1) O documento é uma dissertação de mestrado que investiga a visão de estudantes de pedagogia sobre a relação entre escolas e famílias homoafetivas.
2) Os estudantes relataram que o curso de pedagogia ofereceu pouco apoio para lidar com famílias homoafetivas e negligenciou o tema.
3) Eles sugerem que o curso inclua componentes que abordem a homoparentalidade para melhor preparar futuros professores.
1) O documento é uma dissertação de mestrado que investiga a visão de estudantes de pedagogia sobre a relação entre escolas e famílias homoafetivas.
2) Os estudantes relataram que o curso de pedagogia ofereceu pouco apoio para lidar com famílias homoafetivas e negligenciou o tema.
3) Eles sugerem que o curso inclua componentes que abordem a homoparentalidade para melhor preparar futuros professores.
1) O documento é uma dissertação de mestrado que investiga a visão de estudantes de pedagogia sobre a relação entre escolas e famílias homoafetivas.
2) Os estudantes relataram que o curso de pedagogia ofereceu pouco apoio para lidar com famílias homoafetivas e negligenciou o tema.
3) Eles sugerem que o curso inclua componentes que abordem a homoparentalidade para melhor preparar futuros professores.
1) O documento é uma dissertação de mestrado que investiga a visão de estudantes de pedagogia sobre a relação entre escolas e famílias homoafetivas.
2) Os estudantes relataram que o curso de pedagogia ofereceu pouco apoio para lidar com famílias homoafetivas e negligenciou o tema.
3) Eles sugerem que o curso inclua componentes que abordem a homoparentalidade para melhor preparar futuros professores.
Baixe no formato PDF, TXT ou leia online no Scribd
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 118
UNIVERSIDADE CATLICA DO SALVADOR SUPERINTENDNCIA
DE PESQUISA E PS- GRADUAO PROGRAMA FAMLIA NA
SOCIEDADE CONTEMPORNEA CURSO DE MESTRADO
CARMEDITE MOREIRA SANTOS SILVA
RELAO ESCOLA E FAMLIAS HOMOAFETIVAS: VISO DE DISCENTES DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
SALVADOR 2012
CARMEDITE MOREIRA SANTOS SILVA
RELAO ESCOLA E FAMLIAS HOMOAFETIVAS: VISO DE DISCENTES DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
Dissertao apresentada Universidade Catlica do Salvador, Superintendncia de Pesquisa e Ps- Graduao, Programa Famlia na Sociedade Contempornea, como requisito para a obteno do ttulo de Mestra em Famlia na Sociedade Contempornea.
Orientadora: Prof. Dra. Mary Garcia Castro
SALVADOR
2012
UCSAL. Sistema de Bibliotecas
S586 Silva, Carmedite Moreira Santos. Relao escola e famlias homoafetivas: viso de discentes de licenciatura em pedagogia/ Carmedite Moreira Santos Silva. Salvador, 2012. 118 f.
Dissertao (Mestrado) - Universidade Catlica do Salvador. Superintendncia de Pesquisa e Ps-Graduao. Mestrado em Famlia na Sociedade Contempornea. Orientao: Profa. Dra. Mary Garcia Castro.
1. Famlias homoafetivas 2. Escola 3. Licenciatura em Pedagogia 4. Saberes docentes I. Ttulo.
CDU316.356.2:37.01
CARMEDITE MOREIRA SANTOS SILVA
RELAO ESCOLA E FAMLIAS HOMOAFETIVAS: VISO DE DISCENTES DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
Dissertao apresentada Universidade Catlica do Salvador, Superintendncia de Pesquisa e Ps- Graduao, Programa Famlia na Sociedade Contempornea, como requisito para a obteno do ttulo de Mestra em Famlia na Sociedade Contempornea.
Aprovada em 27 de fevereiro de 2012
BANCA EXAMINADORA
_
Prof. Dra. Mary Garcia Castro Orientadora
Prof. Dra. Suely Aldir Messeder- UNEB
Prof. Dra. Lvia Alessandra Fialho da Costa-UCSAL
SALVADOR 2012
RESUMO
Esta uma pesquisa de natureza qualitativa e exploratria realizada em uma Universidade pblica do interior do Estado da Bahia. O objetivo principal foi conhecer a viso de estudantes concluintes do Curso de licenciatura em Pedagogia sobre o relacionamento da escola com famlias homoafetivas a partir e como objetivos especficos foram definidos: Identificar as contribuies do Curso, voltadas para a prtica docente na lida com famlias homoafetivas; Verificar se foram fornecidos a essas (es) discentes componentes curriculares que abordassem o tema em questo; se houve acesso a documentos produzidos sobre questes concernentes ao tema em estudo e apresentar a opinio das (os) discentes voltada para contribuio ao Curso de Licenciatura, no que se refere a subsidiar a formao para lidar com famlias homoafetivas no espao escolar. Participaram do estudo cinco formandas(os) da mulheres e homens com idades entre 20 e 50 anos. Para tanto a coleta de dados baseou-se em entrevistas semi- estruturadas, atravs de um roteiro, contendo na primeira parte dados referentes caracterizao da amostra e na segunda, questes baseadas nos objetivos da pesquisa. Os dados foram analisados considerando a tcnica de anlise de contedo de onde emergiram categorias e subcategorias, analisadas no estudo e atravs das quais foi possvel apresentar os seus resultados. No que se refere viso das (os) discentes sobre a relao escola e famlias homoafetivas, destacou- se nos depoimentos, a existncia do preconceito velado e/ou explicito da escola bem como o despreparo das(os) professoras(es) . Encontramos tambm como resultado que o curso em questo pouco ou nada contribuiu para a prtica profissional na lida com famlias homoafetivas na escola, pois no contemplam a discusso da questo durante a formao universitria havendo uma espcie de negao dessa abordagem, atravs da invisibilidade do tema. A superficialidade da abordagem dos documentos oficiais que tratam da questo durante o Curso foi notadamente declarada pelas (os) discentes. Nos depoimentos foram apresentadas como contribuio para que o Curso possa efetivamente contribuir para a prtica profissional no que concerne ao preparo para lidar com famlias homoafetivas na escola as (os) formandas (os) reportaram- se incluso de componentes curriculares que contemplem a questo da homoparentalidade/ homoafetividade, destacando que a complexidade do tema exige a interface com variadas reas do conhecimento. Ressaltamos que embora as (os) discentes participantes deste estudo tenham declarado que o Curso pouco suporte ofereceu sua prtica profissional, j so docentes, e como tal, representam uma parcela da escola, o que pode indicar mudanas efetivas nas suas posturas ao lidar com as diversidades e, em especial, no relacionamento com famlias homoparentais/homoafetivas. Assim, no entendimento que no se pode esgotar essa temtica, dada a dinmica da cincia e da sociedade em constantes mudanas, esperamos suscitar discusses e reflexes que possam contribuir para impulsionar novas pesquisas.
Palavras-chave: Famlias homoafetivas, Escola, Licenciatura em Pedagogia, saberes docentes.
ABSTRACT
This research is a qualitative and exploratory, held in a public university in the state of Bahia, aiming at knowing the vision of (the) students on the school's relationship with gays families, and specific, we define: Identify contributions of the course, focused on teaching practice in dealing with gays families; Check if these were provided (s) students curriculum components that addressed the subject in question if there was access to documents produced on issues pertaining to the topic under study and present the opinion of (the) students, aimed at contributing to the Degree Course in relation to subsidize the training to deal with gays families in professional practice. Participants were five students graduates (the), Course of Pedagogy having as conditions for such participation, are graduates of the Bachelor of Education at 2011.1, women and men aged between 20 and 50 years. For both the data collection was based on semi-structured interviews through a script, the first part containing data on the characterization of the sample and the second, questions based on the research objectives. Data were analyzed considering the technique of content analysis, in which categories and subcategories, analyzed in the study and through which it was possible to present their results. With regard to the vision of (the) students on the relationship between school and gays families, stood out in the statements, the existence of prejudice veiled or explicit school. We also found that the course and outcome in question did not contribute to professional practice in dealing with gays families in school therefore do not address the issue during the discussion of teacher education, with a kind of "denial" of this approach by stealth theme. The superficiality of the approach of the documents dealing with the issue was markedly during declared by (the) students. In testimony presented as suggestions to help with the course in order to equip (the) students for professional practice, with regard to preparation for dealing with gays families the school (the) trainees (the) reported the inclusion of components curricular activities that address the issue of homoparenthood, highlighting the complexity of the issue and requires interfacing with different fields of knowledge. We emphasize that although (the) students participating in this study have stated that the course offered little support in their professional practice, are already teaching, and as such, represent a portion of the school, which may indicate real changes in their attitudes in dealing with the diversity and, in particular, same-sex relationships with gays families. Thus, the understanding cannot be exhausted this subject, given the dynamics of science and society in constant change, we hope to raise discussion and reflection that can help fuel further research.
Keywords: gays Families. School. Professional practice.
AGRADECIMENTOS
As pessoas todas da minha vida, que contriburam para que eu pudesse me constituir como mulher, negra, pessoa, amante, amada, alegre, cantante, danante, estudante, professora, psicloga, pedagoga, psicopedagoga, criana e de muito bem com a vida!
Ento... A minha me, que me instigou o gosto pela leitura, pela msica e pelo oficio da ensinagem e da aprendizagem.
Ao meu pai, que diz vai viver 120 anos, sempre com muita f e tranquilidade. A minha orientadora Prof doutora Mary Garcia Castro. As professoras doutoras Suely Aldir Messeder, Lvia Alessandra Fialho da Costa, pela participao na qualificao e na banca, que com a leitura crtica e as sugestes contriburam enormemente para o enriquecimento deste estudo.
As minhas amadas Ivaneide, Olga, Ivanete, Manu pessoas que me acompanham sempre com muito, muito, muito tudo! Amo vocs!
A queridssima Ana Maria, pelo seu companheirismo, que me fez comear, estar e concluir esse mestrado. Obrigada bem l do fundo!
Aos meus colegas do mestrado, com as (os) quais pude viver a dor e a delicia de mestrar, mas sempre com muitos carinhos, sorrisos e companheirismo. Cinthia, Alane, Ana Meira, Antonio Anilson, Dbora Costa, Djalma, Enzio, Ester, Gisleide, Hannah, Isabela, Juliana, Nilzete, Nvea, Rosa Azambuja, Rosevil, Susana, Webster.
As (os) professoras (as) do Programa, com as (os) quais aprendi, desaprendi e reaprendi muito!
A Universidade Estadual de Feira de Santana, pelo apoio e investimento, que me oportunizaram a realizao do mestrado.
As (os) formandas (os), que muito gentilmente se dispuseram a conceder as entrevistas.
A todas (os) minhas/meus amigas (os), por simplesmente darem-me o privilgio de estarem na minha vida, oportunizando-me cotidianamente essa convivncia to bonita.
Ao professor Lucimar Tavares, que realizou a reviso ortogrfica e lingustica com enorme competncia.
Agradeo finalmente a mim mesma, por ter seguido em frente, este trabalho foi feito com muito carinho, dor, alegria, seriedade, empenho. uma das conquistas mais importantes e desejadas da minha vida. Um brinde a isso!
Para Ana Maria, pelo seu companheirismo, que me fez comear, estar e concluir esse mestrado. xlalalala!!!!!!
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABGLT- Associao Brasileira de gays, lsbicas, travestis, transexuais. ADI- Ao Direta de Inconstitucionalidade. ANFOPE- Associao Nacional pela Formao dos Profissionais da Educao. ANPED - Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Educao. APA - American Psychology Association. CFM- Conselho Federal de Medicina. CFP-Conselho federal de psicologia. CNBB - Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil.
ECA - Estatuto da Criana e do Adolescente. ECOS- ONG Comunicao em Sexualidade. ENTLAIDS - Encontro Nacional de Travestis e Transexuais que Atuam na Luta contra a AIDS. FIPE - Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas.
FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao. FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao. FORUMDIR - Frum de Diretores das Faculdades de Educao das Universidades
Pblicas.
GGB - Grupo Gay da Bahia.
LGBT - Lsbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgneros. MEC - Ministrio da Educao e Cultura. OMS - Organizao Mundial de Sade. PCNs- Parmetros Curriculares Nacionais. PPA - Plano Plurianual. SECAD. Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade. SESAB- Secretaria de Sade do Estado a Bahia. STF- Supremo Tribunal Federal.
UNESCO- Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura.
2. FAMLIAS EM MUDANA E HOMOPARENTALIDADE ..................................... 29 2.1 FAMLIAS HOMOAFETIVAS/HOMOPARENTAIS NA CONTEMPORANEIDADE .................................................................................. 32
3. ESCOLA E FAMLIAS HOMOAFETIVAS ............................................................ 42 3.1 O ESPAO ESCOLAR DIALOGANDO COM A DIVERSIDADE ......................... 42 3.2 ESCOLA E FAMLIAS HOMOAFETIVAS: PENSANDO O CENRIO ................. 44
4. DOCUMENTOS RELACIONADOS AO TEMA: CONTRIBUIO PARA A FORMAO DOCENTE ....................................................................... 50 4.1 PARMETROS CURRICULARES NACIONAIS (PCNs) ..................................... 50 4.2 PROGRAMA BRASIL SEM HOMOFOBIA .......................................................... 55 4.3 PROJETO ESCOLA SEM HOMOFOBIA ........................................................... 57 4.4 SABERES DOCENTES E DIVERSIDADE SEXUAL .......................................... 58
5. RESULTADOS E DISCUSSO ...................................................................63
6. CONSIDERAES FINAIS .................................................................................. 90
APNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA .........................................................104
APNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ..........105
APNDICE C - TRANSCRIO DAS ENTREVISTAS ..........................................106
10
1. INTRODUO
1.1 CONSTRUINDO O OBJETO DE ESTUDO
Em 2009, apresentei a uma Universidade no interior da Bahia 1 , o projeto de criao de um Servio de Apoio Psicopedaggico, que se propunha ser um espao para acolhimento; escuta; reflexo e investigao sobre a origem da dificuldade da aprendizagem; realizao de estudos das possveis defasagens do processo de aprender; orientao e encaminhamento de questes relacionadas aos processos psico-scio-educacionais, considerando situaes de interveno, surgidas no contexto educacional e que careciam de uma viso interdisciplinar. A motivao para investir no empreendimento da implantao desse Servio deveu-se as demandas constantes de estudantes, docentes e funcionrias(os), da universidade, em relao s questes relativas aos processos de ensino- aprendizagem. Nesse novo espao de atuao profissional surgiu a inquietao que me levou ao desenvolvimento deste trabalho de pesquisa. Dentre as diversas reas de atuao do Servio est o acompanhamento de estudantes do ensino fundamental. O encaminhamento de uma criana de sete anos, feito por uma professora, chamou-me a ateno pelo teor da preocupao revelada. Assim que chegou ao servio a docente desabafou:
Tem questes to srias que ultrapassam nossas competncias, afinal no tivemos essa preparao durante o curso de Pedagogia, tambm nunca tive experincia com certos problemas; tambm [...] Temos uma falta de tempo enorme com tantas coisas para resolver na escola, os problemas dos alunos, direo, pais, enfim [...] Mas, mesmo assim, temos que estar atentas e buscar ajuda quando percebemos alguma coisa errada com nossos alunos, o que eu fiz mandando para psicopedagogia. (Fala da professora).
No demorou muito para que o motivo dessa angstia fosse externado:
ntido que essa criana tem ou ter problemas na aprendizagem e at outros problemas, na sua identidade essa uma questo preventiva, embora eu j perceba algumas questes no comportamento dela que para mim so decorrentes do tipo de situaes que ela deve presenciar em casa. Ela vive numa famlia desestruturada! (Fala da professora).
Quase sem respirar, a docente continuou:
1 Registramos que o nome da Universidade foi ocultado com o intuito de mant-la em sigilo para preservar a Instituio campo da pesquisa e as (os) formandas (os) entrevistadas (os). 11
Ela criada por duas mulheres, que vivem juntas como se fossem um casal e at devem ser, hoje em dia isso at est acontecendo, mas quando isso fica pblico complicado. As duas esto sempre na escola, so at participativas, mas mesmo que busquemos agir de forma natural, gera um constrangimento. Percebo que essa menina fala das duas como se soubesse de alguma coisa, me preocupa o que essa criana tem visto em casa! ntido que essa criana tem ou ter problemas na aprendizagem e at outros problemas na sua identidade. Ela entrou na escola esse ano, s vezes percebo que ela est um pouco triste! (fala da professora).
Muitas dvidas e, tambm, preconceitos, rondam as prticas dos profissionais que se deparam com essa configurao familiar (BRASIL, 2008). Pode-se perceber essa questo quando a professora denuncia: Ela criada por duas mulheres, que vivem juntas como se fossem um casal e at devem ser, hoje em dia isso at est acontecendo, mas quando isso fica pblico. Nesse contexto, fica claro que existe receio de que as crianas, cujos pais sejam gays ou lsbicas possam, no futuro, apresentar alguma identificao com a homossexualidade, como se a convivncia da criana com dois pais ou duas mes tivesse o poder de determinar a identidade sexual do filho (BRASIL, 2008). Embora a professora no tenha colocado claramente a questo da identidade sexual, demonstrou preocupao com algum nvel de identificao que, para essa criana, poderia ser dificultado em razo de essa desestruturao familiar: ntido que essa criana tem ou ter problemas na aprendizagem e at outros problemas na sua identidade. Essa fala nos inquietou, revelando que o trato com as diferenas permanece como um dos maiores e mais emergentes desafios a ser enfrentado na contemporaneidade como observa, por exemplo, BAUMAN (1999), quando sinaliza que assim a figura do estranho corporificada. Segundo o autor, o estranho o elemento de indeterminao da classificao social o elemento de imprevisibilidade, o elemento que pode colocar em crise a ordem social. O estranho, de maneira geral, escapa da classificao, a recusa, no por vontade, mas por natureza, o sujeito que a sociedade no pode recuperar e assimilar, rumo ao seu projeto de ordem perfeita e solucionador das nsias da humanidade. Aquela profissional estava aturdida com o fato de que, segundo Mello (2005), lsbicas e gays estarem assumindo para si e publicamente, em escala crescente, a linguagem da ternura e da preocupao sentimental em suas parcerias amorosas, bem como dando mostras de uma reedio daquilo que Aris (apud MELLO, 2005) chama de "sentimento da famlia"; redefinindo padres de conjugalidade e 12
parentalidade e rompendo com os limites convencionais definidores da instituio familiar que, at recentemente, estava restrita ao mbito do heterocentrismo e da heterossexualidade compulsria, por meio dos quais se pretende negar, respectivamente, a existncia e a validade da existncia de expresses afetivas e sexuais no integrantes do universo das relaes heterossexuais. O discurso da docente revela, ainda, que a dificuldade de lidar com uma situao de homoparentalidade 2 no cotidiano escolar emblemtico, sendo uma posio corrente e preocupante nas escolas, o que pode ser confirmada atravs de vrios estudos, a exemplo dos de Abramovay, Cunha e Calaf (2009); Abramovay, Castro e Silva (2004), assim como o de Uziel, Mello e Grossi (2006) e de Garcia et al (2007). Conforme Grossi (2000 apud PERELSON, 2006), o termo homoparentalidade nomina a situao familiar, onde pelo menos um dos pais assume-se como homossexual, podendo essa situao decorrer tanto da recomposio de famlias como da adoo ou da reproduo assistida. Tal termo surgiu na Frana, pela Association des Parents et Futurs Parents Gays et Lesbiennes e o carter distintivo que ele parece registrar a possibilidade de relao entre as experincias da parentalidade e da homossexualidade que, pelo menos do ponto de vista dos sujeitos, parece deixar de ser conflitivas. (TARNOVSKI, 2002). Interessante ressaltar a reflexo que Uziel, Mello e Grossi (2006) fazem sobre o nome homoparentalidade, as (os) autoras (es) chamam a ateno para a armadilha na qual podermos cair quando se utiliza esse termo no sentido de que a orientao sexual engendraria uma determinada parentalidade. Por outro lado, eles (as) ressaltam a importncia da utilizao do termo no sentido de visibilizar a questo. Assim, a homoparentalidade, na viso de Passos (2005) uma das modalidades de famlia que apresenta as mais significativas mudanas nas relaes conjugais e parentais, uma vez que nega o paradigma do qual se origina a famlia: a diferenciao sexual. Para ela, os diferentes tipos famlia surgidas nos ltimos tempos demonstram transformaes significativas na relao famlia-indivduo- sociedade, no havendo nenhuma mais revolucionria que a famlia homoparental, j que ela vai de encontro ao princpio fundamental na constituio familiar, que a diferenciao sexual, colocao corroborada por Fonseca (2008) quando ressalta que a homoparentalidade enquanto uma nova forma de 13
famlia, mexe com crenas e nos prope repensar as categorias bsicas de nosso parentesco, visto que vai de encontro ideia de uma famlia nuclear e tradicional, baseada em laos sanguneos na procriao. Para Garcia et al (2007), as relaes homoafetivas estveis tem se acentuado nos ltimos anos, no Brasil, bem como em outros pases. Esse fenmeno visibiliza outra perspectiva de famlia, que sofre preconceitos, ainda mais quando esses casais revelam o desejo de maternidade/paternidade, trazendo baila questionamentos sobre a competncia, a adequao, a possibilidade dessas famlias em cuidar de filhas (os). Ainda, segundo as (os) autoras (es), muitos estudos, a partir da dcada de setenta, do sculo XX, em grande parte realizados nos Estados Unidos, buscaram compreender o funcionamento das famlias homoparentais, e essas pesquisas, em sua maior parte, atestaram a normalidade das famlias em questo. Ainda, Para Uziel, Mello e Grossi (2006), as questes da conjugalidade homossexual, foram fortemente visibilizadas, a partir da apresentao do Projeto de Lei n 1.151/95, que instituiu a unio civil entre pessoas do mesmo sexo, de autoria da ento deputada Marta Suplicy, e que at ento no foi aprovado, fez com que o assunto se tornasse:
Objeto de programas de televiso, matrias de jornais e revistas, pronunciamentos de polticos, discursos de lderes religiosos e ativistas LGBT, abaixo-assinados pr e contra, novelas, conversas em famlia, discusses em mesa de bar e debates acadmicos. Desde ento, no s os homossexuais esto cada vez mais visveis na sociedade brasileira, mas tambm a idia de uma "famlia homossexual", comea a disputar espao com outras nas lutas de poder em torno das definies socialmente legtimas de conjugalidade e parentalidade. (UZIEL; MELLO; GROSSI, 2006 p.2).
, portanto, sobre essa modalidade de famlia e a relao da escola com elas, que tratamos, efetivamente, neste estudo, esperando contribuir, de alguma forma para o aprofundamento de estudos dessa natureza os quais ainda so escassos em nosso meio, embora seja importante ressaltar que tem sido cada vez mais freqentes pesquisas que focam as questes relativas homossexualidade e espao escolar, essas pesquisas tem revelado os preconceitos e violncias sofridas por aquelas (es) que no se enquadram num padro de heteronormatividade.
