Este documento apresenta uma pesquisa sobre os Ciclos de Formação e Desenvolvimento Humano implantados nas escolas públicas de Goiânia. A pesquisa utilizou metodologia de trabalho coletivo e pesquisa-ação para compreender a realidade dos ciclos através de diálogos com professores. Os principais pontos identificados foram: 1) o modelo seriado permanece enraizado nas práticas dos professores apesar dos ciclos; 2) há resistência à mudança e dificuldade de entender o novo modelo; 3) a educação
Este documento apresenta uma pesquisa sobre os Ciclos de Formação e Desenvolvimento Humano implantados nas escolas públicas de Goiânia. A pesquisa utilizou metodologia de trabalho coletivo e pesquisa-ação para compreender a realidade dos ciclos através de diálogos com professores. Os principais pontos identificados foram: 1) o modelo seriado permanece enraizado nas práticas dos professores apesar dos ciclos; 2) há resistência à mudança e dificuldade de entender o novo modelo; 3) a educação
Este documento apresenta uma pesquisa sobre os Ciclos de Formação e Desenvolvimento Humano implantados nas escolas públicas de Goiânia. A pesquisa utilizou metodologia de trabalho coletivo e pesquisa-ação para compreender a realidade dos ciclos através de diálogos com professores. Os principais pontos identificados foram: 1) o modelo seriado permanece enraizado nas práticas dos professores apesar dos ciclos; 2) há resistência à mudança e dificuldade de entender o novo modelo; 3) a educação
Este documento apresenta uma pesquisa sobre os Ciclos de Formação e Desenvolvimento Humano implantados nas escolas públicas de Goiânia. A pesquisa utilizou metodologia de trabalho coletivo e pesquisa-ação para compreender a realidade dos ciclos através de diálogos com professores. Os principais pontos identificados foram: 1) o modelo seriado permanece enraizado nas práticas dos professores apesar dos ciclos; 2) há resistência à mudança e dificuldade de entender o novo modelo; 3) a educação
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS
FACULDADE DE EDUCAO FSICA
SUZANE RIBEIRO MILHOMEM
OS CICLOS DE FORMAO E DESENVOLVIMENTO HUMANO E A REALIDADE DA EDUCAO FSICA NA ESCOLA PBLICA
GOINIA 2013
SUZANE RIBEIRO MILHOMEM
OS CICLOS DE FORMAO E DESENVOLVIMENTO HUMANO E A REALIDADE DA EDUCAO FSICA NA ESCOLA PBLICA
Trabalho apresentado como requisito parcial para obteno do ttulo de Licenciado em Educao Fsica pela Universidade Federal de Gois, sob orientao do professor Dr. Nivaldo Antnio Nogueira David.
GOINIA 2013
SUZANE RIBEIRO MILHOMEM
OS CICLOS DE FORMAO E DESENVOLVIMENTO HUMANO E A REALIDADE DA EDUCAO FSICA NA ESCOLA PBLICA
Trabalho apresentado como requisito parcial para obteno do ttulo de Licenciada em Educao Fsica pela Universidade Federal de Gois.
______________________________________________________ Prof Dr. Nivaldo Antonio Nogueira David
______________________________________________________ Prof Me. Tiago Onofre da Silva
Goinia,____ de ____________ de _______.
Dedico este trabalho ao meu pai, minha mais bela contradio.
AGRADECIMENTOS
Agradeo minha famlia que colaborou nesse processo de formao, me dando condies objetivas de realizar essa pesquisa e por me apoiar nessa trajetria, acreditando na minha competncia como estudante e como futura professora. Agradeo aos meus amigos pela pacincia, pelos consolos, pela ateno, pelo amor e carinho, pelos desabafos e principalmente pelos momentos dolorosos de me voltar realidade e colocar o p no cho, fundamentais para a concluso deste trabalho. Agradeo a todos os professores comprometidos com a educao, que entendem seu trabalho no como uma mera atividade de sobrevivncia, mas que percebem nela a potencialidade de reconstruo de uma sociedade melhor o que instiga cotidianamente minha busca pelo conhecimento e minha vontade de lutar. Agradeo ao projeto PIBID/FEF/UFG e aos pibidianos que para alm de um grupo de estudos se constitui como espao de formao poltica e humana, me possibilitando um desenvolvimento crtico e qualitativo acerca da realidade da escola e da educao a partir da aproximao com a concepo e vivncia do trabalho coletivo como uma prtica para a vida. Agradeo ao meu mestre Nivaldo, inegavelmente o precursor das minhas crises em relao ao mundo na procura da essncia das coisas e de compreender a realidade. Que educou meu olhar para o mundo de possibilidades no caminho rduo em busca de uma humanidade melhor. O professor que me ensinou o que educar e que contribui em meu processo de evoluo como ser humano.
A educao possvel para o homem, porque este inacabado e sabe-se inacabado. Isto leva-o sua perfeio. A educao, portanto, implica uma busca realizada por um sujeito que homem. O homem deve ser o sujeito de sua prpria educao. No pode ser o objeto dela. Por isso, ningum educa ningum. (Paulo Freire)
RESUMO
O presente estudo decorre de um grupo de pesquisa/interveno do projeto PIBID FEF/UFG. O objetivo do estudo compreender a realidade do modelo de Ciclos de Formao e Desenvolvimento Humano, implantado na rede municipal de educao de Goinia, a partir do olhar dos professores de educao fsica. Objetiva ainda investigar quais as mudanas ocorreram e em que condies concretas o modelo possibilitou avanar no ensino da educao fsica na escola. Para isso, utilizou-se da pesquisa-ao e do trabalho coletivo para a realizao de dilogos e entrevistas com os professores/as de Educao Fsica das escolas vinculadas ao projeto PIBID FEF/UFG e ao Estgio Supervisionado da FEF/UFG. Aps a anlise de dados foi identificado os elementos mais recorrentes relacionados aos problemas e estrangulamentos dos ciclos e as aes propositivas acerca da qualidade da prtica da educao fsica nos ciclos de escolarizao. A hiptese norteadora da pesquisa foi de acreditar que os ciclos promovem um avano sobre o processo de escolarizao e que a educao fsica apresenta contribuies significativas no processo de aprendizagem em razo do trabalho coletivo. Os procedimentos metodolgicos bsicos ocorreram por meio de dilogos com os professores que trabalham nas escolas e atravs do estudo das produes literrias sobre o tema, identificando as problemticas, os conceitos, as concepes e os posicionamentos dos professores acerca dos Ciclos de Formao e Desenvolvimento Humano. Em sntese, os resultados deste estudo identificaram que o modelo seriado permanece enraizado nas prticas dos professores e no cotidiano da escola, sustentada principalmente pela resistncia mudana, pela no compreenso do modelo de ciclos e pela dificuldade de ir contra a lgica hegemnica. Essa pesquisa ser discutida com os professores das escolas envolvidas em seminrio interno para se avaliar esta problemtica e quem sabe, a partir deste debate, se possa apontar para aes de mudanas na educao fsica com extenso aos demais professores da escola.
Palavras-chave: Educao Fsica, Ciclos de Formao, Trabalho Coletivo, PIBID.
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 Qualidade da Educao............................................................ 50 QUADRO 2 Competncias dos professores no modelo de ciclos............... 51 QUADRO 3 Aspectos relevantes no processo de formao........................ 55 QUADRO 4 Participao dos Pais na Escola............................................... 66 QUADRO 5 Sociabilidade e Interao.......................................................... 70 QUADRO 6 Planejamento das Aulas........................................................... 74 QUADRO 7 Organizao dos Contedos..................................................... 76 QUADRO 8 Referncia na Seleo de Contedos...................................... 78 QUADRO 9 Metodologia de Ensino.............................................................. 79 QUADRO 10 Avaliao do Aprendizado........................................................ 82 QUADRO 11 Procedimentos Avaliativos........................................................ 83
SUMRIO
INTRODUO ............................................................................................................ 8 1 TRAJETRIA DOS CICLOS ................................................................................. 20 1.1 Ciclos de Aprendizagem .................................................................................. 21 1.1.1 Pedagogia diferenciada ............................................................................. 22 1.1.2 Avaliao formativa .................................................................................... 23 1.1.3 Percursos diversificados de formao ....................................................... 24 1.2 Ciclos de formao .......................................................................................... 25 1.2.1 Consideraes sobre a Escola Plural ........................................................ 29 1.2.2 Consideraes sobre a Escola Cidad ...................................................... 31 1.2.3 Goinia e os Ciclos de Formao e Desenvolvimento Humano ................ 33 1.3 As escolas e o campo de experimentao pedaggica do PIBID .................... 37 2 METODOLOGIA .................................................................................................... 38 3 SUJEITO E SUAS PRTICAS: Reflexes acerca dos dados da realidade dos ciclos ........................................................................................................................ 42 3.1 Aspectos gerais acerca do significado do Sistema de Ciclos .......................... 42 3.2 O processo de avaliao .................................................................................. 57 3.3 Trabalho Coletivo ............................................................................................ 66 3.4 Educao Fsica .............................................................................................. 73 CONSIDERAES GERAIS .................................................................................... 89 REFERNCIAS ......................................................................................................... 94 APENDICE A ROTEIRO DOS DILOGOS ........................................................... 98
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INTRODUO
O presente trabalho faz parte de uma pesquisa ligada ao projeto PIBID/CAPES (Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Docncia) da Faculdade de Educao Fsica da Universidade Federal de Gois. O mtodo de estudo se deu por meio do trabalho coletivo e da metodologia pesquisa-ao onde se buscou, numa relao compartilhada com os professores das escolas municipais, compreender a realidade de Ciclos de Formao e Desenvolvimento Humano implantado pela Rede Municipal de Educao em Goinia, e, mais especificamente, identificar que papel ocupa a Educao Fsica neste contexto. O trabalho partiu da compreenso de que a escola capitalista complexa e contraditria, razo pela qual se buscou estudar os elementos estruturantes do modelo de ciclos de formao e as implicaes prticas da rea especfica da Educao Fsica. Diante destes pressupostos, buscou-se identificar as caractersticas particulares de cada escola e o trato dado educao fsica escolar enquanto componente curricular dentro do modelo de Ciclos. Por se tratar de uma pesquisa com participao ativa dos sujeitos, todos os procedimentos giraram em torno de se investigar acerca da atuao dos professores no espao da escola, as mudanas ocorridas e os problemas do ensino da educao fsica escolar diante deste novo desafio. O objetivo final do trabalho de apresentar os resultados aos professores participantes para que possam avaliar e discutir, em seminrio interno do coletivo, os dados encontrados e apontar caminhos para superao dos problemas junto a cada escola envolvida no PIBID. Est claro que a escola a principal instituio social cuja responsabilidade cultural de assegurar os processos sistematizados do conhecimento produzido pela humanidade, de formao cientifica e cultural dos alunos, mas numa sociedade de classe, a sua funo privilegiada est na reproduo dos interesses do processo produtivo com vistas a preparar indivduos para as demandas do sistema econmico, para o mercado, para o trabalho, em sntese, vinculada aos interesses do contexto social onde est inserida. Numa sociedade capitalista como a brasileira, cujo poder est nas mos de uma classe social, a escola e a educao em sentido geral devero espelhar em si mesmas os interesses do poder dominante, mas 9
poder se tornar um espao de lutas e conflitos, de contradies e de disputas hegemnicas. No Brasil, essa relao entre escola e modelo econmico capitalista pode ser acompanhada a partir da Proclamao da Repblica em 1889, com o surgimento da escola pblica atrelado ascenso da burguesia e ao processo de industrializao por ela conduzido, que demandava grande quantidade de mo-de-obra. Assim, se d a necessidade de massificao da escola que, ao realizar a instrumentalizao das massas para o trabalho fabril, trata de inculcar os mesmos com ideais burgueses, falseados de universalidade, democracia e igualdade. Para Nagle (1976, p. 12),
Alguns estudiosos da histria econmica e social brasileira apontam a dcada dos anos vinte como o perodo de passagem de um sistema econmico de tipo colonial, induzido, para um outro, autnomo; constitui essa dcada a fase de instalao do capitalismo no Brasil e, portanto, se define como perodo intermedirio entre sistema agrrio-comercial e urbano industrial, os dois grandes ciclos da vida econmica brasileira.
Percebe-se uma grande alterao no panorama brasileiro, onde a concepo de formao do indivduo passa a ser bruscamente alterada. Do campo e artesanato o homem passa a ser sujeito urbano e industrial. Outras competncias lhe so necessrias e solicitadas por essa sociedade. Os impactos causados pela invaso do liberalismo no Brasil geram alteraes de base, rompem-se os alicerces da sociedade estamental e se estruturam as bases de uma sociedade de classes (NAGLE, 1976, p. 97). A preocupao com o voto consciente fundamental para a quebra da lgica arbitrria de governo daquela poca. Assim, a educao tambm aparece como uma necessidade de espao de formao poltica das massas. A importncia da escolarizao, nesse contexto, derivada de necessidades polticas; devido a isso, e no a outros argumentos, quaisquer que sejam, a escolarizao ganha prestgio (NAGLE, 1976, p.102). Nesse perodo aes so incentivadas pelo Governo Federal para exterminar o analfabetismo. Segundo Vasconcelos (2006), nesse perodo da Primeira Repblica que a promoo escolar se fez presente na prtica educativa brasileira. Para a autora, Sampaio Dria, justificando a necessidade de igualdade prope a promoo automtica dos alunos, no sistema de educao paulista. Apesar de se ter recebido 10
vrias criticas e no ter sido plenamente implantado, a reforma abriu portas para vrias alteraes na educao pblica como:
[...] ampliao da rede de escolas; o aparelhamento tcnico-administrativo; a melhoria das condies de funcionamento; a reformulao curricular; o incio da profissionalizao do magistrio; a reorientao das prticas de ensino; e, mais para o final da dcada, a penetrao do iderio escolanovista (SAVIANI, 2008, p.177)
Nesse momento a preocupao com a educao das pessoas, mesmo justificada como importante para o desenvolvimento da nao sofre interferncias do setor econmico que impedia que a escolarizao fosse de fato democratizada. Por mais que houvessem intelectuais preocupados com a formao cultural dos sujeitos, a centralidade da escola ainda se dava em torno do ler e escrever e com a preparao tcnica para o trabalho. Havia pr-requisitos para a implantao e desenvolvimento do capitalismo no Brasil. Segundo Nagle (1976, p. 115),
[...] no campo da escolarizao, isso se traduziu sob a forma de preocupao com o ensino tcnico-profissional, capaz de formar mo-de- obra nacional e fazer, da civilizao brasileira, uma civilizao eminentemente prtica, como prticas eram as mais modernas e avanadas civilizaes do mundo contemporneo.
A viso tradicional de educao aliada ao projeto de construo do civilismo da primeira repblica tambm refletida nas propostas de educao fsica da poca. Como referncia para o perodo, temos dois intelectuais que foram fundamentais na estruturao da Educao Fsica. Segundo Castellani Filho (1988), a obra de Rui Barbosa publicada de 1882, retomada por Fernando de Azevedo no perodo da Repblica defendendo a sua presena no sistema escolar. Ambos buscavam eliminar a dicotomia entre o ensino intelectual e a educao fsica, visando um desenvolvimento do homem de modo mais harmnico e, ao mesmo tempo, a constituio da Eugenia da raa. Por mais que buscassem superar essas concepes acabavam por reforar a viso dualista de homem, onde o corpo se colocava como subordinado mente. Segundo Soares (2001, p. 120 121), Fernando Azevedo entendia a Eugenia como uma cincia capaz de intervir no meio ambiente fsico, valendo-se dos avanos conseguidos pela engenharia sanitria, para exercer uma ao higinica, educacional e sexual. Ou seja, h uma preocupao com o conjunto de medidas 11
que deviam ser tomadas no mbito social, econmico, sanitrio e educacional que iriam influenciar no desenvolvimento fsico e mental do indivduo em suas qualidades hereditrias, portanto, de sua gerao. O pensamento mdico higienista, entre outras coisas, atribui mulher o papel social de gerar filhos fortes e saudveis. Os exerccios visavam preparar o corpo da mulher para nobre tarefa da reproduo (SOARES, 2001, p.122) respeitando o organismo feminino e a delicadeza da mulher. Tanto Fernando de Azevedo como Rui Barbosa, acreditavam que a educao do povo e o controle da sade, eram elementos importantes para viabilizar o desenvolvimento do pas. Com isso, o professor de Educao Fsica, atravs de conhecimentos mdicos como anatomia, fisiologia e higiene seria responsvel pela educao da sade fsica e moral. Diante desses elementos, a autora aponta que fruto da biologizao e medicalizao das prticas sociais, a Educao Fsica foi estruturada a partir do iderio burgus de civilidade, significando, de um lado, conquista individual e mgica de sade fsica, e de outro, disciplinarizao da vontade (SOARES, 2001, p. 133). Segundo o Coletivo de Autores (1992), nesse perodo da Repblica at meados da dcada de 1940, a militarizao era o pice da educao fsica escolar. Por sua vez, Castellani Filho (1988) afirma que as concepes de eugenia e higienizao associam-se educao moral e cvica, tornando-se a forma ideal de homem. Constri-se nesse sentido, um projeto de homem disciplinado, obediente, submisso, profundo respeitador da hierarquia social (Coletivo de Autores, 1992, p. 36). Para Saviani (2008) aps a Revoluo de 30, uma das primeiras medidas tomada pelo governo provisrio foi a Reforma Francisco Campos, onde adotava orientaes que tratava a escola como elemento nacional e que, portanto seu controle ficaria por parte do governo central. Uma caracterstica importante a ser colocada a aliana com a Igreja Catlica que pode ser compreendida tanto pela aproximao do pensamento autoritrio quanto por questes polticas, ao ser uma tima forma de controle da populao, um antdoto importante com sua doutrina social (SAVIANI, 2008, p. 196). Outros elementos que podem justificar o fortalecimento do elo entre Igreja e Estado so apontados como
12
A viso comum compartilhava conceitos como o primado da autoridade; a concepo verticalizada de sociedade em que cabia a uma elite moralizante conduzir o povo dcil; a rejeio da democracia liberal, diagnosticada como enferma; a aliana entre a conservao tradicionalista dos catlicos e a modernizao conservadora dos governantes; a tutela do povo; o centralismo e intervencionismo das autoridades eclesisticas e estatais; o anticomunismo exacerbado; a defesa da ordem e da segurana; defesa do corporativismo como antdoto ao bolchevismo (SAVIANI, 2008, p. 265).
Segundo este autor, o conflito entre a Escola Nova e a Igreja Catlica s ir emergir com a publicao do Manifesto dos Pioneiros da Educao Nova em 1932, explicitando o conflito de idias. Enquanto o modelo tradicional defendia o ensino da religio, a responsabilidade da famlia e a separao entre feminino e masculino, o modelo novo pressupe a laicidade, gratuidade e responsabilidade pblica em educao (RIBEIRO, 2007). Saviani realiza a anlise do manifesto e aponta que, o documento apresenta como objeto a reconstruo da educao no Brasil e destina o documento ao povo e ao governo. Parte da premissa que, de todos os problemas do pas, o que possui mais importncia e gravidade, so as questes da educao. Neste documento, a educao vista como responsabilidade do Estado
A escola pblica, gratuita e leiga era vista pelos educadores como a situao ideal, justamente com vistas ao atendimento das aspiraes individuais e sociais, o que equivale ao contrrio de qualquer imposio orientadora, quer seja de ordem religiosa, quer seja de ordem poltica. Ao indivduo caberia fazer a opo. (RIBEIRO, 2007, p. 112)
Alm das caractersticas apontadas acima, o manifesto tambm expressa a posio do grupo de educadores que se aglutinou da dcada de 1920 e que vislumbrou na Revoluo de 1930 a oportunidade de vir a exercer o controle da educao no pas (SAVIANI, 2008, p. 254). O movimento dos pioneiros foi uma forma de propor algo novo devido s problemticas que vinham ocorrendo. Para Nagle (1976, p. 259) o que foi considerado progresso na histria educacional brasileira visto do mbito exclusivo da histria das idias educacionais ou pedaggicas pode ser percebido, nos quadros sociais existentes, como um desvio aparatoso, ao ponto que restringe a percepo da problemtica educacional existente. Com o desenrolar histrico, a Escola Nova foi ganhando espao inclusive nas pedagogias de esquerda que vislumbravam o alcance da pedagogia socialista 13
atravs de uma primeira revoluo democrtico-burguesa. Alm disso, os prprios catlicos, que eram irredutveis ao modelo escolanovista, passaram progressivamente a aderir a renovao na pedagogia catlica. A predominncia da pedagogia nova j pode ser detectada na comisso constituda em 1947 para elaborar o projeto da LDB, composta com uma maioria de membros pertencentes a essa corrente pedaggica (SAVIANI, 2008, p. 300). Segundo Castellani Filho (1988), predominam na educao fsica aps perodo do Estado Novo as tendncias desportivizadas influenciando e remodelando a proposta escolar com a adeso do esporte de alto rendimento, a partir da pedagogia tecnicista, intensificando-se no perodo da ditadura militar.
O esporte determina dessa forma, o contedo de ensino da Educao Fsica estabelecendo tambm novas relaes entre professor e aluno, que passam a relao professor-instrutor e aluno-recruta para a de professor- treinador e aluno-atleta. No h diferena entre o professor e o treinador, pois os professores so contratados pelo seu desempenho na atividade esportiva. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 37)
Essa tendncia esportiva na educao fsica vai permanecer at os dias atuais, como referncia para os contedos da rea na escola. Segundo Fernandes (2003), os anos 50 foram marcados pela forte industrializao no pas, construo de estradas e modernizao dos Estados. Alm disso, o contexto educacional tomado pela euforia desenvolvimentista no podendo se conformar com o retrato educacional da poca. As crticas sobre as precrias condies da educao escolar no pas, altas taxas de analfabetismo, repetncia, evaso, formao dos professores, falta de escolas (FERNANDES, 2003, p. 36), no impediu que pesquisas fossem desenvolvidas com a crena de que a educao iria ser reformada para contribuir no desenvolvimento do pas. Nesse perodo, os estudos voltados para a teoria do capital humano 1 , reforavam os elos entre a educao e o mercado de trabalho.
1 Segundo Frigotto (2010, p.20), a teoria do capital humano foi asceticamente abstrada das relaes de poder, passa a definir-se como uma tcnica de preparar recursos humanos para o processo de produo. Essa concepo de educao como fator econmico vai constituir-se numa espcie de fetiche, um poder em si que, uma vez adquirido, independentemente de fora e de classe, capaz de operar o milagre da equalizao social, econmica e poltica entre indivduos, grupos, classes e naes. 14
A autora coloca que os altos ndices de repetencia nesse perodo, estimularam a insero de polticas de no reteno como a promoo automtica 2 . A UNESCO, ao realizar uma pesquisa sobre os altos ndices de reprovao no Brasil e na Amrica Latina, identifica as causas da reprovao e sugere medidas de no reteno, dentre elas a promoo automtica. Interferindo diretamente no aspecto econmico do pas, a promoo automtica sugerida como necessria devido os prejuzos financeiros ocasionados e pela sobrecarga no oramento direcionado educao. Assim, como essa poltica no havia nenhuma relao ou inteno de benefcio no aspecto pedaggico, houve grande resistncia por parte dos professores da poca. Devido os grandes movimentos de debate no campo pedaggico, a escola nova chega, nos anos 1960, em seu momento de crise, ao tempo que ressurgiam novas idias no campo pedaggico, das quais Saviani (2008) cita: a educao popular e pedagogia da libertao, pedagogia no-diretivas, pedagogia institucional e a pedagogia tecnicista. Se na dcada de 20, o nacionalismo apresenta-se como uma caracterstica de direita por identificar-se com o projeto de progresso do pas, na dcada de 60, torna-se uma frente do movimento de esquerda ao romper-se com a ordem vigente. Assim, no sentido de impedir que grandes mudanas no plano socioeconmico do pas viessem a acontecer e de preservar o que estava dado instaurada a ditadura militar no pas, em 1 de abril de 1964.
A ruptura deu-se no nvel poltico e no no mbito scio econmico. Ao contrrio, a ruptura poltica foi necessria para preservar a ordem socioeconmica, pois se temia que a persistncia dos grupos que ento controlavam o poder poltico formal viesse a provocar uma ruptura no plano socioeconmico (SAVIANI, 2008, p. 364)
Saviani (2008) coloca que, se foi possvel observar grande mobilizao por parte da populao nas dcadas de 50 e 60, a classe empresarial tambm se props a se organizar. Em 1959, atravs de financiamento nacional e internacional principalmente norte-americano, criado o IBAD (Instituto Brasileiro de Ao Democrtica) cuja principal finalidade era o combate ao comunismo. Alm disso,
2 Poltica pblica compreendida pela adoo da no reteno entre duas ou mais sries. Iremos utilizar tambm neste trabalho o termo aprovao automtica como sinnimo. 15
temos a fundao do IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais), criado em 1961 por um membro da CIA 3 , que atuava desenvolvendo
[...] doutrinao por meio de guerra psicolgica fazendo uso dos meios de comunicao de massa [...] agindo no meio estudantil, entre trabalhadores da indstria, junto aos camponeses, nos partidos e Congressos, visando desagregar, em todos esses domnios, as organizaes que assumiam a defesa dos interesses populares (SAVIANI, 2008, p. 342).
