade do sculo XVIII. A fachada mais larga do que alta, o que confere o aspecto palaciano do imvel referido no incio deste texto. No possui torre sineira, como seria natural que tivesse, por imposio dos religiosos do cenbio de Santo Antnio. Mas o arranjo da composio deveras valorizado pela presena de vos adornados com alisares em pedras de lioz vindas de Portugal, grades antigas e especialmente a portada principal, com oval no gosto Dona Maria onde se vem as armas da Ordem e as de Portugal. O frontispcio marcado pelo partido horizontal, caso nico na cidade como de resto bem raro Brasil afora. O pano da fachada dividido em trs corpos por quatro pilastras feitas em cantaria e arrematadas no topo por pinculos. Predomina a simplicidade na fachada do imvel, salvo nos arremates que guarnecem os vos das portas e janelas. Um pequeno culo compe o centro do frontispcio central curvilneo da fachada. O apelo artstico e histrico da edificao no se resume apenas fachada e ao interior barroco da nave central, mas tambm a outros segmentos que compem o complexo religioso, que conta ainda com um Museu de Arte Sacra, com o Salo das Alfaias, Salo dos Andores, Galerias das Imagens, Capela Primitiva da Ordem. imperioso tambm falar-se da sala da Sacristia, com sua notvel pintura no teto, do imponente Consistrio, do Coro de cima, donde se avista com maior facilidade a pintura do teto da nave central, do Salo dos Retratos, do Cemitrio neoclssico que a Ordem mandou fazer pelo traado do arquiteto portugus Jos da Costa e Silva, no incio do sculo XIX. A Ordem Terceira de So Francisco da Penitncia encontra-se instalada no Rio de Janeiro desde pelo menos 1619 e funcionava regularmente em espao contguo ao cenbio franciscano do Morro de Santo Antnio. Essa edificao a mais antiga capela de Ordem Terceira a funcionar na cidade. Mas no era esse que est sendo agora restaurado pelo Iphan o mesmo prdio da edificao original onde a Ordem funcionou desde seus momentos iniciais. A primeira capela da Ordem era agregada igreja conventual, segundo nos d notcia Dom Clemente da Silva-Nigra em sua obra Construtores e Artistas do Mosteiro de So Bento do Rio de Janeiro10. Uma segunda capela ainda haveria no sculo seguinte, mas seria apenas a partir do incio do sculo
http://www.flickr.com/photos/rosamar/ 1017123210/
Figura 18 - Fachada da Ig. da Ordem 3 de S. Francisco da Penitncia Foto (detalhe) Mrcia Rosa. Disponvel em
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XVIII que a construo dessa magnfica igreja teve lugar. O interior duma riqueza artstica enorme, ficando o luxo de sua decorao, compatvel opulncia dos irmos da Ordem Terceira de So Francisco, representado na dourao que reveste de forma omnmoda praticamente toda a obra de talha da igreja.
Figura 19 - Interior da Igreja da Ordem Terceira de So Francisco da Penitncia. Foto Daniel Schwabe. Disponvel em http://www.flickr.com/photos/dschwabe/354391012/
A talha foi contratada pelos irmos da Ordem em 1726, com o artista de origem portuguesa Manuel de Brito, que ficou inicialmente incumbido de fazer o retbulo da capela-mor, do arco cruzeiro para dentro. Depois, a 1732, foi novamente contratado para fazer um plpito, enquanto que Caetano da Costa Coelho era chamado para a elaborao das pinturas da capela-mor, oito quadros e o teto da nave da igreja (1737). Manuel de Brito executou tambm a talha do apainelamento entre os altares laterais, executados pelo escultor Francisco Xavier de Brito. Esse artista foi chamado, em 1735, para elaborar a talha do arco-cruzeiro, a cornija e, no ano seguinte, os referidos seis altares laterais, alm da CaMarcus Tadeu Daniel Ribeiro