2 Homoparentalidade utilizado para nomear as relaes de parentalidade exercidas por homens e mulheres homossexuais. (ZAMBRANO, 2006). 14
O estudo Excluso branda do homossexual no ambiente escolar, nos primeiros anos do sculo XXI demonstra que, na atualidade, diante da diversidade sexual, as comunidades escolares ainda no superaram as prticas preconceituosas, para alm das dificuldades de aceitao e convivncia com a pluralidade sexual, a sexualidade como um todo exorcizada da vida escolar, sendo homossexuais considerados personas non gratas, e que de alguma maneira manifestem essa sexualidade, sendo homossexuais ou no. (CORRA, 2003, p.133). Na obra Juventudes e Sexualidade, as pesquisadoras Miriam Abramovay, Mary Garcia Castro e Lorena Bernadete da Silva (2004, p.255) chamam a ateno para a naturalizao de violncias como racismo, sexismo e homofobia a sua gravidade no espao escolar, que podem no ser percebidas como algo negativo e intencional. Nesse estudo, as autoras observaram que a percepo de rapazes e moas sobre o que violncia muito se assemelha. Ambos, quando solicitados a indicar as cinco mais graves formas de violncia, selecionam os mesmos itens, mas com uma singular exceo: a questo da agresso a homossexuais. Neste caso, percebe-se maior sensibilidade das jovens com este tipo de violncia. Bater em homossexuais classificado pelas jovens como a terceira violncia mais grave, enquanto para os jovens ela ocupa a sexta posio, de fato, a discriminao contra homossexuais, ao contrrio das de outros tipos, como as relacionadas a racismo e a sexismo, so no somente mais abertamente assumidas, em particular por jovens alunos, alm de ser valorizada entre eles, o que sugere um padro de masculinidade por esteretipos e medo ao estranho prximo, o outro, que no deve ser confundido consigo (ABRAMOVAY; CASTRO; SILVA, 2004 p.279-280). Conforme as pesquisadoras so diversos os preconceitos e discriminaes, que em nome da sexualidade, desrespeitam, ferem a dignidade do outro, constituindo, muitas vezes, para quem o objeto desses, sofrimentos e revoltas. Tais preconceitos so legitimados por padres culturais, que cultivam simblica e explicitamente hierarquias e moralismos em nome da virilidade, da masculinidade e da rigidez que codifica uma determinada vivencia da sexualidade como a normal, a consentida. Muitas expresses de preconceitos e discriminaes em torno do sexual tendem a ser naturalizadas, at prestigiadas e no entendidas necessariamente como violncias (ABRAMOVAY; CASTRO; SILVA, 2004 p.278). 15
Ainda, no mesmo estudo, Juventude e sexualidade, as autoras relatam os resultados de uma pesquisa realizada em 13 capitais brasileiras e no Distrito Federal, que envolveu alunas (os), pais e mes, educadoras (es) e membros do corpo tcnico pedaggico, dos quatro ltimos anos do Ensino Fundamental e do Ensino Mdio de escolas pblicas e privadas. Nessa pesquisa ficou claro o preconceito e a discriminao quanto homossexualidade. Aproximadamente 25% das (os) estudantes entrevistadas (os) expressaram que no gostariam de ter um colega homossexual. Esse preconceito, de acordo o estudo, maior entre os homens, com percentual variando de 33,5% a 44,9%, conforme a regio. Nesse sentido, esse percentual mais elevado para o preconceito de homens contra homossexuais, pode ter relao com a construo scio-histrico cultural de gnero, que de acordo com Costa (1994 apud ABRAMOVAY; CASTRO; SILVA, 2004), h uma representao da masculinidade ou da masculinidade legtima, aprendida como a normal, e que pode transformar-se em diversos tipos de violncias, comumente encontrada na discriminao contra os homossexuais. Tambm, segundo as pesquisadoras, a discriminao com os alunos considerados homossexuais ocorre de forma velada ou explicita, mediante termos pejorativos, cujo objetivo ridicularizar, humilhar, ofender, isolar e ameaar. Afirmam ser a postura de alguns professores e algumas professoras, em relao homossexualidade, ambgua. Apesar de no manifestarem uma oposio explcita, no combatem a discriminao e se mostram coniventes em algumas situaes, declarando que elas no passam de brincadeiras, coisas sem importncia. A pesquisa tambm apontou que no grupo dos familiares, um nmero muito significativo de 22% a 48% (dependendo da regio) declarou que no desejam que suas (seus) filhas (os) tenham colegas homossexuais. No grupo das (os) professoras (es) esse percentual menor: 2 a 6% afirmaram que no querem ter alunas (os) homossexuais. Diferente do que foi verificado entre os familiares e as/os alunas/os, as/os professoras (es) apresentam maior aceitao da homossexualidade. Afirmaram que o preconceito s existe entre os (as) alunos (as), negando que alguns colegas discriminem os homossexuais. No entanto, muitos (as) jovens relatam casos de estudantes homossexuais discriminadas(os), explicitamente, por professoras (es). Estudo realizado pela Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas (FIPE), a pedido do Ministrio da Educao (MEC), intitulado Preconceito e Discriminao no 16
Ambiente Escolar, publicado em 2009, revelou, atravs de uma amostra constituda de 18.599 pessoas, entre estudantes a partir dos 14 anos de idade, professoras (es), diretoras (es) e funcionrias (os) de escolas e pais e mes de estudantes de 501 escolas, em 26 estados e no Distrito Federal, que 99,3% das (os) entrevistadas (os), entre pais, estudantes e funcionrias (os) de escolas, tm algum nvel de preconceito. Essa pesquisa analisou preconceitos de diversas naturezas: racial, socioeconmico, de gnero, de orientao sexual, geracional, territorial e aquele relacionado a pessoas com necessidades especiais (fsica e mental). Estudantes negros (19%), seguidos de pobres (18,2%) e homossexuais (17,4%) fazem parte dos grupos que sofrem mais aes discriminatrias nas escolas. O estudo, ainda, aponta que escolas com nvel de preconceito maior tm desempenho escolar menor. O relatrio analtico final do estudo revelou que:
Os seus diversos pblicos-alvo (diretores, professores, funcionrios, alunos e pais / mes) apresentam atitudes, crenas e valores percebidos que indicam que o preconceito uma realidade nas escolas pblicas brasileiras nas sete reas temticas de discriminao pesquisadas (tnico-racial, de deficincia, de gnero, geracional, socioeconmica, territorial e de identidade de gnero). Portanto, possvel concluir pelos resultados obtidos, que os alunos das escolas pblicas no apenas tm atitudes e comportamentos preconceituosos e discriminatrios, como sofrem os efeitos de comportamentos similares de outros atores do ambiente escolar, como diretores, professores, funcionrios e do conselho escolar. A dicotomia entre atitudes e distncia social sugere tambm que, de modo geral, as pessoas no ambiente escolar no assumem que so preconceituosas e que discriminam pessoas pertencentes a outros grupos sociais aos quais no pertencem. Este ambiente escolar, marcado pelo preconceito, especialmente entre os alunos, termina por resultar em prticas discriminatrias, como humilhaes, agresses e acusaes injustas que afetam no somente os prprios alunos, mas tambm funcionrios e professores. (BRASIL, 2007).
A pesquisa sobre o Perfil das (os) Professoras (es) Brasileiras (os), realizada pela Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (UNESCO), entre abril e maio de 2002, em todo o Brasil, entrevistaram-se cinco mil professoras (es) da rede pblica e privada. Essa pesquisa revelou, entre outras coisas, que para 59,7% delas (es) inadmissvel que uma pessoa tenha relaes homossexuais e que 21,2% delas (es) tampouco gostariam de ter vizinhos homossexuais. (UNESCO, 2004 p.144-146). O estudo "Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: Violncia e Convivncia nas Escolas", de Abramovay, Cunha e Calaf (2009), foi publicado pela Rede de Informao Tecnolgica Latino-Americana e baseou-se em uma amostra de 10 mil estudantes e 1.500 professoras (es) do Distrito Federal. Esse estudo apontou que 17
63,1% das (os) entrevistadas (os) alegaram j ter visto pessoas que so, ou so tidas como homossexuais sofrerem preconceito; mais da metade das (os) Professoras (es) afirmaram j ter presenciado cenas discriminatrias contra homossexuais nas escolas; e 44,4% dos garotos e 15% das garotas revelaram que no gostariam de ter colega homossexual na sala de aula. Ainda, nesse estudo, Abramovay, Cunha e Calaf (2009) verificaram que inmeros discursos expressaram a dificuldade de educadoras (es) em lidar com as novas modalidades de parentesco, a exemplo da seguinte fala do docente: Mudou muito a configurao das famlias nos ltimos anos, eu acho que as pessoas que tiveram filhos de vinte anos pra c esto meio perdidas tambm sobre como lidar com esta estrutura nova. De fato, as mudanas com relao ao padro tradicional da triangulao familiar podem ser verificadas no dia-a-dia da escola, havendo discrepncia entre o modelo oficial e o modelo vivido. Tambm, as autoras, no estudo Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: violncia e convivncia nas escolas verificaram que entre as (os) estudantes pesquisadas (os), metade no vivia em uma configurao familiar tradicional, constituda de pai, me, filhos. As pesquisadoras ressaltam que apesar dos dados comprovarem a abrangncia dos novos arranjos, nem sempre existe uma compreenso a seu respeito. Em muitos dos casos, a desqualificao dava-se a partir da concepo de que existe uma falha ou uma falta nas famlias, que divergem da noo tradicional de ncleo familiar. A Fundao Perseu Abramo publicou, tambm em 2009, a pesquisa Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil: intolerncia e respeito s diferenas sexuais (BOKANY; VENTURI, 2011). Segundo seus resultados, 92% da populao reconhecem que existe preconceito contra Lsbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgneros (LGBT), e 28% tambm reconhecem e declararam o prprio preconceito contra pessoas LGBT. Assim, nesta investigao nos propomos estabelecer um dilogo com concluintes do Curso de Licenciatura em Pedagogia com o intuito de conhecer a viso que possuem sobre o relacionamento da escola com famlias homoafetivas. Nesse sentido que apresentamos como questo norteadora do estudo: qual a viso das (os) discentes, concluintes do Curso de Licenciatura em Pedagogia de uma Universidade no interior do estado da Bahia, sobre o relacionamento da escola com famlias homoafetivas? 18
Na tentativa de responder a esse questionamento, apresentamos como objetivo geral: conhecer a viso das (os) discentes, concluintes do Curso de Licenciatura em Pedagogia de uma Universidade no interior do estado da Bahia, sobre o relacionamento da escola com famlias homoafetivas. Como objetivos especficos, definimos: Identificar as contribuies do Curso, voltadas para a prtica docente, na lida com famlias homoafetivas; Verificar se foram fornecidos a essas (es) discentes componentes curriculares que abordassem o tema em questo; averiguar o acesso a documentos oficiais produzidos sobre questes concernentes ao tema em estudo e apresentar a opinio das (os) discentes, voltada para contribuio ao Curso de Licenciatura, no que se refere a subsidiar a formao para lidar com famlias homoafetivas na sua prxis profissional. Justifica-se a importncia desta pesquisa, na medida em que atravs das pesquisas expostas, os comportamentos de no aceitao do outro, percebido como estranho e diferente, persistem no espao escolar, bem como a fala da professora inicialmente referida, que afirma que em sua formao no teve acesso s informaes que pudessem auxili-la na lida com a situao: tem questes to srias que ultrapassam nossas competncias, afinal no tivemos essa preparao durante o Curso de Pedagogia. Desse modo, por um lado as crenas e valores da docente, os sentimentos de no estar preparada para lidar com a situao. Por outro, uma realidade da qual a escola no pode fugir, atravs do discurso moral e da patologizao, que so as questes referentes diversidade sexual, ao respeito s diferenas e a realidade das famlias homoafetivas no espao escolar. Na construo deste estudo buscamos, inicialmente, introduzir a dissertao, esclarecendo o processo de construo do objeto e o percurso metodolgico. No segundo captulo, fazemos uma breve discusso sobre a famlia, ressaltando as diversas e profundas transformaes por que tem passado na contemporaneidade tendo como recorte as famlias homoafetivas e a homoparentalidade. No terceiro captulo, propomos uma reflexo sobre a escola e as famlias homoafetivas, levando em considerao o espao escolar em relao diversidade, como contribuio para uma prxis pedaggica crtica e reflexiva. No quarto captulo, tratamos dos documentos produzidos pelo governo em 19
parcerias, que abordam o tema em estudo e a relao com a Educao, buscando uma discusso, que objetivou averiguar se esses documentos esto sendo apropriados no meio acadmico por estudantes do Curso de Pedagogia em estudo. Abordamos, tambm, em item a parte, os saberes docentes e a diversidade sexual. No quinto captulo, analisamos e discutimos os resultados da pesquisa de campo, destacando as entrevistas realizadas, desenhando o dilogo com os dados obtidos, considerando os objetivos traados para o estudo e categorias emergentes, no intuito de produzir consideraes e reflexes factveis relativas ao objeto estudado. Finalizamos o estudo apresentando as consideraes encontradas e que julgamos pertinentes.
1. 2. PERCURSO METODOLGICO
1.2.1 - Tipo do estudo
Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa e exploratria, destacando que, para Minayo e Sanches (1993), a abordagem qualitativa realiza uma aproximao de intimidade entre sujeito e objeto, uma vez que ambos so da mesma natureza. Assim, ela se envolve com empatia, os motivos, s intenes, os projetos dos atores, indicando quais as aes, estruturas e relaes so significativas. Ainda, para Polit e Hungler (1995, p. 270), a pesquisa qualitativa pode ser descrita como holstica, sendo aquela que est preocupada com as pessoas e seu ambiente, em todas as complexidades; e naturalista, no havendo limitao ou controle imposto a (o) pesquisadora (or). Esse tipo de pesquisa est baseada no pressuposto de que os conhecimentos sobre as pessoas so possveis mediante descrio da experincia humana, exatamente como ela vivida e definida por seus prprios atores sociais. Conforme Gil (1999, p.43), a pesquisa exploratria compreende levantamento bibliogrfico, entrevistas com pessoas que tiveram (ou tm) experincias prticas com o problema pesquisado, alm da anlise de exemplos que estimulem a compreenso. Possui, ainda, a finalidade bsica de desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idias para a formulao de abordagens posteriores. Dessa forma, esse tipo de estudo visa proporcionar maior conhecimento para a (o) 20
pesquisadora (or) acerca do assunto, a fim de que ela (e) possa formular problemas mais precisos ou criar hipteses, que possam ser pesquisadas por estudos posteriores. Para tanto, teses, dissertaes, artigos, livros, sites e cartilhas foram utilizados para estabelecer o dilogo entre a problemtica apontada e seus desdobramentos.
1.2.2 - Campo do estudo
A instituio de ensino superior, escolhida para campo da pesquisa, localiza- se em um municpio do interior do estado da Bahia, cuja Universidade foi instalada em maio de 1976, e est presente em cerca de 150 municpios. O curso de Pedagogia dessa Universidade foi aprovado por Conselho Superior Universitrio, atravs de uma Resoluo, em 23/03/84, sendo instalado em 1987, aps quatro anos da apresentao do projeto original, datado de 1983, tendo por base a proposta elaborada por docentes do Departamento de Educao da Universidade, com a justificativa da demanda de formao superior, pelo sistema de ensino da regio. Possua, pois, como finalidade precpua garantir formao bsica slida, que propiciasse a compreenso das questes educacionais e instrumentalizasse os estudantes e futuros profissionais para uma interveno coerente, engajada, reflexiva e crtica. Para atingir os objetivos e atender as necessidades regionais e locais, o Projeto indicava a formao de profissionais para atuar em trs grandes reas: Magistrio das Matrias Pedaggicas do Segundo Grau, Superviso Escolar de Primeiro e Segundo Graus e Educao Pr-Escolar.
Embora a regio geo-educacional, na poca, contasse com 29 municpios e 21 cursos de formao em magistrio de primeiro grau, no havia habilitao para o Magistrio das matrias pedaggicas do segundo grau, o que gerava escassez de profissionais para essa modalidade de ensino e a incorporao de docentes no habilitados para esse fim, ficando a cargo das (os) professoras (es) oriundas (os) dos Cursos de licenciaturas curtas e do Magistrio, a tarefa de ministrar aulas no segundo grau.
A implantao do Curso de Pedagogia, tambm, possua a proposta de congregar outros cursos de licenciatura, que estavam dispersos na Universidade: trs licenciaturas curtas (Letras, Estudos Sociais e Cincias) e habilitaes em licenciatura plena (Lngua Portuguesa, Lnguas Estrangeiras: Ingls e Francs, 21
Matemtica, Biologia, Educao Moral e Cvica ou Organizao Social e Poltica Brasileira), carecendo, portanto, de integrao, que pudesse dar corpo a um Projeto Pedaggico na Instituio. interessante ressaltarmos que, desde o ano de 1986, um ano antes da implantao do Curso, a Universidade passava por um momento de transio, por conta da extino de antigas licenciaturas, organizadas em Cursos de Habilitao plena e curta (Letras, Estudos Sociais e Cincias), e a implementao das licenciaturas plenas (Letras Vernculas e Ingls), Biologia, Geografia, Histria e Matemtica. Em 2002, sob a coordenao do colegiado, e aps diversos momentos de avaliao do Curso de Pedagogia, onde se puderam observar as inquietaes e necessidades do corpo docente e discente, foi apresentada a proposta de reestruturao curricular do Curso, cujo projeto de reformulao apontava para a instalao de um Curso que:
Busca-se, atravs desta reestruturao curricular, que o Curso, incorpore novas formas de abordagem da relao teoria- prtica, superando a compartimentalizao entre o pensar e fazer, o docente e o especialista, afirmando a docncia como base da identidade e da formao profissional. Assim, as mudanas curriculares preconizadas aqui so mediadas pela anlise das exigncias educacionais do contexto atual e pelo esforo de que a nova proposta curricular venha a se constituir como um espao profcuo de formao de pessoas aptas a refletirem sobre a educao em suas mltiplas dimenses e implicaes na vida social, assim como a desempenharem suas funes profissionais criticamente. (PROJETO POLTICO PEDAGOGICO DO CURSO EM ESTUDO, 2002).
Importante ressaltar que na proposta de reestruturao, afirmava-se que a docncia base da identidade profissional, a ser construda ao longo do Curso. Previa, tambm, a formao de sujeitos voltados para uma prtica social humanizada, no exerccio de uma prxis crtica, inserida em um contexto scio, histrico, cultural, firmando a pesquisa como condio necessria para a formao do educador/pedagoga (o). 1.2.3 - Sujeitos do estudo
O universo desta investigao compreendeu estudantes, concluintes do Curso de Pedagogia de uma Universidade pblica localizada no interior do estado da 22
Bahia. Nossa pretenso inicial era a de ter acesso ao universo como um todo, tendo em vista se tratar de uma turma com onze formandas (os), segundo informao das (os) prprias (os) estudantes, que foi corroborado por documento oficial emitido pelo setor responsvel na Instituio. Desse modo, o recrutamento dos sujeitos para realizao das entrevistas, deu-se atravs de contatos telefnicos e por e-mail. Nesses contatos foram se apresentando algumas dificuldades para a efetivao da nossa pretenso inicial, que consistia no envolvimento de toda a populao de formandas (os). Nesse sentido, algumas (uns) estudantes no responderam ao convite, outras (os) no se predispuseram, alegando a correria de final do Curso e, ainda a realizao da monografia, que tambm foi um aspecto sinalizado. Ressaltamos que, antes do contato com as (os) estudantes, tivemos o contato prvio com a direo e coordenao do Curso, e, nessa ocasio, explicitamos a proposta da pesquisa, obtendo aquiescncia e apoio para a sua realizao. As condies para compor a amostra da pesquisa compreenderam ser estudantes concluintes do Curso de Licenciatura em Pedagogia em 2011.1 de uma Universidade pblica no interior da Bahia, mulheres e homens com idades entre 20 e 50 anos, ciclo de vida em que se encontrava a maioria das (os) estudantes. Assim, com intuito de conhecer a viso das (os) discentes sobre a relao da escola com famlias homoafetivas foram realizadas entrevistas semi estruturadas, sendo gravadas e transcritas, havendo, previamente, a assinatura do consentimento livre e esclarecido, conforme a Resoluo 196/96, do Conselho Nacional de Sade (CNS), a qual versa sobre as pesquisas envolvendo seres humanos. O termo de consentimento foi assinado em duas vias por todos os sujeitos e pesquisadora. (APNDICE B). Trs das entrevistas foram realizadas pessoalmente, visto a disponibilidade das (os) formandas (os) para o encontro, e duas delas ocorreu por meio virtual visto que uma das entrevistadas, na oportunidade, por conta de questes de trabalho se encontrava fora da cidade, e a outra demonstrou de antemo a preferncia pela entrevista atravs do meio virtual. Assim, o roteiro construdo para a entrevista foi enviado via e-mail, sendo devolvido em tempo hbil, tambm atravs desse meio, o que, de certa forma, descaracterizou a entrevista, uma vez que no houve presena fsica da pesquisadora. Entretanto, pudemos manter diversos contatos a fim de que fossem esclarecidas dvidas concernentes s questes e manifestaes das 23
discentes, aparando arestas, o que nos foi possibilitado, atravs desse feedback. interessante tambm ressaltar que, na reta final da pesquisa, no momento em que j estava bastante adiantada a apresentao e discusso dos resultados, por motivos que no foram esclarecidos, duas (ois) das (os) entrevistadas (os) solicitaram a retirada dos termos de consentimento, esse fato conforme procedimento tico de pesquisa foi imediatamente levado em considerao e uma reviso e reestruturao da anlise foram empreendidas, embora, ficasse notria a perda dessas falas, to importantes para o delineamento da discusso. Posteriormente, tambm sem justificativa, as (os) entrevistadas (os) voltaram atrs e permitiram a utilizao do material e, dessa maneira, pudemos seguir com uma amostra com cinco participantes. A idade das (os) entrevistadas (os), sendo quatro mulheres e um homem, variou de 23 a 42 anos, todas (os) todas (os) j possuam experincia na docncia que variava de 01 a 22 anos, a cor parda foi predominante (auto-referida), sendo o catolicismo a religio de quatro delas, conforme o quadro de identificao a seguir.
QUADRO1 - Caracterizao dos sujeitos do estudo 2011.
Nome Sexo Idade Raa/cor Religio Experincia docente, em anos. D 1 Feminino 23 Parda Nenhuma 01 D 2 Feminino 26 Parda Catlica 08 D 3 Feminino 22 Parda Catlica 01 D 4 Masculino 33 Indgena Catlica 02 D 5 Feminino 42 Parda Catlica 22 Fonte: dados da pesquisa
1.2.4 - Coleta de dados
Para coleta de dados utilizamos a entrevista semiestruturada ou semiaberta, a qual, conforme Duarte (2009) parte de um roteiro de questes, que do cobertura ao interesse da pesquisa, cujo modelo estruturado a partir do problema definido, exigindo a elaborao de poucas questes, mas suficientemente amplas para serem discutidas em profundidade. Para Poupart et al (2008, p. 215), a entrevista, se constitui um i nstrumento para acesso s realidades sociais, o que implica em mltiplas interpretaes, produzidas pelos discursos elaborados pelos sujeitos. As entrevistas tiveram durao variada, de meia uma hora e meia, sendo realizadas em diversos locais respeitando a disponibilidade das (os) entrevistadas 24
(os) a exemplo de D 5 42 anos, cor: parda, catlica experincia com docncia de 22 anos, que foi realizada em um hotel em Salvador, pois ela participava de um Encontro Pedaggico. D 4 , 33 anos, sexo masculino, indgena, catlico, com experincia docente de 02 anos foi o primeiro a participar da pesquisa, sendo entrevistado na prpria instituio pesquisada. D, 22 anos, sexo feminino, cor parda, catlica, 01 ano de experincia na docncia, foi entrevistada em sua residncia. D e D foram entrevistadas atravs de meio virtual, conforme j referido. O roteiro para entrevista teve foco nas seguintes questes: (1) Dados de identificao Idade, sexo, cor, religio, experincia na docncia; (2) Viso das (os) discentes sobre a relao da escola com famlias homoafetivas; (3) Componentes curriculares que versaram sobre a temtica em questo; (4) Conhecimento em relao aos documentos oficiais; (5) A importncia de esse saber e a contribuio do curso para isso; (6) Sugestes para que o Curso possa subsidiar a prxis referente relao da escola com as famlias homoafetivas.
