OS CONFLITOS DE INTERESSES NO DIREITO AUTORAL - Patrícia Mello
OS CONFLITOS DE INTERESSES NO DIREITO AUTORAL - Patrícia Mello
OS CONFLITOS DE INTERESSES NO DIREITO AUTORAL - Patrícia Mello
OS CONFLITOS DE INTERESSES NO DIREITO AUTORAL: UMA ANLISE - SOB A PERSPECTIVA POLTICA, JURDICA E SOCIOLGICA - DA CONSTRUO LEGISLATIVA DA LEI 9.610/98 E SEUS REFLEXOS NA ATUALIDADE
OS CONFLITOS DE INTERESSES NO DIREITO AUTORAL: UMA ANLISE - SOB A PERSPECTIVA POLTICA, JURDICA E SOCIOLGICA - DA CONSTRUO LEGISLATIVA DA LEI 9.610/98 E SEUS REFLEXOS NA ATUALIDADE
Trabalho de Concluso de Curso apresentado como requisito parcial para obteno do grau de Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul.
OS CONFLITOS DE INTERESSES NO DIREITO AUTORAL: UMA ANLISE - SOB A PERSPECTIVA POLTICA, JURDICA E SOCIOLGICA - DA CONSTRUO LEGISLATIVA DA LEI 9.610/98 E SEUS REFLEXOS NA ATUALIDADE
Trabalho de Concluso de Curso apresentado como requisito parcial para obteno do grau de Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Com muito carinho, dedico esse trabalho especialmente aos meus filhos Heino e Txai, meus companheiros mais fiis e verdadeiros, por todo nosso amor e pela nossa Arte.
In Memorian aos meus pais Glnio e Nris, que infelizmente no esto mais entre ns.
Dedico tambm a todos os autores, msicos, cantores e demais criadores que nos brindam com seus dons criativos.
AGRADECIMENTOS
Aos meus filhos pelo incentivo, pacincia e compreenso que me dispensaram no perodo em que me dediquei a esse trabalho; que durante muito tempo dividiram a minha ateno com meus livros, minhas pesquisas e meus escritos; que tiveram muitos passeios adiados, noites mal dormidas, projetos suspensos, tendo que enfrentar junto comigo todas as dificuldades e, com muito amor e dedicao, me ajudaram chegar at aqui.
Fao um agradecimento muito especial ao Alexandre Negreiros, que Mestre em Musicologia e Doutorando em Polticas Pblicas, Estratgia e Desenvolvimento, ambos pela UFRJ, um dois maiores especialistas em Direitos Autorais do Brasil, principalmente no que concerne Gesto Coletiva, ao qual nutro profunda admirao, que generosamente me deu a mo para adentrar nesse pntano escuro cheio de armadilhas e areia movedia dos direitos autorais. Nossas longas conversas, suas dicas preciosas, seu auxilio crucial na delimitao do tema desta pesquisa e sua incansvel ateno comigo, foram fundamentais e determinantes para a produo deste trabalho. Agradeo a Deus por ter colocado esse Anjo no meu caminho e sei que, alm de ter tido a honra de conviver com esse grande Mestre, ganhei tambm um amigo.
Ao meu Orientador, Prof. Me. Ado Clvis Martins dos Santos, no qual tive a honra em ser sua aluna no curso de Cincias Sociais, quando por l passei, umas das pessoas mais incrveis e geniais que conheo, que com muita sabedoria conduziu esse trabalho, me dando plena liberdade para que eu fizesse minhas escolhas, me oportunizando em estar diversas vezes ao seu lado dialogando sobre essa pesquisa e me ajudando a compreender o sentido poltico e sociolgico das relaes sociais.
Aos
meus
colegas
da
Graduao,
que
junto
comigo
desbravam
Aos meus professores da graduao, em especial a Prof. Dra. Clarice Shngen, a Prof Me. Liane Tabarelli Zawascki, ao Prof. Dr. Ricardo Aronne (pelos momentos memorveis no Grupo Prismas), ao Prof. Dr. lvaro Vincius Paranhos Severo, a Prof Dr Helenara Braga Avancini e a todos os demais que transmitiram seus conhecimentos contribuindo para a minha formao.
A todos os autoralistas que contribuem significativamente para a construo e difuso do Direito Autoral, em especial a Dr Vanisa Santigo pela sua inestimvel contribuio nesse trabalho.
Ao GEDAI - Grupo de Estudos em Direitos Autorais e Informao da UFSC, ao GPOPAI - Grupo de Pesquisa em Polticas Pblicas para o Acesso Informao da USP/SP, ao NEDAC Ncleo de Estudos e Pesquisa em Direito, Artes e Polticas Culturais da UFRJ, ao DIAP Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar de Braslia/DF, ao Grupo de Pesquisa Prismas do Direito CivilConstitucional da PUCRS e demais grupos e entidades que me forneceram direta ou indiretamente material para minha pesquisa.
Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul pela sua excelncia em educao.
As leis so como as teias de aranha que apanham os pequenos insetos e so rasgadas pelos grandes. Slon
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo analisar, sob uma perspectiva poltica, jurdica e sociolgica, os conflitos de interesses no Direito Autoral. vista disso, expe um breve histrico do direito autoral no mundo e no Brasil, como se deu a construo legislativa da lei 9.610/98, quais foram os principais protagonistas desse processo e, aps sua vigncia, quais foram os reflexos dessa legislao, inclusive no processo de modernizao da lei autoral brasileira. A pesquisa tem como foco principal os interesses presentes na gesto coletiva de obras musicais de execuo pblica e nas editoras musicais, no entanto no foram desprezadas outras informaes relevantes que surgiram ao longo desse estudo. Foram detectadas muitas falhas e omisses no texto da lei 9.610/98, que no decorrer de sua aplicabilidade, geraram grandes transtornos e prejuzos como, por exemplo, nas obras por encomenda, no setor de audiovisual, na gesto coletiva de execuo pblica de obras musicais, na transferncia de titularidade, no excesso de limitaes e desequilbrio entre o interesse pblico e privado, gerando inseguranas no setor, aumentando assim, descontentamentos e o aumento de demandas no judicirio. Com relao modernizao da lei autoral foi possvel identificar duas vertentes antagnicas: os que no desejam grandes alteraes na atual legislao e apoiam o ECAD com seu modelo atual de gesto e os que desejam mudanas expressivas da legislao, incluindo a fiscalizao do ECAD, atravs de um organismo estatal. O processo de discusso com a sociedade, sobre a necessidade dessa modernizao e construo de um anteprojeto de lei, iniciou acerca de oito anos, porm at o momento, no saiu do Executivo.
Palavras-chave:
Direito
Autoral.
Conflito
de
Interesses.
Construo
LISTA DE SIGLAS ABERT Associao Brasileira de Rdio e Televiso. CNDA Conselho Nacional de Direito Autoral. CPI Comisso Parlamentar de Inqurito DIAP Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar ECAD Escritrio Central de Arrecadao e Distribuio LDA Lei dos Direitos Autorais OMC - Organizao Mundial do Comrcio OMPI Organizao Mundial da Propriedade Intelectual TRIP Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comrcio/Trade Related Aspects of intellectual Prosperty Rights
SUMRIO
1 INTRODUO ...................................................................................................... 10 2 NATUREZA JURDICA DO DIREITO AUTORAL ................................................ 13 3 BREVE HISTRICO DO DIREITO AUTORAL ..................................................... 19 3.1 OS DIREITOS AUTORAIS NO MUNDO ............................................................. 19 3.2 OS DIREITOS AUTORAIS NO BRASIL .............................................................. 23 4 ANLISE DA CONSTRUO LEGISLATIVA DA LEI 9.610/98 ......................... 28 4.1 OS CONFLITOS DE INTERESSES E RELAES DE PODER ......................... 28 4.2 CONTEXTO HISTRICO E POLTICO BRASILEIRO ........................................ 30 4.2.1 A Nova Constituio Federal de 1988........................................................... 31 4.3 TRAMITAO DO PROJETO DE LEI 5.430/90 ................................................. 34 4.3.1 O perfil da cmara federal legislatura 1995 - 1999 ................................... 35 4.4 DEBATES LEGISLATIVOS, VOTAES E PONTOS POLMICOS DO PROJETO DE LEI N 5.430/90 ................................................................................. 41 5 VIGNCIA DA LEI 9.610/98 ................................................................................. 50 5.1 PRINCIPAIS MUDANAS E INCONSISTNCIAS DA LEI .................................50 5.2 GESTO COLETIVA DE DIREITOS AUTORAIS ................................................ 53 5.3 REFLEXOS DA LEI 9.610/98 EM SUA APLICABILIDADE ................................. 57 5.3.1 Contratos com editoras musicais ................................................................. 63 6 A MODERNIZAO DO DIREITO AUTORAL NO BRASIL ................................ 66 7 CONCLUSO ........................................................................................................ 74 REFERNCIAS ......................................................................................................... 76
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1 INTRODUO
A escolha do presente tema se deu em razo do desafio em que este se apresenta, pelo relevante interesse pblico e pela escassez de literatura com o enfoque proposto neste trabalho. Sero analisados, sob uma perspectiva poltica, jurdica e sociolgica, os conflitos de interesses nos direitos autorais, de que forma se deu a construo legislativa da lei 9610/98, seus reflexos em sua vigncia e no processo de modernizao da legislao autoral. Destarte, a problemtica a ser analisada complexa, entretanto procurou-se focar principalmente na questo da gesto coletiva, editores musicais e destacar os principais protagonistas no processo legislativo.
Nesse sentido, quais foram os principais interesses que permearam a construo legislativa da lei 9.610/98? possvel identificar favorecimentos nesse texto legal? Quais interesses que esto por trs do sistema de gesto coletiva de obras musicais de execuo pblica e dos editores musicais? Tendo em vista as propostas do anteprojeto que se encontra tramitando at o presente momento, quem tende a ganhar e/ou quem tende a perder com as mudanas propostas?
A hiptese central que norteia esse trabalho a seguinte: provvel que interesses polticos e econmicos tenham interferido na formulao da lei 9.610/98 para favorecer grupos capitalistas hegemnicos, em detrimento ao interesse do autor. Sendo assim, no que diz respeito modernizao da Lei dos Direitos Autorais (LDA), esses interesses acentuaram os conflitos frente aos opositores que desejam mudanas e essa relao de poder, dificulta a implementao da nova legislao autoral.
O objetivo principal dessa pesquisa analisar a evoluo dos direitos autorais, revisar a legislao autoral e como se deu a construo legislativa da lei 9.610, examinar os elementos geradores de conflitos, apontar reflexos da atual legislao no mercado cultural e na modernizao da lei autoral no Brasil.
A busca pela transdisciplinaridade para a elaborao desse trabalho se deu pela multiplicidade de fatores que envolvem a problemtica, sendo que uma leitura
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realizada apenas por um vis careceria de informaes importantes, uma vez que quanto mais olhares houver para o mesmo objeto, melhor o veremos. Portanto trs elementos polticos, econmicos, jurdicos, sociolgicos, culturais e mercadolgicos.
A pesquisa se desenvolveu atravs de estudos bibliogrficos, documentais, jurisprudenciais, anlise de debates legislativos, anais do Congresso, materiais jornalsticos, artigos, entrevistas, vdeos, participao em congressos, seminrios e fruns. A metodologia de pesquisa utilizada foi mista, incluindo a anlise de conjuntura e elementos da anlise do discurso, em Eni Orlandi.
O primeiro captulo versa sobre a natureza jurdica do direito autoral, que parte fundamental para que se possa entender melhor o sentido das limitaes, alcance e funes do direito autoral, assim como os princpios que regem essa legislao. Nessa etapa, foram considerados os pressupostos tericos de Ascenso, Bruno Hammes, Denis Barbosa, Bittar, Elisngela Menezes, Antnio Chaves, Gonzaga Adolfo e Gandelman.
No segundo captulo, consta um breve histrico dos direitos autorais no mundo e no Brasil, que se faz muito importante para melhor compreenso da evoluo do direito autoral. Ele discorrido atravs dos ensinamentos de Simone Lahorgue Nunes, Allan Rocha de Souza, Ascenso, Elaine Abro, Fragoso, Menezes, Hammes, Vanisa Santiago, Rita Morelli e Braule Pinto. A histria do
direito autoral mundial teve seu incio no sculo XV a partir da inveno dos tipos mveis por Gutenberg, em forma de privilgios. No Brasil sua histria mais recente, a primeira lei brasileira especfica de direito autoral foi promulgada em 1973 em plena ditadura militar. Essa legislao foi considerada um grande avano no Direito do Autor e serviu de modelo para a atual.
O captulo terceiro demonstra como se deu a construo legislativa da lei 9.610/98, tendo como objetivo principal trazer tona os protagonistas desse processo, demonstrar as relaes de poder e quais os interesses que estavam em jogo. Para facilitar a leitura poltica acerca dos debates legislativos da PL 5.430 e a sua votao final, foi feito uma anlise de conjuntura, sendo a mesma primordial para ajudar na compreenso desse processo que se estendeu por quase uma
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dcada, passando por perodos de estagnao at sua votao final. As relaes de poder esto calcadas nas teorias de Hobbes, Bobbio, Rousseau, Weber, Hannah Arendt, e Foucault. Foi utilizado como fonte de pesquisa os debates legislativos, anais do Congresso, estudos do DIAP, depoimentos e publicaes com anlises de Vanisa Santiago, Eliane Abro, Ascenso e Bittar.
O quarto captulo analisa a vigncia da lei 9.610 e seus reflexos, as principais mudanas e inconsistncias da lei, a gesto coletiva e os contratos com editoras musicais. Esses aspectos foram apreciados luz de Plnio Cabral, Vanisa Santiago, Eliane Abro, Fragoso, Hammes, Morelli, Alexandre Negreiros, Campello Queiroz e jurisprudncias.
No quinto e ltimo captulo observa-se as consequncias dessa legislao e quais os principais motivos que levaram necessidade de uma nova lei do direito autoral. So apreciados estudos organizados por Marcos Wachowicz e aspectos sociolgicos em Ulrich Beck e Manoel. Castells.
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A Propriedade Intelectual abrange duas grandes reas: A Propriedade Industrial (patentes, marcas, desenho industrial, indicaes geogrficas e proteo de cultivares) regida pela lei 9.279/96 e a do Direito Autoral (obras literrias e artsticas, programas de computador, domnios na Internet e cultura imaterial), que est sob a gide da lei 9.610/98. Encontramos em Bruno Hammes2 a assertiva de que: O Direito da Propriedade Intelectual considerado, hoje, o conjunto de disciplinas relativamente novas que foram includas em diversas reas do Direito com as quais apresentavam certa afinidade. Segundo Denis Barbosa,3 A instituio da propriedade intelectual uma medida de fundo essencialmente econmico. Pois nem toda propriedade privada est sob a tutela dos direitos a garantias fundamentais.
A Lei 9.610/98 traz em suas disposies preliminares a seguinte definio no seu artigo 1 Esta Lei regula os direitos autorais, entendendo -se sob esta denominao os direitos de autor e os que lhes so conexos. Con forme nos ensina Ascenso 4.
a lei brasileira impe uma distino entre o Direito do Autor e Direito Autoral. Direito do Autor o ramo da ordem jurdica que disciplina a atribuio de direitos relativos a obras literrias e artsticas. O Direito Autoral abrange, alm disso, os chamados direitos conexos do direito do autor.
O Direito do Autor pode ser dividido em duas partes: a moral e a patrimonial. Os direitos morais do autor, como o prprio nome indica, assegura a proteo moral da ligao entre a obra e seu criador, ou seja, tutela a paternidade da obra que no
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Ainda que haja divergncias doutrinrias acerca da natureza jurdica do direito do autor. HAMMES, Bruno Jorge. O direito da propriedade intelectual, 3 edio. So Leopoldo: UNISINOS , 2002. p. 17 3 BARBOSA, Denis Borges. Bases Constitucionais da Propriedade Intelectual, Disponvel em: <http://denisbarbosa.addr.com/bases4.pdf> Acessado em 8 maii.2013. p. 7 4 ASCENSO, Jos de Oliveira, Direito Autoral, 2 ed. ver. e ampl. Rio de Janeiro: Ed. Renovar. 1997. p15
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descola do autor. Conforme disposto no art. 27 da lei 9.610/98, esse direito inalienvel e irrenuncivel, no sendo possvel ento negociar, doar, vender, ceder, licenciar ou transferir para terceiros a autoria da sua obra, seja de forma gratuita ou onerosa. J os direitos patrimoniais do autor, por sua vez, garantem a seus titulares, a possibilidade de explorao econmica da obra intelectual protegida,
possibilitando recompensar o autor pelo seu esforo criativo, haja vista que ele no poder viver apenas da ligao afetiva com sua obra, como bem ponta Menezes 5
Nem s de ligao afetiva com a obra vive o autor, que merece no apenas ser recompensado pelo seu esforo criativo, mas precisa, antes de tudo, sobreviver. Assim sendo, ao lado dos direitos morais sobre a criao, tem tambm o criador direitos patrimoniais. Trata-se da possibilidade legal reconhecida ao autor de explorar economicamente sua obra, em carter exclusivo, de modo a obter dela proveito pecunirio.
Dentre as diversas correntes doutrinrias, Bittar6 ensina que as regras bsicas do direito do autor, so de natureza especial que podem ser revestidas de teorias que governam a sua textura como: a) a teoria do sujeito, o sujeito dos direitos autorais o criador da obra, como titular originrio,7 que consagra fato da natureza, pois ele quem introduz no cenrio ftico a obra esttica que antes no existia; b) a teoria do objeto, muito controversa, porm prevalece a doutrina de que se acham compreendidas no Direito do Autor obras de carter esttico, destinadas sensibilizao ou transmisso de conhecimentos. So obras da literatura, das artes e das cincias, que se enquadram nesse conceito pela sua natureza que se reveste de caractersticas prprias em cada campo, tal como os escritos, poemas, pinturas, esculturas, gravuras, msicas, desenhos, dentre outras criaes, que se encontram relacionadas nas convenes e em leis internas; c) a teoria do contedo, que esto distribudos em dois planos, o moral e o material. Esses direitos, que se conjugam incindvel, 8 completam-se para a defesa dos interesses pessoais e patrimoniais do autor com sua obra. Esses direitos, por sua vez, agrupam-se em um sistema prprio de convivncia, qu e confere contornos especiais problemtica da transmisso de direitos, tanto em vida, como em virtude
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MENEZES, Elisngela. Curso de Direito Autoral, Belo Horizonte: Del Rey, 2007. p.78 BITTAR, Carlos Alberto. Contornos Atuais do direito do autor / Carlos Alberto Bittar.- 2. ed. ver., atual. e ampliada de conformidade coma Lei 9.610, de 19.02.1998, por Eduardo Carlos Bianca Bittar So Paulo: Revista dos Tribunais, 1999 7 Ibidem. p. 27 8 Ibidem. p. 28
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da morte;9 d) a teoria da circulao, que trata das hipteses da disponibilidade, comunicao ao pblico e circulao da obra vinculada autorizao prvia do autor ou detentor dos direitos sobre a mesma, salvo quando estipulado ao contrrio em lei, como por exemplo, para uso privado; e) a teoria da administrao, onde prospera o princpio associativo, promovendo a reunio de titulares em entidades de defesa (associaes de titulares) dos direitos do autor, mas de forma que todas as associaes estejam integradas ao ECAD. Antes da lei vigente, havia tambm a interveno estatal, atravs do CNDA, que amparava nas questes de gesto coletiva do setor intelectual com a criao de normas e diretrizes, a qual foi extinta mesmo antes do novo texto legal de 1998; f) a teoria da tutela, revela-se em diferentes nveis com o propsito de ampliar a proteo. Encontra-se no mbito civil, penal e administrativo, garantindo ao titular jurisdio nessas esferas, sempre que atingidos seus direitos, seja por via judicial ou extrajudicial. Em sua sntese conclusiva, Bittar10 assevera
Inspirado pelas diretrizes fixadas na Conveno de Berna de 1886 e em suas revises posteriores, o Direito do Autor obedece a sistema universalmente adotado, em que se identificam princpios fundamentais e regras bsicas, que ora governam sua textura no direito interno dos pases aderentes. Contando com postulados e normas especficas, tem o Direito do Autor como objetivo a defesa do criador intelectual em seu relacionamento com a coletividade, em razo da circulao jurdica da obra. Formando ncleo prprio e definido, permitem elementos e compreenso da teoria do Direito do Autor, cujos traos principais ora delineamos, luz do regime unionista, a que se submete o Direito brasileiro.
Para Antnio Chaves11, as diretrizes doutrinrias podem ser desdobradas nos seguintes tpicos, aqui expostos sucintamente: a) O direito de autor um direito de coletividade, entendida como uma propriedade social, por ser oriunda de inspirao humana e que, por seu destino, devem pertencer ao povo; b) um direito real de propriedade, um critrio que j foi seguido pelo Cdigo Civil Brasileiro de 1916, nos arts. 643 a 673, mas s tratava do direito do autor, no Livro II
BITTAR, Carlos Alberto. Contornos Atuais do direito do autor / Carlos Alberto Bittar.- 2. ed. ver., atual. e ampliada de conformidade coma Lei 9.610, de 19.02.1998, por Eduardo Carlos Bianca Bittar So Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. P. 28 10 Ibidem. p. 30-31 11 CHAVES, Antnio. Direito de Autor, vol. I Princpios Fundamentais. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1987
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(Direito das Coisas), sendo que o capitulo VI se intitulava Da propriedade literria, cientfica e artstica. Chaves12 complementa
Josserand, o mais clebre defensor dessa teoria, registra que apesar do nome e das prerrogativas que contm, no considerado pela jurisprudncia como verdadeiro direito de propriedade, mas como investindo o seu titular de simples privilgio exclusivo de explorao temporria.