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pela do Noviciado. A igreja seria seriamente prejudicada por vrios anos de quase total abandono, provocado pelo declnio desta como de vrias ordens religiosas no Brasil. O trabalho de restaurao que vem sendo desenvolvido pelo IPHAN, em parceria com entidades da iniciativa privada, permitiu a restituio do bem sociedade brasileira, com o resgate de seus elementos originais e da feio artstica tal qual havia sido imaginada por seus idealizadores. O Mosteiro de So Bento do Rio de Janeiro Em 1584, O governador Salvador Correa de S mandou vir, da capital baiana, onde havia sido fundado o primeiro cenbio beneditino das Amricas, religiosos que pudessem organizar um mosteiro no Rio de Janeiro, atendendo assim a um desejo da populao local. Cinco anos depois, chegaram os monges Pedro Ferraz e Joo Porcalho, que se instalaram provisoriamente na primitiva ermida de Nossa Senhora do , situada na atual Praa XV de Novembro. A escolha do local Aos monges beneditinos foi oferecido um terreno nessa mesma praa, alm de todas as facilidades que quisessem. Mas eles decidiram pela implantao do Mosteiro num local mais afastado do convvio com a cidade, que, a esta poca, praticamente se resumia ao espao do morro do Castelo. Assim foi que os beneditinos se instalaram no Morro de So Bento. Anota Dom Clemente da Silva-Nigra, monge beneditino e especialista na histria dessa edificao religiosa, que tal escolha obedeceu ao desejo de privacidade pretendido pelos religiosos. Os mosteiros, na Europa medieval, ficavam sempre em lugares afastados do convvio das aldeias e das concentraes populacionais de uma maneira geral. As ordens monacais eram, neste ponto, diferentes das ordens mendicantes, que foram surgindo exatamente nos burgos e nas cidades durante os ltimos sculos da Idade Mdia, procurando levar assistncia espiritual populao que ali residia. Os beneditinos tinham uma tradio bem diferente: eram auto-suficientes e procuravam lugares onde eles pudessem construir no apenas o seu lugar de orao e de meditao, mas tambm de sobrevivncia material. Por isso, os beneditinos no quiseram ficar no local onde hoje se encontra a igreja do Carmo e a da Ordem Terceira do Carmo. Ocuparam ento o morro de So Bento, que ficava distante do Morro do Castelo e, por
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isso, mais afastado da cidade. Situado beira-mar, o local servia de ponto de partida e de chegada das embarcaes dos monges nas viagens s propriedades rurais do Mosteiro, bem como prpria cidade. O mosteiro de So Bento, sem escapar tradio histrica, como no era uma ordem mendicante, organiza-se economicamente de maneira auto-suficiente. Tinha terrenos, casas para aluguel, fazendas, escravos.
A sesmaria onde se construiu o Mosteiro havia sido de propriedade de Manuel de Brito, pessoa que viera com Estcio de S expulsar os franceses do Rio e a quem os terrenos foram cedidos, em 1573, como recompensa por seus servios. Dom Diogo de Brito de Lacerda, filho de Manuel de Brito, e Dona Vitria de S, esposa de Dom Diogo, participaram tambm dessa doao. Os corpos do casal encontram-se enterrados na nave central da Igreja, altura do transepto. A sesmaria compreendia aquela elevao geogrfica, no cimo da qual os monges ocuparam uma ermida j construda em devoo a Nossa Senhora da Conceio, feita provavelmente de taipa de pilo ou de pau-a-pique11. As igrejas de Nossa Senhora da Conceio construdas no Brasil normalmente referem-se a comunidade de portugueses, dado que a Nossa Senhora da Conceio padroeira de Portugal.
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ROCHA, D. Mateus Ramalho. A igreja do Mosteiro de So Bento do Rio de Janeiro. Rio, Studio HMF; Lmen Christi, 1991, pg. 14
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A imagem que aparece no retbulo em estilo regncia situado no lado esquerdo da igreja certamente do sculo XVIII, dada a forma esvoaante com que suas vestes so entalhadas. As imagens setecentistas tm aquela energia e espontaneidades que as distinguem daquelas outras do sculo anterior, onde o drapejamento das vestes mais sbrio e contido. Isso significa que a imagem original de Nossa Senhora da Conceio da antiga ermida, talvez modelada em terracota, tenha-se perdido ou quebrado. A tradio beneditina no guardou essa informao sobre o destino da imagem da Virgem. O lampadrio em prata macia que se v no primeiro plano obra em estilo rococ do Mestre Valentim da Fonseca.