1.2.5 - Anlise dos dados
Para anlise dos resultados utilizamos a tcnica de anlise de contedo de Bardin (1977), essa tcnica, segundo a autora compreende um conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes, objetivando conseguir, por procedimentos, sistemticos e objetivo, envolvendo a descrio do contedo das mensagens, indicadores que possibilitem a inferncia de conhecimentos prprios das condies de produo/recepo das mensagens em estudo. Ainda, para Bardin, existem, nessa tcnica, dois plos: o rigor e a necessidade de se ir alm das aparncias. Metodologicamente, o confronto, a verificao prudente e interpretao brilhante. Prossegue afirmando a sua funo heurstica, revelando que a analise de contedo enriquece a abordagem exploratria, ampliando a propenso descoberta. Tal tcnica de anlise consiste em um mtodo emprico, relacionado do tipo de fala para a qual utilizada, alm do tipo de interpretao que se pretende como objetivo. Assim, no h o pronto-a-vestir em anlise de contedo, apenas algumas regras de base, por vezes, precisam ser reinventadas a cada momento, sendo marcada por uma grande diversidade de formas, adaptando-se a um campo de aplicao bastante vasto como o campo das comunicaes. Desse modo, pode 25
ser uma anlise dos significados, como na anlise temtica, ou uma anlise de significantes, como na anlise lxica. (BARDIN, 1977). Para Ferreira (2003), considerando a abordagem de Bardin, relaciona as diversas possibilidades do uso da anlise de contedo, envolvendo a anlise para quando se deseja ir alm dos significados, aplicando-se a tudo que encontrado em entrevistas ou depoimentos ou escrito em jornais, livros, textos ou panfletos, como tambm a imagens de filmes, desenhos, pinturas, cartazes, televiso e toda comunicao no verbal, como gestos, posturas, comportamentos e outras expresses culturais.. Neste estudo utilizamos a tcnica de analise temtica, desenvolvida atravs de categorias oriundas das falas dos sujeitos, em consonncia com os objetivos traados para o estudo, destacando os passos da anlise de contedo: a pr- analise; que consiste na explorao do material; a escolha das unidades de contagem; seleo das regras de contagem; a escolha de categorias. E, por fim, o tratamento dos resultados envolvendo a inferncia e a interpretao. A pr-anlise consistiu na leitura flutuante, do material, buscando o objetivo geral da pesquisa que a finalidade maior, relacionado ao quadro terico que embasa o conhecimento. Segundo Bardin (1977), aps a leitura flutuante devemos escolher aspectos relativos s questes norteadoras ou das hipteses, organizando- as em possveis indicadores, tendo como exemplo os temas que se repetem com freqncia, que pode constituir-se em unidades de registro para a categorizao. A explorao do material consiste na etapa mais longa e cansativa. Pois, aps leitura exaustiva, agrupamos os dados brutos, transformando-os e organizando-os em unidades registro, as quais possibilitam a escolha de categorias. Para a construo das categorias, consideramos que elas so a base para anlise dos estudos qualitativos e que, ela uma forma geral de conceito, uma forma de pensamento. As categorias se constituem retrato da realidade, em determinado momento, do saber e podem se modificar constantemente, assim como a realidade. Assim, na anlise de contedo, as categorias so classes que comportam um grupo de elementos (unidades de registro) em face de caractersticas comuns,podendo haver vrios critrios: semntico, sinttico, expressivo, entre outros. (BARDIN, 1977). A categorizao permite reunir maior nmero de informaes custa de uma esquematizao e assim correlacionar classes de acontecimentos para orden- 26
los. A categorizao representa a transformao de dados brutos em dados organizados. Para serem consideradas boas, as categorias de homogeneidade, pois necessrio que exista s um aspecto na anlise, devendo estar relacionadas s intenes do pesquisador, aos objetivos da pesquisa e s questes norteadoras, as categorias sero produtivas se os resultados forem frteis em inferncias, em novos achados, entre outras. (BARDIN, 1977). Desse modo, as categorias que emergiram do estudo compreenderam: (1) relacionamento da escola com famlias homoafetivas: viso das (os) discentes, na qual destacamos a subcategoria: o preconceito velado ou explicito e o despreparo da escola e das(os) professoras(es); (2) contribuies do Curso a pratica profissional visando lidar com famlias homoafetivas: disciplinas e contedos referentes diversidade sexual e famlias homoafetivas; (3) acesso a documentos concernentes ao tema durante a formao docente; (4) mudana no Curso de Licenciatura em Pedagogia, visando o preparo para lidar com famlias homoafetivas: sugestes das (os) discentes, envolvendo uma subcategoria: formao profissional. A autora afirma, tambm, que quando da analise e a interpretao dos resultados, necessrio retomar os marcos tericos, prprios da investigao, uma vez que eles embasam as perspectivas significativas para o estudo. Dessa maneira, a relao entre os achados e a fundamentao terica o que dar sentido a anlise empreendida. As interpretaes a que conduzem as inferncias, objetivam buscar o que se esconde na aparente realidade, o que de fato querem dizer, nas entrelinhas e em profundidade, mesmo quando se trata de afirmaes, aparentemente superficiais. Dessa maneira, foi com essa orientao, que buscamos construir, analisar, interpretar e inferir sobre as manifestaes dos sujeitos do estudo, no que concerne a temtica em questo: relao da escola com famlias homoafetivas, considerando a viso das (os) discentes. Tambm baseando-nos em Franco (2008), quanto ao processo de formatao das categorias de anlise e organizao do roteiro semiestruturado, anunciamos as categorias estabelecidas para a analise, ou seja, os corpus de significao, relacionados aos objetivos da pesquisa, tendo o cuidado com a traduo do dito pelos sujeitos do estudo, da a pratica de apresentarmos as falas e interpretaes, cujo significado consiste em:
O significado de um objeto pode ser absorvido, compreendido e 27
generalizado a partir de suas caractersticas definidoras e pelo seu corpus de significao. J o sentido implica a atribuio de um significado pessoal e objetivado que o concretiza na pratica social e que se manifesta a partir das representaes sociais, cognitivas, subjetivas, valorativas e emocionais, necessariamente contextualizadas. (FRANCO, 2008 p.13),
No processo de analise, identificamos ainda, quais documentos oficiais produzidos pelo Ministrio da Educao e Secretarias afins, versavam sobre preconceito, diversidade sexual, famlias homoafetivas e congneres, tendo como parmetro a produo do estado, em relao sexualidade e a diversidade sexual direcionada ao mbito Educacional como os Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (temas transversais) e o Projeto Escola sem Homofobia, como tambm o Programa Brasil sem Homofobia. Registramos que tais documentos no foram objeto exclusivo de anlise, mas recurso para se identificar se o que est oficialmente produzido para o campo da Educao tem chegado as (aos) futuras (os) professoras (es). Buscamos, assim, apresentar os seus contedos em captulo especfico e, no decorrer da pesquisa de campo, verificarmos se eles foram explorados e se as (os) discentes a eles tiveram acesso ao longo da formao.
1.2.6 - Aspectos ticos da pesquisa
No que se refere aos aspectos ticos, reiteramos que os sujeitos entrevistados tiveram acesso ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme Resoluo 196/96 do Conselho Nacional de Sade (Brasil, 2000). Esse termo foi assinado em duas vias por todos os sujeitos entrevistados e a pesquisadora, assegurando o direito de participar ou no da pesquisa, podendo ausentar-se em qualquer das suas etapas, sem que para isso sofressem nenhum tipo de dano. Em se tratando dos aspectos ticos em pesquisa envolvendo seres humanos, consta na Resoluo 196/96 que toda pesquisa envolvendo seres humanos envolve risco. O dano eventual poder ser imediato ou tardio, comprometendo o indivduo ou a coletividade 3 . (BRASIL, 2000). Nesse sentido, a pesquisadora tornou-se responsvel, caso necessrio, por suspender a pesquisa, imediatamente, ao perceber algum risco ou dano ao sujeito participante.
3 O projeto foi submetido e aprovado pelo Comit de tica do CEP/IMES (protocolo 3540). 28
Nos prximos captulos, apresentamos a reviso de literatura envolvendo temas pertinentes ao nosso objeto de estudo. Tratamos da famlia, das famlias homoafetivas, homoparentalidade, documentos oficiais relativos ao tema estudado e discorremos tambm sobre os saberes docentes, em especial aqueles que concernem prtica profissional e a relao da escola com famlias homoafetivas.
29
2. FAMLIAS EM MUDANA E HOMOPARENTALIDADE
A expresso famlia pode nos remeter a impresso de universalidade, algo to natural que, portanto, seria compartilhada e compreendida por todas (os). No entanto, no bem isso que verificamos ao olharmos mais de perto essa questo, pois, pelo contrrio, a famlia engloba inmeros significados e no apenas a concepo comumente aprendida, introjetada e reproduzida, a qual se encontra, muitas vezes de maneira incontestvel, no iderio coletivo. Segundo Bourdieu (1993 apud UZIEL, 2002 p.35), para que essa realidade, que denominamos famlia, seja possvel, necessria reunio de condies sociais que no so uniformemente distribudas e tampouco universais, ainda que a naturalizao as faa parecer bvias. "A famlia [...] um privilgio institudo sob forma universal. O autor ressalta, ainda, que se a famlia aparece como a mais natural das categorias sociais, porque funciona como esquema classificatrio e princpio de construo do mundo social. A famlia constituda como entidade unida, integrada, unitria, estvel, constante, indiferente flutuao dos sentimentos individuais. Esse processo de naturalizao da famlia, denunciado por Bourdieu (1993 apud UZIEL, 2002), j no mais se sustenta sem problematizao, na medida em que a famlia contempornea ocidental, a partir dos anos 60, do sculo passado, conheceu numerosas e profundas transformaes. Assim, o modelo ideal de famlia, composta por um casal legalmente constitudo e seus filhos, tendo o pai como provedor e a me como dona-de-casa e responsvel pela educao dos filhos, alm dos cuidados com o marido e os afazeres domsticos perdeu vigor e declina-se medida que as mulheres inserem- se no mercado de trabalho, tendo que conciliar a atividade profissional com a famlia, muito embora esse no seja o nico elemento mobilizador das mudanas no comportamento e novos arranjos familiares. Outros, como o controle da fecundidade por meio da contracepo e o aumento do nmero de divrcios, de unies livres e de recomposies familiares, tambm contriburam para o surgimento de outras formas de vida familiar. Para Sarraceno (1997), a famlia contempornea caracteriza-se por uma grande variedade de formas, que documentam a inadequao dos diversos modelos da tradio, para compreender os grupos familiares da atualidade. 30
Segundo Mello (2005), poucas so as sociedades, onde a famlia e o casamento podem ser pensados a partir de uma transposio acrtica do iderio familista oitocentista. Nesse cenrio, constata-se o crescimento de famlias monoparentais, sobretudo, as matrilineares, bem como tambm aquelas compostas por casais homossexuais e aquelas recompostas, resultantes da unio de pessoas separadas e divorciadas. (GOLDANI, 1993). Isso pode ser corroborado, no caso do Brasil, atravs do perfil demogrfico da populao brasileira, que revela sinais de mudanas na concepo de famlia, o aumento das separaes e dos divrcios, o adiamento do casamento entre jovens, a reduo significativa da nupcialidade, bem como o incremento do nmero de famlias reconstitudas, das unies de fato, das famlias monoparentais e das chefiadas por mulheres. (BRASIL/PNAD, 2006). Essa diversidade de composies familiares demanda da sociedade uma viso mais ampla e variada sobre as concepes de famlia. Para Furlani (2005), cada sociedade possui normas de inteligibilidade, ou seja, lgicas cognitivas e epistmicas criadas na cultura (inteligibilidade cultural), que do a compreenso do normal. Na lgica que se estabelece a partir do atrelamento de um gnero a um sexo (e este gnero a uma sexualidade) no se coloca como possvel a ideia de multiplicidade. (FURLANI, 2005, p. 38). Segundo Uziel (2004), tais transformaes no indicam o declnio da famlia, como instituio, mas o surgimento de outros e, talvez, modelos familiares, originados de fenmenos sociais, a exemplo das transformaes das relaes de gnero e da insero das mulheres no mercado de trabalho. Nesse contexto, Roudinesco (2003) ressalta trs grandes perodos na evoluo e transformao da famlia: (1) as famlias tradicionais: esse perodo compreende o patriarcalismo, na qual a autoridade paterna tida como soberana tal como um Deus. (2) A Famlia moderna, inserida no perodo compreendido do sculo XVIII at meados do sculo XX, onde a afetividade, o amor, o romantismo passam a fazer parte da sua estruturao. (3) A famlia contempornea ou ps-moderna, caracteriza-se, desde os anos 1960, por uma problematizao em relao questo da autoridade, na medida em que se constata uma diminuio na durao das unies, aspecto que sinalizado por Samara (2002), quando aponta que pensar a histria das famlias brasileiras, significa refletir sobre o lugar do matrimonio na cena 31
social, questionando a representatividade do casamento e, portanto, levando em considerao a presena marcante dos concubinatos, das unies espordicas e da bastardia, ao longo dos sculos XVIII e XIX. Fres-Carneiro (2001) entende que a constituio da famlia teve incio h cerca de quatro milhes de anos, remontando-se aos ancestrais da espcie humana, dando-lhe, assim, carter universal. No entanto, h algumas dcadas, a estrutura familiar vem apresentando ampla transformao. A famlia apresenta-se como uma instituio flexvel que com a modernidade, vem se transformando e adequando social, cultural, biolgica e psicologicamente. Ao percorrer diversas (os) autoras (es) que se debruaram sobre a questo das mudanas, pelas quais a famlia tem passado historicamente, tais como, Sarraceno (1997); Singly (2007) e Samara (2002), notamos que as questes que tangem, especificamente, s famlias homoafetivas, tem sido pouco exploradas. Nesse sentido, segundo Uziel (2002), os novos modelos de famlia constituem uma realidade pouco absorvida pelo discurso dos profissionais da justia e da sociedade civil como um todo. A autora reflete que essa situao pode estar relacionada ao fato de que esses chamados novos arranjos familiares, compostos por casais homoafetivos so controversos, e a estabilidade do relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, o desejo de ter filhos, desperta a curiosidade de muitos, que desconfiam da possibilidade, da inadequao e da impropriedade dessa forma de constituio familiar. Ainda, segundo a autora, no Brasil, o Estatuto da Criana e do Adolescente, seguindo as diretrizes da Constituio Federal, no restringe famlia existncia dos dois sexos como casal parental, basta que exista um e sua prole, oferecendo reconhecimento e visibilidade para uma situao ftica. Nesse contexto, importante trazermos o que comenta Passos (2005), sobre a variedade de formas encontradas hoje, na famlia, o que exige flexibilidade de quem estuda sobre ela, a fim de se evitar que posturas preconceituosas interfiram na compreenso dos diferentes laos que as envolvem. Pois, geralmente ainda se procura entender os diferentes tipos de famlia, tendo-se como base princpios do patriarcado. No entanto, a homoparentalidade no est nessa regra, correndo-se o risco de, em no considerando suas especificidades, promover sua condenao a priori, por ela no se enquadrar exatamente no referencial institudo pelo status quo patriarcal. Assim, a autora comenta, a est um grande equvoco, uma vez que, nesse caso, impossvel um ajuste entre modelos; afinal, as relaes homoparentais exigem uma configurao de funes e lugares distinta da parentalidade heterossexual (PASSOS, 2005, p.2). 32
Tambm, segundo Mello (2005 p.19), revelar a dinmica das famlias homoafetivas, remete-nos ao que se localiza no campo dos confrontos entre sujeitos sociais, que possuem distintas concepes de famlia, que emergem, tambm, como a materializao dos embates ideolgicos entre vises de mundo includentes e excludentes. Assim, considerando todos esses aspectos, no prximo item, buscamos ampliar a discusso sobre as famlias homoparentais/homoafetivas, estabelecendo dialogo com autoras (es), que abordam esse tema, cujo foco para pesquisa recente, destacando a escassez de estudos, no Brasil, sobre ele, o que, em certa medida, dificultou o aprofundamento e o balano efetivo dessa literatura.
2.1 Famlias Homoparentais/Homoafetivas na Contemporaneidade
A homoparentalidade consiste no exerccio da parentalidade por pessoas que possuem orientao homossexual, o que tem gerado muitos questionamentos, envolvendo os mais diversos segmentos sociais e esferas do conhecimento. Noda (2005) comenta que o conceito de famlia um dos mais reiterados por nossa sociedade, e o surgimento de novos arranjos familiares fora-nos a rever antigos conceitos. Assim, a famlia homossexual um desses novos arranjos, constituindo-se, talvez, o mais polmico deles, revelando a grande dificuldade de se abrir mo de antigas definies, acrescentando-se o fato desta estar inserida em uma sociedade que a encara de maneira ambgua, pois politicamente correto aceit-la, mas ao mesmo tempo no se esquece da longa histria do preconceito, que ainda paira sobre os homossexuais, muito embora, h dcadas, modernas e slidas pesquisas multidisciplinares internacionais garantem que a homossexualidade no constitui doena, distrbio ou perverso.
Em 1970, a American Psychology Association (APA), em 1985, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e em 1993, a Organizao Mundial de Sade (OMS) excluram o cdigo 302.0 da Classificao Internacional de Doenas (CID), deixando a homossexualidade de ser considerada como desvio e transtorno sexual. A Resoluo 01/1999, do Conselho Federal de Psicologia CFP (BRASIL, 1999), que promulga Portaria, ratificando a normalidade da homossexualidade, ao tempo em que condena as teorias e terapias homofbicas. Assim, a despatologizao da homossexualidade remete-nos diretamente defesa dos direitos humanos das minorias sexuais. (MOTT, 2006). O autor assinala, tambm, que em 1984, a Associao Brasileira de Psiquiatria e suas filiadas aprovaram uma Resoluo, considerando que a 33
homossexualidade em si no implica em prejuzo do raciocnio, estabilidade, confiabilidade ou aptides sociais e vocacionais, razo pela qual se opem a toda discriminao e preconceito, tanto no setor pblico quanto no privado, contra os homossexuais de ambos os sexos. Mott (2006 p. 512) ainda ressalta que a dcada de 1990 foi marcada por muitos progressos em relao cidadania das minorias sexuais. Em Salvador, por exemplo, por iniciativa do Grupo Gay da Bahia (GGB) e pela primeira vez em toda a histria continental foi aprovada Lei Orgnica Municipal proibindo a discriminao baseada na orientao sexual, exemplo seguido por 74 municpios de norte a sul do Pas e por trs constituies estaduais: a de Mato Grosso, a de Sergipe e a do Distrito Federal. O autor sinaliza o ano de 2004, como importante marco para o surgimento do Programa Brasil Sem Homofobia Programa Brasileiro de Combate Violncia e Discriminao contra Gays, Lsbicas, Transgneros e Bissexuais, e de Promoo da Cidadania Homossexual, que a partir deste, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos comprometeu-se a implementar mais de 50 aes afirmativas, envolvendo 10 Ministrios, com vistas a promoo da cidadania plena de transgneros, lsbicas e gays.
Com relao unio entre homossexuais, o pesquisador (op. Cit.), expressa 10 razes que justificariam sua convico de que a legalizao do casamento entre pessoas do mesmo sexo representaria uma conquista importante. A primeira dessas razes est baseada na Constituio Federal que afirma a igualdade de todas (os), portanto, nenhuma lei pode discriminar os homossexuais. Na quinta razo, Mott fala da aspirao de milhares de lsbicas e gays que defendem e almejam a legalizao das suas unies, confirmando essa colocao quando ressalta a procura de uma autoridade civil ou religiosa, ou realizam algum tipo de cerimnia, para demonstrar publicamente que a partir de ento passam a constituir um casal. Deve ser registrado que essa questo j havia sido pautada pela ento Deputada Marta Suplicy quando apresentou o Projeto de Lei n 1.151/95 (Lei da Parceria Civil Registrada- PCR), que visa instituir a unio civil entre pessoas do mesmo sexo, ampliando os debates sobre a conjugalidade homossexual.
Claro est que, at a presente data, o Projeto de Lei da Parceria Civil Registrada (PCR), no foi aprovado pelo Congresso Nacional. A oposio ao projeto tem sido feita por parlamentares ligados a determinadas correntes religiosas, apresentando posicionamentos publicamente caracterizados como homofbicos, sexistas, machistas. Desde ento, no s as relaes homoafetivas esto cada vez mais visveis na sociedade brasileira, mas, tambm, a idia de uma famlia homossexual comea a disputar espao com outras nas lutas de poder em torno das definies 34
socialmente legtimas de conjugalidade e parentalidade (UZIEL; MELLO; GROSSI, 2006).
O direito s vivncias conjugal e parental no pode ser compreendido como monoplio das pessoas heterossexuais e que no h fundamento tico que justifique a definio da famlia como instituio restrita ao universo da diferena sexual. Para ns, trazer ao debate reflexes acerca das conjugalidades e parentalidades de gays, lsbicas e transgneros no Brasil tambm uma maneira de aprofundar a discusso sobre os significados da liberdade e da justia. (UZIEL; MELLO; GROSSI, 2006 p 8).
Ainda, conforme Uziel, Mello e Grossi (2006), quase vinte pases j aprovaram leis que asseguram o amparo s unies civis entre homossexuais, entre eles Holanda (01.04.2001); Espanha (29.06.2005); Blgica (30.01.2003) e Canad (28.06.2005), que reconhecem a possibilidade de casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, com plenos direitos parentais, como o caso dos dois primeiros pases referidos. Desse modo, tem-se tornado comum classificar as "famlias gays" como um tipo "novo" ou "alternativo" de famlia, alegando que a sociedade brasileira baseia-se na famlia patriarcal, o que discutido por Corra (1994), quando reflete que esse modelo nunca possuiu a amplitude que se lhe arroga, uma vez que diversas configuraes familiares sempre estiveram presentes na histria brasileira. Assim, mesmo que a definio das "famlias gays" como "novas" se faa em um tom entusiasta e favorvel, tal qualificativo carrega a pressuposio de que h um modelo homogneo estabelecido, contra o qual os homossexuais estariam se opondo. Esse posicionamento engendraria uma viso de negao da natureza, ou de transgressor da ordem, seja ela biolgica, moral, religiosa, social que perpassa os discursos contra a parentalidade homossexual. Essa idia de negao da paternidade em funo da escolha de parcerias do mesmo sexo aparece como justificativa para o estranhamento da parentalidade gay. (UZIEL, 2002 p. 38). Por outro lado, segundo Fonseca (2001), os casais homoafetivos seriam os verdadeiros representantes da famlia "ps-moderna", com nfase na afeio e na escolha dos filhos onde: [...] as crianas adotadas, enquanto filhos "escolhidos" podem ser considerados como, de alguma maneira, mais valiosas do que aquelas que so simplesmente nascidas dos seus pais. Da mesma forma, parceiros do mesmo sexo ganharam um espao importante; se a afeio a verdadeira base do relacionamento, por que o casal seria limitado a um relacionamento heterossexual centrado em torno da reproduo biolgica? (FONSECA, 2001 p.3). 35
Essa reflexo tambm compartilhada por Uziel (2004), quando problematiza a idia da naturalizao da famlia. A autora questiona essa vertente que busca universalizar e uniformizar tal categoria, afirmando que:
A famlia aparece como a mais natural das categorias sociais, porque funciona como esquema classificatrio e princpio da construo do mundo social. Para que essa realidade denominada famlia seja possvel, necessria a reunio de condies sociais que no so uniformemente distribudas e tampouco universais, ainda que a naturalizao as faa parecer bvia. A palavra pais parece expressar a necessidade de apenas dois, de sexos diferentes, vnculo biolgico e convivncia. (UZIEL, 2004, p.90).