Em relao educao, os IPES organizaram o simpsio sobre a reforma da educao (1964) e o frum intitulado de A educao que nos convm (1968). No primeiro evento, a instituio redigiu um documento onde explicitava um plano de educacional no Brasil que era embasado pelo vis da economia da educao. Assim, descrevia as finalidades dos nveis educacionais dentro da lgica de contribuio para o aumento da produtividade e da renda do pas. A educao primria teria a finalidade de educar para atividade prtica; o ensino mdio estaria voltado para a educao profissional de acordo com as demandas necessrias de mo-de-obra; e o ensino superior teve sua funcionalidade dividida em, de um lado formar os dirigentes do pas e de outro formar mo-de-obra especializada. A educao no perodo da ditadura, fundamentada na economia, apia-se na tendncia produtivista da pedagogia tecnicista, que se torna a pedagogia oficial do pas. A partir disso, as ideias do taylorismo, do fordismo e do behaviorismo se constituram como elementos orientadores do tecnicismo para o combate s problemticas educacionais da poca que precisavam ser erradicadas, a improdutividade e o fracasso do sistema escolar (SAVIANI, 2008). Na pedagogia tradicional a centralidade do ensino est no professor; na pedagogia nova, o centro da aprendizagem se desloca para o aluno; no modelo tecnicista, o elemento principal o processo, nos meios e na tecnologia. No tecnicismo a educao ter como finalidade preparar os indivduos para adaptar-se ao processo produtivo industrial, sistematizado, racionalizado. Saviani (2008, p. 382), coloca que na pedagogia tecnicista o elemento principal passa a ser a organizao racional dos meios, ocupando o professor e o aluno posio secundria, cabe a eles somente executar o processo que foi produzido por um grupo externo, dito mais especializado, onde o controle da produo ficava a cargo
3 Central Intelligence Agency. 16
dos formulrios. A concepo pedaggica tecnicista baseia-se em elementos como a neutralidade cientfica, racionalidade e produtividade. No aspecto geral, Barreto e Mitrulis (2001, p. 108) apontam que a educao nesse perodo apresentou altos ndices de repetncia efetiva e de repetncia branca, camuflada em evaso. Assim, vrias experincias ligadas s polticas de no-reteno, foram desenvolvidas.
O que se ignora de modo geral no Brasil que os sistemas de avanos progressivos, embora inspirados, na sua origem, em uma concepo mais democrtica de educao do que a que se funda na cultura da repetncia, encontram tambm dispositivos sutis de aliar a seleo social dos alunos aos meandros da sua trajetria escolar diferenciada. Dependendo dos nveis de desempenho alcanados, comum que a escola subestime a capacidade do aluno de progredir intelectualmente, oferecendo-lhe oportunidades educacionais menos desafiadoras que no lhe permitem passar para nveis mais adiantados. (BARRETO e MITRULIS, 2001, p. 111)
Desse modo, podemos colocar que a educao nesse perodo esteve ancorada pela necessidade de bons ndices produtivos. Na dcada de 80, a partir do processo de democratizao pelo qual passava o Brasil, tanto o aspecto poltico, social e econmico como o educacional vo sofrer profundas mudanas com o surgimento de novas idias que buscavam de fato uma sociedade mais justa e democrtica. Contudo, importante colocar que essas mudanas ligadas ao processo de redemocratizao, resgate da cidadania e dos direitos humanos que ocorria no pas era fundamental para a poca. O capitalismo estava se reestruturando e era necessrio resgatar os princpios liberais e para isso a necessidade, tambm, de uma nova educao.
Ao nosso ver, a explicao para o que expomos est centrada na lgica de reproduo e manuteno do modo de produo capitalista. Assim, como o golpe militar foi uma estratgia do capital para sua efetivao, a derrocada do regime e os discursos de reconquista da democracia tambm se configuram numa manobra diante da necessidade de reestruturao do prprio sistema em nvel mundial. (BACZINSKI, 2008, p. 2-3)
Nesse perodo comeava a vivenciar um importante desenvolvimento no campo cientfico, no que se refere elaborao de novas concepes de homem, educao e sociedade e a escola era questionada quanto ao mecanismo de seleo e excluso social e, ao mesmo tempo, iniciavam implantaes de propostas de 17
promoo automtica. Vrios Ciclos Bsicos de Alfabetizao 4 (CBA) so implantados no Brasil a comear por So Paulo, Minas Gerais e Paran (BARRETO E MITRULIS, 2001). Seu objetivo era possibilitar a alfabetizao para crianas de classes menos favorecidas e reverter a questo da repetncia que j estava instaurada na educao pblica.
[...] consideraram uma srie de medidas organizacionais, estruturais e pedaggicas que pudessem levar a cabo a concretizao dos objetivos propostos. Alm disso, os CBAs aconteceram no momento de transio democrtica no pas e tal momento teve seu esprito refletido nas propostas educacionais que se comprometeram com a democratizao do ensino pblico atravs de sua reorganizao. (FERNANDES, 2003, p. 58)
No mbito da educao fsica neste perodo surgem os movimentos renovadores da educao fsica do qual faz parte o movimento dito humanista na pedagogia, se caracterizam pela presena de princpios filosficos em torno do ser humano, sua identidade, valor... (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 38). Na dcada de 80 h um grande debate sobre os conhecimentos da educao, sua prtica, seus contedos, seus mtodos e, inclusive uma crtica contundente ao modelo de esportivizao na escola e utilizao da pedagogia tecnicista nas aulas. Houve ainda um combate pedagogia autoritria fortemente ligada pedagogia e os valores militaristas. Na educao fsica inicia-se um processo de ressignificao como contedo escolar e do seu papel social na formao dos indivduos. Busca-se nesse processo superar a dicotomizao corpo/mente no processo de ensino e aprendizagem ampliando sua viso esportivizada para os conhecimentos da cultura corporal 5 . No sentido de desvincular a proposta do aspecto fundante biolgico, a educao fsica passa a ser compreendida como linguagem e responsvel no processo de formao no sentido de superao da lgica existente atravs de temas da cultura corporal a serem tratados na escola onde se interpenetram, dialeticamente, a intencionalidade/objetivos do homem e as intenes objetivas da sociedade (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.42)
4 Segundo Barreto e Mitrulis (2001), os CBAs tratava-se da reestruturao das antigas 1 e 2 sries do 1 grau, como medida inicial de reorganizao da escola pblica como medida inicial para contribuir na resoluo do estrangulamento das matrculas nas sries iniciais. 5 Metodologia do Ensino da Educao Fsica, Coletivo de Autores, 1992. 18
Cabe ressaltar que a escola, a educao e a educao fsica s podem ser compreendidas dentro de uma perspectiva de totalidade histrico-social. A sua realidade no se dissocia dos demais fatores determinantes do modelo social, o seu papel est circunscrito neste contexto e suas prticas educativas e pedaggicas reproduzem, em certa medida, os problemas existentes neste contexto mais amplo. Segundo Frigotto (2010, p. 20), a insero da concepo do capital humano como uma tcnica de preparar recursos humanos para o processo de produo, reduz a educao a um mero fator econmico. Assim, nos deparamos com reformas que cada vez mais comprometem o real papel social da escola, surbordinando-a de forma controlada para atender s demandas do capital. As caractersticas atuais do modelo de produo esto exigindo que no somente o processo produtivo, mas a prpria educao se torne mais flexvel, que atue a partir da multidisciplinaridade e que se desenvolvam outras capacidades como criatividade, capacidade que antes era deixada de lado. Enfim, destacamos que o objetivo da pesquisa de compreender a organizao dos ciclos e de que forma a educao fsica se insere nesse processo. E como expectativa de estudo de identificar os avanos ou retrocessos dessa forma de organizao escolar e prtica da educao fsica. O ponto de partida dessa pesquisa teve como hiptese a ideia de que os ciclos promovem um avano sobre o processo de escolarizao e a educao fsica apresenta contribuies significativas no processo de aprendizagem em razo do trabalho coletivo. Este trabalho foi organizado em cinco tpicos, assim distribudo: Introduo onde se abordou o contexto e o objeto do estudo; Trajetria dos Ciclos no Brasil, onde iremos fazer uma exposio de como os ciclos foram desenvolvidos no pas, abordando as linhas mais avanadas e que serviram de base para os demais modelos nos estados brasileiros e as experincias mais significativas e a prpria evoluo do modelo de Ciclos de Formao e Desenvolvimento Humano em Goinia; Metodologia, onde foi explicitado os instrumentos de pesquisa e as bases tericas do mtodo; Os sujeitos e suas prticas, onde falaremos dos resultados encontrados a partir da pesquisa sobre a realidade do modelo de ciclos em Goinia e as problemticas apontadas para a rea de Educao Fsica e da escola como um todo. Nesse tpico temos a anlise dos elementos gerais da proposta, da avaliao, do trabalho coletivo e da Educao Fsica; Por fim temos as Consideraes Gerais 19
onde apontamos as reflexes do processo e das expectativas no decorrer da pesquisa e nossos avanos e as limitaes encontradas neste trabalho. 20
1 TRAJETRIA DOS CICLOS
Nesta pesquisa buscou-se compreender a realidade da educao fsica, dentro de seus conflitos e contradies no modelo de Ciclos de Formao e Desenvolvimento Humano, ora implantado na Rede Municipal de Educao de Goinia. Ao longo da histria, a escola pblica passou por vrias transformaes em seus aspectos organizacionais, curriculares, pedaggicos, estruturais, conceituais, entre outros. Em cada poltica pblica implantada foi possvel perceber a relao com modelo econmico vigente e suas necessidades, em particular procurando ajustar a formao educativa aos interesses do modo de produo, evitando os desajustes no processo de ensino, e, sobretudo, o fracasso da escolarizao. Nesse estudo no se adentrar nos detalhes desta relao escola-sociedade e processo produtivo, mas na analise dos modelos de ciclos, compreendendo em que medidas essas mudanas contribuem para a permanncia do aluno e para sua formao ou se reforam a expulso do estudante da escola. O modelo de ciclos 6 pode muitas vezes ser confundido com processos anteriores de polticas de no reteno, mas aqui se refere a uma nova proposta de reorganizao escolar, em todos os seus aspectos e que passou a se desenvolvido em meados da dcada de 90 em decorrncia das mudanas no cenrio mundial. Diante de uma sociedade complexa e contraditria como o modelo social capitalista, o modelo de ciclos, no fundo, representa mais uma adequao no sentido de reproduzir a formao do homem dentro da lgica do capital humano, mas, porm, por se tratar de um espao de escolarizao que apresenta contradies com relao aos interesses e lutas, tem surgido concepes e proposies que indicam avanos para se realizar tambm prticas pedaggicas progressistas. A partir de vrios autores (AGUIAR, 2009; MAINARDES, 2009; BARRETO E MITRULIS, 2001) pode-se identificar que os ciclos surgiram no contexto brasileiro em meados da dcada de 90. O processo de democratizao pelo qual o Brasil
6 Nesta pesquisa entendemos por ciclos o processo de reestruturao escolar que rompe de forma abrupta com o modelo seriado em todas suas dimenses. Assim, no nos referimos agrupamentos de sries ou polticas de no reteno realizadas isoladamente em perodos anteriores. 21
estava passando influenciou diretamente nessas novas polticas e na produo cientfica da poca que voltava seu olhar para redemocratizao e a cidadania. Para alm de polticas de no-reteno foram testadas desde a dcada de 50, propostas de reestruturao dos tempos e espaos escolares e, principalmente, das concepes sobre educao, homem e sociedade, que modificam o olhar sobre a escola com o intuito de resgatar seu papel fundamental de formao do homem. Se nas dcadas de 1970 e 1980, o intuito era de somente conter a taxa de repetncia nos primeiros anos escolares e permitir que o aluno sasse minimamente alfabetizado, as novas propostas buscam abranger todo o ensino fundamental pela prpria compreenso do processo de aprendizagem que fora modificado. O ponto de partida dessas propostas era de superao da evaso escolar e repetncia que configuram o cenrio do fracasso escolar no pas com o uso de medidas que permitiam a continuidade do fluxo escolar com qualidade. O aluno permanece na escola, mas com as condies necessrias para aprender e com os aspectos importantes para sua formao. As principais caractersticas so: alterao na organizao da temporalidade e espao de aprendizado do aluno e entre os alunos; presena da famlia no processo de formao do aluno e nos espaos da escola; mudana no relacionamento entre a comunidade escolar; novas concepes no processo avaliativo; valorizao de outros aspectos, alm do cognitivo; entre outros. At a regulamentao dos ciclos pela LDB em 1996, algumas propostas foram desenvolvidas no Brasil em carter alternativo e foram utilizadas como referncia para outros estados do Brasil. Dentro disso, temos destaque para duas propostas que sero expostas a seguir.
1.1 Ciclos de Aprendizagem
Os ciclos de aprendizagem tm como uma de suas maiores referncias o socilogo Phillipe Perrenoud. Este autor produziu um grande acervo terico a partir de suas experincias com os ciclos de aprendizagem desenvolvidas o na Europa 7 .
7 Em 1994, o autor envolveu-se na reestruturao do ensino fundamental em Genebra. De 1998 a 2001 o autor publicou artigos referentes s reformas escolares para ciclos que ocorriam na Sua. 22
Esses estudos serviram de base e referncia para a disseminao desse modelo no Brasil. De acordo com o Perrenoud, os ciclos de aprendizagem caracterizam-se pelo agrupamento de etapas anuais, podendo variar de dois a quatro anos (etapas plurianuais), conciliada com mudanas na organizao da escola, de modo a romper inclusive com a repetncia. Atravs de uma equipe de professores, a escola deveria mudar seu foco do ensino para a aprendizagem, logo a instituio dever criar condies para favorecer o aprendizado do aluno, proporcionando-lhe uma formao global. O autor defende ciclos de aprendizagem como novos tempos e espaos de formao (PERRENOUD, 2004), assegurados por elementos que devero promover maior igualdade dentro da escola buscando neutralizar (idem) o fracasso escolar. Dentre os eixos que so defendidos pelo autor, destaca-se nesta pesquisa a pedagogia diferenciada, avaliao formativa e percursos diversificados de formao.
1.1.1 Pedagogia diferenciada
A pedagogia diferenciada indica outros mtodos para oportunizar ao aluno o alcance dos objetivos de ciclos contrrios aos estimulados pela reprovao. Assim, o professor ir repensar mtodos e situaes de aprendizagem que no obriguem o aluno a estudar somente para no reprovar, mas que ele tenha condies para essa formao global. Os grupos devem ser diversificados em vrios momentos. Numa parte do dia a criana est em um grupo organizado por idade, em outro momento a diviso do grupo feito por interesses, outro grupo dividido pelas dificuldades e, assim, o aluno passa por diferentes experincias que potencializaro seu aprendizado. Para Perrenoud, diferenciar organizar as interaes e as atividades, de modo que cada aluno seja confrontado constantemente, ou ao menos com bastante frequncia, com as situaes didticas mais fecundas para ele (PERRENOUD, 2001, p.27). Para o autor, padronizar o ensino para todos os alunos, no permite que avancem, por isso refora a necessidade dessa diferenciao.
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1.1.2 Avaliao formativa
Como avaliao formativa, Perrenuod compreende o processo de adaptar o processo avaliativo lgica dos ciclos de aprendizagem. Assim, no se trata em dizer se o aluno bom ou ruim, mas de perceber os avanos obtidos no caminho percorrido na escola. Contudo, se o processo de aprendizado do aluno diversificado, diversificam-se tambm os processos de avaliao. Ele ressalta a importncia da avaliao diagnstica e dos tempos avaliativos como pontos de referncia para o professor durante os ciclos. Como o objetivo central s ser alcanado no final do ciclo de aprendizagem, no seria uma avaliao obrigatria ao final de cada ano, como ocorre no modelo seriado, mas avaliaes para verificar em que lugar do trajeto o aluno se encontra, para balizar e reestabelecer as aes e os trajetos desse aluno. a forma como o professor organizar seu trabalho. Perrenoud (2001, p. 51) aponta que a avaliao formativa tem a nica funo de ajudar o aluno a aprender e a progredir rumo aos objetivos propostos. Ao se falar de avaliao, deve-se tomar cuidado para no cair em associao de ideias que levam a uma pista falsa: provas, exames, classificaes, seleo, etc. (idem). Nesse sentido, a avaliao formativa deve estruturar-se na viso ampla:
- da observao (relativa s aquisies, aos processos e estilos de aprendizagem, s condies, ao projeto, relao com o saber, ao ambiente, etc.); - da interveno (na sala de aula ou fora dela, de forma imprevista ou planejada, sobre o funcionamento cognitivo, bem como sobre a relao com o saber, o sentido do trabalho, a relao, a integrao com a classe ou com a famlia); - da prpria regulao (relativa s condies de trabalho, s atividades, aos processos de aprendizagem ou mesmo ao desenvolvimento global do aprendiz) (PERRENOUD, 2001, p. 52)
Se a escola compreende a funo da avaliao formativa, esse recurso pode facilitar a prtica do professor e o aprendizado do aluno e resultar em melhoria qualitativa do processo educacional como um todo, j que envolvem vrios fatores interno do ato de conhecimento e fatores externos ligando a escola, famlia e sociedade.
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1.1.3 Percursos diversificados de formao
Os percursos diversificados esto inseridos na pedagogia diferenciada e prev o enfoque ao modo que o aluno vai passar pelo perodo de escolarizao. Perrenoud defende que o tempo seja igual para todos, mas que as experincias sejam organizadas de acordo com as necessidades dos alunos. O que precisa ficar claro so os objetivos de final de ciclo, e no a necessidade de ser ter um caminho nico imposto aos alunos. Para isso, cabe equipe de professores organizar os espaos para que todos alcancem o mesmo objetivo, sem necessidade de igualdade nos conhecimentos adquiridos. crucial no haver comparao entre os alunos, afinal, se o processo for diferenciado, no faz sentido compar-los e assim as diferenas so preservadas e garantidas. Quando Perrenoud (2001) prope a diferenciao dos percursos, ele ressalta que a diferenciao ocorre no sentido de colocar o aluno em estado de aprendizagem timo. Inclusive, defende que o fracasso escolar dado pela insensibilidade s diferenas, logo a escola no pode ignorar as particularidades dos alunos no seu processo de aprendizagem. A diferenciao deve fazer parte da rotina da escola e no ser ofertado no momento em que essas diferenas tornam-se problemticas e so visveis aos professores. A escola deve dar oportunidade ao aluno antes que suas dificuldades sejam instauradas. Numa leitura de conjunto, os tpicos acima se articulam, so interligados. O professor ter que desenvolver competncias para utilizar devidamente esses eixos. Essas competncias sero, portanto, ao mesmo tempo individuais e coletivas. Os ciclos requerem uma outra organizao do trabalho, virtualmente mais poderosa, porm mais complexa (PERRENOUD, 2004a, p. 5). Isso demonstra como a escola deve ser amplamente modificada, at na formao do professor. O prprio planejamento para as etapas plurianuais devem ocorrer de forma mais dinmica devido a ampliao do tempo de concluso dos objetivos de final de ciclo. Isso pressupe que os professores devam ter mais autonomia para a reorganizao dos espaos de aprendizagem. Com isso, o autor alerta que um grande problema para a no efetivao plena dos ciclos de aprendizagem se d pelo medo da administrao em perder o controle da escola, devido a autonomia que o 25
modelo oferece ao professor. Alerta-se que os ciclos podem representar um progresso importante na democratizao do ensino, assim como no avano para pedagogias ativas e construtivistas. Podem tambm no mudar nada de essencial e at mesmo agravar as desigualdades (PERRENOUD, 2004, p. 28). No caso do Brasil, os principais municpios que implantaram os ciclos de aprendizagem foram Goinia (GO), Curitiba (PR), Ponta Grossa (PR), Olinda (PE), Pesqueira (PE); Recife (PE), Salvador (BA), So Lus (MA), Salto (SP) e Ilhus (BA).
1.2 Ciclos de formao
Os ciclos de formao tm como principal objetivo flexibilizar os tempos e espaos escolares com o intuito de conciliar o processo de ensino e aprendizagem com as fases de desenvolvimento humano: a infncia, pr-adolescncia e adolescncia. A prpria ideia de ciclo, remete algo que possui fluidez e continuidade, portanto, no se trata apenas de lutar contra o fracasso escolar, mas de dar um novo sentido ao processo de ensino aprendizagem e prpria escola e entender o acesso ao conhecimento como um direito de cidadania e do ser humano. Andreia Krug (2001, p. 13) aponta que
esse novo sistema de organizao escolar, resultado de pesquisas sobre como as crianas e adolescentes aprendem, considera a importncia das fases de formao do desenvolvimento humano para o trabalho com o conhecimento formal na escola.
A partir dessa compreenso dos tempos de desenvolvimento do indivduo, as crianas so organizadas em agrupamentos por idade que constituem os ciclos. Assim, temos o ciclo I composto pelos agrupamentos A, B, C, sendo em cada um as idades de 6, 7 e 8 anos respectivamente. No ciclo II temos as turmas D, E e F referentes s idades 9, 10 e 11 e por fim a ciclo III constitudo pelos agrupamentos G, H e I com as idades 12, 13 e 14. A organizao dos alunos por idade primeira ruptura com o sistema seriado e prope contribuir com o melhor aprendizado. Ao invs de reunidos por nvel de conhecimento que comprovado atravs de uma avaliao, o agrupamento por 26
idade compreende que existe um desenvolvimento possvel a cada fase da formao da criana e que esse desenvolvimento gera a necessidade de atividades pedaggicas diferenciadas a serem propostas s alunas e aos alunos nas situaes vivenciadas na escola (KRUG, 2001, p. 24). Ou seja, em determinada fase da criana, ela se encontrar em perodos, tanto na questo de condies para aprender como de interesses em comum com outras crianas, o que possibilita um aprendizado mais coerente com a fase de formao. O aprendizado no se dar somente no conhecimento socializado pelo professor, mas tambm pelas interaes entre os alunos possibilitadas pelas reorganizaes dos agrupamentos (AGUIAR, 2009). Krug (2001) aponta que, mesmo que haja a defesa do agrupamento por idade para um aprendizado melhor do estudante, isto no significa que este suficiente em si mesmo. Ter conhecimento sobre as condies possveis do desenvolvimento dos estudantes a cada idade ou a fase de formao em que se encontra e sobre o conhecimento cultural que esse estudante traz consigo muito importante. Historicamente, a referncia terica que se tem de um modelo de escolarizao baseado no desenvolvimento humano foi desenvolvido na Frana por Wallon em 1946 e 1947. Mainardes (2009) coloca que a proposta no foi realizada, mas que o documento tornou-se referncia na rea de educao. Segundo Lima (1998, 2001, 2002), o surgimento da proposta no estava atrelado ao aumento do tempo de aprendizagem, mas buscava ressignificar o aprendizado como um processo vinculado formao do homem como ser humano, ser cultural e ser social. Por esse motivo, Wallon associa o processo de formao ao desenvolvimento humano, com o objetivo de respeitar a formao do indivduo. Os ciclos de formao tambm destacam-se por incorporar em sua proposta a ideia de desenvolvimento humano defendida pela psicologia histrico-cultural, modificando sua percepo e compreenso em torno do aprendizado humano. Outro aspecto bastante relevante est em torno da organizao do tempo e do espao escolar. A forma como os tempos socialmente construdos so incorporados por ns interfere diretamente na ruptura proposta do sistema seriado para o de ciclos. Estamos acostumados a pensar de forma fragmentada, individualizada, restrita e imediatista. Assim, torna-se difcil caminhar no sentido de uma proposta que visa a flexibilizao, dinamicidade e estabelecer objetivos a longo prazo, o que pode gerar desconforto e resistncia no s por parte dos professores, 27
mas de toda a comunidade escolar (pais, administrao, comunidade e alunos). Se o objetivo da escola promover a aprendizagem humana, o critrio fundamental deveria ser a organizao do tempo de forma que os indivduos envolvidos sejam a prioridade (LIMA, 1998, 2001, 2002, p.5). Nesse sentido, a ampliao do tempo pedaggico para permitir que os alunos tenham um tempo adequado para o aprendizado torna-se de fundamental importncia nos processos de ensino e de aprendizado. Se comparar a avaliao (quantitativa e excludente) no modelo tradicional onde o tempo era organizado com base nos contedos especficos e pr- selecionados para cada srie, com um planejamento engessado e a ser concludo independente do aprendizado do aluno, na proposta de ciclos, a avaliao assume um carter diferente do realizado na escola tradicional, pois passa a ressignific-lo para que se torne um instrumento na escola capaz de auxiliar o professor e o aluno no processo de ensino aprendizagem. A avaliao deve estar relacionada com os objetivos propostos para cada ciclos e utilizada como forma de acompanhar o desenvolvimento dos alunos nesses objetivos. Ela assume um papel epistemologicamente ligado ao currculo, uma vez que os princpios adotados na avaliao definem a prpria relao com o conhecimento (LIMA, 1998, 2001, 2002, p. 24). Se a escola mantm sua avaliao como forma de verificar o contedo imediato que foi assimilado pelo aluno, o trato com conhecimento vai ser condicionado a essa perspectiva. Por isso, ao ressignificar a avaliao, o trato com o conhecimento e a relao com os objetivos escolares, so tambm modificados. Com isto, o processo de avaliao passa a evidenciar o carter diagnstico, investigativo, processual, dinmico, qualitativo, contnuo e descritivo (GOIANIA, SME, 2004). J que a aprendizagem um processo, no cabe mais avaliar somente o resultado obtido pelo aluno. Da mesma forma, o diagnstico importante para perceber os avanos obtidos pelo aluno. E, com isso, se realiza de forma descritiva e qualitativa as melhorias educacionais que o aluno consegue realizar e as limitaes que ainda precisam ser melhores desenvolvidas. Em relao ao trato com o conhecimento, a proposta visa romper com a fragmentao dos contedos e com o seu trato de forma descontextualizada e sem significado para o aluno. A memorizao pela reflexo, problematizao e 28
explorao dos conhecimentos que vo se estabelecer, a partir de princpios ou temticas, a prpria articulao entre as reas de conhecimentos escolares. Outro aspecto fundamental a ser destacado est no campo dos relacionamentos entre os sujeitos da escola. Busca-se com esse modelo, permitir maior interao entre a comunidade escolar com o intuito de propiciar que os alunos sejam atores da proposta. Os professores, desde o planejamento at a avaliao, devem buscar no trabalho coletivo os fundamentos e as reflexes para a sua prtica pedaggica. Os pais devem se fazer presentes na vida escolar do filho e tambm participar de forma ativa nas decises e na construo dos projetos escolares. Alm disso, a relao entre os estudantes deve ser facilitada pelos espaos oferecidos pela escola. Ser, portanto, a partir desses aspectos e dos sujeitos ativos que a proposta de ciclos de formao deve se efetivar para possibilitar melhor aprendizado e mudana na educao. A reorganizao do espao da escola, dos conhecimentos e das concepes, devem ser construdas no sentido de compreender o aluno em suas limitaes e possibilidades e proporcionar a ele a oportunidade de acesso ao conhecimento sentido formao plena do sujeito. Lima (1998, 2001, 2002, p. 8) afirma que
Ciclos de formao consequncia da reconceituao da escola como espao de formao, no s de aprendizagem. A constituio do sujeito a preocupao inicial, e a partir dai se concebe uma educao em que as aprendizagens sero definidas em funo deste objetivo mais amplo.