Figura 22 Retbulo de Nossa Senhora da Conceio
Os doadores dessa ermida foram Aleixo Manuel, fidalgo que viera com Estcio de S guerrear os franceses, e sua esposa Francisca da Costa. Foi ele o primeiro juiz da cidade e a pessoa que organizou aquela Ordem Terceira sob a gide de Nossa Senhora da Conceio sobre o atual Morro de So Bento, inicialmente chamado de Morro da Conceio. A doao foi feita com a condio de os beneditinos rezarem, at o fim dos tempos, uma missa solene no dia de Nossa Senhora da Conceio. A mudana do nome da igreja Em 1602, por influxo do governador Dom Francisco de Sousa, a ermida de Nossa Senhora da Conceio passaria invocao de Nossa Senhora de Monserrate, conforme anotaria Dom Mateus Ramalho Rocha, em sua
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obra A Igreja do Mosteiro de So Bento do Rio de Janeiro12. Anote-se tambm que Nossa Senhora da Conceio, por ser santa padroeira de Portugal, perderia importncia naquela poca em que a coroa espanhola, sob o reinado de Felipe II, havia incorporado a coroa lusitana desde o termo da dinastia de Avis. Nossa Senhora de Monserrate bem como a do Pilar, presentes em retbulos desta igreja, so duas invocaes espanholas da Virgem. A imagem de Nossa Senhora de Monserrate uma invocao espanhola da Virgem Maria. O nome deriva de um pequeno macio rochoso situado na Espanha ocidental, sendo rea de peregrinao. A imagem que se v ao lado pode ser atribuda ao clebre escultor Domingos da Conceio, atuante na segunda metade do sculo XVII, a quem se deve atribuir tambm o trabalho de marcenaria da porta de entrada da igreja, bem assim as imagens de Santa Escolstica e a So Bento, localizadas no altar-mor. A policromia da imagem encontra-se um pouco prejudicada pela ao do tempo. O estado de conservao da obra ainda muito bom, contudo.
Figura 23 - Imagem Nossa Senhora de Monserrate (sc. XVII)
Alm dos terrenos que abrangiam o morro, os beneditinos adquiriram uma faixa de terra que compreendia a Prainha,atual Praa Mau, arrematando ainda a Ilha das Cobras e a das Enxadas. A propriedade encontra-se assinalada j no mapa executado a 1631 pelo cartgrafo real Joo Teixeira Albernaz.
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A Igreja de Nossa Senhora de Monserrate A implantao do templo integra-se paisagem naquela parte da cidade. Do adro, v-se a cidade e a orla, envolta em verde, tendo por pano de fundo as guas da Baa de Guanabara.
Figura 25 - Vista do Mosteiro de So Bento (esquerda), tendo direita parte da Ilha das Cobras.
O acesso Igreja hoje feito atravs de elevadores, ladeiras abertas na rocha ou pelas edificaes vizinhas ao mosteiro. Originariamente, o que havia era um caminho alcantilado, de traado tortuoso e desconfortvel, que ganhava o cimo da elevao seguindo meandros irreguMarcus Tadeu Daniel Ribeiro
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lares. A partir da segunda metade do sculo XVII, construiu-se uma ladeira cujo traado inicial e primeiras obras de execuo procuraram aliviar as dificuldades da subida dos fiis. Frei Manuel do Rosrio Buarcos, que acabaria falecendo de insolao, e o monge arquiteto Frei Bernardo de So Bento foram os responsveis pelas obras. No sculo XIX fizeram-se novamente obras de conteno dos aterros ali existentes e a escadaria em granito, primoroso e sbrio trabalho de cantaria*, guarnecida de parapeitos laterais inteirios, seria instalada durante o trinio abacial 1875-1878.
O calamento do adro, feito todo em lajeados planos de granito, foi ali instalado em meados da dcada de 1970, quando a edificao religiosa passou por algumas obras de conservao e de alterao. Nessa obra fez-se a Casa de Emas e a recomposio do alpendre* direito, que havia sido demolido em 1903, por ocasio da construo do primeiro edifcio da Escola de So Bento, fundaMarcus Tadeu Daniel Ribeiro
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da em 1858.