Comentando sobre a famlia, Touraine e Cadoret (2004 apud MELLO, 2006), referem que nenhum socilogo, na atualidade, define a famlia conjugal (formada por um pai, uma me e seus filhos) como normal, em oposio suposta anormalidade de famlias homossexuais. Todavia, as resistncias aceitao de famlias formadas por homossexuais relacionam-se ao fato de que o movimento e mais, a simples existncia de gays e lsbicas desafia estruturas milenares a partir das quais as sociedades humanas foram construdas, como a represso sexual e a heterossexualidade compulsria. De maneira geral, as demandas de gays e lsbicas pelo reconhecimento de seus vnculos afetivo-sexuais como de ordem familiar no negam a diferena sexual, entre o masculino e o feminino, mas sua considerao como o nico fundamento do desejo, da sexualidade e da famlia. As famlias homossexuais reivindicam uma sexualidade no procriativa, fato este, que a sociedade no pode suportar. (UZIEL, 2002 p.40). No que se refere ao casamento, Lorea (2006) coloca que a instituio do casamento deve estar acessvel a todos os cidados, independentemente de sua orientao sexual, assinala peremptoriamente que o contrrio a isso deve ser considerado discriminao, proibida na Constituio Federal. O autor assinala que no pretende criar um novo direito para lsbicas e gays, mas assegurar o direito que eles j possuem constitucionalmente estabelecido, de no serem discriminados. Assim, afirma o autor, que sustentar a necessidade de uma lei para oficializar o casamento gay ignorar que a regulao do casamento deve ser uma nica sob pena de discriminao, sendo injustificado tratamento distinto para casais homossexuais. Prope um dilogo com os diversos argumentos contrrios a unio 36
homoafetiva que considera serem provenientes do senso comum tais como: seria a homossexualidade uma patologia? O casamento entre pessoas do mesmo sexo representa um risco para a sociedade? A adoo por casais homossexuais pe em risco a integridade fsica ou mental dessas crianas? Tambm, Roudinesco (2003) prope reflexes sobre as transformaes de costumes e formas de pensar a famlia, referindo que pouco sobrou da antiga famlia patriarcal, imutvel, regida por um pai todo poderoso. A autora lana olhares sobre o desejo de famlia expresso pelos homossexuais, que buscam, cada vez mais, a adoo e outras formas para que possam vivenciar a paternidade ou maternidade. Relembra que ter pais heterossexuais no garantia de ausncia de traumas e sofrimento. Para ela, a famlia humana reinventa-se constantemente visto que desde os primrdios a famlia tem sido uma instituio fundamental para a constituio dos seres humanos, assim coloca:
Embora o leque das culturas seja bastante amplo para permitir uma variao das modalidades da organizao familiar, sabemos claramente, e Lvi-Strauss o diz com todas as letras, que certas solues so duradouras e outras no. Em outras palavras, preciso de fato admitir que foi no seio das duas grandes ordens do biolgico (diferena sexual) e do simblico (proibio do incesto e outros interditos) que se desenrolaram durante sculos no apenas as transformaes prprias da instituio familiar, como tambm as modificaes do olhar para ela voltado ao longo das geraes. (ROUDINESCO, 2003 p.17).
Ainda segundo, Roudinesco, em uma entrevista ao Jornal O Globo em 23/03/2003, revela que a famlia no morreu, mas est sendo reinventada no cotidiano. (...) Ela ainda amada, sonhada e desejada por homens, mulheres e crianas em todas as idades, orientaes sexuais e condies sociais. Apesar disso, ainda no existem formas alternativas de relacionamento, que sejam amplamente aceitas pela sociedade contempornea e que possam substituir o modelo do casamento tradicional. Destacamos que Dihel (2002), ao se referir ao casal contemporneo, ressalta as vrias possibilidades de vivncia da conjugalidade, muitas delas, que em nada se aproximam com o que costumamos chamar de casamento tradicional. O autor ainda refere como novos modelos possveis de se viver a conjugalidade, casais que decidem viver juntos sem legalizar ou oficializar seu relacionamento; casais que vivem em diferentes locais; homens ou mulheres que preferem ter filhos e permanecer solteiros (as), o que se costuma chamar de produo independente. 37
Alm de casais homossexuais com filhos, atravs da adoo ou da inseminao artificial, para citar alguns dos arranjos possveis. Ao enveredarmos pela legalidade da unio homossexual, Elizabeth Zambrano, em uma palestra ministrada no Seminrio Nacional de Psicologia e Diversidade Sexual: desafios para uma sociedade de direitos, realizado em junho de 2010, em Braslia, chamou a ateno para a deciso do Supremo Tribunal Federal, que votou pelo reconhecimento da unio homoafetiva como entidade familiar, referindo que:
O Pas presenciou no dia 05 de maio de 2011 a deciso do Supremo tribunal Federal-STF o reconhecimento da unio estvel homoafetiva podendo ser considerada como entidade familiar, com os mesmos direitos das relaes heterossexuais. Uma votao histrica e por unanimidade. Dos 10 ministros votantes, 10 foram a favor desse reconhecimento. (ZAMBRANO, 2011).
O julgamento marca um momento histrico importante para a populao de lsbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais (LGBTT). Sobre esse acontecimento ressalta-se que o julgamento do STF deu-se em virtude da Arguio de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n 132/RJ e da Ao Direta de Inconstitucionalidade (ADI) n 4277. A primeira, em 2008, teve como arguente o Governador do Rio de Janeiro (Srgio Cabral), objetivando, especialmente, a que servidores homossexuais, conviventes em relaes estveis pudessem usufruir dos benefcios (a exemplo de licena e previdncia) concedidos aos servidores unidos por laos heterossexuais. A segunda, interposta originalmente como ADPF, em 2009, teve como arguente a Procuradoria Geral da Repblica e objetivou o reconhecimento, no Brasil, da unio entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, desde que fossem atendidos os requisitos exigidos para a constituio da unio estvel entre homem e mulher, de modo que os mesmos direitos e deveres dos companheiros, nas unies estveis alcanassem, tambm, os companheiros nas unies entre pessoas do mesmo sexo. O Ministro Ayres Britto foi o relator nesse julgamento e em seu voto 4 , ressaltou, ao mesmo tempo, a realidade das unies homoafetivas e a impossibilidade da sociedade continuar omitindo-se sobre o reconhecimento desses direitos. Sinalizou o fato de se tratar de uma questo que implica em se deparar com o diverso, o no usual, questionando os modelos hegemnicos, calcados na heterossexualidade.
Este Plenrio ter bem mais abrangentes possibilidades de, pela primeira vez no curso de sua longa histria, apreciar o mrito dessa to recorrente quanto intrinsecamente relevante controvrsia em torno da unio estvel entre pessoas do mesmo sexo, com todos os seus consectrios jurdicos. Em suma, estamos a lidar com um tipo de dissenso judicial que reflete o fato histrico de que nada incomoda mais as pessoas do que a preferncia sexual alheia, quando tal preferncia j no corresponde ao padro social da heterossexualidade. a perene postura de reao conservadora aos que, nos insondveis domnios do afeto, soltam por inteiro as amarras desse navio chamado corao.
Ayres prosseguiu em sua fala, destacando o aspecto de busca humana por relaes afetivas e de companheirismo e da universalidade desses sentimentos, referindo que isso to socialmente ostensivo na sua existncia, quanto vocacionado para o alargamento de suas fronteiras temporais. Assim, esse vnculo teria carter privado, mas sem o vis do propsito empresarial, econmico, ou, por qualquer forma, patrimonial, uma vez que no se trata de mera sociedade de fato ou de interesseira parceria mercantil. , sim, um voluntrio navegar por um rio sem margens fixas e sem outra embocadura, que no seja a experimentao de um novo a dois que se estende tanto, que se torna universal. No compreender isso, talvez comprometa irremediavelmente a prpria capacidade de interpretar os institutos jurdicos h pouco citados, pois Plato quem o disse: quem no comea pelo amor nunca saber o que filosofia. a categoria do afeto, como pr-condio do pensamento, que levou Max Scheler a tambm afirmar que: o ser humano, antes de um ser pensante ou volitivo, um ser amante. O ministro, ao concluir sua fala, afirmou que no h nenhuma impossibilidade em reconhecer a unio homoafetiva como entidade familiar, enquanto sinnimo de famlia, com os mesmos direitos e responsabilidades de uma unio heterossexual estvel:
Pelo que dou ao art. 1.723 do Cdigo Civil interpretao conforme a Constituio para dele excluir qualquer significado que impea o reconhecimento da unio contnua, pblica e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como sinnimo perfeito de famlia. Reconhecimento que de ser feito segundo as mesmas regras e com as mesmas consequncias da unio estvel heteroafetiva.
Essa deciso teve uma enorme repercusso em nossa sociedade. Em 39
entrevista a Terra Magazine 5 (2011), Maria Berenice Dias, ex-desembargadora do Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul e especialista em Direito homoafetivo, classificou como "muito significativa" a deciso do Supremo Tribunal Federal (STF) de reconhecer a unio homoafetiva estvel como unidade familiar; ele aplicou a Constituio e, a partir da deciso, nenhum direito que concedido ao casal heteronormativo pode ser negado ao casal do mesmo sexo, no havendo nenhum impedimento para a realizao de um casamento civil entre homossexuais. Tambm, sobre a deciso do STF, o advogado, pesquisador Silva Junior (2011), em seu artigo Amor e famlia homossexual 6 : o fim da invisibilidade atravs da deciso do STF ressalta que:
O que se descortina em matria de reconhecimento do AMOR em face do Poder Judicirio brasileiro, a partir desta deciso do Supremo, aponta a direo mais bonita: a que independe de qualquer condio para que tal sentimento seja, efetivamente, atestado em toda sua inteireza e nas implicaes que traz na vida relacional-familiar das pessoas - para alm de cor, sexo, orientao afetivo-sexual, nuance de gnero [...] Conjugar, no exerccio da existncia concreta, o verbo AMAR persistir justificando a formao de uma famlia, qualquer que seja essa. Realmente, para enxergar a famlia, preciso enxergar o amor. Se no se identifica afeto, no se v famlia. Por isso, continuo ratificando e ecoando o cancioneiro: "Eu vejo a vida melhor no futuro. Eu vejo isso por cima do muro de hipocrisia que insiste em nos rodear". (SILVA JUNIOR, 2011).
Entretanto, nesse contexto, a Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB, 2011) emitiu nota que revelava posicionamento contrrio deciso judicial, criticando o uso do conceito famlia relacionado s unies homoafetivas.
As pessoas que sentem atrao sexual exclusiva ou predominante pelo mesmo sexo so merecedoras de respeito e considerao. Repudiamos todo tipo de discriminao e violncia que fere sua dignidade de pessoa humana (cf. Catecismo da Igreja Catlica, n. 2357-2358). As unies estveis entre pessoas do mesmo sexo recebem agora em nosso Pas reconhecimento do Estado. Tais unies no podem ser equiparadas famlia, que se fundamenta no consentimento matrimonial, na complementaridade e na reciprocidade entre um homem e uma mulher, abertos procriao e educao dos filhos. Equiparar as unies entre pessoas do mesmo sexo famlia descaracteriza a sua identidade e ameaa a estabilidade da mesma. um fato real que a famlia um recurso humano e social incomparvel, alm de ser tambm uma grande benfeitora da humanidade. Ela favorece a integrao de todas as geraes, d amparo aos doentes e idosos, socorre os desempregados e pessoas portadoras de deficincia. Portanto tm o direito de ser valorizada e protegida pelo Estado. (CNBB, 2011).
5 Disponvel em http://terramagazine.terra.com.br/interna/0, OI5115149-EI6578,00-berenice+Dias+ -no+ ha+obstculo +legal+para+casamento+gay.html acesso 23/11/2011. 6 Disponvel em www.direitohomoafetivo.com.br/.../ amor_e_famlia_homossexual_. Acesso em 23/12/2011. 40
Conforme se verifica, a nota questiona o fato de o Congresso Nacional ultrapassar os limites de suas atribuies, legislando sobre assunto que no lhe compete. Assim, afirmou que atribuio do Congresso Nacional, propor e votar leis, cabendo ao governo garanti-las. Referiu tambm, que preocupante ver os poderes constitudos ultrapassarem os limites de competncia, conforme aconteceu com a deciso do Supremo Tribunal Federal finalizando que no a primeira vez que, no Brasil, acontecem conflitos dessa natureza, que comprometem a tica na poltica. Vale ressaltar que, contrariamente a esse posicionamento, Lorea (2006) defende que vivemos em um Estado laico, portanto devem-se tratar as questes vinculadas sexualidade luz do ordenamento jurdico vigente, e no sob uma perspectiva religiosa. A convico religiosa assegurada constitucionalmente, sem que isso deva influenciar a atuao dos agentes polticos do Estado: legisladores, governantes e juzes, e a Constituio o nico livro ao qual devemos obedincia. Essa posio , tambm, corroborada por Silva Junior (2011), quando afirma que frente deciso do Supremo caem por terra os argumentos fundamentalistas e preconceituosos de que a unio homoafetiva no forma famlia no Brasil. Se alguns evanglicos ou catlicos no reconhecem o amor entre pessoas do mesmo sexo (e so contrrios a todas as demandas homoafetivas), o Estado brasileiro no tem por que intervir nisso, porque laico e, em suas decises, somente deve admitir a prova cientfica. Ainda, na nota, a CNBB reitera o posicionamento em relao instituio famlia e o sacramento do casamento:
A instituio familiar corresponde ao desgnio de Deus e to fundamental para a pessoa que o Senhor elevou o Matrimnio dignidade de Sacramento. Assim, motivados pelo Documento de Aparecida, propomo- nos a renovar o nosso empenho por uma Pastoral Familiar intensa e vigorosa. Jesus Cristo Ressuscitado, fonte de Vida e Senhor da histria, que nasceu, cresceu e viveu na Sagrada Famlia de Nazar, pela intercesso da Virgem Maria e de So Jos, seu esposo, ilumine o povo brasileiro e seus governantes no compromisso pela promoo e defesa da famlia. (CNBB. 2011).
Essa viso de mundo, que prope a naturalidade e universalidade de certas instituies questionada por Mello (2005, p. 176.) quando ressalta que uma viso heterocntrica e excludente o fundamento que, a partir do qual, a doutrina catlica defende a impossibilidade de a atividade homossexual proporcionar auto realizao 41
e felicidade, sem que tenha de colocar em risco o casamento tradicional. Mesmo com uma vitria to importante para a cidadania, momento em que direitos foram garantidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), onde se multiplicam pesquisas sobre a conjugalidade e a parentalidade homoafetivas, deparamos-nos com posicionamentos contrrios a essas mudanas, o que algo inerente aos sistemas ditos democrticos. Desse modo, alguns questionamentos fazem-se necessrios, como: ser que a deciso do STF de reconhecer as unies homoafetivas como entidade familiar, a enorme visibilidade que o movimento LGBTTT tem conquistado na sociedade, o aumento considervel de trabalhos cientficos voltados para a discusso da diversidade, das famlias homoafetivas tem contribudo para impedir/minimizar relaes de intolerncia, discriminao, preconceitos e violncias de alguns setores da sociedade principalmente o espao escolar? Ser que a formao das (os) nossas (os) professoras (es) tem se voltado preparao dessas (es) profissionais para o enfrentamento dessas mudanas em nossa sociedade? Com esses questionamentos, no capitulo seguinte trazemos estudos que revelam como tem se situado a escola em relao diversidade sexual e em especial a homossexualidade e, tambm, buscamos apresentar reflexes sobre a relao da escola com a homoparentalidade e as famlias homoafetivas.
42
3. ESCOLA E FAMLIAS HOMOAFETIVAS
3.1 O Espao Escolar, dialogando com a diversidade
No final do primeiro semestre de 2011, uma notcia amplamente veiculada nos diversos meios de comunicao do pas 7 , denunciava o comportamento da vice- diretora de uma escola Estadual em Salvador, em relao a um estudante de 11 anos que teve uma brincadeira com um colega mal interpretada pela gestora. Em sua fala o garoto conta que estava balanando a cabea de um colega e a vice- diretora perguntou se ele gostava de homem. O garoto levou uma suspenso de dois dias e voltou para a casa com uma carta escrita por ela. Essa carta relatava que o aluno teve um comportamento indecente e perguntou se ele preferia o sexo feminino ou masculino. Esse fato deflagrou inmeras discusses e reflexes em toda sociedade, em particular nos meios acadmicos, sobre a formao das (os) profissionais que l esto e que a priori deveriam estar preparadas (os) para mediar processos de construo de saberes que fortaleam o respeito diversidade em detrimento do reforo de atitudes e comportamentos discriminatrios. Ao contrrio disto o acontecimento evidencia comportamentos e atitudes preconceituosas persistentes nas escolas. Sobre a temtica, um estudo patrocinado pela UNESCO, em 2004, foi realizado pelas pesquisadoras Miriam Abramovay, Mary Garcia Castro e Lorena Bernadete da Silva, em 13 capitais brasileiras - Belm, Cuiab, Florianpolis, Fortaleza, Goinia, Macei, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, So Paulo e Vitria e Distrito Federal, relatado na obra Juventudes e Sexualidade (2004) revelou dados importantssimos, que denunciavam a situao de violncia nas escolas, ressaltando que muitos jovens j foram alvo de discriminao pela orientao sexual e pelo gnero, assdio e estupro. Nesse estudo, foram aplicados mais de 23 mil questionrios a estudantes na faixa etria de 10 a 24 anos, pais e professoras (es) do ensino fundamental e mdio, garantindo, com isso, uma amostra bastante significativa desse contingente que compe o cenrio das escolas. No trabalho, as pesquisadoras tratam a questo da homofobia de forma
7 Disponvel em http://www.correio24horas.com.br/noticias/detalhes/detalhes-1/artigo/vice-diretora-e- demitida- depois-de-questionar-sexualidade-de-aluno-em-salvador/ Acesso em 15/05/2011. 43
especial. Abramovay, Castro e Silva (2004, p. 227) afirmam logo de inicio que:
Privilegia-se, nesta seo, um tipo de violncia pouco documentado quando se tem referncia escola, a homofobia, o tratamento preconceituoso, as discriminaes sofridas por jovens tidos como homossexuais, sendo que, muitas vezes, os professores no apenas silenciam, mas colaboram ativamente na reproduo de tal violncia (ABROMAVAY; CASTRO; SILVA, 2004, p. 227).
As autoras colocam que, muitas das formas com as quais a escola lida com as situaes, envolvendo as questes relativas diversidade, orientao sexual, homossexualidade, so procedimentos que ferem a dignidade do outro, provocando sofrimentos e revoltas. Esto ancorados, em "padres culturais que cultivam simblica e explicitamente hierarquias e moralismos em nome da virilidade, da masculinidade e da rigidez que codifica uma determinada vivncia da sexualidade como a normal, a consentida." (idem, 2004, p. 278). A pesquisa mostrou tambm,outro aspecto inexoravelmente perigoso da homofobia na escola: o fato de que 8,2%, das(os) professoras(es) de Belm, e 6,0% das(os) professoras(es) do Distrito Federal, revelam que no gostariam de ter homossexuais como alunas (os), por considerar a homossexualidade uma doena. Sobre esse aspecto Alves (2006), assegura ser a educao a melhor forma para se combater o preconceito e a discriminao. Mas, o que dizer quando nessa mesma escola eles so reproduzidos? Chamamos ateno que, esses achados da pesquisa de 2004, nos parecem bastante atuais, na medida em que acontecimentos, como o noticiado inicialmente, persistem e so revelados no cotidiano das relaes, evidenciando essa faceta da instituio escolar. fato que a escola tem dado saltos em relao discusso de temas como gravidez na adolescncia, racismo, doenas sexualmente transmissveis, mas, quando se trata de homossexualidade, fica evidente que educadoras (es), orientadoras (es) e famlia no esto preparadas (os) para um enfrentamento efetivo, na medida em que isso exige romper com os princpios de uma heteronormatividade, que impe um modelo nico de vivncia da sexualidade. Desse modo, comum ouvir de professoras (es), falas que revelam a dificuldade de lidar com alunas (os) que se mostram abertamente homossexuais. Segundo Abramovay, essas/esses docentes tendem a defender uma conduta que segue os padres sociais que seriam politicamente corretos, com comportamentos considerados normais pela sociedade. Embora muitas (os) docentes 44
concordem com a atualizao de temas contemporneos no currculo escolar, como por exemplo, preveno s drogas, sade e gravidez na adolescncia; muitos outros continuam a tratar a homossexualidade como doena, deformao moral ou at mesmo perverso sexual. (ABRAMOVAY, 2009). Louro (1999) chama-nos a ateno para o fato de que quando estudantes gays se apresentam como diferentes, salientam a instabilidade de todas as identidades consideradas naturais e apresentam a possibilidade de outras formas, desconsideradas pela escola, de se relacionar com o prprio corpo e de viver a sexualidade. Suas presenas e o desconforto que causam, evidenciam que a sexualidade mais que uma questo pessoal, ela social e poltica. Para Castro e Abramovay (2003), trata-se de certa cegueira, frente aos esteretipos reproduzidos na escola, assim:
A reproduo de esteretipos e inclusive o lugar da escola em tal processo, considerando que muitas dos discursos de professores e diretores, por exemplo, alinham-se a uma cultura que tende se no necessariamente a apoiar, muitas vezes silencia sobre discriminaes. (CASTRO; AMBRAMOVAY, 2003, p.1)
Diante desse cenrio, parece-nos ser de extrema importncia realizao de estudos sobre a presena, a convivncia, o respeito s sexualidades no normativas, no ambiente escolar. Tal produo de conhecimento deve servir como importante ferramenta para se (re) pensar a educao como meio de compreenso e respeito s diferenas.