Cabe a escola, diante disto, oferecer espaos alm dos tradicionais para possibilitar o aprendizado do aluno, reagrupando-os de acordo com a necessidade e as defasagens adquiridas ao longo do tempo. No contexto brasileiro, as implantaes do modelo de ciclos mais importante e publicamente conhecidas se referem Escola Cidad de Porto Alegre e a Escola Plural de Minas Gerais, pois alm de se mostrarem escola verdadeiramente democrtica, se propuseram a modificar a organizao, estrutura e concepes escolares no sentido de possibilitar melhores condies de aprendizagem aos estudantes de escola pblica.
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1.2.1 Consideraes sobre a Escola Plural
A Escola Plural localizada em Belo Horizonte, foi uma das pioneiras na implantao dos ciclos de formao j no ano de 1995. Segundo Aguiar (2009), a proposta foi idealizada por Miguel Arroyo que traou as primeiras diretrizes da escola plural, com gesto democrtica e proposta coletiva de trabalho. A rede analisou os PPPs das escolas municipais e identificou um padro nos objetivos escolares: reduzir o fracasso escolar. A construo teve participao de diretores de educao das Regionais e suas equipes, equipes do CAPE e da SMED, coletivo de diretores de escola, de coordenadores de reas, de professores e professoras, de pais e mes, alunos e alunas (BELO HORIZONTE, SME, 2002, p.11). O trabalho foi norteado por quatro ncleos que estruturavam a proposta: a) A escola que queremos; b) Organizao do trabalho; c) Contedos e processos; d) Avaliao. A rede de Belo Horizonte, explicita no documento o debate na poca em torno da escola aceita que vinha se desenvolvendo at aquele momento e a escola emergente que era necessria diante dos problemas educacionais. Ento, se props construo coletiva de uma organizao escolar que fosse alm do que era regulamentado, com o desenvolvimento de novas formas de ensino que contraponha a lgica de facilitar o ensino para o aluno, levando-o misria educacional somente com objetivo deste no ser um incmodo para a escola e para a sociedade. A proposta de ESCOLA PLURAL pretende sintonizar-se com as experincias emergentes na Rede que apontam para um diagnstico mais global dos problemas e para uma interveno coletiva mais radical: intervir nas estruturas excludentes do sistema escolar e na cultura que legitima essas estruturas excludentes e seletivas (BELO HORIZONTE, SME, 2002, p. 13)
O documento explicita a pluralidade como caracterstica central da escola em diversos aspectos redimensionando os espaos e os tempos para vivencias sociais e culturais e formao de identidade; pela viso de formao omnilateral se opondo visal unilateral da escola tradicional; e, tambm, na forma de organizar o currculo pautado na interdisciplinaridade. reforada constantemente a importncia da vivncia sociocultural do aluno no processo de formao, com o intuito mesmo de ampliar seu aprendizado para alm dos contedos escolares tradicionais. 30
Ao se repensar os contedos escolares, a proposta buscou articular esses conhecimentos com eixos e temticas e devidamente articulado com a realidade do aluno. A escola plural se prope a valorizar as outras formas de processos de aprendizado a partir de uma perspectiva global, enfatizando o aprendizado corporal e manual e os processos socializadores. Essa escola baseia-se na pedagogia de projetos onde a elaborao de e realizao de projetos deveriam ser executadas com a participao de toda a comunidade, pois um dos objetivos da Escola Plural era a democratizao da instituio educativa (AGUIAR, 2009, p. 39). A organizao do tempo escolar rediscutida para ser ressignificada. O documento aponta que a compreenso da estrutura temporal permite buscar mecanismos para contrapor a lgica institucionalizada que dificulta o alcance dos objetivos dos alunos em prol dos interesses privados. Com base nisso, o eixo da organizao escolar se centra no aluno e suas necessidades. Tanto os contedos, como a distribuio dos espaos, das avaliaes giram em torno das necessidades para uma formao mais apropriada para cada educando. A escola plural defendeu o tempo de escola como um tempo de socializao, formao no convvio entre sujeitos da mesma idade, ciclo de formao, sem rupturas ou interrupes desse processo (AGUIAR, 2009, p. 40). Os Ciclos de Formao j se organizavam da forma atual: Ciclo Bsico I 6 a 8/9 anos correspondente infncia; Ciclo Bsico II 9 a 11/12 anos, referente pr- adolescncia; e o Ciclo Bsico III 12 a 14/15 anos caracterstico da adolescncia. O processo de avaliao torna-se uma prtica coletiva, onde todos os sujeitos da escola so parte. Para isso constituem-se os conselhos escolares, os conselhos de ciclos, a auto-avaliao do aluno, a avaliao do PPP da escola por meio de Assembleias escolar e observao dos alunos mediante registro criterioso para romper com avaliaes superficiais. A avaliao no aspecto geral divide-se em inicial, contnua e final. A primeira age como um diagnstico do aluno para orientar as aes da escola. A avaliao contnua refere-se ao acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem. Na ltima parte do processo se busca avaliar o aluno no sentido de identificar o aprendizado do aluno de forma geral para facilitar a organizao para o prximo ciclo. Azevedo (2009) aponta que a proposta de Belo Horizonte foi a precursora das mudanas que viriam ocorrer nas redes de educao. Suas ideias inovadoras foram amplamente divulgadas, inclusive pelo Ministrio da Educao, o que possibilitou a 31
adeso por outras escolas do pas, inclusive a Rede Municipal de Educao de Goinia.
1.2.2 Consideraes sobre a Escola Cidad
A secretaria municipal de Porto Alegre publica em 1996 o Caderno Pedaggico n 9 que apresenta rede a proposta de ciclos de formao, ainda como modelo alternativo de organizao escolar. O documento foi organizado diante da grande quantidade de publicaes sobre os ciclos de formao que instigou a sistematizao de uma proposta para qualificar a prtica das escolas. Assim, a rede organizou um debate para a discusso coletiva de princpios que nortearam um novo regimento escolar. Os princpios destacados foram o acesso ao conhecimento e ao ensino de qualidade; incentivo de prticas e construes coletivas envolvendo toda a comunidade; a escola como instituio gratuita, laica e pluralista; a descentralizao do poder tanto em relao gesto escolar como na relao escola/Estado; combate s formas de opresso, discriminao e explorao na escola. (PORTO ALEGRE, SMED, 1999). Na busca em diferenciar o currculo, a proposta pautou na construo coletiva, organizando os saberes vinculados construo de sujeitos sociais (PORTO ALEGRE, SMED, 1999, p. 8) atravs de aes metodolgicas e didticas que garantam um projeto de escola progressista e transformadora (PORTO ALEGRE, SMED, 1999, p. 11) objetivando uma viso de currculo processual em um movimento dialtico de ao-reflexo-ao (idem). Nesse modelo, a organizao do contedo se d a partir de uma pesquisa scio-antropolgica realizada com a comunidade, justamente para fornecer ao professor condies de saber quem o aluno, de onde vem e o que ele conhece. Com base nesses conhecimentos que o professor deveria refletir acerca de sua prtica e das necessidades dos alunos para organizar novas propostas de atividades escolares para ampliar o conhecimento do aluno. Krug (2001, p. 33) explica atravs de Vygotsky a relao entre os conceitos cientficos e os conceitos cotidianos. O aluno traz consigo determinados 32
conhecimentos cotidianos em que o conhecimento cientfico ir agir sobre ele no sentido de ampliar e desenvolver esses conhecimentos iniciais. Assim, como os conhecimentos cotidianos sero potencializados e potencializadores dos conceitos cientficos.
O desenvolvimento de conceitos um nico processo, afetado por condies externas e internas, e o aprendizado da criana em idade escolar uma das principais fontes de conceitos da mesma, fora poderosa que direciona seu desenvolvimento. (KRUG, 2001, p. 34)
O conhecimento do aluno dever ser ponto de partida para as aes do professor que devem procurar ampli-lo. Neste processo, se inclui as questes culturais dos alunos e as suas formas diferenciadas. Ao compreender essa conexo entre conceitos cotidianos e cientficos e os conhecimentos que o aluno desenvolve pelas experincias fora da escola o professor dever indicar quais as possibilidades quanto ao seu desenvolvimento dentro da escola. Nesse modelo, era necessrio criar uma escola que permitisse oferecer condies para o aprendizado do aluno segundo suas condies biolgicas e culturais, da a razo de se construir o planejamento dos contedos a partir de uma pesquisa scio-antropolgica. Aps a pesquisa, os contedos so estruturados por Complexos Temticos 8 onde tanto os pais como a comunidade envolvida nesse processo educativo, recebem da escola a devolutiva acerca do desenvolvimento da proposta educativa e sobre o desempenho dos alunos (AGUIAR, 2009, p. 41). Em relao progresso dos alunos, o fluxo poderia acontecer de forma simples: o aluno avana para o ano seguinte se no apresentar dificuldade com o ano que se encerra; com plano didtico de apoio: a progresso ocorre mediante um plano de atividades para o aluno que supra algumas dificuldades; e com avaliao especializada: progresso onde o aluno necessita de atendimento individualizado (KRUG, 2001). A proposta tambm conta com o professor itinerante e as turmas de progresso que so outras formas de auxiliar na formao do aluno. O primeiro
8 O objetivo dos complexos temticos superar o modelo de organizao por complexos de Pistrak e o tema gerador de Freire. compreendido como forma organizao do ensino enquanto instrumento de aprofundamento de realidades complexas, pois objetivam a relao entre o sujeito e a realidade na qual ele vive realizado a partir de um conjunto de aes que organizam o trabalho escolar e reorientam interdisciplinarmente o contedo do processo ensino-aprendizagem (KRUG, 2001, p. 61). 33
refere-se um professor que faz parte do coletivo de ciclo e que fica disponvel para auxiliar o professor regente nos planejamentos e inclusive para substitu-lo quando necessrio. As turmas de progresso se constituam como um espao de atendimento aos alunos com defasagem idade/agrupamento e tambm para adaptar alunos novos escolarizao dos ciclos.
1.2.3 Goinia e os Ciclos de Formao e Desenvolvimento Humano
Em Goinia, o processo de implantao dos ciclos de formao se deu, gradualmente, a partir de 1998, atravs do projeto Escola para o Sculo XXI - sob a gesto do prefeito Nion Albernaz. Segundo o documento, o projeto foi resultado de reflexes a partir de avaliaes realizadas nos anos de 1996 e 1997 que apontaram necessidades de mudana no processo educacional. As problemticas identificadas na avaliao das escolas municipais foram: repetncia; evaso em turmas que funcionam no perodo noturno; falta de tempo para o professor se capacitar e planejar suas aulas; dificuldades no processo avaliativo; ausncia de uma prtica pedaggica mais voltada para as reais necessidades dos alunos; necessidade de acompanhamento sistemtico pela SME; alunos sem histrico escolar e com condies de estudos mais avanados; alunos que possuem desenvolvimento capaz de lhes garantir avanos extras aos sistemticos; alunos em defasagem idade/srie. (GOIANIA, SME, 1998, p. 6 7)
A partir dessa anlise, elaborou o projeto que propunha mudanas e compreendia a reestruturao do ensino fundamental como elemento importante ao buscar minimizar problemas como evaso e a repetncia (GOIANIA, SME, 1998, p. 30). Para implantao se adotou a organizao das turmas em agrupamentos por idade onde se permitia as trocas socializantes e a construo de auto-imagens e identidades mais equilibradas (idem) e a organizao curricular flexvel, evitando rupturas e fragmentao no processo de aprendizagem do aluno. A estrutura do ciclo configurou-se da seguinte maneira: Educao Infantil - Pr-escola (organizao por idade); Ciclo I - Alfabetizao (alunos que no frequentam escola/turmas organizadas por idade); 1 Srie (alunos com processo de alfabetizao j iniciado); 2 Srie (organizao por idade); Ciclo II - 3 e 4 sries (organizao por idade); Ciclo III - 5 e 6 sries (ser implantado 34
gradativamente); Ciclo IV - 7 e 8 sries (ser implantado gradativamente). (GOIANIA, SME, 1998, p. 31). Alm dos agrupamentos de ciclos foram criadas as turmas de acelerao que seriam espaos proporcionados para auxiliar os alunos a acompanharem a sua turma ideal. Nessas turmas no so os professores que aceleram a disciplina a ser dada, mas os alunos que, em consequncia de toda a experincia cultural que j possuem, aprendem de forma mais rpida (GOIANIA, SME, 1998, p. 33). Inicialmente no havia reteno entre os ciclos e as turmas de acelerao eram utilizadas como forma de auxiliar os alunos com defasagem idade/srie. As turmas de acelerao visavam alunos entre 12 e 15 anos que ainda estavam em fase de alfabetizao. Segundo Aguiar (2009, p. 48), essas classes foram extintas em 2000, pelo fato de a gesto municipal considerar que haviam cumprido sua funo. Como formas de ao o documento apresenta quatro projetos bsicos para o desenvolvimento dessa proposta nas escolas, sendo eles: - Projeto Temtico: tratava-se de uma referncia para os professores onde, a partir de sub-temas, organizava-se contedos fundamentais de cada rea para ser desenvolvido com os alunos. - Projeto de Ao Pedaggica: configurava-se como um apoio pedaggico traando diretrizes bsicas para o trabalho do professor a partir dos princpios da pesquisa, do ldico, da organizao do trabalho individual e coletivo, da qualidade e da dialtica. - Projeto de Apoio Didtico: basicamente mostrava quais os materiais didticos estariam disponveis para contribuir com o professor nos processos de ensino-aprendizagem. Se queremos formar um aluno que aprenda a aprender, temos que orient-lo para a pesquisa constante e capacit-lo para utilizar a variedade de recursos sua disposio no meio em que vive (GOIANIA, SME, 1998, p. 35). - Projeto de Avaliao: delineava o modelo de avaliao que mostrava-se mais coerente com a proposta, tendo caractersticas como presena durante o processo de ensino-aprendizagem servindo de referencia para o momento ideal de interferncia do professor e tambm como um dos meios utilizados na construo do conhecimento (idem). Segundo Azevedo (2009, p. 33), a proposta continha elementos orientados pelos temas transversais dos PCNs apresentados pela integrao de temas da 35
diversidade cultural relacionados aos problemas atuais da humanidade. A autora informa que no incio, o processo contava com 134 escolas com o ciclo I, 39 escolas com o ciclo II e 72 turmas de acelerao da aprendizagem. Em 1999, ocorre o Frum Deliberativo do Seminrio de Avaliao onde renem-se representantes das escolas da rede municipal que apontavam a necessidade da reteno alegando limitaes encontradas na prtica pedaggica, principalmente com alunos que apresentavam dificuldades na aprendizagem (AZEVEDO, 2009, p. 34) decidiram pela reteno ao final de cada ciclo. Aguiar (2009) e Azevedo (2009) apontam mudanas significativas para o avano da proposta em Goinia como a reformulao do nmero de ciclos ocorrida em 1999, reduzindo-o para trs, configurando-se na organizao atual. A justificativa apresentada pelo documento da rede de 2004 o fato da quinta srie apresentar alto nvel de reprovao o que necessitou a mudana dessa srie para o ciclo II. Contudo, essa mudana se deu carter estrutural, mantendo os princpios iniciais. S em 2001, com a mudana de gesto para o prefeito Pedro Wilson que a concepo de ciclo passa a associar o processo de formao com os processos de desenvolvimento humano. At o ano de 2002, os ciclos podiam ser aderidos pelas escolas de forma voluntria, contudo, aps esse perodo as escolas municipais passaram a ser todas organizadas nesse modelo. Para isso, a secretaria de educao organiza um novo documento com base na proposta de Belo Horizonte, A Proposta Poltico- Pedaggica para a Educao Fundamental da Infncia e da Adolescncia (2004) e as Diretrizes Curriculares para a Educao Fundamental da Infncia e da Adolescencia (2006) 9 , reestruturando as concepes acerca da educao em Goinia, denominada agora como Ciclos de Formao e Desenvolvimento Humano. Com essa reformulao a formao humana compreendida como omnilateral 10 , buscando formar o sujeito em sua totalidade. Seguindo a linha da escola plural e tambm da escola cidad, a organizao escolar fundamentada no
9 Esses documentos foram resultado do trabalho coletivo realizado pelos grupos: Diviso de Educao Fundamental da Infncia e da Adolescncia (DEFIA), pelas Unidades Regionais de Educao (URE) e pelo Centro de Formao dos Profissionais da Educao (CEFPE). 10 Para Gramsci (1989) a escola deve educar o homem de forma unitria tendo o trabalho como princpio educativo, equilibrando o desenvolvimento dos conhecimentos tcnicos com o trabalho intelectual. 36
desenvolvimento do aluno, a constituio curricular ressignificada e articulada realidade dos educandos, passa a constituir a proposta do Municpio. Em relao dinamicidade dos processos de aprendizagem, se destaca a organizao de reagrupamentos e dos atendimentos individualizados que objetiva criar espaos de mobilidade interna do aluno para possibilitar situaes de aprendizado de acordo com os interesses, possibilidades e dificuldades dos educandos. (GOIANIA, SME, 2004). Outros espaos educacionais so organizados para os professores que possuem o tempo de estudo e as reunies de planejamento coletivo que era semanal e foi reduzido para mensal, em 2007, desarticulando a interao dos professores na escola e desestruturando o planejamento coletivo o que desencadeou grande frustrao por parte da comunidade escolar (AZEVEDO, 2009). Mesmo assim, a proposta de organizao do aprendizado pelo trabalho coletivo mantida, pois se compreende que possvel avanar por meio do compromisso poltico e do envolvimento individual e, sobretudo, coletivo na construo e no exerccio democrtico cotidiano da escola (GOIANIA, SME, 2004, p. 36). A educao fsica no modelo de ciclos tem por objetivo elevar o nvel de compreenso dos educandos acerca do corpo e de seus significados biolgicos, culturais e sociais, bem como suas relaes com os demais saberes que compem a cultura escolar (GOIANIA, SME, 2006, p. 26). O desenvolvimento da corporalidade compreendido como importante para a formao do aluno. As aulas devem ser norteadas pela estrutura da ao-reflexo-ao, organizado de modo coletivo e partir dos conhecimentos da cultura corporal relacionados a processos tematizadores como educao, cultura, sade, lazer, trabalho produtivo e a esttica corporal (GOIANIA, SME, 2006, p. 27). A insero da educao fsica nesses moldes outro elemento que destaca- se na proposta de ciclos por entender o aluno em sua complexidade e na possibilidade de se desenvolver em quanto ser humano autnomo.
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1.3 As escolas e o campo de experimentao pedaggica do PIBID
Atualmente o projeto PIBID conta com a parceria de duas escolas que apesar de estarem inseridas na proposta de Ciclos de Formao e Desenvolvimento Humano, possuem caractersticas especficas que modificam o trato dessa proposta no cotidiano escolar. A escola na qual desenvolvemos o projeto a mais tempo, est vinculada ao PIBID desde 2010 e se integra ao sistema de ciclos desde 1998. Atualmente recebe alunos no perodo matutino, vespertino e noturno e est localizada na regio perifrica de Goinia. J a segunda escola est vinculada ao projeto desde 2012 e possui caractersticas de escola rural de tempo integral, est organizada em ciclos e sob a forma multisseriada. As turmas so divididas em agrupamento A e B, C e D, E e F. Mesmo em tempo integral, os professores da escola rural continuam a trabalhar por turnos, o que em alguns momentos dificulta certas atividades pedaggicas e mesmo o trabalho coletivo da escola. Trata-se de realidades distintas, pois cada escola, mesmo existindo dentro de um mesmo sistema municipal de educao e submetidas as mesmas diretrizes curriculares, se apresentam com diferentes caractersticas pedaggicas e funcionais, com conseqncias nas aes educacionais ali produzidas na formao dos alunos.
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2 METODOLOGIA
Este estudo se orienta pelo modelo da pesquisa-ao e est organizado sob a forma de Trabalho Coletivo (THIOLLENT, 1985; DAVID, 1998), cujos objetivos de compreender e intervir na realidade da educao fsica escolar, no contexto de escolas do municpio de Goinia, organizadas em Ciclos de Formao e Desenvolvimento Humano. O trabalho coletivo a perspectiva que orienta a ao do projeto PIBID FEF/UFG no desenvolvimento de pesquisas em conjunto com as escolas parceiras. O homem em sua existncia como ser humano, s o , atravs da relao social estabelecida entre outros seres humanos, por isso a convivncia e a coletividade faz parte da ao do homem na sociedade. Para tanto
Dentro desta abordagem participativa do trabalho coletivo a ser desenvolvido na rea de Educao Fsica Escolar, pressupe-se, portanto, em novas formas de relaes a serem estabelecidas internamente, fundadas por interaes cooperativas e solidrias entre o grupo e por um tipo de preocupao especial de que ser este mesmo coletivo que deve assumir, organicamente, o papel e o compromisso de sujeito ativo no trato com problemas detectados e pelas respostas superadoras tendo como horizonte de trabalho a construo da prxis transformadora mobilizada a partir dos dados conflitantes e potencializadores da realidade educacional encontrada. (DAVID, 1998, p. 4 - 5)
Desse modo, os sujeitos vinculados ao projeto constituem como fundamentais no processo por serem ativos na pesquisa que alm de servir como elemento de capacitao do coletivo, d suporte para possveis mudanas nas escolas, atravs de reflexes e dilogos realizados entre as pessoas envolvidas no processo. Entende-se que o trabalho coletivo, diante da complexidade dos problemas na educao e sociedade que ocorrem atualmente, fundamental para a resoluo de problemas pelo nvel de conscincia exigido dos sujeitos sobre as demandas, contudo, como aponta Arajo (2011, p 27), todos sabem que tambm mais problemtico, uma vez que as aes devem se dar por cooperao e por consensos entre os diferentes atores, exigindo um esforo de ir contra a lgica social que ressalta o individualismo, o imediatismo e a fragmentao de nossas aes.
Ao optarmos por este horizonte de trabalho importante ressaltar que no basta apenas que se utilize da vontade poltica para um agir coletivo, pois 39
corre-se o risco de ficar preso a aes espontanestas ou cristalizar posies como mero observadores de um fenmeno intocvel ou inacessvel (face a sua complexidade) com vistas ao projeto de superao ou de mudanas. Trata-se, sobretudo, de buscar um suporte terico- metodolgico capaz de atuar no interior do fenmeno educacional, compreendendo que a sua manifestao se d de forma dinmica, complexa, multidimensional e historicamente determinada no contexto social. (DAVID, 1998, p.2).
