Este documento discute as origens e características da Umbanda no Brasil. A Umbanda surgiu de uma mistura de religiões africanas trazidas por escravos com elementos do Espiritismo de Kardec e do Catolicismo. O documento explora como os cultos africanos se desenvolveram no Brasil e influenciaram a formação posterior da Umbanda, assim como o processo de institucionalização desta religião.
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Revista frica e Africanidades - Ano IV - n. 14 /15 Agosto - Novembro.
2011 - ISSN 1983-2354
www.africaeafricanidades.com
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Breves consideraes sobre os caminhos da umbanda Bruno Rodrigues Pimentel Graduando em Histria - Universidade do Estado do Rio de J aneiro, [email protected] Fillipe dos Santos Portugal Graduando em Histria - Universidade do Estado do Rio de J aneiro, [email protected]
Temos como objetivo neste trabalho, expor algumas das principais caractersticas dos cultos que contriburam para a formao da Umbanda, culto que algumas pessoas desconhecem os preceitos, essncia e complexidade. Para discorrer sobre a origem da Umbanda ou das Umbandas, tendo em vista suas diferentes linhas, optamos expor primeiramente os aspectos sincrticos desse culto. Daremos importncia tambm ao processo de institucionalizao da Umbanda e abordaremos o mito de sua fundao. Vamos expor como teria sido iniciado o culto umbandista e discorreremos sobre a real importncia de Zlio Fernandino de Moraes para a institucionalizao da Umbanda Branca. Palavras-chaves: Religio; Sincretismo; Umbanda.
1- Introduo Para discorrermos sobre o culto umbandista achamos necessrio voltar ao perodo colonial, na medida em que os negros que foram trazidos na condio de escravos, a partir desse perodo, contriburam fundamentalmente com a sua cultura para a formao do candombl, que, por sua vez, contribuiu para a formao do culto umbandista, juntamente com os preceitos catlicos, a filosofia Kardecista. Como sabemos, os negros que foram trazidos para o Brasil na condio de escravos vieram das mais diversas regies do continente africano no decorrer de trs sculos, tendo em vista que o trafico de negros para o Brasil teve inicio no final do sculo XVI. Este fato explica o motivo deles possurem distintas tradies de parentesco_ quando possuam, diferentes tradies religiosas, sistemas econmicos, linguagens e mitos. Deste modo podemos afirmar que o trafico negreiro reduziu pessoas que exerciam as mais distintas funes e que possuam distintos status sociais a um nico denominador: a escravido.
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2- Religiosidade Afro-Brasileira Distintas etnias eram trazidas para o Brasil e costumava-se classificar os escravos de acordo com a localidade dos portos que embarcavam no continente africano. Entre os vrios grupos tnicos que eram trazidos sobressaiam-se dois grupos: os sudaneses (iorubs ou nags, jejes e fanti- achantis) e os bantos. Os bantos, de modo geral, baseavam as suas religies e crenas no culto aos antepassados e, de acordo com J os Guilherme Magnani no livro Intitulado Umbanda ... as religies das naes bantos, ao contrrio [das religies das outras naes], foram mais permeveis ao influxo de outros cultos e, em primeiro lugar, dos prprios ritos nags e jejes. Destes, adotam no apenas a panteo- fazendo novas correspondncias-, como tambm a estrutura das cerimnias e os ritos de iniciao. Em contato com populaes indgenas e mestias nas zonas rurais e no serto, sofreram tambm a influncia de cultos como a pajelana e o catimb. 1 Como foi dito na citao acima, o culto dos bantos foi mais permevel que o das outras naes, alm disso, o trafico negreiro e o sistema escravista inviabilizou o culto aos antepassados, caracterstico deste grupo, na medida em que houve o desagregamento dos grupos de parentescos. Sendo assim, a relao existente entre os deuses e as suas respectivas linhagens, haviam sido perdidas e, talvez, por isso o culto aos diferentes deuses que representavam as atividades humanas ou as foras e os elementos da natureza, em outras palavras o culto aos Orixs, cresceu em sua importncia entre as diferentes naes, que aqui estavam, prevalecendo a religio dos grupos sudaneses. Deste modo:
Se Ogum, por exemplo, no podia ser objeto de culto enquanto ancestral de uma linhagem, ser venerado em sua qualidade de orix guerreiro, senhor do ferro e patrono das atividades ligadas a esse metal. Mais ainda, se tambm no possvel a existncia de um grupo de iniciados dedicado exclusivamente a ele e a cada orix individualmente, os novos lugares de culto, no Brasil, rendero homenagem a vrios deles de forma coletiva. 2 Os sudaneses, que englobavam grupos oriundos da frica Ocidental e reas que hoje so chamadas de Nigria, Benin e Togo
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1 MAGNANI, 1991:17. constitudo, entre 2 MAGNANI, 1991:16-17. 3 Ver a obra Os Orixs ou Orishas de Pierre Verger, pois nela este autor se prope a expor e narrar aspectos do culto aos orixs, deuses dos Iorubs ou nags, tanto no seu lugar de origem quanto em regies do Brasil e das Antinhas, ou seja, em lugares para onde os seus praticante originrios foram levados a sculos atrs na condio de escravos. Alm disto, Verger discorre sobre a incorporao de prticas de outros cultos ao culto aos orixs.
