Revista Contraste 'A(s) Crise(s) ' :: Nº 26, 2010-2011

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crise(s)

por causa da(s) crise(s) cmos sem palavras e as imagens no chegam.

revista contraste 2010/2011 | 1

anual | n XXVI | maio2011 | preo de primavera: 0,00

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FICHA TCNICA I
DIRECTORES:

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mensagem do presidente da aefep

HUGO VOLZ OLIVEIRA TATIANA GRADIL MADUREIRA

MENSAGEM DO PRESIDENTE AEFEP

DEP. MARKETING

CRIAO LIVRE RUA INDUSTRIAL DA URTIGUEIRA, 76 4410-304 CANELAS

CONCEPO GRFICA, PAGINAO E PRODUO:

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O FIM DAS CRISES O FIM DO HOMEM

TIRAGEM: 500 EXEMPLARES

A GRANDE DEPRESSO E A CRISE ACTUAL: CONTRASTES

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Os artigos so de exclusiva responsabilidade dos seus autores.

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EMPREENDEDORISMO SOCIAL EM PORTUGAL

UMA DVIDA OCENICA

REVISTA CONTRASTE ASSOCIAO DE ESTUDANTES DA FACULDADE DE ECONOMIA DO PORTO R. DR. ROBERTO FRIAS 4200-464 PORTO TEL. 225 025 975 / 225 504 859 FAX. 225 504 861 www.aefep.pt [email protected]

CONTACTOS:

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O QUE QUE EU POSSO FAZER?

CRISE NO ECONMICA

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UMA TEORIA ECONMICA DO CATOLICISMO


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VOX POPULIS

Ignorar o primeiro sintoma de uma crise.

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| editorial

EDITORIAL
CRISE s.f. alterao que sobrevm no curso de uma doena; momento perigoso e decisivo; falta de trabalho; situao difcil do governo, que o obriga a recompor-se ou a demitir-se; economia: rpida descida dos preos, do volume de produo ou dos rendimentos (do gr.krsis, id, pelo lat. Crise-, fase decisiva de doena)
Neste momento, Portugal est doente. E o Mundo tambm. Poder-se- dizer que a sua doena se encontra numa fase decisiva, e com apenas dois finais alternativos: o da sobrevivncia ou o da morte. Cremos que existe uma maior tendncia para se acreditar na sobrevivncia, ou ento preferimos acreditar nessa hiptese, j que no passado muitas dvidas foram superadas, como em 1553, muitas crises foram vencidas, como a de 1929, e muitos outros desequilbrios se reequilibraram. No entanto, existe uma tendncia contrria muito forte, que se impe na sociedade de hoje, que a das pessoas no combaterem a doena, tendo essa opo nas mos. No s nos referimos ao consumo conspcuo de bens materiais a fim de satisfazer necessidades superficiais, como tambm a um desperdcio aleatrio de talentos, convices e capacidades, que o que distingue cada ser humano desde a sua criao. Daqui resulta a instabilidade da nossa identidade, que juntamente com a especulao e ganncia de se tentar ser o pouco que faz depressa e bem, nos conduziu, primeiro, em direco a uma crise financeira e, s depois, econmica, social e poltica, como ser abordado por alguns artigos mais frente. Sabemos que o equilbrio difcil, mas tambm sabemos que no impossvel, antes pelo contrrio. A natureza tende para o equilbrio, e ns tambm. Este reequilibrar em que acreditamos pode ser conseguido atravs de ideias e valores que se prendem nossa cultura, e que se encontram esquecidos por vrios motivos Ou, ainda, atravs do esprito empreendedor que pode e deve ser estimulado na educao, quer a da famlia, quer a da escola/universidade, com o intuito de se fazer crescer o sentido de responsabilidade que cada um tem e pode e deve ter no Mundo. De preferncia, com o ideal de fazermos sempre tudo para todos, porque ns somos todos, e de que uns no valem mais do que outros. Por exemplo, em que que as celebraes festivas do mundo ocidental aquando da recente morte de Bin Laden so diferentes das celebraes dos extremistas seus apoiantes depois de um atentado terrorista? Fez-se justia a qu? No achamos que o sistema de valores actual esteja muito equilibrado, e se no formos ns a renov-lo teremos de esperar que algum o faa. No temos tempo, preciso quebrar a aco em cadeia do dio para recuperar da(s) crise(s). Por ltimo, porque Portugal est em crise desde que ns, jovens estudantes, nos lembramos, porque est a piorar consideravelmente a cada dia que passa, porque a manh continua nevoenta, mas ningum chega para nos salvar, esperamos que estes artigos contribuam para uma nova viso do tema, um contraste com o senso comum, e que conduzam a um debate aceso e a uma reflexo profunda sobre o papel de cada um de ns nas crises. Esperamos que gostem deste Contraste 2010/2011, editado pela vossa AEFEP. E porque temos a fora, mas falta-nos a vontade; porque agir mais prudente que reagir, j que at vamos atrasados para esta crise, que consigamos atrasar as que nos esperam. No s as de todos, mas tambm as de cada um.

Fotografia de theqspeaks, sob licena Creative Commons

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mensagem do presidente da aefep |

SER PARTE DA SOLUO


O nosso pas vive nos dias de hoje um momento de particular crise econmica, pelo que se impe uma reflexo profunda sobre o modelo de desenvolvimento que adoptmos. Ao fazer parte de um conjunto de jovens que inicia a sua primeira aventura no mercado de trabalho, sinto um particular receio de que o nosso talento no seja reconhecido devidamente e que sobretudo haja poucas oportunidades relevantes para o demonstrar. No entanto, acredito que ns, jovens deste pas, se temos por um lado o direito de perseguir os nossos sonhos livremente e em igualdade de circunstncias, temos tambm a grande responsabilidade de dar o primeiro passo e de no deixar desvanecer a vontade e a confiana a meio do caminho. Acredito sinceramente que neste momento mais vale a pena ser parte da soluo do que ser parte do problema. A soluo parte de uma atitude positiva em relao aos nossos objectivos e obstculos, e na verdade, estamos na melhor altura da vida para o fazer. com especial orgulho que observo colegas da nossa faculdade a enveredar pela via do empreendedorismo, que contrariam todos os dias o risco da sua actividade e que experimentam o sucesso com suas prprias mos. Da mesma forma, admiro aqueles que investem na sua formao, mesmo trabalhando a tempo inteiro e que procuram desenvolver as suas competncias para melhor enfrentarem os desafios da sua carreira profissional. Por outro lado, reconheo que muitos de ns no tm a capacidade financeira ou o tempo necessrio para tomar este tipo de opes, pelo que o caminho a trilhar muito mais rduo, porm no menos desafiante. Independentemente dos factores que condicionam as nossas escolhas, mesmo numa conjuntura econmica agravada, somos ns que as tomamos. No fundo, no nos podemos acomodar ou aceitar o estado de coisas, deixando que outros decidam por ns. Ser parte da soluo implica nunca perder a confiana nos nossos objectivos, envolve colocar a nossa energia e criatividade ao servio do bem comum e sobretudo ao servio da nossa felicidade. Neste sentido, espero que esta edio da Revista Contraste promova um maior esclarecimento sobre a temtica da crise econmica, atravs de uma abordagem original e irreverente s diversas concepes recolhidas sobre a mesma. Em nome da Direco da Associao de Estudantes da Faculdade de Economia do Porto, agradeo a todos aqueles que contriburam de uma forma valiosa para este projecto.

Bruno Pinto Presidente da Direco da Associao de Estudantes da Faculdade de Economia do Porto - 2010/2011

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| a grande depresso e a crise actual: contrastes

A GRANDE DEPRESSO E A CRISE ACTUAL: CONTRASTES


Entrevista a Professor Doutor Pedro Nuno Teixeira Director - CIPES, Centro de Investigao de Polticas do Ensino Superior e Professor Associado da FEP-UP Conduzida por Tatiana Madureira 2 da licenciatura em Economia da FEP

Para comear, e porque aqueles que no conhecem os erros do passado esto condenados a repeti-los, o Contraste quis tentar perceber melhor o que separa as duas crises mais importantes da histria moderna da economia, a Grande Depresso e a crise actual. Sem dvida, para reflectir.
1. De uma forma sucinta, em que consistiu a Grande Depresso de 1929 e qual a sua verdadeira origem? A resposta no fcil por vrias razes. A primeira delas porque a Grande Depresso de facto uma crise bastante complexa. Alis, ns referenciarmos a crise que se desenvolve a partir de 1929 e que se extende durante a primeira metade dos anos 30 como A Grande Depresso, utilizando o artigo definido A, sinal de que no apenas uma crise profunda, mas A Crise por definio e assim se tem mantido desde ento. Os termos Grande Depresso j eram usados nessa altura, embora at ento para designar uma crise associada da dcada de 70 do sculo XIX. No entanto, a profundidade e a revelncia da Crise dos anos 30 do sculo XX fez com

... no deixa de ser quase irnico que o actual presidente da Reserva Federal dos EUA, Ben Bernanke, tenha desenvolvido uma grande parte da sua carreira analisando a Grande Depresso e agora esteja a enfrentar uma crise...

que a mesma passasse a ser A Crise de referncia. Esta um facto que dificulta a minha resposta, mas tambm porque o nosso entendimento acerca da Grande Depresso tem-se alterado, em particular medida que a investigao (macro)econmica se tem desenvolvido. E este tambm um aspecto simblico da Grande Depresso, j que algumas

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a grande depresso e a crise actual: contrastes |

das figures mais influentes do pensamento macroeconmico do sculo XX dedicaram-lhe uma grande ateno para perceber o que correu mal e porque que correu to mal (alis, o mesmo acontece ainda hoje). As respostas que foram sendo dadas tiveram implicaes significativas na poltica macroeconmica ao longo do sculo XX e at hoje. Ns identificamos como a primeira grande resposta que teve uma grande influncia, a resposta Keynesiana. Mas, por exemplo, na resposta do monetarismo de Friedman no por acaso que o primeiro grande pilar da sua anlise a sua histria monetria dos EUA e a anlise do comportamento da Reserva Federal norte-americana exactamente

durante a Grande Depresso. Finalmente, no deixa de ser quase irnico que o actual presidente da Reserva Federal dos EUA, Ben Bernanke, tenha desenvolvido uma grande parte da sua carreira analisando a Grande Depresso e agora esteja a enfrentar uma crise, porventura a maior crise desde esse momento. Outro aspecto onde se tm observado mudanas na vis o acerca da Grande Depresso (e sobre aquilo que foi decisivo na mesma) o da posio, que prevaleceu durante muito tempo, de que aquela havia sido um problema essencialmente americano, que por sua vez se tinha propagado escala internacional pela importncia que aquela economia tinha j ento escala mundial. Isso em parte obviamente significativo. No entanto, aquilo que ns hoje sabemos do resultado de muito trabalho de investigao sobre esse perodo que s conseguimos perceber a transformao da crise na Grande Depressao devido s ramificaes entre as diferentes economias e pelo grau de interdependncia, nomeadamente do ponto de vista financeiro e monetrio, que existia epoca. Exemplos disso mesmo so as vicissitudes do sistema monetrio internacional no perodo entre guerras e o impacto da crise nos movimentos de capitais e de mercadorias que tinham crescido muito significativamnete a partir do finais do sculo XIX, fomentando uma crescente interdependncia entre diferentes economias. De uma forma muito simplificada, aquilo que acaba por detonar a crise uma crise bolsista (o famoso crash de Outubro de 1929) que se vai transformar, atravs de alguns problemas na poca, numa crise financeira muito grave, nomeadamente do sistema financeiro americano. A esta crise financeira americana juntar-se-o os problemas financeiros que existiam do lado europeu e o lado financeiro ir contaminar a estrutura econmica cul-

Os paralelismos em termos econmicos e histricos so sempre muito tentadores.

minando numa Grande Crise. O que de salientar no apenas uma crise economico-financeira mas a sua transformao numa Grande Depresso, num perodo prolongado de retraco profunda da actividade econmica. Para ilustrar o grau de gravidade, a ttulo de exemplo, temos que entre o pico da produo industrial americana antes da crise (meados de 1929) e o pico inferior, o perodo mais baixo em termos de crise econmica, a produo industrial americana praticamente reduziu-se a metade. Ou seja, em trs anos assistiu-se a uma diminuio em 50%. O comrcio internacional, em alguns casos, reduziu-se a 1/3 entre 1928-1929 e 1933. Neste sentido, constata-se portanto, um colapso da actividade econmica em termos de investimento, de produo industrial e do comrcio internacional. Na verdade, a Crise de 29 de uma gravidade e profundidade que felizmente at agora ainda no tivemos nada igual. Por outro lado, o facto de ns termos experimentado a Grande Depresso faz com que determinados mecanismos, seja do ponto vista de monetarizao da actividade econmica, seja da actuao por parte da poltica econmica, de certa forma nos protejam de chegar a uma situao semelhante.