Por outro lado, essa teoria criticada, dentre outras coisas, de ir contra a natureza do direito de propriedade, como por exemplo, o da perpetuidade; c) uma emanao do direito de personalidade, conforme Bertrand13 o direito do autor um elemento da personalidade, cujo objeto constitudo por uma obra intelectual, considerada como parte integrante da esfera da prpria personalidade, Influenciado por Kant, Gierke14 aduz que concebe o direito de autor como inseparvel da atividade criadora do homem, constituindo, tanto as faculdades pessoais como as patrimoniais, uma emanao da personalidade, sob cuja proteo se encontram; d) um direito especial de propriedade, tendo por objeto um valor imaterial, teoria essa adotada pelos Cdigos Civis chileno e colombiano que versa: sobre as coisas incorporais h tambm uma espcie de propriedade. Assim o usufruturio tem a propriedade de seu direito de usufruto15; e) um direito sui generis, para Picard16 no possvel inserir o direito do autor, seno a golpes de martelo, na diviso tripartida clssica do direito romano: direitos pessoais, direitos reais e obrigaes. Cria, ento, mais um grupo, que denomina direitos intelectuais; f) direito de clientela, de acordo com Roubier:17
(...) o direito de autor estaria includo entre o fundo do comrcio e as clientelas civis, cujo objetivo seria proveito tirado das relaes de negcio, vinculados com uma clientela, certos elementos corporais ou incorporais, servindo de centro de ligao a esta.
g) direito dplice de carter real: pessoal-patrimonial, essa teoria est atrelada ao fato do direito do autor ser composto por direito moral e direito patrimonial; e por
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BITTAR, Carlos Alberto. Contornos Atuais do direito do autor / Carlos Alberto Bittar.- 2. ed. ver., atual. e ampliada de conformidade coma Lei 9.610, de 19.02.1998, por Eduardo Carlos Bianca Bittar So Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.p. 11 13 CHAVES, Antnio. Direito de Autor, vol. I Princpios Fundamentais. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1987. p.12 14 Idem. Ibidem 15 Ibidem. p. 13 16 Idem. Ibidem. 17 Idem. Ibidem.
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fim h) direito privativo de aproveitamento, onde Arcadio Plazas18 argui que so inapropriveis as ideias, como objeto:
(...) a apropriao das coisas no depende do desejo do homem, e sim da natureza mesmo delas; o mundo material est destinado apropriao, mas no as ideias, que pertencem por natureza comunidade. (...) O autor est livre de dar ou no publicao as suas ideias. Mas, uma vez realizada a publicao, produz-se um fenmeno que escapa ao seu domnio: a ideia no somente sua: o pblico a possui e j no pode perdla mais.
Como demonstrado, no tarefa fcil especificar a natureza jurdica dos direitos autorais. Sob a perspectiva de um direito sui generis, ele abarca diversos elementos do direito pblico e privado. Segundo Gandelman 19 a teoria monista, une os conceitos de direito moral e direito patrimonial em um s, sendo os mesmos indivisveis. Essa teoria considera a denominao Direitos Autorais como sendo a mais abrangente, pois compreende que no somente o autor que pode ser titular do direito, mas tambm os derivados, como os titulares dos direitos conexos. Pela teoria dualista os direitos autorais se dividem em duas categorias: a de carter moral, que converge imagem do autor e a sua ligao com a obra e a de carter patrimonial, que envolve os direitos econmicos, de natureza real, ligado ao direito privado. Como muito bem aponta Gonzaga Adolfo20:
Essa natureza dupla enfocada por Abro ao analisar as duas correntes que eram oposicionistas nos primrdios do Direito Autoral, a dos monistas e a dos dualistas. A primeira apegava-se a um carter nico: ou se tratava de um direito de exclusivamente de propriedade, mesmo que intelectual, ou de um direito de personalidade, emanao exclusiva do esprito, decorrendo dele todos os demais direitos gerados. Encontrou-se frtil teoria monista de propriedade entre os juristas ingleses e alemes, e a monista de personalidade entre os franceses. A Teoria Dualista, ao revs, ampara-se na dupla natureza desse Direito, mormente a partir de suas prerrogativas morais e patrimoniais inter-relacionadas entre si, encontrando guarida entre os franceses, italianos, e outros de origem latina.
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CHAVES, Antnio. Direito de Autor, vol. I Princpios Fundamentais. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1987p.15 19 GANDELMAN, Henrique. De Gutenberg Internet: Direitos autorais na era digital. 1ed. So Paulo: Record. 1997. p.34-35 20 ADOLFO, Luiz Gonzaga Silva. Obras Privadas, benefcios coletivos: a dimenso pblica do direito autoral na sociedade de informao. 2006. 386 f. Tese (Doutorado em Direito) PPG em Direito UNISINOS, So Leopoldo, 2006 p. 96-97 Disponvel em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp025594.pdf> Acesso em: 14 mai. 2013
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Por sua vez, Ascenso21 afirma que o direito do autor pode ser caracterizado como um direito exclusivo:
O ponto de partida est na qualificao dos direitos autorais, essencialmente, como exclusivos. O exclusivo, no ponto de vista patrimonial, representa um monoplio. Este exclusivo amparado constitucionalmente: o art. 5 inc. XXVII da Constituio qualifica como tal o direito do autor. D a garantia institucional do direito de autor (mas no a do direito conexo) e a justificao positiva deste.
Como possvel verificar, h vrias correntes e interpretaes sobre os aspectos jurdicos dos direitos autorais, sendo que em meio essa pluralidade terica, encontramos muita que tambm so aplicadas em outras reas do direito.
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ASCENSO, Estudos de direito do autor e a reviso da lei dos direitos autorais [Recurso eletrnico] / Marcos Wachowicz, Manuel JoaquimPereira dos Santos (organizadores). Florianpolis : Fundao Boiteux,2010. p.17 22 BARBOSA, Denis Borges, Uma introduo propriedade intelectual 2 Edio rev. e atualizada - Editora Lumen Juris. p.31 Disponvel em: <http://www.denisbarbosa.addr.com/arquivos/livros/umaintro2.pdf> Acesso em: 14 mai. 2013
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O Direito Autoral, tal como o conhecemos hoje, de recente criao, pois desde seus primrdios, at os dias de hoje, ele sofreu grandes transformaes. J no incio da civilizao, as manifestaes artsticas se fizeram presentes, como por exemplo, os desenhos feitos em cavernas na pr-histria, depois as atividades literrias dos monges na Idade Mdia, proclamao de poesias e representaes teatrais no perodo da monarquia e assim por diante. Tais manifestaes eram reconhecidas e valorizadas atravs de concesso privilgios e que, posteriormente, despertaram interesse dos mecenas em patrocinar talentos artsticos, ou talvez, reconhecer um direito natural do criador. Mas foi somente em 1450 23, aps a inveno de Gutemberg, da imprensa com tipos mveis, que a regulamentao do direito autoral torna-se fundamental, devido a possibilidade de publicaes em grande escala e consequentemente a divulgao de seus contedos, causando tormentos realeza da poca, 24 Allan Rocha 25 complementa
A facilidade de reproduo, a alfabetizao de um maior nmero de pessoas e uma produo literria mais intensa e diversificada d origem a um perodo de ecloso cultural a Renascena e, concomitantemente, de uma indstria cultural, destacando-se os impressores e vendedores de livros. de fundamental importncia a existncia destes intermedirios (impressores e livreiros) entre o autor e o pblico, pois aqueles no possuam meios de divulgao e distribuio, to-pouco recursos para a impresso. Os privilgios consistiam em direitos de exclusividade na reproduo e distribuio de material impresso, por tempo determinado, porm renovvel. Inicialmente de cinco anos, algumas dcadas depois estendidos para 10 anos, e posteriormente em perpetuidade.
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Essa uma data aproximada, uma vez que encontram-se referncias diferentes alusivas ao mesmo fato. Allan Rocha, por exemplo, afirma, em seu artigo A construo social dos direitos autorais: primeira parte que a inveno da impressora, por Gutenberg se deu em 1436, e do papel, em 1440, possibilitando a reproduo dos livros em uma escala infinitamente superior ao conhecida at ento. 24 NUNES, Simone Lahorgue. Direito autoral, direito antitruste e princpios constitucionais correlatos / Simone Lahorgue Nunes Rio de Janeiro: Elsevier, 2011 25 SOUZA, Allan Rocha de. A construo social dos direitos autorais: primeira parte . p.6 Disponvel em: <http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/campos/allan_rocha_de_souza.pdf> Acesso em: 1. mai. 2013.
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importante frisar que as protees no tinham como foco os autores, de maneira a incentivar novas criaes intelectuais, e sim os editores e impressores, como garantia de retorno aos seus investimentos, conforme nos ensina o professor Ascenso26:
O mais remoto antecedente surge com a inveno da imprensa, mas com o fito de outorgar tutela empresa. D-se um privilgio, ou monoplio, ao impressor. O que significa que a ratio da tutela no foi proteger a criao intelectual, mas sim, desde o incio, proteger os investimentos.
De acordo com Simone Nunes27, em 1556, nasce o embrio do direito autoral anglo-saxo, O copyright da Inglaterra, quando teve incio a concesso de privilgio de explorao dos direitos de impresso (ou de cpia, da a origem do nome copyright) e de licenciamento s Stationers Company, editores da Coroa inglesa, sendo que a partir da, obrigatoriamente, todas as cpias deveriam ser registradas com esses editores. Em pouco tempo, as cpias passaram a ser tratadas como propriedade das Stationers Company, e como os autores delas no faziam parte, no podiam reivindicar seus direitos de copyright.28 Esse monoplio durou por um longo perodo. Allan Rocha29 confirma essa informao,
(...) os direitos autorais propriamente ditos vieram a ser concebidos da experincia dos privilgios e foram o resultado dos conflitos do modelo de gesto do material impresso expresso pelos privilgios. (...) Na Inglaterra, um alvar concedido pelos monarcas permitiu a criao do Stationers Company em Londres, dando-lhes amplos poderes, inclusive para queimar livros e destruir grficas ilegais. O sistema era simples e determinava que o direito de cpia (copyright) era adquirido atravs do registro no livro da Companhia, e significava que apenas o titular do registro podia proceder a impresso e comercializao do livro. Estes direitos eram alienveis, transferveis e passveis de sucesso hereditria, eram, enfim, direitos de propriedade perptua. Ento, a primeira configurao jurdica especfica para a proteo dos direitos de criao foram os privilgios concedidos pela Coroa aos livreiros, em razo dos seus investimentos no instrumental de impresso, protegendo-os assim da concorrncia alheia, garantindo-lhes o monoplio e tambm assegurando a possibilidade do desenvolvimento e sustento de editores locais, gerando desenvolvimento no Reino concedente. Um segundo fator de grande relevncia a sua funo poltica, cujo objetivo principal era o de controlar o que era publicado e lido, estabelecendo a censura.
26
ASCENSO, Jos de Oliveira. Direito Autoral , 2 Ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 1997 p.4 27 NUNES, Simone Lahorgue. Direito autoral, direito antitruste e princpios constitucionais correlatos/Simone Lahorgue Nunes Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. 28 Ibidem.p. 3 29 SOUZA, Allan Rocha de. A construo social dos direitos autorais: primeira parte. Disponvel em: <http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/campos/allan_rocha_de_souza.pdf> Acesso em: 1. mai. 2013. p. 8
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A questo dos privilgios concedidos na poca, aparentemente deu incio aos conflitos de interesses entre autores e editores, uma vez que esses detinham o monoplio de explorao econmica dos escritos literrios, por tempo
indeterminado, sob a alegao do investimento econmico dispensado para a produo e circulao das obras, gerando discusses que cruzou o sculo, no entanto no se confundem com o direito do autor propriamente dito, uma vez que as mesmas se davam pelo vis econmico. Durante o sculo XVII e incio do sculo XVIII, aps consolidado os privilgios, que podem ser considerados como direitos editoriais, passam-se s questes da necessidade ou no de sua cesso especfica pelo autor-criador.30
No que tange a cesso dos direitos, comeou-se a questionar o fato de que ao passar os originais para os editores, os autores conferiam-lhe todos os seus direitos. Ainda de acordo com Allan Rocha31
Emergia assim a conscincia da diferena entre a propriedade real sobre o original e o direito de reproduo do original. (...) Enfim, os conflitos neste perodo envolvem, em um primeiro plano, os editores e os autores sobre a existncia e titularidade dos direitos de reproduo e o modo de sua transmisso, e, em um segundo patamar, os conflitos entre as pretenses destes na perpetuidade destes direitos e os pleitos da emergente sociedade civil em uma limitao a estes direitos.
Outros episdios significativos ocorreram durante o processo do surgimento dos direitos autorais em diversas regies e pases, porm um marco importante foi a aprovao, pelo Parlamento ingls, do Estatuto da Rainha Ana (Copyrigtht Act) de 10 de abril de 1710, como nos ensina Eliane Abro32
O estatuto (que foi promulgado em 1709 e entrou em vigor em 10 de abril de 1710 e no em setembro, como se refere a autora) previa o direito de cpia do livreiro pelo perodo de 21 anos, e a patente de impresso, significando grande avano na normatizao dessas relaes por se tratar de uma lei (geral e pblica), e no mais de um acordo cooperativo. Entretanto, os grandes beneficirios continuavam sendo livreiros, em virtude da cessibilidade dos direitos de autoria. Apontam-se trs mritos principais do Statute of Anne: a) transformou o direito de copia dos livreiros
30
SOUZA Allan Rocha de. A construo social dos direitos autorais: primeira parte. Disponvel em: <http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/campos/allan_rocha_de_souza.pdf> Acesso em: 1. mai. 2013. p. 8 31 Ibidem 32 ABRO, Eliane Y. Direitos de Autor e Direitos Conexos. So Paulo: Editora do Brasil, 2002, p. 29-30.
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(monoplio e censura) em um conceito de regulao comercial, mais voltado promoo do conhecimento e diminuio dos respectivos poderes (limitao no tempo, liberdade de cesso do Copyright e controle de preos); b) criou o domnio pblico para a literatura (cada livro poderia ser explorado por 14 anos, podendo esse prazo ser prorrogado por uma nica vez) acabando com a perpetuidade, porque no velho sistema, toda a literatura que se enquadrasse nos padres censrios deles poderia ser impressa; c) permitiu que os autores depositassem livros em seu nome pessoal, tirando-os, por um lado, do anonimato e por outro criando a memria intelectual do pas com a doao de livros universidades e bibliotecas pblicas.
Destaca-se ainda o droit dAuteur, da Frana, que surgiu com a Revoluo Francesa, abolindo o modelo de privilgios e estabelecendo o carter moral do direito do autor como alternativa ao copyright act que, fundamentalmente, buscava a proteo dos aspectos econmicos de explorao da obra intelectual e o copyright norte-americano que surge no final do sculo XVIII mantendo as quatro condies para o monoplio sobre os direitos estabelecidos no Estatuto da Rainha Ana, sendo ento a proteo limitada a: a) trabalhos publicados; b) os autores de novas obras; c) direito de imprimir e vender cpias do trabalho; d) por tempo limitado. 33 Segue Allan Rocha,34
Em 1790, o primeiro Copyright Act americano, foi aprovado pelo primeiro congresso da nova nao, em sua segunda sesso, e foi intitulado An Act for the encouragement of learning by securing the copies of maps, charts, and books, to the author and proprietors of such copies, during the times therein mentioned. O objetivo da lei era claro: direito limitado reconhecido por um perodo limitado, sujeito condies especficas e necessidade de cidadania. Fora isso no havia proteo. Ento a principal proteo concedida no ao detentor dos direitos mas ao pblico em geral em aprender com o material.
Com um aumento significativo de criaes intelectuais, com a circulao de obras cada vez mais internacionalizadas, a necessidade de um norteamento para regulamentaes dos direitos autorais, atravs de acordos e tratados internacionais, se fazia cada vez mais urgente para que se buscasse uma harmonizao de garantias e proteo aos detentores de direitos autorais, abarcadas nas legislaes dos pases signatrios desses. Desta forma, asseguravam-se a qualquer autor estrangeiro as mesmas garantias de proteo concedidas pelas legislaes
33
SOUZA Allan Rocha de. A construo social dos direitos autorais: primeira parte. Disponvel em : <http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/campos/allan_rocha_de_souza.pdf> Acesso em: 1. mai. 2013. 34 Ibidem. p.15
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nacionais aos autores dos prprios pases, estabelecendo a reciprocidade no tratamento jurdico na questo autoral.
Surge ento, outro grande marco do direito autoral, porm com alcance o internacional, a Conveno de Berna, descrita por Menezes35, da seguinte forma:
Em 1886, a realizao da Conveno de Berna, na Sua, seria o grande marco internacional do Direito de Autor. Diversas naes estabeleciam ali diretrizes de aplicao das normas autorais em seus ordenamentos jurdicos, comprometendo-se a refletir, em suas legislaes nacionais, as garantias de proteo aos autores naquele momento pactuadas.
Dentre outros tratados, acordos e convenes internacionais, cabe destacar, sem demrito aos demais, os tratados da OMPI Organizao Mundial de Propriedade Intelectual, responsvel pela criao, em 1991, em Genebra, do Comittee of Governamental Experts, com a funo de promover estudos para possibilitar a adequao das normas da Conveno de Berna s novas tecnologias. Outro merecido destaque, no mbito da Organizao Mundial do Comrcio - OMC, foi o estabelecimento do acordo relativo aos Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual Relacionados com o Comrcio, conhecido mundialmente como TRIPS, que visa a, entre outras coisas, estabelecer medidas e procedimentos que garantam a proteo aos direitos da propriedade intelectual, conforme nos informa Fragoso, 36
Sua Ata Final foi promulgada no Brasil pelo Decreto n 1.355. de 30/12/94 (Rodada Uruguaia) e firma, como objetivo bsico, reduzir distores e obstculos ao comrcio internacional atravs do estabelecimento de medidas e procedimentos que garantam a proteo aos direitos de propriedade intelectual e que no se tornem, por sua vez, obstculos ao comrcio legtimo.
3.2 OS DIREITOS AUTORAIS NO BRASIL A histria do Direito do Autor no Brasil mais recente, comparada com a de outros pases, basta verificar que no perodo colonial a imprensa estava proibida, uma vez que no era interessante para a corte que houvesse desenvolvimento intelectual da colnia, pois mantendo o povo ignorante, era mais fcil manter seu domnio e dependncia.
35 36
MENEZES, Elisngela. Curso de Direito Autoral, Belo Horizonte: Del Rey, 2007. p.24 FRAGOSO, Joo. Direito Autoral Da Antiguidade a Internet, So Paulo: Quartier Latin, 2009.p.108
24
Na Constituio do Imprio (de 25 de maro de 1824), no havia referncias aos direitos autorais, embora tenha protegido os direitos dos inventores na primeira, em seu artigo 179, XXVI.37 Posteriormente, o Cdigo Criminal de 1830, atravs do art. 26138, era quem regulava a matria, de forma pioneira na Amrica Latina, porm somente em 14 de dezembro de 1973 foi sancionada a Lei n 5.988, que regulava os direitos autorais e os direitos que lhes so conexos, que deu origem ao texto da lei atual. Segundo Bruno Hammes,39 em 1875 Jos de Alencar props um projeto de lei ao parlamento com o objetivo de conseguir proteo aos autores, no entanto ele no obteve xito, o mesmo foi ignorado e nem sequer debatido.
A primeira lei que versou sobre o direito autoral no Brasil foi a lei n. 496, de 01.08.1898 que teve complementaes importantes com o cdigo civil de 1916, que tratou da matria nos artigos 649-673. Posteriormente, o Decreto n. 4.790, de 02.01.1924, disciplinou basilarmente o uso das obras musicais, at ento desconsideradas pela legislao que contemplava apenas obras literrias. Nos anos seguintes, surgiram muitas outras leis referentes ao tema o que causou uma grande confuso, devida pluralidade de dispositivos de difcil penetrao. J nos anos 60, o Brasil passou por uma poca de renovao dos cdigos e foi nesse escopo que emergiu a ideia da criao do primeiro cdigo do direito do autor brasileiro.
Com o incio da era da comunicao, muitas leis esparsas e decretos foram editados com o intuito de acompanhar tal desenvolvimento, no entanto, essa diversidade de leis causava muita confuso e desentendimentos, sendo que a necessidade de se consolidar os textos legais existentes em um nico documento se fez mais do que necessrio. Com a pluralidade de entidades arrecadadoras de direitos autorais, havia muita disputa no que concerne a quem deveria autorizar a
37
Texto do artigo 179, XXVI: Os inventores tero a propriedade das suas descobertas, ou das suas produces. A Lei lhes assegurar um privilegio exclusivo temporario, ou lhes remunerar em resarcimento da perda, que hajam de soffrer pela vulgarisao. A construo social dos direitos autorais: primeira parte. Allan Rocha de Souza* p. 17 38 Art. 261 - Imprimir, gravar, litografhar ou introduzir quaisquer escritpos ou estampas que tivessem sido feitos, compostos ou traduzidos por cidados brazileiros, em quanto estes viverem, e dez annos depois de sua morte, se deixaram herdeiros. Penas. Perda de todos os exemplares para o autor ou tradutor, ou seus herdeiros, ou na falta deles, do seu valor e outro, a de multa igual ao tresdobro do valor dos exemplares. - CONSELHO NACIONAL DE DIREITO AUTORAL. Legislao e Normas, 4 edio ver. e apmp, Braslia: CNDA, 1988. p18 39 . HAMMES, Bruno Jorge. O direito da propriedade intelectual, 3 edio. So Leopoldo: UNISINOS , 2002
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execuo pblica das obras e a quem caberia receber os valores correspondentes s mesmas. Era muito desordenado esse sistema de gesto dos direitos autorais, pois alm de confundir o usurio, causavam muitos prejuzos aos titulares.