A fachada da igreja, maneirista por excelncia, de gosto classicizante, com remisses estilsticas ao Renascimento atravs de vrias caractersticas. Uma delas o gosto pelo apainelamento existente na fachada, criando uma composio marcada pela pluralidade (os painis superiores com janelas enquadradas pelos cunhais*, pilastras* e cornijas*, os painis inferiores, onde se vem os vos da galil, as aberturas situadas na parte de baixo da torres sineiras). O equilbrio da fachada, a linearidade, com sensibilidade formao de solues ortogonais e racionalistas. A galil, arrematada pelos arcos plenos na entrada principal da igreja, bem como a austeridade que prepondera em toda modenatura* do imvel, so igualmente testemunhos dessa herana clssica mostrada na formao de Francisco Frias da Mesquita, autor do projeto.
Figura 28 - Adro e fachada da Igreja de Nossa Senhora de Monserrate
O incio da construo da Igreja de Nossa Senhora de Monserrate data de 1633, baseada no traado feito em 1617 pelo engenheiro-mor do Brasil, o militar Francisco de Frias da Mesquita, autor e construtor de vrios fortes situados nas costas brasileiras entre os anos de 1603 at 1635, quando retornou para Portugal. J por essa poca o Mosteiro amealhava recursos materiais que lhe permitiriam empreender obra com envergadura compatvel a uma edificao como a da Igreja de Nossa Senhora de Monserrate: alm das vrias casas de aluguel que a ordem mandara erigir nas imediaes do morro, funcionava, desde 1613, o engenho de acar de Iguau, de onde provinham muitos recursos financeiros para o Mosteiro. A cerimnia de lanamento da pedra fundamental data de 1631, mas apenas dois anos aps que os trabalhos
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se iniciaram e estender-se-iam por oito anos, sendo a igreja inaugurada em 1641. Naquele ano, a edificao ainda no possua o atual frontispcio ladeado pelas duas imponentes torres sineiras*, o vestbulo*, o coro de cima e os alpendres, que s depois seriam acrescentados, ao longo da segunda metade do sculo XVII. Tais elementos arquitetnicos so tpicos da arquitetura maneirista que se afirma no incio da colonizao portuguesa no Brasil. A fachada maneirista guarda ainda traos renascentistas, seja na modenatura* de austera racionalidade, seja no equilbrio da composio, cuja sobriedade encontrase acentuada pelo enquadramento lateral das torres sineiras, seja, enfim, pela presena de uma galil em arco pleno, que concorre para atenuar a presena preponderante de linhas retas que desenham a fachada. Os alpendres laterais formam interessante conjunto, que, por um lado, concorrem para acentuar o equilbrio da composio e, por outro, conferem um gosto de curioso exotismo, ao conjugar elementos arquitetnicos da ordem toscana, como as colunas que os sustentam, com o madeiramento do teto feito moda mourisca. O vestbulo, com seu teto abobadado, sobre o qual est o coro de cima, foi alterado no sculo XIX, quando ento se arrancaram os antigos portes ali colocados em meados do sculo XVIII e os substituram por outros de 1880, fundidos na Inglaterra. Datam tambm dessa poca os painis de azulejos portugueses colocados nas paredes do vestbulo. O piso de cermica, assentado entre 1669 e 1672, foi trocado, poca das obras de colocao de pisos de mrmore em vrios segmentos da igreja, durante a centria passada. As portas que separam o vestbulo da igreja so de canela cravo, com peas decorativas em jacarand e mogno, sendo sua execuo atribuda ao Frei da Conceio da Silva, autor de vrias obras de talha que alindam o interior do templo. A obra de talha e os retbulos Ao adentrar-se na nave da Igreja de Nossa Senhora de Monserrate, depara-se com o quebra-vento, obra de talha de rara beleza, feita no incio da dcada de 1730 por Jos da Conceio e Simo da Cunha, ao mesmo tempo em que se esculpiam os dois anjos do arco-cruzeiro, as imagens do corpo da Igreja e das capelas falsas (Santa Francisca Romana e Santa Ida) situadas sob o coro de cima.
Figura 29 - Alpendre
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Figura 31 - Interior do templo, com vistas ao quebra-vento, coro de cima e o rgo da Coroa, obra do sculo XVIII.