Diante disso que a formao consciente das pessoas envolvidas fundamental, principalmente para a compreenso dos aspectos citados acima que interfere diretamente na busca de mudanas concretas na educao e sociedade. A escolha da pesquisa social denominada de pesquisa-ao se deve ao fato de se tratar de uma linha de pesquisa associada a diversas formas de ao coletiva que orientada em funo da resoluo de problemas ou de objetivos de transformao (THIOLLENT, p.7, 1985). Portanto, refere-se a uma metodologia que mais se identifica com o projeto de trabalho coletivo e por ser uma atividade de produo do conhecimento que articula pesquisadores e demais sujeitos tanto na produo da realidade, como por apresentar aes propositivas de mudanas sobre esta mesma realidade. Thiollent (1985) aponta que nesse modo de pesquisa a relao entre pesquisador e sujeitos da pesquisa importante, pois juntos situam a pesquisa e as demais aes que sucedem. Por isso, essa metodologia de pesquisa se insere nesse projeto, pois est alm de simples coleta e anlise de dados para atender demandas de pesquisas pelo vis produtivista, mas o prprio pesquisador se v comprometido com a relevncia da pesquisa e querem pesquisas nas quais as pessoas implicadas tenham algo a dizer e a fazer. Com a pesquisa-ao os pesquisadores pretendem desempenhar um papel ativo na prpria realidade dos fatos observados (THIOLLENT, 1985, p.16). Assim, as necessidades de trabalho (pesquisa e ao) partiram das escolas vinculadas ao grupo PIBID-FEF/UFG por meio de temticas de interesses das escolas e por temas problematizadores necessrios ao Trabalho Coletivo. Diante da dificuldade dos professores em compreender o modelo de ciclos de formao e desenvolvimento humano, surgiu como demanda para o grupo o estudo e pesquisa desse tema no intuito de ampliar os conhecimentos do coletivo, com possibilidade de mudana na prtica pedaggica dos professores de educao fsica assim como da comunidade escolar como um todo. Atravs de parcerias com duas escolas de 40
educao bsica da rede pblica de ensino, o PIBID vem buscando formas de insero dos estudantes no contexto das escolas pblicas desde o incio da sua formao acadmica para que estes desenvolvam atividades didtico-pedaggicas, sob orientao de um docente da licenciatura e professores supervisores de cada escola 11 . No caso deste estudo em particular, se decidiu por ampliar o universo da pesquisa para outras escolas, uma vez que os professores que j participam do projeto PIBID nas diferentes tarefas em andamento, podem estar compartilhando ou sendo influenciados pelas concepes do projeto. Fator que poderia mascarar as anlises acerca das prticas e concepes de um pequeno grupo de professores em estudo. Com essa posio no se est fugindo do foco metodolgico da pesquisa- ao, mas ampliando os horizontes de conhecimentos e de reflexes para melhor compreender os problemas que podem ser comuns e, assim, apresentar solues junto aos professores das escolas envolvidas nesta pesquisa e nas demais aes do Projeto PIBID. Com esta metodologia espera-se que a finalidade de contribuir com a formao do professor da educao bsica e, tambm, com a formao de professores possa assegurar as aproximaes e uma melhor compreenso da realidade escolar com os futuros professores na Universidade. Arajo (2011, p. 22) sintetiza bem o objetivo do projeto PIBID ao dizer que,
O projeto tem como pressupostos o estabelecimento de dilogos com os professores do campo educacional com vistas a compartilhar dos problemas e, sobretudo, atuar junto buscando solues objetivas no processo de superao terico/prtico de cada escola envolvida e da educao bsica em sentido amplo.
Dentro destas exigncias, das necessidades das escolas e da possibilidade de construir conhecimentos, aes e prticas educativas que de fato contribuam para o avano do campo da formao de professores, vem se tornando o marco referencial dos compromissos do projeto PIBID e desta pesquisa em particular. Foi realizada uma reviso da literatura acerca dos ciclos e estudos tericos das principais obras/autores ligados educao pertencentes ao pensamento marxista. O objetivo desta ao era de apropriar-se dos elementos conceituais do
11 Informao disponvel na pgina oficial do PIBID/FEF/UFG <http://pibid2011.wix.com/pibid---fef>. 41
modelo de ciclos de formao e desenvolvimento humano, das bases crticas histrico-sociais e da proposta de educao fsica, tanto emitidos por documentos oficiais da Secretaria da Educao Municipal, como de artigos de autores que estudam esse tema. A base dos estudos se efetivou por meio de dilogos, com roteiros semi- estruturados envolvendo trs professoras de educao fsica das escolas parceiras do PIBID e trs professores de escolas-campo vinculadas ao estgio da FEF/UFG, cujo objetivo era de identificar as concepes acerca da educao e do trabalho pedaggico, a constituio dos espaos pedaggicos da escola e explicitar os reflexos disso no ensino da educao fsica no sistema de ciclos. Por entender que os professores entrevistados se inseriam no mesmo sistema educacional, mas que cada escola-campo possui suas particularidades foram realizados vrios cruzamentos de informaes, levantando as problemticas mais recorrentes quanto ao modelo, para, logo em seguida, apresentar aos professores dessas escolas, em seminrios internos, a sntese deste estudo monogrfico. O objetivo do seminrio de apresentar os dados e suas anlises com vistas a promover as discusses e reflexes no coletivo de professores e escolas envolvidas no trabalho. Cabe esclarecer que no acompanhamento e observaes realizadas no decorrer da pesquisa no se utilizou de ferramentas como o dirio de campo, mas de roteiro pr-estabelecido com questes amplas que englobavam os elementos conceituais e da prtica a serem pesquisados. Outro aspecto a ser destacado na pesquisa tem a ver com os vrios pontos de partidas do trabalho realizado pelo grupo, qual sejam, refletir acerca da prtica docente em contato com a realidade concreta da escola, e ao mesmo tempo, realizar sucessivas socializaes dos resultados para a formao do coletivo ampliado no sentido de se pensar a prtica pedaggica na escola. Portanto, ser a partir deste produto que se ir problematizar as novas aes para junto escola em busca de avanar nas problemticas identificadas.
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3 OS SUJEITOS E SUAS PRTICAS: Reflexes acerca dos dados da realidade dos ciclos
Neste captulo sero abordados as problemticas, os conceitos, as concepes e os posicionamentos dos professores acerca dos Ciclos de Formao e Desenvolvimento Humano, elaborados a partir de vrios dilogos com os docentes da educao fsica das escolas.
3.1 Aspectos gerais acerca do significado do Sistema de Ciclos
Neste tpico sero tratados os conceitos, significados, posicionamentos e projees que os professores 12 possuem sobre o sistema de ciclos em seus aspectos gerais. Das questes levantadas sobre a concepo e as percepes que os professores tinham sobre o modelo de ciclos implantado pela prefeitura de Goinia vrias possibilidades so apresentadas para as anlises e novos problemas surgem e que merecem aprofundamentos nos estudos sobre ciclos escolares. Ao serem questionados sobre o modelo, detectou-se que trs professores compreendem os ciclos como um avano em relao ao modelo anterior. Eles demonstram conhecimento sobre a proposta e destacam aspectos da mudana que possibilitam uma educao de qualidade. Como por exemplo:
[...] um modelo bem avanado se comparado com o seriado, porque um modelo que traz possibilidades de trabalhar em um formato diferente. Primeiro, pela compreenso do que a educao, do que a escola, do papel da escola, da funo dessa escola e tambm porque possvel ns pensarmos no desenvolvimento desses educandos. (Professor 1)
12 Esse estudo teve como fonte seis professores, dos quais cinco concluram sua formao no perodo prximo de implantao do sistema de ciclos em Goinia. Um desses professores formou-se aps o processo de transio. Dois professores no trabalharam, de fato, com o sistema seriado, mas guardam suas impresses desse modelo do tempo em que eram estudantes. Os demais que j trabalharam com o sistema seriado, equilibrado a quantidade entre os que o fizeram na escola pblica e na escola privada. De todos, um dos professores ainda trabalha nos dois modelos. Alm disso, temos dois professores que acompanharam o processo de transio de seriado para ciclos pela experincia da escola inicial em que trabalharam ter vivido esse processo. Diante desse quadro pode-se perceber a complexidade do processo formativo desses professores e as distines que existem no campo das experincias pedaggicas e no prprio trabalho desenvolvido nas escolas.
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Ao contrrio, dois deles emitiram um posicionamento contrrio em relao implantao dos ciclos e acreditam ser uma experincia fracassada. Um destes professores afirmou:
[...] eu acredito que o modelo no ruim, mas alguma coisa deu errado. Eu no sei se est dando errado, porque ns ainda estamos nesse modelo [seriado], eu no sei pontuar o que . S sei que o ciclo ele vem fracassando e vem levando as crianas ao atraso escolar que antes no se percebia. (Professor 2)
Alm da viso pessimista acerca da realidade dos ciclos, segundo essa opinio nada vem dando certo, mas tambm no aponta qualquer alternativa que possa gerar mudanas. Mesmo no realizando a defesa do modelo anterior, tambm no demonstram entusiasmo, pois afirmam que o modelo no trouxe grandes mudanas, permanece tudo como estava antes e se algo possa ter mudando, mudou para pior:
Eles vm tentar colocar os alunos separados entre os pares para poder ver se conseguem fazer com que o aprendizado seja mais fludo, se ele flui de uma melhor forma, em que as crianas estejam de acordo com sua idade respeitando as fases de desenvolvimento da infncia, da adolescncia, ento ele veio com esse objetivo. Porm, no modelo inicial, pelo menos na prefeitura de Goinia, ele caiu de por terra h muito tempo. No est se conseguindo fazer o que seria a idia inicial, mas j foi, ento agora um simples passar. (Professor 3)
Uma das crticas do Professor 2 se refere aos motivos da no adeso dos professores proposta se devendo principalmente ao preconceito, ao medo de mudana e a falta de formao dos professores para a insero no modelo:
Eu acho que um modelo que teria tudo para dar certo, se os professores tivessem tido a oportunidade de estudar antes sobre, se o negcio no fosse colocado da forma que foi, de cima para baixo, sem esse perodo de adaptao, sem os professores terem esse perodo de conhecimento sobre os ciclos. Ento ele foi colocado de forma imposta e muita gente tem preconceito, e preconceito justamente isso, uma idia pr concebida daquilo que voc acha, eu acho que isso no vai dar certo? Porque toda mudana causa esse desconforto mesmo, e uma mudana que colocada assim a toque de caixa, eu acho que j a princpio ele no bem aceito mesmo.
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Cabe destacar que mesmo um dos professores que se apresenta favorvel ao modelo, se mostra desanimado diante do processo e se posiciona explicitamente contrrio a aprovao automtica. Diante do conjunto de respostas dos professores pode-se afirmar que seus posicionamentos acerca da escola decorrem de uma escolha poltica. Nos depoimentos j citados foi possvel identificar elementos como o desconhecimento da proposta, a averso e/ou negao ao modelo, adeses parciais, vises positivas e tambm, comprometimento poltico com a proposta em curso. Constatou-se de forma geral que h uma incompreenso por parte deles acerca dos ciclos no que tange ao domnio pedaggico, estrutura e funcionamento e aos significados filosficos defendidos pelo modelo. Mesmo aqueles que defendem no sabem indicar as sadas para superar os problemas apresentados pelo ciclo, seja em questes especficas, seja no sentido da totalidade no mbito da educao e sua relao com a sociedade. Se observa que parte dos professores que no compartilham com o modelo apresentam dificuldades para explicar e mesmo entender que os problemas refletidos na escola decorrem de questes mais profundas e histricas e que o modelo, no fundo, apenas se prope adequar ao tempo presente, portanto visando um reajuste com a realidade presente no modelo social. Nesse sentido, o ciclo no uma prtica milagrosa, capaz de superar as contradies da realidade capitalista atual e nem de superar os conflitos de classes presentes no meio em que a escola est inserida. Diante desses dados cabe questionar qual tipo de ao pedaggica os professores esto desenvolvendo no sentido de efetivar os ciclos, de superar as suas contradies com vistas a uma nova formao crtica dos alunos, ou mesmo se ajustar de forma competente para responder aos desafios do atual modelo de produo social. Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia (1996), destaca alguns aspectos importantes para os professores, que como seres polticos devem responsabilidade para com seus educandos. O autor chama ateno para a conscincia ingnua do professor ao julgar-se ser neutro no processo histrico. Ele afirma, por exemplo, que a educao uma ao especificamente humana, como um ato de interveno no mundo (FREIRE, 1996, p. 109), sendo a interveno tanto no sentido de almejar mudanas como de conservar a ordem. Diante disso, o professor que no (se) educa no sentido de uma interveno transformadora, o faz para preservar a ordem vigente, e nisso no h nada de neutralidade. Complementa ele dizendo que 45
justamente nessa diretividade da educao que a torna essencialmente poltica, a educao no vira poltica por causa da deciso deste ou daquele educador. Ela poltica (p. 110).
[...] a existncia de objetos, contedos a serem ensinados e aprendidos; envolve o uso de mtodos, de tcnicas, de materiais; implica, em funo de seu carter diretivo, objetivo, sonhos, utopias, ideais. Da a sua politicidade, qualidade que tem a prtica educativa de ser poltica, de no poder ser neutra. (FREIRE, 1996, p. 69 70)
O autor destaca que alguns desses elementos a cerca da prtica pedaggica do professor so indubitavelmente constitutivos da ao poltica. So apresentados por ele como exigncias para a ao do professor progressista e enfatiza que ensinar pressupe: apreenso da realidade; convico de que a mudana possvel; comprometimento; tomada consciente de decises; compreenso da educao como uma forma de interveno no mundo. Essas posturas que ele aponta como fundamentais para o professor o tiram da conscincia ingnua que uma forma desarmada de enfrentamento com a realidade (FREIRE, 1981, p. 31), colocando o professor na anlise superficial e que ficando assim na sua periferia, provavelmente no faremos outra coisa, ao falar do tema que ela envolve, seno um discurso de frases feitas (idem). Na forma de organizao da escola est embutida dos valores e concepes acerca do mundo, da educao e do homem norteando a formao do indivduo para determinado objetivo, determinada sociedade. Segundo Freitas (2003, p. 14)
[...] a escola institui seus espaos e tempos incorporando determinadas funes sociais, as quais organizam seu espao e seu tempo a mando da organizao social que a cerca. A escola, portanto, no um local ingnuo sob um sistema social qualquer.
Por isso, a preferncia por um modelo de escolarizao no se baseia simplesmente em um favoritismo metodolgico ou organizacional, mas aponta qual o posicionamento poltico do professor sobre essas concepes que permeiam a educao que ir refletir diretamente no processo de formao do estudante. Outro aspecto apontado que temos que levar em considerao, trata-se das questes externas escola, como aponta o Professor 6:
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[...] a prefeitura tem um projeto de ciclos que de certa forma ele maravilhoso [...], porm existem muitas coisas, que principalmente dizem em relao estrutura de trabalho, que de certa forma no cumprida pela prefeitura e impossibilita e inviabiliza de certa forma o trabalho de ciclos na rede municipal o que faz levar muita gente a acreditar que um sistema falho. [...] Eu vejo como positivo o projeto, mas acho que agente se esbarra justamente nessa questo principalmente em relao a estrutura ela no to adequada as condies de trabalho, no so adequadas, falta muita coisa ainda avanar que de certa forma seja efetivada.
Os professores destacam o problema da gesto que ao longo do tempo propem alteraes at contraditrias para o modelo. Segundo o Professor 4, as duas primeiras gestes em que foram desenvolvidos os ciclos de formao apresentaram avanos significativos, porm na gesto seguinte, houve retrocessos que comprometeram a execuo da avaliao, principalmente a reduo do quantitativo dos professores e a suspenso do planejamento que existia nas sextas- feiras. Quanto a isto ele afirma:
A suspenso desses planejamentos pedaggicos das sextas-feiras, eles passaram a ser mensais, alguns no horrio de trabalho, alguns aos sbados. E teve alguns retrocessos tambm na questo da avaliao, ainda nessa gesto, porque a partir dessa gesto houve uma exigncia de que a avaliao tivesse um elemento quantitativo, que antes no tinha. De ordem tambm poltica teve outra mudana [...] a questo da repetncia que na gesto anterior no se falava em repetncia, em reteno no ciclo e nessa vem bem caracterizado, at na diretriz organizacional, que ao final de cada ciclo a criana pode ser retida [...] [na gesto anterior] eles estavam trabalhando no sentido de que com esse quantitativo maior, com esse tempo maior com a criana, formando os professores num sentido de que essa palavra reteno, repetncia no existisse mais. Era essa a linha de proposta na gesto, na segunda gesto dos ciclos em Goinia. E nessa j vem bem caracterizado [a reteno] nos documentos das diretrizes organizacional.
A insero da porcentagem em um modelo que preza a avaliao qualitativa expe uma contradio relevante e que dificulta a realizao original do modelo. Segundo Pedroza e Rodrigues (2007), a gesto que implantou a porcentagem ao modelo de ciclos, justificou a necessidade por conta de uma ao movida pelo Ministrio Pblico que questionava a legitimidade de uma avaliao que no possui quantificao de notas. Contudo a nova gesto no realizou um estudo sobre o impacto e os resultados da implementao (PEDROZA E RODRIGUES, 2007, p. 5) e nem organizando situaes democrticas para a discusso dessa medida com a comunidade escolar. Os autores tambm ressaltam que a simples insero da nota quantitativa, no foi uma condio suficiente para a participao dos pais na 47
realidade escolar dos filhos. Acredita-se que pode inclusive promover esse distanciamento em decorrncia do imediatismo que a nota traz sobre o desenvolvimento do filho na escola. Os outros dois posicionamentos direcionados gesto colocam que a rede ainda no d condies ou que geram situaes que atrapalham o desenvolvimento do projeto. No depoimento dos professores tem-se:
[...] hoje a educao est a deriva. Infelizmente a coisa poltica, de quatro em quatro anos se muda o sistema, ns ainda estamos com esse sistema por um tempo bom, graas a Deus, porque no h como voc avaliar um sistema de quatro em quatro anos, entra um governo muda, entra outro muda, ento quando voc comea a digerir o negcio muda de novo (Professor 1)
[...] eu percebo que existem muitas pessoas, pedagogas amigas que trabalham e levam isso a srio e s vezes ficam doentes se matam de trabalhar para fazer que esse menino aprenda. Porem tambm vejo [...] [uma sala] que tem 30 a 35 alunos, de todas as dimenses ali, alunos com problemas em casa, de famlia familiares, alguns com processo de incluso na prefeitura, alguns com necessidade especiais e extremamente desumano colocar 35 alunos em uma sala de alfabetizao para uma professora alfabetizar at o final do ano (Professor 6)
Nesses recortes dos depoimentos possvel apontar que a gesto de 2005, gerou uma srie de mudanas que retrocederam a proposta e as conquistas da categoria professor que atrapalham e incidem na qualidade da educao. A burocracia que impossibilita o cumprimento mnino das condies necessrias para um trabalho e aprendizado de qualidade. Contudo, preciso ter em conta que alm das questes pontuais do ciclo, as questes essenciais do modelo que podem ser mantidas e trabalhadas ao longo do tempo. Alm de no possibilitar as condies objetivas necessrias, a rede ocasiona o inchao da escola com projetos que atrapalham a escola no desenvolvimento de suas atividades fundamentais. Ao se questionar mais especificadamente sobre as vantagens e desvantagens do modelo de ciclos implantado pela prefeitura, os professores entrevistados colocam que as desvantagens variam desde o momento de implantao at as questes pontuais, metodolgicas e estruturais. A forma de implantao arbitrria demonstrava para os professores um profundo descaso em relao aos profissionais que estavam na escola. Essa forma de adeso aos ciclos influenciou inclusive no trabalho dos professores que no tiveram uma preparao e 48
formao adequada para lidar com essas mudanas. A formao, ou capacitao foi ocorrendo durante o processo de transio. Do ponto de vista organizacional e estrutural, um dos professores aponta que, quando a escola possui materiais didticos e tecnolgicos disponveis, so impossibilitados de usar por no ter um profissional contratado para cuidar e se responsabilizar. o que acontece com as salas de informtica ou a biblioteca que so bem preparadas, mas que, segundo o regimento, s podem ser utilizadas com a presena de um funcionrio especfico. Entretanto, h outras escolas que nem esses recursos possuem o que tem impossibilitado a implantao de recursos tecnolgicos e literrios acessvel aos alunos e mesmo a escola. Embora existam estes problemas os professores apontam que o modelo progrediu em elementos importantes como a flexibilidade no processo de aprendizagem do estudante de acordo com sua necessidade, a flexibilizao dos tempos e espaos da escola, as concepes (escola, papel da escola, educao, aprendizagem), a vivncia do professor na escola, as novas possibilidades de trabalho, a grade paritria, entre outros. Colocam que, mesmo com a insatisfao com o modo de implantao, vieram em seguida os debates e a formao sobre os ciclos. O Professor 1 destaca:
[...] por outro lado, houve oportunidades nessas reunies do coletivo das escolas, de ter mais oportunidade de construir esse projeto. Pensando mesmo em como essas crianas aprendem, como que elas estavam na escola. Porque o planejamento coletivo proporcionou isso, possibilitou essas questes, o que atualmente no tem ocorrido com freqncia, porque o planejamento coletivo sofreu modificaes, no carter estrutural mesmo. Se antes ele acontecia semanalmente [...] ns no temos mais essa possibilidade. E, eu acho que isso foi uma grande perda assim, para a escola, para o ciclo mesmo. Mesmo que ele tivesse alguns desvios, alguns problemas, algumas questes que foi apresentada pela secretaria municipal de educao, eu penso que ainda um dos eixos centrais do ciclo. Porque voc tem condio de discutir com os profissionais, com o coletivo da escola, questes assim, prementes para o desenvolvimento das crianas, da forma de abordar isso, do prprio eixo que vai nortear o PPP da escola, que vai nortear esse projeto poltico pedaggico da escola. Ento eu acho que uma das vantagens e desvantagens passa por a.
Por mais que esse espao semanal tenha sido retirado dos professores, permaneceu ainda o tempo de estudo individual, que cada professor tem direito. Uma vez por semana, os professores tm o dia especfico em que no entra em sala de aula para poder realizar seus estudos, planejamentos. Contudo, eles acabam dialogando com os professores que ficam livres nesse mesmo dia, falando sobre 49
projetos, sobre dificuldades dos alunos, permitindo o avano no que se trata da coletividade e dilogo entre reas de conhecimento. Conectado a este, temos a questo do tempo em que o professor passa na escola, pois o professor ao ser contratado pelo Estado possua uma carga horria a ser trabalhada semanalmente e se no completasse suas aulas em uma escola, teria que completar, trabalhando em outras. Para reas que possuam grade menor como Educao Fsica e Artes, os professores iam escola s para dar aula e acabavam no se interando das questes escolares e nem socializando com a comunidade escolar, prtica comum ainda hoje na rede estadual de educao. O Professor 5 afirma que a vantagem essa, que a gente fica dedicado ao turno dentro da escola, a gente sabe o que est acontecendo na escola, na seriao no, muitas vezes a gente fica sem comunicao. Em sntese, pode-se apontar como grande avano a questo do trabalho coletivo, de espaos de dilogo entre os professores e que as desvantagens apontadas no so aspectos dos ciclos que apresentaram retrocesso em relao ao seriado, mas a burocracia, a gesto administrativa e as condies das prticas pedaggicas que atrapalham ou impedem o funcionamento da proposta. Ao apresentar as vantagens do ciclo um dos professores se refere a ele como tericas, j que nunca chegaram a ocorrer concretamente na escola em que trabalha:
Essa questo da avaliao qualitativa, [...] no valorizado, nem na nossa graduao [...] ento voc vira um profissional, voc no sabe o que fazer com isso. Acaba que por mais que na teoria, tem que se valorizar esse processo, dificilmente ele valorizado. [...] Ento, seria uma vantagem, que est ali na teoria, mas que no fritar dos ovos acaba sendo igualzinha ao seriado e se tornando uma desvantagem. (Professor 3)
O depoimento acima faz uma crtica ao processo de avaliao que tradicionalmente vem reproduzindo na escola, indicando que a dificuldade de mudana para a avaliao qualitativa tem relao com o processo de formao de professores no nvel superior. Diante desses posicionamentos, quando se pergunta aos professores se os ciclos poderiam melhorar a qualidade da educao, quatro professores (2, 3, 5, 6) disseram que em termos e dois (1, 4) disseram que sim, quadro 1 abaixo.