Em plena ditadura militar, sob a batuta da censura que reprimia duramente as manifestaes artsticas, polticas e intelectuais, o ento Presidente General Ernesto Garrastazu Mdici, sob o slogan Brasil, ame-o ou deixe-o, sancionou a lei n. 5.988 14 de dezembro de 197340, que regulava os direitos autorais e os direitos que lhe so conexos, adequando-a a Conveno de Roma41, a qual o Brasil era signatrio. Segundo Morelli42, a implantao dessa legislao ocorreu da seguinte forma:
A comisso formada no governo Costa e Silva encerraria seus trabalhos sem chegar a um consenso: o ministro Cndido Mota Filho apresentara um anteprojeto, o desembargador Milton Sebastio Barbosa e o jurista Antnio Chaves apresentaram outro. E, resolvendo o impasse a seu prprio modo, o presidente Garrastazu Mdici encarregaria o procurador geral da Repblica, Jos Carlos Moreira Alves, de elaborar um simples projeto de lei, e no de um Cdigo, projeto este que como tal, teve uma tramitao extremamente rpida no Congresso e veio a transformar-se na Lei 5.988 de 14/12/73. Essa lei foi a grande realizao modernizadora dos governos militares no campo autoral: centralizou a arrecadao e a distribuio no Ecad, interferiu nas modalidades societrias internas de distribuio do dinheiro e do poder e criou o CNDA como rgo normatizador da atividade autoral no Brasil. (...) uma das emendas que o Congresso lograra a aprovar, de autoria do deputado Franco Montoro, do MDB, obrigava as gravadoras numerao dos discos, o que implicava controle sobre o pagamento dos direitos fonomecnicos, mas foi vetada pelo presidente, que preferiu atender antes aos apelos da indstria fonogrfica encaminhados pela ABPD. De fato, uma das chaves para a compreenso da natureza da interveno dos governos militares no campo autoral justamente a proteo sistemtica que concederam aos setores modernos do mercado de msica em detrimento daqueles que representados pelas entidades pioneiras, proteo essa que se estendeu nos tempos de abertura, aos prprios compositores e intrpretes das novas geraes da MPB, mas que se revelaria mais persistentemente como proteo dos interesses dos grandes usurios de suas obras.
A partir da temos a primeira legislao especfica, disposta em trs captulos, nove ttulos e cento e trinta e quatro artigos, regulando o direito autoral no Brasil, representando um marco no Direito do Autor, pois tutelava no s os direitos dos
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BRASIL. Lei 5.988/73 Disponvel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5988.htm> Acesso em: 04 mai.2013 41 Conveno de Roma. (Decreto n. 57.125, de 19 de outubro de 1965) - Promulga a Conveno Internacional para proteo aos artistas intrpretes ou executantes, aos produtores de fonogramas e aos organismos de radiodifuso. Disponvel em: <http://www2.cultura.gov.br/site/wpcontent/uploads/2008/02/cv_roma.pdf> acesso em 4 mai. 2013 42 MORELLI, Rita de Cssia Lahoz, Arrogantes, Annimos e Subversivos: interpretando o acordo e a discrdia na tradio autoral brasileira. Campinas: Mercado das Letras, 2000. p. 172-173
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criadores intelectuais como tambm dos titulares dos Direitos Conexos. Reuniu tambm uma srie de inovaes para o sistema brasileiro, na rea musical, por exemplo, criou o Escritrio Central de Arrecadao e Distribuio - ECAD - e o Conselho Nacional de Direito Autoral CNDA, rgo de fiscalizao, consulta e assistncia, no que concerne ao direito do autor e os que lhe so conexos, que tinha entre suas atribuies, a responsabilidade de fixar normas destinadas unificao de preos e sistemas de cobranas e distribuies de direitos autorais, ao qual o ECAD ficava submetido.
Ensejada por essas dificuldades crescentes e fruto de processo poltico tormentoso, a Lei n 5.988, de 14 de dezembro de 1973, criou o sistema autoral brasileiro, que se apoia no Conselho Nacional de Direito Autoral CNDA, nas associaes de titulares de direitos autorais e no Escritrio 43 Central de Arrecadao e Distribuio ECAD.
No entendimento de Vanisa Santiago,44 a promulgao da lei 5.988/73, no auge da ditadura militar, nem sempre estava relacionada aos interesses internacionais e outros fatores tambm estiveram presentes
No creio que interesses internacionais tenham sido determinantes para a promulgao da lei de 1973. Naquele momento, as questes internas dos autores eram mais importantes, mesmo porque a classe artstica, com sua sempre conhecida preferncia pela esquerda, precisava ser acalmada de alguma forma. Na poca, a existncia de sociedades paralelas, que disputavam o mercado sem uma centralizao da cobrana e da distribuio dos direitos gerava muitas reclamaes, haviam muitas denncias de toda natureza, inclusive de abuso de poder pela expulso sumria de autores que se manifestavam publicamente contra algumas delas. Atender aos autores e artistas, nesse contexto, foi uma maneira de atrair um pouco de simpatia. O Ministro da Educao e Cultura da poca era o Coronel Ney Braga, um tipo simptico, e o projeto, que a princpio seria de unificao da arrecadao (o rgo a ser criado se chamaria ECA) evoluiu no sentido de incluir a distribuio por essa razo, ECAD. Tambm me parece importante chamar a ateno para a forte influncia tcnica e poltica dos produtores fonogrficos na redao e na aprovao desse projeto. A lei 5988 incorporou vrios dispositivos da lei 6444 de 1966, que a antecedeu, tratando apenas de regular os direitos conexos. Nossa legislao, desde a lei 6444, implantou entre ns um Roma Plus, ao exceder em vrios normas o grau de proteo oferecido pela Conveno de Roma aos produtores fonogrficos.
Em 1975 o Decreto n 76.275 organizou o Conselho Nacional de Direito Autoral (CNDA), sendo alterado posteriormente pelo Decreto n 84.252/79, hoje
43
CONSELHO NACIONAL DE DIREITO AUTORAL. Legislao e Normas, 4 edio ver. e amp, Braslia: CNDA, 1988. p19 44 SANTIAGO, Vanisa. [Informaes via e-mail] 24 mai. 2013. Rio de Janeiro [para] Patrcia Mello, Porto Alegre. Solicita informaes sobre Direitos Autorais
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revogado pelo Decreto n 5-9-1991. Tambm neste ano, o Brasil ratificou a Conveno de Berna,45 com todas as suas revises, entretanto, os seus princpios foram observados somente em 1998 quando a lei 9.610/98 foi promulgada. Concluindo, cabe destacar Braule Pinto46, em sua assertiva:
(...) cabe ressaltar que o Brasil, buscando maior reciprocidade na defesa dos direitos autorais e para, entre outros propsitos, poder conciliar seu normativo interno com as modernas diretrizes internacionais, se tornou signatrio de diversos acordos, convenes e tratados internacionais, dos quais podemos destacar: a Conveno de Berna, incluindo a ltima reviso de seu texto ocorrida em Paris, em 1971, promulgada pelo Brasil por meio do Decreto 75.699/75; a Conveno de Genebra, de 1971, promulgada pelo Brasil por meio do Decreto 76.905/75; e o acordo relativo aos Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual Relacionados com o Comrcio TRIPS, promulgado pelo Brasil por meio do Decreto 1.355/94.
Aps essa breve explanao, seguimos adiante com a outra etapa mais recente dos direitos autorais.
45
Com efeito, dois anos mais tarde, em 1975, o prprio texto da Conveno de Berna seria ratificado no Brasil, por meio do Decreto n. 75.699, consolidando, finalmente, uma estrutura jurdica concatenada com as diretrizes internacionais. - MENEZES, Elisngela. Curso de Direito Autoral, Belo Horizonte: Del Rey, 2007. p.26 46 PINTO, Rodrigo Pvoa Braule. Lei de Direitos Autorais [manuscrito]: pequenos trechos, grandes problemas / Rodrigo Pvoa Braule Pinto. Orientador: Eduardo Fernandez Silva. Monografia (especializao) -- Centro de Formao, Treinamento e Aperfeioamento (Cefor), da Cmara dos Deputados, Curso de Especializao em Processo Legislativo, 2009. Disponvel em : http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/4025/direitos_autorais_povoa.pdf?sequence=1 > Acessado em 4 mai. 2013. p. 19-20
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Desde os primrdios da sociedade vrios pensadores dedicam suas atenes s maneiras de como o ser humano interage socialmente e as suas relaes com as mais diversas formas de poder. Quando algum deseja algo, que depende da vontade do outro, estabelece-se a uma relao de poder onde os indivduos interdependentes amargam disputas para satisfazer seus anseios. No terreno da poltica, esses embates se travam como verdadeiros campos de batalha, onde, segundo Rousseau48, o mais forte nunca bastante forte para ser sempre o senhor, seno transforma sua fora em direito e obedincia em dever.
O conflito de interesses possvel ser traduzido com uma situao gerada pelo confronto entre interesses pblicos e privados, que podem comprometer o interesse coletivo. Eles se apresentam quando os recursos so escassos, quando h divergncia sobre decises, ou quando h questes polticas e emocionais em jogo. No campo do Direito Autoral, percebe-se que o conflito de interesses antigo. Encontramos em Bobbio49 a seguinte definio:
Conflito uma forma de interao entre indivduos, grupos, organizaes e coletividades que implica choques para o acesso e a distribuio de recursos escassos. Esta proposio, porm, suscita imediatamente diferenciaes e divergncias atinentes maior parte dos problemas ligados ao conceito de Conflito e sua utilizao.
47
MENDES, Gilmar. Questes Fundamentais de Tcnica Legislativa. Revista Eletrnica sobre a Reforma do Estado (RERE), Salvador, Instituto Brasileiro de Direito Pblico, n 11, setembro/outubro/novembro, 2007. p.18 Disponvel em: <http://www.direitodoestado.com.br/artigo/gilmar-mendes/questoes-fundamentais-de-tecnicalegislativa> Acesso em: 06 mai. 2013 48 ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social. Traduo de: Ciro Mioranza.So Paulo: Escala. 2 ed. , 2008. p. 20 49 BOBBIO, Norberto, 1909- Dicionrio de poltica I Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino; trad. Carmen C, Varriale et ai.; coord. trad. Joo Ferreira; rev. geral Joo Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. - Braslia: Editora Universidade de Braslia, 1 la ed., 1998. Vol. 1: p.225
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Nas relaes sociais, a relao de poder est presente atravs da poltica, sendo que a mesma no est presente apenas nas relaes estatais, mas tambm em outras dimenses da vida em sociedade, como ensina Max Weber 50. A definio de Hobbes51, tal como se l no princpio do captulo dcimo do Leviat, a seguinte: "O Poder de um homem (...) consiste nos meios de alcanar alguma aparente vantagem futura". Norberto Bobbio52 define o Poder, da seguinte forma:
Em seu significado mais geral, a palavra Poder designa a capacidade ou a possibilidade de agir, de produzir efeitos. Tanto pode ser referida a indivduos e a grupos humanos como a objetos ou a fenmenos naturais (como na expresso Poder calorfico, Poder de absoro). (...) Se o entendermos em sentido especificamente social, ou seja, na sua relao com a vida do homem em sociedade, o Poder torna-se mais preciso, e seu espao conceptual pode ir desde a capacidade geral de agir, at capacidade do homem em determinar o comportamento do homem: Poder do homem sobre o homem. O homem no s o sujeito, mas tambm o objeto do Poder social.
A complexidade do conceito de Poder, e de poder poltico, em particular, se deriva por se tratar de uma formulao que se consolidou ao longo dos sculos, tendo por um lado o Poder dominante do Estado e o Poder Jurdico, que podemos encontrar em Kelsen, e o Poder Sociolgico em Max Weber, que conceitua o poder como sociologicamente amorfo. Todas as qualidades imaginveis de um homem e toda a espcie de virtudes possveis podem colocar algum na posio de impor sua vontade em uma situao determinada.53 Para Weber, o conceito de dominao significa a probabilidade de que um mandato seja obedecido e no conceito de disciplina, abrange a obedincia habitual.54
50
NOGUEIRA FILHO, Octaciano da Costa. Introduo Cincia Poltica. 2 ed. Braslia: Senado Federal, Unilegis, 2010. 51 HOBBES, Thomas. citado por BOBBIO. Dicionrio de poltica I Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino; trad. Carmen C, Varriale et ai.; coord. trad. Joo Ferreira; rev. geral Joo Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. - Braslia: Editora Universidade de Braslia, 1 la ed., 1998. Vol. 1. p.934 52 BOBBIO, Norberto, 1909- Dicionrio de poltica I Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino; trad. Carmen C, Varriale et ai.; coord. trad. Joo Ferreira; rev. geral Joo Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. - Braslia: Editora Universidade de Braslia, 1 la ed., 1998. Vol. 1. p.933 53 NOGUEIRA FILHO, Octaciano da Costa. Introduo Cincia Poltica. 2 ed. Braslia: Senado Federal, Unilegis, 2010. p. 96 54 Ibidem.
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Na obra de Hannah Arendt55 encontramos que o poder apenas passa a existir entre os homens quando eles agem juntos e desaparece no exato momento em que eles se dispersam, pois corresponde condio humana da pluralidade. Nas palavras da autora
O poder s efetivado enquanto a palavra e o ato no se divorciam, quando as palavras no so vazias e os atos no so brutais, quando as palavras ao so empregadas para velar intenes, mas para revelar realidades e os atos no so usados para destruir, mas para criar relaes e novas realidades.
Quando analisamos a questo do poder, percebemos que de fato ela est inserida na sociedade em todas suas esferas: nas relaes sociais, polticas econmicas e tecnolgicas, sendo que os indivduos que dela fazem parte exercitam esse poder, que conforme Foucault,56 ora dominando e, ora sendo dominado. Michel Foucault57, afirma: Quando digo poder, no se trata de detectar uma instncia que estenda a sua rede de maneira fatal, uma rede cerrada sobre os indivduos. O poder uma relao, no uma coisa. Para Foucault, o poder funciona como uma rede de dispositivos ou mecanismos que atravessam toda a sociedade e do qual nada nem ningum escapa e no pode ser visto como um processo global e centralizado de dominao que se exerceria em diversos setores da vida social.
Na anlise dessa construo legislativa, bem como a sua evoluo histrica, mister observar as relaes de poder que permeiam esse processo.
4.2 CONTEXTO HISTRICO E POLTICO BRASILEIRO Com o Golpe de 64, o Brasil foi submetido, por mais de duas dcadas, a um regime militar ditatorial onde os direitos humanos e constitucionais foram sufocados
55
ARENDT, Hannah A Condio Humana Traduo de Roberto Raposo, posfcio de Celso Lafer. - 10 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2007. p.212 56 DANNER, Fernando. A Genealogia do Poder em Michel Foucault - Prof. Dr. Nythamar de Oliveira (orientador) - IV Mostra de Pesquisa da Ps-Graduao PUCRS 2009. Disponvel em: <http://www.pucrs.br/edipucrs/IVmostra/IV_MOSTRA_PDF/Filosofia/71464FERNANDO_DANNER.pdf> Acesso em: 13 mai. 2013 57 SILVA, Jos Cludio Sooma. Foucault e as relaes de poder: O cotidiano da sociedade disciplinar tomado como uma categoria histrica. Dossi Foucault N. 3 dezembro 2006/maro 2007 Organizao: Margareth Rago & Adilton Lus Martins ISSN 1981-1225
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e infringidos, abrindo profundas feridas na nossa histria, causando grandes prejuzos a toda nao brasileira, como bem comenta Figueiredo Filho58:
Cremos estar dispensados de maiores apresentaes de como o golpe se metamorfoseou numa longa e cruel ditadura. Os Atos Institucionais se seguiam ao sabor do arbtrio dos ditadores, to logo a sociedade civil demonstrasse no estar devidamente adestrada. Com a esfera pblica totalmente ocupada pela represso, os setores mais combativos da esquerda no tiveram alternativa de luta poltica seno pelas armas. Estvamos no segundo semestre de 1968 quando essa opo comeou a ser aventada com mais seriedade pelos grupos da esquerda. E, no dia 13 de dezembro desse mesmo ano veio a gota dgua: o Ato Institucional Numero 5, AI-5.
importante ressaltar que uma srie de liberdades polticas ou instituies tipicamente democrticas podem estar presentes mesmo num regime ditatorial. 59 Porm, aps duas dcadas de grande sofrimento sob um regime de ditadura, no final dos anos oitenta novos ventos comeam a mudar o rumo da histria e da poltica no Brasil. As palavras de Hannah Arendt60 so propcias para adentrar nesse novo perodo:
O milagre da liberdade est contido nesse poder-comear que, por outro lado, est contido no fato de que cada homem em, si um novo comeo, uma vez que, por meio do nascimento, veio ao mundo que existia antes e vai continuar existindo depois dele.
4.2.1 A Nova Constituio Federal de 1988 A Constituio Federal de 1988 foi construda permeada desses traumas. Os Constituintes buscaram abarcar na legislao o sentido mais amplo
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Vejamos seus ltimos artigos: Art. 10 Fica suspensa a garantia de habeas corpus, nos casos de crimes polticos, contra a segurana nacional, a ordem econmica e social e a economia popular. Art. 11 Excluem-se de qualquer apreciao judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato institucional e seus Atos Complementares, bem como os respectivos efeitos. Art. 12 O presente Ato Institucional entra em vigor nesta data, revogadas as disposies em contrario - .FIGUEIREDO FILHO, Celso Ramos. A ditadura ps-1964 enquanto forma de segregao poltica - A peste, So Paulo, v. 1, n. 2, p. 253-268, jul./dez. 2009 Disponvel em: <http://revistas.pucsp.br/index.php/apeste/article/view/6282/4616> Acesso em: 5 mai. 2013. p. 256 59 CODATO, Adriano Nervo. Uma histria poltica da transio brasileira: da ditadura militar democracia. Revista de Sociologia Poltica [online]. Curitiba, 25, 2005, n.25, pp. 83-106. ISSN 1678-9873. Disponvel em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/rsp/article/view/7074/5046> . Acesso em: 10 mai. 2013. p.100. 60 ARENDT, Hannah. O que poltica? / Hannah Arendt; [editoria, Ursula Ludz]; traduo Reinaldo Guarany. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. p. 43-44.
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possvel de liberdade, respeito aos direitos individuais, fundamentais e sociais, em toda a Carta Maior, como forma de garantir a democracia e espant ar os fantasmas da ditadura. Sob essa sede de liberdade, e no intuito de tornar o Brasil um pas democrtico de fato e de direito, no final da dcada de oitenta e durante toda a dcada de noventa, o sistema jurdico brasileiro passou por grandes transformaes a fim de se adequar s novas normas constitucionais. Com a promulgao da Constituio da Repblica de 198861, a propriedade intelectual consolidou-se de vez, tendo tambm parte dos direitos conexos elevados categoria de garantia constitucional, conforme no ensina Bittar62:
a Carta votada apresenta, por sua vez, inovaes em tema de direitos autorais, estampada no corpo dos incs. XXVII e XXXVIII do art. 5, que ao elencar direitos fundamentais da pessoa, estatui: XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilizao, publicao ou reproduo de suas obras, transmissvel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; XXVIII - so assegurados, nos termos da lei: a) a proteo s participaes individuais em obras coletivas e reproduo da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas; b) o direito de fiscalizao do aproveitamento econmico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intrpretes e s respectivas representaes sindicais e associativas; Como se verifica, foram reunidos nessas disposies diversos preceitos: a) o direito autoral de exclusividade, em sua frmula tradicional; b) o direito sobre participao em obra coletiva; e c) o direito de fiscalizao do criador e de entidades de representao sobre o uso de suas obras. Assegurandose, outro assim, direitos sobre a reproduo de imagem e de voz, eregidos, assim, em direitos constitucionais, junto com outros de personalidade convertidos em liberdades pblicas pela nova Carta, no inc. X do mesmo artigo (a saber, os intimidade, de honra, de vida privada e, novamente, de imagem, cuja violao acarretar reparao de danos, inclusive morais).
Nota-se que a lei do direito autoral de 1973, at ento vigente, urgia de atualizaes, em face ao crescente desenvolvimento tecnolgico que se avultou na poca, assim como a necessidade de adequao aos tratados e acordos internacionais, do qual o Brasil era signatrio e, sobretudo, nova Constituio Federal.
61
BRASIL, Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988. Disponvel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> acesso em: 5 mai. 2013. 62 BITTAR, Carlos Alberto. Contornos atuais do direito do autor / Carlos Alberto Bittar. 2. ed. ver. atual. e ampliada de conformidade com a Lei 9.610, de 19.02.1998, por Eduardo Carlos Bianca Bittar. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999. p. 98-99
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O ano de 1989 foi embalado por uma grande expectativa da retomada da eleio presidencial, fato que no ocorria no pas desde o ano de 1960. A campanha para a Presidncia da Repblica, que teve uma quantidade recorde de candidatos, proporcionou um verdadeiro cabo de guerra entre os diversos part idos polticos, sendo que muitos eram relativamente novos, desorganizados e pouco mobilizados, deixando um terreno frtil para aes dos setores de grande capital que almejavam a implantao das polticas neoliberais, como bem aponta Falco.63
As foras conservadoras optariam por Collor de Mello que, aproveitando-se da onda neoliberal que varria o mundo e da crise do Leste Europeu, usou e abusou do tradicional pnico da pequena-burguesia frente s crises econmicas e ascenso da esquerda. O candidato teve, ainda, a ajuda inesperada da represso do governo chins aos estudantes em Pequim, cujas imagens at hoje, so usadas para denunciar a violncia do comunismo.
O prognstico se confirmou nas urnas conduzindo Fernando Collor de Mello, presidncia da Repblica. inegvel que o apoio da Rede Globo, aliada a uma grande estratgia de marketing, assim como o apoio de setores capitalistas, foi decisivo para que Collor obtivesse esse sucesso eleitoral.