As capelas laterais, construdas principalmente durante o ltimo quartel do sculo XVII, sob a coordenao do frei arquiteto Bernardo de So Bento, eram mantidas pelas vrias irmandades que se associaram aos monges beneditinos para ali manterem seus cultos e garantirem tambm o enterramento dos seus irmos no recinto dessas capelas. Cada um desses altares representou uma irmandade e apenas a de So Brs mantm-se ainda hoje funcionando. As irmandades religiosas Essas irmandades que mantinham as capelas laterais eram um exemplo de como a populao se organizava, numa poca em que o Estado monrquico absolutista no tinha olhos para as necessidades da sociedade civil. importante lembrar que o Estado absolutista no era exatamente forte, mas intolerante. Ele no assistia populao em educao, assistncia hospitalar e outras
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demandas sociais. Isto s aconteceria com o advento do chamado despotismo esclarecido e o desenvolvimento da burocracia, a partir da segunda metade do sculo XVIII. As irmandades e as ordens terceiras eram a forma com que a populao se organizava, sob a gide da Igreja, para tratar de atividades de natureza assistencialista. Essa prtica foi muito forte at o sculo XIX. Algumas ordens terceiras funcionavam dentro de igrejas conventuais, mantendo uma pequena capela. Outras tiveram muitos membros, crescendo tanto que acabaram por fazer as suas prprias igrejas. o caso das Ordens Terceiras do Carmo, de Santa Cruz dos Militares, da Candelria, do Rosrio, de So Francisco da Penitncia etc. As pessoas olham hoje a quantidade de igrejas que se construa naquela poca e imaginam que se tratava de um povo extremamente religioso. No bem assim. A rigor, essas igrejas eram, na maior parte, ordens terceiras ou de irmandades destinada a suprir, em termos de assistncia mutualista, aquilo que o poder pblico no fornecia. Pelo lado da Epstola (esquerdo), vem-se os retbulos em devoo a Nossa Senhora da Conceio, So Loureno, Santa Gertrudes e So Brs; pelo lado do Evangelho (direito), vem-se os altares do Santssimo, originariamente dedicado a So Cristvo, cuja bela imagem hoje se encontra no batistrio, So Caetano, Nossa Senhora do Pilar e Santo Amaro. No altar-mor, vem-se as imagens de So Bento e Santa Escolstica, talhadas pelo genial Frei Domingos da Conceio. Os atributos de Santa Escolstica, irm gmea de So Bento, so o livro da regra beneditina e uma pomba, que aqui aparece pousada sobre o livro. No sempre que a santa aparece com um bculo na outra mo, conforme a imagem ao lado. A presena da pomba nada tem a ver com o mistrio da Santssima Trindade. Trata-se de uma aluso ao milagre atribudo ao momento de sua morte, em que se viu sua alma, na forma de uma pomba, sair de seu corpo e subir aos cus. Segundo Jorge Campos Tavares, comum se representar esta santa vestida como uma abadessa dominicana13. Na imagem que se mostra ao lado, todavia, Santa Escolstica veste um traje solene da ordem beneditina. A dourao que aparece no hbito, como se fosse filigranas fitomrficas a flor de lis um de seus atributos , feita com a tcnica do esgrafito, que consiste em cobrir, com folhas de ouro, toda a extenso do hbito, recobrir-se com tinta esta dourao e, depois, com o
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auxlio de um estilete, remover a tinta j seca, desenhando-se os padres que se v no manto da santa. Dom Mateus Ramalho Rocha contou-me, certa vez, que uma pessoa que se dizia restauradora, ao descobrir, num santo que lhe fora confiado por um colecionador particular, a camada de ouro sob a de tinta, removeu esta completamente, julgando que o santo era todo em ouro, perdendo assim todos os detalhes feitos em esgrafito. O trabalho de um bom restaurador impe um conhecimento profundo no apenas de tcnicas e de instrumentos cientficos, mas de Histria da Arte. Um bom restaurador um profissional imprescindvel para a prpria Histria da Arte, pois a conservao fsica do bem cultural fundamental para o trabalho desse profissional. Frei Domingos da Conceio um nome que, apesar de pouco conhecido, deve ser visto como um dos mais importantes artistas atuantes no Brasil do sc. XVII. Esta imagem, atualmente em poder de um colecionador paulista, toda entalhada em madeira, mede 200 x 135 x 25 cm e demonstra um conhecimento da arte do entalhe, um domnio grande sobre anatomia e uma formao slida do artista em desenho. O movimento desse Cristo ressurreto enquadra-se no gosto barroco, que valorizava as solues dinmicas, aqui percebidas tanto na idia de instantneo de um movimento flagrado pelo artista, quanto tambm na disposio do corpo, com braos postos em numa diagonal. Y.Z
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Figura 34 - Interior da Igreja de Nossa Senhora de Monserrate. Notar a unidade que a obra de talha confere ao interior do templo.