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QUADRO 1 - Qualidade da Educao
Os professores que consideram que os ciclos podem melhorar a qualidade da educao reforam em seus depoimentos que ele j est melhorando e apontam, inclusive, alguns elementos perceptveis. A anlise desses professores passa pelas possibilidades e contribuies que o modelo j proporcionou para a escola como, por exemplo, a participao e a exposio da realidade. Os professores apontam que esse modelo j proporciona a participao no s dos professores, mas da comunidade, da famlia na escola. Eles esto se inserindo, mesmo que aos poucos, nessa proposta. Os problemas educacionais deixam de ser ocultados ou mascarados como ocorriam no sistema seriado e abre novas possibilidades para o trabalho coletivo e o convvio com os professores no cotidiano escolar. Para Freitas (2003, p. 50):
No esquema seriado, tais alunos no incomodavam, pois eram eliminados do sistema, permanecendo nele somente quem aprendia. Nos ciclos e na progresso continuada, esses alunos permanecem no interior da escola, exigindo tratamento pedaggico adequado. Eles so uma denncia viva da lgica excludente, exigindo reparao. A volta para o sistema seriado uma forma de calar essa denncia e precisa ser evitada.
Os professores que consideram que a proposta pode melhorar em termos, se dividem em duas posies: a primeira entende que pode mudar, mas necessrio que a rede oferea condies para o trabalho e a segunda compreende que a mudana ocorreria se a proposta fosse originalmente aplicada como est nos documentos. O primeiro posicionamento est atrelado s questes administrativas das quais abordamos anteriormente:
[...] olha, poder pode desde que haja tambm um bom senso de quem aplica essas polticas [...] funciona se houver tambm de certa forma por parte do poder pblico uma maior fora de vontade, buscar para melhorar isso tambm, porque com certeza eu vejo que muitos professores tentam buscar o melhor dentro disso que est a para ensinar esses alunos. (Professor 6)
Prof1 Prof2 Prof3 Prof4 Prof5 Prof6 SIM X X NO EM TERMOS X X X X 51
J o segundo uma viso negativa, como se no houvesse mais possibilidade de mudana, se o modelo foi implantado de forma errada, no se tem culpa e no h nada a fazer. Apesar das opinies colocarem a possibilidade ela est atrelada aos erros e documentos que no pode mais ser solucionado, a implantao j ocorreu, tem-se que ficar atento agora com as problemticas reais, para a partir delas propor mudana. O professor 5 afirma: Eu acho que pode, s que do jeito que era para ser implantado. Era para ter mais recursos humanos, era para ter mais pessoas, era para ter mais recursos didticos. E no est tendo foi tirado muita coisa. Para o professor 3
Se ele conseguisse ser colocado mais prximo do que ele foi escrito teria possibilidade, mas pra isso tinha que ter envolvimento de toda a comunidade escolar, nem s os pais, no s o pessoal da escola, os professores. Toda a comunidade escolar, os profissionais de servios gerais, que ficam alheios a todo o processo.
Esse tipo de posicionamento em torno de um pensamento imediatista pode gerar prticas pedaggicas descompromissadas com a formao do aluno. Da mesma forma que ao se negar e/ou resistir ao novo sem reflexo e auto-crtica representa tambm retrocessos para a escola, uma vez que o professor no objetiva estabelecer novas possibilidades de aes na escola. Os professores inclusive devem rever suas atitudes de que o modelo deve adaptar-se ao seu modo de dar aulas, e que sua formao suficiente para assegurar o que est certo. Ao se referir aos conhecimentos especficos para os ciclos, boa parte dos professores desconhece a necessidade de novos elementos a serem desenvolvidos para a concretizao da proposta. (Quadro 2)
QUADRO 2 - Competncias dos professores no modelo de ciclos
Trs professores (3, 5, 6) julgam-se preparados para atuar no modelo. Os outros trs (1, 2, 4), consideram que em termos. Dos professores que se julgam preparados, dois deles entendem que no h elementos especficos e necessrios a serem desenvolvidos para o trato com essa proposta. Dentre os depoimentos, o Prof1 Prof2 Prof3 Prof4 Prof5 Prof6 SIM X X X NO EM TERMOS X X X 52
professor 5 diz: Eu me julgo sim. Acho que o ciclo que no est preparado pra gente. Por que ele no foi implantado do jeito que ele tinha que ser (Professor 5). Outro professor afirma:
[...] no tem diferena, acho que se eu estivesse que estar trabalhando dentro de uma escola seriada eu estaria trabalhando da mesma forma. A diferena talvez fosse a idade dos alunos, mas a forma de trabalho seria a mesma. talvez seria... no sei se seria falta de preparo, se o ambiente que proporciona isso, penso que seria do mesmo jeito (Professor 3)
No entanto, um dos professores se diz preparado por ter tido a oportunidade de, em sua formao inicial, ter contato com conhecimentos sobre o ciclo que facilitaram sua insero nas escolas e possibilitaram um trabalho mais comprometido. Ele aponta:
[...] acho que a formao, ela foi uma coisa importante para que auxiliasse bem isso da, tanto para ver os ciclos enquanto algo que positivo, mas que hoje na realidade tambm tem as suas precariedades, que na verdade no tem que se extinguir, mas que acho que se discutir para procurar melhorar para que a gente avance como um todo, ento acredito que sim (Professor 6)
Os professores que colocam em termos, se posicionam dessa forma por compreender o processo de formao como contnuo e tambm retomam o aspecto da implantao desarticulada da formao de professores fazendo com que, at hoje, ainda sintam-se perdidos ou no completamente inseridos nesse modelo. Os professores apontam:
[...] so muitos aspectos a serem trabalhados dentro do ciclo, ento, considerando isso, eu acho que precisaria de uma formao mais centrada [...] no conceito de ciclo, de como que ele funciona, ser que ciclo mesmo, ser que no. E avaliar mesmo, para o professor ter noo e avaliar a prtica dele [...] pra poder verificar se ns estamos mesmo trabalhando nessa concepo de ciclo ou se ainda existem muitos resqucios e muitos elementos do seriado na escola. (Professor 1)
[...] em termos, preparado a gente nunca est. J me deu mais agonia [...] hoje eu me julgo um pouco melhor preparada. preciso melhorar muito, mas eu consigo ter um olhar diferente [...] eu acho que o ciclo tem que melhorar muito, mas eu acho que pelo menos ele sinalizou alguma coisa de melhor. Ento eu estou junto com o ciclo, eu estou crescendo, ainda falta muito, mas acho que por isso coloquei em termos, porque eu sinto melhor. (Professor 2)
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[...] na minha formao inicial eu no tive nenhuma [...] formao. O contato que a gente teve com a idia de ciclos foi atravs dos estudos coletivos [...] hoje assim que eu tenho feito, participar dos cursos de formao que a rede oferece, de outros que aparecem no sentido de me preparar para entender, compreender a proposta, saber como que a EF pode contribuir dentro dela. (Professor 4)
As informaes extradas desses professores acima demonstram certo desconhecimento do sistema de ciclos, por falta de esclarecimento, por falta de uma formao adequada e que isso pode ser melhorado pelo processo de formao contnua. Sobre a formao de professores, Arroyo (1999, p. 144) chama a ateno para a questo de como o imaginrio do sistema seriado conduz nossas aes como professores e nos levam resistncia pela sensao de ameaa que a ruptura com esse modelo nos traz.
Para o sistema seriado fomos formados e ele terminou nos formando e deformando. Trazemos suas marcas em nossa pele, em nossa cultura profissional. Desconstruir a organizao seriada e sua lgica desconstruir um pedao de ns. Os ciclos ameaam nossa auto-imagem.
Como se observa, est presente certo conservadorismo em torno da proposta que norteia a concepo de ciclos dentro da ao formativa do professor, seguindo a lgica do seriado. O projeto de formao de professores est preso concepes de que a formao se d em si mesma, como ato acabado e nunca durante a prpria atividade docente. Essa concepo de educao precedente polariza a vida em dois tempos: de aprender e de fazer, de formao e de ao (ARROYO, 2009, p. 146). O autor chama ateno para essa perspectiva de formao que nos coloca em uma lgica de adeso de competncia imediatista, onde s interessa aprender o que os prepare para tarefas concretas, para intervenes pontuais (ARROYO, 2009, p. 147) e desfigura a identidade do professor, sendo a formao voltada para ser um profissional prtico que soluciona problemas cotidianos. Distorce a papel social do professor e sua funo histrica na sociedade, que entendemos aqui como socializao de conhecimentos, ampliao de conscincia e formao humanizadora. No entanto, as concepes que abarcam os ciclos sugerem a superao desse modelo para justamente o processo de formao ocorrer tambm diante dos 54
elementos concretos, da realidade escolar e das necessidades reais em torno da educao, da escola e da sociedade. Ao levantar esses elementos sobre a formao precedente dos professores, no se quer desconsiderar a base terica e nem os conhecimentos historicamente construdos acerca da realidade da escola e da formao, mas entender que esses conhecimentos precisam se articular com a realidade concreta da escola e estar inserida em aes coletivas dos professores. Perrenoud (2004) j alertava sobre as consequencias da implantao arbitrria de uma proposta
Se os professores no estiverem convencidos, no se poderia esperar que se empenhassem em desenvolver novas competncias. Se os ciclos lhe forem impostos, sem a sua adeso, eles se limitaro a adaptar marginalmente suas rotinas, procurando recriar um ambiente de trabalho estvel, no muito diferente de seus hbitos. (p. 4)
A partir dessa anlise do autor, torna-se possvel identificar o grupo de professores que se encaixa nessa forma de agir. A questo do convencimento dos professores ao modelo de ciclos tem relao direta com a viso de mundo de cada um e de suas opes polticas e ideolgicas. Razo pela qual as finalidades, a metodologia, a avaliao se transformarem em aes pessoais e segundo a viso de sociedade que cada um tem para si. Cabe destacar tambm que a formao ocorre em toda parte, nas aulas e nos seminrios, em campo e nos dispositivos de formao que levam os diversos tipos de formadores a trabalharem juntos (PERRENOUD, 2002, P. 23). No ltimo aspecto trabalhado em relao as questes gerais dos ciclos, levantou-se consideraes fundamentais acerca da percepo e compreenso dos professores da rede municipal de ensino. Os aspectos foram: Sociabilizao entre alunos de diferentes faixas etrias; Dinamicidade no processo ensino e aprendizagem; Aprendizado ampliado a partir das diferentes experincias dos alunos; Tempo pedaggico ampliado que promove maior possibilidade de apredizagem; Maior interao entre a comunidade escolar. Coube a cada professor emitir respostas de acordo com a ordem de importncia. Nessa questo, as respostas foram bem variadas, como apresentadas na tabela a seguir:
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QUADRO 3 - Aspectos relevantes no processo de formao
Nesse quadro destacam-se conflitos e divergncias entre os professores quando de suas respostas. Um dos professores (3) foi enftico em afirmar que esses elementos no existem na atual realidade escolar, quando aparecem se identificam mais com o modelo de escola seriada. Dois professores (5, 6) coincidiram com a mesma sequencia de importncia. Outros (1, 2, 4) apresentaram variaes em suas respostas. Por fim, todos os professores afirmaram que o fator menos importante dos cinco est na relao da escola com a comunidade. O principal ficou entre o tempo pedaggico ampliado (2, 4) e sociabilizao entre alunos de diferentes faixas etrias (5, 6). Um dos professores justifica sua escolha:
o aspecto mais importante que a essncia da proposta em ciclo, o tempo pedaggico ampliado, que possibilita maior possibilidade de aprendizagem. A questo do ciclo flexibilizao de tempo e espao da 1 Item 2 Item 3 Item 4 Item 5 Item Prof1 Dinamicidade no processo ensino e aprendizagem Sociabilizao entre alunos de diferentes faixas etrias Aprendizado ampliado a partir de diferentes experincias dos alunos Tempo pedaggico ampliado que promove maior possibilidade Maior interao entre a comunidade Prof2 Tempo pedaggico ampliado que promove maior possibilidade Dinamicidade no processo ensino e aprendizagem Sociabilizao entre alunos de diferentes faixas etrias Aprendizado ampliado a partir de diferentes experincias dos alunos Maior interao entre a comunidade Prof3 Esse professor considerou que esses tpicos no condizem com a realidade ou, quando ocorrem, se assemelham com a escola seriada. Prof4 Tempo pedaggico ampliado que promove maior possibilidade Dinamicidade no processo ensino e aprendizagem Aprendizado ampliado a partir de diferentes experincias dos alunos Sociabilizao entre alunos de diferentes faixas etrias Maior interao entre a comunidade Prof5 Sociabilizao entre alunos de diferentes faixas etrias Aprendizado ampliado a partir de diferentes experincias dos alunos Tempo pedaggico ampliado que promove maior possibilidade Dinamicidade no processo ensino e aprendizagem Maior interao entre a comunidade Profess6 Sociabilizao entre alunos de diferentes faixas etrias Aprendizado ampliado a partir de diferentes experincias dos alunos Tempo pedaggico ampliado que promove maior possibilidade Dinamicidade no processo ensino e aprendizagem Maior interao entre a comunidade 56
escola, no mais rgido um ano para aprender e pronto, se no aprendeu fica retido. (Professor 4)
Como segundo elemento mais importante destaca-se a questo da dinamicidade do processo de ensino aprendizagem e aprendizado ampliado a partir de diferentes experincias dos alunos. Em terceiro, o tempo pedaggico ampliado e aprendizado ampliado e, em quarto, a dinamicidade do processo de ensino aprendizagem. Cinco professores apontaram a maior interao entre a comunidade escolar como ultimo aspecto. Em seus depoimentos, podemos esclarecer o motivo:
Porque o ciclo embora ele fosse possvel, a escola ainda no chegou l nessa interao com os pais. Culpa de ambos, tanto dos pais como da escola que ainda no criou meio de trazer a comunidade pra dentro da escola. O que vejo nos pais eles no ver na escola uma possibilidade de mudar o futuro de seus filhos [...] Eles no vem o papel da escola como uma forma de mudar a realidade da criana. Eles vem na escola uma mera formalidade na formao das crianas, mas que no fim das contas ele vai acabando repetir a histria. Ento se eles no vem o sentido da escola a criana tambm no ver o sentido pra sua vida, no ver um significado, uma funo social. E isso vai se repetindo e a escola no cria momentos pra fazer essa formao com os pais, esse trabalho de sensibilizao dos pais sobre a importncia da escola para o futuro da vida, no presente,no futuro dessas crianas. Ento ai uma via de mo dupla. (Professor 4)
Esse depoimento representa, em razo de outros dados da pesquisa, uma resposta muito prxima dos demais professores, culpabilizando a famlia por esse distanciamento, especialmente por no entender o papel social que a escola vem desempenhando para a formao dos filhos. Um dos professores considera que nenhum desses elementos existe na escola:
Isso aqui em relao ao que acontece ou o que seria a teoria? [...] Por exemplo, aqui, socializao de diferentes faixas etrias. Eles acabam que cada turma est fechada ali na sua srie ento, essa sociabilizao nas diferentes faixas etrias, teoricamente deveria ser porque seria por ciclo todo mundo teria que conviver com todo mundo, na prtica isso no acontece. [...] Dinamicidade no processo de aprendizagem talvez pelo fato de no ter que estar seguindo aquele livro, voc pode est indo e voltando de acordo com o que voc acha necessrio, mas as disciplinas que tiveram livro continuam tendo livro e muitos professores seguem aquele livro ento at onde teria essa dinamicidade... Aprendizado ampliado a partir dos diferentes tipos de alunos, esse aqui seria pra mim o mais importante mas, no tem como te afirmar que ele te acontece ou no e esse seria o nmero 1. Tempo pedaggico ampliado num tem isso! Por que voc pode pegar um horrio, o horrio igual do seriado, igualzinho [..]no tem isso no. E essa 57
maior interao entre comunidade escolar apesar de ter-se abertura para isso a comunidade ainda no est dentro da escola (Professor 3)
Nesse tpico da pesquisa a inteno foi de identificar, a partir dos depoimentos dos professores, a lgica ou o foco principal de orientao de suas aes pedaggicas e consequentemente, qual o caminho que a escola est se dirigindo. Como toda educao pressupe uma ao intencional do educador na formao do aluno, as escolhas podem deixar transparecer o grau de compreenso que se tem sobre esses aspectos pedaggicos e, tambm, suas concepes educacionais. Dentro da literatura e dos documentos oficiais utilizados nessa pesquisa, estes eixos investigados juntos aos professores fazem parte dos ciclos que esto implantados nas escolas, portanto, so partes estruturantes e essenciais de uma configurao de ciclo. O desconhecimento da complexidade da escola e dessa estrutura bsica de ciclos pode gerar o grande desnimo por parte dos professores e uma dissociao entre a concepo de ciclo e a prtica concreta dos professores na escola.
3.2 O processo de avaliao
O tema avaliao sempre foi considerado como um dos elementos centrais do processo de aprendizado do aluno, instrumento de referncia dos professores para mensurar o mtodo de ensino e um dos fatores decisivos para progresso dos alunos nos vrios nveis de escolarizao. S isto j demonstra a importncia do que seja avaliar conhecimentos, a importncia dos processos avaliativos formais e o tipo de compreenso do que seja o papel da avaliao dentro da educao. No caso especfico da proposta de Ciclos de Formao e Desenvolvimento Humano a avaliao objetiva valorizar o aluno dentro de diferentes dimenses: fsica, psquica, cognitiva, afetiva, tica, esttica, social, emocional, dentre outras. A partir desses pressupostos se questionou aos professores sobre o que eles pensam dessa proposta. 58
De modo geral, os professores pensam que valorizar os alunos em sua totalidade positivo, porm esbarram em questes objetivas do cotidiano e da prpria Secretaria de Educao que prioriza o aspecto cognitivo em detrimento das demais dimenses formativas. Os professores tambm falam sobre a dificuldade em dominar essas dimenses inclusive no campo conceitual e no esto preparados para trabalhar dentro das condies que lhes so oferecidas na escola hoje. Veja alguns exemplos:
Eu penso que so muitos elementos a serem dimensionados numa proposta, muitos mesmo. Que alguns deles, as vezes o profissional que est na escola no tem nem condies mesmo concretas de fazer isso. Por exemplo, nas questes psquicas ou outras. Mas eu penso que precisava talvez de uma formao mais direcionada em relao a isso. Porque essa totalidade a, pra abranger todos esses elementos, a gente precisa conhecer o que cada um deles, ou pelo menos alguns deles que estejam... na verdade todos eles esto ligados a questo cognitiva. Se a criana tem um problema, esses problemas acabam influenciando na aprendizagem, no aprendizado delas. Eu penso que no fcil lidar com todos esses elementos (Professor 1)
Eu acredito que a melhor proposta que existe, valorizar o aluno nessa totalidade mesmo, se isso aqui de fato ns conseguirmos fazer isso, essa a educao que eu penso, educao de primeiro mundo, educao para o futuro.[...] Mas se ns caminharmos e ver o que est errado e conseguir aparar as arestas por esse caminho mesmo, porque no tem como mais eu acredito analisar o aluno s cognitivamente. (Professor 2)
avalia-se mais, valoriza-se a parte cognitiva. Tenta-se estar prestando ateno tambm nesta parte social, emocional. Acaba que ns, s ns, da escola no conseguimos. A onde a gente cobra dos outros profissionais dentro da escola para estar ajudando, porque acaba que voc professor, psiclogo, policial, me, muitas vezes mais me que professor, ento s vezes... as dimenses ficam perdidas, elas ficam a todo momento, a gente sabe que elas teriam que ser observadas, teriam que ser avaliadas, mas a gente no consegue fazer. (Professor 3)
[...] o sistema de ciclos a gente procura tentar valorizar todas essas dimenses apesar de alguns desses itens citados aqui acabaram sobrepondo outros. Ento por exemplo, acho que existe uma preocupao, apesar de o ciclo de preocupar em todas essas dimenses, tem uma preocupao muito no lado do aprendizado do aluno na parte cognitiva, uma cobrana [...] ento de certa forma por conta dessa avaliao da prova Brasil de outros meios de avaliao da secretaria municipal de educao, tambm acaba que se preocupa l muito do lado disso dele ler e escrever, e de certa forma dando nfase a isso agente esquece as vezes de trabalhar mantendo questes que so importantes como questes sociais, emocionais, ticas ,afetivas ento de certa forma cria-se muito essa coisa engessada em torno desse aprendizado em torno da leitura e da escrita e esquecendo das outras dimenses. (Professor 6)
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Este conjunto de informaes permite afirmar que todos os professores esto de acordo com o processo de avaliao exposto no documento da secretaria, porm fazem observaes acerca do que acontece na prtica dos professores e da escola como um todo. Embora que todos concordem com as diferentes dimenses da avaliao existem vrias crticas quanto ao trato dado a cada uma dessas dimenses. Por exemplo, o professor 5 acha que esse sistema de avaliao trata o aluno de forma assistencialista passando a mo na cabea dos alunos usando essas dimenses como forma compensatria das fragilidades de aprendizagem do aluno. Outros dizem que essa forma de avaliao, mesmo abrindo um leque de possibilidades acaba por priorizar os aspectos cognitivos. Eles denunciam tambm a falta de competncia para avaliar determinados aspectos j que no possuem domnio pedaggico e mesmo profissionais na escola para fazer isso. Freitas (2003) aborda a questo da avaliao como produto da escola, ou seja, como os elementos do processo avaliativo revelam o perfil real da escola e do trabalho docente. Assim, a prpria dificuldade dos professores em realizar uma avaliao voltada para as concepes progressistas, pode apontar que a escola ainda no alcanou esse objetivo. No ciclo de organizao escolar est previsto o princpio da formao ampla, plena, que valorize o aluno em diferentes dimenses, portanto, tem que avaliar este processo, pois as dimenses tm papel importante no processo educativo. Cabe aqui ressaltar que valorizar no possui, na prtica dos professores, um significado crtico de transformao da realidade ou que modifica a viso de mundo dos alunos. O que se percebe por parte dos professores que a cognio acaba por ser o elemento chave de todo o processo, pois toda ao acaba por explicitar esta preocupao. Embora essas dimenses da avaliao se apresentem de forma complexa para a escola, cabe mesma proporcionar espaos diferenciados para o desenvolvimento dessas prticas pedaggicas. A escola ao propor essas experincias avana no sentido formativo, para alm da escola seriada e contribui com a formao mais ampla dos estudantes dentro da escola. Nessa direo a escola, alm do carter especfico dos contedos a serem ensinados, pode auxiliar na construo do conhecimento formal e de outros elementos presentes na vida pessoal e cultural. Nessa questo cabe resgatar o papel da escola para no cairmos no carter assistencialista, onde a escola apenas um lugar de acolhimento enquanto os pais 60
esto trabalhando. O que pode desencadear essa associao seria a adeso da progresso continuada no sistema de ciclos que historicamente conhecida como forma de compensar as desigualdades sociais (FREITAS, 2003, p. 23). Nesse sentido que reforamos a necessidade de compreenso da proposta em sua totalidade para no cairmos em reducionismos por questes pontuais. A avaliao qualitativa representa um avano importante do modelo de ciclos, contudo, os professores demonstram dificuldade em lidar com esses novos processos. A organizao escolar em ciclos contm a progresso continuada e no se limita a ela, a prpria estruturao aponta o preparo e a disposio dos recursos que articulados propiciam condies de aprendizado. Os professores apontam abaixo problemas decorrentes da progresso continuada:
[...] os problemas da escola no deixaram de existir a partir do momento que se implantou o ciclo. Os problemas sociais, os problemas de aprendizagem, as dificuldades que a gente tem que lidar, esses problemas das crianas que a escola tende de fazer avanar no mudaram muita coisa com a realidade do ciclo aqui em Goinia. Porm, o que acontece no sistema seriado? A criana no aprende, ela repete o ano, depois ela repete de novo, at que ela evade da escola e no entra nas estatsticas de no aprendizagem, ela simplesmente entra nas estatsticas de evaso e isso mascara quais so os reais problemas da educao pblica hoje. Ento com o sistema de ciclos esse problema est ali, exposto, dentro da escola por que a criana [...] continua ali, aluno da escola, do professor, das pessoas que so responsveis por esse processo, ento ele representa um avano. (Professor 4)
Como posicionamento contrrio ao depoimento acima, destaca-se a fala dos professores:
[...] ento agora um simples passar [...] muito doloroso para quem est dentro, voc ver o aluno concluir o Ciclo 3, a ltima etapa do Ciclo sem saber nada ou j entrar na escola em uma turma H porque ele tem a idade de turma H e nunca estudou na vida dele. Ele vai terminar em uma turma I sem aprender nada porque no pode reter, s por no final de cada ciclo. Ento, se ele chegou na escola, primeiro ano dele na turma H ele vai ficar retido um ano ento o processo dele de alfabetizao no ensino fundamental se daria em trs anos que a gente sabe que dificilmente vai ser possvel conseguir fazer isso, ento isso deixa, eu acho, que uma grande desvantagem em relao isso e no consegue fazer o que o ciclo se prope fazer. (Professor 3)
[...] s sei que o ciclo ele vem fracassando e vem levando as crianas ao atraso escolar que antes no se percebia, eu no tive a oportunidade de trabalhar muito tempo na escola seriada na prefeitura, mas os relatos que eu ouo de professores, de vrios professores que no havia uma defasagem to grande assim no aprendizado. Ento a partir disso hoje eu 61
sinto e posso presenciar a defasagem das crianas em relao ao sistema seriado mesmo na escola pblica. (Professor 2)
O primeiro depoimento retrata a importncia da manuteno do aluno na escola e continuidade do fluxo que permite enxergar os reais problemas educacionais. Os dois ltimos destacam que a progresso continuada nos ciclos causa esses problemas educacionais e agravam a dificuldade do aluno. Diante desses posicionamentos dos professores, bastante comum entre os professores que vivenciam o sistema de ciclos, principalmente ao que se refere progresso automtica, vale a pena destacar algumas questes que merecem reflexo. Isso porque o problema da defasagem escolar aparece em alguns momentos como um problema gerado exclusivamente pelo modelo de ciclos. Ao nos reportarmos histria, possvel identificar que o fracasso escolar vem ocorrendo ao longo do tempo, principalmente pelo descaso do Estado com a aprendizagem da criana na escola pblica. O modelo de ciclos no se prope a tratar elementos de forma imediatistas, mas possibilita contribuir com a ampliao de possibilidades de ensino e de aprendizagem. Cabe retomar a questo da valorizao do aspecto cognitivo e avaliao qualitativa pois se percebe que nos dois ltimos depoimentos os professores ainda esto presos questo do ler e escrever sem se dar conta de que a continuidade do fluxo proporciona outros aprendizados que advm das relaes socioculturais, possibilitada pela interao entre os alunos da mesma idade e da ampliao do desenvolvimento da linguagem. A questo dos avanos dentro das possibilidades e limites do aluno tambm desconsiderada por haver um padro pr-estabelecido no imaginrio que no compreende que o avano mnimo tambm avano. Esses casos de alunos que estiveram fora da escola at o ciclo III e entram ficam deslocadas so excees escolares. Se a escola se prope a identificar os problemas de aprendizagem do aluno para resolv-los, ento porque a necessidade de resgatar um dispositivo de poder que mascara a excluso, como o caso da avaliao tradicional? Krug (2001, p. 49 - 50) coloca que a reprovao provoca um aumento na dificuldade de aprender, o reforo de suas dificuldades. Afirma ainda que os professores que nunca lidaram com alunos homogneos no sistema seriado, por isso, no podem esperar esse carter dos ciclos que ressaltam a importncia da diferena. Freitas (2003) coloca que os ciclos procuram contrariar a lgica da escola 62