2. Considera existirem indcios de um reviver da magnitude da Grande Depresso, tanto a nvel nacional como mundial? Os paralelismos em termos econmicos e histricos so sempre muito tentadores. um facto que est muito enraizada aquela viso

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| a grande depresso e a crise actual: contrastes

popular de que a Histria se repete, de que cclica. Como tal, preciso ter-se muito cuidado quando fazemos estes paralelismos, visto que, a meu ver, tendemos a seleccionar aquilo que comum e tendemos a desvalorizar aquilo que diferencia os momentos histricos. portanto um exerccio de reconstruo que ns fazemos para encaixar nas concluses a que queremos chegar. Na verdade, existem elementos coincidentes no sentido de termos tido uma crise do ponto de vista financeiro, ainda que no tenha comeado por ser uma crise no mercado de capitais, mas nos mercados de crdito de alto risco. Logo, h diferenas em termos de origem. As crises so semelhantes por terem uma dimenso financeira muito forte inicialmente, que depois se alastra para variveis de natureza econmica, e que se acaba por repercutir desse ponto de vista. Podemos enumerar diferenas, na medida em que o mundo mais integrado escala mundial do que o que era em 1930. Isso porventura pode agravar o impacto da crise, tornando-a mais importante escala mundial, actualmente. Todavia, cria mais possibilidades de recuperao. E pode-se constantar isso mesmo, atravs do facto de que nem o impacto da crise nem a sua retoma esto a ocorrer da mesma forma, com a mesma rapidez e ritmo escala mundial. Por exemplo, hoje o mundo no ocidental tem um peso em termos da actividade econmica e do comrcio externo bastante maior do que na altura e portanto, desse ponto de vista, o impacto tambm ser mais mitigado. Alm de que h uma grande parte desse mesmo mundo que j recuperou do impacto da Crise. Assim, apesar de tudo, h uma leitura que foi prevalecendo da Crise dos anos trinta do ponto de vista financeiro e poltico-econmico que nos pode beneficiar no aspecto de se repetir um processo prolongado em termos recessivos. E h desde

logo, um quadro internacional de coordenao de polticas, de relaes financeiras e comerciais escala internacional muito diferente, que antes no existia. Ou seja, o compromisso nos anos 30 era notvel em termos de vontades individuais, enquanto que hoje temos um quadro consolidado ao longo de vrias dcadas atravs de organizaes internacionais fortes. H tambm diferenas ao nvel interno, nomeadamente no que hoje ns conhecemos e no que possvel intervir em termos da actividade monetria, financeira e econmica, que no existia nos anos trinta. Por exemplo, aquilo que a reserva federal tem estado a fazer nos EUA no quis fazer ou no poderia ter feito no contexto da crise dos anos 30, isto , uma interveno mais forte do sistema financeiro, de cedncia de liquidez, de tentativa de travar uma corrida aos bancos, porque a ideia que prevalecia na altura era de reduzida interveno. Por outro lado, no teria o poder para o fazer mesmo que o quisesse, j que no tinha instrumentos do ponto de vista de regulao dos sistemas financeiro e monetrio e, se os tem hoje, grande parte devido leitura negativa que se faz do facto de no ter existido uma capacidade de interveno por parte das autoridades monetrias na crise dos anos trinta.

3. Acredita, portanto, que somos capazes de aprender com os erros do passado e que sabemos tirar partido daquilo que diferencia as duas crises em questo?

Sim, apesar de algumas hesitaes. Como exemplo disso posso ainda salientar mais alguns elementos que distinguem as duas crises. Em primeiro lugar, h outra conscincia do impacto da dimenso monetria que teve a crise e das insuficincias do comportamento das autoridades monetrias dos EUA (e no s), no contexto da crise dos anos 30. Em segundo lugar, hoje os governos tm uma capacidade de estabilizao da conjuntura macroeconmica que no tinham (e nem era suposto terem) em 1929, o que mitiga frequentemente o impacto das crises. Porque os governos possuem um conjunto de instrumentos para travar o impacto negativo de algumas variveis econmicas, ns hoje vemos, por exemplo, que a subida do desemprego foi muito mais mitigada, apesar de ter subido muito e de ser um problema preocupante para as autoridades econmicas e polticas. Mas no vemos na generalidade das economias o desemprego a ultrapassar os

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Em suma, considero que estes trs factores diferenciam as duas crises e explicam que possivelmente esta crise no vai ter o impacto que teve a Grande Depresso dos anos 30.

25%, como no pico da crise a que se chegou nos EUA nos anos 30. Alm disso, estar desempregado hoje no a mesma coisa que na poca anterior em questo, pois o conjunto de apoios sociais que permitem mitigar o impacto do desemprego e as suas consequncias no consumo e na quebra da procura, tambm contrariam esse desenrolar, em termos recessivos duma crise. O terceiro e ltimo aspecto o facto de ser mais difcil aos governos resvalar para uma poltica proteccionista, que rapidamente nos arrastaria para uma situao que reduziria o potencial crescimento da economia mundial como um todo, visto que os governos esto hoje, quer queiram ou no, mais amarrados e mais controlados desse ponto de vista. Esse tambm foi um dos factores que acabou por prolongar os efeitos da Grande Depresso. Perante a presso dos acontecimentos, da presso eleitoral e poltica interna, muitos governos foram obviamente tentados a assumir medidas de

proteco dos interesses nacionais. neste sentido que, no contexto da crise actual, ns tambm assistimos a alguns governos manifestarem interesse em apoiar determinadas empresas com a contrapartida de estas no fecharem unidades produtivas nesses pases. Tal aconteceu quer na Europa, quer nos EUA, onde os governos tentaram tomar algumas medidas com algum cariz proteccionista. No entanto, hoje o ambiente mais difcil devido ao nvel de consolidao do sistema econmico escala internacional, sendo mais exequvel travar essas derivas proteccionistas. Por conseguinte, mais difcil a reemergncia em fora do proteccionismo, pelo menos da forma como aconteceu nos anos 30. Isto no significa que no existam essas tentaes, at porque os governos so reeleitos pelo eleitorado nacional (no pelos externos), e portanto isso continua a ser uma presso, embora no longo prazo seja claramente desvantajoso para o conjunto da economia mundial. Em suma, considero que estes trs factores diferenciam as duas crises e explicam que possivelmente esta crise no vai ter o impacto que teve a Grande Depresso dos anos 30.

solucionar a crise ou evitar que situaes semelhantes sua origem venham a acontecer no futuro?

4. Em poucas palavras, como descreveria cada uma das crises?

O QUE DISTINGUE AS DUAS CRISES?

1 Outra conscincia do impacto da dimenso monetria 2 capacidade de estabilizao da conjuntura macroeconmica dos governos 3 Hoje mais difcil aos governos resvalar para uma poltica proteccionista

a. Crise de 29: auto-regulao e liberalismo. Marca o ocaso dessas duas ideias, a ideia da no interveno. b. Crise actual: Desregulao e neo-liberalismo. Marca porventura a inverso do nus da prova face interveno estatal, embora seja ainda prematuro para o poder identificar.

As pessoas respondem a um determinado quadro instituicional, a determinadas regras, e como tal ajustam-se a elas, aos sinais que vo recebendo e aos incentivos (quer positivos, quer negativos). Se ns quisermos incentivar determinados comportamentos e desincentivar outros temos de repensar as regras em termos do funcionamento do sistema econmico, financeiro ou da prpria sociedade em que vivemos. Mas esse repensar de regras no algo que feito em abstrato, ou seja, depende da participao que cada um vai tendo. Neste sentido, quem tem uma formao em economia ou gesto pode ter um papel importante no sentido de militar pela defesa de determinadas ideias e de contribuir para que o debate sobre questes econmicas e financeiras seja mais rico, porque tem a obrigao de ter uma opinio mais informada e qualificada. Ou seja, parte das crises so tambm um repto quilo que a nossa participao cvica, sendo que a nossa participao no que diz respeito s questes econmicas e financeiras no apenas como cidados, mas tambm como algum que suposto ter competncias acima da mdia sobre questes econmicas e financeiras. Esse facto d-nos uma responsabilidade acrescida, sendo-nos exigido um maior grau de participao do ponto de vista cvico e social.

6. Numa palavra, o que fazer para o futuro melhorar: Reflectir!

5. Em que medida que considera que os estudantes podem ajudar a

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| uma dvida ocenica

UMA DVIDA OCENICA


Entrevista a Professor Doutor Antnio Casto Henriques Professor Associado da Faculdade de Economia da Universidade do Porto

Continuando na ptica da necessidade de perceber o passado para agir face ao futuro, o Contraste recua agora ao sculo XVI para saber mais sobre o primeiro de sete defaults de dvida externa da nossa histria financeira.
Introduo Os juros exigidos pelos mercados financeiros internacionais pesam cada vez mais, o mercado de capitais interno parece curto para cobrir as grandes despesas do estado, outros pases europeus vm-se obrigados a reestruturar dvidas que no conseguem pagar, uma balana comercial negativa (incluindo a importao de unidades navais do Norte da Europa) drena o pas dos seus meios de pagamentos, graves homens polticos condenam a usura dos mercados e nem o sucesso da ltima operao de endividamento parece resolver as dificuldades financeiras do estado portugus. O desfecho lgico adivinha-se: o default portugus. Estamos, claro, a 2 de Fevereiro de 1560, a data do primeiro default de dvida externa da nossa histria financeira, o nico que no aconteceu durante o sculo XIX (cinco entre 1828 e 1850 e o de 1890) e que no responde a nenhuma tenso poltica interna sria. As contrariedades de financiamento do estado portugus tornam este episdio mais presente (ou, antes, menos extico). Mas ser comparvel s actuais dificuldades portuguesas? Ou ser que a escala

Estamos, claro, a 2 de Fevereiro de 1560, a data do primeiro default de dvida externa da nossa histria nanceira...

Aqui e agora Neste nosso sculo os estados endividam-se de forma a antecipar receitas; no limite, o que est em causa o tempo. No sculo XVI, sem telecomunicaes, transferncias virtuais e transportes rpidos, o espao (ou a distncia) era to problemtico como o tempo. O problema de cada tomador emprstimo era o aqui e agora e no apenas o agora. O principal instrumento de crdito do sculo XVI a letra que permitia transferir dinheiro de um centro financeiro para outro (Roma para Frankfurt, Lyon para Anturpia, etc.) a curto prazo. No entanto, para negcios intercontinentais com a ndia, o Extremo-Oriente, a frica ou o Brasil no existia semelhante rede de centros financeiros e o prazo de pagamento era inevitavelmente superior. Este era um desafio fundamental do imprio portugus. Com efeito, os soberanos portugueses do sculo XVI tinham

superior, a tecnologia e os sofisticados instrumentos de anlise tornam os problemas actuais completamente diferentes? esta pergunta que tentarei responder. Porm, antes de prosseguir, deixo uma advertncia: o default de 1560 um acontecimento muito mal conhecido. Apesar de figurar na obra de referncia sobre a histria das crises financeiras -This Time is Different de Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart (2008) este caso no deixou grande rasto nas obras dedicadas ao perodo e grande parte da documentao contempornea no sobreviveu. O que se segue um esforo algo temerrio no sentido de recuperar um episdio cuja importncia inversamente proporcional ateno reduzida que tem recebido dos nossos historiadores.

O problema de cada tomador emprstimo era o aqui e agora e no apenas o agora.