O autor da talha que adornava, com sua profusa presena decorativista, o corpo central da Igreja, como tambm as capelas laterais, foi Alexandre Machado Pereira, ativo na segunda metade do sculo XVII, fase urea da mais caracterstica etapa barroca do Mosteiro de So Bento. nessa poca tambm em que atua, alm do citado Frei Domingos da Conceio, responsvel pela talha do altar-mor, perdida aps a reforma dos fins do sculo XVIII, o arquiteto Bernardo de So Bento, que coordenaria vrios dos trabalhos empreendidos por outros artistas e artesos. A dourao dessa talha, composta basicamente de volutas, acantos, meninos, floMarcus Tadeu Daniel Ribeiro
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res, arcos, capitis e emblemas sacros, geralmente da primeira metade do sculo XVIII. A Capela-mor da Igreja de Nossa Senhora de Monserrate foi refeita na segunda metade do sculo XVIII por Incio Ferreira Pinto. A talha antiga,de Domingos da Conceio, possua um gosto barroco maneira da talha existente nas duas capelas falsas, situadas logo no incio da nave central. Essas capelas tm um gosto prximo ao chamado estilo nacional portugus. A obra de Incio Ferreira Pinto, todavia, j apresenta um gosto mais leve, com um arremate superior tpico da segunda metade do sculo XVIII (Dona Maria), caminhando muito proximamente do estilo Rococ. No teto da capela-mor h pinturas do Frei Ricardo do Pilar, ativo no Rio de Janeiro no sc. XVII.
Figura 35 - Capela-mor, com obra de talha de Incio Ferreira Pinto.
A capela do Santssimo, bem como o altar-mor, reformado no final do sculo XVIII seguindo o gosto sensvel ao Rococ, so da lavra do entalhador e escultor Incio Ferreira Pinto, segundo atribuio de Dom Clemente da Silva-Nigra. Defrontando-se com essa capela lateral e a de Nossa Senhora da Conceio ao mesmo tempo que compem um pendant de esplndido efeito decorativo, vem-se dois grandes lampadrios, em prata macia, do risco do escultor, entalhador e arquiteto Mestre Valentim da Fonseca.
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As pinturas No teto da capela-mor, vem-se pinturas de Frei Ricardo do Pilar, importante pintor de origem alem ativo na segunda metade do sculo XVII no Rio de Janeiro. As imagens referem-se s aparies da Virgem Maria aos vrios santos beneditinos. A presena da clarabia bem no meio da abbada da capela-mor imps a elaborao de uma soluo de pintura onde no se pde fazer uma imagem apenas, mas vrias. A principal pintura existente no Mosteiro de So Bento executada pelo Frei Ricardo do Pilar encontra-se na sacristia, inserida num retbulo riquissimamente ornado com obra de talha em estilo nacional portugus. O retbulo pode ser considerado como o mais tpico da obra de talha barroca, tanto no Brasil como em Portugal. O nome decorre das remisses que ele faz s portadas das
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igrejas romnicas portuguesas, construdas no sculo XI e XII, portanto na mesma poca em que Portugal desligava-se da corte espanhola e fundava sua casa monrquica autnoma. As semelhanas com o estilo Romnico encontram-se nos colunelos laterais escalonados e nos arcos plenos concntricos superiores que encimam o retbulo. No Romnico, os colunelos tendem simplicidade, embora possam vir adornados de cenas bblicas ou de elementos extrados da temtica pag. No estilo nacional portugus os colunelos so espiralados, maneira salomnica, da mesma forma que Gian Lorenzo Bernini (1598-1680) concebera o baldaquino da Baslica de So Pedro, aparecendo no Mosteiro de So Bento do Rio de Janeiro com uma dourao sobreposta ao vermelho.
Figura 38 - Retbulo de Nosso Senhor dos Martrios. Pintura de Frei Ricardo do Pilar. Foto Paulo Conceio.
A pintura que aparece neste retbulo enquadra-se no estilo barroco, pelo gosto do contraste claro-escuro, pelo sentido dramtico que a obra apresenta, revelando ainMarcus Tadeu Daniel Ribeiro
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da uma herana da pintura europia de tradio setentrional, assinalada pelo detalhismo requintado e preciso. Frei Ricardo do Pilar, nascido na Alemanha, estudara em Portugal durante algum tempo, onde a influncia da pintura flamenga tambm sensvel.