e sua avaliao. S por isso, j devem ser apoiados. E isso deve de fato ser levado em considerao, j que a simples possibilidade dos alunos no ser privado de situaes de aprendizado pode ser um avano, mas para isso a escola deve se utilizar de outros mecanismos tambm. Nessa questo h trs prticas e aes interligadas sobre os espaos de aprendizado da criana, mas que devem ser analisados separadamente: a reteno, reagrupamentos e atendimentos individualizados. Em relao aos parmetros para realizar a reteno nas escolas, cinco professores (1, 3, 4, 5, 6) disseram que ocorre baseado nos objetivos dos ciclos com o parecer do apoio pedaggico da rede. O professor 2 aponta que a escola organiza-se por notas para realizar a reteno ou no, porm passa pela mesma superviso do suporte pedaggico da prefeitura. Segundo os professores, o apoio pedaggico serve como supervisor das retenes de modo a averiguar os reais motivos e reduzir ao mximo os ndices de reteno. O professor 1 diz que o aluno retido em uma condio assim em que ele no conseguiu avanar praticamente [...] que ele conseguiu avanar muito pouco em relao ao que se espera. Em relao aos objetivos que a gente espera que ele alcance de uma forma geral. Quando a escola indica um estudante para reteno, deve-se fazer uma ficha com base no desenvolvimento do estudante no decorrer do ciclo, para comprovar que ele no possui condies de avanar e um projeto de trabalho para o estudante realizar no ano seguinte. Essa organizao nem sempre de interesse da escola, pois para ele ser retido tem que ser feito um monte de aes do porque que ele foi retido, o que voc fez que ele no conseguiu passar. Ento isso d mais trabalho para a escola do que no reter (Professor 5). O apoio pedaggico age de modo a identificar os avanos de qualquer grau, para no reter o estudante. A criana s no passa se de fato no alcanou nada do que proposto para o ciclo, ou seja, fica retido aquele aluno que no demonstrou, no melhorou cognitivamente nada, e esse nada foi por falta de interesse. Aquele que melhorou 1% porque foi o que ele conseguiu, ele passa (Professor 3). Aparentemente esse apoio pedaggico no bem visto pelo professores j que o objetivo dele est mais voltado em manter a rede dentro das estatsticas de reteno do que averiguar se o estudante est em condies ou no de continuar o fluxo. Por outro lado, temos tambm a presso coordenao e aos professores para que o processo de reteno do aluno seja mais coerente, que no seja um 63
processo banalizado. Para o aluno ser retido toda uma avaliao minuciosa sobre o desenvolvimento do aluno que precisa ser considerado. Ao analisar essa questo pode-se perder pelas suas dimenses. Primeiramente pela questo dos espaos que deveriam proporcionar o desenvolvimento do aluno, aparentemente no estarem dando conta das demandas de defasagem na escola, o que implica o retorno do debate sobre a retirada somente da reprovao no possibilitar o ensino ao aluno. Em segundo plano, temos a reteno como retomada da reprovao e a lgica da escola e da avaliao restabelecida (FREITAS, 2003, p. 48) Esses apontamentos realizados pelos professores provocam questionamentos que condizem com as concepes que essa pesquisa procura explicitar ao longo do trabalho. No decorrer do dilogo, os professores se colocam a favor de uma educao de qualidade, de procedimentos avaliativos qualitativos e da importncia de compreender o aluno em sua totalidade. No documento da prefeitura a avaliao ressignificada e apontada como forma de perceber o processo do aluno e fundamentar as prticas dos professores. Como os professores ainda se colocam a discutir a necessidade dessa reteno se a questo geral dos ciclos deixar o aluno ficar mais tempo na escola para ter o mximo de acesso aos conhecimentos possveis? Como ainda a discusso pode estar em torno de medir esse conhecimento, sendo que o significado desse aprendizado pode ser muito maior para o aluno que aprende? A necessidade de outros recursos e mecanismos para possibilitar a aprendizagem a prpria dinamicidade dos processos de aprendizagem apontada nos ciclos. Para isso, a pesquisa tambm buscou identificar o funcionamento desses espaos que o caso dos reagrupamentos e atendimentos individualizados. Quanto ao reagrupamento, quatro professores (1, 2, 4, 6) afirmam desenvolver os reagrupamentos nas escolas que trabalham, sendo cada um com suas caractersticas e especificidades, como o caso da escola do professor 1 que aponta: ns s vezes chamamos de oficinas pedaggicas [...] pra tentar organizar isso de uma outra forma que consiga alcanar esses objetivos. No geral, os reagrupamentos so realizados a partir de um diagnstico com foco na escrita, leitura e matemtica bsica. Aps esse levantamento, os alunos so direcionados para o reagrupamento adequado. O professor 4 descreve parte do processo:
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[...] na sexta feira antes do recreio, agente faz um reagrupamento que envolve todos os agrupamentos e onde cada professor d uma oficina, seja na rea de, tirando a minha que chama-se ritmo e movimento, a dos demais esto relacionadas s duas reas: matemtica e portugus. Ou para aqueles alunos com muita dificuldade voltado pra alfabetizao e letramento, outros na rea mais de interpretao, outros mais na rea de matemtica (Professor 4)
Os professores que informam que as escolas em que atuam no realizam agrupamento (3, 5), justificam:
Reagrupamento... No acho que funciona. trabalho a mais que a gente tem [...] Se o aluno no quer aprender e se ele no tem ajuda dos pais. Voc pode ensinar [...] que tambm no vai surtir efeito nenhum [...] (reagrupamentos) A gente achou que no tem necessidade. (Professor 5)
[...] toda vez a gente planeja, mas no conseguimos. Esse ano ainda no saiu nenhum. Estamos em junho e reagrupamento a gente no fez nenhum, mas o reagrupamento seria aquela proposta de que ia dividir os meninos, ou por grau de dificuldade ou misturando essas dificuldades, a gente sabe que eles, conversando entre os pares, o que o professor, fala no entendido, o seu par ali explicando, s vezes o entendimento sai melhor, ento a proposta do reagrupamento seria dessa forma mas, ns, l, na minha escola, a gente no conseguiu fazer nenhum. (Professor 3)
Nos depoimentos os professores apresentam motivos diferentes para a no realizao dos reagrupamentos. No primeiro, a organizao da escola e os contratempos no permitem a concretizao da proposta. O professor at aponta que no incio do ano realiza-se o planejamento dos reagrupamentos, mas como foi mostrado, eles no conseguem realiz-los. J no primeiro recorte, a prpria escola no sente necessidade e no considera importante para o aluno a realizao desses reagrupamentos. Aqui importa ressaltar a relevncia de colocar a lgica dos ciclos ao se proporem como reorganizao do tempo e espao escolar para possibilitar melhor aprendizado do aluno. Nisso, entra os reagrupamentos. So momentos oferecidos pela escola para potencializar e desenvolver no aluno aquilo que necessrio para atingir os objetivos dos ciclos. Portanto, para alm de uma sala de reforo, um espao em que o aluno tenha oportunidades. A indiferena da escola ou a no prioridade dada a esse aspecto do ciclo esclarece as possveis problemticas dos alunos quanto defasagem j que este espao fundamental para o trato com as dificuldades dos alunos. 65
Ao contrrio dos reagrupamentos, todas as escolas realizam, bem ou mal, os acompanhamentos individualizados principalmente por permitir ir direto aos alunos que possuem problemas alarmantes ou que j esto bem avanados. A professora 4 apontar que nos dias de estudo os professores do atendimento individualizado para aqueles casos mais graves. Abaixo temos outros depoimentos:
[...] ainda h os atendimentos individualizados, so aqueles alunos que constantemente foram identificados na defasagem de leitura, defasagem escrita, o raciocnio lgico-matemtico para aquele determinado momento e aquele aluno que no acompanha a turma ele atendido individualmente [...]durante o dia ele retirado. Ns temos, tentado amenizar o mximo possvel, para que ele no perca tambm o que est sendo dado l e bom tocar nesse assunto, porque h um empenho severo nessa aspecto aqui, porque sempre se dava nos horrio de educao fsica, a eu bati na tecla de que no, a educao fsica tambm currculo, tambm tem matria que tem que ser dada. (Professor 2)
Faz uma prova, a gente pede pra ele fazer uma leitura, fazer uma interpretao do que ele leu, escrever alguma coisa, fazer umas mnimas contas e a partir da a gente v se ele precisa ou no. [...] hoje na minha escola so 6 turmas e somos 8 professores, ento geralmente tem dois professores de fora todos os dias e esses momentos que ele est de fora ele tem que estar planejando, e teria que estar fazendo este atendimento. S que ns no damos conta [...] Vai s o individualizado, aos trancos e barrancos por causa da falta dos colegas, acaba que o seu horrio de atendimento, que seria fora do seu horrio do seu dia de estudo, um ou outro professor tem esse perodo, que seria fazer esse atendimento, e vai priorizar esses alunos, mais difceis quando se tem condio de dar. Posso te dar um exemplo, eu tenho um horrio de atendimento, eu dei uma aula, desde janeiro at agora, eu consegui dar uma aula de atendimento os outros, tudo entrando, tudo substituindo, ento fica complicado. (Professor 3)
Esses apontamentos realizados podem ser denncias, como podem ser justificativas pela no importncia dada ao espao. Estes espaos dinmicos da escola de ciclos objetivam proporcionar diferentes formas de aprendizado, por isso no podem ser reduzidos salas de reforo da escola tradicional. Ainda v-se a escola presa ao imediatismo do ler e escrever e no comprometido com a formao plena dos estudantes.
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3.3 Trabalho Coletivo
Durante os dilogos realizados com os professores foi possvel identificar depoimentos que validam a necessidade da ao coletiva, enquanto um elemento central para a efetivao e realizao do modelo, mesmo que em alguns momentos aparea para os professores como uma conquista distante. Constantemente os comentrios denunciam a complexidade do trabalho na escola e a dificuldade dos professores em efetivarem sozinhos os objetivos dos ciclos, cuja exigncia fundamental de que todos trabalhem juntos. Dentro dessa questo, perguntamos aos professores a participao dos pais na escola, a relao de sociabilidade e interao entre professores e alunos e o trabalho coletivo existente na escola em que trabalham. A respeito da participao dos pais na escola em reunies, planejamentos, construo do PPP, gesto, festas comemorativas, movimentos em defesa da escola e conselho escolar, analisemos o quadro a seguir:
QUADRO 4 - Participao dos Pais na Escola
De forma geral, se observou que os pais participam em parte das questes que envolvem a escola. Apesar de haver questes respondidas como sim, os Reunies Planejamento PPP Gesto Festas Mov. defesa da escola Conselhos Prof1 P P P P S P S Prof2 S P P P S P S Prof3 N N N P P S P Prof4 P N N N S N P Prof5 P N N N S P P Prof6 P P P P S P S (S) sim (N) no (P) - parcialmente 67
professores descrevem dessa forma pelo aumento, mas no por todos os pais estarem presentes. Na maioria das respostas que os pais participam parcialmente, os professores explicam que a resposta pelo fato de o nmero de pais no ser reduzido zero, mas mnima. As respostas tidas como no, so porque, de fato, os pais se demonstram ausentes nesse processo. Em relao participao dos pais nas reunies, planejamento, PPP e gesto, os professores apontam que eles vo pela necessidade colocada pela escola, poucos pais so interessados de fato. O professor 1 afirma em seu depoimento: eu penso, eu avaliando que efetivamente ainda muito restrita a participao deles nessas decises ou nessa compreenso do que seja o projeto poltico pedaggico da escola e o qu que seus filhos esto aprendendo na escola. Nesse aspecto, preciso olhar mais fundo para identificar qual o motivo dos pais no se fazerem presentes. O professor 5 apresenta sua viso:
Bem pouco. Ta faltando muito. Os pais praticamente deixaram a criao dos alunos pra escola. E eles no cobram dos seus filhos as atividades, eles no cobram tarefa de casa, eles nem olham pra ver se tem ou se no tem. Acabou. Os pais passaram totalmente a responsabilidade para a escola.
Em relao aos conselhos escolares, a secretaria exige a participao de um responsvel dos educandos de ter um cargo no conselho, mas muitas vezes sua participao tida como passiva, como apontada na fala do professor:
Os pais, geralmente quando tm as reunies na escola, eles participam em parte. Muitos participam s vezes at de uma forma passiva vai l para ouvir, alguns manifestam algum comentrio a respeito sobre o que agente estiver debatendo, mas a participao deles assim as vezes eu percebo muito quando eles so chamados para resolver algum problema de seu filho dentro da escola ou na entrega de boletins que eles vo buscar esses boletins e ai o tempo que o professor tem para conversar com eles alguns as vezes participam querendo l pegar o boletim e no caso j ir embora as vezes no tendo tempo para ouvir sobre a educao de seu filho. Ento eu vejo que a participao deles assim ele acaba de certa forma sendo em relao as discusses da escola mais como ouvintes e em relao aos seus filhos muitos vo geralmente l pra saber quando so solicitados pela coordenao ou pela prpria escola. Existem muitos pais que so ausentes e existem os pais tambm que por conta das suas obrigaes em relao ao trabalho no podem estar to presentes. (Professor 6)
interessante notar que so nos movimentos em defesas da escola e nas festas comemorativas onde os pais esto mais presentes e de forma ativa. Pode-se arriscar dizer que o fato dos pais estarem presentes em alguns espaos especficos 68
e em outros no, se refere no aos desinteresses pela educao de seus filhos, mas por perceberem como desnecessrios dentro da escola no que convm s questes pedaggicas e organizacionais. Cabe lembrar que os pais vieram de uma realidade escolar hierarquizada e autoritria onde o professor detinha o conhecimento e a ele cabia toda a ao educacional, por isso, compete a escola desfazer-se dessa idia buscar uma meio aproximao com os pais para se construir um projeto compartilhado com a escola. J nos eventos festivos e nos movimentos de cultura popular a famlia podem se sentir mais a vontade e, inclusive, mais teis com algo que de fato eles possam cooperar com a escola. Quanto aos aspectos pedaggicos, a comprovao disto so as questes sobre o posicionamento dos pais acerca do valor positivo dos ciclos e as crticas e/ ou elogios mais freqentes. Todos os professores colocam que os pais esto margem do entendimento dos ciclos e, inclusive, pouco falam sobre o modelo no que se refere criticas ou elogios emitindo opinio apenas quando refere-se avaliao e s questes relacionadas como a reteno ou a ausncia dela e das notas. Como o apontamento do professor 1: porque ns temos agora a questo da nota nas avaliaes. No das avaliaes, porque as avaliaes so feitas, mas existe um boletim e a rede foi muito cobrada em relao a isso, ento pra atender a essa cobrana dos pais e esse entendimento deles, acabou-se organizando um boletim. E tambm do depoimento seguinte: s vezes a ficha est to bem descrita e o que voce v ainda o pai preocupado com a questo quantitativa, quanto que meu filho tirou nessa prova? (Professor 2). Esse carter quantitativo pode ser para os pais a sntese do processo vivido pelo filho na escola como se atravs da nota fosse possvel visualizar claramente o comportamento, as atividades feitas e o quanto foi estudado pelo aluno. Um interessante apontamento realizado pelo Professor 1 pode indicar outra viso dessa mesma questo que no seja somente o desinteresse dos pais:
[...] em alguns momentos eles demonstram que no compreenderam ainda o que o ciclo. E a, parecem assim, que esto vivenciando mesmo o seriado que, por outro lado, essa uma viso que eles tm, que pode inclusive estar refletindo a realidade mesmo da escola. s vezes a escola pensa, se organiza, se mobiliza pra trabalhar no ciclo, mas de uma certa forma, isso pode no transparecer. Ento as vezes tem esse entendimento de que no ciclo ou de que ciclo, mas eles esto muito apegados a essas questes do seriado.
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Esse depoimento coloca um ponto de reflexo importante no que se refere s prprias aes da escola e dos professores que podem estar refletindo na viso dos pais sobre esse modelo. preciso ter claro, o que a instituio faz para ter os pais perto da escola, ou o que ela faz quando eles se aproximam? Pois muito se fala do desinteresse dos pais, mas como o dilogo est sendo conduzido? Quais aes ou espaos a escola organiza para realizar essa aproximao e diviso de responsabilidades? Quais as aes para o processo de mudana cultural? Se para os professores, que estavam inseridos cotidianamente na escola, tiveram (e ainda tem!) um processo de transio e adeso difcil, inclusive para a compreenso do modelo, o que esperar dos pais, que esto do lado de fora? Freire (2001, p.49) explicita o papel da educao pblica em favor das classes menos favorecidas no sentido de trazer os pais para seu lado:
a que, em lugar de negar a importncia da presena dos pais, da comunidade, dos movimentos populares na escola, se aproxima dessas foras com as quais aprende para a elas poder ensinar tambm. a que entende a escola como um centro aberto comunidade e no como um espao fechado, trancado a sete chaves, objeto de possessivismo da diretora ou do diretor, que gostariam de ter sua escola virgem da presena ameaadora de estranhos.
Dizer por exemplo que os pais s vo escola porque so obrigados no reconhecer a existncia de pais interessados e das condies materiais de existncia de alguns pais trabalhadores, por isso, depende da ao articuladora da escola em traz-los para dentro da escola. sempre recomendvel que se observe as aes desenvolvidas pelas escolas e no simplesmente denunciar a passividade dos pais nos espaos em que so convocados. preciso entender que os pais esto interagindo com a escola e muitas das vezes isto no ocorre apenas pela presena fsica, mas pelos alunos e pelos discursos que produzem nos diferentes espaos em que participam, inclusive nas festas. No se trata de deslocar a famlia para dentro da escola ou a escola para a comunidade. Essa aproximao est no nvel das relaes, das possibilidades de dilogo sincero e de dividir responsabilidades. Abordando o aspecto do relacionamento intraescolar o quadro a seguir ilustra bem a questo:
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QUADRO 5 - Sociabilidade e Interao na escola Prof1 Prof2 Prof3 Prof4 Prof5 Prof6 Sim X No X X Em Termos X X X
Sobre o relacionamento entre professores e alunos, o professor 4 apontou que o modelo de ciclos proporciona a sociabilidade e interao entre os sujeitos. Dois professores (3, 6) colocaram que no e trs professores (1, 2, 5) apontaram que em termos. Eles colocam que por estar com os pares de idade, uma interao tranquila, porque o interesse so os mesmos da ento, eu no sei dizer se s porque ciclo melhor ou pior no (Professor 3), ou ento que em parte, por essa falta de material humano, recurso material. Eu acho que dificulta um pouco (Professor 5). Seguem mais algumas opinies desses professores:
Deveria facilitar essa sociabilidade, essa interao. De criar mesmo essa dinmica na escola em que as pessoas compreendessem que o ciclo ele so vai, ele existe a partir da constituio, a partir da participao das pessoas que esto inseridas naquele processo [...]Ento, a medida que a gente consegue ampliar essa participao, inserir mesmo esses sujeitos nesse espao concreto da escola, de assumir atividades, de assumir tarefas, de participar de algumas decises, eu acho que possvel fazer isso. (Professor 1)
[...] no dia a dia da escola, se mistura muito, se voc entrar em uma escola ciclada hoje, voc no vai saber muita diferena se ela [...] seria seriado ou ciclo. Ento, acaba que vai depender muito do jeito da escola, da minha escola muito tranquila essa questo da interao, mas depende de professor. Porque no tem como eu falar que, eu de educao fsica, a minha relao com meu aluno igual da outra professora de educao fsica com o aluno dela. Ento, que vai muito de professor pra professor, o jeito que ele leva. (Professor 3)
[...] no tive oportunidade de trabalhar [sistema seriado]enquanto professor, eu no sei. Eu acho que tanto ciclo como seriao a relao acho que ela no tem tanta diferena de uma para a outra, eu acho que no ciclo talvez muitas vezes assim a gente percebe as mesmas coisas dessas relaes aqui, dessas interaes aqui que tambm havia entre no sistema de seriao. (Professor 6)
Contraditoriamente, esses depoimentos acima expressam uma interao que at ento era compreendida como restrita e limitada, pois a questo representada no 71
quadro 3 13 deste trabalho aponta que o eixo maior interao entre a comunidade escolar o aspecto menos relevante no modelo de ciclos por ainda ser restrito. Nessas descries dos professores, assim como no quadro 4 14 que descreve a participao dos pais, esse eixo parece avanar na proposta de ciclos. A relao professor-aluno e aluno-aluno, na escola de ciclos, minimamente deveriam ser modificados. At porque, no modelo anterior, havia um distanciamento entre aluno e professor e uma disciplina exagerada que no estimulava o dilogo e interao entre os alunos e entre professores. Contudo, quando os professores apontam que no h modificao nos levam a compreender a prtica desses professores como conservadora, mantendo os valores da educao tradicional, onde no h espaos de discusso e pensamento crtico e contestador, inclusive no h espao para o professor se permitir errar. J a questo de interao aluno-aluno, a prpria alterao na organizao dos agrupamentos objetiva essa maior interao, assim como a estruturao de reagrupamentos que renam os alunos de diferentes agrupamentos, por diferentes interesses que colocam os alunos em contatos com os demais de agrupamentos e caractersticas diversas. Dentre os depoimentos apresentados, quatro (1, 2, 4, 6) professores apontaram que o trabalho coletivo acontece na escola em que minimamente, ele vem-se apresentando em alguns momentos como espaos de construo no cotidiano da escola. Dois professores (3, 5) dizem que ele no acontece, que j tiveram oportunidade de ver esse trabalho acontecer em alguns momentos no passado, mas que atualmente ele no existe na escola em que trabalham, prevalecendo o individualismo e egosmo. Ao analisar os depoimentos vemos a necessidade de esclarecer a concepo de trabalho coletivo que os professores possuem:
[...] j aconteceu, j teve pocas que a gente conseguia trabalhar de forma coletiva, os interdisciplinares, a multidisciplinaridade hoje no acontece. At entre os turnos, tem diferena de trabalho, ento assim muito raramente a gente consegue fazer um trabalho de fato coletivo, na hora de programar alguma coisa todo mundo concorda e na hora da execuo acaba sobrando pra poucos. (Professor 3)
13 Pgina 53. 14 Pgina 65. 72
A escola no tem trabalho coletivo, isso tem no Estado, aqui tem planejamentos pedaggicos. Eu acho que os planejamentos pedaggicos, no acontecem do jeito que tinha que ser, fica falando muito sobre recado. Eu acho que tinha que planejar mais um com o outro, saber o que o outro est dando, pra voc ajudar o outro, por exemplo, na disciplina dele, para ajudar a melhorar, trabalhar a interdisciplinaridade. (Professor 5)
Nesses depoimentos fica evidente que o trabalho coletivo no existe na escola como forma de atividade constante entre professores e entre professores e a comunidade. No primeiro depoente houve mudanas nesse processo. Quanto ao segundo, se detecta uma contradio, por afirmar que somente no Estado tem essa forma de trabalho, pois at o momento das anlises, todos os depoimentos e a prpria realidade do sistema estadual, se mostra o contrrio. Cabe destacar que a escola se constitui em coletivos de alunos, de professores, de pais que no so diferentes, mas possuem especificidades e compe o coletivo maior, a comunidade escolar, mas isso no suficiente para se falar de trabalho coletivo. A escola deve se organizar para, a partir da educao do coletivo, ampliar os conhecimentos e a conscincia das individualidades dos alunos. Para Makarenko apud Capriles (1989) o coletivo est alm de um amontoado de pessoas ou uma concentrao de indivduos, trata-se de um organismo social vivo que se relacionam e se interdependem. Dessa forma, quando se refere organizar a escola para respeitar os tempos de formao e de aprendizagem de cada aluno, no significa deixa-lo sozinho, mas num determinado espao de formao com aprendizados socializados e na prpria relao cotidiana com os demais alunos. Ou seja, a prtica pedaggica a organizao do coletivo, para a educao da personalidade no coletivo e, somente, atravs do coletivo (MAKARENKO apud CAPRILES, 1989, p. 35). Diante do quadro acima parece pertinente questionar qual o conceito de trabalho coletivo para esses professores? E questionar tambm o que vem a ser interdisciplinaridade? Essa incorporao do trabalho coletivo pode ser a parte mais complexa do trabalho docente, mas que ao ser compreendido, educa e reeduca o grupo em aes contnuas. A partir de alguns posicionamentos, pode-se perceber que essa ao algo esperado em todos os momentos da escola, na organizao, no planejamento, na avaliao, nas decises sobre problemas, e conta com a participao de todos. Contudo, mesmo diante das dificuldades, alguns professores 73
se organizam e a escola avana na soluo das problemticas presentes no cotidiano. Assim, em conselho de ciclos, festas, problemas cotidianos, por exemplo, um dos professores exemplifica que quando o grupo se dispe a trabalhar juntos, as mudanas acontecem:
[...] eu percebo assim que o trabalho coletivo, os planejamentos que agente anda tendo, de certa forma eles tm sido at produtivos tanto na questo de planejar, quantos nas decises, no trabalho de organizao da escola. Eu acho que as escolas que eu estou atualmente eu no tenho tanto o que reclamar em relao a isso eu acho que o trabalho coletivo flui. [...] bom a partir desse problema (indisciplina dos alunos) a gente coletivamente construiu algumas idias que foram colocadas em prtica, todo mundo de certa forma cumprindo o seu papel que foi melhorando tanto nos andamentos das aulas quanto na hora do recreio que era um problema. Enfim, acabou de certa forma resolvendo praticamente 80% do problema que antes existia, ento eu acho que o coletivo onde eu ando trabalhando geralmente tem funcionado, tambm nas decises da organizao dos trabalhos que tem acontecidos na escola. (Professor 6)
Essas experincias apontam uma iniciativa positiva e devem ser preservadas com o intuito de estimular o trabalho coletivo na escola, pois a prpria estrutura dos ciclos que pressupe este tipo de trabalho. Induz a organizar e articular os professores com o intuito de possibilitar o dilogo entre as reas e construo de um projeto maior, nico.