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outros, pelos iorubs ou nags, pelos jejes e pelos fanti-achantis. Entre esses tambm vieram algumas naes que eram islamizadas. A entrada desse grupo no Brasil ocorreu, sobretudo, no perodo que vai do final do sculo XVII at o meado do sculo XIX. As manifestaes realizadas por esses grupos como: danas, cantos, msicas acompanhadas por instrumentos de percusso, invocao de espritos, adivinhao e curas mgicas, eram comumente chamadas calundu, tucaj e batuque, fato que perdurou at o sculo XVIII de acordo com Vagner Gonalves da Silva. Esses cultos englobavam uma grande diversidade de cerimnias que se misturavam com supersties vindas da Europa juntamente com os elementos africanos e catlicos. importante ressaltar que esses cultos se realizavam nos ambientes rurais limitando-se a fazendas, matas, roas e terreiros distantes do meio urbano. Porm, o crescimento das cidades e o constante aumento do nmero de negros libertos, escravos de ganhos e fugidos, gerou o ambiente propcio para o desenvolvimento desses cultos no oficiais que passaram a ser realizados em locais mais reservados dentro das cidades. 4 Em meio a esse contexto surgem os primeiros terreiros de candombl. Segundo Etiene Sales de Oliveira o primeiro terreiro de candombl no Brasil foi fundado em 1830 e se chamava Casa Branca do Engenho Velho, localizado na cidade de Salvador- Bahia.
5 O candombl tem sua organizao pautada atravs das famlias-de- santo, ou seja, so estabelecidos vnculos embasados em laos de parentesco religioso. A principio essas famlias eram formadas a partir de negros de uma mesma etnia, porm com o passar do tempo ocorreu a entrada de negros de outras etnias, alm de indgenas e brancos. Este fato resultou em mudanas neste culto, na medida em que foram assimilados elementos de outras prticas No entanto Pierre Verger demonstra a grande complexidade de expor onde foi fundado o primeiro terreiro, pois existem divergncias nos relatos sobre o assunto e, alm disso, pelo fato dos cultos ainda serem proibidos no inicio do sculo XIX, eles tinham um carter clandestinos e eram realizados de forma sigilosa para no sofrer perseguies das autoridades. Sendo assim, no se pode definir ao certo qual foi o primeiro terreiro que se realizaram as prticas do Candombl.
4 Sidney Chaulhoub expe no artigo Medo branco de almas negras: escravos, libertos e republicanos na cidade do Rio que muito antes dos anos 1880, escravos, libertos e livres despossudos representavam a maioria da populao urbana, conseqentemente, essas classes reproduziram na cidade do Rio as suas racionalidades e movimentos, contribuindo para o surgimento do que o autor denomina teatro dos vcios. Para retratar esse teatro, Sidney Chaulhoub utilizou em sua pesquisa uma srie de ocorrncias policiais e a partir da leitura dessas fontes documentais buscou interpretar as formas de pensar da sociedade estudada, chegando concluso de que este era um cenrio privilegiado uma vez que possibilitava a livre circulao dos negros pelas ruas dificultando a identificao da condio social das pessoas de cor e estabelecendo laos de solidariedade entre essas personagens. 5 OLIVEIRA, 2007: 27-28.