3.2 Escola e Famlias Homoafetivas: pensando o cenrio
Na introduo desta dissertao foi transcrita e discutida a conversa de uma professora, que buscou um Servio de Apoio Psicopedaggico para compartilhar sua preocupao com os problemas de aprendizagem futuros de sua aluna, estes, estabelecidos a priori, pelo fato dessa criana ser criada por duas mulheres que
vivem como se fossem um casal segundo fala da prpria professora. Na ocasio a docente declarou que no teve em sua formao aquilo que considera como instrumentos necessrios para lidar com a situao. Essa afirmao remete-nos aos seguintes objetivos deste estudo: identificar as contribuies do Curso, que pudessem interferir na conformao da viso explicitada pelas(os) discentes; verificar se foram fornecidos componentes curriculares que abordassem a temtica e averiguar se houve acesso a documentos oficiais produzidos sobre questes concernentes ao tema em 45
estudo.
Sobre esse aspecto, entendemos que a escola deveria ser um lugar onde a vivncia da diversidade ocorresse sem dificuldades, vez que uma das suas precpuas funes promover espaos de descobertas e dilogos com as diferenas. Entretanto, isso no corroborado por Junqueira (2009), quando afirma que ao longo da sua histria, a escola brasileira estruturou-se em pressupostos fortemente tributrios de um conjunto de valores, normas e crenas responsveis por reduzir figura daquele considerado estranho, inferior, pecador, doente, pervertido, criminoso ou contagioso e de todos aqueles e aquelas que no se sintonizassem com o componente valorizado pela heteronormatividade centrada no adulto, masculino, branco, heterossexual, burgus, fsica e mentalmente normal. (JUNQUEIRA, 2009 p.14,). Desse modo, o autor segue afirmando que a escola tem se configurado como um espao de opresso, discriminao e preconceitos, principalmente em relao diversidade sexual:
[...] existe um preocupante quadro de violncia a que esto submetidos milhes de jovens e adultos LGBT muitos/as dos/as quais vivem, de maneiras distintas, situaes delicadas e vulneradoras de internalizao da homofobia, negao, autoculpabilizao, auto averso. E isso se faz com a participao ou a omisso da famlia, da comunidade escolar, da sociedade e do Estado. (JUNQUEIRA 2009, p.15)
Em relao a essa questo, tambm Louro (2007 p.15), ao refletir sobre a pedagogia da sexualidade ressalta:
O reconhecimento do outro, daquele ou daquela que no partilha dos atributos que possumos, feito a partir do lugar social que ocupamos. De modo mais amplo, as sociedades realizam esses processos e, ento, constroem os contornos demarcadores das fronteiras entre aqueles que representam a norma (que esto em consonncia com seus padres culturais) e aqueles que ficam fora dela, s suas margens.
Ainda, segundo a autora, em nossa sociedade, a norma estabelecida, historicamente, remete-se ao homem branco, heterossexual, de classe mdia, urbana e cristo, o que passa a ser a referncia que no precisa mais ser nomeada. Assim, sero os outros, sujeitos sociais que se tornaro marcados, que se definiro e sero denominados a partir dela. Afirma, tambm, que dessa forma, a mulher representada como o segundo sexo e gays e lsbicas so descritos como desviantes da norma heterossexual. 46
Tais colocaes ressaltam uma dicotomia que se estabelece, na medida em que, por um lado temos uma sociedade que se revela permissiva as mudanas em relao diversidade sexual, que atravs de lutas dos diversos setores da sociedade tem colocado em cheque toda uma gama de preconceitos e tabus em relao a ela e, tambm, tem tirado a questo das famlias homoafetivas da invisibilidade, com isso influenciando, por exemplo, decises importantes como a do STF, atravs do reconhecimento das relaes homoafetivas como entidade familiar. Por outro lado, pode-se constatar que os preconceitos e a violncia dirigidos a essas pessoas ainda persistem no espao escolar 8 .
De fato, no sem resistncias, tem-se buscado ampliar as discusses sobre a sexualidade e a diversidade no espao escolar. Os PCNs se constituram como primeiro documento oficial, que propunha inserir a questo enquanto tema transversal, voltado sexualidade da(o) educanda(o), indicando como professoras (es) poderiam lidar com o tema, tocando em uma realidade at ento no destacada e, cada vez mais, comum hoje em dia, que a presena de pais e mes homossexuais, participando do cotidiano da escola. Segundo Mello, Grossi e Uziel (2009), essas famlias, na escola, so geralmente invisveis, com pais e mes muitas vezes orientando seus filhos e filhas a omitirem dos seus colegas, professoras (es), funcionrias (os) e diretoras (es) a composio no convencional da sua famlia por receio de serem vtimas de preconceito, de discriminao e de violncia. Ponderam as (os) autoras (es) que, tambm, poucas so as iniciativas nas escolas voltadas a escutar e a respeitar essas diferenas na organizao familiar de seus estudantes, mesmo nos casos em que visvel o compartilhamento da guarda das crianas por casais no heterossexuais. Sobre isso, Zambrano (2006) prope uma reflexo interessante quando escreve sobre uma parentalidade supostamente impensada:
A emergncia de famlias constitudas por pais/mes homossexuais, travestis e transexuais no campo social torna obrigatrio o enfrentamento de demandas e a desconstruo de velhas certezas, tanto para a antropologia quanto para a psicologia/psicanlise e para o direito. As questes que essa parentalidade (homossexual, travesti e transexual) coloca para a antropologia atingem um dos campos de estudo mais tradicionais da disciplina, o da famlia e do parentesco. Tambm a psicanlise necessita enfrentar e colocar essas possibilidades dentro do
8 Vide pesquisas apresentadas na introduo deste trabalho. 47
seu corpo terico, relativizando a ideia de serem a subjetivao e a construo do simblico dependentes da diferena dos sexos. Da mesma maneira, o direito se v impelido a acompanhar essas configuraes criando novas possibilidades legais de conjugalidade filiao de forma a no deix-las margem da proteo do Estado. (ZAMBRANO, 2006 p.1)
Essa autora, ao denominar de parentalidade impensada a relao de cuidado com uma criana ou adolescente, coloca que lsbicas e gays reivindicam direitos conjugais e parentais, independentemente da orientao sexual, convocando vrias reas do conhecimento a repensarem seus corpus tericos. na perspectiva desses direitos, que cabe refletir sobre a relao dessa famlia com a escola, o que ao longo da histria vem se modificado, mas no tem se afastado da perspectiva da heteroparentalidade, muito clara nos rituais escolares, a exemplo dos dias comemorativos, o que fortaleceria segundo Mello, Grossi e Uziel (2009), uma nova modalidade de preconceito e de discriminao, sofrida por crianas e por jovens em idade escolar, cujos pais e mes vivem em conjugalidade homoafetiva. Ainda, sobre essa parceria famlia-escola, Carvalho pondera:
Ademais, parceria supe igualdade, e as relaes escolafamlia so relaes de poder em que as/os profissionais da educao (pesquisadoras/es, gestoras/es, especialistas, professoras/es) tm poder sobre os leigos (pais/mes). So relaes tambm mediadas por outras relaes de poder (de classe, raa/etnia e gnero) que, em princpio, ora podem favorecer as/os professoras/es, ora os pais ou mes ou responsveis. (CARVALHO, 2004, p. 53).
O autor expe que as crianas e jovens que vivem com pais e mes em relaes homoafetivas constituem um conjunto crescente de alunos e alunas das escolas brasileiras, o que , at o momento, praticamente ignorado uma vez que a vivncia pblica da maternidade e da paternidade por gays e lsbicas, ainda uma realidade recente no Brasil. Historicamente, at o sculo XIX, as questes relativas ao campo do conhecimento e que careceriam ser transmitidos estava a cargo da famlia. Essa condio foi transferida posteriormente para a escola, que passou a ser a instituio responsvel pela sistematizao dos conhecimentos, que seriam legitimados socialmente. Nesse contexto muito prprio, na dcada de 1990, observou-se que a famlia passou a ser convocada a participar do espao escolar, mas, essa famlia conclamada a participar seria aquela heteropatriarcal, constituda de pai, me e filhos. 48
Nesse sentido, as famlias homoafetivas provocam um rompimento com um conjunto de conceitos prevalentes na sociedade, instituindo um modelo de conjugalidade e parentalidade diferente do ancorado nos laos sanguneos, em uma famlia nuclear, composta por um homem e uma mulher que seriam os legtimos responsveis pela educao e proteo das filhas e filhos. Esse aspecto compreensvel, na medida em que, segundo Uziel (2002), a emergncia dos novos arranjos familiares exige a reviso do significado das palavras pai e me. Quais so os critrios para o exerccio dessa funo? Os biolgicos, os sociais,os culturais seriam os requisitos legtimos, necessrios e suficientes para eximir o sujeito do julgamento sobre sua capacidade de cumprir a funo parental? Vale ressaltar que essa temtica, na relao com a escola, tem sido amplamente estudada por Bulbarelli (2007), Madureira (2007), Joca (2008) e Sabagg (2008). Essas (es) autoras (es) revelam que, apesar de muitos discursos docentes e/ou institucionais estarem orientados pelo respeito e o dilogo sobre as diferenas, as dificuldades na abordagem da sexualidade no cotidiano escolar, ainda esto aliceradas em barreiras constitudas ou ampliadas nos cursos de formao, e nos discursos hegemnicos, reproduzidos nesses espaos, contribuindo para a perpetuao de prticas e significaes estereotipadas e excludentes. A importncia dessa compreenso corroborada por Novena (2004 p. 25), quando defende a tese de que h um vnculo entre a produo cientfica e as prticas sociais institudas na sociedade, que podero reforar ou no os preconceitos nela existentes, e tambm por Junqueira (2009), quando trata da educao na diversidade, para a diversidade e pela diversidade, pois elas dizem respeito ao aprendizado da convivncia social, cidad e democrtica, alm de possurem papel estratgico na promoo da igualdade de oportunidades, na incluso e na integrao social. Dessa maneira, a educao na diversidade volta-se para a perspectiva de incluir o outro em todos os espaos sociais, no reconhecimento da diferena legitima, valendo-se das potencialidades oferecidas pela diversidade. Assim, conviver com e entre pessoas diferentes e reconhecidas como tal, implica em efetiva chance de aprendizado, podendo ser a diversidade considerada como importante recurso pedaggico. (JUNQUEIRA, 2009). Touraine (1998) refora essa afirmao, quando ressalta que diante da 49
complexidade da realidade, na qual estamos inseridas (os), carece refletir e repensar, sobre a necessidade de vivermos juntos, embora seja difcil! Sendo necessrio, mais uma vez, trazer baila a importncia da ao docente, diante dos desafios de lidar com a diversidade. Quanto a isso, Rios (2006), ao analisar a ao docente, considera que:
A felicidadania na ao docente instaurar no espao educativo uma instncia de comunicao criativa que favorea a afetividade e a alegria, com a finalidade mxima de oferecer s novas geraes, subsdios construo do bem comum que conviva tranquilamente com a igualdade e as diversidades. (RIOS, 2006 p.3).
Esse cenrio, constitudo pela presena das famlias homoafetivas no espao escolar, tem exigido das escolas, novas configuraes metodolgicas, pedaggicas, como tambm, tm aumentado a responsabilidade das universidades na formao das (os) professoras (es), sendo necessrio intensificar a discusso sobre quais saberes so necessrios para a formao de professoras (es), a fim de que possam melhor atuar em relao a essas questes. No capitulo seguinte, discorremos sobre documentos oficiais, relativos aos temas: PCNs - Parmetros Curriculares Nacionais - Temas transversais; Programa Brasil sem Homofobia e Projeto Escola sem homofobia. Documentos esses que, neste estudo, entendemos como importante sua utilizao no processo de formao das (os) discentes de pedagogia, sujeitos da pesquisa. Quando buscamos saber delas (es) sobre o acesso a tais documentos durante o Curso e entendemos que o conhecimento desse material pode oferecer subsdios a essas (es) estudantes/professoras (es), conduzindo-as (os) para as reflexes necessrias e propiciando intervenes que contribuam com a superao das situaes encontradas no cenrio que acabamos de apresentar.
50
4. DOCUMENTOS RELACIONADOS AO TEMA - CONTRIBUIO PARA FORMAO DOCENTE
A apresentao de documentos produzidos pelo Ministrio da Educao e Cultura (MEC) e parcerias, os quais tratam das questes relativas diversidade sexual, preconceitos, famlias homoafetivas e da prpria formao de professoras (es), parte da necessidade de que eles, como instrumentos reguladores, possam servir de referncia na inteno de compreender como tm sido discutidos e apropriados pelas (os) estudantes de Pedagogia, ao longo da sua formao. Registramos que a nossa preocupao em apresentar esses documentos justifica-se pelo fato deles serem pblicos e instrumentos norteadores que consubstanciariam diretrizes e propostas de aes governamentais em relao Educao. Em que se pese o fato de que a legislao por si s no d conta da complexidade do nosso objeto em estudo, compreendemos que, em certa medida, so informaes, que enquanto diretrizes devem ser do conhecimento de professoras (es) e estudantes, bem como integrantes das pautas de discusses e reflexes ao longo de toda a formao das (os) futuras (os) professoras (es). Assim, nos prximos itens, tratamos dos seguintes documentos: Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs - Temas Transversais); o Programa Brasil sem Homofobia e do Projeto Escola sem Homofobia, respectivamente.
4.1 Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs)
Trata-se de importante documento que se constitui em um marco, que traz a temtica da sexualidade para o espao escolar, sendo publicado no final dos anos 1990 (BRASIL, 1998), demonstrando o interesse do Estado na insero dessa questo como tema transversal, levando em considerao o crescimento de casos de gravidez indesejada entre adolescentes e o risco da contaminao pelo HIV, cabendo, tambm, escola e no mais apenas famlia, desenvolver uma ao crtica, reflexiva e educativa que possa promover a sade de crianas e adolescentes. Com essa idia, esse Documento buscou incorporar as preocupaes sociais, referentes ao papel da escola em relao a contedos sobre orientao sexual, sendo fruto, tambm, da efervescncia de movimentos sociais que, a partir da 51
dcada de 70, do sculo passado, reforaram a importncia de se tratar a questo no mbito da escola. Assim:
Tendo em vista o quadro atual da educao no Brasil e os compromissos assumidos internacionalmente, o Ministrio da Educao e do Desporto coordenou a elaborao do Plano Decenal de Educao para Todos (1993- 2003), concebido como um conjunto de diretrizes polticas em contnuo processo de negociao, voltado para a recuperao da escola fundamental, a partir do compromisso com a equidade e com o incremento da qualidade, como tambm com a constante avaliao dos sistemas escolares, visando ao seu contnuo aprimoramento. O Plano Decenal de Educao, em consonncia com o que estabelece a Constituio de 1988, afirma a necessidade e a obrigao de o Estado elaborar parmetros claros no campo curricular capazes de orientar as aes educativas do ensino obrigatrio, de forma a adequ-lo aos ideais democrticos e busca da melhoria da qualidade do ensino nas escolas brasileiras. (BRASIL, 1998).
Registramos que, a sexualidade no algo que se possa separar da pessoa pelo fato de se encontrar na posio de estudante, precisando, portanto, a instituio escolar, como um todo, deve se instrumentalizar para lidar, tambm, com essa demanda. Portanto, os PCNs objetivam travar uma discusso aberta e flexvel sobre o currculo, devendo este ser compreendido em uma dimenso muito maior, do que apenas um conjunto das disciplinas, conforme preconizado pelo Ministrio da Educao e Desporto. Assim, a concepo de currculo adotada a do currculo como uma expresso de princpios e metas do projeto educativo (Introduo aos Parmetros Curriculares vol., 1998), para tanto, necessita de flexibilidade, que oportunize a promoo de debates, discusses e reflexes, que permita constante reelaborao pelas (os) atores envolvidos no processo educativo, ressaltando o papel da (do) professora (or) que em sala de aula, na sua prxis cotidiana, faz a traduo desses princpios, registrando que:
Tm como funo subsidiar a elaborao ou a reviso curricular dos Estados e Municpios, dialogando com as propostas e experincias j existentes, incentivando a discusso pedaggica interna das escolas e a elaborao de projetos educativos, assim como servir de material de reflexo para a prtica de professores. (BRASIL, 1998).
Os Parmetros propem uma organizao do conhecimento escolar em diferentes reas e temas transversais, que integrem conhecimentos de diferentes disciplinas, e os temas transversais revelam a implicao da escola com as demandas importantes da sociedade, na medida em que, questes que estejam 52
presentes no cotidiano dos estudantes sejam tratadas no apenas como uma disciplina, mas com a agilidade prpria da dinmica social, e que so de enorme importncia para a formao desses.
A necessidade do tratamento transversal de temticas sociais na escola, como forma de contempl-las na sua complexidade, sem restringi- las abordagem de uma nica rea [...]. No constituem novas reas, mas antes um conjunto de temas que aparecem transversalizados nas reas definidas, isto , permeando a concepo, os objetivos, os contedos e as orientaes didticas de cada rea, no decorrer de toda a escolaridade obrigatria. (BRASIL, 1998).
Nessa perspectiva, a transversalidade prev uma forma de integrao de reas, que firmam um compromisso de trazer a baila, no espao escolar, reflexes importantes a respeito de questes sociais, de valores, cidadania, tica, da convivncia com o outro, em uma proposta de estabelecer dilogo com essas temticas, luz dos conhecimentos produzidos nesse espao de construo de saberes que a escola. As questes relativas sexualidade para as sries iniciais foram tratadas como tema transversal. Assim, os PCNs delineiam como objetivos principais do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de:
Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimnio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e naes, posicionando- se contra qualquer discriminao baseada em diferenas culturais, de classe social, de crenas, de sexo, de etnia ou outras caractersticas individuais e sociais [...] Compreender a cidadania como participao social e poltica, assim como exerccio de direitos e deveres polticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperao e repdio s injustias, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito [...].
Importante salientar que, na leitura dos parmetros, possvel observar uma concepo de orientao sexual na escola, embora com distines entre a 1 e 4 sries e 5 e 8 sries, que aponta para a responsabilidade e autonomia da famlia, nessa orientao, cabendo escola trabalhar o respeito s diferenas, a partir da sua prpria atitude de respeit-las, sendo expressas pelas famlias e, tambm, abordar os diversos pontos de vista, valores e crenas existentes na sociedade para auxiliar o aluno a encontrar um ponto de autorreferncia, por meio da reflexo. (BRASIL, 1998). Outro aspecto importante, apontado pelos Parmetros, e que interessa ao estudo em questo, diz respeito postura da (do) professora (or): 53
Ao atuar como um profissional a quem compete conduzir o processo de reflexo que possibilitar ao aluno autonomia para eleger seus valores, tomar posies e ampliar seu universo de conhecimentos, o professor deve ter discernimento para no transmitir seus valores, crenas e opinies como sendo princpios ou verdades absolutas. O professor, assim como o aluno, possui expresso prpria de sua sexualidade que se traduz em valores, crenas, opinies e sentimentos particulares. No se pode exigir do professor uma iseno absoluta no tratamento das questes ligadas sexualidade, mas a conscincia sobre quais so os valores, crenas, opinies e sentimentos que cultiva em relao sexualidade um elemento importante para que desenvolva uma postura tica na sua atuao junto dos alunos. O trabalho coletivo da equipe escolar, definindo princpios educativos, em muito ajudar cada professor em particular nessa tarefa. (BRASIL, 1998).
Para tanto, o Documento aponta para a importncia de uma formao, que possibilite o contato com a temtica, onde sejam oportunizados espaos de discusso, que auxiliem na construo desse conhecimento:
O professor deve ento entrar em contato com questes tericas, leituras e discusses sobre as temticas especficas de sexualidade e suas diferentes abordagens; preparar-se para a interveno prtica junto dos alunos e ter acesso a um espao grupal de superviso dessa prtica, o qual deve ocorrer de forma continuada e sistemtica, constituindo, portanto, um espao de reflexo sobre valores e preconceitos dos prprios educadores envolvidos no trabalho de Orientao Sexual. (BRASIL, 1998).
Nesse sentido, os PCNs constituram-se importantes marcos, na medida em que colocam a questo da diversidade, da orientao sexual dentro da escola, sinalizando e reforando a importncia da famlia, como responsvel pela construo de saberes, formas de pensar, lidar e sentir essas questes. Tambm, afirma o papel da relao aluna (o) e professora (or), alem da necessidade da preparao desses ltimos, para lidarem com a temtica de gnero, homossexualidade e orientao sexual. Destacamos que, embora esses Parmetros sejam relevantes, no podemos deixar de sinalizar que esse documento apresenta a sexualidade [...] como um invariante histrico, uma entidade natural que perpassaria todas as culturas, ainda que se manifeste nestas de formas diferentes. (ALTMANN, 2001, p. 581). Nesse contexto, no se repara questionamentos em relao homossexualidade e a heterossexualidade. Essa perspectiva, apresentada pelos PCNs, para Louro (2001), apontaria para uma escola, onde seria exercida uma pedagogia da sexualidade, que legitimaria determinadas identidades e prticas sexuais reprimindo uma e marginalizando outras. Para ela, os Parmetros esto inscritos em um modelo de educao sexual j 54
presente e do domnio da Biologia, no qual a discusso sobre a construo social da sexualidade e diversidade sexual marginalizada ou ausente. Desse modo, mesmo aqueles programas voltados para preveno das doenas sexualmente transmissveis e AIDS, costumam ser propostos fora dos horrios de aula, representando intervenes pontuais. Relata, ainda que a maioria das (os) professoras (es) ignora os PCNs, no havendo integrao com a prtica cotidiana e tambm essas (es) no foram preparados para aplicar aes educativas relativas sexualidade. (LOURO, 2001). Tal preocupao, tambm, foi expressa por Altmann (2001), quando em sua reflexo remete-se a exploso discursiva sobre sexo na instituio escolar. A autora lana questionamentos sobre por que a sexualidade tornou-se um problema em franca expanso, por todo o campo pedaggico, atravessando fronteiras das diversas disciplinas, e questiona: por que o poder pblico busca constituir polticas para gerir esta questo? O que explica o fato de a sexualidade ter se constitudo importante foco de investimento poltico e excepcional instrumento de tecnologias de governo? Questionamentos que a prpria autora responde, quando coloca:
A sexualidade o que h de mais ntimo nos indivduos e aquilo que os rene globalmente como espcie humana. Est inserida entre as disciplinas do corpo e participa da regulao das populaes. A sexualidade um negcio de Estado, tema de interesse pblico, pois a conduta sexual da populao diz respeito sade pblica, natalidade, vitalidade das descendncias e da espcie, o que, por sua vez, est relacionado produo de riquezas, capacidade de trabalho, ao povoamento e fora de uma sociedade. Compreende- se tambm como esse tipo de poder foi indispensvel no processo de afirmao do capitalismo, que pde desenvolver-se custa da insero controlada dos corpos no aparelho de produo e por meio de um ajustamento dos fenmenos de populao aos processos econmicos. Alm de foco de disputa poltica, a sexualidade possibilita vigilncias infinitesimais, controles constantes, ordenaes espaciais meticulosas, exames mdicos ou psicolgicos infinitos. A sexualidade, portanto, uma via de acesso tanto a aspectos privados quando pblicos. Ela suscita mecanismos heterogneos de controle que se complementam, instituindo o indivduo e a populao como objetos de poder e saber. (ALTMANN, 2001 p.06).
possvel observar, entre outras questes, a preocupao em ressaltar o papel de uma sexualidade que precisa ser controlada para que seja exercida de acordo com as prerrogativas de uma sociedade que legitima determinadas expresses da sexualidade em detrimento de outras consideradas no normativas. O Referencial Curricular Nacional da Educao Infantil (1998), concernente s creches, entidades equivalentes e pr-escolas, que integra a srie de documentos dos Parmetros Curriculares Nacionais elaborados pelo Ministrio da Educao e 55
do Desporto, reafirma o que dispe o Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA), quando enfatiza a famlia como a primeira instituio social, responsvel pela efetivao dos direitos bsicos das crianas:
Para que seja incorporada pelas crianas, a atitude de aceitao do outro em suas diferenas e particularidades precisa estar presente nos atos e atitudes dos adultos com quem convivem na instituio. Comeando pelas diferenas de temperamento, de habilidades e de conhecimentos, at as diferenas de gnero, de etnia e de credo religioso, o respeito a essa diversidade deve permear as relaes cotidianas. (BRASIL, 1998).