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uma dvida ocenica |

a despesa corrente (da qual 2/3 consistia em transferncias redistributivas) bem cabimentada. Todos os oramentos (o termo tcnico era estado da fazenda) conhecidos para este perodo apresentam saudveis superavits (19% em 1527; 15% em 1534; 41% em 1557). certo que a tcnica oramental quinhentista tinha dificuldade em antecipar a chamada despesa no certa e que a sua execuo nos escapa por completo, alm de que os montantes de servio da dvida nem sempre esto claramente identificados. Contudo, a despesa corrente, redistributiva ou de defesa e justia, no causava qualquer sobressalto, at porque a receita acompanhava o crescimento rpido do pas. Era apenas o projecto imperial e comercial portugus que obrigava o pequeno pas ao endividamento. Em meados do sculo XVI, o rei de Portugal o senhor das rotas do ndico e, como tal, o principal (ainda que no o nico) fornecedor europeu das ditas especiarias: a canela, a pimenta, o cravo e a noz-moscada. Este negcio tinha uma dimenso muito grande e atraa os principais capitalistas da Europa (alemes e italianos). De facto, as especiarias, em pequenas ou grandes quantidades, eram absorvidas por uma procura europeia fortemente elstica. Entre

1530 e 1560, s a venda da pimenta por conta da coroa podia render por ano 700,000 cruzados, equivalentes a cerca de 85% do total das restantes receitas do estado (o que poder equivaler a 5%-10% do PIB portugus). No entanto, o domnio portugus no incontestado: Portugal tem de defender as suas bases e as suas rotas de sucessivas armadas turcas e das potncias asiticas e os corsrios europeus comeavam a espreitar no Atlntico Norte. O transporte das especiarias tanto uma empresa logstica e comercial como uma operao militar: necessrio construir navios, equiplos com canhes, tripul-los com homens bem armados e abastecelos com provises base de trigo (o biscoito). Ora, se o pas conseguia produzir algum estanho (para a artilharia de bronze) e linho (para as velas), no produzia nem madeira, nem armas nem trigo com a quantidade, qualidade e preo adequados. Faltava-lhe por completo o cobre e o ferro. Perante a necessidade de obter estes produtos e matrias-primas do Centro e Norte da Europa, os portugueses estabeleceram em

Anturpia uma agncia (a Feitoria da Flandres) que adquiria estes produtos e negociavam junto com os capitalistas europeus a venda da especiaria. Por outro lado, no ndico, os portugueses dominam as rotas e os portos, no as reas de produo de especiaria. Ora, os produtores asiticos exigiam pagamento imediato a dinheiro: moedas de cobre, prata ou mesmo ouro. Como no havia possibilidade de uma operao de compra a crdito na ndia, era necessrio carregar de metal precioso as naus. Portugal tinha acesso s fontes africanas do metal amarelo e cunhava uma moeda de ouro fivel (o cruzado) que tinha paridade com a moeda mais forte da poca (o ducado) mas faltava-lhe a prata e o cobre, os melhores meios de pagamento para negociar na sia (onde valiam bem mais do que na Europa). Ou seja, Portugal precisava dos mercados da Norte da Europa, fosse como vendedor (para as especiarias e produtos orientais e tambm para a fruta, azeite, sal, couro e vinho) fosse como comprador (trigo, madeira, ferro, cobre e prata). Uma vez que os tempos de compra

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e venda eram imprevisveis e dependiam de um sem nmero de circunstncias, o recurso o crdito era inevitvel. Na administrao portuguesa, os emprstimos junto dos mercados estrangeiros (os cambos) eram impopulares. Em 1544, um ano muito desfavorvel (por constrangimentos do lado da procura, o juro ascendia a 18% ao ano, por oposio ao tpico 14% ou ao favorvel 8%), a dvida total dobrava cada quatro anos, como escrevia alarmado o feitor portugus na Flandres. Sendo assim, por que razo a monarquia no se limitou a reinvestir os lucros da ndia para criar uma espcie de fundo permanente, sedeado em Anturpia, para aquisio destas importaes? uma pergunta de um milho de ducados e no tem uma resposta simples, sobretudo devido falta de documentao sobre estes negcios. Ainda assim, pode-se indicar dois factores que ajudam a explicar o recurso sistemtico dvida: a) a procura inelstica das especiarias. Como a procura das especiarias era constante, independentemente da quantidade que chegava ao mercado. Tanto a portugueses como a capitalistas interessava maximizar a quantidade de pimenta e, como tal, o investimento, independentemente das disponibilidades financeiras da coroa. Quanto mais pimenta acorresse a Anturpia, mais se venderia. b) convergncia dos interesses das partes. Tal como hoje seria conveniente perceber quem, dentro do annimo mercado, compra a dvida, importante perceber quem que adiantava o dinheiro. No sculo XVI, grande parte dos capitalistas que emprestavam dinheiro ao rei de Portugal eram os principais vendedores do cobre e da prata e os intermedirios da prpria venda da especiaria. Ora, o

de controlar a dvida visvel at 1544. Apresenta-se aqui os valores conhecidos sobre o stock de dvida pblica a curto prazo (todos os emprstimos, excluindo obrigaes perptuas e dvidas a fornecedores), baseados em estimativas feitas por contemporneos melhor ou pior portugueses como a capitalistas interessava maximizar a quantidade de pimenta e, informados. Contra a Usura como tal, o investimento, independentemente das disponibilidades financeiras da Os mais grandes emprstimos na coroa. Quanto mais pimenta acorresse a Anturpia, se venderia. b) convergncia dos interesses das partes. Tal como hoje seria Flandres, como o conveniente de 1544, A coroa portuguesa compreendia perceber quem, dentro do annimo mercado, compra a dvida, importante contrado a um juro ruinoso dedos 18%, a dificuldade que o recurso ao perceber quem que adiantava o dinheiro. No sculo XVI, grande parte capitalistas que emprestavam rei de Portugal eram os principais deixaram de provocar uma crdito colocava. Alis, de dinheiro tempos ao no vendedores do cobre e da prata e os intermedirios da prpria venda da de especiaria. oposio ao mercado capitais a tempos, conseguia liquidar as Ora, o emprstimo de dinheiro no mercado de capitais era indissocivel destas e ao endividamento. 1549, D. suas obrigaes. Atravs deoutro um lado, negociaes over-the-counter . Por a credibilidade do rei Em de Portugal, senhor dos oceanos e dada pimenta, boa ou, pelo superior espanhola, Joo III menos, decidiu que a pimenta seria documento isolado Torreera do como atestam os valores conhecidos do mercado secundrio. Como tal, o rei vendida em Lisboa, ordenando Tombo (CC/1/71/134), sabe-se conseguiria obter quase sempre um gio favorvel que compensasse os custos e a o encerramento lentido inerente aos transportes e comunicaes. da feitoria na que oe imprevisibilidade dinheiro da pimenta em 1529 serviu para liquidar todas as Flandres. Rompia-se a ligao Contra a Usura dvidas da monarquia. O mesmo especial com os capitalistas do A coroa D. portuguesa dificuldade que o recurso transformar ao crdito e procurava-se se preparava Joo IIIcompreendia para fazer a Norte colocava. Alis, de tempos a tempos, conseguia liquidar as suas obrigaes. Atravs Lisboa no centro de distribuio em 1540, segundo o testemunho do de um documento isolado da Torre do Tombo (CC/1/71/134), sabe-se que o dinheiro mercadorias orientais pelos embaixador espanhol Sarmiento. da pimenta em 1529 serviu para liquidar todasdas as dvidas da monarquia. O mesmo se preparava D. Joo para fazer em 1540, segundo o testemunho do embaixador mercados europeus. Para esta O vedor da III fazenda (ministro espanhol Sarmiento. O vedor da fazenda (ministro encarregue da gesto das receitas, contribuiu certamente encarregue da gesto receitas, do deciso da previso da despesa e das da execuo oramento) advertia claramente o seu senhor e amigo, D. Joo III: os cmbios tambm parecemcrescimento que ho de durar pouco; o me grande da prata da previso da despesa e da e muito mais pouco, se virem que Vossa Alteza se no pe em ordem. americana importada pela Espanha, execuo do oramento) advertia Com efeito, uma certa capacidade de controlar a dvida visvel at 1544. potncia com pblica a qual Portugal claramente aqui o seu senhor e amigo, Apresenta-se os valores conhecidos sobre o stock de dvida a curto prazo (todos os III: emprstimos, excluindo obrigaes perptuas relaes e dvidas excelentes. a fornecedores), D. Joo os cmbios tambm me mantinha
baseados em estimativas feitas por contemporneos melhor ou pior informados. QUADRO 1 Dvida Pblica (em 106 reais) 1529 1534 1540 1544 1552 1560 26 67 36 78 120 80 Em % da receita do estado (excluindo Oriente) 155 280 ? ? 396 264 Fonte: Clculos do Autor Os grandes emprstimos na Flandres, como o de 1544, contrado a um juro Para a coroa, havia ainda umaeoutra parecem que no ho de durar pouco; uma ruinoso de 18%, deixaram de provocar oposio ao mercado de capitais ao endividamento. 1549, D. III decidiu a pimenta seria vendida em Lisboa, vantagem em negociar em casa: o e muito maisEm pouco, seJoo virem que que ordenando o encerramento da feitoria na Flandres. Rompia-se a ligao especial com mercado de capitais oferecia Vossa Alteza do se Norte no pe em ordem. os capitalistas e procurava-se transformar Lisboa no centrointerno de distribuio das mercadorias orientais mercados europeus. Para esta melhores. deciso contribuiu condies muito Alis, o Com efeito, uma certapelos capacidade certamente o grande crescimento da prata americana importada pela Espanha, potncia com a qual Portugal mantinha relaes excelentes.

emprstimo de dinheiro no mercado de capitais era indissocivel destas negociaes over-the-counter. Por outro lado, a credibilidade do rei de Portugal, senhor dos oceanos e da pimenta, era boa ou, pelo menos, superior espanhola, como atestam os valores conhecidos do mercado secundrio. Como tal, o rei conseguiria obter quase sempre um gio favorvel que compensasse os custos e a lentido e imprevisibilidade inerente aos transportes e comunicaes.

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Para a coroa, havia ainda uma outra vantagem em negociar em casa: o mercado de capitais interno oferecia condies muito melhores. Alis, o rei de Portugal tinha capacidade de o mobilizar a um preo inferior aos seus rivais europeus. Entre 1529 e 1530, os prestamistas portugueses conseguiram reunir quase 100,000 uma dvida ocenica | cruzados a uma taxaade juro de 6,25%. O facto este gio se aproximar do que foi Para coroa, havia ainda uma de outra vantagem em negociar em casa: o negociado nos ltimos meses de 2010 para os ttulos de dvida pblica a 10 anos no mercado de capitais interno oferecia condies muito melhores. Alis, o rei de Portugal nos deve enganar: a taxa de das de dvidaaos portuguesas era menos Entre tinha capacidade oobrigaes mobilizar aperptuas um preo inferior seus rivais europeus. que passou despercebida: rei de Portugal tinha emisses capacidade de inglesas de metade diversas de dvida ao longo do quase sculo XVI e das taxas100,000 seus activos, ao mesmo tempo que 1529 e 1530, os prestamistas portugueses conseguiram reunir quase praticadas nas losrenten dos Pases Baixos (ver fig. 1). O prprio spread entre o juro o estado conseguiu vender os foi emprestam a um estado junto do o mobilizar a um preo inferior aos cruzados a uma taxa de juro de 6,25%. O facto de este gio se aproximar do que portugus e o instrumento equivalente da mais ricaos monarquia contempornea nos Entre ltimos meses de 2010 para ttulos de dvida pblica a(a 10de anos no qual tm melhor poder negocial e seus bilhetes de tesouro junto dos seus Espanha) rivais negociado europeus. 1529 e era de 89 pontos a base. nos deve enganar: taxa das obrigaes perptuas de dvida portuguesas era menos