3.4 Educao Fsica
Neste tpico sero abordados 15 mais especificamente o trabalho pedaggico dos professores relacionado ao planejamento de aulas, organizao dos contedos, reagrupamentos, metodologia e avaliao dos alunos. A primeira pergunta refere-se ao planejamento das aulas, veja o quadro a seguir:
15 Nesse tpico, algumas questes possibilitavam ao professor mltipla escolha, assim alguns professores optaram por mais de um tipo de referencial. 74
QUADRO 6 - Planejamento das Aulas
Esta questo apresentada aos professores lhes permitiu respostas de mltipla escolha e o resultado assim se apresenta: trs escolhas para os contedos da rea, trs para as diretrizes e uma escolha para nvel de aprendizado tido como ponto de partida dos professores. Trs escolhas para o nvel de aprendizado, uma para os contedos da rea e uma escolha para o trabalho coletivo que identifica esses pontos como secundrios no planejamento. O professor que se baseia apenas no nvel de aprendizado dos educandos para organizar todo o planejamento o faz
[...] porque a prefeitura, apesar de ter as diretrizes, na educao fsica muito aberto e no tem essa cobrana. O que a gente coloca no PPP bem de acordo com o que a gente imagina ser o correto, de acordo com as experincias e tentando partir do nvel dos alunos (Professor 3)
Os outros trs professores que optaram pelo nvel de aprendizado como aspecto secundrio alegam que isto que contribui com as definies do contedo por parte do professor.
Eu coloquei a partir do nvel de aprendizagem dos alunos porque, embora as diretrizes e os contedos estejam ali organizados contemplando todos os contedos, esto ali na diretriz eles so objetivos gerais que contemplam o ciclo I, II e o III, e eu tenho que adequar esses contedos e a forma como eu vou planejar as minhas aulas idade de cada agrupamento. (Professor 4)
Contedos da rea Nvel de Aprendizado dos Alunos Trabalho Coletivo Diretrizes da Prefeitura Prof1 P S Prof2 S P S Prof3 S Prof4 S P S Prof5 P P Prof6 S ( S ) sim ( P ) parcialmente 75
Nesses posicionamentos identificam-se formas de planejamento com caractersticas diferentes e complexas. Elaborar o planejamento somente pelo nvel de aprendizado dos alunos pode levar ao espontanesmo pedaggico, ao interesse do estudante em seu sentido mais restrito. Essa questo apontada gera bastante polmica, sobre uma orientao curricular especfica para cada momento escolar e subdivises como ocorrem em outras disciplinas. Como na educao fsica no se prev o seqenciamento de contedos, embora nas diretrizes, o professor fica mais livre organizar seu planejamento, os contedos e as metodologias de ensino. Cabe ressaltar, que a prpria organizao curricular em ciclos da secretaria municipal de educao de Goinia (2006) aponta os contedos estabelecendo objetivos e temticas mais amplas de acordo com o nvel de complexidade de cada ciclo, permitindo assim aos professores articular os conhecimentos necessrios relacionando a teoria e o nvel de aprendizado dos alunos. Partir simplesmente dos contedos da rea subtende que a base dos contedos a serem socializada parte da matriz cientfica hegemnica, podendo tambm s reproduzir os contedos predominantes na rea, sem levar em conta as caractersticas e os nveis de aprendizagem do aluno. Entende-se que a opo pelos contedos da rea 16 . Os professores que se apiam nas diretrizes da SME justificam sua escolha pelo documento orientador, um incio e por contemplar todos os contedos de acordo com os ciclos. Esse documento destaca-se tambm pela legitimidade que possui j que foi construdo por um coletivo de professores que participavam de grupos de trabalho e estudo organizado aps a implantao dos ciclos. relevante dizer, que alguns dos professores presentes na pesquisa participaram deste processo, porm, a no compreenso do documento e de sua potencialidade, pode levar ao mero reprodutivismo de conceitos e propostas que no ampliam e no avanam em uma educao crtica. O Professor 2 explica o papel do trabalho coletivo no planejamento:
[...] a partir dos planejamentos de cada rea, a gente senta e resolve colocar esse melhor contedo nesse trimestre do que em outro. Justamente por causa do trabalho coletivo a gente sempre procura saber o que as outras reas esto pontuando naquele determinado trimestre, ou ms.
16 Em diferentes estudos os contedos da educao fsica esto sendo substitudos por prticas esportivas, se transformando em contedos hegemnicos na escola. 76
O aspecto acima citado fundamental para o planejamento escolar, por entender que a rea no fica isolada e o trabalho escolar caminha junto. Nessa perspectiva, as diretrizes e o trabalho coletivo se constitui como a perspectiva mais progressista de planejamento de aula, j que vai de encontro ao modelo de ciclos. Contudo, preciso ficar atento em relao ao que foi apontado nesta pesquisa quanto aos conceitos e concepes acerca do trabalho coletivo. Com relao organizao dos contedos, pode ser (quadro abaixo) constatado que:
QUADRO 7 - Organizao dos Contedos Prof1 Prof2 Prof3 Prof4 Prof5 Prof6 Contedos da Educao Fsica X X Psicomotora X X Cultura Corporal de Movimento X Cultura Corporal X X X X X
Em relao s teorias que orientam a organizao dos contedos, cinco escolhas se referiram cultura corporal. Duas escolhas pela alternativa dos contedos da rea prprios para esse modelo. Duas opes esto relacionadas psicomotricidade. Uma est ligada Cultura de movimento. Por se tratar de mltipla escolha, o que permitia aos professores optassem por mais de uma teoria. O quadro se mostra difuso. Trs professores (1, 3, 6) colocaram apenas uma alternativa. Os outros trs (2, 4, 5) escolheram mais de uma alternativa. O professor que escolheu trs opes justifica: Eu utilizo [...] a psicomotora, porque eles tm algumas dificuldades motoras [...] mas mais ligada a cultura corporal, porque uns so diferentes, os movimentos so diferentes um do outro. (Professor 5). Ao analisar as escolhas da organizao dos contedos baseada nas teorias da cultura corporal, os professores justificam por ser a perspectiva que contemplam tudo que foi acumulado dentro da educao fsica, histrica e culturalmente falando (Professor 4). Essa perspectiva tambm serve como forma de contrapor os modelos 77
esportivizados dentro da escola ou as aulas mais livres que no colocam o aluno com o conhecimento mais amplo da educao fsica, restringindo a formao do estudante. Fica evidente nesse estudo que as teorias ligadas cultura corporal so as mais avanadas, por se tratar de conhecimentos da educao fsica no sentido progressista e de relacionar esses conhecimentos a uma perspectiva de superao da realidade da educao e da sociedade. No se trata somente de abordar os contedos do jogo, da luta, da dana, da ginstica, dentre outros, mas entender que os contedos so conhecimentos necessrios apreenso do desenvolvimento scio-histrico das prprias atividades corporais e explicitao das suas significaes objetivas (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 43). A opo desses professores se mostra coerente com as diretrizes curriculares que do suporte organizao dos ciclos. Abaixo, algumas justificativas em torno das escolhas dos professores:
Eu tenho buscado muito as teorias da cultura corporal, tanto que eu sigo aqueles contedos que so colocados, que a cultura corporal coloca eu tenho tentado seguir. Eu passo minimamente pelo menos vivencia prtica quando d, as vezes s visualizao mas, por todos eles. (Professor 3)
Eu organizo como eu te falei, pela parte mesmo da abordagem pela qual eu acredito a partir dos contedos da cultura corporal, ento uma coisa que eu procuro desenvolver com os alunos nessa questo, at mesmo deles saberem o que que a educao fsica trabalha [...]ento eu fao esse trabalho de mostrar sobre o que a cultura corporal, sobre a gama de atividades corporais que agente pode estar desenvolvendo juntos, ento essa atividade acaba sendo produtiva porque as vezes eles [os alunos] vem de um professor que s era uma coisa mais esportivizada, ou que no era esportivizado, uma coisa mais solta, livre. Ento existe uma dificuldade para ns de tentar sistematizar e organizar algum contedo com essas turmas, porque eles no tem essa compreenso, ento a necessrio que se faa essa discusso, que a gente faa essa apresentao do que a educao fsica trabalha, o que eles podem conhecer. (Professor 6)
Dois professores colocam que partem dos conhecimentos da rea prprios para o modelo de ciclos e que o trato com esse contedo vai ser delineado pela segunda escolha que a teoria na qual se baseiam como por exemplo:
A partir do contedo da educao fsica prprios para esse modelo, mas tambm da teorias da educao fsica ligada a cultura corporal, partir dessas linhas de pensamento que eu seleciono e organizo os contedos nesse sistema. (Professor 4)
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A partir de contedos da educao fsica prprios para esse modelo. tanto que eu sigo a partir das diretrizes da prefeitura, que ela vem exatamente elencando os contedos de acordo com o ciclo, eu uso esse modelo, que um modelo que me norteia bem. E eu ainda, que uma coisa que eu preciso rever, eu ainda uso a teoria da psicomotricidade, esse formato de planejamento meu precisa inovar, eu preciso mudar, mas eu ainda uso essa teoria da educao fsica psicomotora tambm. (Professor 2)
O posicionamento acima, sobre os professores que optaram pelos contedos prprios para esse modelo, percebe-se que h uma busca pelos conhecimentos relativos aos ciclos (coletivo de autores) e outro na perspectiva da psicomotricidade. Essa ltima perde sua caracterstica e objetivos de formao central, por contrapor a idia do ciclo e da perspectiva progressista de educao fsica j que a teoria mencionada se refere mais a uma psicopedagogia de natureza clnica. Em segundo momento, os professores foram questionados sobre a seleo dos contedos (quadro 8).
QUADRO 8 - Referncia na Seleo de Contedos
Ao analisar as respostas a respeito da seleo de contedos, identifica-se que cinco escolhas (1, 2, 3, 5, 6) basearam-se na faixa etria; quatro (1, 4, 5, 6) escolheram de acordo com as condies materiais da escola; trs escolhas (3, 4, 5) segundo o nvel de desenvolvimento dos alunos; e um (2) a partir das dificuldades/deficincias dos alunos. Um dos professores que baseia-se tambm na faixa etria, aponta: Mais prximo da faixa etria, de acordo com a suas alternativas e o nvel de desenvolvimento que a primeiro eu s pincelo tudo depois eu vou aprofundando para frente. (Professor 3). E outro depoimento que expressa de forma diferente: Na faixa etria de cada agrupamento para organizar esses contedos, porque o contedo as vezes pode ser o mesmo trabalhado em todas elas, mas ele vai ser trabalhado de uma forma diferente, de acordo com o desenvolvimento dessa turma. (Professor 1). Ainda em relao faixa etria, tem-se: Prof1 Prof2 Prof3 Prof4 Prof5 Prof6 Faixa Etria X X X X X Nvel de Desenvolvimento X X X Dificuldades/Deficincias do Aluno X Condies Materiais da Escola X X X X 79
Faixa etria, nvel de dificuldade deles e o de desenvolvimento. Aaah e material que a escola tem e no tem. Tem esse problema nas consideraes tambm [...] Eu tenho sempre que partir do que eles sabem. Porque se eles no sabem, no adianta, eles no vo aprender, e faixa etria tambm, no adianta eu colocar uma coisa complexa se eles do conta de uma coisa simples. (Professor 5)
Aos aspectos voltados somente para as dificuldades dos alunos, faixa etria, pode ser que as aulas estejam ligadas ao modelo tradicional, onde em uma abordagem desenvolvimentista (partindo do mais simples para o complexo, como aponta o professor acima) o professor organize sua aula. Alem disso, pode-se retomar as anlises feitas acima, que em certos momentos apontam aulas pragmticas, espontanestas e reducionistas, ao acreditar que a realidade o aluno e a aula acabar tornando-se ser pobre de contedo cientfico produzido pela humanidade. Como por exemplo, ao dizer que aquilo que eles j tem muita facilidade eu diminuo, e tento colocar aquilo que para eles mais estranho, complicado (Professor 2).No sentido de atender s dificuldade do aluno, tambm o professor pode cair em aulas assistencialistas que no contribuem de fato com a formao. Em relao aos professores que prezam as condies materiais, o professor explica: como eu organizo eles dentro dos trimestres eu levo em conta um pouco das condies materiais da escola, porque eu tenho que pensar que aqui eu no tenho quadra coberta, ento tenho perodos de chuva (Professor 4). Nessa referncia para organizar as aulas pode-se esbarrar em um planejamento que no contempla os demais contedos da rea por essas condies levar o professor a reproduzir sempre o mesmos contedos, no buscando inovar o modelo de aula. Quanto metodologia, apresenta-se o quadro a seguir:
QUADRO 9 - Metodologia de Ensino
Em relao metodologia de ensino que os professor utilizam para orientar sua prtica pedaggica, quatro professores apontaram utilizar a metodologia diretiva Prof1 Prof2 Prof3 Prof4 Prof5 Prof6 Diretiva X X X X Flexvel X X 80
e dois professores usam a metodologia flexvel. Os professores que definem sua metodologia como flexvel variam em suas justificativas:
Flexvel. Eu no sou de impor e no sou [...] S do interesse deles, no pode acontecer isso, no pode ser livre, eles no podem ter liberdade total e... Por isso que eu estou falando, tem que ser flexvel, porque tem que ser... Voc pode deixar de vez em quando, eles ter sim, a liberdade deles, e eu as vezes tenho que impor e eles tem que ter essa flexibilidade. (Professor 5)
[...] no sei como seria esse flexvel, mas est mais pro flexvel, porque [...] da gerao que a gente est pegando agora tem assim aluno sem nada, sem interesse de nada ento a voc vai tentando. Tenta um vdeo, tenta uma prtica, tenta s falar, tenta s escrever, para ver se alguma forma atinge e faa com que eles se envolvam de uma forma melhor. (Professor 3)
Pelo depoimento dos professores se pode compreender que a flexibilidade est em torno da possibilidade de interveno e deciso do aluno nas aulas. Segundo Xavier (2012), a metodologia flexvel pode ser compreendida como um modelo de aula que sofre alteraes geralmente de acordo com as necessidades e intenes dos alunos. Em relao metodologia diretiva, os professores explicam:
[...] minha metodologia baseado muito na conversa inicial do que eles vo ter que fazer, o objetivo da aula e quando agente sai geralmente eles j tm na cabea mais ou menos o que vai ser feito, se vai ser um trabalho de grupo, se vai ser um trabalho de todo mundo junto, se vai ser uma roda que agente vai trabalhar e no vai e acaba que agente na maioria dos momentos eu estou tendo xito com essa metodologia e no final geralmente acabo levando eles para sala de aula alguns momentos a gente discute como foi a aula sabendo se teve problema, quais foram? quais so as COI sa que agente precisa resolver juntos. (Professor 6)
Eu marquei a diretiva porque existe mesmo uma direo que o professor precisa dar para trabalhar esse contedo na escola. Ento precisa ser uma metodologia direcionada, organizada, pensada pra trabalhar aquele contedo [...] ela at certo ponto precisa ser flexvel, mas um flexvel que tem um direcionamento, no aleatrio, que no livre, que no espontneo. Ento precisa de uma organizao metodolgica pra isso, pra organizar essas aulas e pra organizar esses contedos que vo ser trabalhados. (Professor 1)
diretiva por questo do planejamento, a aula segue a partir desse planejamento [...] Eu tento sempre seguir o meu planejamento, vai ocorrer dias que no vai dar, mas voc tem planejamento para nortear aquilo que eu tenho feito. lgico que voc no vai ficar engessado por ele, mas ele um documento que ta ali para voc no se perder. (Professor 2)
Dentro das opes que voc colocou eu marquei a diretiva por parte do professor, porque parte de mim toda direo do trabalho, organizao, seleo dos contedos embora eu tenho que levar em considerao a 81
realidade da criana, faixa etria o nvel que ele se encontra, nvel de desenvolvimento de aprendizagem, a idade de cada agrupamento, ento eu marquei essa opo.(Professor 4)
Pelos depoimentos acima, se observa que a metodologia diretiva associada organizao das aulas partindo do professor, afirmando a sua intencionalidade pedaggica e a idia de socializar os contedos prprios da rea. Essa metodologia de aula contrape-se ao espontanesmo do modelo de aulas abertas, que torna-se instvel ao basear-se em interesses imediatistas do aluno, mas no caso dessa pesquisa o termo flexvel refere-se a um de ajustes entre interesses do aluno e diretividade pedaggica. Quanto avaliao que ocorre no sistema de ciclos importante alertar as observaes que Freitas (2003) faz. Para ele a avaliao escolar, de forma geral, se divide entre os aspectos: institucional (centra-se na avaliao do conhecimento formal, aquilo que a escola entende que o aluno deve aprender e avalia atravs de provas, trabalhos, dentre outros); comportamental (utilizado como grande instrumento de controle dos alunos, avalia o aluno em relao obediencia das regras estabelecidas pela escola); e os valores e atitudes (no somente no sentido de avaliar, mas tambm de repreender valores e atitudes no aceitos na escola). O autor aponta que nas duas ltimas, predomina a avaliaao informal do professor, utilizando como elemento de submisso. nesse sentido, por exemplo, que alertamos a prtica da observao das aulas como mtodo avaliativo, por este correr o risco de ao invs de proporcionar elementos formativos contribuir com a opresso e humilhao dos estudantes. Assim, se os professores no se derem conta das relaes de poder que permeiam a avaliao tendem a tratar os alunos conforme os juzos que fazem deles [...] (assim) quando a avaliao formal entra em cena, a avaliao informal j atuou no plano da aprendizagem, de maneira que aquela tende apenas a confirmar os resultados (FREITAS, 2003, p. 45). Na pesquisa ao analisar a avaliao do aprendizado do aluno, os professores afirmam que (quadro 10):
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QUADRO 10 Avaliao do Aprendizado Prof1 Prof2 Prof3 Prof4 Prof5 Prof6 Contedo Assimilado X X X X X X Participao na Aula X X X X X Comportamento do Aluno (Disciplina) X X X Valores X X
A partir da tabela, a avaliao dos contedos o que recebeu maior identificao por parte dos professores (todos), enquanto a avaliao da participao tiveram cinco escolhas de professores (1, 2, 3, 4, 5) e com menos adeso o comportamento (3, 5, 6) e os valores (3, 5). O professor 1 aponta: Ento, basicamente a partir de tentar compreender qual foi o contedo que esse aluno aprendeu [...]Uma das perspectivas trabalhar com o contedo que ele assimilou, como ele assimilou esse contedo. Outro professor diz:
Eu marquei contedo assimilado e marquei tambm participao nas aulas, porque atravs dessa participao nas aulas, a vivncia, a participao, principalmente quando se trata de ciclo 1 quando as crianas esto comeando a aquisio de leitura escrita, a forma de avaliar e de ver o que ele aprendeu se da muito mais de forma oral e na a participao do posicionamento dele diante das atividades, do que propriamente de outras. (Professor 4)
Em relao ao comportamento e participao um professor aponta: eu percebo a participao do aluno, o interesse dele, a interao dele, isso tudo tambm avaliado e com isso no tem como no avaliar o comportamento (Professor 2). E outros ressaltam:
[...] o que voc coloca como disciplina e indisciplina, o inquieto? o indisciplinado? Deve ser analisado de forma bem peculiar, as vezes aquele aluno que voc acha que esta paradinho, ele no est captando nada ele s t ali, ento eu tento assim, pegar todas essas questes que foram colocadas l no incio, tanto o aspecto emocional do aluno, o aspecto afetivo dele naquele momento. (Professor 2)
[...] o comportamento ele um elemento que entra um meio de uma avaliao mais geral, quando vamos para o conselho de ciclo no deixamos de considerar o comportamento do aluno a disciplina [...] Aquele aluno que no senta que no tem disciplina no cumpre regras ele no aprende no s na educao fsica como nas demais reas, um elemento que est presente mas no como elemento primordial para ver o aprendizagem dele na educao fsica. (Professor 4)
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[...] existe uma coisa aberta que tambm faz parte na nota que um conselho avaliativo que eu fao com eles de pergunta a eles sobre certos critrios, por exemplo, da parte comportamental, se a criana anda contribuindo, se anda participando, se no anda de certa forma tendo desajustes de comportamento com outros colegas, ento a gente faz isso juntos. (Professor 6)
A questo de se separar a alternativa participao e comportamento se deu por compreender a diferena entre esses elementos. Todos os itens considerados na avaliao so interligados, contudo o conceito dos professores sobre esses itens que devem ser o enfoque da anlise. Dois professores (3, 5), disseram que usam todas as formas.
Ai, mistura tudo! [...] No tem como falar que um pesa mais [...] Tem uns que tem facilidade e outro no, como que eu posso saber tudo o que ele assimilou? Ento, fica assim um percentual quase que igual, o quanto ele participa da aula, o quanto ele mostra interesse, e, aprender minimamente aquilo, que se esfora, ento acaba que vai misturando tudo. Porque seu eu colocar s participao o aluno que no gosta, mas que ele tem um assimilao vai ficar como, aquele que tem dificuldade, aquele que descoordenado, s comportamento, s contedo, tento misturar tudo, quantificar um pouco dessas questes aqui. (Professor 3)
O que ele assimila. tudo aquilo. Participao nas aulas, o valor que ele assimilou. Tudo isso levado em conta. Se, por exemplo, aquela aula fez diferena para ele, se no fez diferena. Ento, eu levo sempre em considerao isso. (Professor 5)
Buscou-se ainda, relacionar os elementos avaliados com as formas de avaliao. Nessa questo que os professores utilizam vrios mtodos avaliativos, como se observa no quadro a seguir:
QUADRO 11- Procedimentos Avaliativos Prof1 Prof2 Prof3 Prof4 Prof5 Prof6 Prova Oral X X X X Prova Prtica X X Prova Escrita X X X X X X Trabalhos X X X Outros X X X X
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Todos os professores utilizam a prova escrita como forma de avaliao, sendo ainda a opo mais coerente de avaliar o aluno.