Cabe, portanto, s instituies de ensino estabelecer dilogo aberto com as famlias, considerando-as como parceiras e interlocutoras no processo educativo infantil. (BRASIL, 1998).
4.2 Programa Brasil sem Homofobia
Outro importante documento, o Programa de Combate Violncia e Discriminao contra GLTB (Gays, Lsbicas, Transgneros e Bissexuais) e de Promoo da Cidadania de Homossexuais Brasil sem Homofobia, uma das bases fundamentais para ampliao e fortalecimento do exerccio da cidadania no Brasil, O Secretrio Especial dos Direitos Humanos no prlogo do documento ressalta:
Um verdadeiro marco histrico na luta pelo direito dignidade e pelo respeito diferena. o reflexo da consolidao de avanos polticos, sociais e legais to duramente conquistados. O Governo Federal, ao tomar a iniciativa de elaborar o Programa, reconhece a trajetria de milhares de brasileiros e brasileiras, que desde os anos 80 vm se dedicando luta pela garantia dos direitos humanos de homossexuais. O Programa Brasil sem Homofobia uma articulao bem sucedida entre o Governo Federal e a Sociedade Civil Organizada, que durante aproximadamente seis meses se dedicou a um trabalho intenso, fundamental para o alcance do resultado apresentado nesta publicao. (BRASIL.2004)
Na introduo do documento colocado que:
O Plano Plurianual (PPA) 2004-2007 definiu, no mbito do Programa Direitos Humanos, Direitos de Todos, a ao denominada Elaborao do Plano de Combate Discriminao contra Homossexuais. Com vistas em efetivar este compromisso, a Secretaria Especial de Direitos Humanos lana o Brasil Sem Homofobia - Programa de Combate Violncia e Discriminao contra GLTB e de Promoo da Cidadania Homossexual, com o objetivo de promover a cidadania de gays, lsbicas, travestis, transgneros e bissexuais, a partir da equiparao de direitos e do combate violncia e discriminao homofbicas, respeitando a especificidade de cada um desses grupos populacionais. (BRASIL, 2004).
56
Esse Programa constitui-se de diversificadas aes, que visam combater a violncia e a discriminao contra a populao GLBT 9 , materializadas atravs de: apoio a projetos de fortalecimento de instituies pblicas e no governamentais que atuam na promoo da cidadania homossexual e/ou no combate homofobia; capacitao de profissionais e representantes do movimento homossexual que atuam na defesa de direitos humanos; disseminao de informaes sobre direitos, de promoo da autoestima homossexual; e incentivo denncia de violaes dos direitos humanos do segmento GLBT. Tais aes envolvem a defesa e a garantia incondicional dos direitos, atravs do combate homofobia e todas as formas de discriminao e de violncia, como um compromisso do Estado e da sociedade brasileira sinaliza a incluso da questo nas polticas pblicas e estratgias do governo federal, que produzam garantias de direitos para gays, lsbicas, transgneros e bissexuais e contemplam, tambm, a produo de conhecimentos, pesquisas que possam subsidiar a elaborao, implantao e avaliao das Polticas Pblicas, voltadas para o combate violncia e discriminao por orientao sexual. Recentemente, em 2011, grande discusso povoou os meios de comunicao, gerando mobilizao nacional, refere-se a um kit anti- homofobia nas escolas, material didtico composto de vdeos, boletins e cartilhas, que abordavam o universo de adolescentes homossexuais e foi destinado a combater a homofobia nas escolas pblicas. Sua veiculao foi suspensa pela ento presidenta, Dilma Rousseff. Esse material foi resultado de um convnio firmado entre o Ministrio da Educao (MEC), com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao (FNDE) e a ONG Comunicao em Sexualidade (ECOS), e deveria ser distribudo para seis mil escolas da rede pblica, em todo o Pas. A proposta, considerada inovadora, visava levar o debate para as escolas pblicas e atravs disso apontar as questes relativas homofobia e sua superao, mas esbarrou nos discursos conservadores, tanto que, publicamente, o MEC, atravs do seu secretrio, reconheceu a dificuldade de promover no mbito escolar a discusso do tema, dado a mobilizao que exigia por parte da prpria comunidade, ressaltando, o secretrio, que o material era apenas complementar.
9 A terminologia GLBT gays, lsbicas, bissexuais e travestis ainda utilizada nesse documento, diferente de LGBTT (lsbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgneros) usado atualmente. 57
4.3 Projeto Escola sem Homofobia
O projeto Escola sem Homofobia foi desenvolvido pela Pathfinder do Brasil, em parceria com a ABGLT 10 , ECOS 11 e Reprolatina 12 . A proposta desse projeto, apresentada em resposta Emenda Parlamentar n 50340005, teve como finalidade Contribuir para a implementao do Programa Gnero e Diversidade Sexual nas Escolas, do Ministrio da Educao, atravs de aes, que promovam ambientes polticos e sociais favorveis garantia dos direitos humanos e da respeitabilidade das orientaes sexuais e identidade de gnero, no mbito escolar brasileiro. A proposta, discutida previamente pelos parceiros, obteve aprovao e apoio da Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade (SECAD), do Ministrio de Educao e Cultura (MEC). Dessa maneira, o objetivo desse Programa consiste em promover a cidadania de gays, lsbicas, travestis, transexuais e bissexuais, a partir da equiparao de direitos e do combate violncia e discriminao homofbicas, respeitando a especificidade de cada um desses grupos populacionais. Para atingir tal objetivo, o Programa promove diversas aes voltadas para o apoio a projetos de fortalecimento das Instituies, criao e disseminao de conhecimentos sobre direitos e o incentivo denncia de violaes dos direitos humanos do segmento LGBT. (ECOS, 2011). No intuito de alcanar seus objetivos, o Projeto teve dois produtos especficos: (1) um conjunto de recomendaes, elaboradas para a orientao da reviso, formulao e implementao de polticas pblicas, enfocando a questo da homofobia nos processos gerenciais e tcnicos do sistema educacional pblico brasileiro, que se baseou nos resultados de duas atividades: a primeira compreendeu a realizao de cinco seminrios, um em cada regio do Pas, com a participao de profissionais de educao, gestores e representantes da sociedade civil, para obter um perfil da situao da homofobia na escola, a partir da realidade cotidiana dos envolvidos. A segunda compreendeu a realizao de uma pesquisa
10 ABGLT Associao Brasileira de Gays, Lsbica, Travestis, Transexuais. 11 ECOS Comunicao em Sexualidade uma organizao no governamental que atua na defesa dos direitos humanos, com nfase nos direitos sexuais e direitos reprodutivos, em especial de adolescentes e jovens. 12 Reprolatina uma organizao no governamental localizada em Campinas, So Paulo, que busca melhorar a sade sexual e a sade reprodutiva das populaes menos favorecidas da Amrica Latina.
58
qualitativa, sobre homofobia, na comunidade escolar, em 11 capitais das cinco regies do Pas, envolvendo 1406 participantes, entre secretrias (os) de sade, gestoras(es) de escolas, professoras(es), estudantes e outros integrantes das comunidades escolares.O projeto dessa pesquisa foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da Unicamp. A incorporao e institucionalizao de uma estratgia de comunicao (2) para trabalhar a homossexualidade de forma mais consistente e justa em contextos educativos e que repercutisse nos valores culturais atuais. A estratgia compreendeu a criao de um kit de material educativo, abordando aspectos da homo-lesbo-transfobia no ambiente escolar, direcionado para gestoras (es), educadoras (es) e estudantes, assim como a capacitao de tcnicos (as) da educao e de representantes do movimento LGBT, de todos os estados do Pas para a utilizao apropriada desse kit, junto comunidade escolar, o que no aconteceu, conforme j colocado. Aps a apresentao desses programas, reiterando a importncia deles como referenciais e saberes que podem favorecer o desenvolvimento de uma viso mais ampla sobre a temtica em estudo contribuindo, dessa forma, com a desconstruo de preconceitos e a reviso de atitudes e comportamentos que possam interferir na pratica docente. Desse modo, no prximo tpico propomos uma interlocuo com autoras (es) que se debruam sobre os saberes docentes necessrios para uma prtica crtica, reflexiva e importante para uma realidade to complexa e de constantes transformaes, principalmente no que se refere s questes relativas diversidade sexual, famlias homoafetivas e homoparentalidade.
4.4 Saberes docentes e diversidade sexual
O saber no sinnimo de processos mentais que instrumentalizam as atividades cognitivas dos indivduos. Para alm disso se constitui tambm de um saber social que perpassa as relaes entre professoras (es) e alunas (os) em toda sua complexidade. Precisamos pensar que se h de situar o saber do professor na interface entre o individual e o social, entre o ator e o sistema, a fim de captar a sua natureza social e individual como um todo (TARDIF, 2002, p.16). Dessa maneira, o autor entende que os saberes das (os) professoras (es) decorrem de variadas instncias, que no somente a escola. A famlia, a 59
universidade, as relaes sociais, as vivncias pessoais, valores, crenas, a educao permanente e continuada, tudo isso contribui de maneira significativa para diversidade das formas de prxis pedaggicas. Tardif (2002) utiliza o conceito mobilizao de saberes, para fortalecer essa ideia de renovao e de movimento constante para a construo de saberes, ressaltando a perspectiva de totalidade na formao dessas (es) docentes. Afirma o autor que o saber do professor um saber social. Tardif e Gauthier (1996) referem que o saber docente um saber composto de vrios saberes oriundos de fontes diferentes e produzidos em contextos institucionais e profissionais variados. Em obra anterior Tardif, em parceria com Lessard e Lahaye refletem que:
A relao dos docentes com os saberes no se reduz a uma funo de transmisso dos conhecimentos j constitudos, (pois) sua prtica integra diferentes saberes, com os quais o corpo docente mantm diferentes relaes. (TARDIF; LESSARD; LAHAYE, 1991, p.218).
As reflexes e pesquisas de Tardif remetem-nos a questionamentos importantes no sentido de contribuir para a anlise de uma formao de professoras (es) critica, reflexiva e humanizada em relao diversidade. O autor nos instiga a pensar em quais saberes seriam importantes para ensinar, portanto, quais conhecimentos deveriam ser construdos ainda na fase da formao na universidade, considerando a valorizao do espao acadmico. Para apresentarmos a compreenso sobre o saber, recorremos a Bombassaro (1992). Ele coloca que saber relaciona-se a ser capaz de; compreender; dominar uma tcnica; poder manusear e poder compreender, remetendo-se ao mundo prtico que alm de ser condio de possibilidade de qualquer noo tambm, lugar efetivo, onde a noo pode ser produzida.
O autor assim registra:
Dois modos possveis de interpretao do uso da expresso saber. O primeiro est ligado crena, j que saber implica em crer. Neste caso, saber que significa crer em. Este sentido revela uma forma proposicional, pois o contedo sempre expresso por uma proposio, que pode ser verdadeira ou falsa, mas que indica uma crena pessoal em algo (que est sendo afirmado). O outro modo de interpretao do saber, est relacionado ao poder. Neste caso, dizer que se sabe equivale a dizer que se pode. Assinala que, no primeiro caso, o saber/crer est ligado a uma dimenso prtica enquanto que no segundo, o saber/poder est ligado habilidade e disposio. (BOMBASSARO, 1992, p.20) 60
Para Pimenta (1999), existem saberes que so importantes e necessrios para ensinar. Esses saberes so constitudos por trs categorias: (1) os saberes pedaggico que so aqueles que efetivam a prxis pedaggica auxiliando a (o) docente no seu cotidiano escolar,(2) os saberes do conhecimento especfico de cada disciplina que so oriundos da formao profissional,(3) os saberes da experincia de cada individuo. Sobre estes ltimos, o autor coloca-os em dois nveis: os saberes das experincias das (os) estudantes futuras (os) professoras (es), construdos durante a vida escolar e aqueles da experincia, produzidos pelas (os) professoras (es) na prtica pedaggica cotidiana. Nesse contexto, segundo Gauthier et al (1998, p. 17), h dificuldades para se definir a natureza do ensino e o que preciso saber para ensinar em razo da falta de estudos que demonstrem o cotidiano nas salas de aula, visualizando a percepo do que acontece quando a (o) professora (or) ensina e o que faz exatamente para instruir e educar as crianas. Destacam os autores que os poucos estudos sobre o assunto, ainda so muito recentes, entretanto importantes, na medida em que demonstram que as (os) docentes utilizam grandes repertrios de conhecimentos, construdos durante o processo de aprendizagem acadmica, e esse repertrio fundamental para a construo de efetivo trabalho em sala de aula. Assinalam, tambm, a existncia de seis categorias de saberes das (os) professoras (es): os saberes disciplinares, os saberes curriculares, os saberes das cincias da educao, os saberes da tradio pedaggica, os saberes experienciais e os saberes da ao pedaggica. Essa categorizao questionada por Pimenta (1999, p.29) quando reflete que os saberes necessrios ao ensino so reelaborados e construdos pelas (os) professoras (es) na dinmica das experincias nas suas prticas cotidianas, e vivenciadas nos espaos escolares e no seriam, conforme colocam Gauthier et al (1998), um conjunto de regras como se fosse um manual que pudesse ser acessado a qualquer momento do seu repertrio. Segundo Saviani (1996) o processo educativo um fenmeno complexo, portanto, os saberes que envolvem tal fenmeno, tambm so complexos. Esse autor afirma cinco categorias de saberes: (1) o saber atitudinal, (2) o saber crtico - contextual, (3) os saberes especficos, (4) o saber pedaggico e (5) o saber didtico - curricular. Ainda coloca que o educador aquele que educa, o qual, 61
consequentemente, precisa saber educar, precisa aprender, precisa ser formado, precisa ser educado para ser educador, precisa dominar os saberes implicados na ao de educar. (SAVIANI, 1996 p. 145). Ainda, segundo o autor, a (o) professora (or) \ educadora (or) precisa ter uma viso de mundo, uma concepo de educao, de ensino, e que essas concepes determinam os tipos de saberes, que devero ser mobilizados em determinada situao em sala de aula ou fora dela. Os saberes docentes que se desdobram nas inmeras categorias citadas pelas(os) autoras(es), devem estar intrinsecamente relacionados s diversas dimenses da construo das competncias necessrias prxis docente, tendo como base fundamental um saber voltado para uma perspectiva crtica e criativa do conhecimento veiculado pela escola. Desse modo se refora o entendimento de que h uma relao importante entre a receptividade e sensibilidade s questes complexas e cercadas de estigmas como diversidade sexual e famlias homoafetivas e o processo de formao de profissionais ligadas (os) Educao.Essa formao que se d nas universidades em especial nos cursos de Pedagogia, deveria ser permeada por saberes que efetivamente contribussem para o exerccio de uma prxis questionadora, com base em uma viso mais ampla, crtica com vistas ao enfrentamento e superao dos preconceitos. No prximo captulo, analisamos os resultados, atravs dos dados coletados na pesquisa de campo. Atravs das manifestaes das (os) entrevistadas (os) buscamos conhecer: a viso destas (es) sobre a relao da escola e famlias homoafetivas; identificar as contribuies do Curso voltadas para a prtica docente, na lida com famlias homoafetivas; verificar se foram fornecidos componentes curriculares que abordassem o assunto; se houve acesso a documentos oficiais produzidos sobre questes concernentes ao tema em estudo, completando com a opinio das (os) discentes, voltada para contribuio ao Curso de Pedagogia, , no que se refere a subsidiar a formao da (o) docente para lidar com famlias homoafetivas na sua prxis profissional.
62
5. ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS
Neste capitulo, apresentamos, analisamos e discutimos os resultados do estudo, tomando como base a tcnica de analise de contedo conforme descrita na metodologia. Considerando os objetivos traados, quais sejam: conhecer a viso dos sujeitos sobre a relao da escola e famlias homoafetivas; identificar as contribuies do Curso voltadas para a pratica docente na relao com famlias homoafetivas; verificar se foram fornecidos a essas (es) discentes componentes curriculares que abordassem o assunto; se houve acesso a documentos produzidos sobre questes concernentes ao tema em estudo, complementando com contribuio das (os) docentes ao Curso no que se refere a subsidiar a formao da (o) docente para lidar com famlias homoafetivas na sua prxis profissional. Alm disso, consideramos a reviso de literatura empreendida que contribuiu para a discusso das categorias de anlise. Conforme consta no capitulo da metodologia foram entrevistadas (os) 5 formandas (os), sendo 4 mulheres e 1 homem, os nomes foram omitidos para preservar o sigilo das declaraes e impossibilitar a identificao, sendo apresentadas (os) pelas siglas: D 1 , D 2 , D 3 , D 4 e D 5 . A partir dos dados de identificao constantes no roteiro de entrevista pudemos observar que as formandas (os) estavam em uma faixa etria de 22 a 42 anos, quatro delas (es), no quesito cor da pele se autorreferenciaram como pardas (os); a religio catlica foi predominante, o que poderia, em certa medida, influenciar a viso dessas pessoas, no que tange o tema em questo, uma vez que, tem sido revelado publicamente, que o posicionamento da igreja contrrio s unies homoafetivas e a atribuio do nome famlia a essas relaes (vide nota da CNBB j citada nesse trabalho). No entanto, essa influncia no esta explicitada nas falas das(os) entrevistadas(os). A experincia no magistrio, outra informao por nos solicitada, compreendeu o espao de 01 a 22 anos. O tempo, a vivncia docente um aspecto a ser considerado como elemento que pode influenciar na construo da viso das (os) entrevistadas (os) sobre a relao da escola com as famlias homoafetivas, visto que essa experincia pde ter oportunizado o desenvolvimento de competncias e habilidades para lidar com as variadas situaes que se mostram no espao escolar, o que sinalizado por Therrien (1997), quando salienta que na formao da (o) professora (or) ainda persiste uma dissociao em relao prtica cotidiana, no 63
enfatizada a questo dos saberes que so mobilizados na prtica, ou seja, a pluralidade de saberes da experincia tidos como centrais para a competncia profissional, sendo originaria do cotidiano e do que vivenciado pela(o) professora(or). Esses saberes, que se caracterizam por serem originados e validados na prtica cotidiana da profisso, podem refletir tanto a dimenso da razo instrumental, que implica em um saber-fazer ou saber-agir, tais como: habilidades e tcnicas, que orientam a postura do sujeito, como a dimenso da razo interativa, que permite supor, julgar, decidir, modificar e adaptar de acordo com os condicionamentos de situaes complexas. Esse aspecto, relacionado experincia docente, est sinalizado nas seguintes
Na minha experincia como professora eu passei por isso, tive uma aluna que era filha de um casal de duas mulheres... (D 2 -26 anos, feminino, catlica, 8 anos de experincia docente). Como que eu vejo a masculinidade e a feminilidade na escola um monte de questes que na universidade no da conta de aprender enquanto processo de formao que se d para alm da parede da universidade, na vida, nos processos de discusso nos grupos de estudos, ento assim, eu acho que tem que acontecer assim, educao continuada que no veja essas questes como algo alheio a escola, tem que estar no cotidiano da escola, as famlias continua l, os nossos meninos e meninas que so homoafetivos continuam l, na singularidade deles, na diversidade deles, como sujeitos acho que assim a escola tem que est atenta a isso, no d para fingir que eles no existem. (D 5 -42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente).
A seguir, apresentamos as manifestaes das (os) entrevistadas (os), destacando que para os nossos objetivos pudessem ser alcanados, recorremos aos referenciais tericos, que embasaram a pesquisa e, a partir deles, a anlise das falas, atravs das categorias que emergiram do estudo. Para Franco (2008), o que deflagra o processo de anlise a mensagem que expressa um significado, um sentido e pode ser tanto verbal (oral ou escrito), gestual, silenciosa, figurativa, documental ou diretamente provocada. Ainda, segundo a autora, busca-se fazer inferncias, tendo como fonte a comunicao oral (entrevistas), assim como documentos concernentes ao tema estudado. Nessa perspectiva, o processo de anlise dos dados deste estudo levou em considerao seus objetivos e as categorias deles decorrentes. Assim, de acordo com os dados obtidos emergiram como categorias de analise, baseadas nos depoimentos e tambm nos objetivos propostos: (1) relacionamento da escola com a homoparentalidade e as famlias homoafetivas: viso das (os) discentes, na qual 64
destacamos as subcategorias: o preconceito velado/explicito e o despreparo da escola e das (os) professoras (es); (2) contribuies do Curso a pratica profissional visando lidar com famlias homoafetivas, tendo como subcategoria disciplinas e contedos referentes diversidade sexual, homoparentalidade e famlias homoafetivas; (3) acesso a documentos concernentes ao tema durante a formao docente; (4) mudanas no Curso de Licenciatura em Pedagogia, visando o preparo para lidar com famlias homoafetivas: sugestes das (os) discentes, envolvendo a subcategoria formao profissional as quais passamos a analisar.
Categoria 1 - relacionamento da escola com a homoparentalidade e as famlias homoafetivas: viso das (os) discentes, na qual destacamos as subcategorias: o preconceito velado/explicito e o despreparo da escola e das (os) professoras (es). Nesta categoria, buscamos apreender a viso das(os) formandas(os) sobre o relacionamento da escola com famlias homoafetivas, a seguir ressaltamos a subcategoria preconceito velado/explicito, o que manifestado nos recortes das falas abaixo e mantm relao com o seguinte questionamento: o que voc pensa sobre a relao da escola com as famlias homoafetivas?
Subcategoria: O preconceito velado/explicito, cujos depoimentos, apresentados abaixo, explicitam-na.
[...] Acredito que (o relacionamento da escola) deve ser o mais natural possvel, at porque se uma famlia, deve ser tratada como tal, acredito que se h uma famlia homoafetiva eles preferem no mostrar [...] (D 1 -23 anos, feminino, sem Religio, 01 ano de experincia docente. Grifo nosso).
[...] tive uma aluna que era filha de um casal de duas mulheres, no atrapalhou em nada, mas na verdade quem realmente participava era a av, mas todos sabiam da histria das mes, mas todos sabiam da histria das mes, talvez at por causa do preconceito, elas apareciam pouco. (D 2 -26 anos, feminino, catlica, 8 anos de experincia docente).
Acho que a escola e principalmente o professor devem estar preparados para lidar com essas crianas e a famlia, para no contribuir para o preconceito. (D 3 -22 anos, feminino, catlica, 1 ano de experincia docente. Grifo nosso).
H alguma dificuldade nas escolas de forma oculta, o sujeito no percebe, o pessoal no demonstra, mas aquele preconceito ainda no revelado, encoberto. (D 4
33 anos, masculino, catlica, 2 anos de experincia docente. Grifo 65
nosso).