Diante desse cenrio, em 03 de junho de 1989, o ento Senador Luiz Viana apresenta o projeto de lei do Senado n 249/8964, sendo que em 08 de maro de 1990 recebe parecer favorvel da Comisso de Constituio e Justia 65, tendo o Senador Cid Sabia de Carvalho, como Relator. Em sua justificativa, Sabia66 aduz
Ao relator no sensibiliza a preocupao governamental, expressa pelo Conselho Nacional de Direito Autoral, rgo integrante da estrutura do Ministrio da Cultura. A viso do problema deve ser sempre mais ampla, para no criarmos, quanto aos direitos autorais, uma tutela administrativa, principalmente em uma fase onde a Nao se volta integralmente para uma maior liberdade de iniciativa. (grifo nosso). No diramos que o Senador Luiz Viana Filho visa o fortalecimento do empresariado responsvel pela comercializao dos produtos do esprito. De certo o Projeto de Lei no alimenta o confronto entre o autor e o empresariado indispensvel divulgao e comercializao de cada obra. Os ltimos acontecimentos demonstram que os povos rompem com o Estado
63
FALCO, Frederico Jos. Resgate de uma dcada: a conjuntura poltico-social brasileira dos nos 80 - Libertas, Juiz de Fora, v.8, n.1, p.28 - 49, jul / 2008 ISSN 1980-8518. p 17 64 BRASIL - Dirio do Congresso Nacional - SEO II de 31 de agosto de 1989. p. 4394 Disponvel em: <http://www.gpopai.usp.br/wiki/images/e/e4/PLS_n%C2%BA_249_de_1989_e_Justifica%C3%A7%C3 %A3o.pdf> Acesso em 6 mai. 2013 65 BRASIL - Dirio do Congresso Nacional - SEO II de 21 de maro de 1990. p. 774 66 Ibidem. p. 775
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absolutamente dominante e cujos pecados maiores nascem em um paternalismo inevitavelmente mal aplicado. (...) Para produzir o presente parecer, o relator teve o cuidado de ouvir todos os setores interessados na matria, tendo as portas de seu gabinete e da Comisso de Constituio, Justia e Cidadania aberta para todos que se interessaram, trazendo valiosos subsdios. Inclusive foi feito amplo exame de documentos e pareceres enviados por vrias entidades, inclusive a Associao dos Msicos Arranjadores e Regentes. Igualmente mereceu muito apreo o Sr. Daniel da Silva Rocha, Presidente da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. O relator tambm colheu, sobre o assunto, a posio da UBC Unio Brasileira de Compositores e da Associao Brasileira de Emissoras e Rdio e Televiso (Abert). Ressalto a Sociedade Brasileira de Intrpretes e Produtores Fonogrficos que enviou Comisso de Constituio, Justia e Cidadania ampla doutrina, especialmente sobre os direitos conexos, uma das preocupaes do autor do projeto. Por fim, nesse relato, resulta claro que apenas a Associao dos Msicos Arranjadores e Regentes tomou posio adversa propositura sob exame.
De acordo com Vanisa Santiago,67 esse projeto foi rapidamente aprovado pelo Senado sem emendas, como detalha:
O Projeto oriundo do Senado, que mantinha a estrutura jurdica e tcnica da lei anterior, foi encaminhado Cmara de Deputados em 1990, sob o nmero 5.430, tendo sido acompanhado por diferentes relatores na Comisso de Constituio e Justia e submetido a debates em diversas audincias pblicas. Durante sua longa tramitao nessa Casa outros 33 projetos sobre a matria foram apensados ao projeto original e apresentados por parlamentares de diferentes partidos. Alguns deles se restringiam alterar parcialmente a Lei n. 5.988/73 e apenas um deles promovia uma completa substituio da normativa, no caso, o projeto do ento Deputado Jos Genono, inspirado nos estudos que haviam sido elaborados pelos membros do CNDA.
4.3 TRAMITAO DO PROJETO DE LEI 5.430/90 Na Cmara dos Deputados, o projeto de lei 5.430/9068, ficou sob a relatoria do Deputado Aloysio Nunes Ferreira, que ao longo de sete anos, ficou incumbido da difcil misso de conciliar as diversas propostas e emendas apensadas, com diferentes interesses dos setores envolvidos, dentre os quais muitos causaram
67
SANTIAGO, Vanisa - A lei n. 9.610 de 19 de fevereiro de 1998 Aspectos Contraditrios. Conferncia proferida no "Seminrio sobre Direito Autoral", realizado pelo Centro de Estudos Judicirios, nos dias 17 e 18 de maro de 2003, no Centro Cultural Justia Federal, Rio de Janeiro RJ. Revista CEJ, Braslia, n. 21, p. 8-15, abr./jun. 2003. p.8 Disponvel em: <http://www.ufrnet.br/~tl/otherauthorsworks/dpr0027/cej21santiagoaspectoscontraditorios.pdf> acesso em: 6 mai. 2013 68 BRASIL - Dirio do Congresso Nacional - SEO II de 31 de agosto de 1989. p. 4394 Disponvel em: <http://www.gpopai.usp.br/wiki/images/e/e4/PLS_n%C2%BA_249_de_1989_e_Justifica%C3%A7%C3 %A3o.pdf> Acesso em 6 mai. 2013
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grandes empecilhos na tramitao do mesmo. Aps longa jornada, o projeto seguiu conforme relata Santiago69:
Finalmente, em 1997, o projeto do Senado, com todos os seus apensos, foi remetido considerao de uma Comisso Especial constituda por 40 deputados, tendo sido designado como Relator o prprio Deputado Aloysio Nunes Ferreira. Essa Comisso Especial foi presidida pelo Deputado Roberto Brant e contou com a participao ativa da Vice-presidente, Deputada Jandira Feghali e do Deputado Jos Genono, bem como de parlamentares de diferentes cores polticas. Concluda a rdua tarefa de examinar 34 textos diferentes, muitos dos quais continham disposies inconstitucionais, o Relator refundiu o texto do projeto original do Senado, incorporando alguns preceitos contidos no Projeto Genono e apresentando um substitutivo que foi submetido a debates entre os membros da Comisso, passando em seguida a uma fase de consultas com os setores pblicos e privados interessados na matria. Esse trabalho no se restringiu ao campo tcnico-jurdico, mas tambm ao de articulao poltica de um acordo que tornasse possvel a aprovao da nova lei.
Em 1993 a ABERT encomendou ao Professor Ascenso70, um parecer sobre o Projeto Genuno, onde ele o classifica como revolucionrio, no entanto, em suas concluses, faz crticas ao mesmo categorizando-o como um projeto de carter sindical, pois concretizou-se atravs de uma srie de tomadas de posio unilaterais, que no atendem pluralidade dos interesses em presena 71, tambm como um projeto de privilgio, porque o interesse dos autores perseguido pela colocao de uma categoria numa posio de supremacia e, por fim, como um projeto setorial porque o seu objecto no a disciplina da criao cultural em geral, acaba por ter um mbito meramente sectorial. 4.3.1 O perfil da cmara federal legislatura 1995 - 1999 O perfil poltico da Cmara dos Deputados Federais, no perodo da legislatura de 1995 a 1999, foi marcado pelo crescimento de partidos que demonstravam posturas polticas de centro, um pequeno crescimento da esquerda e uma queda de
69
SANTIAGO, Vanisa . A lei n. 9.610 de 19 de fevereiro de 1998 Aspectos Contraditrios. Vanisa Santiago - Conferncia proferida no "Seminrio sobre Direito Autoral", realizado pelo Centro de Estudos Judicirios, nos dias 17 e 18 de maro de 2003, no Centro Cultural Justia Federal, Rio de Janeiro - RJ. Revista CEJ, Braslia, n. 21, p. 8-15, abr./jun. 2003. p.8 Disponvel em: <http://www.ufrnet.br/~tl/otherauthorsworks/dpr0027/cej21santiagoaspectoscontraditorios.pdf> acesso em: 6 mai. 2013. p. 9 70 ASCENSO, Jos de Oliveira. O projeto de lei dos direitos autorais do deputado Jos Genuno Neto. Parecer do Professor Jos de Oliveira Ascenso, Lisboa, maio de 1993. Rio de Janeiro, julho de 1993. Pulicado pela Associao Brasileira de Emissoras de Rdio e Televiso. Filiada AIR Associao Internacional de Radiodifuso. p. 91-92 71 Ibidem
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partidos da direita. De acordo com o DIAP72 - Departamento Intersindical da Assessoria Parlamentar - ideologicamente essa tendncia indicava um crescimento de defensores das teses neoliberais, ainda que encapotado por um discurso social democrata.
Quanto ao perfil scio econmico, a maioria possua nvel superior, sendo que um tero era empresrio, mais de um tero profissionais liberais e os restantes assalariados. Do ponto de vista econmico e profissional, ela era composta por 166 empresrios, urbanos e rurais; 102 advogados; 56 mdicos; 37 engenheiros; 24 economistas; 29 dirigentes sindicais; 23 professores; 13 servidores pblicos; 10 jornalistas e 10 administradores. De acordo com o DIAP houve, uma leitura simplista, uma diminuio do nmero do meio de produo na Cmara qualificado genericamente neste levantamento, de empresrios mas o interesse da iniciativa privada e da economia de mercado no ficar em segundo plano, inclusive porque aumentou significadamente o nmero de seus defensores, especialmente dentro da categoria mdica, de engenheiros e advogados, muitos testas-deferro ou empregados de grandes grupos de medicina privada, de 73 empreiteiras, de conglomerados financeiros ou de prestao de servios.
A fim de propiciar uma melhor interpretao dessa construo legislativa, essas informaes se tornam relevantes uma vez que o PL 5.430 de 1990 foi apensado e votado na Cmara dos Deputados por esse corpo de parlamentares. Para a formulao dessa pesquisa, foram analisadas diversas publicaes, documentos e debates, em todas as etapas da tramitao, desde sua origem, porm somente as votaes finais, que ocorreram nos dias 6 e 11 de dezembro de 1997 que sero expostas aqui. Para auxiliar a leitura poltica, segue uma classificao elaborada pelo DIAP 74 que identifica e categoriza os parlamentares, de acordo com as habilidades de cada
72
DIAP o DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ASSESSORIA PARLAMENTAR, fundado em 19 de dezembro de 1983 para atuar junto aos Poderes da Repblica, em especial no Congresso Nacional e, excepcionalmente, junto s assembleias legislativas e cmaras de vereadores, no sentido da institucionalizao, da transformao em normas legais das reivindicaes predominantes, majoritrias e consensuais da classe trabalhadora. Disponvel em: <http://www.diap.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=6594&Itemid=201> Acesso em 10 mai. 2013 73 Boletim do DIAP Informativo do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar. N. 10 Outubro/94. Disponvel em: <http://www.diap.org.br/index.php?option=com_jdownloads&Itemid=217&view=finish&cid=264&catid= 41> Acesso em: 10 mai. 2013 p. 2-3 74 DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ASSESSORIA PARLAMENTAR - DIAP - Os "Cabeas" do Congresso Nacional - Srie "Os Cabeas do Congresso Nacional" - Edio n 4, Ano IV- 1997 DIAP - Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar. Braslia/DF Disponvel em: <http://www.diap.org.br/index.php?option=com_jdownloads&Itemid=217&view=finish&cid=185&catid= 13> Acesso em: 10 mai. 2013. p. 13-14
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um, dando destaque caracterstica principal de cada operador-chave do processo legislativo. Essas categorias so:
A) FORMADORES DE OPINIO So parlamentares que, por sua respeitabilidade, credibilidade e prudncia, so chamados a arbitrar conflitos ou conduzir negociaes polticas de grande relevncia. Normalmente so deputados ou senadores experientes, com trnsito fcil entre as diversas correntes e segmentos representados no Congresso, e viso abrangente dos problemas do Pas, cuja opinio sobre o assunto influencia fortemente a deciso dos demais parlamentares. Discretos na forma de agir, evitando se expor em questes menores do diaa-dia do Legislativo, preferem as decises de bastidores, onde exercem real poder. Constituem a elite do Poder Legislativo, embora no precisem, necessria e institucionalmente, estar em postos-chaves, como liderana formal ou Presidncia de uma das Casas do Congresso. So os que se pode chamar de lderes de alta patente, respeitados e legitimados pelo grupo ou corrente poltica que lideram. So, enfim, os formadores de opinio. B) ARTICULADORES/ORGANIZADORES So parlamentares com excelente trmite nas diversas correntes polticas e cuja facilidade de interpretar o pensamento da maioria os credencia a ordenar e criar as condies para o consenso. Muitos deles exercem um poder invisvel entre seus colegas de bancadas, sem aparecer na imprensa ou nos debates de plenrios e comisses. Como interlocutores dos lderes de opinio, encarregam-se de difundir e sustentar as decises ou intenes dos formadores de opinio, formando uma massa de apoio iniciativa dos dirigentes dos grupos polticos a que pertencem. Normalmente, tm livre acesso aos bastidores, ao poder institucional, e alto grau de fidelidade s diretrizes partidrias ou ideolgicas do grupo poltico a que pertencem. No so necessariamente eruditos, intelectuais, mas possuem instinto poltico e o dom da sntese. c) NEGOCIADORES Em geral lderes partidrios, os negociadores so aqueles parlamentares que, investidos de autoridades para firmar e honrar compromissos, sentamse mesa de negociao respaldados para tomar decises. Os negociadores, normalmente parlamentares experientes e respeitados por seus pares, sabedores de seus limites de concesses, procuram previamente conhecer as aspiraes e bases de barganha dos interlocutores para estabelecer sua ttica de convencimento. So atributos indispensveis ao bom negociador, alm da credibilidade, a urbanidade no trato, o controle emocional, a habilidade no uso das palavras, discrio e, sobretudo, capacidade de transigir. bom negociador aquele parlamentar que, sem abrir mo de suas convices polticas, respeita a vontade da maioria mantendo coeso seu grupo poltico. D) DEBATEDORES So parlamentares ativos, atentos aos acontecimentos e principalmente com grande senso de oportunidade e capacidade de repercutir, seja no plenrio ou na imprensa, os fatos polticos gerados dentro ou fora do Congresso. So, por essncia, parlamentares extrovertidos, que procuram ocupar espaos e explorar os assuntos que possam ser notcia. Conhecedores das regras regimentais, que regem as sesses e o funcionamento das Casas do Congresso, exercem real influncia nos debates e na definio da agenda prioritria. Com suas questes de ordem, de encaminhamento, discusso de matrias em votao, obstruo do processo deliberativo, dominam a cena e contribuem decisivamente na
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dinmica do Congresso. So os parlamentares mais procurados pela imprensa. E) FORMULADORES So os parlamentares que se dedicam elaborao de texto com proposta para deliberao. Normalmente so juristas, economistas ou pessoas que se especializaram em determinada rea, a ponto de formular sobre os temas que dominam. So, certamente, os parlamentares mais produtivos, embora possam aparecer menos que os debatedores. O saber, a qualidade intelectual e a especializao, embora no sejam exclusivos, so atributos indispensveis aos formuladores. O debate, a dinmica e a agenda do Congresso fornecida basicamente pelos formuladores, que do forma s ideias e interesses que circulam no Congresso. A produo legislativa, salvo raras excees, fruto do trabalho desses parlamentares. Enfim, so eles que concebem e escrevem o que o Poder Legislativo debate e delibera. No 75 ocupam, necessariamente, posto de lder poltico ou partidrio.
Dentre os parlamentares que protagonizaram esse processo legislativo, alguns configuram como Cabeas do Congresso, assim denominados nas anlises realizadas pelo DIAP76, sendo pertinente destacar: O Presidente da Comisso Especial, Deputado Roberto Brant77 (PSDB/MG),
considerado Articulador/Organizador e Negociador:
Deputado, 2 mandato, mineiro, advogado e professor. Parlamentar experiente, foi presidente da Caixa e do Banco de Desenvolvimento Mineiro, alm de subsecretrio de Planejamento, Coordenao Geral do Estado (1972-73) e secretrio da Fazenda do Estado (1991-94). considerado um dos homens fortes do esquema do ex-governador Hlio Garcia. Na Constituinte, votou a favor da participao popular. Recebeu nota 5,25 do DIAP Especialista nas reas financeira e tributria, privativista e adepto da economia de mercado. Recm-chegado ao PSDB, teve seu nome cogitado para a liderana. Goza de bom trnsito no Congresso e da admirao do Presidente Fernando Henrique. Nas votaes da ordem econmica, apoiou integralmente as propostas governamentais. Centro.
Relator
Aloysio
Nunes
Ferreira78
(PMDB/SP),
considerado
DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ASSESSORIA PARLAMENTAR. DIAP - Os "Cabeas" do Congresso Nacional - Srie "Os Cabeas do Congresso Nacional" - Edio n 4, Ano IV- 1997 DIAP - Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar. Braslia/DF Disponvel em: <http://www.diap.org.br/index.php?option=com_jdownloads&Itemid=217&view=finish&cid=185&catid= 13> Acesso em: 10 mai. 2013. p. 13-14 76 Ibidem 77 Ibidem. p. 33-34 78 Ibidem. p. 22
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deputado estadual, vice-governador na gesto Fleury, secretrio de Justia e secretrio de Transportes Metropolitanos no Estado de So Paulo. Parlamentar preparado, mestre em Cincias Polticas pela Universidade de Paris VIII, Frana, revelou-se um excelente articulador. Fiel ao PMDB, destaca-se tambm por seus conhecimentos jurdicos. Autor do projeto que combate fraude nas cooperativas de trabalho, votou contra o governo no projeto que institui o contrato temporrio. Pertenceu Comisso Especial destinada a quebrar o monoplio das telecomunicaes, quando apoiou a proposta governamental de abertura do setor iniciativa privada. muito respeitado entre os parlamentares por sua seriedade e retido de carter. Centro-esquerda.
Deputado
Jos
Genono79
(PT/SP),
considerado
Debatedor,
Articulador/Organizador e Negociador:
Deputado, 4 mandato, professor. Um dos maiores conhecedores do regimento interno da Cmara, seguramente o parlamentar que mais aparece na imprensa. Debatedor competente, participa tambm das negociaes e articulaes da elite do Congresso. Ex-lder do PT, evoluiu de um discurso contestador para um propositivo, analisando as grandes questes nacionais. Goza de excelente trnsito no Congresso. Obteve nota dez do DIAP na Constituinte. Teve participao ativa, ao lado de Vicentinho, presidente da CUT, nas negociaes da reforma da Previdncia, Bem assessorado, muito requisitado pela imprensa, escreve com regularidade nos jamais da grande imprensa. hoje, seguramente, a principal referncia do PT na Cmara dos Deputados. Centro-esquerda.
Outro personagem de grande destaque foi a Deputada Jandira Feghali 80 (PC do B/RJ), mdica e baterista profissional,
considerada Debatedora,
Articuladora/Organizadora:
Deputada, 2 mandato, paranaense, mdica. Poltica de esquerda, integra as bancadas sindicalista, sade e feminina. Parlamentar atuante na defesa de causas mdicas e sindicais, exerceu vrios cargos como os de presidente da Associao Nacional dos Mdicos Residentes, diretora do Sindicato dos Mdicos do Rio de Janeiro e diretora da Associao dos Funcionrios do Hospital Geral de Bonsucesso, INAMPS, Rio de Janeiro. Uma das mais fortes presenas femininas no parlamento, participa de modo ativo, eficaz e com assiduidade dos trabalhos legislativos. Debatedora qualificada, passou tambm a se destacar como talentosa articuladora, especialmente na votao da reforma da Previdncia, quando conseguiu derrotar o governo por mais de uma vez.
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DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ASSESSORIA PARLAMENTAR. DIAP - Os "Cabeas" do Congresso Nacional - Srie "Os Cabeas do Congresso Nacional" - Edio n 4, Ano IV- 1997 DIAP - Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar. Braslia/DF Disponvel em: <http://www.diap.org.br/index.php?option=com_jdownloads&Itemid=217&view=finish&cid=185&catid= 13> Acesso em: 10 mai. 2013. p. 29 80 Ibidem. p. 27.
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Temos tambm, o ento Presidente da Cmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB/SP), considerado Formulador, Articulador/Organizador, e Formador de
Opinio:
Deputado, 3 mandato, advogado e professor, com doutorado em direito, um os poucos juristas do Congresso. Parlamentar preparado, didtico na forma de expor, Temer, depois de liderar o maior partido da Cmara, com quase 100 deputados, foi eleito presidente da Cmara dos Deputados em substituio a Luiz Eduardo Magalhes. Ex-secretrio de Segurana Pblica e de governo na gesto do governador Antnio Fleury, o presidente da Cmara possui vrias obras publicadas'. Discreto em seu trabalho parlamentar, foi acionado pelo governo para relatar a reforma da previdncia, cujo primeiro substitutivo havia sido rejeitado. Um dos principais operadores da reforma constitucional e um dos mais influentes integrantes da elite parlamentar. Centro.
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E por fim o lder do PFL, autor de vrias emendas, Deputado Inocncio Oliveira82 (PFL/PE), considerado Articulador/Organizador, Debatedor e Negociador:
Deputado, 60 mandato, mdico e empresrio. Poltico experiente, exerceu vrios cargos na mesa da Cmara, assumindo a liderana do PFL, maior partido daquela Casa do Congresso. Foi, alm de presidente, primeiro secretrio e vice-presidente da Cmara. Como presidente da Cmara, assumiu interinamente a Presidncia da Repblica por vrias vezes. De poltico regionalista, evoluiu seu discurso para os temas nacionais. Foi o autor, como vice-presidente da Cmara, do arquivamento do Relatrio da CPI que pedia o Impeachment de Sarney. Politicamente de centro-direita, vinculado ao grupo poltico do vice-presidente arco Maciel. Considerado o principal aliado do governo nas reformas constitucionais, com o fim do mandato de Luiz Eduardo na Presidncia da Cmara, ganhou o posto de maior articulador das reformas constitucionais.
Outros parlamentares muito participativos nos debates em plenrio foram os deputados Luiz Mainardi (PT/RS), dirigente sindical e Eraldo Trindade (PPB/AP), radialista, dono de rdio e televiso no Amap, sendo que na sua eleio contou com os votos dos evanglicos e com o apoio dos seus veculos de comunicao, foi tambm o Relator da CPI do ECAD de 1995.
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DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ASSESSORIA PARLAMENTAR. DIAP - Os "Cabeas" do Congresso Nacional - Srie "Os Cabeas do Congresso Nacional" - Edio n 4, Ano IV- 1997 DIAP - Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar. Braslia/DF Disponvel em: <http://www.diap.org.br/index.php?option=com_jdownloads&Itemid=217&view=finish&cid=185&catid= 13> Acesso em: 10 mai. 2013. p. 27 82 Ibidem
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Durante as discusses do projeto de lei, alguns tpicos geraram grande polmica, principalmente os relativos gesto coletiva dos direitos autorais musicais de execuo pblica, transferncia dos direitos patrimoniais, obras por encomenda e obras audiovisuais. Muitos outros tpicos, no menos importantes, tambm foram tratados, no entanto eles no sero analisados aqui, por uma questo de metodologia.