[...] existe um registro sistematizado mesmo, escrito, com as turmas que conseguem fazer isso com mais facilidade [...] para as turmas que esto ou que ainda apresentam certa dificuldade para realizar essa avaliao, eu fao uma avaliao oral, com uma conversa sobre o tema que foi trabalhado, mas assim, tento sistematizar isso ao mximo. No uma conversa espontnea, um momento em que o aluno sabe que vai ser avaliado. (Professor 1)
Como explicitado acima, alguns professores apontam a avaliao de forma diversificada, principalmente no ciclo I onde os alunos ainda no tm muita habilidade com a leitura e a escrita, utilizando a forma mais adequada em que o aluno consegue expressar o conhecimento assimilado. Assim, a prova oral acaba sendo a segunda forma mais utilizada de avaliar o conhecimento, consistindo em us-la com aqueles alunos que no conseguem escrever.
[...] muitos deles podem ter dificuldades de escrever, ler, mas quando a gente conta alguma coisa pra eles, eu acho que a questo oral ela acaba sendo bem assimilada por eles [...] ento eu percebo isso que existe dentro da oralidade deles uma assimilao at boa de certa parte assim, s vezes na parte escrita assim eles vo ter uma dificuldade quando passa uma atividade ou vo para uma avaliao e a eu percebo isso, mas uma coisa que eu levo em considerao. (Professor 6)
Em relao prova prtica, destaca-se os seguintes comentrios: nas minhas aulas, toda aula avaliao, o aluno esta sendo avaliado. Eu tenho prova escrita, mas tambm tenho a prova prtica que cotidianamente (Professor 2). E do professor 5: Oral, prtica, escrita, trabalho, seminrio, participao. Isso tem que se levar em considerao tudo. A concepo de prova prtica, para os professores em geral se refere noo de observao motora, comportamental e de execuo tcnica do contedo ensinado, sustentada pela idia conservadora de aula. Quanto aos outros instrumentos avaliativos, a questo da observao e a forma como utilizada se diferenciam. Dois posicionamentos diferentes sobre o item observao pode revelar o comprometimento do professor com a avaliao no sentido de no tornar essa observao aleatria e interpretada de forma subjetiva, interferindo na avaliao do aluno. Observe o depoimento seguinte: Eu fao prova 85
escrita, para ver essa questo do contedo assimilado e o restante mais observao mesmo (Professor 3). Outro professor afirma que:
[...] as vezes eu realizo alguns relatrios, no sempre que eu fao isso porque as vezes o tempo no permite, mas quando existe esse relatrio, eu fao isso. Por exemplo, eu terminei uma aula, fiz algumas atividades, realizo um relatrio sobre alguns alunos, sobre todos mais difcil. Ento voc j tem mais um elemento concreto que vai lhe ajudar depois a fazer essa avaliao, para ela no ser uma avaliao subjetiva, mas que ela esteja pautada em elementos concretos mesmo que foram analisados que voc est avaliando isso. (Professor 1)
O primeiro revela uma forma de observao mais assdua, embora no explique os critrios utilizados para observar, enquanto a segunda, utiliza um registro mais criterioso no sentido de sua observao ser o mais fiel possvel no momento em que for fazer a anlise. Esses aspectos procedimentais da observao que muitas vezes so utilizados sem critrios ou rigor adequado para identificar uma dificuldade de aprendizado do aluno coloca em risco a avaliao, pois trata-se de um fator a ser considerado junto aos demais no processo de avaliao escolar. O exemplo disto est no depoimento do professor 1:
Em alguns momentos eu tenho dificuldades de organizar, de construir, de elaborar essa avaliao... De elaborar essa avaliao mesmo, porque em alguns agrupamentos existe uma diferena em relao ao desenvolvimento das crianas. Alguns j escrevem, lem, outros no. A eu preciso organizar isso de formas diferentes. Mesmo que seja um aluno, mas preciso porque ele tambm precisa ser avaliado. Ento em alguns momentos eu tenho essa dificuldade para organizar essa avaliao, nesse sentido.
Como se v, avaliar o processo educativo tem sido um dos problemas mais comuns e crticos da educao, nela se percebe a presena de duas formas de ao. Uma, est conectada s questes tradicionais da educao, valorizando os contedos assimilados, comprovados atravs de uma avaliao escrita ou oral. De outro lado, h o grupo de professores em que prevalece uma concepo avaliativa menos sistematizada, sem direcionamento ou conexo objetivo/avaliao, negligenciando a aprendizagem dos alunos dos conhecimentos especficos da rea ao avaliar os alunos a partir de suas prticas, comportamento e participao. Essa ltima predominante na rea de educao fsica, pela rea realizar sua avaliao para a) atender exigncias burocrticas expressas em normas da escola; b) atender legislao vigente; e c) selecionar alunos para competies e apresentaes tanto dentro da escola quanto com outras escolas (COLETIVO DE AUTORES, 1992, 86
p.69). Por isso, a educao fsica historicamente limitou-se a avaliar o aluno pela sua simples presena. A ltima temtica de anlise da pesquisa se refere ao papel da educao fsica nos reagrupamentos dentro dos ciclos escolares. De forma geral, sujeitos dessa pesquisa, afirmam que participam do reagrupamento. O professor 4 explica: eu entro com uma oficina, que a gente chama de ritmo e movimento, ento a gente trabalha diversas atividades corporais voltadas para rea de dana, ginstica, movimentos, um trabalho mais voltado nesse sentido. Em outros, com atividades que relacionem diretamente com a rea de Portugus e Matemtica, como aponta o professor 2: eu entro com a matemtica tambm, por isso que no meu dirio tem educao fsica e jogos matemticos. A eu utilizo dos jogos que temos aqui, tabelas, questes de tabuadas para poder ajud-los no reagrupamento. O professor 1 afirma que:
Ento, ns trabalhamos com algumas temticas. A educao fsica esse ano [...] ns fizemos um projeto pra trabalhar com a cultura na escola. [...] Ento, o papel da educao fsica eu penso que abranger essas reas ou esses contedos que s vezes a gente no consegue de alguma forma trabalhar ele no currculo, no currculo estabelecido, porque isso tambm curricular [...] mas que as vezes eles no entram como um contedo principal, por exemplo, como um primeiro contedo da disciplina.
Um dos professores, que no possui reagrupamento em sua escola, explicita seu ponto de vista:
A gente acaba no trabalhando a educao fsica em si, porque o foco o que? Alfabetizar. O foco no a educao fsica, o foco portugus e matemtica. O aluno, se ele no sabe interpretar, se o aluno no sabe ler, ele no vai dar conta nem da educao fsica. [...] Se ele no d conta de escrever, eles no vo dar conta de nada. (Professor 5)
Contata-se mais uma vez que no processo de reagrupamento a escola refora a intencionalidade educativa voltada para os aspectos cognitivos ao limit-la somente analise de leitura, escrita e matemtica. Assim, mesmo as escolas que possuem reagrupamentos na rea de educao fsica, correm o risco de dicotomizar esse espao deslocando os alunos avanados para o reagrupamento da educao fsica, associado recreao e lazer, e deixando os alunos com dificuldades nas turmas de leitura e escrita. Entender a educao fsica dentro das suas 87
especificidades e o trato com os elementos produzidos historicamente pelo homem reconhecer seu papel no desenvolvimento da linguagem. Machado (2013) realizou uma pesquisa sobre a relao entre a sade, a escola e a educao fsica. Nesta, a autora realizou teste orgnicos e funcionais em crianas numa das escolas municipais relacionadas a este projeto de pesquisa objetivando realizar uma anlise qualitativa desses dados. Como resultado, foi possvel identificar a importncia da relao das experincias corporais proporcionadas pela educao fsica com a escrita, leitura, linguagem oral e expressiva. Isso permite analisar como a aprendizagem do aluno, inclusive na leitura e escrita que o foco das escolas aqui pesquisadas, pode ser desenvolvida a partir de vrias dimenses. Por vezes, o prprio desconhecimento do professor sobre a educao fsica e o desenvolvimento do aluno, deixa de propor algo, subtendo-se ao ensino de portugus e matemtica nas aulas de educao fsica. claro que no especfico da rea a alfabetizao, mas o como afirma a autora Machado (2013, p. 67):
a educao fsica poder desenvolver um papel importante nesta questo desenvolvendo uma pedagogia crtica que esteja preocupada com o ensino e aprendizado dos jogos, brincadeiras, ginstica, dana, esportes, lutas, ate porque esses elementos propiciaram aos estudantes diferentes experincias no campo da linguagem das percepes sensrio-motoras na aquisio de capacidades fsica e no aperfeioamento de movimentos, mas no pode se omitir de avaliar os alunos para detectar problemas que possam est ocorrendo no mbito das aprendizagens perceptivo-motores inclusivo porque essas questes tem relaes com o desenvolvimento da linguagem e aprendizagens cognitivas (p. 67).
Constatou-se que as contribuies pedaggicas acerca da formao do aluno se apresentam de certo modo descaracterizadas de seus contedos especficos para dar suporte a dois elementos considerados de maior importncia na escola que ler e escrever e noes lgico-matemticas, deixando o corpo, as dimenses da corporalidade, a cultura e as expresses ldica para um plano secundrio. Em sntese, a avaliao da totalidade defendida pelas diretrizes da secretaria municipal fica prejudicada nesses aspectos com desdobramentos em outros, inclusive na leitura e escrita. Entendendo que a proposta de ciclos defendida pela SME compreende a Educao Fsica pela perspectiva da cultura corporal, isto j demonstra a importante contribuio para o desenvolvimento da linguagem do aluno e uma viso de 88
totalidade quanto ao seu desenvolvimento. Os conhecimentos que envolvem a corporalidade e suas construes histricas como os jogos, as danas, as lutas, o esporte, entre outros, passam a ser entendidos prticas educativas dentro dos conhecimentos sistematizados produzidos socialmente, to necessrios para a formao humana. Para o Coletivo de Autores (1992.p.27)Todas essas atividades corporais foram construdas em determinadas pocas histricas, como resposta a determinados estmulos, desafios ou necessidades humanas. Para concluir acerca do papel da educao fsica nos ciclos de formao e desenvolvimento humano, fica claro, pelas Diretrizes Curriculares, que a prtica pedaggica dos professores devem estar coerente com essa proposta deve caminhar para a organizao desse saber sistematizado, articulado com os conhecimentos dos alunos, em busca de ampliar sua formao. 89
CONSIDERAES GERAIS
Esse estudo monogrfico que objetiva apenas realizar um trabalho para finalizar o ciclo de estudos e concluir a formao inicial, transformou-se, sobretudo, em ponto de partida para novas pesquisas. Atravs desse trabalho se tornou possvel perceber o que implica a anlise da realidade, a leitura das entrelinhas dos conflitos e contradies e, tambm, as possibilidades de construir aes a serem dinamizadas para mudanas na escola. Compreender a realidade dos ciclos de formao e desenvolvimento humano por meio desse processo de pesquisa se deu de forma turbulenta, pois entendemos que no se tratava de apenas analisar e entender os conflitos que surgiam nas sucessivas snteses de estudo, mas de perceber que a cada descoberta surgiam questes novas e mais complexas. O que era inicialmente um entusiasmo ingnuo da pesquisadora, acerca dos avanos da proposta de ciclos, foi amadurecendo no decorrer da pesquisa, demonstrando as limitaes do modelo e as suas contradies dentro do sistema educacional. Se a sociedade excludente, logo a educao e todo o sistema educacional o ser, portanto, a organizao escolar em ciclos pode avanar, mas no tanto, pode melhorar alguns aspectos, mas dificilmente poder superar as injustias determinadas pelo fenmeno social. Esperar que a escola resolva os problemas sociais representa uma viso acrtica de se pensar a educao. Vrias questes ainda precisam ser respondidas, dentre elas, entender que educar uma escolha poltica advertncia que merece ser relembrada constantemente aos sujeitos que se julgam neutros no processo escolar. Cabe destacar que a ao do professor no se d s na escola, os educadores precisam entender que a docncia uma prtica social onde deve se buscar ampliar a conscincia dos sujeitos, mas para isso, preciso reconhecer a necessidade de estar sempre em formao e em aprendizado permanente. Com isso, no quer dizer que a ao do professor se d somente na escola e que a ao coletiva no apenas a relao entre disciplinas, mas compreender o seu papel enquanto sujeito no mundo, e como essas prticas devem transcender os muros da escola. sendo sujeito poltico dentro e fora da escola que se constri uma sociedade melhor. 90
Foi possvel identificar os perfis dos professores pesquisados entre os que negam/rejeitam a propostas, os que aderem de forma cega ao modelo e os que de fato possuem um comprometimento poltico. Contatamos nesse estudo que os dilemas apresentados pelos professores no mbito da resistncia ao modelo no est colocado dentro do pensamento crtico, mas por uma postura poltica de deixar como est, para frear as transformaes, enfim, para ver como fica. J os professores que aderem ao modelo transparecem certo vnculo com uma ao poltica no sentido de fazer avanar o projeto para alm dos limites da orientao do governo, adotando aes crticas, inclusive de autocrtica da sua prtica de modo a compreender suas limitaes e possibilidades. A educao no um aspecto social esttico, est sempre envolta por mudanas. Assim, a educao fsica dentro desse processo de transio entre os modelos seriado e de ciclos apresenta fragilidades e potencialidades para esse novo projeto de formao. Perceber os problemas a partir do olhar dos professores de educao fsica constatou-se mais uma vez que a disciplina Educao Fsica historicamente vem sendo colocada em segundo plano no processo de formao do ser humano. Quanto mais se buscava compreender o corpo na escola, mais se descobria os problemas da formao intelectual dos professores e as finalidades mesmas da escola. Por isso, a cada passada, o estudo se tornava instigante e revelador, principalmente pelos avanos na rea de educao fsica a partir de uma proposta que modifica o olhar do professor quanto a sua prtica e as suas perspectivas de formao humana e a ideia do trabalho coletivo como parmetro de formao poltica e pedaggica na proposta de ciclos. No que diz respeito pratica pedaggica da educao fsica dentro desse modelo percebemos que os professores esto confusos e sem a devida orientao prtica pelo sistema educacional, e, deslocados dos compromissos polticos do ato de educar no sentido de mudanas da realidade. Ficou claro que as escolas ainda mantm a idia (pelo conjunto de professores) que o desenvolvimento da criana se d apenas quanto aos aspectos cognitivos. Um apontamento importante trata-se da prpria compreenso do que seria esse aspecto cognitivo pelas instituies que ainda aparenta uma viso restrita, j que todos os processos humanos so processos cognitivos. Nessa pesquisa e tambm em outras vem se tornando comum deparar com professores sem aes coerentes, despreparados em sua prtica pedaggica, sem referncia conceitual, sem preparo poltico e cientfico para agir 91
com autonomia no trabalho coletivo na escola e fora dela. Uns esto cegos s mudanas, outros por medo de errar e outros ainda pela manuteno da realidade como ela . Contudo, o fato da prpria diretriz sustentar uma teoria de educao fsica mais avanada, possibilita e d respaldo para prtica pedaggica dos professores no caminho de transformaes. Assim, o lado positivo da educao fsica hoje na escola de ciclos relaciona-se sua participao ativa no processo de organizao do trabalho coletivo, de avaliaes compartilhadas, e da vivncia pedaggica no ambiente escolar, entre outros. H professores que se utilizam desses avanos para melhorar suas aes na escola e na sociedade. O seu espao pedaggico est sendo melhor valorizado do que no sistema seriado. possvel perceber essa necessidade do coletivo na escola para esse projeto se desenvolver. Talvez, um dos elementos que mais avana no novo sistema de ciclos, seja o trabalho coletivo, o espao onde os professores discutem as questes da escola, o momento em que os professores interagem buscando alternativas para os problemas da escola, mas isto s no basta, o trabalho coletivo precisa ser construdo com uma postura crtica, reflexiva e direcionada para mudanas mais profundas. A capacitao dos professores no processo coletivo precisa de teorias que ajude a pensar a realidade dentro da perspectiva da crtica social e com prticas que potencialize mudanas reais da educao com conseqncias para a sociedade. Seno, iremos continuar reproduzindo a lgica do modelo atual, sem mudar concretamente a realidade. Diga-se de passagem, a escola burguesa, seriada ou em ciclos, est em crise por ser incapaz de universalizar e democratizar o conhecimento a todos. No se trata somente do fracasso escolar, mas o nosso atual modelo de produo que promove uma organizao social pautada na excluso e seletividade. O fracasso escolar no ser extinto nessa sociedade, pois ele faz parte da lgica do modelo existente inclusive para que ele mantenha-se funcionando. Por isso, o projeto educacional no pode ser reduzido busca de melhorias objetivas e imediatistas no mbito da educao. A resistncia se d ai, em contrapor a lgica com propostas novas de trabalho como o referenciado no trabalho coletivo. Assim, caminhamos sentido real mudana de sociedade. Entendemos que o novo inevitvel, faz parte da necessidade humana, porm preciso avaliar com radicalidade se estamos tratando do novo ou dos seus 92
elementos que se vestem de novo, portanto, da novidade. O ciclo pode ser uma dessas duas coisas, depende de como os professores atuaro dentro dele, de qual ser sua viso de mundo, de que forma pretendem construir outro mundo. Defendemos que o sistema de Ciclos, existente hoje na escola, no pode ser compreendido de forma acrtica. Alm de romper com o modelo conservador de educao e do desenvolvimento humano ela amplia as chances de acesso ao conhecimento, de permanncia no sistema e de se reorganizar para apreender aquilo que deve ser ensinado numa escola. Nossa primeira impresso de que o modelo de ciclos possui avanos qualitativos acerca do modelo anterior denominado de seriao, mas isto ainda est preso dentro da lgica do prprio modelo social injusto e discriminatrio como o capitalismo. Os estudos apontam lacunas para se avanar no sentido de uma educao pblica realmente comprometida com quem dela usufrui, institui uma nova forma de organizao que possibilita o trabalho coletivo e a ao democrtica, amplia-se o tempo pedaggico e nas escolas integrais alonga o tempo e os espaos de aprendizagens (flexibilidade nos aspectos pedaggicos, planejamento, escolhas de contedos e organizao das aulas e avaliao), e principalmente, na autonomia do professor. Todos esses elementos devem ser reorganizados, repensados e ressignificados na escola com o intuito de garantir ao estudante, chances de ser, desenvolver e avanar dentro de suas capacidades cognitivas, afetivas, corporais, sociais e tico-morais. Contudo, o professor, independente do modelo colocado, deve procurar as lacunas para agir de forma mais coerente e comprometida com a formao dos estudantes da escola pblica. O que o modelo de ciclos possibilita, so esses espaos de minimamente formar os estudantes para ir de contra lgica dada. No podemos negar que os posicionamentos negativos em relao aos ciclos so de fato a realidade parcial em que o professor que a descreve est inserido. Mas devemos ficar atentos, pois alm da proposta do modelo, de como a proposta executada, h elementos como o nosso papel na escola, o que fazemos para possibilitar ao mximo os elementos da proposta e por fim, o mais importante, compreender que fazemos parte de um sistema econmico que tem como princpios, a individualidade, a excluso e a seletividade e a escola atual uma representao deste. O que queremos apontar que, se de fato existe uma discrepncia entre a proposta e a realidade vivida na escola, temos que levar em 93
conta tambm o nosso papel, a nossa responsabilidade enquanto sujeitos comprometidos com a educao. Ns, enquanto professores, quanto nos dispomos a mudar e a se comprometer com essa proposta? preciso refletir para no ocorrer quase uma personificao dos ciclos, como se o processo de implantao das mudanas no perpassassem pelos educadores. Antes de mais nada, preciso que os educadores compreendam a escola, qual seu papel na instituio e qual formao se almeja para a sociedade presente e futura. Os professores precisam saber que o espao da escola contraditrio, que o espao da educao de conflitos. Diante disso, esperamos que os dados apresentados e as anlises sirvam de ponto de partida para que o coletivo envolvido nesse processo discutam alternativas e se coloquem comprometidos com a formao humana, atravs de uma educao de qualidade. 94
REFERNCIAS
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APENDICE A ROTEIRO DOS DILOGOS
Identificao Nome: Idade: Sexo: J trabalhou em sistema seriado? Formao: Funo na escola:
Questes Gerais 1. O que voc pensa sobre do modelo educacional organizado em ciclos? 2. Qual a sua opinio sobre o sistema de ciclos implantado pela prefeitura? Cite as vantagens e desvantagens deste modelo. O que diferenciou do sistema anterior? 3. Como voc planeja suas aulas? a. A partir dos contedos da rea? Explique. ( ) sim ( ) no ( ) em parte b. A partir do nvel de aprendizado dos alunos? Explique. ( ) sim ( ) no ( ) em parte c. A partir do trabalho coletivo? Explique. ( ) sim ( ) no ( ) em parte d. A partir das deficincias do aluno? Explique. ( ) sim ( ) no ( ) em parte e. A partir das diretrizes da prefeitura? Explique. ( ) sim ( ) no ( ) em parte f. A partir do PPP da escola? Explique. ( ) sim ( ) no ( ) em parte 4. Como voc avalia a relao escola e comunidade nos ciclos? a. Os pais participam das reunies? ( ) sim ( ) no ( ) em parte b. Os pais participam do planejamento das atividades? ( ) sim ( ) no ( ) em parte c. Os pais participam no Projeto Poltico Pedaggico? ( ) sim ( ) no ( ) em parte d. Os pais participam na gesto? ( ) sim ( ) no ( ) em parte e. Os pais participam nas festas comemorativas? ( ) sim ( ) no ( ) em parte 99
f. Os pais participam nos movimentos em defesa da escola? ( ) sim ( ) no ( ) em parte g. Os pais participam dos Conselhos escolares? ( ) sim ( ) no ( ) em parte 5. Em sua opinio, o que os pais pensam acerca do ciclo? Crticas e elogios: 6. No sistema de ciclos a proposta valorizar o aluno na sua totalidade (dimenses fsica, psquica, cognitiva, afetiva, tica, esttica, social, emocional, dentre outras). O que voc pensa disto? 7. Voc acha que o sistema de ciclos pode melhorar a qualidade da educao? Explique. ( ) sim ( ) no ( ) em termos 8. O que voc pode dizer sobre o trabalho coletivo dentro da escola? 9. Qual o parmetro de avaliao utilizado para reter o aluno na progresso? Como se d a organizao dos reagrupamentos? Como se d o atendimento individualizado? 10. Qual o papel da Educao Fsica nos reagrupamentos? 11. Voc se julga preparado (aspectos pedaggicos, profissionais, culturais, tico-moral) para atuar no modelo de ciclos? Explique. ( ) sim ( ) no ( ) em termos 12. Como voc organiza os contedos no sistema de ciclos? (Escolha at duas alternativas) a. ( ) A partir de contedos da educao fsica prprios para esse modelo b. ( ) Das teorias da educao fsica desenvolvimentista. c. ( ) Das teorias da educao fsica psicomotoras. d. ( ) Das teorias da educao fsica desportivizada. e. ( ) Das teorias da educao fsica ligada sade. f. ( ) Das teorias da educao fsica ligada cultura corporal. g. ( ) Das teorias da educao fsica ligada cultura de movimento. h. ( ) Experincias adquiridas na formao i. ( ) Experincias adquiridas por meio da prtica pedaggica Explique sua(s) resposta(s): 13. Na seleo dos contedos, voc utiliza que tipo de referncia? a. ( ) baseado na faixa etria b. ( ) de acordo com os interesses do aluno c. ( ) segundo o nvel de desenvolvimento d. ( ) a partir das dificuldades/deficincias do aluno e. ( ) considerando o gnero f. ( ) dentro das condies materiais da escola g. ( ) Outro Explique sua resposta: 14. Qual a metodologia de ensino voc utiliza para orientar sua prtica pedaggica? a. Diretiva (por parte do professor) b. No-diretiva (interesse do aluno) 100
c. Aberta (livre) d. Flexvel (segundo as circunstancias) e. Outra Explique sua resposta: 15. Como voc avalia o aprendizado do aluno? a. ( ) contedo assimilado b. ( ) participao na aula c. ( ) comportamento do aluno (disciplina) d. ( ) valores e. ( ) outros Explique sua resposta: 16. Que tipo de procedimento avaliativo voc mais utiliza? a. ( ) prova oral b. ( ) prova prtica c. ( ) prova escrita d. ( ) trabalhos e. ( ) outros: __________________ 17. O modelo de ciclos facilita a sociabilidade e interao aluno-aluno, aluno-professor e professor-professor? ( ) Sim ( ) No ( ) Em termos Explique sua resposta: 18. Segundo estudos, os ciclos apresentam aspectos relevantes no processo de formao do aluno. Enumere de 1 a 5 os aspectos que voc julga mais importante. a. ( ) Sociabilizao entre alunos de diferentes faixas etrias. b. ( ) Dinamicidade no processo ensino e aprendizagem. c. ( ) Aprendizado ampliado a partir das diferentes experincias dos alunos. d. ( ) O tempo pedaggico ampliado promove maior possibilidade de apredizagem. e. ( ) Maior interao entre a comunidade escolar.