Eu acho que a forma que escola encara essas questes [...] H um resqucio cultural muito forte na questo daquilo que normatividade, ento a heterossexualidade o que normal, ento h uma concepo muito equivocada nesse sentido, isso eu sinto nos corredores da escola, na fila, nas salas, nas paredes, muitas vezes no prprio material didtico n, h muito forte na normatividade... (D 5 -42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente. Grifo nosso).
Ao olharmos para esses depoimentos, podemos observar a existncia do preconceito seja ele velado ou explicito, a exemplo da fala de D 4 quando aponta para a maneira como o preconceito ocultado e, mesmo no demonstrado, ele est presente na no espao escolar. Tambm, nas falas, recorrentemente, aparece questo do despreparo da escola para estabelecer um relacionamento com as famlias homoafetivas e com a homoparentalidade uma vez que, ainda persiste a negao do fato. A fala de D , lembra que na sua prxis profissional teve uma aluna filha de um casal de mulheres e tambm nos remete ao preconceito velado, na medida em que, era um alvio para a escola o fato desse casal no freqentar o espao escolar, ficando a cargo da av tal responsabilidade, portanto, no teriam que conviver com essa realidade no dia a dia, embora todos soubessem conclui D. Essa experincia corroborada por D 5 , quando assinala a forma como a escola se estrutura a partir de referenciais, baseados na heterossexualidade e que se explicita em todos os seus espaos corredores, livros didticos, filas, paredes [...], e s s a f a l a pode de alguma forma explicar o afastamento da escola pelas mes referidas por D Sobre isso, no estudo realizado por Reali (2009), foi citado o depoimento de membros de uma famlia homoafetiva que afirmam: da escola eu sempre mantive distnciae essa distncia necessria para evitar dor e sofrimento mantendo a prpria tranqilidade. No aparecer na escola pode significar uma estratgia de negociao e de sobrevivncia mtua: vocs no aparecem por aqui e ns escondemos bem o preconceito. A autora prossegue afirmando que em seu estudo ficou claro a existncia de uma pseudotranquilidade na relao entre a escola e a famlia homoparental. H,segundo ela, uma espcie de fachada simblica, de aparncia, de superfcie, atravs de uma tolerncia velada. As (os) formandas (os) trouxeram, ainda, aspectos que consideram importantes 66
em relao dificuldade da escola em abordar o tema por conta da incorporao de um modelo predominante heteronormativo e o desafio de rever esse posicionamento. A fala a seguir ressalta esses aspectos:
O que normal, ento normal o discurso de que o homem + mulher + amor + filho = famlia, isso que normal, esse modelo, ento eu acho que um modelo que a escola tem que discutir [...] A escola insiste em trabalhar com um modelo de famlia, eu acho que esse o grande problema e isso gera grandes conflitos que nem sempre encarado, debatido na escola [...] inclusive tenho debatido isso com professores, por conta de algumas situaes que tem acontecido em escolas, que so crianas de famlias que so homoafetivas, ento a me deixa a criana, ou a companheira pega criana n, ento tem tido questes assim, mas um desafio pra escola [...]. (D 5 -42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente. Grifo nosso).
Verificamos, que neste depoimento, h referencia de que a escola se nega atuar efetivamente frente s questes relativas diversidade sexual e homoafetivas, envolvendo a omisso de trabalhar esses temas com as (os) docentes.Mais uma vez trazido o distanciamento dessas famlias, na medida em que essas no se sentem acolhidas para revelarem sua orientao tendo que, de alguma forma, ludibriar o preconceito a me deixa, ou a companheira pega a criana [...]. Nesse sentido, Junqueira (2009) coloca que a necessidade do debate sobre diversidade na escola justifica-se pela possibilidade das (os) professoras (es) informarem, refletirem e orientarem, no s os alunos, mas tambm toda a comunidade escolar, destacando valores ticos importantes como respeito e exerccio da cidadania plena. O que reforado por D 5 , quando refere que tenho debatido isso com professores, por conta de algumas situaes que tem acontecido em escolas. Tambm, Junqueira (2009) lembra que a sociedade organiza-se diferenciando comportamentos em relao a uma norma cultural local, criando padres de conduta desejveis e indesejveis. Assim, pudemos verificar que em quase todas as falas ficaram evidentes manifestaes relativas ao preconceito fortemente existente no espao escolar no que se refere ao relacionamento com a diversidade sexual, homoparentalidade e famlias homoafetivas. Importante relembrar que essas (es) entrevistadas (os) j atuam na docncia e, por conseguinte, so parte da escola, aspecto que aponta por um lado que professoras (se) esto inquietadas (os) com essas posturas da escola e por outro, um movimento importante em um processo de mudana de concepes mesmo que elas(es) representem apenas uma pequena parcela das (os) demais atrizes/atores envolvidas (os) no processo educacional. 67
Subcategoria: o despreparo da escola e das (os) professoras (es)
Nesta subcategoria, destacamos recortes que remetem aos aspectos apontados pelas (os) entrevistadas (os), sinalizando o despreparo da escola e das (os) professoras (es) para a relao com a homoparentalidade e as famlias homoafetivas. Na fala de D, pode-se perceber que sua opinio incisiva em relao a esse despreparo: acho que a escola no esta preparada, porm se no comear a agir sobre esse assunto, ela nunca estar preparada. (D 1 -23 anos, Feminino, sem Religio, 01 ano de experincia docente). A fala de D 4 corrobora essa viso na medida que sinaliza que essas famlias criam constrangimentos, alguma dificuldade nas escolas, o pessoal no demonstra, mas aquele preconceito ainda no revelado, encoberto. (D 4 -33 anos, masculino, catlica, 2 anos de experincia docente). Sobre isso, Atanzio e Souza Jnior (2009) sinalizam que a escola torna-se um espao alienado pelas idias da sociedade conservadora, e embora j existam debates slidos sobre construes de gnero e sexualidade ainda acontecem de maneira pouco esclarecida, muitas vezes equivocada e politicamente esvaziada, evidenciando uma grande instituio velada que ainda permanece no cotidiano da sociedade brasileira como forma idealizadora de conceitos, mas, na verdade, de preconceitos. Os autores chamam as relaes de preconceito e opresso (homofobia e heterosexismo) de Instituies Veladas, por que h determinaes construdas contra tais fundamentos, contudo h forte contradio em relao aceitao de tais efetivaes. O processo de serem ignorados homossexuais, bissexuais e transgneros no espao escolar precisa ser desarticulado. Temticas relativas s homossexualidades, bissexualidades e transgeneridades so invisveis no currculo, no livro didtico e at mesmo nas discusses sobre direitos humanos na escola, afirmam Parker (2000) e Peres (2004). Essa invisibilidade, a que esto submetidas lsbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, comporta a excluso como tal, no espao pblico e, desse modo, corporifica-se como uma das mais efetivas formas de opresso. Nesse sentido, h uma tendncia, j detectada em pesquisas consagradas, segundo as quais a escola nega-se a perceber e reconhecer as diferenas, mostrando-se indiferente ao diferente, completam 68
os autores. A fala de D 5 remete a questo dessa negao da escola em perceber e reconhecer as diferenas atravs da reproduo do modelo tradicional de famlia, em detrimento das inmeras outras possibilidades de arranjos familiares.
[...] eu acho que um modelo que a escola tem que discutir, porque eu e minha filha ns somos uma famlia, eu no convivo mais com o p ai dela, no deu para ser feliz, nos separamos e agora? No sou mais nada agora? Quer dizer, um modelo de famlia que a escola tem que rever porque no tem esse modelo padro normal e no pode pensar que tem modelos e famlias n? Isso mesmo, tem modelos e a escola insiste em trabalhar com um modelo de famlia, eu acho que isso o grande problema e isso gera grandes conflitos que nem sempre encarado de frente e debatido na escola, (D 5 -42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente).
Sobre essa questo, Louro (2001) chama a ateno para o fato de que, muitas vezes, a escola incorpora e reproduz valores, intensificando a excluso dos indivduos, que apresentam comportamentos que fogem ao padro cultural vigente. Destaca que, assim como em outros setores da sociedade, a escola tambm possui cdigos, que reproduzem aspectos de uma cultura sexista e tambm racista. Segundo Liono e Diniz (2009), a discriminao uma prtica social que est presente no cotidiano das escolas o que conduz a desqualificao do outro, podendo acarretar srios danos tanto pessoais quanto sociais. Desse modo, v-se tal prtica discriminatria como apologia as diferenas, promovendo desigualdades ou prejuzos para as partes desqualificadas. Para elas, a educao uma ferramenta poltica emancipatria, que deve estar acima de processos discriminatrios socialmente instaurados, para assim, transformar a realidade pela reafirmao da tica democrtica. Pode-se perceber, tambm, nas falas das (os) entrevistadas (os) que o despreparo da escola est fortemente relacionado ao despreparo da (o) professora (or), o que revelado por D 5 quando demonstra sua convico de que o preconceito que endereado s famlias homoafetivas na escola, se expressa atravs de professoras (es), que respondem e reproduzem uma prtica social discriminatria. A entrevistada, inclusive, faz uma reflexo no sentido de que so produzidos com isso discursos de defesa e de conformao., exemplificando:
Ainda h um grande preconceito atribudo concepo da famlia, ento, tipo assim como que a escola v um menino que homossexual? Ai agora eles falam assim: a famlia no aceita que a gente aceite... Eu ouvi um professor dizer isso, a famlia no aceita que a gente aceite como 69
natural. (D 5 -42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente).
Carrara et al (2009) comentam que ao se discutir tais questes com professoras (es) brasileiras (os), procura-se contribuir com a escola na sua misso de formadora, compreendendo pessoas imbudas de esprito crtico e aparatos conceituais, que possam favorec-las (os) a ter uma postura equilibrada diante de um mundo de diferenas e infinitas variaes, refletindo sobre o acesso de todas (os) cidadania e compreendendo que as diferenas devem ser respeitadas e no utilizadas como critrios de excluso social, levando em conta os princpios e limites da tica e dos direitos humanos. Afirmam, tambm, que educadoras (es) possuem o poder de reforar preconceitos e esteretipos de gnero, em especial se mantiverem uma atuao pouco reflexiva relativa aos aspectos morais comumente existentes entre atributos masculinos e femininos, bem como no se colocarem atentos aos esteretipos e aos preconceitos de gnero, presentes no espao da escola. Esta tem o dever e a responsabilidade de no favorecer a disseminao da discriminao e dos preconceitos contra as pessoas que no correspondam ao ideal dominante, a exemplo de gays, travestis e lsbicas.
Tal responsabilizao da (o) professora (or) ressaltada por D 3 (22 anos, feminino, catlica, 1 ano de experincia), quando afirma que: a escola e principalmente o professor devem estar preparados para lidar com essas crianas e a famlia, para no contriburem para o preconceito, fala que tambm corroborada por D 4 , que manifesta: [...] a o professor tem que estar fazendo isso a no dia a dia, no dia dos pais, das mes, mostrarem as famlias diferentes como so, j para a criana crescer com essa noo que as famlias no so iguais, quebrar essa forma de trabalhar s homem e mulher, e trazer famlias diferentes [...] (D 4 -33 anos, masculino, catlica, 2 anos de experincia docente).
Em estudo realizado por Ohlweiler, Borges e Bulsing (2008), uma das professoras participantes manifestou que ao se buscar tratar a diversidade sexual em sua escola teve sua iniciativa impedida, uma vez que tanto a coordenao quanto direo da escola no permitiu afirmando que havia assuntos mais importantes a serem abordados, alegando que ela no deveria atuar em outras turmas que no estivessem sobre sua responsabilidade, ressaltando com isso, as relaes de poder presentes no espao e nos processos de educao escolar, onde o currculo no nem to engessado como os discursos hegemnicos daqueles que gostariam que o fosse, apresentam-se a partir dos modos de ser e 70
prticas das (os) educadoras (es). Sobre isso, a fala de (D 5 , 42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente) bastante emblemtica quando pondera que a questo do gnero e da sexualidade na escola tem sido temas tidos como melindrosos. Registramos, ainda, que, nessa categoria, propusemo-nos analisar a viso das (os) formandas (os) sobre o relacionamento da escola com famlias homoafetivas e, atravs das falas, podemos observar que segundo as (os) entrevistadas (os), a escola no est preparada para essa convivncia, a qual regida por preconceitos velados ou explcitos em relao questo da homaparentalidade/homoafetividade. Entretanto, encontramos nas colocaes, que as (os) entrevistadas (os) consideram que, tambm, o despreparo da professora (or) pode contribuir para a manuteno de preconceitos e desrespeitos s diferenas no espao escolar. As (os) docentes so consideradas (os) pelas (os) entrevistadas (os) como sujeitos importantes para a construo de saberes, comportamentos e atitudes que deveriam apontar para a superao dos preconceitos e das violncias, mas que ainda no conseguiu resolver os chamados ns em relao diversidade e em particular, em relao homoparentalidade. Isso se revela na fala de D 5 , (42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente), quando coloca:
[...] como se a escola no tivesse cotidianamente, todos os dias essas crianas l sendo discriminadas, sendo tratadas com indiferena pela prpria escola, ou pelos prprios colegas, porque tambm eu acho que a forma que a escola encara essas questes, o professor vai ajudando que as outras colegas vo, tambm, vendo isso, no discriminando, vendo isso com naturalidade [...]. (D 5 42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente)
Assim, na prxima categoria, buscamos abordar a contribuio do Curso de Pedagogia para prtica profissional visando o lidar com a homoparentalidade e famlias homoafetivas, cuja analise e discusso encontra-se a seguir. Categoria 2 - Contribuio do Curso de pedagogia para a prtica profissional, visando lidar com a homoparentalidade e famlias homoafetivas. Essa categoria complementada pela subcategoria disciplinas e contedos referentes diversidade sexual, homoparentalidade e famlias homoafetivas, buscamos conhecer, atravs das falas das (os) sujeitos, o que o Curso de Licenciatura, em estudo, contribuiu para pratica profissional. Desse modo, as falas a seguir revelam que pouca ou nenhuma abordagem 71
sobre questes relativas homoparentalidade/famlias homoafetivas, entre outros aspectos relacionados diversidade sexual foram apresentados ou discutidas no processo de formao acadmica. Tais manifestaes referem-se ao seguinte questionamento: de que maneira a sua formao acadmica no curso de Pedagogia contribuiu para embasar seu trabalho com as questes relativas diversidade sexual, homoparentalidade e famlias homoafetivas na escola? Os recortes abaixo retratam suas manifestaes;
Em quase nada! (D 1 23 anos, feminino, sem Religio, 01 ano de experincia docente).
Pra falar a verdade essa questo no curso de pedagogia no tratou, no contribuiu, no curso deveria tratar, pois importante sim, vale a pena ser tratado, vlido se tratar desse assunto, a gente vai encontrar alunos homossexuais, essas famlias, importante saber como lidar, deveria ter disciplina em psicologia, tipo uma disciplina sobre diversidade sexual. (D 2 - 26 anos, feminino, catlica, 8 anos de experincia docente).
Sinceramente o curso (no contribuiu) em nada, pois foi muito pouco tratado esse assunto, em como lidar com essas questes e famlias. (D 3 - 22 anos, feminino, catlica, 1 ano de experincia docente. Grifo nosso).
[...] Eles no conseguiram trazer muita coisa pra mim [...] (D 4 -33 anos, masculino, catlica, 2 anos de experincia docente).
(O curso no ajudou) [...] Eu s encontrei quem me ajudasse a pensar sobre isso foi Guacira Louro, por exemplo, o nico livro, o nico que eu encontrei na biblioteca e isso tudo foi desafio que eu fui encontrando pra fazer o meu estudo [...] Foi difcil pra mim na universidade, trabalhar com essa temtica. (D 5 - 42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente. Grifo nosso).
Conforme se verifica nas manifestaes acima, as (os) discentes foram unnimes ao afirmar que o Curso de Pedagogia pouco contribuiu para a aquisio de competncias que as (os) instrumentalizassem para lidar com as questes referentes diversidade sexual, homoparentalidade e famlias homoafetivas na escola. Sobre isso, corroboramos com Junqueira (2009), quando refere que a introduo de temas como sexualidade nos currculos escolares, ainda consiste em desafio para educadoras e educadores uma vez que muitos deles ainda consideram alguns desses temas como perverso, desvio, doena e deformao moral, principalmente em relao s homossexualidades. Tambm, no conseguem relacionar debates e discusses sobre essas temticas como atributos educacionais e de educao social, fazendo-os tomar determinadas posturas de reproduo lgica do preconceito e da opresso, envolvendo negligncia, descaso e at a 72
reproduo da violncia no espao escolar. Desse modo, entendemos que o espao formal de ensino no pode distanciar- se de uma das suas principais metas educativas, devendo ser uma das diretrizes adotadas nos espaos regulares de ensino, o enfrentamento das questes ligadas s prticas homofbicas intramuros escolares. Assim, promover discusses e crticas referentes postura equivocada da escola em relao s sexualidades alternativas e em favor da manuteno de um modelo binrio deve ser uma prtica efetivamente estabelecida atravs do dilogo permanente entre todos os atores envolvidos no processo educacional pois na verdade, a sexualidade est na escola porque faz parte dos sujeitos o tempo todo e no tem como ser alocada no espao ou em algum perodo de tempo (MISKOLCI, 2005, P.17). Conforme Peres (2009 apud CASTRO; MAGALHES; ABRAMOVAY, 2011), em 2003, o Encontro Nacional de Travestis e Transexuais que Atuam na Luta contra a AIDS (ENTLAIDS) em Porto Alegre, construiu um documento conhecido como a Carta de Porto Alegre, o qual foi encaminhado a Presidncia da Repblica e rgos ministeriais constando entre outras reivindicaes, que fossem includos nos currculos, por decreto, contedos sobre a homossexualidade e suas especificidades, criando-se oficinas de sensibilizao e treinamento de todos os profissionais relativos s questes de gnero. Registramos, entretanto, que no suficiente a presena de leis e decretos para que isso ocorra, uma vez que nem sempre aquilo que legal, consegue ser legitimado pelos atores sociais envolvidos e, desse modo, no chega a ser posto efetivamente em prtica. A seguir, complementando esta categoria, trazemos a subcategoria disciplinas e contedos referentes diversidade sexual, homoparentalidade e famlias homoafetivas, na qual buscamos identificar em quais disciplinas, contedos programticos esses assuntos foram tratados. As manifestaes a seguir demonstram respostas das (os) discentes referentes seguinte questo, constante do roteiro da entrevista: em quais disciplinas, contedos programticos foram tratados e como os assuntos referentes diversidade sexual, homoparentalidade e famlias homoafetivas?
No me lembro de ter visto nada sobre famlias homoafetivas olha, no lembro onde estavam se tratando desse assunto. Porm, acho que eles fazem uma ligao entre diversidade sexual e cincias como se tivesse que trabalhar diversidade sexual na disciplina de cincias, apenas. Tratamos que as pessoas so diferentes tem escolhas 73
diferentes desejos e vontades diferentes, porm no tratamos em si a questo das famlias homoafetivas... (D 1 23 anos, feminino, sem Religio, 01 ano de experincia docente. Grifo nosso).
Pra falar a verdade, essa questo no Curso de pedagogia no tratou, no contribuiu, no Curso deveria tratar, pois importante sim, vale a pena ser tratado, vlido se tratar desse assunto, a gente vai encontrar alunos homossexuais e essas famlias, importante saber como lidar (D 2 -26 anos, feminino, catlica, 8 anos de experincia docente).
No me recordo, lembro que teve algum professor que tratou da questo das famlias que so diferentes, que podemos nos deparar com essas famlias, mas no lembro qual foi. (D 3 -22 anos, feminino, catlica, 1 ano de experincia docente).
Teve optativa, no da grade curricular s que ela no tratou do assunto de forma aprofundada, no houve um estudo maior sobre isso, eu acho que na maioria das disciplinas deveriam trazer alguma coisa, no somente em uma disciplina todas devem pegar na questo. (D 4 -33 anos, masculino, catlica, 2 anos de experincia docente).
No me recordo de disciplina que tenha tratado disso, se aconteceu foi de forma muito superficial. Tive uma disciplina de Incluso, mas era incluso do deficiente, ligada a educao especial. Essa discusso era iniciativa dos alunos e no das disciplinas e nem dos professores, mas ser que uma disciplina iria mudar os preconceitos das pessoas? (D 5 - 42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente. Grifo nosso).
Ao promover analise dessas manifestaes, reiteramos que, embora o Curso preconize a formao de pessoas para uma prtica social humanizada, produo da vida cultural e do exerccio crtico do trabalho, as (os) entrevistadas (os) revelam que no elenco dos componentes curriculares, apenas duas disciplinas obrigatrias poderiam/deveriam ter tratado da questo da diversidade sexual e das famlias homoafetivas, os depoimentos afirmam que isso no aconteceu ou foi de forma superficial. Para as (o) depoentes as disciplinas seriam: Educao Especial e Polticas Educacionais Inclusivas e Relaes tnico-raciais na Escola, ambas com carga horria de 60 horas e so ministradas no 7 semestre do Curso. Na analise, destacamos o seguinte recorte da formanda D 1 , quando afirma:
S trata da diversidade sexual por alto, no me lembro de ter visto nada sobre famlias homoafetivas olha, no lembro onde estavam se tratando desse assunto. porm acho que eles fazem uma ligao entre diversidade sexual e cincias como se tivesse que trabalhar diversidade sexual na disciplina de cincias. Sobre isso, Castro, Magalhes e Abramovay (2011) asseguram que a heterossexualidade, considerada sadia, costuma ser reforada na educao contempornea, especialmente nas aes pedaggicas. Desse modo, na formao inicial dos professores nas variadas reas do conhecimento, os currculos dos 74
cursos no incluem o estudo da sexualidade como disciplina especifica, ficando restrita ao curso das cincias biolgicas, o que compreende um grande obstculo para professoras (es) de outras reas abrirem debates semelhantes. Ainda, tal aspecto, referido por Magalhes (2011 apud CASTRO; MAGALHES; ABRAMOVAY, 2011) que, em face da experincia vivida no cotidiano das escolas, afirma que aulas de educao sexual ficam restritas aos professores de cincias e biologia, apresentando contedos delimitados aos estudos das partes, a exemplo dos aspectos fisiolgicos dos sexos e orientaes de mtodos anticonceptivos e preservativos. Enfatiza, ainda, que muitos professores resistem em trabalhar a sexualidade como contedo diversificado, e que outros no se acham capazes de conduzir esses debates em sala de aula. Alm do que muitos prosseguem ensinando e reproduzindo a ideologia tradicional, referentes ao sexo, a sexualidade. Nas falas, foi apontada a disciplina de formao complementar: Educao e Diversidade Cultural, que, segundo as (os) entrevistadas (os) nela, tambm, esse tema no foi priorizado ou foi abordado de forma superficial em poucos seminrios, na medida em que ele se mostrasse de interesse de alguma (um) estudante, conforme se verifica nos depoimentos abaixo:
[...] Essa disciplina s trata da diversidade sexual por alto, no me lembro de ter visto nada sobre famlias homoafetivas. (D 1 -23 anos, feminino, sem Religio, 01 ano de experincia docente).