bancos portugueses apresentando 1530, os prestamistas portugueses de metade diversas emisses de dvida inglesas ao longo do sculo XVI e das taxas cujas garantias lhes interessam mais praticadas nas losrenten dos Pases Baixos (ver fig. 1). O prprio spread entre o juro directamente. No entanto, tal como colateral. Os conseguiram reunir quase 100,000 Taxas de Juro em Portugal (emisses de Juros ), bancos portugueses portugus e o (emisses instrumento equivalente da mais rica monarquia contempornea (a de Inglanterra de vrios de dvida do estado conseguem assim aumentar os o quadro 1 mostra, a deslocao cruzados a uma taxa juro de ttulos Espanha) era de de 89 pontos base. )e Holanda (emisses de Losrenten), 1500-1800 das operaes para Portugal no contribuiu para reduzir a dvida Taxas de Juro em Portugal (emisses de Juros), 16 Inglanterra (emisses de vrios ttulos de dvida do estado total. Porqu? ) e Holanda (emisses de Losrenten), 1500-1800 14 Na verdade, os capitalistas estrangeiros e portugueses 12 16 continuaram a emprestar dinheiro 10 14 e a participar na organizao de 8 armadas. Os juros de 7,14%, 6,25% 12 6 ou 5% que a oferecia junto dos bancos portugueses apresentando colateral. Osmonarquia bancos portugueses 10 eram indicados para pequenos conseguem assim aumentar os seus activos, ao mesmo tempo que emprestam a um 4 8 estado junto do qual tm melhor poder negocial e cujas garantias lhes interessam mais Years aforradores com uma estratgia directamente.1 No entanto, tal como o quadro 1 mostra, a deslocao das operaes 2 6 essencialmente que para Portugal no contribuiu para reduzir a dvida total. Porqu? defensiva 0 Na verdade, os capitalistas estrangeiros continuaram a queriame portugueses garantir uma renda 4 1500 1550 1600 1650 1700 1750 1800 emprestar dinheiro e a participar na organizao de armadas. Os juros de 7,14%, Years perptua para os seus descendentes 2 6,25% ou 5% que a monarquia oferecia eram indicados para pequenos aforradores (filhasque beira degarantir entrar uma pararenda um Portugal England Holland com uma estratgia essencialmente defensiva queriam Linear (England) Linear (Holland) 0Linear (Portugal) perptua para os seus descendentes (filhasconvento beira de entrar para um convento ou ou herdeiros de um 1500 1550 1600 1650 1700 1800 herdeiros de um 1750 morgadio). Era uma alternativa compra de um imvel para arrendar, morgadio). Era uma alternativa do qual se poderia esperar um retorno de 5%. O gio reduzido escondia uma realidade Portugal England compra de um imvel para arrendar, (que tanto Holland de 1560 como de 2010): a insuficincia do mercado interno. As Linear (Portugal) Linear (England) Linear (Holland) sondagens j efectuadas (para os anos 1529-31 e 1557-9) no mercado do qual se mostram poderiaque esperar um interno a coroa conseguia mobilizar apenas cerca de 50,000 cruzados por ano. retorno de 5%. O gio reduzido Ora, juros baixos no atraam as fortunas dos investidores mais ambiciosos escondia uma realidade Fontes: dados do autor; Van Der Ent, L, Fritschy, W., Horlings, E. e Liesker, com R., Public Finance in na the expectativa que negociavam o Oriente de lucros muito superiores. (que Para United Provinces of the Netherlands in the Seventh and Eighteenth Centuries, in Ormrod, W.M, Bonney, financiar as suas armadas a monarquia teve de negociar com estes investidores, tanto de 1560 como de 2010): tal a Margaret and Bonney, Richard, Crisis, revolutions and self-sustained growth. Essays in European Fiscal como faria at 1560. O que acontece a seguir a 1549 pouco claro mas h dois dados History, 1130-1830, (Stamford, 1999), pp.1-21. insuficincia do mercado interno. importantes: Fontes: dados do Van Der Ent,procurava L, Fritschy, negociar W., Horlings, E. e Liesker, R., Public Finance insuperior the As sondagens Ao retirar-se doautor; mercado o rei com elites junto das quais j efectuadas a) o stock de dvida bastante em 1557 e 1560 ao que fora(para anos United Provinces of the Netherlands in the Seventh and Eighteenth in Ormrod, W.M, Bonney, tinha um maior ascendente poltico e que tinham mais a antes ganharCenturies, com as necessidades Margaret and Bonney, Richard, Crisis, revolutions and self-sustained growth. Essays in European Fiscal os anos 1529-31 e 1557-9) mostram da monarquia. Alis, difcil no relacionar esta deciso com uma notcia recente que History, 1130-1830, (Stamford, 1999), pp.1-21. b) o nmero de navios equipados e enviados para a ndia depois de 1549 passou quase despercebida: o estado conseguiu vender os seus bilhetes de tesouro inferior ao que acontecia dcadas que antes.no mercado interno a coroa
% %

6,25%. O tinha facto este gio poltico se e que tinham mais a ganhar com as necessidades um de maior ascendente monarquia. Alis, difcil no relacionar esta deciso com uma notcia recente que aproximar da do que foi negociado passou quase despercebida: o estado conseguiu vender os seus bilhetes de tesouro Partida de Navios para a India (1525-65) nos ltimos meses de 2010 para os ttulos de dvida pblica a 10 anos 20 no nos deve enganar: a taxa das 18 16 obrigaes perptuas de dvida 14 portuguesas era menos de metade 12 diversas emisses de dvida inglesas 10 ao longo do sculo XVI e das 8 taxas praticadas nas losrenten dos 6 Pases Baixos (ver fig. 1). O prprio 4 spread entre o juro portugus e o 2 instrumento equivalente da mais 0 rica monarquia contempornea (a de Espanha) era de 89 pontos base.
1525 1527 1529 1531 1533 1535 1539 1537 1541 1543 1547 1545 1549 1551 1553 1555

Ao retirar-se do mercado o rei procurava negociar com elites junto das quais

1557

1559

1561

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Ao retirar-se do mercado o rei procurava negociar com elites junto das quais tinha um maior ascendente poltico e que tinham mais a ganhar com as necessidades da monarquia. Alis, difcil no relacionar esta deciso com uma notcia recente

Fonte: Lopes, Antnio, Frutuoso, Eduardo Miranda e Guinote, Paulo, O movimento da Carreira da ndia nos scs. XVI XVIII. Reviso e Propostas, Mare Liberum, n. 4, Dezembro 1992, pp. 226-227.

Estado refora garantias aos investidores para vender dvida pblica, Jornal de Negcios, 20 de Janeiro de 2011, pp. 16-7; Tett, Gillian, Lisbon move points to end of risk-free sovereigns, Financial Times, 20 January 2011, p. 12.

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conseguia mobilizar apenas cerca de 50,000 cruzados por ano. Ora, juros baixos no atraam as fortunas dos investidores mais ambiciosos que negociavam com o Oriente na expectativa de lucros muito superiores. Para financiar as suas armadas a monarquia teve de negociar com estes investidores, tal como faria at 1560. O que acontece a seguir a 1549 pouco claro mas h dois dados importantes: a) o stock de dvida bastante superior em 1557 e 1560 ao que fora anos antes b) o nmero de navios equipados e enviados para a ndia depois de 1549 inferior ao que acontecia dcadas antes. Golpe de Fora Como afirmado na introduo, o default portugus seguiu-se ao repdio da dvida de duas grandes potncias europeias: a Espanha em 1557 declarou a sua famosa primeira bancarrota (na realidade, uma reestruturao da dvida negociada com os credores) e a Frana imitou-a no ano seguinte. No possvel afirmar-se que houve qualquer contgio: ambas as decises respondiam a dificuldades militares e polticas concretas e no tanto a uma conjuntura econmica ou fiscal desfavorvel. No entanto, o precedente espanhol mostrava de forma clara o problema central da dvida soberana: sobre o poder poltico, no h lei nem coero. Como escrevia o vedor da fazenda portugus em 1541, o Conde da Castanheira, se os mercadores [capitalistas] no vivem seno de olhar pelo modo da vida das pessoas com que contratam, e que podem fazer meter na cadeia, aos reis () se lhes no podem pagar, no podem eles mais fazer isso. Com efeito, em 1559, em Lisboa um conjunto de mercadores estrangeiros (genoveses sobretudo) e nacionais negociara com a coroa um emprstimo a um juro de 10% que permitiu armar seis navios para a ndia que garantia partida lucros muito maiores. No entanto, a 2 de Fevereiro de 1560, a regncia (D. Sebastio no completara ainda 14 anos) decidiu unilateralmente alterar as condies do contrato. Invocando a imoralidade de um juro a 10%, o alvar rgio ordena que o juro fosse incorporado no principal que seria pago em prestaes de 5% nos vinte anos seguintes. Tratava-se de uma converso forada do emprstimo em juro, configurando uma situao de default ainda que no total. Ironicamente, o default portugus culminou uma longa tentativa de saneamento das finanas que procurou substituir a dvida de curto prazo contrada essencialmente no exterior pelo mercado de capitais interno que a coroa acreditava ser mais malevel. Considerando a tendncia para a venda dvida pblica ser feita banca nacional, no estaremos diante de uma tendncia semelhante? A histria repete-se? Ou os riscos actuais so muito diferentes. A mesma dvida confessava em 1541 o conde da Castanheira ao seu rei:

Tratava-se de uma converso forada do emprstimo em juro, congurando uma situao de default ainda que no total.

Quando cuido nas coisas que Vossa Alteza obrigado a suster, e no modo de que est sua fazenda, representam-se-me tantas desesperaes, que muitas vezes me parece que vem mais de minha compleio melanclica, que doutra coisa. E j me algumas vezes aconteceu para me tirar desta dvida, buscar alguns homens de muita idade e experincia para saber deles a diferena que h deste tempo ao passado, que eles tinham visto de mais necessidades. Os mais me diziam que nunca tamanhas foram. E alguns ho que houve j outras tais, e que se remediaram. Antnio de Atade, conde da Castanheira, Carta ao Rei (4 de Outubro de 1541)

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crise no econmica|

CRISE NO ECONMICA
Entrevista a Professor Doutor Jos Rui Teixeira Professor da Escola de Artes da Universidade Catlica do Portuguesa, investigador do CEPP, da UCP e do CITCEM, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Fazemos agora um intervalo na anlise histrica para contrastar a perspectiva econmica da crise com a teolgica, aqui em anlise. Porque a conscincia da crise afecta-nos mais do que a prpria crise ou os seus efeitos
Parece pretensioso que algum com formao teolgica, no contexto que partilhamos, aceite falar ou escrever sobre a crise. De facto, interessa-me a crise desde a perspectiva teolgica. verdade que tambm a teologia pode ser considerada em crise; por estes dias, at Deus parece afectado pela abrangente conscincia de crise, j que h muito se falava nas

tambm verdade que, por vezes, nos afecta mais a conscincia de crise do que a prpria crise ou os seus efeitos materiais.

... por estes dias, at Deus parece afectado pela abrangente conscincia de crise.

crises que iam desgastando os sistemas religiosos tradicionais e a experincia individual do homem ocidental nesse enquadramento histrico-cultural. A questo certamente outra, to envolvente como todas estas: que tipo de crise nos afecta realmente? Sem relativizar aquilo que no passvel de ser relativizado, como o caso da crise desde a perspectiva econmica, importa afirmar que a crise, como conceito e como contexto de mundividncia geral, fundamentalmente um problema que afecta o homem

protologicamente, em relao origem, no estabelecimento de um processo consequente de identidade, e escatologicamente, em relao ao fim ltimo do homem, considerado em termos meta-histricos. A crise a crise do Homem, com implicaes necessariamente antropolgicas, cosmolgicas e teolgicas. verdades que estamos em crise desde que existe auto-conscincia. tambm verdade que, por vezes, nos afecta mais a conscincia de crise do que a prpria crise ou os seus efeitos materiais. ainda verdade que a crise do presente como a uma enfermidade presente: condiciona o sentimento de que nunca sofremos no passado como estamos a sofrer neste momento. Se tudo isto verdade, tambm certo que afecta significativamente o homem ps-moderno, reconhecido nas suas fragilidades estruturais, ou seja, em crise desde que lhe foi diagnosticada a psmodernidade, uma espcie de

enfermidade que ataca os indivduos com depresses de todos os tipos e as sociedades com crises de variadssimas espcies. Seja como for, no me parece irrelevante que se fale em crises que afectam as famlias e outras estruturas sociais de base, como a vizinhana ou as associaes; no me parece despropositado que se fale num crise de relaes; nem sequer me parece imprprio que se fale em crises de identidade, na medida que esta crise, que partilhamos no espao e no tempo, parece-me fundamentalmente uma crise de identidade, de um homem que no quem , de onde vem ou para onde vai. Pode ser, de facto, uma crise de referncias, no que concerne a estruturas tradicionais, pode ser uma crise de relao com Deus, mas resulta fundamentalmente numa crise de identidade, de quem talvez s reconhea que lhe falta poder de compra, um emprego ou, em ltima anlise, o alimento, esse po nosso de cada dia que faltou tantas vezes em ocasies em que a mundividncia no era de crise.