No dia 06 de dezembro de 1997, foi realizada a sesso de discusso, em turno nico, que levou votao das emendas apensadas ao Projeto de Lei n 5.430/90. Nesse debate, o Deputado Gerson Peres (PPB/PA) encaminhou aos demais parlamentares, um pedido de retirada da pauta deste projeto, sob a justificativa de que o projeto ainda apresentava muitas deficincias, inclusive com relao s decises da CPI do ECAD de 199584, concluda em 1996, que julgou determinadas entidades como inidneas, mas elas ainda permanecem na legislao,85 no entanto seu pedido no foi acolhido sob a alegao de intempestividade. Muito se discutiu acerca dessa matria, sobretudo se a legislao deveria ou no manter o monoplio de um escritrio central de arrecadao de direitos autorais para realizar a gesto coletiva, porm prevaleceu o entendimento que, mesmo com problemas aparentes, no caberia ao legislador tratar dessas questes e sim regulamentar a sua existncia deixando com que a prpria entidade resolvesse seus defeitos administrativos. No debate que segue, veremos algumas dessas posies: O Deputado Genuno86 (Bloco PT/SP), autor do projeto, assim discorreu:
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BRASIL - Dirio do Congresso Nacional - de 7 de agosto de 1990. p. 8721. Disponvel em <http://www.gpopai.usp.br/wiki/images/f/f4/PL_n%C2%BA_5.430_de_1990_%28PLS_n%C2%BA_24 9_de_1989%29.pdf> Acesso em: 16 mai. 2013 84 BRASIL - Dirio do Congresso Nacional - NO LI - SUP. ao n 003 sexta-feira, 12 de janeiro de 1996 Braslia -DF Disponvel em: <http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD12JAN1996SUP.pdf#page=3> Acesso em: 16 mai. 1996. 85 BRASIL - Dirio do Congresso Nacional - de 6 de dezembro de 1997. p. 40398. Disponvel em <http://www.gpopai.usp.br/wiki/images/e/e2/Discuss%C3%A3o_em_turno_%C3%BAnico_e_Emendas _ao_PL_n%C2%BA_5.430-A_de_1990.pdf> Acesso em: 5 mai. 2013 86 BRASIL - Dirio do Congresso Nacional - de 6 de dezembro de 1997. p. 40399- 40400. Disponvel em
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Definimos que o direito autoral de pessoa fsica, porque s esta cria, tem corao, mente e sensibilidade. O projeto protege a pessoa jurdica no processo de aproveitamento econmico. Alm disso, garante o preceito constitucional que diz que o direito de fiscalizao do aproveitamento econmico das obras que criarem ou de que participarem ser garantido pelas associaes e representaes de artistas. O objetivo do projeto de direito autoral no discutir aqui o ECAD, que foi criado por deciso das entidades dos artistas. O que temos de discutir na lei exatamente as regras para que o direito de criao seja preservado n legislao brasileira, em consonncia com as Convenes de Genebra e de Roma.Em relao a esse substitutivo, devo dizer que h manifestao de apoio unnime dos artistas da rea musical, dos escritores, dos intrpretes; houve negociao com os produtores, com o Ministrio da Cultura, que teve participao muito importante atravs da sua assessoria, durante a discusso do projeto na Comisso Especial.
<http://www.gpopai.usp.br/wiki/images/e/e2/Discuss%C3%A3o_em_turno_%C3%BAnico_e_Emendas _ao_PL_n%C2%BA_5.430-A_de_1990.pdf> Acesso em: 5 mai. 2013 87 BRASIL - Dirio do Congresso Nacional - de 6 de dezembro de 1997. p. 40399- 40400. Disponvel em <http://www.gpopai.usp.br/wiki/images/e/e2/Discuss%C3%A3o_em_turno_%C3%BAnico_e_Emendas _ao_PL_n%C2%BA_5.430-A_de_1990.pdf> Acesso em: 5 mai. 2013 88 BRASIL - Dirio do Congresso Nacional de 6 de dezembro de 1997. p. 40401 - 40402. Disponvel em <http://www.gpopai.usp.br/wiki/images/e/e2/Discuss%C3%A3o_em_turno_%C3%BAnico_e_Emendas _ao_PL_n%C2%BA_5.430-A_de_1990.pdf> Acesso em: 5 mai. 2013
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O substitutivo do Deputado Aloysio Nunes Ferreira certamente tem limites. No o projeto ideal, no garante a abrangncia do tema, mas representa importantssimos avanos na rea do direito do autor. O primeiro grande avano desse projeto considerar que autor pessoa fsica. Vejam V. Exs que essa obviedade, que poderia parecer secundria, algo fantstico, porque at ento empresas detinham direitos de quem cria. Criar significa ter emoo; tem relao com o esprito e no com a empresa que produz o fonograma ou edita o livro. Esse projeto, depois de muitos anos, consegue estabelecer com tranquilidade que autor pessoa fsica. A est o grande embate com a opinio do Deputado Luiz Mainardi. O que faz o autor morrer de fome alis, no Brasil ele condenado a uma vida absolutamente miservel no apenas o fato de que existe um rgo arrecadador com problemas de gesto, mas de ter sido confiscado pelas empresas e no ser considerado autor real de sua obra; ter tido seus direitos patrimoniais confiscados pelos donos das editoras e das empresas fonogrficas. Isso o que tem feito o autor morrer de fome nesse Pas, e no apenas o fato de a gesto do ECAD ter problemas; de fato, os tem, mas no cabe a esta lei corrigir a gesto do ECAD. O que cabe a essa lei dizer se ter um ou mais rgos de arrecadao dos direitos de autor, e essa lei acerta nas suas opinies.Temos de ter apenas um nico rgo arrecadador para a proteo do usurio e do autor, porque at o momento em que se teve mais de um rgo arrecadador era um grande jogo de mercado saber a quem e quanto o usurio da obra deveria pagar e a quem o autor poderia recorrer. Ento, o correto ter um nico rgo arrecadador para evitar a evaso dos direitos e da arrecadao do direito desse autor. O ECAD tem problemas, sim, mas esse um problema da sociedade e dos autores corrigirem a sua gesto, No acabar com o rgo arrecadador centralizado. Quero tambm dizer que esse projeto avana numa srie de outras questes, porque razoavelmente equilibrado, olha para os interesses do autor, mas preserva tambm os interesses dos produtores; no um projeto que tende apenas pra o interesse, porque o produtor tem interesse comercial e o autor tem direitos. E essa diviso o projeto faz corretamente; quem tem direito o autor, o restante tem interesses de comercializao e interesses econmicos, e acho que o projeto consegue diferenciar essas duas linhas do debate. Agora, considero tambm que h artigos que precisam ser melhorados e tenho certeza de que o autor ter sensibilidade. Um no captulo onde se l Da Cesso dos Direitos. Foi apresentada uma emenda por mim e pelo Deputado Jos Genuno, apoiada por vrios partidos, onde ampliamos figura jurdica para a transferncia do autor no se d nica e exclusivamente sob a forma de cesso, o que seria uma transferncia definitiva de direitos. Ento, aqui se amplia na emenda para o licenciamento, para a concesso e outras formas admitidas no Direito.
O debate seguiu com diversas falas contra e a favor da permanncia do ECAD, portanto pertinente salientar que o grande dilema se dava acerca da gesto do ECAD, no que tange ao sistema de arrecadao e distribuio dos valores recolhidos, sem nenhum tipo de fiscalizao, uma vez que o CNDA havia sido extinto e nenhum outro rgo o substituiu, deixando com que a entidade atuasse livremente sem ter que prestar contas a ningum, criando regras e valores ao seu livre arbtrio. No encerramento dessa sesso, o relator solicitou novo prazo para examinar as emendas apensadas, para ento lev-las votao final.
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No dia 11 de dezembro de 1997, se d ento a votao final, em turno nico, do Projeto de Lei 5.430/90 do Senado Federal (identificado como PL n 5430-B de 1990. No incio da sesso o relator Aloysio Nunes Ferreira, fez um breve relato da sesso anterior, apontando que ao todo foram apresentadas 74 emendas 89 ao substitutivo elaborado pela Comisso Especial, informou tambm, que analisou cada uma delas e mais nove emendas de redao. Aps, ele apresentou as anlises com seu parecer, quanto ao mrito, de cada emenda. Dessas 74 emendas, 13 foram impetradas pelo Bloco de Oposio composto pelos Deputados Jos Genuno, ViceLder do Bloco Parlamentar (PT/PDT/PCdoB), Jandira Feghali, Aldo Arantes, Matheus Schmidt e Jos Machado; Srgio Arouca e Alexandre Cardoso, lderes do PPS e Luiz Buaiz, Vice-Lder do PPS, sendo que das 13 emendas, 6 foram acolhidas e 7 foram rejeitadas pelo Relator. Outras 59 emendas foram demandadas pelo Deputado Inocncio de Oliveira, Lder do PFL, acompanhado por diferentes deputados, conforme as emendas, sendo que o Relator acolheu 36 e rejeitou 23 destas; O Bloco do PMDB/PSD/PRONA e outros deputados do Bloco do PT/PDT/PCdoB, demandaram uma nica emenda, a de n14, que foi acolhida pelo Relator; Por fim, o Deputado Luiz Mainardi, do Bloco do PT/PDT/PCdoB, apensou sozinho a emenda n 74, que tratava-se de uma emenda substitutiva ao Projeto de Lei n 5.430/90 (do Senado), com incluso do Projeto de Lei n 2.591/96 (de Luiz Minardi), o qual o relator recomendou a rejeio.
Na sequencia, o Presidente da Cmara, Deputado Michel Temer, fez leitura de todas as justificativas e subemendas, seguida do voto do relator, para dar incio aos debates e votao dos destaques. O Deputado Eraldo Trindade 90 (PPB/AP), pediu palavra de ordem e proferiu duras crticas relativas ao texto do art.102 proposto pelo Relator:
(...) s temos a lamentar o fortalecimento do Escritrio Central de Arrecadao e Distribuio dos Direitos Autorais. Ainda no sbado, dia 06 de dezembro, a Folha de So Paulo publicou matria, em que a atual
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. BRASIL - Dirio do Congresso Nacional de 6 de dezembro de 1997. p. 40401 - 40402. Disponvel em <http://www.gpopai.usp.br/wiki/images/e/e2/Discuss%C3%A3o_em_turno_%C3%BAnico_e_Emendas _ao_PL_n%C2%BA_5.430-A_de_1990.pdf> Acesso em: 5 mai. 2013 p. 40398-40479 90 BRASIL - Dirio do Congresso Nacional de11 de dezembro de 1997. p. 41305-41306 Disponvel em <http://www.gpopai.usp.br/wiki/images/2/22/PL_n%C2%BA_5.430-B_de_1990__1%C2%AA_parte.pdf> Acesso em 17 mai. 2013.
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superintendente do ECAD, afirma que 14 milhes de reais so desviados do ECAD por parte do sistema de fiscalizao. (...). O nobre Relator coloca no art. 102 que as associaes mantero um nico escritrio central de arrecadao dos direitos relativos execuo pblica das obras musicais, ltero-musicais e de fonogramas. No nosso entender, esse artigo fortalece o Escritrio Central de Arrecadao e Distribuio dos Direitos Autorais. Todos os Srs. Parlamentares tm conhecimento dos desvios que so feitos a partir da forma de arrecadao, que feita pelo sistema de amostragem, o que no corresponde realidade pela existncia de fiscais corruptos (...). Achamos que nesse aspecto o projeto deveria avanar mais e no engessar, porque, a nosso ver, o art. 102 est engessado. (...) Sr. Presidente, nada temos pessoalmente contra o ECAD. Apenas estamos espelhando o posicionamento apresentado pela CPI do ECAD, na qual todos os Srs. Parlamentares componentes aprovaram o relatrio encaminhado ao Ministrio Pblico, Polcia Federal e a outras entidades pera as devidas providncias. O PPB vai votar a favor do projeto, mas mantm o seu destaque para a quebra do monoplio do ECAD.
Logo aps, o Deputado Genuno (PT/SP) pediu a palavra para chamar a ateno do Plenrio para os dois destaques, os de n 36 e 37, que tambm foram muito polmicos, pois tratavam do direito autoral e contrato de trabalho. O art. 37 era relativo s obras por encomendas, que foi encaminhado com muito afinco pelos Deputados Genuno e Jandira Feghali. No entendimento deles, a insero de um prazo pr-estabelecido em lei, para determinar a vigncia desse tipo de contrato, iria proteger a parte hipossuficiente dessa relao contratual, no caso o autor, para evitar que as obras ficassem eternamente em poder dos contratantes. Esse artigo intentava beneficiar principalmente os autores iniciantes, que no possuam conhecimento ou poder de barganha junto aos contratantes, uma vez que era prtica muito comum a utilizao de contratos leoninos nas relaes de direitos autorais. Os deputados em tela reconheciam que as leis n 6.333 e 6.515 tratavam de contratos e negociaes entre artistas, porm enfatizavam a necessidade da nova lei dos direitos autorais abarcar em seus artigos 36 e 37, esse tema.
No incio da sesso, a Deputada Jandira Feghali (PCdoB/RJ) foi muito incisiva em suas colocaes, quando atribuiu que algumas emendas acolhidas pelo Relator, pioraram o texto dos referidos artigos. Ela enfatizou tambm a necessidade de se manter um nico rgo de arrecadao, pois caso contrrio, ficaria estabelecida a farra que viola o direito do usurio, ou seja, surge aquela situao em que o autor
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no sabe mais como recolher seu direito patrimonial e econmico. 91 No entendimento dela, a pluralizao de entidades de arrecadao, representaria um retrocesso, pois impossibilitaria o controle das sociedades de autores sobre seus direitos. Ela complementou arguindo que esse era o entendimento dos principais autores e compositores do Pas, que segundo ela, era fato comprovado nas discusses da Comisso Especial de Direitos Autorais.
Outro ponto polmico foi com relao tributao dos suportes virgens, que tinham como intuito ressarcir os autores pelas cpias privadas, como podemos verificar na manifestao da Deputada Jandira92
Outra questo aqui levantada, de interesse de algumas indstrias que se fizeram representar (grifo nosso), a da cpia privada. Ora, quando se tributam os suportes virgens, no esto sendo somadas a pirataria ou estimulando o contrabando. Ao contrrio, o que se faz tentar recuperar a perda causada pela evaso do direito do autor, que deixa de ter sua obra comprada, pois aqueles que compraram a fita, o vdeo ou outros, reproduziro os mesmos em casa, repassaro essas cpias, outros as copiaro e os autores perdero a arrecadao econmica sobre sua obra. Portanto, hoje arrecadar sobre cpia privada representa um avano j praticado em vrios pases do mundo, e seria um contra-senso se fugssemos ao firmado em todas as convenes internacionais, ou seja, no se garantir a taxao sobre o suporte virgem para a realizao da cpia privada.
Seguiram-se as leituras e votaes das diversas emendas propostas, ressalvados os destaques. Quando iniciou a votao destes os debates se acaloraram, pois uma vez retomado os pontos polmicos grandes embates se firmaram, principalmente no que tange as alteraes realizadas pelo Relator nos artigos 36 e 37, que diferentemente do que o Bloco de Oposio props, que era principalmente de haver prazo estipulado para os contratos de obras por encomenda, esse no foi includo, modificando totalmente a proposta da oposio. Nesse caso, como o Relator foi irredutvel, o Bloco de Oposio, liderado pelos Deputados Genuno e Jandira Feghali, votaram no subemenda do relator, entretanto tiveram seus votos vencidos pelo plenrio.
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BRASIL - Dirio do Congresso Nacional de11 de dezembro de 1997. p. 41308. Disponvel em <http://www.gpopai.usp.br/wiki/images/2/22/PL_n%C2%BA_5.430-B_de_1990__1%C2%AA_parte.pdf> Acesso em 17 mai. 2013. 92 Ibdem
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Na sequencia da votao, o Deputado Jos Genuno93 pediu palavra de ordem para expor o que segue:
Sr. Presidente, quero chamar a ateno do Plenrio para o seguinte: a Emenda n 8, acatada pelo Relator, uma das modificaes mais significativas do projeto do direito autoral, ao colocar cesso, concesso, licena ou outras modalidades. Quero deixar muito claro para a Casa que esta emenda trata da principal transformao que estamos fazendo no direito autoral. A sensibilidade do Relator a esta matria foi muito importante. A companheira Jandira Feghali, eu e o Deputado Roberto Brant conversamos com os artistas e criadores. Com a sensibilidade do Relator, pudemos chegar, na definio do direito autoral, a uma viso ampla, adequada, que protege o direito autoral e d vrias opes para o autor nesta matria.
No decurso foi votada favoravelmente a emenda do plenrio n 27, encabeada pelo Deputado Inocncio de Oliveira, que definia, entre outras coisas, que produtor aquele que responsvel pela primeira fixao, sendo que o Relator deu um parecer contrrio, por discordar dessa definio. Alis, o Relator arguiu, em outro momento, que por uma razo tcnica legislativa, ele achava que, sempre que possvel, fosse evitado as definies legais, por considerar melhor assim. Como raposa velha, o Dep. Inocncio de Oliveira retruca essa declarao, da seguinte forma: O Relator, como grande advogado e jurista, no gosta muito de definio das coisas, mas ns que somos mortais, gostamos que tudo fique bem definido.
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Na pauta, vai votao a Emenda de Plenrio n 2, destacada, que trazia novamente a proposta impetrada pelo Bloco de Oposio, com relao aos art. 36 e 37, com o texto proposto pelos Deputados Genuno e Jandira, tentando garantir o prazo nos contratos das obras por encomenda, no entanto, mesmo aps muita argumentao e justificativas dos proponentes, na tentativa de convencer os demais deputados, essa emenda foi rejeitada pela maioria, sendo mantida a emenda correlata proposta pelo Relator, que j havia sido aprovada anteriormente.
No decorrer da sesso, entrou em pauta o destaque da Bancada do PPB, da emenda aditiva n 73, que visava buscar iseno de recolhimentos de direitos autorais, s microempresas com faturamento at dez mil reais. Observa-se no
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BRASIL - Dirio do Congresso Nacional de11 de dezembro de 1997. p. 41308. Disponvel em <http://www.gpopai.usp.br/wiki/images/2/22/PL_n%C2%BA_5.430-B_de_1990__1%C2%AA_parte.pdf> Acesso em 17 mai. 2013 94 Ibidem. p. 41383.
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debate que o interesse principal dessa proposta era de desonerar as rdios de pequeno porte desse tipo de encargo. Essa emenda no foi acolhida pelo Relator, porm o Deputado Gerson Peres (radialista e dono de emissoras de rdio e televiso no Par), arguiu que essa iseno no feriria o Princpio da Isonomia, alegada pelo relator em sua recusa. O Dep. Genuno95 fez um apelo ao Dep. Gerson Peres para que a emenda fosse retirada e o mesmo assim respondeu:
Sr. Presidente, no somos intransigentes. Estamos aqui para fazer uma boa lei. Tambm no temos objetivos secundrios sobre a matria. Achamos, porm, que o Brasil, hoje, atravs do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, adota uma linha programtica de iseno para as micro e pequenas empresas (...). As emissoras de radiodifuso tambm so microempresas. Como esto no Plenrio Lderes do PSDB, PFL, PT na palavra do Deputado Jos Genuno e o Deputado Wagner Rossi, do PMDB, fizemos um acordo de colocar a iseno no projeto de lei que trata da radiodifuso, que tramita na Casa. Espero que o acordo seja cumprido, porque vou cobrar na data exata. (grifo nosso)
O destaque ento foi retirado e a emenda rejeitada. Vrios outros destaques relativos ao monoplio do ECAD entraram em seguida na pauta, portanto, como todos haviam sido rejeitados pelo Relator, mediante convencimento dos presentes, a maioria retirou os mesmos. Porm, no destaque que o Dep. Inocncio Oliveira interps, para que sua emenda que propunha suprimir por inteiro o art. 104 que previa a tributao de suportes virgens, com o intuito de recompensar o autor quando fosse feito uma cpia privada, cpia essa prevista na legislao. No entanto, sob a alegao de alguns parlamentares de que essa tributao seria para compensar a pirataria, mesmo o relator sendo favorvel a permanncia do artigo tentando justificar o real sentido previsto no dispositivo ele foi voto vencido, inclusive o Presidente da Comisso Roberto Brant proferiu voto favorvel retirada do dispositivo, ento a Deputada Jandira solicitou verificao, que pelo regimento da Casa, obriga todos os deputados votarem nominalmente.
Enquanto as bancadas corriam atrs de seus parlamentares, as discusses continuaram at que se iniciou votao nominal. Nesse momento alguns deputados justificaram seus votos e no trmino o placar foi o seguinte: 96 votaram sim, 311 votaram no e 03 se abstiveram, somando um total de 400 votos, com esse
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BRASIL - Dirio do Congresso Nacional de11 de dezembro de 1997. p. 41390. Disponvel em <http://www.gpopai.usp.br/wiki/images/2/22/PL_n%C2%BA_5.430-B_de_1990__1%C2%AA_parte.pdf> Acesso em 17 mai. 2013.
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resultado o dispositivo foi suprimido.96 Consequentemente o art. 105, uma vez que estava diretamente ligado ao artigo anterior, tambm foi votado pela supresso. Posteriormente foram aprovadas diversas emendas de redao at que finalmente o Presidente da Cmara Dep. Michel Temer fez a leitura do texto final97 que foi aprovado pela Casa. No encerramento, o Deputado Genuno proferiu um discurso de agradecimento a todos que participaram desse processo legislativo. Chegando ao Senado o Projeto foi votado em regime de urgncia urgentssima, obtendo aprovao unnime pelos Senadores, mesmo que regado de crticas quanto forma acelerada com que havia sido votado naquela Casa, aps quase dez anos de letargia na Cmara dos Deputados.98 As crticas tambm se estenderam com relao a manuteno do monoplio do ECAD, mesmo aps o resultado desabonador da CPI do ECAD de 1995.