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religiosas, como a pajelana. Quando o individuo se introduz no candombl ele participa de uma iniciao, onde ... assume um nome religioso (africano) e um compromisso eterno com seu deus pessoal e ao mesmo tempo com o seu pai ou me de santo. 6 Como sabemos, durante o perodo colonial e imperial a religio oficial era o catolicismo e, sendo assim, os negros trazidos como escravos eram submetidos a esta religio. Estes, logo que chegavam ao Novo Mundo, eram batizados e recebiam nomes catlicos, mas muitos desses escravos no aceitavam a religio que a eles foram imposta e por isso utilizavam de diversas artimanhas para continuar o culto aos seus Orixs. Um grande exemplo de sincretismo por ns conhecidos o culto aos Orixs atravs das imagens de santos catlicos, associando as caractersticas destes as de seus Orixs; e assim, os negros conseguiam manter seus cultos e tradies. J na frica o culto aos Orixs est restrito a sacerdotes ou famlias e a adorao a essas divindades era realizada especificamente em alguns povoados ou regio. Por exemplo, um determinado reino cultuava apenas a um orix especifico. Xang era cultuado em Oy, mas pelos motivos j explicitados essa modalidade de culto no permaneceu aqui no Brasil, onde em um mesmo terreiro so cultuados vrios orixs. Os terreiros que se formaram no Brasil visavam reproduzir os padres dos cultos africanos e possuam uma identidade tnica grupal assim como nos reinos da frica. A estrutura religiosa dos povos de lngua ioruba foi predominante no sculo XIX e forneceu os elementos necessrios a infra- estrutura do candombl juntamente com as influncias de outros cultos. Os dois modelos de culto mais praticado so os ritos jeje-nago (pureza de culto) e o angola. importante ressaltar que nas primeiras dcadas do sculo XX a viso depreciativa e preconceituosa em relao aos ndios, negros e mestios foi sendo paulatinamente sobreposta por uma postura de dar nfase nas suas contribuies para a formao da cultura brasileira o que pode ser comprovado por movimentos culturais como a semana de arte moderna. Na pintura, na msica, na arte plstica, cada vez mais as tradies dos negros foram tomando espao e se tornando tema obrigatrio para a formao da cultura popular. Nas teorias sociais e nas obras historiogrficas as vises preconceituosas foram sendo substitudas por obras que tentavam enaltecer a originalidade do nosso povo em relao ao europeu. O estudo das manifestaes religiosas dos negros tomou um novo impulso, passando a ser estudadas no s pelas elites locais, mas tambm por pesquisadores estrangeiros como o antroplogo Roger Bastide, que fez uma das anlises mais abrangentes sobre os candombls da Bahia na obra O candombl da Bahia e Religies africanas do Brasil. Em meio a esses diversos
6 SILVA, 1994: 57.
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estudos vrios artistas e literrios se converteram ao candombl que foi sendo cada vez mais divulgado, com isso a classe mdia se misturou a classe baixa e estes movimentos sem dvida contriburam para a formao da mais popular das religies afro-brasileiras, a Umbanda.
3- Culto umbandista A Umbanda uma religio tipicamente brasileira, resultante do sincretismo da religio catlica, dos cultos indgenas, da religiosidade africana e dos preceitos Kardecista. Segundo Vagner Gonalves da Silva o culto Umbandista tem origem por volta das dcadas de 1920 e 1930, quando kardecistas de classe mdia do Rio de J aneiro, So Paulo e Rio grande do Sul, comearam a misturar elementos das tradies afro-brasileiras a suas prticas religiosas, alm de professar e defender publicamente essa mistura, dando a ela o status de uma nova religio. Muitos dos elementos que formaram a Umbanda j estavam presentes em cultos populares do final do sculo XIX com a Cabula e a Macumba. A Umbanda cultua as entidades africanas, os caboclos e os santos do catolicismo, que acrescida da filosofia kardercista resultou em uma maior gama de entidades e codificaes que a caracteriza. A contribuio do catolicismo, do espiritismo kardecista e do Candombl variam de intensidade de terreiro para terreiro, por isso a umbanda uma religio que possui diferentes ramificaes. Algumas dessas ramificaes se voltaram mais para a doutrina Kardecistas outras mais para os preceitos catlicos entre outros fatores. Mas que nos interessa neste momento ressaltar a multiplicidade na forma de culto, at por que cada terreiro tem autonomia no desenvolvimento dos seus cultos. Pra elucidar este fato optamos por expor as mais freqentes ramificaes da Umbanda assim como Etiene Oliveira 7
7 OLIVEIRA, Etiene Sales de. Umbanda de preto velha: A tradio popular de uma religio. So Paulo-SP, editora All Print, 2007. faz na sua obra j citada, porm daremos nfase na Umbanda Branca. A Umbanda Popular: possui um intenso sincretismo com os santos catlicos associados aos orixs africanos, assim como com a magia negra e feitiaria. Umbanda Omolok: a sua prtica provm das antigas macumbas cariocas, que existia uma forte mistura entre o culto aos Orixs e os trabalhos relacionados aos guias espirituais. Umbanda Traada ou Umbandombl: neste ramo embora haja diferena entre a Umbanda e o Candombl, ora o sacerdote trabalha com o Candombl, ora com a Umbanda, em um mesmo local, mas em dias diferenciados. Umbanda esotrica: est ramificao utiliza de preceitos do esoterismo. Umbanda Inicitica: derivada da Umbanda Exotrica, e possui uma forte influncia oriental, dispondo de mantras indianos e rituais msticos. Umbanda de Caboclo: resulta da influncia da cultura indgena presente no territrio brasileiro, tendo seu foco nos guias conhecidos como Cabloco.