Vrios ovais encontram-se pela sacristia, batistrio e assim. So pinturas de algum autor do sculo XVIII, quando a luminosidade era mais suave e menos marcada pelo contraste de sombra e luz. A moldura desses ovais tipicamente rococ, com rocalhas estilizadas. Capela das Relquias Tambm em estilo Rococ deve ser vista a Capela das Relquias, feita provavelmente em fins do sculo XVIII, empregando-se uma dourao sem exageros sobre tom azul turquesa claro. A capela das relquias possui vrios elementos decorativos em volta dos pequenos compartimentos onde as relquias se encontram expostas.
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Observar o oratrio em prata macia, feito tambm em estilo rococ, possivelmente da lavra do Mestre Valentim da Fonseca, o mesmo autor dos lampadrios que se encontram na entrada da capela-mor da Igreja de Monserrate.
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Consideraes finais O Mosteiro de So Bento constitui-se numa obra de arte cuja importncia no se resume apenas beleza de sua arquitetura, de sua obra de talha, pintura ou escultura, tomadas isoladamente. Sua riqueza artstica deve ser vista em seu todo, em que cada elemento se integra representao de uma idia o Barroco , construda lentamente ao longo de vrios anos. Foi esse o estilo artstico que testemunhou a formao cultural do povo brasileiro: exuberante, sensvel e assinalado por contradies. Y.Z
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Glossrio
Aleta Acabamento curvilneo colocado nas laterais de um fronto, com o intuito de diminuir-lhe o aspecto duro e seco provocado pelos ngulos retos da fachada. Alpendre Cobertura saliente, feita em telhas apoiadas sobre madeiramento estruturado em trelia, que se apia, por sua vez, de um lado, no pano da fachada e, de outro, em pilares ou colunas. Altar Na tradio judaico-crist, mesa sagrada em frente qual o sacerdote promove ritos religiosos ou onde os fiis rezam ou depositam oferendas ao santo ou a Deus. Adro Ptio que circunda um edifcio, seja ele religioso ou no. Nas igrejas, chama-se adro o ptio que fica em frente fachada principal. Campanrio O mesmo que torre sineira, ou seja a torre de uma igreja onde os sinos so colocados. Cantaria As obras de cantaria so os trabalhos feitos em pedra destinados a servir de elementos estruturais numa construo. Capitel Arremate superior de uma coluna, normalmente adornada com folhas de acanto, bacos, volutas etc., cuja anlise permite identificar-se a que ordem arquitetnica pertence a coluna. Nas ordens gregas, tmse capitis dricos, corntios e jnicos. Nas ordens romanas, tm-se capitis toscanos e a compsitos. A ordem toscana foi uma das mais usadas pelos artistas do Renascimento e do Barroco. Cenbio Nome genrico dado a qualquer lugar construdo para abrigar comunidades religiosas reclusas, dedicadas vida de orao, trabalho e contemplao. Mosteiros, destinados habitao de monges, e conventos, especficos dos religiosos de ordens mendicantes, podem ser citados como exemplos de cenbios. Coluna Qualquer suporte vertical de seo circular, sobre o qual se apiam vigas, frisos, arquitraves, cornijas ou outros elementos estruturais horizontais quaisquer. As colunas so formadas de base (s vezes apoiada sobre um pedestal), fuste* e capitel. Cornija Moldura saliente horizontal, que pode ser retilnea ou curvilnea, para marcar a presena dos pavimentos das edificaes. As cornijas superiores dos edifcios tm por funo conduzir o escoamento da gua da chuva, de forma a no a deixar escorrer pela fachada, o que provoca umidade e manchas. As cornijas tambm podem ser simples arremates superiores e horizontais
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de um pedestal ou de uma balaustrada. Coro de cima Desde a Renascena, chama-se coro ou coro de cima a parte de uma igreja situada prxima entrada na nave central, onde se localizam leigos e se processam os ofcios divinos. Originalmente, o coro ficava junto ao altar-mor. Na Igreja de So Bento a rea do altar-mor tambm chamada de coro. Coruchu Remate piramidal de um edifcio, verificado sobretudo sobre o campanrio de uma igreja. De maneira mais genrica, usa-se tambm o termo para designar qualquer remate de um campanrio, seja ele piramidal, meia-laranja, bulboso etc. Cunhal Pilastra, feita normalmente em obra de cantaria* com cantos vivos (90), colocada na quina ou canto de uma edificao. Os cunhais, por assim dizer, so as arestas verticais dos