Por fim, em 19 de fevereiro de 1998, a Lei 9610 foi sancionada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, na presena de diversas autoridades, onde tambm justificou seus vetos, conforme relata Santiago99
No ato, o Presidente comunicou sua deciso de vetar duas disposies do Projeto n. 5.430/90, a saber, o inc. IV do art. 93, considerado inadequado pelo Presidente da Repblica ao atribuir aos produtores de fonogramas os direitos exclusivos dos autores consagrado no art. 29; e o que se referia prescrio da ao por ato de violao aos direitos de autor.
Em 20 de fevereiro de 1998 a lei foi publicada no Dirio Oficial da Unio, passando a vigorar a partir de 20 de junho de 1998. Na opinio de Santiago,100 estiveram presentes na construo legislativa da lei 9.610 os seguintes interesses:
Predominantemente os mesmos: os dos produtores fonogrficos, mas tambm o dos editores. A essa altura, j estabelecidos no Brasil, os grandes grupos multinacionais so os que tm maior acesso ao que se necessita
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BRASIL - Dirio do Congresso Nacional de11 de dezembro de 1997. Disponvel em <http://www.gpopai.usp.br/wiki/images/2/22/PL_n%C2%BA_5.430-B_de_1990__1%C2%AA_parte.pdf> Acesso em 17 mai. 2013 p. 41400 97 Ibidem. p. 41407 98 SANTIAGO, Vanisa - A lei n. 9.610 de 19 defevereiro de 1998 Aspectos Contraditrios. Conferncia proferida no "Seminrio sobre Direito Autoral", realizado pelo Centro de Estudos Judicirios, nos dias 17 e 18 de maro de 2003, no Centro Cultural Justia Federal, Rio de Janeiro RJ. Revista CEJ, Braslia, n. 21, p. 8-15, abr./jun. 2003 Disponvel em: <http://www.ufrnet.br/~tl/otherauthorsworks/dpr0027/cej21santiagoaspectoscontraditorios.pdf> acesso em: 6 mai. 2013. p. 9 99 Ibidem. p.10 100 SANTIAGO, Vanisa. [Informaes via e-mail] 24 mai. 2013. Rio de Janeiro [para] Patrcia Mello, Porto Alegre. Solicita informaes sobre Direitos Autorais
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para levar adiante a modificao da legislao de seu interesse: recursos tcnicos (advogados, juristas, pareceristas), acesso s autoridades pblicas, facilidade de movimentao (deslocamentos, hotis) e ao lobby. Normalmente tambm se utilizam de autores e artistas que emprestam seus nomes e suas imagens para campanhas de publicidade, de jornalistas e de publicaes que de alguma forma se aproveitam da situao. Por outro lado, a classe artstica, em sua maioria, bastante desinformada e em alguns casos, artistas e autores terminam sendo cmplices de um sistema que tem aspectos bastante discutveis. Por comodismo, receio, vantagens ou at mesmo por uma certa Sndrome de Estocolmo, muitos colaboram com um imobilismo que s interessa aos grupos que se eternizam no poder.
demorou tanto a ser concluda que quando foi promulgada j nasceu, caduca em certos aspectos, especialmente em funo de novas tcnicas d e distribuio e comunicao da obra criativa ao pblico em geral.101 A Lei 9610/98, a exceo feita ao ttulo destinado ao Conselho Nacional de Direito Autoral, no contemplado pelo atual instrumento normativo, sofreu forte influncia estrutural da lei anterior, sendo perceptvel grande semelhana, causando frustrao aos que mantinham expectativas de grandes mudanas, conforme observa Abro102
Muito barulho por nada. Esta sem dvida a sensao que decorre da leitura do texto da Lei n 9610 de 19/02/98, que entrou em vigor cento e vinte dias aps sua publicao o que equivale dizer em 21/06/98, revogando expressamente a lei 5988/73, at ento vigente. Felizmente, no se afasta das linhas enunciadas pelas Convenes Internacionais ratificadas pelo Brasil, embora seja gritante a interferncia da OMC atravs do acordo TRIPS, o que pela sua prpria integrao ao mundo jurdico ptrio dispensaria tamanho grau de "interveno" na lei ordinria. De Nova, tem pouco: oitenta e nove de seus cento e quinze artigos so reprodues fiis da Lei 5988/73. A diviso em captulos a mesma da lei anterior, com poucas variaes: algumas melhorias, alguns artigos redundantes e outros de redao hilria ("o escritrio central poder manter fiscais aos quais vedado receber do empresrio numerrio a qualquer ttulo" - art. 99 4).
5.1 PRINCIPAIS MUDANAS E INCONSISTNCIAS DA LEI Dentre as principais mudanas estabelecidas pela nova lei, destaca-se o art. 11 que define o autor como pessoa fsica criadora de obra literria, artstica ou cientfica, pois uma criao do esprito, diferentemente de uma pessoa jurdica
101
CABRAL, Plnio. A nova lei dos direitos autorais (comentrios) /Plnio Cabral. 3 edio Porto Alegre: Editora Sagra Luzzato, 1999. p. 27 102 ABRO, Eliane Yachouh. A "Nova" Lei de Direitos Autorais. So Paulo, Brasil, setembro, 1999. Disponvel em: <http://www2.uol.com.br/direitoautoral/artigo03.htm> Acesso em; 18 mai. 2013
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que uma fico, existe somente para praticar atos necessrios vida industrial e comercial (...) no um ente provido de vontade prpria e sensibilidade ,103 sendo que na lei 5988/73, o art. 21 permitia que a autoria tambm fosse atribuda s empresas, pois versava que o autor era o titular de direitos morais e patrimoniais sobre a obra a que se cria. No caso de uma obra criada por diferentes pessoas, mas organizada por empresa, essa poderia se atribuir a autoria. Outra alterao est no art. 18 que dispensa a obrigatoriedade de registro para que a obra seja tutelada, dispensando maiores formalidades, seguindo o princpio internacional que rege a matria. O caput do art. 7 versa que as obras intelectuais expressas em qualquer suporte, tangvel ou intangvel, conhecido ou que venha a ser inventado, so protegidas pela legislao e no rol desse dispositivo, que enumera as obras protegidas, onde foi includo os programas de computador, fato que gerou muitas controvrsias como podemos observar na manifestao de Elaine Abro104:
Uma afronta regra geral dos direitos de autor, e aos artistas e literatos em particular, porque programa de computador no obra literria, artstica ou cientfica. Como se trata de produto a meio caminho entre criao do esprito e a obra utilitria sua insero no mundo do direito s poderia se dar atravs de lei especial. Como se deu. No mesmo dia, 20 de fevereiro, o Dirio Oficial da Unio publicou a Lei n9609, que dispe sobre. o programa de computador! Esse excesso de zelo nenhum autor ou artista jamais mereceu do Poder Legislativo
O art. 8 traz o rol do que no protegido pela lei, que tambm foi ampliado, incluindo as ideias, projetos, esquemas, entre outros, como objetos no passveis de proteo. Alm da extino do Conselho Nacional de Direito Autoral CNDA, de bons e relevantes servios prestados na rea105, foram suprimidos desse diploma legal a licena legal sobre a fotografia, o direito de arena, a obra por encomenda e omite-se quanto prescrio do direito patrimonial. No que concerne gesto coletiva, mesmo com o desaparecimento do CNDA, o legislador no criou novo organismo para substitu-lo, manifestando-se de forma incompleta nessa questo, deixando as atividades das entidades gestoras, sem nenhum tipo de fiscalizao estatal.
103
CABRAL, Plnio. A nova lei dos direitos autorais (comentrios) /Plnio Cabral. 3 edio Porto Alegre: Editora Sagra Luzzato, 1999. p. 65 104 ABRO, Eliane Yachouh. A "Nova" Lei de Direitos Autorais. So Paulo, Brasil, setembro, 1999. Disponvel em: <http://www2.uol.com.br/direitoautoral/artigo03.htm> Acesso em; 18 mai. 2013 105 Ibidem
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O prazo de proteo das obras, incluindo as de fotografia e os de audiovisual, foi ampliado para 70 anos aps a morte do autor, sendo que a lei anterior previa 60 anos, a contar a partir do dia 1 de janeiro do ano subsequente ao seu falecimento, respeitando a ordem sucessria legal. Igualmente de 70 anos a durao da proteo dos direitos conexos, porm contados a partir de 1 de janeiro do ano subsequente ao de sua fixao, para os fonogramas; ao de sua transmisso, para as empresas de radiodifuso e ao de sua execuo ou representao pblica para os demais casos.106 Passado esse prazo, as obras e fonogramas cairo em domnio pblico, sendo livre a utilizao, atribuindo-se expressamente aos herdeiros dos autores o exerccio dos direitos morais de paternidade, ineditismo e modificao e ao Estado a defesa da sua integridade.107 Santiago108 complementa:
Novas definies foram dadas aos termos publicao, transmisso ou emisso, fonograma, editor, produtor, radiodifuso, adequadas, em sua quase totalidade, s definies dos tratados da Organizao Mundial da Propriedade Intelectual OMPI (Tratado da OMPI sobre Direito de Autor TODA, e Tratado da OMPI sobre Interpretaes, Execuo e Fonogramas TOIEF), acrescentando tambm alguns conceitos no contemplados na legislao anterior, como os de distribuio e comunicao ao pblico.
No que tange edio, extingui-se a obrigatoriedade do editor numerar exemplares de uma obra publicada com cesso de direitos, e consequentemente a tipificao penal da contrafrao para esse caso especfico. Entretanto, se o contrato no explicitar o nmero de edies, continua prevalecendo o que vale para apenas uma edio, porm com a presuno de 3.000 unidades de exemplares, diferentemente da lei anterior que era de 2.000. Entre as diversas inadequaes apontadas por Santiago109, algumas merecem destaque, como a sinonmia estabelecida entre os termos emisso (de obras ou fonogramas por meio da radiodifuso hertziana) e transmisso (de obras ou fonogramas por fios, cabos, fibras ticas ou procedimentos anlogos), que
106
SANTIAGO, Vanisa - A LEI N. 9.610 DE 19 DEFEVEREIRO DE 1998 Aspectos Contraditrios. - Conferncia proferida no "Seminrio sobre Direito Autoral", realizado pelo Centro de Estudos Judicirios, nos dias 17 e 18 de maro de 2003, no Centro Cultural Justia Federal, Rio de Janeiro - RJ. Revista CEJ, Braslia, n. 21, p. 8-15, abr./jun. 2003. Disponvel em: <http://www.ufrnet.br/~tl/otherauthorsworks/dpr0027/cej21santiagoaspectoscontraditorios.pdf> acesso em: 6 mai. 2013. p.10 107 Ibidem. 108 Ibidem. 109 Ibidem. 12
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correspondem a diferentes direitos exclusivos definidos pela Conveno de Berna; A substituio da expresso obra em colaborao pela obra em co-autoria, que em nada modificou ou acrescentou na prtica, acaba dificultando o estudo do Direito Comparado uma vez que apenas a lei brasileira utiliza essa terminologia; Quanto s omisses relevantes, a autora destaca a definio de pblico, em contraposio ao conceito de privado, pois no ficou esclarecido na Lei o que considerado pblico para fins da utilizao de obras e o que significa uso privado para os efeitos que lhe so prprios; Quanto a supresso dos artigos 36, 37 e 38 do Substitutivo, restou ausente a referncia das obras oriundas do dever funcional, sendo transferida a matria para a livre contratao. Todavia, em virtude do desequilbrio de foras entre as partes envolvidas, segundo a autora, o efeito poder ser contrrio ao pretendido pelo legislador. Com relao s obras audiovisuais h uma incoerncia nos art. 5, inc. VIII, alnea i, estabelece que audiovisual a obra que resulta da fixa o de imagens com ou sem som, e no art. 7, inc. VI , que as obras audiovisuais so obras intelectuais, sonorizadas ou no, todavia segundo Fragoso, essa definio convencionada na lei, ofende o princpio que rege o significado dos nomes, pois como a prpria palavra audiovisual demonstra, trata-se de composto de udio e vdeo, como explica:
Existe uma total incongruncia na definio de audiovisual, contida na lei de regncia (Artigo 5, VIII; i) e reiterada frente (Artigo 7; VI) que, no mnimo, ofende o principio que rege o significado dos nomes, pois a palavra audiovisual substantivo composto, significando a juno de dois elementos, o udio e o visual, no podendo significar outra coisa. Da que obra audiovisual sem som, sob o ponto de vista semntico, no seria obra audiovisual, mas algo diverso. Essa uma definio contida no Tratado de Genebra de 1989, repetida na Lei n 8.401/92, que dispe sobre a autenticidade de cpias de obras audiovisuais, utilizada na lei atual de uso internacional. Salvo superior entendimento, o qual no alcanamos, uma 110 definio infeliz.
um substantivo
5.2 GESTO COLETIVA DE DIREITOS AUTORAIS Para melhor compreenso do funcionamento da gesto coletiva de direitos autorais e porque a legislao brasileira criou essa entidade denominada Escritrio
110
FRAGOSO, Joo. Direito Autoral Da Antiguidade a Internet, So Paulo: Quartier Latin, 2009. p. 142
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Central de Arrecadao e Distribuio, o ECAD, oportuno que se traga um pouco da histria da gesto coletiva no Brasil. Encontramos a definio de gesto coletiva no informe n 15 da OMPI111 que estabelece que
um sistema em que o autor autoriza a organizao de administrao coletiva a supervisionar a utilizao, negociar com usurios ou outorgar licenas em troca de rendimento (regalias) adequados e condies convenientes e arrecadar e distribuir entre os titulares de direito
Em 1927, foi criada a primeira entidade de gesto coletiva no Brasil, por iniciativa de um grupo de 21 autores de teatro, escritores e compositores, liderados pela a ilustre pianista Chiquinha Gonzaga, denominada Sociedade Brasileira de Autores Teatrais SBAT. Posteriormente, entre a dcada de 30 e 60, surgiram outras sociedades de autores, compositores e editores musicais que passaram a administrar os direitos de execuo pblica. Com o passar do tempo, houve uma proliferao desordenada dessas entidades, sem nenhum tipo de regramento e controle de suas atuaes, causando muita confuso e dificuldades de arrecadao. Segundo Rita Morelli112, na dcada de 50,
a presena dos editores no campo autoral, viabilizada por contratos de edio que incluam a cesso no mnimo percentual dos direitos de execuo, est, assim, associada no Brasil no apenas multiplicao das sociedades, que foram fundadas sucessivamente ao sabor dos oscilantes interesses internacionais dos editores patrcios, mas diviso dos autores em dois grupos antagnicos que encontravam nas prprias concepes acerca das relaes com os editores razes de sobra para se oporem um ao outro.
Em 1965 surgiu a primeira sociedade que cuidava exclusivamente da administrao dos direitos conexos de artistas e produtores. No ano subsequente, quatro das cinco sociedades de autores e a nica sociedade de produtores e msicos, decidiram se unir e criaram uma organizao denominada Servio de Defesa do Direito de Autor SDDA. Essa entidade tinha como finalidade arrecadar os direitos de execuo, repassando posteriormente os valores recolhidos s sociedades, ficando cada uma responsvel pela distribuio entre os seus scios. Assim originou-se o atual sistema de gesto coletiva no Brasil.113
111
HAMMES, Bruno Jorge. O direito da propriedade intelectual, 3 edio. So Leopoldo: UNISINOS , 2002. p. 150 112 MORELLI, Rita de Cssia Lahoz, Arrogantes, Annimos e Subversivos: interpretando o acordo e a discrdia na tradio autoral brasileira. Campinas: Mercado das Letras, 2000. p. 74 113 SANTIAGO, Vanisa. A gesto coletiva no Brasil. 2013 Disponvel em: <http://www.caetanoveloso.com.br/blog_post.php?post_id=1406 Acesso em: 18 mai. 2013
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Em 1973, a lei 5.988 regulamentou as atividades das sociedades administradoras de direitos autorais, como associaes sem fins lucrativos, disciplinado suas atividades e obrigando-as solicitar autorizao de funcionamento, assim como adequar seus estatutos, estruturas e normas conforme as diretrizes. Essa mesma legislao, criou uma associao centralizadora denominada Escritrio Central de Arrecadao e Distribuio ECAD, de carter privado e obrigatrio, com a misso de reunir as sociedades de direitos de execuo pblica de obras musicais e fonogramas, para a arrecadao e distribuio dos direitos relativos s obras musicais e fonogramas. Conjuntamente, essa lei criou tambm o Conselho Nacional de Direito Autoral CNDA, um organismo governamental de consulta e fiscalizao, para supervisionar as atividades das sociedades e do ECAD. Santiago114 discorre acerca de suas atividades e atribuies:
(...) aplicar penalidades e praticar intervenes, se e quando necessrio; homologar tabelas de preos; aprovar as regras de distribuio e dirimir os conflitos que lhes fossem submetidos. No curso de sua atuao o CNDA realizou intervenes no ECAD e em algumas associaes, afastando diretorias e promovendo novas eleies. O modelo de gesto coletiva implantado ento no Brasil procurou dar uma resposta para as inseguranas jurdicas existentes na poca, face disputa do mercado por diferentes sociedades e, ao mesmo tempo, atender s reclamaes de autores, artistas e usurios insatisfeitos. Aps a instalao do CNDA, o ECAD foi organizado pelas cinco sociedades que j funcionavam no Pas. A partir de 1978, e no perodo de dois anos, surgiram outras cinco associaes paralelas, que foram incorporadas ao ECAD. Alm de contar com um modelo de gesto nico no mundo, inauguramos, nessa poca, mais uma novidade: as associaes mistas, que reuniram autores, editores, produtores fonogrficos, intrpretes e msicos em uma mesma entidade. Esse modelo ASSOCIAES/ECAD/CNDA vigorou at 1989, quando o recm-eleito presidente Collor de Mello transformou o Ministrio da Cultura em uma Secretaria especial, desativando o CNDA.
Com a promulgao da lei 9.610/98, que extinguiu de vez qualquer forma de controle estatal sobre essas entidades, elas passaram a funcionar livremente, sem necessidade de autorizao prvia e sem ter relao com rgos reguladores do Estado, porm preservado o escritrio central nico para as obras musicais, ltero musicais e fonogramas sem meno a nome ou sigla, dando margem a interpretaes divergentes sobre a manuteno do escritrio j estabelecido. 115
114
SANTIAGO, Vanisa. A gesto coletiva no Brasil. 2013 Disponvel em: <http://www.caetanoveloso.com.br/blog_post.php?post_id=1406 Acesso em: 18 mai. 2013 115 Ibidem
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Com o passar do tempo, ocorreram srias desavenas entre as 10 entidades integrantes do ECAD, resultando na expulso de algumas delas, que posteriormente retornaram sob a condio de administradas, sem poderem participar das assembleias, nem terem direito a votos. A partir da que o ECAD colocou em prtica a diviso das associaes integrantes em duas categorias: as efetivas, com todos os direitos preservados e as administradas com direitos limitados. oportuno ressaltar que os votos das associaes efetivas so computados proporcionalmente s suas s arrecadaes, includos os valores referentes aos repertrios estrangeiros, em benefcio das entidades que os representam. evidente que esse sistema fere o Princpio da Isonomia, pois alm de excluir as administradas, fortalece as efetivas com maior arrecadao, consolidando cada vez mais as grandes arrecadadoras. Segundo Negreiros116 em entrevista publicada no Estado em 20 de maro de 2013,
as duas maiores associaes que compem o Ecad so a Associao Brasileira de Msica e Artes (Abramus) e a Unio Brasileira de Compositores (UBC). Juntas, tm entre seus representantes editoras como Sony, Universal, EMI e Warner, associadas mais fortes da Unio Brasileira de Editores de Msicas (Ubem), organizao paralela ao Ecad responsvel pela negociao de preos de msicas brasileiras no iTunes, por exemplo.
Por fim, o papel das editoras dentro do ECAD muito polmico, pois sendo eles o brao forte, o interesse do autor fica em segundo plano em detrimento ao
116
NEGREIROS, Alexandre Hess. Entrevistado por: Felipe Rau. ESTADO. 20.03.2013 - Preo do Som Disponvel em: <http://www.estadao.com.br/noticia_imp.php?req=arteelazer,o-preco-dosom,1012192,0.htm> Acesso em: 15 mai. 2013 117 SANTIAGO, Vanisa. A gesto coletiva no Brasil. 2013 Disponvel em: <http://www.caetanoveloso.com.br/blog_post.php?post_id=1406 Acesso em: 18 mai. 2013
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interesse deles. Segundo Alexandre Negreiros118 "so essas editoras que controlam o ECAD e fixam preos de venda de obras musicais"
5.3 REFLEXOS DA LEI 9.610/98 EM SUA APLICABILIDADE Aps mais de uma dcada de vigncia da lei 9.610/98, possvel observar que um dos maiores problemas que emergiu nesse perodo foi com relao ao ECAD, assim como muitos problemas tambm so encontrados nos contratos de cesso de direitos e nas obras por encomendas, que foi suprimida por essa legislao, criando um limbo jurdico nesse aspecto. Na avaliao de Elaine Abro119, que teceu comentrios quando a lei 9.610/98 completou 10 anos de vigncia, ela aponta que
O grande saldo desses dez anos, de fato, ficou por conta do que a lei no disse, do que ela no regulou: o interesse pblico existente nos direitos autorais, o acesso da sociedade ao conhecimento, informao, cultura daquilo que a lei considera protegido, isto , do que se permite o uso pblico somente aps autorizao dos titulares. Outras garantias e direitos individuais, aliados s funes do Estado de garantir o acesso de todos aos resultados de pesquisas, saberes e fazeres, tiveram visibilidade to grande quanto os direitos autorais. O abuso dos titulares de direitos na fixao dos preos e na poltica de distribuio dos bens culturais protegidos por direitos autorais fomentou novas discusses dos parmetros sobre os quais se assentam a matria, em relao ao que ningum se atrevia h anos. (...) Enquanto a nova lei probe a cpia privada de obra protegida, a mdia digital facilita-a com um simples toque de dedo. No pegou. Assim como no pegou o desaparecimento do art. 36 da lei anterior que tratava da obra encomendada sob vnculo de emprego ou de prestao de servios. Ao invs de disciplinar os efeitos na titularidade desse tipo especial de contrato de confeco de obra, o legislador expulsou-o como se fosse possvel fazlo desaparecer do mundo dos negcios. No varejo das disposies da lei vigente, ainda nos debatemos com alguns dispositivos de pssima presena, como o inacreditvel inciso VIII do art. 46, que em sua primeira parte libera o uso pblico de alguns trechos e obras, e, na segunda, abre oportunidade para fech-la com tranca. Ou como as discusses em torno da prescrio, sobre a qual a Lei 9.610/98 tambm resolveu se omitir, por fora do veto presidencial de ento. Ou com mais dedicao s sociedades de gesto coletiva.