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Umbanda de Preto-Velho: possui influncias da cultura africana, possuindo sincretismo com elementos do catolicismo. O comando espiritual dos terreiros fica na mo dos Preto-Velhos. A Umbanda Branca fortemente influenciada pelo Espiritismo. O Espiritismo kardecista uma doutrina filosfica e religiosa criada na Frana por Allan Kardec. Chegando ao Brasil na segunda metade do sculo XIX, primeiramente logrou de grande sucesso entre as classes mdias e depois entre as outras classes sociais. Essa religio era praticada principalmente por uma parte mais abastada da populao que se auto-determinava crist, e legitimava-se atos como a possesso dos espritos e fenmenos mgicos por um vis racional. Todavia, alguns indivduos eram descontentes com o espiritismo Kardecista devido a uma divergncia relativa a uma qualificao moral, cultural e evolutista mais baixa, geralmente, atribuda aos espritos que, na sua ltima encarnao, eram de pessoas negras e indgenas. Esses espritos baixavam nas mesas Kardecistas desde o sculo XIX e eram sempre tratados como entidades carentes de luz e que no mximo deveriam ser doutrinadas e dispensadas. Esse grupo de pessoas foi responsvel pela organizao do que seria conhecido como a Umbanda branca que viria a ser o resultado da reorganizao de alguns elementos dos cultos de origem negra, como os candombls nag e angola, associados as influncia de prticas indgenas e a valores morais catlicos, e tudo isso emoldurado pela doutrina kardecista, a qual, por sua vez, tem como inspirao idias hindustas como os ciclos de reencarnao e a lei do karma, ou da causa e efeito. Na Umbanda, como j foi dito, os espritos de negros e indgenas no seriam desprezados como eram no Kardecismo, porm cultuados e valorizados pelas suas mensagens e pelos trabalhos espirituais de curas, abertura de caminho, entre outras coisas. necessrio ressaltar que esse culto, assim como outros, teve a influncia dos cultos negros e indgenas, porm o que diferencia ele dos demais que neste prevalece a postura kardecista, prova disto o nome dos primeiros lugares de cultos fundados por esse grupo, chamados de Tenda Esprita de Umbanda. Essa ramificao do culto umbandista conhecida pelo modo de organizao mais silencioso, ordeiro, simplificado, podendo at algumas vezes seguir o padro das mesas kardecistas, mas necessrio ressaltar ainda que este e continua sendo um tipo especfico de umbanda. muito difcil e impreciso identificar quando, nas sesses espritas kadercistas, as entidades africas e indgenas comearam a baixar. Bruno Faria Rohde mostra na obra intitulada Umbanda, uma religio que no nasceu: breves consideraes sobre uma tendncia dominante na interpretao do universo umbandista que o que alguns autores identificam como sendo a origem da Umbanda um marco-mito 8
8 Este mito de fundao da Umbanda narrado por muitos autores como: Bruno Faria Rhoder e , ou seja, o fato de que a Umbanda
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tenha sido criada ou fundada em 15 de novembro de 1908 quando Zlio Fernandino de Morais 9 Etiene Oliveira, em sua obra Umbanda de preto velho: A tradio popular de uma religio, tambm expe toda esse marco-mito que se formou para explicar a origem da Umbanda, mas este autor demostra que Zlio de Morais foi apenas o institucionalizador deste culto, tendo em vista que ele fundou o primeiro templo institucionalizado de Umbanda, Tenda Esprita Nossa Senhora da Piedade, que, como demostra o autor, possui um acentuado sincretismo com o Espiritismo Kardecista e a igreja catlica. Oliveira argumenta, embasado em outros autores incorporou pela primeira vez numa mesa kardecista o Caboclo das Sete Encruzilhadas, fato incomum, pois geralmente quando havia incorporaes nas reunies kardecistas de espritos de origem negras ou indgenas, eles eram expulsos por serem considerados espritos fracos e sem cultura. Durante a incorporao o Caboclo das Sete Encruzilhadas questionou de forma argumentativa o porqu de tais espritos no poderem se manifestar, e defendeu que esses espritos poderiam atuar de modo igual aos demais, e concluiu dizendo que no dia seguinte, 16 de novembro de 1908, ele iria baixar novamente s 20 horas na casa de Zlio Fernandino de Morais onde seria fundado um novo culto onde os caboclos, pretos velhos e os demais espritos poderiam atuar livremente. 