edifcios. Frontaria Fachada principal de um edifcio. O mesmo que frontispcio. Frontispcio Fachada principal de um edifcio. O mesmo que frontaria. Fuste Parte principal de uma coluna, situada entre o capitel (arremate superior) e sua base. Os fustes podem ser lisos, como nas ordens toscanas, ou com caneluras, como nas ordens dricas. Galil Vestbulo situado entre a parede da fachada e a porta de ingresso na nave de uma igreja. Pode apresentar, no vo situado na parede da fachada, uma verga em arquivolta. Modenatura Conjunto de molduras e demais elementos arquitetnicos que denotam o estilo, fase ou escola artstica de um prdio. Tambm chamada de modinatura. Nicho Reentrncia encontrada nas paredes internas ou externas de uma edificao, onde podem ser vistas esculturas, vasos, nforas etc. culo Abertura circular de uma parede, que tem por funo facilitar a iluminao e a aerao do ambiente. As rosceas medievais podem ser consideradas um tipo sofisticado de culo. Pilastra Elemento estrutural como as colunas ou pilares, de seo retangular, incorporado ao pano da parede e levemente saliente para fora desta. Pinculos Pequenos arremates situados nas partes superiores de um edifcio, que exercem funo meramente decorativa. As torres sineiras e os frontes curvilneos barrocos costumam vir acompanhados desses elementos arquitetnicos.
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Relicrio Relicrio uma pea onde se expe algum vestgio material de um santo (osso, fio de cabelo, dente, fragmento de roupa etc.), chamada de relquia, com o fim de ser adorada pelos fiis. A imagem-relicrio uma escultura de um santo, com uma relquia presa normalmente altura do peito, alm de apresentar os atributos correspondentes. Por exemplo, uma imagemrelicrio de So Loureno teria, alm da relquia presa escultura, uma palma e uma grelha. Retbulo Atrs da mesa, literalmente. Obra de talha ou em pedra lavrada que se localiza atrs e sobre o altar (mesa sagrada), onde se colocam imagens de santos ou pinturas religiosas. Sobreverga Arremate de vergas existentes em portas e janelas, normalmente decorado com motivos curvilneos. Serliano Relativo ao arquiteto Sebastiano Serlio (1475-1554), tratadista da arquitetura italiano, natural da Bolonha, que trabalharia na corte do rei francs de Francisco I. Tmpano Parte interna de um fronto, onde normalmente se podem encontrar inscries, relevos, esculturas etc. Torre sineira Parte do edifcio religioso onde se situam os sinos. O mesmo que campanrio. Verga Nome genrico dado aos arremates superiores de qualquer porta ou janela.
ndice
Aspectos histricos ........................................................................ 1 Os conventos franciscanos ............................................................. 2 Caractersticas ......................................................................... 5 O convento franciscano de Salvador ......................................... 9 As igrejas todas de ouro ................................................................13 O Convento e Igreja de Santo Antnio e a Igreja da Ordem Terceira da Penitncia do Rio de Janeiro .................................13 O Mosteiro de So Bento do Rio de Janeiro..............................19 Bibliografia ...................................................................................36 Glossrio ......................................................................................38 ndice............................................................................................40 Crditos ........................................................................................40
Crditos
Fotografias do Mosteiro de So Bento: A pintura oval e a do Nosso senhor dos Martrios so de Paulo Conceio.
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As demais foram feitas por Humberto Morais Franceschi e Nelson Rivera Monteiro, tendo sido extradas do livro de Dom Mateus Ramalho Rocha, com a autorizao do Mosteiro de So Bento. Seu uso em baixa resoluo de circulao restrita.
Ateno: Esta uma apostila produzida por Marcus Tadeu Daniel Ribeiro, destinada a subsidiar pedagogicamente o trabalho de ensino de Histria da Arte. Seu uso restrito a seus alunos, estando sua divulgao vedada sob todas as formas e meios, materiais ou digitais, especialmente atravs da Internet. Este documento est protegido pela Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que consolida a legislao sobre direitos autorais.