A atual legislao autoral, conforme demonstrado, possui diversas falhas que propiciam prticas abusivas. Por se tratar de tema complexo, a grande maioria dos
118
NEGREIROS, Alexandre Hess. Entrevistado por: Felipe Rau. ESTADO. 20.03.2013 - Preo do Som Disponvel em: <http://www.estadao.com.br/noticia_imp.php?req=arteelazer,o-preco-dosom,1012192,0.htm> Acesso em: 15 mai. 2013 119 ABRO, Elaine. Balano Geral. Publicado em 20 jun. 2008. Disponvel em: < http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI63011,51045-Balanco+legal> Acesso em: 5 mai. 2013
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autores e detentores de direitos autorais, desconhecem seus direitos. Inclusive no prprio meio jurdico, os direitos autorais no so muito bem compreendidos, mesmo por muitos profissionais e juristas experientes, uma vez que essa matria pouco difundida no meio acadmico. De alguns anos para c, com a expanso dos meios de difuso cultural e crescimento tecnolgico, que alguns olhares tm se voltado para os direitos autorais, despertando mais interesse pelo tema. Essas deficincias tornaram o mercado restrito a poucos operadores e com controle hegemnico das famosas majors editoriais. Segundo Alexandre Negreiros,120 a atual legislao acaba servindo para reger a aplicabilidade desses direitos por alguns grupos econmicos no mercado das licenas de uso de obras e suas fixaes (editoras e gravadoras multinacionais) que ao longo dos anos capturaram o maior sistema de gesto coletiva (que ligado apenas msica) centralizado na primeira legislao de direitos autorais, a lei 5.988/73. Na opinio dele, esse grupo articulo-se durante a construo legislativa da lei 9.610, para manter livre de regulao esse sistema j capturado, bem como para que o formato da lei os beneficiasse, mesmo ostentando enormes contradies (exclusivamente brasileiras), tais como a exclusividade de uma rea de criao (msica) na gesto centralizada sobre a execuo pblica, realizada exclusivamente pelo ECAD. No seu entendimento, a inexistncia de um sistema de mediao de preos, a ausncia de um sistema de regulao estatal que fiscalize a sua aplicabilidade, assim como a sua harmonizao com os direitos fundamentais, tais como o acesso cultura, favorecem esses interesses.
Esse sistema implantado pelo ECAD evoluiu com prticas duvidosas, gerando muitas crticas e opinies divergentes. De um lado alguns autores, msicos e demais detentores de direitos, que defendem o ECAD, talvez por desconhecimento de como funciona de fato esse sistema, ou por serem convencidos pelo discurso da entidade de que os crticos querem acabar com os direitos autorais, ou por que de fato tem interesse nesse modelo. Por outro lado, h tambm diversos artistas e detentores de
120
NEGREIROS, Alexandre Hees. [Informaes via e-mail] 06 ago. 2012. Rio de Janeiro [para] Patrcia Mello, Porto Alegre. 9 f. Solicita informaes sobre gesto coletiva.
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direitos, que so contra esse tipo de sistema e lutam pela retomada de um rgo de regulao e fiscalizao da entidade. Em outra manifestao, Negreiros 121 aduz:
Qualquer endosso a modelo to injusto torna-se, assim, repugnante. triste que ainda haja quem creia, ou reproduza o papo-furado de que o ECAD teria sido criado pelos msicos, e no por uma lei federal que buscou sem sucesso organizar a disputa entre as muitas e perdulrias sociedades que o integram. Bobagem ainda maior afirma que msicos o controlam, afastando os editores multinacionais do debate e sustentando a falsa premissa de que, ao lidar com direitos privados, no se deve permitir que o Estado se intrometa, como se nos demais pases, que regulam de perto a sua gesto coletiva, tais direitos tivessem outra natureza, ou sua gesto coletiva tivesse por isso pior desempenho. Dito isso, nmeros do ECAD que parecem permanecer ignorados tornam-se especialmente significativos: em 2001, distribuiu-se 90,12% dos recursos para obras nacionais, e 9,88% para obras internacionais; em 2004 esta proporo mudou para 81,49% e 18,51%; em 2008, 73% e 27%; em 2009, 69% e 31%. Ou seja, em menos de 10 anos o ECAD triplicou as remessas de divisas para o exterior. Com gastos de 67 milhes por ano (47 em pessoal). Esse ECAD, se um dia foi orgulho da classe, hoje uma catstrofe em eficincia, eficcia e efetividade.
Na anlise de Santiago,122 ela identifica os reflexos positivos e negativos da aplicao da lei 9.610/98, no perodo de vigncia e os principais fatores que levam necessidade da elaborao de uma nova lei autoral no Brasil:
Identifiquei aspectos positivos, como a questo da limitao para uso de obras em mtodo Braile e a definio de autor como sendo apenas a pessoa fsica que cria a obra. Os aspectos que me parecem mais negativos se referem definio incompleta de obra coletiva, que presta um desservio aos autores das obras audiovisuais; a ausncia de uma regulao mnima para a obra por encomenda e a tibieza com que a gesto coletiva foi regulada. A legislao brasileira precisa rever as disposies relativas s limitaes e excees no identificamos quando se trata de uma exceo (quando o direito de autor no se aplica) ou de uma limitao (quando se permite que ele se afaste por diferentes razes e de forma gratuita ou onerosa). Tambm preciso adapt-las evoluo tecnolgica e a novas formas de expresso artsticas na msica (rap, funk, djs, etc), nas artes plsticas, etc. So realidades que no podem ser simplesmente ignoradas ou assemelhadas a outras. A questo da gesto coletiva tambm deve ser examinada luz dos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, por exemplo, no mbito da OMC, para que o Brasil no seja surpreendido por eventuais denncias de prticas que comprometam o pas. Questes como as obras rfs e as que decorrem da formao de grandes mercados comuns, precisam ser consideradas no texto de uma nova lei.
121
NEGREIROS, Alexandre Hess. Alexandre Negreiros diretor do sindicato dos msicos, fala sobre o ECAD. Ncleo de Notcias. 24 fev. 2012. Disponvel em: <http://www.nucleodenoticias.com.br/2012/02/24/alexandre-negreiros-diretor-dosindicato-dos-musicos-fala-sobre-o-ecad/> Acesso em: 13 mai. 2013 122 122 SANTIAGO, Vanisa.. [Informaes via e-mail] 24 mai. 2013. Rio de Janeiro [para] Patrcia Mello, Porto Alegre. Solicita informaes sobre Direitos Autorais
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As prticas obscuras do ECAD, aliadas s denncias de corrupo, indcios de apropriao indbita, abuso de poder e inmeras demandas judiciais, culminaram na instalao, em 2011, de uma nova Comisso Parlamentar de Inqurito (CPI) destinada a investigar supostas irregularidades praticadas pelo Escritrio Central de Arrecadao e Distribuio - ECAD no Senado Federal, tendo como Presidente o Senador Randolfe Rodrigues (PSOL/AP), Vice-Presidente o Senador Ciro Nogueira (PP/PI) e como Relator o Senador Lindbergh Farias (PT/RJ). Aps longa e profunda investigao, essa CPI concluiu, em seu Relatrio Final123, que de fato ocorrem inmeras irregularidades na gesto do ECAD condenando suas prticas conforme matria publicada no site Migalhas124:
A CPI criada para investigar possveis irregularidades no Ecad aprovou hoje, de forma simblica, o relatrio propondo uma reforma profunda no sistema de cobrana e no pagamento dos direitos autorais. Com a aprovao do relatrio, a CPI encerra seu funcionamento. O relatrio da CPI prope, entre outros pontos, que o Congresso Nacional aprove, em regime de urgncia, o PL que dispe sobre o Novo Sistema de Gesto Coletiva de Direitos Autorais.Em novo posicionamento o Ecad afirma que "a CPI nada conseguiu provar apesar de ter analisado por mais de seis meses todas as atividades do Ecad dos ltimos 10 anos.". O relatrio final da CPI tambm tira do Ministrio da Cultura e leva para o MJ todas as questes relativas gesto dos direitos autorais no pas. Ele recomenda ao Executivo criar o CNDA - Conselho Nacional de Direitos Autorais e a SNDA - Secretaria Nacional de Direitos Autorais, ambas subordinadas ao MJ.A CPI do Ecad tambm prope indiciamento de 15 pessoas pelos crimes de apropriao indbita de valores, fraude na realizao de auditoria, formao de cartel e enriquecimento ilcito. Os nomes sero encaminhados ao MPF e ao MP/RJ, onde fica a sede do Ecad.
Imediatamente aps o trmino desta CPI a Comisso protocolou, em 03 de maio de 2012, o Projeto de Lei do Senado, n 129 de 2012, que visa estabelecer condies para o funcionamento do ECAD, conforme a dispe a ementa125:
Dispe sobre a gesto coletiva de direitos autorais e as normas relativas ao funcionamento do escritrio central de arrecadao e distribuio de direitos referentes execuo pblica de obras musicais e litero-musicais e de fonogramas. Faculta a criao de associaes de autores para defesa de seus direitos. D competncia ao Ministrio da Justia para selecionar uma nica associao por segmento de direitos, que se reuniro em escritrio central de arrecadao e distribuio de direitos autorais, pelo prazo de 5
123
BRASIL. Senado Federal. Braslia/DF. Relatrio Final. CPI do ECAD. Abril 2012. Disponvel em: <http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=106951> Acesso em: 13 mai. 2013 124 MIGALHAS. Relatrio final da CPI do Ecad aprovado e rgo se manifesta . 26.04.2012. Disponvel em: <http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI154478,61044Relatorio+final+da+CPI+do+Ecad+e+aprovado+e+orgao+se+manifesta> Acesso em: 13 mai. 2013 125 BRASIL. Senado Federal. Braslia/DF. Projeto de Lei do Senado, n 129 de 2012. Disponvel em: <http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=105363> Acesso em: 13 mai. 2013
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anos, com base em vrios requisitos e condies, cujo desrespeito poder levar anulao ou ao cancelamento da habilitao. Determina que a parcela mnima a ser destinada aos autores ser de 75% dos valores arrecadados pelo escritrio central. Dispe que as associaes e o escritrio central esto sujeitos s regras concorrenciais e ao direito do consumidor. Estabelece que cada associao de gesto coletiva de direitos autorais fixar o valor dos direitos autorais dos quais for mandatria, considerando regras de mercado. Arrola os vrios deveres das associaes e do escritrio central, especialmente voltados para a publicidade e a transparncia dos crditos dos titulares de direitos, e prestao de contas, que dever ser feita, pelo menos, a cada noventa dias. Institui a responsabilidade solidria dos dirigentes das associaes e do escritrio central em caso de desvio de finalidade ou inadimplemento de obrigaes, por dolo ou culpa. Determina s emissoras de rdio e TV que publiquem, na internet ou em meio impresso, as msicas executadas a cada trimestre. Revoga os arts. 97 a 100 da Lei dos Direitos Autorais (Lei n 9.610/98). Estabelece que a lei resultante deste projeto entrar em vigor 90 dias aps sua publicao.
Em 2010 a Associao Brasileira de Televiso por Assinatura (ABTA) entrou com uma representao contra o ECAD, no sistema brasileiro de defesa de concorrncia, contestando os valores cobrados pela Entidade que de 2,55% da receita bruta das empresas de TV por assinatura, que deveria ser recolhido a ttulo de direitos autorais. As empresas de comunicao alegavam que todas as tentativas de negociao com o ECAD, que tabelava os preos, foram infrutferas. O Ministrio Pblico Federal manifestou-se pelo arquivamento, mesmo havendo sido
recomendado o parecer do SDE pela Comisso Parlamentar de Inqurito do Senado. Em 20 de maro de 2013 o CADE divulgou a deciso126 do julgamento (Processo n 08012.003745/2010-83):
Sntese da Deciso no Plenrio: O Plenrio, por unanimidade, determinou a condenao de todos os representados, com fundamento nos artigos 20 e 21 da Lei no 8.884/94. O Plenrio, por maioria, considerou todos os representados incursos nos artigos 20, I c/c o artigo 21, I, II e XXIV, da Lei no 8.884/1994, bem como considerou o Escritrio Central de Arrecadao e Distribuio - ECAD, incurso tambm nos artigos 20, I, II e IV c/c o artigo 21, IV e V, da Lei no 8.884/1994, e condenou-os ao pagamento de multa, a ser comprovada no prazo de 30 (trinta) dias a contar da publicao desta deciso, nos seguintes termos: (i) Escritrio Central de Arrecadao e Distribuio ECAD, no valor de R$ 6.416.460,00 (seis milhes, quatrocentos e dezesseis mil, quatrocentos e sessenta reais); (ii) Unio Brasileira de Compositores UBC, no valor de R$ 5.347.050,00 (cinco milhes, trezentos e quarenta e sete mil e cinquenta reais); (iii) Sociedade Brasileira de Administrao e Proteo de Direitos Intelectuais SOCIMPRO, no valor de R$ 5.347.050,00 (cinco milhes, trezentos e quarenta e sete mil e cinquenta reais); (iv) Associao Brasileira de Msica e Artes ABRAMUS, no valor de R$ 5.347.050,00 (cinco milhes, trezentos
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CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONMICA - CADE. Sntese da deciso no plenrio. Disponvel em: <http://www.cade.gov.br/ASPintranet/andamento_frame.asp?pro_codigo=12071&tippro_codigo=22> Acesso em: 10 mai. 2013
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e quarenta e sete mil e cinquenta reais); (v) Associao de Msicos Arranjadores e Regentes AMAR, no valor de R$ 5.347.050,00 (cinco milhes, trezentos e quarenta e sete mil e cinquenta reais); (vi) Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Msica SBACEM, no valor de R$ 5.347.050,00 (cinco milhes, trezentos e quarenta e sete mil e cinquenta reais); (vii) Sociedade Independente de Compositores e Autores Musicais SICAM, no valor de R$ 5.347.050,00 (cinco milhes, trezentos e quarenta e sete mil e cinquenta reais), bem como s demais penalidades impostas, tudo nos termos do voto do Conselheiro Relator. Vencidos os Conselheiros Marcos Paulo Verssimo e Ana Frazo, que divergiram quanto tipificao das condutas classificadas pelo Conselheiro Relator como hipteses adicionais de abuso de posio dominante, quanto imposio das sanes comportamentais previstas no pargrafo 464, incisos III a VII do voto do Conselheiro Relator, substituindo-os pelos seguintes: que as Representadas abstenham-se de formular e impor tabelas unilaterais de preos, cessando imediatamente sua utilizao; que ao invs engajem-se na negociao bilateral de condies de contratao com usurios ou associaes de usurios, devendo, em caso de no ser possvel atingir acordo, licenciar desde logo os direitos em apreo, recorrendo, em seguida, para o arbitramento judicial ou extrajudicial do preo e das condies de contratao; que as Requerentes se abstenham de impor condies fixas de contratao do tipo blanket licence ou one stop shop, abrindo-se negociao de licenas parciais sempre que isso for de interesse do usurio, determinando ainda a condenao dos representados ao pagamento de multa, a ser comprovada no prazo de 30 (trinta) dias a contar da publicao desta deciso, nos seguintes termos: (i) Escritrio Central de Arrecadao e Distribuio ECAD, no valor de 4.200.000 de UFIR; (ii) Unio Brasileira de Compositores UBC, no valor de 3.500.000 de UFIR; (iii) Sociedade Brasileira de Administrao e Proteo de Direitos Intelectuais - SOCIMPRO, no valor de 3.500.000 de UFIR; (iv) Associao Brasileira de Msica e Artes ABRAMUS, no valor de 3.500.000 de UFIR; (v) Associao de Msicos Arranjadores e Regentes AMAR, no valor de 3.500.000 de UFIR; (vi) Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Msica SBACEM, no valor de 3.500.000 de UFIR; (vii) Sociedade Independente de Compositores e Autores Musicais SICAM, no valor de 3.500.000 de UFIR. O Presidente Substituto, Ricardo Machado Ruiz e o Conselheiro Marcos Paulo Verssimo apresentaro declaraes de voto por escrito.
Esses episdios s acirraram ainda mais os conflitos de interesses nos direitos autorais e um verdadeiro campo de batalha se estabeleceu em todas as esferas, com grande articulao, principalmente nas redes sociais e ambiente digital, dos grupos oponentes. Foram muitos manifestos, reunies, campanhas, abaixoassinados e diversas manifestaes pblicas contra e a favor do ECAD, que por sua vez, fez enorme campanha onde a tnica do discurso era que os inimigos querem acabar com o direito do autor e com isso tenta arrebatar simpatizantes para evitar o controle estatal.
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5.3.1 Contratos com editoras musicais Com relao aos contratos das editoras musicais, que a grande maioria dos compositores so submetidos, via de regra, so contratos leoninos. Basicamente so trs tipos: o contrato de cesso, contrato de edio e contrato de obra futura ou encomenda. De acordo com Campello Queiroz127, esses contratos contem clusulas que prendem os compositores de forma perptua, e caso suas composies no alcanarem as metas mercadologias impostas, eles ainda tero que arcar com valores altssimos a serem pagos editora. Os contratos de cesso so os que mais causam transtorno aos compositores, pois nesse caso, o autor transfere seus direitos patrimoniais sobre sua criao intelectual, mesmo a ttulo oneroso, o prejuzo pode ser devastador, pois alm de correrem o risco de fazer uma cesso definitiva, muitas vezes ainda tem que pagar para a editora, custos que eles apresentam. Queiroz128 explica:
Desprovidos da real noo de que, em dois ou trs anos, estaro devendo s editoras muito mais do que receberam e ainda sero obrigados a entregar-lhes mais obras para conseguir de volta sua liberdade os compositores assinam esses contratos, notadamente porque por meios desses as editoras oferecem uma boa quantia em dinheiro como "adiantamento". As referidas clusulas, contidas ardilosamente nos contratos, e que so verdadeiras aberraes luz do direito autoral e mesmo do direito civil lato sensus tm como consequncia: i) a propriedade definitiva das obras; ii) a reteno ilegal do repertrio; e iii) a concesso de adiantamento ou "advance" como maneira de garantir uma ausncia de risco do investimento. A primeira das artimanhas praticadas pelas editoras o fato de que, a partir da cesso ou edio das obras, passam a exercer a propriedade definitiva das mesmas. Ocorre que a editora musical, que em verdade contrata com o compositor a administrao de seu repertrio, para fazer crescer a assimilao deste, pretende tornarse proprietria eterna das composies dos cedentes.
A jurisprudncia tem mostrado vrios casos em que ocorreram problemas oriundos desse tipo de contrato, envolvendo inclusive artistas famosos, dentre muitos outros. certo que muitos casos ocorreram antes da lei 9.610, mas o fato que essa legislao se mostrou omissa quanto a essa prtica antiga e viciada, deixando os autores vulnerveis. Para ilustrar valoroso apontar os casos aqui demonstrados. A lide envolvendo os compositores Roberto Carlos, Erasmo Carlos
127
QUEIROZ, Daniel Pessoa Campelo. O compositor e a editora musical. Desequilbrios que permeiam essa relao. Disponvel em: <http://jus.com.br/revista/texto/10577/o-compositor-e-a-editora-musical> Acesso em: 20 mai. 2013 128 Ibidem
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Joo Gilberto, o Pai da Bossa Nova, vem h anos em litgio com a EMI MUSIC [RESP N 1.098.626 - RJ (2008/0241151-0) (f)], por uso no autorizado de sua obra, assim como o mesmo tenta obter o direito sobre as suas gravaes originais, conforme matria publicada na Folha de So Paulo:130
No dia 26 de abril, a juza Simone Dalila Nacif Lopes, da 2 Vara Civil do Rio, concedeu liminar que determinava a transferncia dos discos para Joo Gilberto. Em sua deciso, ela ressaltou ser "evidente a urgncia de viabilizar que Joo Gilberto, aos 81 anos, possa se debruar sobre sua obra para atualiz-la, com os recursos tecnolgicos contemporneos e sob seu crivo de qualidade, havendo inegvel risco de o artista j no ter condies para tanto, se esperar pelo julgamento final." A EMI no pode produzir novas cpias e comercializar os discos de Joo Gilberto sem sua autorizao. Por isso, na avaliao da juza da 2 Vara Civil, com as matrizes em posse da gravadora "a obra-prima de Joo Gilberto permanecer aprisionada, sem que o pblico, seu verdadeiro destinatrio, possa dela usufruir.