10 No momento da institucionalizao da umbanda, houve uma preocupao em eleva-la ou at mesmo aproxima-la do espiritismo. Esta aproximao , que existem evidencias de que as prticas desta religio j vinham ocorrendo bem antes de Zlio, pois a manifestaes de entidades como pretos-velhos, caboclos, boiadeiros, etc j ocorriam no candombls de caboclo e nas suas variantes - cabula, macumbas cariocas ... [...] algo [...] menos ortodoxo pelo lado doutrinrio Esprita e mais voltado a uma prtica de caridade, reportando-se a doutrina Esprita quando necessrio, retirando dela os pontos de interesse e passando por cima daqueles que poderiam levar a um conflito de doutrina e prtica. 11 Outra marca caracterstica desse perodo foi a forte presena da cultura catlica nacional ou catolicismo popular, pois existia uma adorao a seus
Etiene Sales de Oliveira. Esta narrativa varia de autor para autor, porm todas elas do nfase a alguns pontos em comum, como: o fato do Caboclo das Sete Encruzilhadas ter baixado em uma mesa kardecista um dia antes de ter fundado o culto umbandista. OLIVEIRA, Etiene Sales de. Umbanda de preto velho: A tradio popular de uma religio. So Paulo-SP, editora All Print, 2007. RHODER, Bruno Faria. Umbanda, uma Religio que no Nasceu: Breves Consideraes sobre uma Tendncia Dominante na Interpretao do Universo Umbandista, Revista de Estudos da Religio, maro de 2009.
9 Zlio Fernandino de Moraes nasceu no dia 10 de Abril de 1892, distrito de Neves, municpio de So Gonalo, regio metropolitana do Rio de J aneiro. 10 Emerson Giumbelli (2002), Renato Ortiz (1978) e Diana Brown (1974). 11 OLIVEIRA, 2007: 41.
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santos, no necessariamente associados aos orixs, e mais explicitamente a J esus e a Virgem Maria. Nesta forma de Umbanda institucionalizada por Zlio (Umbanda branca) no existe a incorporao dos orixs, pois eles no so vistos como divindades e sim como uma fora da natureza. O que ocorre a incorporao dos guias, conhecidos como caboclos, que baixam na condio de mensageiros de certos orixs.
4- Concluso Mediante ao que foi exposto at ento, podemos perceber a forte interao de varias doutrinas na formao do Culto Umbandista. Por isso, no decorrer do artigo, passamos pela contribuio das diferentes naes negras que foram trazidas na condio de escravos, trazendo consigo toda uma diversidade cultural e religiosa. Com o passar do tempo, essas manifestaes convergiram com outros cultos resultando em novas prticas religiosas. Por isso no decorrer do trabalho buscamos demonstrar um pouco de como se deu a formao do Candombl, que por sua vez contribui para a formao da Umbanda. Do mesmo modo fizemos breves consideraes sobre a contribuio do catolicismo e da doutrina Kadercista para a Umbanda. Expomos as especifissidades do culto Umbandista e as suas diferentes ramificaes tendo em vista que cada tipo dessas diferentes ramificaes possui caracteristicas especificas, mediante maior ou menor influncia de determiado culto, crena, religio que contribui para a sua formao. Por fim falamos da impossibilidade de se precisar o nicio do culto Umbandista, mediante o fato de diversos cultos possuirem caracteristicas semelhantes as prticas umbandistas em distintas regies do pas. No podemos afirmar que Zlio foi o fundador da Umbanda, pois nos faltam fontes concretas para este fim, na medida que os nicos documentos conhecidos que falam da figura de Zlio so posteriores a dcada de 1960. O mais correto seria dizer que Zlio foi o fundador de uma das muitas ramificaes desse. O que se pode afirmar a sua importncia na organizao da Umbanda, tendo em vista que ele foi o pioneiro na sua organizao institucional e fundador da sua primeira federao.
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