...no me parece despropositado que se fale num crise de relaes;

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| uma teoria econmica do catolicismo

UMA TEORIA ECONMICA DO CATOLICISMO


Entrevista a Professor Doutor Pedro Arroja Alumni e ex-docente da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, Presidente do Conselho de Administrao do Grupo Financeiro Pedro Arroja Conduzida por Tatiana Madureira, 2 da licenciatura em Economia da FEP, e Artur Veloso Vieira, do 1 ano do Mestrado em Gesto de Servios da FEP

Continuamos em parte na teologia, mas voltamos compreenso do passado com os olhos postos no futuro. No mbito de um artigo recente intitulado O pndulo para uma teoria econmica do Catolicismo, publicado pelo Professor Pedro Arroja, o Contraste realizou uma entrevista com o objectivo de explorar a tese naquele apresentada: as bases para algo que ainda no existe, uma teoria econmica do Catolicismo. Esta assenta em trs pilares teolgicos fundamentais subsidiariedade, solidariedade e personalismo e na atitude intelectual do realismo catlico que enfatiza o presente e o concreto, o aqui e o agora, por oposio s ideologias Liberal e Socialista que pem o nfase na transformao da sociedade, no abstracto e no futuro.
1. Qual foi a origem do fundamento da teoria econmica do catolicismo que constitui a sua tese? A ideia principal e a mais importante, a grande distncia de todas as outras, a de que ns, portugueses, temos andado nos ltimos 35 anos, basicamente no perodo do regime democrtico, a ir buscar ideias a tradies de pensamento que nos so alheias, que no so nossas. No caso da economia, h a tradio anglo-saxnica que teve incio com Adam Smith, no sculo XVIII, e que tem dificuldade em entrar na nossa cultura, tanto que quando entra produz danos, s vezes considerveis. Os economistas em Portugal tm sido formados nessa tradio de pensamento, a tradio da cincia econmica, e eu prprio contribu para isso, e, portanto, no nenhuma questo pessoal. Por conseguinte, os economistas tm contribudo para a situao de grave crise em que Portugal hoje se encontra, comeando por ser uma crise financeira, e s depois econmica, social e poltica. Uma maior contribuio tem sido dada pelos juristas que tambm vo buscar a sua formao a um pas (Alemanha) que representa uma tradio de pensamento que em nada se assemelha com a nossa e que quando nela entra consegue ser extraordinariamente danosa. O resultado visvel no nosso sistema de justia, em que esta considerada das instituies que pior funciona segundo inquritos de opinio feitos aos portugueses, que eu subscrevo. Refiro-me neste contexto, tradio luterana de pensamento protestante cujo fundador dessa corrente de pensamento foi Kant, e que deu origem ao hoje chamado positivismo jurdico; ao passo de que a tradio onde se funda a economia tambm protestante, mas anglicana e presbiteriana. E qual essa diferena de cultura? a de que somos um pas profundamente catlico, enquanto os outros pases anteriormente mencionados so profundamente protestantes. O Lutero foi o originador do protestantismo alemo, que no s rompeu a unidade catlica que existia no mundo, como mais tarde os prprios protestantes entre eles se dividiram e deram origem a mais correntes de pensamento, tais como o

... ns, portugueses, temos andado nos ltimos 35 anos, ... a ir buscar ideias a tradies de pensamento que nos so alheias, que no so nossas.

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uma teoria econmica do catolicismo |

Ns portugueses temos andado a protestantizar o nosso pas completamente relia daquilo que os nossos antepassados tentaram defender ... , mas isso apenas a origem, porque esta tradio muito mais do que isso.

luteranismo germnico e o anglicanismo anglo-saxnico. Do primeiro, surgiu a cincia positivista, e, do segundo, veio a cincia econmica. Quando se deu essa ciso de destacar a importncia de trs pases que se puseram ferozmente do lado da igreja catlica para se oporem ao protestantismo - Portugal, Espanha e Itlia; assim como dos seus descendentes na Amrica do sul - enquanto a norte de Frana ficaram os pases protestantes: Frana, Alemanha, Holanda, Sua, Dinamarca, ilhas britnicas e as colnias da Inglaterra, (EUA, Canad e mais recentemente Austrlia e Nova Zelndia). Actualmente, a cultura ocidental continua a analisar-se ao nvel dessa ciso, sendo o sul predominantemente catlico e o norte maioritariamente protestante (embora inclua muitas seitas diferentes, cerca de 30000). Ns temos portanto uma tradio de pensamento, e nas ltimas dcadas temos andado a importar ideias que no so nossas e so inimigas da nossa tradio, e a considerar pensadores que so contrrios quilo que ns sempre fomos, cujos pensamentos produzem danos incalculveis na nossa sociedade. Destes pensadores de salientar Adam Smith e Kant, sendo a linha de pensamento protestante alem luterana muito pior do que a anglo-saxnica. Infelizmente dentro da Unio Europeia o pas mais impositivo a Alemanha e portanto as ideias que prevalecem so alems, alm do dinheiro da UE que provm principal-

mente da Alemanha. Ns portugueses temos andado a protestantizar o nosso pas completamente relia daquilo que os nossos antepassados tentaram defender, que foi a nossa maneira de viver as nossas ideias acerca da vida radicalmente contra essas ideias que vinham da Alemanha e que hoje se exprimem em ns atravs do direito. Esta tendncia de negarmos a nossa prpria tradio surge da forma como o catolicismo olhado pelos portugueses, essencialmente como uma doutrina religiosa, mas isso apenas a origem, porque esta tradio muito mais do que isso. Toda a gente pensa em igreja, padres, papa e parece que no lhes ocorre que o catolicismo contem uma teoria econmica que diferente da de Adam Smith, uma teoria jurdica que diferente da linha que evoluiu a partir de Kant, uma teoria poltica diferente da que se ensina nos cursos de cincia poltica e que fazem recurso a pensadores do norte da Europa e da Amrica do norte, e por fim, contm uma teoria social, que no teve origem, como a sociologia moderna, no Auguste Comte, mas que muito mais antiga. Ns, se formos ao catecismo da igreja catlica, que uma obra mo-

numental em que ltimo artigo foi publicado em 1994, e feito por uma comisso de telogos catlicos presidida pelo actual Papa Bento XXVI, vemos que no esta l apenas religio.

2. Qual o papel do Estado segundo o catolicismo, em oposio s duas correntes protestantes que enuncia?

O papel do Estado na economia, na tradio anglo-saxnica herdada por Adam Smith, tende a ser o estado mnimo, que d a mxima liberdade s pessoas para entrarem livremente nos seus contratos econmicos, e que s age no exerccio das funes consideradas essenciais da defesa nacional, da administrao interna e da administrao da justia. Na tradio protestante germnica, o estado mximo, o estado providncia criado por Bismark na Alemanha, que se prende a um estado comunista para substituir as funes sociais que ento pertenciam igreja. E como an-

O papel do Estado na economia, na tradio anglo-saxnica herdada por Adam Smith, tende a ser o estado mnimo.

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| uma teoria econmica do catolicismo

Na tradio protestante germnica, o estado mximo.


ticatlico radical que era, Bismark acabou com a igreja e com as suas funes (na sade, educao, etc). Na tradio catlica, a funo do estado subsidiria, o estado s deve intervir nas funes que as pessoas instintivamente atravs das suas organizaes espontneas, como a famlia, no conseguirem realizar. Esta posio compatvel com os dois estados, mas tambm compatvel com todos os graus intermdios entre o estado mnimo e o estado mximo. E qual destas trs a mais realista?

Na tradio catlica, a funo do estado subsidiria.

Obviamente a da Igreja Catlica. J que no vejo um propsito, por exemplo, de ir para os EUA, onde existe uma tendncia para o estado mnimo, dizer que o estado se deve imiscuir em todas as tarefas, tornar pblicas as principais empresas privadas, j que totalmente contrrio tradio deles. A nica posio racional a da igreja catlica, que afirma que o tamanho do estado no se pode definir com uma soluo que vlida toda a humanidade pois cada pas tem a sua cultura e de acordo com a mesma que dimenso estatal deve ser estipulada.

para o domnio da f, que a marca distintiva da cincia moderna, uma auto-mutilao da razo que possui srias consequncias. No domnio das cincias sociais, como a Economia, no , talvez, difcil reconhecer razo ao Papa. A Cincia Econmica moderna trata a sociedade como se Deus no existisse, mesmo se a realidade seja a de que no possvel nomear uma nica sociedade humana, presente ou passada, que no tenha tido um Deus. Neste sentido, legtimo dizer que a Cincia Econmica moderna no realista porque se ocupa de uma sociedade que no existe nem nunca existiu uma sociedade sem Deus. O Papa afirma que o catolicismo a religio da Razo, a nica doutrina perfeitamente racional, que no exclui Deus do escrutnio da razo e que permite chegar a Deus pela razo - e no pela f, como faz Kant. Pode perguntar-se que diferena faz a um economista incluir ou excluir Deus da sua cincia - a diferena radical. A incluso de Deus, de acordo com a tradio crist, faz olhar o homem como tendo sido feito imagem e semelhana de Deus. A sua excluso retira todo este estatuto ao homem. A principal consequncia , pois, a desvalorizao do homem e da razo humana. Excluindo Deus da sociedade, de-

... legtimo dizer que a Cincia Econmica moderna no realista porque se ocupa de uma sociedade que no existe nem nunca existiu uma sociedade sem Deus.

qual substituda por autoridades impessoais, como a lei, a democracia e o mercado.

4. Em que que o paradigma catlico superior aos paradigmas do socialismo e do liberalismo? Ao nvel das instituies, no paradigma socialista verifica-se a predominncia das empresas pblicas enquanto no liberalismo se destacam as empresas multinacionais. A empresa tpica da tradio catlica a empresa familiar. Hoje, em Portugal, embora sendo cada vez mais importador de pensamento protestante, verifica-se que a esmagadora maioria das empresas portuguesas so familiares. E mesmo quando queremos adoptar a verso anglo-saxnica da grande empresa que a sociedade annima, essa, quando transposta para Portugal, s annima no nome; visto que atrs do nome Sonae temos sempre uma famlia do Sr. Belmiro Azevedo, atrs do grupo Amorim ns sabemos que existe o Sr. Amorim, etc. Ou seja, curiosamente aquelas que conseguem ser grandes empresas conseguem ser personalizadas. Neste sentido, quando Adam Smith caracterizou as estruturas do mercado de concorrncia perfeita, monoplio e oligoplio, fez-me ver que o tipo de economia que tem mais concorrncia a tradio catlica, pois so quase todas pequenas as

3. Porque define a religio catlica como a religio da razo? Desde h vrios anos, o telogo Joseph Ratzinger, actual Papa Bento XVI, tem vindo a insistir contra a atitude intelectual moderna, de origem protestante, de tratar a sociedade como se a ideia de Deus no existisse. O Papa considera que a atitude kantiana de excluir Deus do domnio da razo, remetendo-o

O Papa considera que a atitude kantiana de excluir Deus do domnio da razo, remetendo-o para o domnio da f, que a marca distintiva da cincia moderna, uma auto-mutilao da razo que possui srias consequncias.

saparece o conceito de autoridade pessoalizada ( imagem de Deus), a

A empresa tpica da tradio catlica a empresa familiar.

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No caso da tradio germnica, o estado que vai falncia, como j aconteceu na Grcia e est em vias de acontecer em Portugal...

empresas no sector da restaurao, no pequeno comrcio, na pequena indstria. E muito poucas grandes empresas privadas formando oligoplios, como acontece na tradio anglo-saxnica. Sendo a empresa da tradio catlica familiar, nunca capaz de atingir uma dimenso multinacional, porque, em ltima instncia, h uma pessoa a control-la e esta possibilidade de controlo por uma pessoa limitada. Eu posso controlar a minha empresa em Portugal, mas se a tiver em mais 50 pases, perco o controlo e alm de que para essa expanso vou necessitar de capitais importantes que a famlia no tem. E tal exigiria a entrada de capital novo, acabando por se destruir a prpria filosofia em que a empresa foi fundada. No caso de uma grande crise econmica, se ocorrer nos pases protestantes anglo-saxnicos so as grandes empresas que vo falncia, arrastando consigo imensos trabalhadores e gerando graves crises sociais. No caso da tradio germnica, o estado que vai falncia, como j aconteceu na Grcia e est em vias de acontecer em Portugal e que vai lanar no desemprego muitos funcionrios do prprio Estado, tendo sido a reduo dos salrios o primeiro sinal, mas outras coisas viro. Neste contexto, como na tradio catlica, as empresas so todas pequenas. Se uma for falncia afecta no mximo uma centena de trabalhadores, mas nunca aos milhares. Portanto, os problemas econmicos nunca atingem em tempos de crise dimenses catastrficas, porque tudo equilibrado entre o exagero da empresa multinacional e das grandes empresas pblicas.

5. Tanto o socialismo, na sua escolha colectiva, como o Liberalismo, na democracia, so ambos processos impessoais. De que forma que os processos se revelam altamente personalizados e pessoalizados no catolicismo?

Inicialmente, o protestantismo rejeitou a autoridade do papa, j que era apenas a sua interpretao das escrituras na Bblia e o significado que lhes atribua que regia a Igreja. Para os protestantes, a fonte da verdade da palavra de Deus passou a ser somente as escrituras; ao passo que para os catlicos essa fonte era a interpretao pela igreja das escrituras (tradio). Os protestantes contestaram, portanto, o papa e a tradio. Tendo negado a autoridade da Igreja, numa altura em que a religio possua uma influncia decisiva sobre o esprito das pessoas e a sua maneira de organizar a vida, a cultura protestante teve necessidade de desenvolver doutrinas que, em substituio da doutrina da Igreja, permitissem s pessoas sujeitas sua influncia refazerem a sua vida pessoal e social, quer em termos espirituais, quer em termos materiais. Neste ltimo campo, vrias doutrinas emergiram do protestantismo e ganharam forma a partir do sculo XVIII, as mais importantes sendo o Liberalismo, na Gr-Bretanha, e o Socialismo, na Alemanha. Uma das teses mais influentes de Kant, s vezes chamado o filsofo do protestantismo na Alemanha, foi a de considerar que somente os fenmenos possuindo manifestaes

exteriores podem ser objecto de discusso racional. Fenmenos de natureza espiritual, como a crena em Deus, ficam excludos da esfera da razo. A primeira consequncia desta ideia a de que os cientistas, para serem verdadeiramente cientistas (ou racionais), tm de colocar Deus de lado. Na Cincia Econmica, e nas cincias sociais em geral, a caracterstica da cientificidade passou a ser tratar a sociedade como se Deus no existisse. A segunda consequncia foi a de desvalorizar o pensamento catlico como no-cientfico, considerando que o catolicismo, com a sua insistncia na ideia de Deus, no uma doutrina racional. A tradio personalista do cristianismo, em que cada homem uma criao de Deus, e por isso um ser nico e irrepetvel, cede o lugar ao individualismo protestante-liberal, de matriz anglo-saxnica (Hume, Smith, Ferguson), onde cada ho-

Quem governa um pas deixa de ser uma autoridade pessoal, mas o processo impessoal da democracia - o povo, o qual no susceptvel de imputao de responsabilidades ou de exigncia de racionalidade.