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HDMS ADVOGADOS Roberto e Erasmo recuperam direitos autorais de grandes sucessos. por Priscyla Costa. Disponvel em: <http://www.hdms.com.br/noticias.php?id=169> Acesso em: 18 mai. 2013 130 FOLHA DE SO PAULO. Justia concede a EMI o direito de manter posse dos LPs de Joo Gilberto. 08.05.2013 Disponvel em: <http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/05/1276456-pericia-vai-avaliar-estado-de-conservacaodas-matrizes-de-discos-de-joao-gilberto.shtml> Acesso em: 10 mai. 2013
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Outro caso emblemtico se deu com o compositor Z Ramalho (Processo 2005.001.160980-0), conforme relatado na matria publicada no site Conjur 131 em 2006:
A 13 Cmara Cvel do Tribunal de Justia do Rio de Janeiro revogou, nesta quarta-feira (31/5), a tutela antecipada concedida em favor da editora musical EMI Songs do Brasil, face ao lanamento do CD e do DVD Z Ramalho ao Vivo, comemorativo dos 30 anos de carreira do artista. O pedido da EMI se fundamentou na pretenso de, como editor, poder negar o uso de qualquer obra sob o seu controle, mesmo quando o compositor seja o prprio intrprete. Ao negar para a BMG a gravao das obras, sem qualquer justificativa, a EMI no considerou os prejuzos que teria, nem os do prprio autor e intrprete Z Ramalho, alm dos de outros autores que constavam dos produtos e da gravadora BMG com quem mantm outras disputas judiciais alheias ao caso em questo. Com isso, se perderam vrios meses de venda dos produtos, inclusive as vendas de Natal, acrescendo-se ao sofrimento moral do autor em ver a sua obra impedida de ser utilizada por ele prprio, um grande prejuzo material. Finalmente, nesta quarta, no AI 2005.002.24136, os desembargadores entenderam pela revogao da medida e, em breve, os produtos voltaro a ser comercializados, enquanto a questo se decide, no mrito. Z Ramalho, face atitude arbitrria da EMI, impetrou ao desconstitutiva dos contratos das nove composies, que foram negadas pela editora, junto ao juzo da 10 Vara Cvel do Rio de Janeiro, em fase de rplica (Processo 2005.001.160980-0), argumentando, inclusive, que ao editor cabe, por lei e pela prpria causa dos contratos, colocar a obra em circulao, no lhe sendo lcito impedir tal circunstncia, essencial prpria natureza dos contratos de edio. No caso, a negativa no estava fundada em qualquer justificativa, nem mesmo de natureza econmica, deduzindo-se da ter sido por puro esprito de emulao, j que a EMI mantm disputas judiciais, por meio da Abem Associao Brasileira de Editores de Musica, com a Sony/BMG e todas as outras grandes gravadoras no mercado. Esclarea-se que as obras do Z Ramalho editadas na EMI no foram vendidas para esta. Logo, no se lhe transferindo a propriedade. So contratos de edio, onde o editor tem, to somente, um direito derivado do direito exclusivo do autor, no podendo, em nada e por nada, contrari-lo.
Como possvel verificar, muitos problemas relativos aos direitos autorais no formam sanados corolrios a lei 9.610/98, quanto gesto coletiva, a situao se tornou mais grave.
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CONJUR. Editor deve zelar pela publicao da obra, e no impedi-la. Disponvel em: <http://www.conjur.com.br/2006-jun-01/editor_zelar_publicacao_obra_nao_impedi-la> Acesso em: 15 mai. 2013
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Com relao ao nvel de adequao da legislao autoral brasileira aos acordos e tratados do qual o Brasil signatrio, Santiago134 aduz.
No sou demasiadamente crtica nessa questo, mas me incomoda o fato de que certas imprecises no parecem ser consideradas importantes para a maioria dos que aplaudem ou criticam, sem sair de uma zona de conforto. Simplesmente deixamos que as confuses que interessam a alguns setores sejam admitidas, sem qualquer questionamento. Nos acostumamos a criticar os efeitos sem estudar mais profundamente as causas, sem procurar a origem. Penso que estudamos pouco, que h uma superficialidade no enfoque. Ou ento porque gostamos de ser diferentes, originais, criativos e intencionalmente criamos nossos prprios conceitos.Comparativamente temos problemas ntidos em certas reas: em algumas pecamos pelo excesso, como no caso do Roma plus, em outras pela omisso, como no da gesto coletiva, especialmente no caso de segmentos como o das obras audiovisuais. Nossa legislao necessita ser revisada por juristas e tcnicos qualificados e no comprometidos com interesses de setores especficos, para ajust-la a esse novo mundo da comunicao e para torn-la
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CARBONI, GUILHERME. Conflitos entre direito do autor e liberdade de expresso, direito de livre acesso informao e cultura e direito ao desenvolvimento tecnolgico . In: CARVALHO, PATRCIA LUCIANE DE (coord). Propriedade Intelectual Estudos em Homenagem Professora Maristela Basso. Curitiba: Juru, 2005.p. 421. 133 CASTELLS, MANOEL. A Sociedade em Rede. So Paulo: Paz e Terra, 2011.p.572. 134 134 SANTIAGO, Vanisa.. [Informaes via e-mail] 24 mai. 2013. Rio de Janeiro [para] Patrcia Mello, Porto Alegre. Solicita informaes sobre Direitos Autorais
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permevel a que, de forma menos traumtica, pequenas reformas pontuais possam ser feitas de tempos em tempos. Isso depende em grande medida da base conceitual e da tcnica legislativa utilizada. Leis antigas como a argentina, que data de 1934, foi evoluindo atravs de pequenos ajustes e de interpretaes jurisprudenciais, graas a uma certa fidelidade aos conceitos sobre os quais foi montada.
6.1 REFLEXOS DA LEI 9.610 NA ATUALIDADE Aps 15 anos de vigncia da Lei possvel observar que h um desequilbrio entre o pblico e o privado. Alguns setores ficaram totalmente prejudicados, como por exemplo, o no reconhecimento de autoria de algumas categorias de criadores do audiovisual, como os compositores de trilhas sonoras originais e dos roteiristas, que no percebem nenhum tipo de remunerao pela execuo pblica de suas obras, a no ser por via judicial, pois a atual legislao no previu a criao de uma sociedade de gesto coletiva das execues pblicas das obras audiovisuais, estando protegidos apenas os fonogramas que tem a execuo pblica administrada pelo ECAD. 135
As clusulas abusivas nos contratos de edio so outro tipo de problema que no foi sanado com a atual legislao e a falta de conceituao textual da transferncia confunde o autor, levando o mesmo, muitas vezes, a assinar um contrato de cesso por tempo indeterminado sem ter conscincia disso, causando uma srie de danos, muitas vezes irreparveis. Outra questo aumento do prazo de proteo da obra para 70 anos, que dificulta o livre acesso das mesmas, sendo que em muitos casos ficam por mais de um sculo sob essa proteo. Algumas vertentes reclamam que essa proteo excessiva, uma vez que os acordos e tratados internacionais, em que Brasil signatrio, indicam o prazo de 50 anos.
A atual legislao no permite a cpia privada para uso no comercial, como previa a lei anterior, e essa mudana colocou a sociedade, em diversas situaes, como infratores, o que causa muito descontentamento, principalmente pelas facilidades tecnolgicas atuais.
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INICIATIVA CULTURAL. Reforma da Lei do Direito Autoral. Por Leandro Mendona entrevista Marcos de Souza. Disponvel em: < http://www.iniciativacultural.org.br/2011/01/reforma-da-lei-do-direito-autoral/> Acesso em: 13 mai. 2013
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A no criao de um rgo de fiscalizao e regulao da gesto coletiva das obras de execuo pblica, fez com que o ECAD atuasse livremente, sem nenhum tipo de fiscalizao externa e isso contribuiu para o crescimento vertiginoso de suas arrecadaes, no entanto, h srios problemas de distribuio desses valores, gerando muita reclamao dos autores. J os usurios das obras, reclamam das tabelas de valores, consideradas abusivas, impostas pelo ECAD pela cobrana dos direitos autorais, gerando muitos conflitos no setor.
Outros problemas tambm foram identificados, como os das obras por encomenda, a falta de regulao para circulao das obras na internet entre tantos outros. Em virtude disso, muitas manifestaes ocorreram em prol da modernizao da lei autoral para que se tente san-los.
6.2 A LUTA PELA MODERNIZAO DA LEI DO DIREITO AUTORAL Com o trmino da gesto do Ministro da Cultura Francisco Weffort (gesto 1995-2002) do governo FHC, em 2003 o cantor e compositor Gilberto Gil, foi nomeado para a Pasta no governo Lula. Gil marcou o seu estilo desde o incio de sua gesto, pois alm de ser um artista com timo trnsito no meio cultural, ele trouxe ares de modernidade para o Ministrio. Na sua gesto, iniciou-se a implantao de uma srie de polticas pblicas para alavancar o setor, com um olhar voltado para a tecnologia e para a contemporaneidade. Criou o Pr Cultura, o Programa Cultura Viva, com seus Pontos de Cultura, que tinham como objetivo incentivar a produo cultural, a acessibilidade e a expanso cultural pelo Brasil. Estreitou laos com a comunidade internacional, colocando o Ministrio da Cultura em destaque nos diversos eventos internacionais que participou e reestruturou toda a organizao administrativa interna do Ministrio. Entre outras inovaes, no governo Gil criou-se o Frum Nacional de Msica, que atua ativamente como rgo consultor, na construo de polticas pblicas, sendo composto por representantes dos Fruns Regionais. Organizou-se uma agenda no Ministrio para discutir a modernizao da Legislao Autoral em congressos, seminrios e reunies realizados por todo o pas, sendo esses encontros, na sua grande maioria, transmitidos ao vivo pela internet, possibilitando
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assim a interao em tempo real das pessoas que acompanhavam o evento remotamente. Oficialmente, esses debates iniciaram em 2007, porm se tem notcia que informalmente os autores e demais interessados j vinham se organizando e promovendo alguns debates antes disso. Com o desenvolvimento desse processo de discusso da nova lei, o racha ideolgico foi inevitvel, mas mesmo com as divergncias, essa construo evolua. Em 2008, Gil deixa o Ministrio da Cultura e Juca Ferreira assume o cargo, dando continuidade aos projetos e polticas implantadas seu pelo antecessor. Com as gestes Gil/Juca, o MINC tinha caractersticas vanguardistas, inovando em diversos aspectos, inclusive na rea do Direito Autoral, sendo que ainda no governo Gil o site do Ministrio passou a utilizar a licena do Creative Commons para disponibilizar seus contedos. claro que essas duas gestes tambm tiveram seus problemas, principalmente com a polmica Lei Rouanet e com a Ancinav, agncia do audiovisual considerada autoritria. Contudo, atravs da participao da
Com relao aos debates sobre a modernizao da lei autoral, muitas contribuies comearam a surgir de todos os lados, at que em 2010 o Ministrio da Cultura iniciou uma Consulta Pblica136, disponibilizando em seu site, um espao para as sugestes de qualquer cidado, entidades e instituies interessadas, para que pudessem ali depositar as suas contribuies, sugerindo o texto que ao final serviria para ser elaborado o anteprojeto de lei (APL) autoral. Durante esse processo ficou evidente que havia duas correntes opositoras com interesses divergentes. Uma clamando por grandes mudanas e a outra tentando manter a lei, de uma forma geral, nos moldes atuais.
Durante essa consulta pblica, as principais alteraes demandadas pelo setor, dentre outras, foram as seguintes: a incluso de novas permisses de uso e reproduo de cpias privadas, sem fins lucrativos; a facilitao de acesso s obras; incluso dos direitos autorais na internet; a incluso de conceitos de emisso e transmisso; sano para quem oferece ou recebe vantagens para aumentar a
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execuo pblica das obras (o famoso jab); tornar explcito o termo de licen a para que o autor obtenha mais controle sobre a sua obra; o reconhecimento autoria de outros criadores do audiovisual, como os arranjadores, roteiristas e compositores de trilhas sonoras; no permitir clusulas de cesso contratos de edio, salvo contrato especfico; a ampliao de formas de uso de obras protegidas para fins educacionais; a superviso do ECAD por um rgo estatal. muito importante salientar, que para essas demandas, existem vertentes que so favor e outras contra, estabelecendo-se a muitos embates entre as partes conflitantes.137
A Consulta Pblica, que j durava alguns meses, encontrava-se em fase de finalizao quando a nova Presidente da Repblica Dilma Rousseff tomou posse. Junto com ela vieram as mudanas dos ministrios e, para a grande surpresa, ela nomeou como Ministra da Cultura a Ana de Hollanda, que trabalhou anteriormente na Fundao Nacional de Artes FUNARTE, causando um verdadeiro alvoroo e descontentamento no meio cultural.
Logo que a nova ministra assumiu, um dos seus primeiros atos foi o de encerrar a consulta pblica para realizar uma avaliao, assim como retirou as licenas do Creative Commons do site do Minc. A Ministra Ana reestruturou todo o Ministrio, o que compreensvel, no entanto suspendeu alguns dos principais projetos que vinham sendo desenvolvidos com sucesso, levando inclusive ao fechamento de diversos Pontos de Cultura, entre outros, causando enorme revolta da classe artstica. Ela demonstrou no estar preparada para assumir esse cargo de tamanha magnitude. Cometeu vrios deslizes, concedeu entrevistas equivocadas, no tinha trnsito no meio cultural e acabou se fechando numa redoma encerrando os parcos dilogos que ainda mantinha com a comunidade cultural, recebendo duras crticas e manifestaes contrrias a sua permanncia na pasta. No demorou muito para ela comear a demonstrar seu apoio ao ECAD e ao grupo que desejava poucas mudanas da legislao, mesmo ela negando isso veementemente. Na sequencia, Ana simplesmente sumiu com o texto que estava sendo elaborado pela Consulta Pblica, que ficava com livre acesso no site, ignorando toda
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WACHOWICZ, Marcos Porque mudar a lei autoral? estudos e pareceres / Marcos Wachowicz (org.)- Florianpolis: Fundao Boiteux , 2011. 280p.
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e qualquer manifestao contrria. O texto do anteprojeto (APL) acabou sendo revisto pela Ministra, enviando-o posteriormente Casa Civil com as alteraes que ela julgou necessrias, depois de ter passado pelo crivo do Grupo Interministerial da Propriedade Intelectual (GIPI). Essa forma obscura de agir, sem dar a mnima satisfao, pelo menos aparentemente, para os principais interessados, foi duramente criticada pela vertente que almejava grandes mudanas que sentiram-se desprezados, j que muitos vinham se dedicando h anos na construo da nova legislao. Os maiores autoralistas e acadmicos do pas debruaram-se sobre as propostas apresentadas e realizaram estudos aprofundados, emitindo pareceres e sugestes, mas nem todos foram considerados. A situao da Ministra ficou to insustentvel, que aps muita presso da classe artstica ela finalmente acabou sendo afastada do Cargo.
Para substitu-la a Presidente Dilma nomeou a ento Ministra Marta Suplicy, Senadora licenciada e poltica experiente, que assumiu a pasta com o apoio da grande maioria da classe artstica que depositou nela a esperana da retomada dos projetos importantes da rea cultural, principalmente ao projeto da nova lei autoral. Encontramos na obra de Manuel Castells138, A Sociedade em Rede, a assertiva de que a Revoluo da Tecnologia da Informao como sendo no mnimo, um evento histrico da mesma importncia da Revoluo Industrial do sculo XVIII, provocando um padro de descontinuidade nas bases da economia, sociedade e cultura. Para o autor, a sociedade contempornea globalizada est sendo alterada pela acelerao dos avanos tecnolgicos, provocando assim mudanas profundas nas relaes sociais, nos sistemas polticos e nos sistemas de valores. Castells estuda, o surgimento de uma nova estrutura social que se manifesta sob vrias formas, conforme as diferentes culturas e instituies do planeta. Para ele, essa nova estrutura social est associada ao surgimento de um novo modo de desenvolvimento, denominado por ele como informalismo, que foi historicamente moldado pela reestruturao do modo capitalista de produo, no final do sculo XX.
A perspectiva terica que fundamenta essa abordagem postula que as sociedades so organizadas em processos estruturados por relaes historicamente determinadas de produo, experincia e poder. Produo
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a ao da humanidade sobre a matria (natureza) para apropriar-se dela e transform-la em seu benefcio, obtendo um produto, consumindo (de forma irregular) parte dele e acumulando o excedente para investimento conforme os vrios objetivos socialmente determinados. Experincia a ao dos sujeitos humanos sobre si mesmos, determinada pela interao entre as identidades biolgicas e culturais desses sujeitos em relao a seus ambientes sociais naturais, construda pela eterna busca de satisfao das necessidades e desejos humanos. Poder aquela relao entre os sujeitos humanos que com base na produo e na experincia, impe a vontade de alguns sobre os outros pelo emprego potencial ou real de violncia fsica ou simblica. As instituies sociais so constitudas para impor o cumprimento das relaes de poder existentes em cada perodo histrico, inclusive os controles, limites e contratos sociais conseguidos nas 139 lutas de poder.
Com o mundo globalizado, o processo de transformao criou tambm uma srie de efeitos e dificuldades de se administrar juridicamente, pois necessrio tutelar os interesses internos (Estado/Nao) e interesses externos (supranacionais). Num mundo tradicionalmente no globalizado, podia-se falar com certa segurana em soberania nacional, entretanto, em funo da globalizao, as relaes esto interligadas por questes polticas e econmicas, atreladas tambm a compromissos assumidos em acordos internacionais. Dessa forma, a autonomia e a soberania nacional esto sendo solapadas, ficando cada vez mais difcil conciliar essa multiplicidade de interesses. O conceito de Sociedade de Risco de Ulrich Beck,140 em linhas gerais, aponta no sentido de que os riscos so um produto histrico e que os mesmo so reflexos das aes humanas e de suas omisses. O autor, em sua obra Sociedade de Risco, fala em uma reconfigurao da sociedade moderna, que denomina de Segu nda Modernidade, onde a sociedade precisa responder a todas as demandas simultaneamente, com isso os riscos polticos, desvanecem cada vez mais dos mecanismos de controle e proteo. Essa nova modernidade opera mudanas radicais na poltica, economia e no comportamento. Desta forma, os riscos so produzidos pelo prprio processo de transformao que podem produzir efeitos no imaginveis anteriormente. Para ele, a sociedade moderna tornou-se uma sociedade de risco medida que se ocupa cada vez mais em debater, prevenir e administrar os riscos que ela mesmo produziu. Segundo Beck141
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CASTELLS, Manoel. A Sociedade em Rede. So Paulo: Paz e Terra, 2011 p.51-51 BECK, Ulrich. Sociedade de Risco. So Paulo: Editora 34, 2 Ed., 2011. 141 Ibidem. p. 67
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Atravs da produo de riscos, as necessidades desprendem-se definitivamente de seu ancoramento residual na natureza e, portanto, de sua finitude e satisfazibilidade. A fome pode ser aplacada, as necessidades satisfeitas; riscos so um barril sem fundos de necessidades, que no pode ser encerrado e nem esgotado. Diferente das necessidades, os riscos podem no apenas serem invocados (por meio de publicidade etc.), prorrogados de modo a favorecer as vendas, em resumo: manipulados.
Nas relaes sociais de um mundo globalizado, com avanos tecnolgicos e interesses diferenciados, nem sempre tarefa fcil gerenciar essas demandas, porm fato que somente com a participao ativa da sociedade, de forma democrtica que se conquistam as mudanas desejadas.
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7 CONCLUSO
O Direito Autoral um tema complexo que envolve uma srie de interesses sociais, polticos e econmicos. O objetivo desse trabalho foi o de tentar identificar quais so os principais interesses envolvidos, quem so os beneficiados e prejudicados, e de que forma a legislao interfere nesses resultados.
Foi possvel observar que desde os primrdios das relaes autorais muitas disputas se travaram em torno do tema, sendo que o interesse poltico e econmico sempre prevaleceu em detrimento ao do autor. Os interesses capitalistas de grandes grupos hegemnicos, com atuaes muitas vezes obscuras, foram capturando o sistema que ajudam a tecer legislaes que favorecem seus interesses. O autor, por sua vez, sob muitos aspetos, aparece prejudicado, principalmente no que diz respeito gesto coletiva e transferncias de titularidade.
Com relao a construo legislativa da lei 9.610/98, percebe-se que as relaes de poder envolvidas nesse longo processo, culminaram por atender, de forma geral, os interesses econmicos de grupos hegemnicos, tendo muitos parlamentares como seus porta-vozes inegvel que a legislao avanou em aspectos importantes, respeitando princpios constitucionais, tutelando direitos fundamentais do autor, mas por outro lado, possui uma srie de defeitos e contradies, que propiciam interpretaes ambguas, causando insegurana jurdica, apresentando omisses significativas como por exemplo nos casos de obra por encomenda, a falta de uma entidade para a gesto das obras audiovisuais, que outro problema srio, uma vez que a lei confere monoplio ao ECAD apenas para gesto de fonogramas. A falta de fiscalizao e regulao da gesto coletiva realizada pelo ECAD demonstra que ao invs de trazer benefcios, trouxe grandes problemas, sendo essa uma das questes que mais geram conflitos.
Durante a vigncia da lei, muitos problemas emergiram como reflexo dessas falhas ou favorecimentos. Foi possvel verificar o fortalecimento do ECAD e das Editoras, assim como inmeras irregularidades e abusos, aumentando a demanda no judicirio. Os excessos de limitaes previstas na legislao impedem, muitas
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vezes, a circulao dos bens intelectuais, criando muitos dissabores a alguns autores, titulares de direitos e usurios, prejudicando assim o interesse pblico.
Com a vertiginosa evoluo tecnolgica, os problemas se acentuaram, uma vez que surgiram novas formas de fruio, difuso, circulao e criao de obras, porm a legislao at o momento segue em descompasso com esses avanos. A luta pela modernizao da lei do Direito Autoral no Brasil est permeada de conflitos de interesses, que demonstram ser bem mais complexos para serem resolvidos, da mesma forma que aqueles que lucram com o modelo atual, no querem grandes reformas, todavia, outros desejam mudanas profundas e urgentes. O processo democrtico implementado para a construo de uma nova legislao autoral evidente, uma vez que houve participao ativa da sociedade civil interessada. Portanto, at o momento, ainda encontra-se indefinido quando esse anteprojeto, que foi construdo ao longo de oito anos aproximadamente, ir para o Congresso.
Diante de tais colocaes, so notrias as vrias mudanas no decorrer do tempo em relao criao de leis, mudanas estas que a sociedade conquistou, no entanto foi possvel verificar que desde a origem dos direitos autorais, at os dias de hoje, existem muitas dificuldades de se implantar um sistema justo e adequado que contemple a maiorias os interesses, sendo evidente que o interesse privado ainda prevalece diante do pblico. A falta de clareza em determinados pontos da legislao, faz com que a grande maioria dos autores no compreenda quais so seus direitos, deixando-os vulnerveis diante dos interesses econmicos de terceiros. A similaridade nos dias atuais, com os problemas dos direitos autorais desde sua gnese impressionante, pois mesmo atravessando sculos e dcadas, problemas originrios ainda no foram resolvidos, estando no mago a difcil relao entre autores e editores.
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REFERNCIAS
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