O homem e a razo humana so substitudos por processos impessoais, que so a-racionais.

mem essencialmente igual aos outros, ou, ainda, ao colectivismo protestante-socialista, de matriz germnica (Kant, Hegel, Marx), onde cada homem insignificante perante a sociedade. O homem e a razo humana so substitudos por processos impessoais, que so a-racionais. Quem decide a afectao dos recursos na sociedade deixa de ser uma autoridade pessoalizada, a quem se pode pedir responsabilidades e exigir racionalidade, para passar a ser o processo impessoal do mercado, ao qual no se pode pedir respon-

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Foi o liberalismo anglo-saxnico que produziu a Grande Depresso dos anos 30 e mais recentemente a actual crise econmico-nanceira.

sabilidades ou exigir racionalidade. Quem governa um pas deixa de ser uma autoridade pessoal, mas o processo impessoal da democracia - o povo, o qual no susceptvel de imputao de responsabilidades ou de exigncia de racionalidade. Quando a economia e a sociedade deixam de ser governados pela razo humana, e passam a ser governados por processos impessoais, como o mercado e a democracia, os resultados passam a ser aleatrios. No havendo ningum que os controle e responda por eles, estes processos podem conduzir ao mais alto nvel de prosperidade econmica e de harmonia social, como podem igualmente conduzir runa e destruio, como j aconteceu no passado e pode vir a acontecer no futuro. Foi o liberalismo anglo-saxnico que produziu a Grande Depresso dos anos 30 e mais recentemente a actual crise econmico-financeira, desencadeada pela falncia do banco de investimento norte-americano Lehman Brothers. Foi a democracia alem que produziu Hitler, tendo sido eleito com a maioria dos votos e consequentemente criado novas leis que conduziram ao holocausto, j que os Alemes consideravam que ser-se livre implicava obedecer as essas leis. E porqu os judeus? A tradio decidiu que os judeus no se adaptam aos povos que os acolhem, e como tal h que esmagar esse povo para preservar a tradio germnica. J os povos anglo-saxnicos, se entram em contacto com culturas diferentes, segregam-nas, no as esmagam, atravs da criao de um conjunto de leis que constituem regras imparciais dum jogo, aplicadas a todos os pees/povos

nele envolvido, independentemente das suas culturas. E tal processo acaba por manter a paz social. O povo catlico, no segrega nem esmaga; mistura. A nossa tradio muito sedutora, comeando por pessoas que so muito sedutoras, quer os homens quer as mulheres. Somos imensamente curiosos pela novidade (qualquer coisa estranha sua cultura queremos saber para depois ir contar), alm de acharmos que a felicidade est sempre alm, (e isso enfatizado pelo facto de sermos um povo que emigra muito).

O povo catlico, no segrega nem esmaga; mistura.

6. Neste contexto, afirma que a democracia moderna, com o seu sufrgio universal , tal como o mercado, um processo impessoal, onde todos participam mas ningum responsvel pelos resultados finais. O que distingue a democracia da nossa tradio?

Quando cem eleitores escolhem democraticamente o lder da sua comunidade, no caso de a escolha ser m, ainda possvel responsabilizar cada um deles pelo resultado final, porque cada um teve, ainda assim, um peso de 1% nesse resultado. Mas quando a eleio feita entre 10 ou 200 milhes de eleitores, como acontece nas democracias modernas, o peso de cada eleitor no resultado final tende para zero. Torna-se impossvel responsabilizar algum por uma m escolha, e o mau chefe poder ento ter de ser removido por meios anti-democrticos, anulando a principal vantagem da democracia, que a de permitir a substituio pacfica dos governantes. Mais ainda, num argumento que constantemente reiterado pela

Foi a democracia alem que produziu Hitler...

Igreja, no possuindo os processos impessoais (como a democracia e o mercado) ningum em posio de autoridade que tambm os controle, estes correm o risco de serem apropriados por grupos de interesses particularmente bem colocados, que os utilizam em seu benefcio prprio e contra o bem comum da sociedade. Por isso, a Igreja Catlica no pode subscrever uma democracia ilimitada. O economista James Buchanan, lder da Escola da Escolha Pblica, ganhou o Prmio Nobel em 1986 largamente por este argumento. Friedrich Hayek, Prmio Nobel em 1974, tambm j o tinha intudo. A nossa tradio tambm inclui democracia, mas no ilimitada, em que votam todos, o que desvaloriza o ser humano. A doutrina catlica fornece as pistas centrais: tem de ter a governao de um homem, que frequentemente emergiu do povo, mas que foi sendo levado a essa posio suprema pelo povo no atravs do voto, mas da avaliao que o povo foi fazendo dele e que o levou primeiro a uma certa posio, a padre; e ainda o povo e seus padres o levaram a bispo, depois cardeal e, finalmente, a papa. um homem cuja seleco vai sendo feita ao longo da sua vida a diversos nveis, comeando por ser parte do povo. A organizao poltica natural cultura portuguesa muito semelhante organizao da igreja catlica. Devia comear-se pelas freguesias,

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Mas quando a eleio feita entre 10 ou 200 milhes de eleitores... o peso de cada eleitor no resultado nal tende para zero.
tal como as parquias. A esse nvel, o presidente da Junta da Freguesia seria eleito democraticamente porque tem a vantagem da pessoalidade e, por sua vez, serem este mesmos presidentes a constituir o eleitorado para a seleco dos presidentes das cmaras, e os ltimos para as eleies do primeiro-ministro. Esta uma ideia compatvel com a doutrina catlica, em que em cada nvel existe um eleitorado limitado, mas por exemplo, na eleio do primeiro-ministro no eram s os presidentes das cmaras a votar, mas tambm outros cidados, como para o papa no so apenas os cardeais a votarem. Na nossa tradio catlica, na organizao poltica no h lugar a partidos, mas h correntes, que so representadas pelas ordens religiosas na igreja. No h lugar h diviso de poderes porque no necessria. E so as leis da tradio, que j esto feitas, que governam, que so os 10 mandamentos.

aderir ao euro? Pois vejam-se os resultados... O Euro uma construo intelectual pura e perfeitamente desligada da realidade, porque a realidade ao longo dos sculos nunca imps uma moeda comum a pases com tradies diferentes. No vejo o propsito de se considerar vivel o Euro como moeda comum a vrios pases de culturas diferentes e o resultado est vista, visto que os pases de tradio catlica, como Portugal, Itlia, Irlanda, Espanha e Grcia que ortodoxa (mas muito prxima da catlica) foram os mais prejudicados, e as vantagens ficaram, mais

O Euro uma construo intelectual pura e perfeitamente desligada da realidade ...


comandou o pacote de ajuda Grcia foi a Alemanha e o mesmo vai acontecer relativamente ao pacote de ajuda a Portugal, j que no fundo o dinheiro vem, em primeiro lugar, da Alemanha.

8. Para finalizar, tendo em conta que esta entrevista ser lida maioritariamente por estudantes, universitrios, gostaria que me expusesse como se caracteriza a educao referente a um pas catlico.

A organizao poltica natural cultura portuguesa muito semelhante organizao da igreja catlica.
uma vez, do lado dos protestantes. Creio, portanto, que surge daqui a necessidade futura de se terminar com o Euro, j que se tornou na fonte primeira das nossas dificuldades. um risco continuar, pois vamos acabar por ser esganados, se no mesmo esmagados. Se permanecermos, esta situao s se resolver quando nos perdoarem as dvidas ou algum pagar por ns, sendo esse algum a Alemanha. E, como um provrbio ingls diz, Quem paga a conta depois manda tocar a msica, ou seja, a Alemanha tornar-se- ainda mais poderosa, mandando de uma forma muito diferente da nossa, tornando as culturas minoritrias submissas em relao a uma s cultura que fomente as outras. At porque quem

7. O professor defende que este paradigma catlico realista e no idealista. Como explica ser possvel no considerar um equilbrio total que satisfaz todas as culturas como algo idealista?

Catolicismo realista analisando a realidade a partir dela mesma, encarando o ser humano tal como ele e valorizando quer o seu intelecto como o seu corao. Por outro lado, temos um protestantismo germnico que idealista e que investiga a realidade exclusivamente a partir do intelecto. Algo que aparentemente parece suficiente, mas que no entanto acaba por se revelar incapaz. No parecia bom

A principal instituio educacional a Famlia, seguindo-se a Escola e s em ltimo lugar o Estado. O sistema de educao aberto a instituies privadas, confessionais e pblicas, devendo estas ltimas revestir um carcter subsidirio. No entanto, a educao na Famlia excessivamente personalizada e, por isso, uma das funes da Escola, embora no a nica, temperar os excessos do personalismo com os valores comunitrios. Em consequncia, a autoridade poltica intervm no sistema de educao definindo, em nome dos valores da comunidade, programas educacionais mnimos aos quais todas as escolas devem submeter-se. A Educao, e a falta da mesma, na Famlia no estimula o esprito empreendedor, o que no ajuda no sucesso dentro da sociedade (pois nas escolas aprendem-se apenas modelos e teorias, e a pensar-se de acordo com estes).

A Educao, e a falta da mesma, na Famlia no estimula o esprito empreendedor, o que no ajuda no sucesso dentro da sociedade.

(Nota: O artigo que expe a tese pode ser consultado em www.aefep.pt)

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ESTA CASA ACREDITA QUE O FIM DAS CRISES O FIM DO HOMEM


Conduzida por Tatiana Madureira, aluna do 2 ano da licenciatura em Economia da FEP, com base no debate organizado pela Sociedade de Debates da Universidade do Porto

Depois da anlise vem a reflexo. A Sociedade de Debates da Universidade do Porto organizou um debate na FEP com o intuito de recolher o testemunho dos participantes quanto ao tema deste Contraste. Tiago Laranjeiro e Ricardo Pereira defendiam a moo de que o fim das crises o fim do homem enquanto Diogo Navarro e Duarte Canotilho refutavam a tese em causa. Ambas as equipas tiveram apenas 15 minutos para preparar a sua argumentao, e cada orador teve cerca de 7 minutos para a expor!
Fim, Crise e Homem. Trs palavras, trs significados e uma interaco. Ser a Crise um princpio ou um fim? E ser o Homem vivo sem Crise? O primeiro-ministro, Tiago Laranjeiro, desmascarou os trs significados por detrs das trs palavras-chave da moo e concretizou no seu discurso uma evidente dependncia da existncia do Homem nas Crises. Estas, que foram muitas, reforou Tiago, tiveram desde logo origem no Jardim do den, quando Ado e Eva caem na tentao de provarem o fruto proibido. Por outro lado, so as crises que levam ao desenvolver da Humanidade, que se constri e renova atravs destas, segundo o primeiro-ministro deste debate. Como prova em sua defesa, o fenmeno da Crise foi colocado no cerne das razes que levaram mudana e invaso de enumeras civilizaes ao longo da Histria, assim como a coincidncia com o conceito da Revoluo Industrial, que provocou uma mudana no modo de vida das sociedades. No seu discurso, foi reforado ainda

Quando estas acabarem, com elas acabar tambm o homem.

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esta casa acredita que o fim das crises fim do homem |

ECA que o m das crises o incio do Homem

o clima de incerteza que hoje se vive com a crise financeira e com uma gerada crise de valores, que impulsionam as Greves Gerais, como aquela que se viveu no dia deste conturbado debate. Em jeito de concluso, o primeiro-ministro afirma com convico que o ser humano insatisfeito e, que, por isso, vive numa sociedade dinmica que alimentada por crises. Quando estas acabarem, com elas acabar tambm o homem. O membro da oposio que interveio logo de seguida distinguiu-se pelo sarcasmo caracterstico do seu discurso, em que, refutando de forma segura e nata os argumentos do anterior

membro do governo, permutou a crise pelo conhecimento e pela inovao como meios efectivamente capazes de contriburem para o progresso do Homem e para a sua renovao. Diogo Navarro explicou esta permuta fazendo referncia importncia da Revoluo Industrial como processo de evoluo nos aspectos socioeconmicos das sociedades, e no como um processo de crise, tal como Tiago Laranjeiro defendera. O fim do Homem que seria o fim das Crises, e no o contrrio, j que prefere acreditar que maior a influncia do Homem nas crises do que a influncia das crises no Homem. Ainda assim, teve o cuidado de reforar a sua crena reformulando a moo em questo debatida para algo como ECA que o fim das crises o incio do Homem. Isto porque a crise que pressiona e confronta o Homem com uma realidade nua

e crua, preenchida por derradeiras esperanas e fraquezas que o motivam a superar-se a si mesmo. E, se na verdade uma crise surte este efeito, em que somente numa circunstncia extrema o Homem repensa o seu discernimento, ento s poderemos culp-lo, e no crise, por sem ela faltar-lhe a percepo da necessidade da inovao e conhecimento que leva construo do seu progresso. Aps a primeira interveno da oposio, o segundo membro do governo, Ricardo Pereira, introduziu o seu discurso explicitando que as crises fazem parte de um processo de seleco natural que as empresas e as civilizaes atravessam, onde apenas os mais aptos sobrevivem.

... h que privilegiar a evoluo das sociedades pelo conhecimento e inovao...

... a Crise funciona como um mecanismo que tem por objectivo evitar a inrcia mental ...

Ou seja, as pessoas vivem as crises, e ao superarem-nas renovam-se atravs das mesmas. Alm disso, o segundo elemento do governo expos uma linha de raciocnio baseada num encadeamento que une o descontentamento generalizado das pessoas origem da crise, e esta por sua vez provoca revolues que promovem a coeso social. Afirmou, assim, que a Crise funciona como um mecanismo que tem por objectivo evitar a inrcia mental, renegando a estagnao, j que o Homem vive em processos cclicos de crises que manifestam a procura constante por parte do mesmo pela perfeio e por novos desafios. A ltima argumentao por parte da oposio coube a Duarte Canotilho, que desde a sua primeira palavra proferida manifestouse de forma estonteante, como que numa convulso, que contrariava definir a Crise, e capaz de contagiar a audincia numa

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| esta casa acredita que o fim das crises fim do homem

ateno empolgante. A ironia perdurou no seu discurso, numa refutao constante ao defendido pelos excelsos membros do governo que pareciam defender a necessidade de existncia de Crises como algo conveniente e impulsionador do progresso, esquecendo o poder maligno que as mesmas originam. preciso sim, segundo o lder da oposio, terminar com estas mesmas crises que tornam as pessoas miserveis e as fazem sentir menos humanas, prejudicando os menos aptos e os mais pobres. Alm das crises, nomeadamente as polticas, levarem Estados a perfeitas anarquias e exaltao de sentimentos egostas e destruidores. Ainda assim, Duarte Canotilho reforou a ideia de existirem crises boas e ms e por conseguinte a sua separao deve ser feita, mesmo no sendo a favor de nenhuma. Neste sentido, concluiu dizendo que as crises ms so desnecessrias e como tal

h que privilegiar a evoluo das sociedades pelo conhecimento e inovao e ter-se conscincia de que as pessoas no aprendem com as crises, visto que a Histria se repete ao longo de todos os sculos. A ltima palavra foi dada ao primeiro-ministro, Tiago Laranjeiro, que terminou criticando e expondo a coincidncia entre os argumentos da oposio e os apresentados no Manifesto Comunista, de Karl Marx, mas com um ligeiro toque de maquilhagem. E considerando as crises como produtos da interaco entre os Homens que o governo entende que o fim das crises representar o fim da Humanidade e que, como ns, tudo tem um fim e, por isso, a Humanidade tambm ir acabar, mas at esse momento haver sempre crises, convulses e revolues. Coube, na altura, audincia, e cabe, agora, o mesmo a si, caro

leitor, julgar ambas os lados, reflectir, e tomar uma posio. Porque s conhecendo o outro lado de um argumento que defendemos que conseguimos de facto perceber porque no o refutamos.

Mais informaes sobre a Sociedade de Debates da Universidade do Porto podem ser encontradas em www.sdd.up.pt

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o empreendedorismo social em portugal |

O EMPREENDEDORISMO SOCIAL EM PORTUGAL


Entrevista a Miguel Alves Martins Co-fundador e Director Executivo - IES, Instituto de Empreendedorismo Social Conduzida por Hugo Oliveira, 2 ano da licenciatura em Gesto da FEP e Tatiana Madureira, 2 da licenciatura em Economia da FEP

Reflectido e debatido o tema, preciso olhar para a frente e construir solues. O empreendedorismo social uma das mais faladas nos ltimos tempos e est a ganhar um dinamismo incrvel pelo mundo fora, e tambm em Portugal, graas principalmente ao Instituto de Empreendedorismo Social. O Contraste entrevistou Miguel Alves Martins, co-fundador e director executivo deste Instituto e, claro, um empreendedor social. A palavra de ordem arriscar mais e aproveitar as oportunidades.

De onde que surgiu a fundao do IES? Qual foi o click inicial?

Acho que essa pergunta feita a um empreendedor, seja social ou no, algo ingrata.

O IES nasceu no Congresso de ES em 2007, em que se comeou a trazer algumas histrias interessantes de ES em Portugal, e percebemos que havia vontade por parte de vrias organizaes em replicar os modelos que o grupo trazia no nosso pas. Notava-se tambm muita vontade em desenvolver o ES enquanto conceito. Na altura tambm bvio que houve uma disposio e interesse entre vrias organizaes chave em apoiar este movimento, nomeadamente a Cmara Munici-

pal de Cascais, o prprio INSEAD, e outras pessoas singulares. E, portanto, acabou por se criar uma estratgia que, no fundo, era a vontade de desenvolver o conceito de ES em Portugal. O INSEAD teve um papel importante como incubador do conceito?

cular que tenha sido difcil de ultrapassar? Ou tem sido? Acho que essa pergunta feita a um empreendedor, seja social ou no, algo ingrata. Se quiseres eu abro-te o livro e fico aqui duas horas a falar sobre adversidades e problemas que existem sempre.

Mas algum mais peculiar?

Sem dvida, o primeiro congresso de ES foi inclusivamente um encontro de antigos alunos de ES do INSEAD em Portugal. Portanto teve um kick off muito forte e desde raiz que teve o seu apoio. E isto depois acabou-se por notar mesmo na prpria colaborao com o instituto. E quanto a dificuldades, algo parti-

No sei. No sei se ter sido o primeiro contacto com algumas organizaes internacionais que no mostraram interesse no nosso pas, no sei se ter sido outro, no sei. As barreiras acabam por ser, muitas

As barreiras acabam por ser, muitas vezes, feitas por ns e quando existem at so saudveis.

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| o empreendedorismo social em portugal

vezes, feitas por ns e quando existem at so saudveis. Ou seja, so os momentos em que temos mais certeza quanto ao projecto que estamos a tentar alicerar, da estratgia que estamos a definir e so ptimos optimizadores de recursos, sejam eles financeiros ou temporais. Portanto as barreiras no so forosamente uma coisa m. E os obstculos a determinadas alturas fazem as organizaes crescer. s vezes era bom que as coisas no fossem to difceis como so, como bvio, mas acho que no nos podemos queixar.

Mas existe, sem dvida nenhuma, o objectivo de, em 2012, nos armarmos como estrutura de ensino...
ma de conseguir gerar transformao positiva da sociedade. Eu digo muitas vezes a brincar que existem quatro grandes ncleos de pessoas que esto relacionadas com o ES: Primeiro, aqueles que esto na pr-reforma, ou mesmo j reformados, e que tm tempo e podem disponibiliz-lo. Segundo, pessoas que tiveram experincias profissionais no estrangeiro, muitas vezes

Em relao ao projecto ES+, quais so os objectivos de expanso para alm do Concelho de Cascais?

O ES+ uma metodologia de identificao de solues inovadoras, de modelos de negcio inovadores de empreendorismo social. Deu o kick-off no Concelho de Cascais e, depois disso, foi para 7 muncipios do Distrito de Vila Real, para tambm

O ES+ uma metodologia de identicao de solues inovadoras, de modelos de negcio inovadores de empreendorismo social.
continuar essa identificao. No incio de 2011 ser alargado a outros muncipios, e um deles ser o Porto (projecto j apresentado). Esperamos continuar a alargar a outras regies do pas.

sidades. Esta a segunda rea, que mais de investigao, de tentar levar o ensino para dentro das universidades e mudar os prprios cursos. Neste momento, a formao que temos estado a dar est muito ligada s universidades e no incio do prximo ano (2011) teremos o arranque da formao para executivos em parceira com outras instituies, mas muito ligada ao IES. E aquilo que sinto que no sei se o modelo ser o de uma escola de negcios tradicional, ou ser um modelo mais de open-source ao nvel de formao. O tempo dir se esta formao continuar a ser feita integralmente pela nossa parte, ou integralmente por parte das universidades parceiras, ou atravs de outro modelo. Agora, sim, com certeza que dar origem a um centro de investigao e discusso deste conhecimento. As obras esto previstas arrancar durante este ano. Anos de crise so sempre anos em que importante percebermos o rumo e realmente perceber se no podemos utilizar outras estruturas como plataformas. Como disse, o tempo o dir. Mas existe, sem dvida nenhuma, o objectivo de, em 2012, nos afirmarmos como estrutura de ensino, podendo essa ser feita atravs de universidades parcerias, com alguns cursos nossos. Sem dvida nenhuma que caminharemos nesse sentido.

Tem sido muito interessante ver o nmero crescente de pessoas que comeam a ver o ES como uma forma de conseguir gerar transformao positiva da sociedade.

E quanto escola de Negcios Sociais, sempre estar concluda em 2012?

O IES praticamente faz duas coisas por um lado, identifica boas prticas e modelos de negcio inovadores na rea do ES e capacita essas organizaes; e, por outro, tem parcerias com empresas associadas e univer-

E relativamente a tendncias de empreendedorismo, existe algum estudo do IES sobre a vertente social em Portugal?

no sector privado lucrativo, e que regressam com alguma bagagem e alguma capacidade financeira e querem contribuir com algum do seu tempo e experincia para esta transformao do sector social portugus. Terceiro, so os estudantes universitrios, quer por fora do desemprego, quer seja pela vontade de mudar o mundo em que vivemos. E um quarto grupo constitudo quer por empreendedores, quer trabalhadores por conta de outrem na rea lucrativa, que tambm querem tentar uma mudana na postura de valores e princpios do sector social. Acho que isto um todo, e neste grupo tambm esto envolvidas as pessoas com atitude empreendedora, que noutros tempos preferiam aprender no sector lucrativo. O empreendedorismo social pode ser desta forma uma ferramenta de criao de trabalho.

Tem sido muito interessante ver o nmero crescente de pessoas que comeam a ver o ES como uma for-

Na tua opinio, sentes que tem havido uma evoluo positiva?

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Da predisposio, sim; da procura de informao, tambm

Mas da aco?

Da aco no sei ainda responder. Sem dvida nenhuma vai existir, no sei se ainda estamos a falar de um nicho, mas ser apenas uma questo temporal.

... extraordinrio conseguirmos colocar veculos em Marte e pessoas na lua, mas na altura em que preciso transferir tecnologia e trabalho para resolver os problemas ao p de nossa casa, nomeadamente sociais e ambientais, no o fazemos.

Como avalias o impacto do primeiro ano da Bolsa de Valores Sociais portuguesa?

... estudem o caso brasileiro, vejam quantos anos demorou o boom no Brasil at surgir essa mudana de mentalidade.

Em prol do tempo disponvel, vou dar uma resposta politicamente correcta e muito assertiva estudem o caso brasileiro, vejam quantos anos demorou o boom no Brasil at surgir essa mudana de mentalidade. Numa sociedade conservadora, como a nossa em Portugal, forosamente teremos tambm que, durante algum tempo, trabalhar a mentalidade das organizaes para que esse processo de investimento transparente, rigoroso e com uma avaliao de resultados como o da Bolsa de Valores Sociais, possa criar efeitos e ter impacto.

com que trabalhamos, quer no prprio processo de formao, ainda em tempo universitrio, relativo ao empreendedorismo social. E acho que a mensagem que tenho para os estudantes relativamente simples - um bilogo ingls chamado David King uma vez disse que extraordinrio conseguirmos colocar veculos em Marte e pessoas na lua, mas na altura em que preciso transferir tecnologia e trabalho para resolver os problemas ao p de nossa casa, nomeadamente sociais e ambientais, no o fazemos. E os estudantes universitrios esto num momento extraordinrio de vida em que podem no s dar facilmente azo imaginao, como arriscar. E isto uma zona de conforto extraordinria que depois, normalmente, quando se vai para o mercado de trabalho, torna-se muito mais difcil de voltar

a conseguir. Portanto eu acho que esse perodo da vida um tempo de experimentao extraordinrio, com efeitos transformadores na prpria pessoa e na sociedade adjacente extraordinrios, e que deve ser no s promovido, como incentivado. E as universidades devem ter o papel importantssimo de levar o conhecimento ao terreno e s necessidades das organizaes e da sociedade civil.

Sabendo que em tempos de crise investimentos mais visveis, como a explorao espacial referida, so normalmente abandonados, achas que esta crise pode ter um impacto positivo no empreendedorismo social ou no?

Acho que h uma janela de oportunidade. Se a vamos conseguir aproveitar ou no j outra conversa.

Por ltimo, como definirias a crise numa palavra?

Isso complicado! Se o tivesse de fazer escolhia algo como oportunidade, ou optimizao.

Acho que h uma janela de oportunidade.

Os estudantes universitrios esto num momento em que podem no s dar facilmente azo imaginao, como arriscar.

Que mensagem que darias aos estudantes quanto ao seu papel na sociedade e no empreendedorismo social?

O IES trabalha muito com os estudantes universitrios, quer no apoio capacitao das organizaes
Fotografia de AshokaPhotos, obtida no Flickr sob licena Creative Commons

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| o que que eu posso fazer?

O QUE QUE EU POSSO FAZER?


Entrevista a Sam Daley-Harris Fundador da RESULTS e da Microcredit Summit Campaign Conduzida por Hugo Oliveira, 2 ano da licenciatura em Gesto da FEP e Tatiana Madureira, 2 da licenciatura em Economia da FEP

Autor do livro Reclaiming Our Democracy: Healing the Break Between People and Government, fundou em 1980 um dos lobbys civis mais importantes dos EUA, a organizao internacional sem fins lucrativos RESULTS, que procura fomentar a vontade poltica para acabar com a fome e a pobreza atravs da cidadania, e que qui o maior responsvel por dar a conhecer ao mundo o movimento do microcrdito desenvolvido pelo Professor Muhammad Yunus, que o levou a receber depois o Prmio Nobel da Paz; assim como da Microcredit Summit Campaign, que procura chegar a mais de 175 milhes de famlias desfavorecidas atravs do microcrdito, o Contraste entrevistou por telefone Sam Daley-Harris, que nos conta a sua histria, uma reflexo sobre o presente e uma perspectiva esperanada sobre o papel e o impacto que cada um de ns pode ter na sociedade. O futuro pode ser to risonho quanto nos dediquemos a que este assim o seja.

Quando que foi a primeira vez em que percebeu que podia ter um papel activo na sociedade?

... no h soluo, porque se houvesse algum j teria feito algo.


tou aqui a fazer, qual o meu propsito, etc. mas sem encontrar necessariamente uma resposta. De facto, foi depois de ter acabado a licenciatura, alguns anos depois, quando fui a uma apresentao sobre pobreza global, sobre o Projecto Fome, e at fui l um pouco alheado do tema. No sabia nem pensava muito sobre o tema, e a nica coisa que achava era que no havia soluo para o problema. Isto porque se houvesse alguma soluo algum j teria feito alguma coisa por esta altura. E dessa maneira acho que era parecido com muita gente. normal fazermos pressupostos sobre temas como a pobreza, ou o ambiente, ou a paz, ou a economia, mas estes no costumam ser bem fundamentados. E os meus

Quando estava na universidade era, sem dvida, entusistico pelo mundo e por poder vir a ensinar no futuro, vir a ser um professor de msica excelente, essa era a minha paixo. Assim, de uma forma ligeira, j sentia que podia ter um papel na sociedade, mas nunca de uma forma activista ou protestante, como um manifestante. Isto na dcada de 1960. Nessa altura acredito que j se pudesse encontrar a vontade, a paixo, mas no tanto a questo do crer ter um impacto no mundo.

pressupostos tambm eram superficiais no h soluo, porque se houvesse algum j teria feito algo. Portanto fui a esta apresentao e acabei por perceber que problemas bsicos de agricultura, literacia, sade, etc., no so um mistrio para ns. Questes como o cancro podem ser um mistrio, talvez, mas agora cuidados bsicos de sade, no. Percebi ento que, afinal, no estava desesperanado quanto falta de solues, mas quanto natureza humana sem esperana que as pessoas fizessem o que havia para fazer ou o que podia ser feito. E ento comecei a envolver-me. Compreendi que havia uma parte

E, ento, quando que foi a primeira vez em que percebeu que podia ter esse impacto?

Questes como o cancro podem ser um mistrio, talvez, mas agora cuidados bsicos de sade, no.

Eu j fazia as perguntas o que es-

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o que que eu posso fazer? |

... sem esperana que as pessoas zessem o que havia para fazer ou o que podia ser feito.
da natureza humana sobre a qual tinha controlo, a minha. E, portanto, foi algo bastante gradual, passo-a-passo, nenhum salto de um precipcio, ou, pelo menos, de um precipcio grande. De certa forma, quanto mais fazia, melhor conseguia ver. E foi assim, a palestrar e a fazer lobby sobre a pobreza global, sobre o problema da fome, que me comecei a envolver. A ideia de fundar a RESULTS nasceu da. Um dia, no final da dcada de 60, reparei que apenas 3% dos estudantes do liceu sabiam o nome ou conheciam o seu representante no Congresso.

... quanto mais fazia, melhor conseguia ver.

A transformao do eu no fao a diferena para eu fao a diferena.


dito, em 1986, quase ningum fora do Bangladesh conhecia o Professor Muhammad Yunus e Banco Grameen; e a RESULTS e a Microcredit Summit Campaign tiveram um papel fundamental na promoo do microcrdito e do Grameen at 2006, ano em que receberam o Prmio Nobel e a divulgao tornou-se mais fcil. Portanto, num nvel estou orgulhoso desse processo de transformao individual que conseguimos gerar nas pessoas que se envolvem com a RESULTS e, por outro, pelos resultados mais concretos que alcanmos.

e continuei a fazer isso. E, noutra conferncia sobre o tema, comemos a criar um grupo que se reunia regularmente para escrever cartas ao Congresso, como fazamos em Miami, e a estrutura da RESULTS comeou a nascer, como uma organizao local, que mais tarde se foi expandindo para o resto do pas, e depois para vrios outros pases.

Como Victor Hugo dizia, nada to poderoso como uma ideia cujo tempo chegou.

Compreendi que havia uma parte da natureza humana sobre a qual tinha controlo, a minha.

De que que mais se orgulha na RESULTS?

Esta abordagem inicial aos estudantes foi premeditada na formao da RESULTS?

Parte da nossa filosofia tornar a questo da erradicao da fome e da pobreza como uma ideia cujo tempo chegou. Como Victor Hugo dizia, nada to poderoso como uma ideia cujo tempo chegou. Como a queda do Muro de Berlim, ou a eleio de Nelson Mandela. O objectivo o de capacitar as pessoas a tornarem-se vozes activas dessa ideia, fazer com o que tempo dela chegue. E nessa altura eu j era professor e msico numa orquestra sinfnica de Miami. Foi da que entrei em contacto com esse inqurito aos estudantes. E, portanto, era relativamente fcil fazer essas apresentaes nas comunidades escolares durante os meus dias livres. Depois, mudei-me para Los Angels

Bem, a um certo nvel, a questo da transformao. A transformao do eu no fao a diferena para eu fao a diferena. De quando os nossos polticos no nos ouvem, para agora j esto a ouvir. Portanto, uma das coisas de que me orgulho que quando isto bem feito torna-se numa metodologia. Uma metodologia que permite restabelecer a esperana perdida que os cidados perderam quanto ao seu papel na sociedade. Outro aspecto de que me orgulho foi o nosso papel chave na diminuio para cerca de metade da mortalidade infantil relacionada com doenas de alimentao e malnutrio. Ainda, quando comemos a fazer lobby pelo microcr-

Uma metodologia que permite restabelecer a esperana perdida que os cidados perderam quanto ao seu papel na sociedade.
Se pudesse viajar 20 anos no futuro, o que gostaria de ver transformado no mundo?

O objectivo o de capacitar as pessoas a tornarem-se vozes activas dessa ideia.

Acho que a maioria das pessoas acredita que no consegue fazer a diferena. Pelo que fogem do sofrimento de sentirem que no tm significncia atravs de distraces mundanas, como a fama, etc. Portanto, espero que daqui a 20 anos possamos sentir que de facto somos significantes, que temos alguma importncia. E que no estejamos atarefados a fugir desse sofrimento que surge quando nos sentimos irrelevantes, e que em vez disso nos ocupemos em ter um impacto, em resolver os nossos problemas. Se todos percebssemos que no somos insignificantes os problemas comeariam a desaparecer.

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| o que que eu posso fazer?

... quando comemos a fazer lobby pelo microcrdito, em 1986, quase ningum fora do Bangladesh conhecia o Professor Muhammad Yunus e Banco Grameen;

tema bancrio tem estado muito mal orientado, em certo sentido at podemos dizer que desonesto, e, pelo menos, alheado do que re-

Sim, a msica teve um papel importante na minha educao.

... ento vamos ter resultados muito estranhos.


Olhando agora para trs, o que mudaria na sua vida? Ou o que gostaria de ter sabido antes? Para ser honesto, no consigo saber o que gostaria de ter sabido antes que no tenha vindo a saber depois de forma natural. Acho que essencial ter-me mantido sempre aberto ao processo. Ter deixado as perguntas e os caminhos surgirem, e os ensinamentos amadurecer, em vez de ter ficado parado, esttico, foi um aspecto positivo. De certa forma, no costumo olhar para trs e ver o que teria feito de diferente se tivesse sabido isto ou aquilo. s vezes tenho a impresso de fcil no perceber suficiente os problemas que tentamos resolver, que no estamos suficientemente expostos a eles para os podermos confrontar e, da, desenvolver solues.

Por ltimo, alguma mensagem final, em particular para os estudantes?

almente importa. Se fazer muito dinheiro for o que mais importante, ento os resultados no vo estar ligados a outras questes como a justia, a pobreza, o ambiente, etc. Podemos ter um resultado melhor se tivermos objectivos diferentes deste.

Sigam o vosso corao. Sejam honestos sobre o que importante para vocs, sobre o que vos torna diferente, sobre o que que de facto gostam. Paguem as vossas contas, mas mantenham-se abertos as novas possibilidades, quilo que realmente vos importa!

Sejam honestos sobre o que importante para vocs.

... sistema bancrio tem estado muito mal orientado ...


Considera que a msica teve um papel importante na sua formao? Mais uma ltima pergunta, tem alguma filosofia de vida? Consegue resumi-la?

... espero que daqui a 20 anos possamos sentir que de facto somos signicantes...

Sim, a msica teve um papel importante na minha educao. Levou-me a que procurasse a beleza, o domnio, a perfeio, quer quanto prpria msica, quer quanto a

No necessariamente, mas tenho o propsito de criar estruturas de suporte que permitam s pessoas fazer a diferena no mundo que sempre sonharam fazer e que possam aproveitar esse prazer.

Algum comentrio quanto crise actual?

Podemos ter um resultado melhor se tivermos objectivos diferentes deste.

Se o nosso objectivo for apenas enriquecer, ganhar tanto dinheiro quanto consigamos, se esse for o nosso objectivo mais importante, ento vamos ter resultados muito estranhos. E, portanto, o nosso sis-

... mas tenho o propsito de criar estruturas de suporte que permitam s pessoas fazer a diferena no mundo que sempre sonharam fazer... ww

Se o nosso objectivo for apenas enriquecer...

outras actividades ou objectivos, como o trabalho contra a pobreza. Por exemplo, em relao ao microcrdito e ao Banco Grameen, sente-se uma certa aura artstica ali, uma beleza particular; no que outros grupos no o tivessem ou tenham, mas estvamos em 1985 e isto estava a ser feito com uma certa mestria, de uma forma cuidada. E acho que a msica me ajudou a pensar mais com essa parte do crebro.

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vox populis |

VOX POPULIS
Entrevista a Alunos da Faculdade de Economia da Universidade do Porto.

Para concluir o Contraste, perguntmos a 35 alunos da FEP o que achavam em relao a vrios aspectos da crise, mas apenas numa palavra, porque no nos podemos esquecer de poupar. Ser?

O que a crise?

De quem a culpa?

O que devemos fazer?

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Porque a pobreza a nica coisa que o dinheiro no pode comprar.

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o conceito de riqueza de uns a denio de pobreza de outros

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