No me recordo de disciplina que tenha tratado disso, se aconteceu foi de forma muito superficial Pra falar a verdade, essa questo o curso de pedagogia no tratou, no contribuiu, no curso deveria tratar, pois importante sim, vale a pena ser tratado, vlido se tratar desse assunto, a gente vai encontrar alunos homossexuais, as famlias. importante saber como lidar [...] (D 2 -26 anos, feminino, catlica, 8 anos de experincia docente).
Sinceramente o curso (no contribuiu) em nada, pois foi muito pouco tratado esse assunto, em como lidar com essas questes e famlias, aprendi no ambiente a conviver e perceber relaes, com as vivencias das pessoas em questo [...] (D 3 -22 anos, feminino, catlica, 1 ano de experincia docente. Grifo nosso).
Encontramos, nessas falas, a afirmao de que o Curso no abordou ou o fez superficialmente (Teve optativa, no da grade curricular, Educao e Diversidade Cultural s que ela no tratou do assunto de forma aprofundada) contedos e prticas que se referissem diversidade sexual, gnero, homossexualidade, 75
famlias homoafetivas. Reali (2009), em seu estudo, encontrou dados semelhantes aos nossos, e destaca a omisso da escola referente abordagem de contedos que, supostamente, podem mexer com sua estrutura, relativa aos padres de normatividade. Assim, comenta sobre a postura da escola e da sociedade, referindo que terica e juridicamente a escola deve ser um lugar onde haja a possibilidade de serem exercitadas a democracia, a justia social e o bem estar. No entanto, quando exigida a democracia e a pluralidade ainda, no atinge a todos. Afirma que:
As pessoas, direcionadas por suas posies culturais e scias, selecionam o que querem ou no democratizar ou pluralizar. Por isso se pode dizer que a escola pluralista, mas tem coisas que no precisam aparecer por l. So geralmente os assuntos que desestabilizam a ordem conservadora, excludente e elitista que desconcertam os/as docentes. (REALI, 2009 p.34)
A formanda D 5 , ainda, manifestou que: A disciplina Educao para as relaes tno-Raciais, nessa disciplina ns abordamos esses marcadores sociais na universidade, no meu curso de graduao em pedagogia foi nica disciplina que trouxe, que abordou essas questes da diversidade, bvio tambm que a disciplina no d conta, ento s vezes passa assim, a um conjunto de seminrios, onde cada questo foi abordada, ento ela trouxe essas reflexes, mas tambm no d conta, a gente no pode pensar que na universidade, uma disciplina de 60 horas d conta. (grifo nosso). Em que se pese a ponderao de D 5, quando sinaliza que no pode ser uma disciplina, isso no um debate de uma disciplina na formao, isso no um debate de um cursinho de 16 horas, de 8 horas. Ressalta que, contedos de tamanha complexidade no podem ou devem ser tratados superficialmente ou em nica disciplina, sendo necessrio que se alarguem os horizontes, reflita-se, discuta- se e se introjetem novos conceitos e posturas sobre essa no to nova realidade da escola no relacionamento com a homoparentalidade.Fica evidenciado atravs das entrevistas a carncia de uma disciplina que trate especificamente da questo. Ainda, atravs das falas das (os) informantes foi possvel perceber que consideram realmente importante a incluso no currculo de contedos referentes s questes da diversidade, da homoparentalidade e das famlias homoafetivas, ressaltando que isto contribuiria para uma prtica profissional crtica e voltada ao 76
combate aos preconceitos com o fortalecimento de atitudes e comportamentos de respeito s diferenas no espao escolar. Para as (os) entrevistadas seria necessrio que a Universidade se desnudasse de preconceitos e amarras, legitimando a necessidade de incorporar criticamente esse tema como contedos programticos, efetivamente presentes em seus componentes curriculares. O que pode ser verificado atravs da fala:
Deveria se falar mais sobre isso, quem sabe at uma nica disciplina para essa temtica. Acredito que esse assunto ainda bastante temido pelas pessoas ento essa disciplina poderia nos orientar melhor [...]. (D 1 23 anos, feminino, sem Religio, 01 ano de experincia docente)
Dessa maneira, estudos sobre sexualidade e novas configuraes familiares, devem aparecer, no como temas marginais ou tursticos, conforme j foi denunciado por Santom (1995 apud REALI, 2009), no incio dos anos 1990, eles devem figurar como permanentes, sendo impulsionadores de pesquisas e de profundas reflexes sobre o que feito em sala de aula e quais so os efeitos subjetivos quando se trata da formao, envolvendo crianas e jovens. Observamos nas falas das formandas (os) demonstraes de inquietaes diante da postura do Curso, diante da superficialidade, da omisso em discutir esses temas que consideram importantes para a sua pratica profissional, entendendo que, alm de estudantes/concluintes do Curso de Graduao, j exercem a docncia, em tempo que variou de (01) um a (22) vinte e dois anos. Retomamos a fala da formanda D 5 , quando denuncia:
Eu acho que a forma que a escola encara essas questes, h um resqucio cultural muito forte na questo daquilo que normatividade, ento a heterossexualidade o que normal, ento h uma concepo muito equivocada nesse sentido, isso eu sinto nos corredores da escola, na fila, nas salas, nas paredes, muitas vezes no prprio material didtico n, muito forte na normatividade [...]
Essa fala reporta-se e refora a omisso da escola, na medida em que no tem conseguido superar os ranos culturais que a tem impedido de abordar efetivamente contedos que deveriam ser claramente expostos, com vistas a contribuir com uma prxis docente menos preconceituosa e um espao escolar mais respeitoso em relao s diferenas. Atanzio e Souza Jnior (2009), entendem a escola como espao de aquisio e construo do conhecimento e tambm espao para construo e recriao de propostas voltadas para a promoo da cidadania, sendo preciso 77
destituir-se das amarras preconceituosas de um processo educacional heteronormativo, refletindo sobre o papel conservador da escola, propondo nova postura pedaggica, atravs da renovao e da ampliao do conceito do espao escolar, direcionando-se para uma concepo articulada com o contexto da sociedade de maneira que extrapole os seus muros, maximizando o seu papel formador, aproximando-se de uma escola fundamentada nos princpios humanizados e libertadores. Nesse sentido, deve-se viabilizar a participao coletiva e interdisciplinar das (os) trabalhadoras(es) em educao na construo e efetivao de um Projeto Scio-Poltico Pedaggico autnomo, crtico e vivel, enfatizando a promoo e a insero social das (os) educandas (os). Para Britzman (1999 apud REALI, 2009), h uma paixo pela ignorncia, que precisa ser desafiada, e os atuais modelos curriculares de formao de professores e professoras precisam ser contestados tanto nas suas formas quanto nos seus contedos. Nesse sentido, registramos que o Curso em discusso, segundo as falas das entrevistadas (os), deveria rever conceitos necessrios Formao de Educadoras (es) preparadas (os) para desenvolver uma prxis sem reforo aos preconceitos, discutindo amplamente contedos que as (os) conduzam a reflexo critica das suas aes como profissionais capazes de evitar discriminaes e vencer preconceitos, muitos ainda velados, e que se encontram presentes no espao escolar, e que ainda exalta o ideal de masculinidade, em detrimento das pessoas que fogem ao padro secularmente construdo a exemplo de gays, lsbicas e travestis e,claro, as famlias homoafetivas.
Sobre a Formao, D 5 na sua fala destaca tambm que: Eu acredito muito no processo de Formao dos Professores, e que esse processo ele pode e ele implica muito na prtica e essa prtica vai disseminando as ideias, as concepes que as pessoas tm de famlia, de diviso sexual do trabalho, da relao de poder entre homens e mulheres, a formao ajuda e muito.
Nesse sentido, Nussbaum (2010 apud CASTRO; MAGALHES; ABRAMOVAY, 2011) reconhece que a escola apenas uma das instituies que processam a educao, e que a famlia, a mdia e a cultura de pares so, de fato, tambm importantes nesse processo. Entretanto, acredita na escola como aquela que deve promover a capacitao para o dilogo critico com as demais instituies, implicando na necessidade de se rever no apenas currculos, mas tambm pedagogias. 78
Na categoria a seguir analisamos o acesso das (os) discentes aos documentos oficiais que versam sobre o tema em estudo.
Categoria 3 - Acesso a documentos concernentes ao tema durante a formao docente. Nessa categoria buscamos analisar e discutir sobre o acesso das (os) formandas (os) aos seguintes documentos: Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs) - Temas transversais, Programa Brasil sem Homofobia e o Projeto Escola sem Homofobia. Reiteramos a importncia desses documentos visando o preparo das (os) futuras (os) educadoras (es), para instrumentaliz-las (os) para atuao frente s famlias homoafetivas e a homoparentalidade na escola, assim como no combate discriminao ainda presente na relao e prtica docente. As manifestaes buscam responder a seguinte questo da entrevista: quais documentos sobre diversidade sexual e famlias homoafetivas voc teve conhecimento ao longo do seu Curso? (PCNs, Brasil sem homofobia e Escola sem homofobia). Desse modo, a falta de contato com os documentos e, consequentemente, com a temtica em estudo foi sinalizada por todas (os) entrevistadas (os), seno vejamos:
Que lembre nenhum! Somente o que estava contido nos temas transversais dos PCNs, mas no profundamente como deveria. (D 1 -23 anos, feminino, sem Religio, 01 ano de experincia docente). No, na verdade documentao nenhuma, acesso somente aos PCNs especficos tipo matemtica, portugus [...] No tive acesso ao dos temas transversais, no tratamos o Brasil sem homofobia, nem Escola sem homofobia. (D 2 - 26 anos, feminino, catlica, 8 anos de experincia docente. Grifo nosso).
Que eu lembre nenhum [...] Tive acesso aos PCNs, sim, mas especficos de matemtica, portugus, que eu lembre, e aos demais no tive contato lembro que ouvi falar, mas foi superficial. (D 3 -22 anos, feminino, catlica, 1 ano de experincia docente). No" Em nenhum momento tivemos contato com esses documentos, somente comentrios leves sem essa questo de documentos, sem aprofundar em teorias ou alguma coisa assim. Os documentos no foram tratados, os PCNs eram vistos especficos, PCNs de portugus, matemtica. O Brasil sem homofobia e Escola sem homofobia no foram tratados, eu no li esses documentos, li os parmetros que falam dos temas transversais por cima. (D 4 -33 anos, masculino, catlica, 2 anos de experincia docente. Grifo nosso).
Ao longo do meu curso o nico documento, muito mais discutindo a questo da incluso foi declarao de Salamanca, no meu curso eu tive que correr atrs muito mais, porque meu campo de pesquisa de graduao buscou problematizar essas questes de gnero e sexualidade, mas o 79
acesso que eu tive foi por autonomia minha porque eu quis estudar [...] Tanto o Projeto Escola sem Homofobia como o Projeto Brasil sem Homofobia foram projetos meus, pessoais, dos meus interesses acadmicos... Durante o curso, documentos relacionados diversidade sexual e discusses sobre o assunto em sala de aula no aconteceram. (D 5 -42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente. Grifo nosso).
A anlise desta categoria revela que o acesso a esses documentos praticamente no aconteceu. Quando houve contato, foi rpido, superficial e ou por iniciativa e interesse da (o) aluna (o), conforme revela a seguinte fala:
[...] o acesso que eu tive foi por autonomia, porque eu quis estudar peguei o Programa Brasil Sem Homofobia, peguei esses documentos para poder aprofundar muito as questes relativas diversidade de gnero, raa, etnia e de sexualidade. (D 5 -42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente).
Assim, a posio das (os) discentes mostra-se a favor de que a Universidade, no Curso de Licenciatura, necessita assumir o debate de temas referentes sexualidade, gnero, homossexualidade e homoafetividade, o que se observa no seguinte recorte da fala do formando D 4 : [...] Seria importante ter trabalhado na sala de aula esses documentos, abriria um leque, eu percebo em sala de aula tem muita gente que no est preparada para atuar na rea, para fazer um projeto que venha atender o pessoal que sofre com essa questo e a sociedade tambm no est de acordo [...]. Destacamos, tambm, o recorte da fala de D 5 ,que destaca a sua iniciativa, no Dependendo do Curso para tal:
Se eu dependesse apenas da minha trajetria acadmica, eu passaria pela universidade sem tocar nesse assunto, agora como paralelo a trajetria acadmica eu tenho uma trajetria de militncia nos movimentos sociais, nos movimentos de mulheres, nos movimentos que buscam mesmo, que luta, que labuta pelos direitos da minoria [...], isso foi que me instigou a fazer esses estudos, porque se dependesse do currculo da formao que a Universidade tem passaria num pulo.
Santos (2008), em seu estudo, lembra que nossa sociedade marcada por forte desigualdade ao categorizar os sujeitos por classe social, sexo e raa tendo historicamente contribudo para (re) produzir estratificar as diferenas. Tal tradio marginaliza aqueles que no esto em conformidade com a norma hegemnica e, desse modo, no discute e contempla a incluso da diversidade sexual, atualmente proposta. Nesse sentido, tambm Atanzio e Souza Jnior (2009) afirmam que h 80
avanos em algumas diretrizes encontradas em planos de enfrentamento s violncias e opresses contra segmentos nos espaos escolares e em outros espaos onde se pratica aes de sociabilidade e educao social por intermdio da integrao das Polticas Pblicas, tendo como exemplos planos estratgicos como: Programa Brasil sem Homofobia do Governo Federal, Parmetros Curriculares Nacionais-PCNs para a Orientao Sexual, o Projeto Escola sem Homofobia, o Programa Nacional de Direitos Humanos, as Conferncias Municipais/ Estaduais/ Nacionais LGBT, e a insurreio de Movimentos Sociais de Base, que prev mudanas nos Cdigos de tica de profisses para atendimento s diversidades. Entretanto, conforme encontrado neste estudo so instrumentos pouco utilizados para tal fim. Nesse contexto, para os autores, que se faz importante elaborao de estratgias de enfrentamento s questes relativas homofobia e ao heterosexismo, destacando que as Polticas Pblicas se constituem instrumentos de elaborao de garantias de direito, mas, que se constroem com a necessidade de amplas interpretaes sociais da temtica, exigindo maior envolvimento da educao social de base, onde se pode mudar a reflexo social/cultural das novas geraes a respeito da diversidade retomando a idia de alteridade sem a qual se torna frgil e dificultosa a concretizao das atribuies propostas pelas instancias garantidoras dos nossos direitos. Reiteramos que o Programa de Combate Violncia e Discriminao contra GLTB (Gays, Lsbicas, Transgneros e Bissexuais) tambm importante nesse contexto, buscando a promoo da cidadania de homossexuais. Assim como o programa, Brasil sem Homofobia, um dos pilares fundamentais para ampliao e fortalecimento do exerccio da cidadania no Pas. O Secretrio Especial dos Direitos Humanos, quando da efetivao desse Programa ressaltou que este um verdadeiro marco na luta pelo respeito s diferenas, direito, dignidade, constituindo-se reflexo dos avanos polticos, sociais e legais to duramente conquistados. O Governo, junto a sociedade civil organizada, tomando a iniciativa de elaborar o Programa reconheceu a trajetria de brasileiras (os), que desde os anos 80, do sculo passado, dedica-se luta pela garantia dos direitos humanos de homossexuais. (BRASIL, 2004). Sobre o Programa Escola sem Homofobia, comentam Castro, Magalhes e Abramovay (2011), destina-se a uma educao que colabore na efetividade de leis 81
por direitos sexuais diversos, mas alertam sobre fragilidades das (os) professoras (es) para efetivamente implementarem esses programas, destacando a necessidade de que sejam acompanhados de investimentos em capacidades e que eles se sintam mais protagonistas, para que sua pratica se materialize, evitando que tenhamos outros programas que fiquem apenas nas boas intenes. Pesquisa realizada pelo MEC, em 2008, sobre a situao da homofobia no ambiente escolar, para dar subsdios ao programa Brasil sem Homofobia, apresentou como principais resultados da pesquisa a existncia de homofobia na escola, havendo consenso de que atitudes e prticas discriminatrias incluindo a violncia, produzem fortes consequncias para as (os) estudantes que envolvem tristeza, depresso, baixa na autoestima, queda no rendimento escolar, evaso escolar e at casos de suicdio foram relatados. Desse modo, mesmo existindo uma poltica de educao sexual para educadores e estudantes, ela no ocorre de maneira sistemtica na escola, alm de no serem abordadas as diversidades sexuais. Para os sujeitos da pesquisa as razes para podem ser: a falta compreenso sobre a homossexualidade e de preparo de educadores/as sobre o tema, o preconceito existente na escola, o medo da reao das famlias e a falta de materiais para trabalhar o tema sendo recomendada a realizao de cursos a fim de capacitar docentes, bem como,prover as escolas com recursos materiais capazes de minimizar o problema da homofobia no espao escolar. (BRASIL, 2008) A fala que se segue demonstra a inquietao das (os) formandas (os) sobre a importncia do contato e discusso desses contedos para sua formao e prtica profissional:
Eu fao uma crtica, eu trago isso como uma questo que me inquieta dentro do processo de formao inicial dos professores, porque eu percebi que isso implica muito na prtica docente, no ter aprofundamento nessas questes, no ter esse marcos, pra embasar, pra fazer refletir a prtica. (D 5 -42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente).
Corroboramos com Therrien e Loiola (2001), quando colocam que se recorre educao como recurso imprescindvel para assegurar as bases da nova sociedade, onde o trabalho no se limita mais simples transformao instrumental da matria mas, prioriza a ao sobre o humano e com o humano, sendo a(o) professora(or) sujeito chave para o sucesso ou o fracasso dos processos educacionais. Generalizam-se o questionamento sobre a formao das (os) formadoras (es) nos mais diversos nveis dos sistemas de ensino. 82
, nesse contexto, que encontramos o movimento internacional de reformas educacionais com propostas diversificadas que, entretanto, privilegiam o debate sobre a formao e a profissionalizao da(o) professora(or), cabendo a este ltimo importante contribuio para a preparao bsica de cidados aptos para conviverem e trabalharem na complexidade da vida cotidiana. Santos (2008), quando enfatiza que a instituio escolar no que se refere s manifestaes da homofobia parece ser mais um espao de contradio, onde esto presentes culturas nas quais a experincia do respeito ao outro na sua diversidade pouco debatida, discutida e exercitada, vem de encontro as falas das (os) entrevistadas (os) que apontam para uma compreenso que o acesso a esses documentos acompanhado de uma discusso sistemtica e reflexiva daria importante contribuio prtica profissional. Na categoria a seguir, analisamos os resultados do estudo referentes a sugestes das (os) discentes, como contribuio ao Curso de Pedagogia em estudo, para que se processem mudanas, no sentido de instrumentaliz-las (los) na prtica profissional, para lidar com a homoparentalidade/ famlias homoafetivas na escola.
Categoria 4 - Mudana no Curso de Licenciatura em Pedagogia, visando o preparo discente para atuar com famlias homoafetivas: sugestes das (os) discentes.
Nesta categoria, buscamos das (os) formandas (os) sugestes que pudessem contribuir para que o Curso as (os) instrumentalizasse para uma pratica profissional, que leve em considerao a realidade das famlias homoafetivas no espao da escola. Nela, tambm inclumos a subcategoria formao docente, no intuito de complementar as sugestes fornecidas. As manifestaes abaixo apresentam essas sugestes, respondendo ao seguinte questionamento do estudo: se voc tivesse que reformular o Curso de Licenciatura em Pedagogia, o que voc acha que poderia mudar para ampliar a contribuio deste na formao e atuao das (os) futuras (os) professoras (es) em relao s famlias homoafetivas?
Deveria se falar mais sobre isso, quem sabe at uma nica disciplina para esta temtica? Acredito que esse assunto ainda bastante temido pelas pessoas ento esta disciplina poderia nos orientar melhor sobre alguns comportamentos e at mesmo alguns direcionamentos 83
no que nos daria uma formula ou receita (porque impossvel) [...] Mas, nos nortear em algumas situaes, at porque estamos tratando de crianas, um mundo repleto de curiosidades e confuses. (D 1 -23 anos, feminino, sem Religio, 01 ano de experincia docente. Grifo nosso).
Mais disciplinas que falassem dessas coisas, as pessoas tambm teriam que mudar suas ideias; so muitos os preconceitos que as pessoas tm, a fica difcil at falar de certas coisas em sala, umas pessoas no gostam, acham que besteira, sei l, tambm tem que mudar os professores, eles precisam trazer mais a discusso para a sala, talvez eles tambm no tenham tido isso no curso deles, enfim [...] Vira uma bola de neve, e a gente acaba continuando com os preconceitos, mesmo tendo passado pela faculdade. (D 2 -26 anos, feminino, catlica, 8 anos de experincia docente. Grifo nosso).
Estas colocaes indicam a necessidade de mudanas no apenas aquelas relativas s concepes, posturas e preconceitos, mas, tambm, aponta para a importncia do preparo docente para abordar e trabalhar a temtica, revelando que: tambm tem que mudar os professores, eles precisam trazer mais a discusso para a sala, talvez eles tambm no tenham tido isso no curso deles, enfim... Vira uma bola de neve, e a gente acaba continuando com os preconceitos mesmo tendo passado pela faculdade. (D 2 -26 anos, feminino, catlica, 8 anos de experincia docente). Ressaltando que esse despreparo docente j foi sinalizado na subcategoria: o despreparo da escola e das (os) professoras (es). Em outro recorte, observamos uma fala que destaca mais uma vez a questo da incluso de uma disciplina e tambm aponta para a necessidade de mudana de professoras (es) do curso: Mudaria muita coisa, colocaria disciplina especfica para esses temas, incentivaria as pessoas estudarem esse tema, mudaria alguns professores, que so preconceituosos tambm. (D 4 -33 anos, masculino, catlica, 2 anos de experincia docente). Seguem-se outros recortes das falas, informando:
preciso que a formao d um tratamento a esse debate, a formao do professor e da professora tem que trazer essa questo, dentro dos seus contedos, dentro da sua perspectiva de trabalho e de formao, e no pode ser apenas numa oficina de poucas horas, um debate que tem que ser efetivo [...] Ele no pode ser apenas inicial eu acho que tem que, a formao inicial trazer isso muito mais do que na disciplina de etno-raciais [...] porque uma questo que tem que ser problematizada, tem que ser pensada, refletida [...] muitas vezes acontece isso, a ousadia de alguns professores e professoras. (D 5 -42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente. Grifo nosso).
Tambm D 1 refere que deveria haver uma disciplina que poderia nos orientar melhor sobre alguns comportamentos e at mesmo alguns direcionamentos, 84
no que nos daria uma frmula ou receita, porque impossvel, mas nortear-nos em algumas situaes. Discutindo tais sugestes, verificamos que elas reforam o que j foi trazido em categoria j analisada, a questo da incluso de componentes curriculares que contemplem a questo da homoafetividade, cabe destacar que ao colocarem essa necessidade, no trazida para a discusso a questo da transversalidade, uma vez que a complexidade do tema exige que sejam contempladas interfaces de variadas reas do conhecimento humano. Sobre isso, deve ser relembrado que a sexualidade no algo que se possa separar da pessoa, pelo fato de se encontrar em qualquer posio social, estudante, professora (or), ou outras, precisando, que a instituio escolar, como um todo, instrumentalize-se para lidar com essa demanda. Nessa perspectiva, a transversalidade prev uma forma de integrao de reas, que firmam um compromisso de trazer a baila, no espao escolar, reflexes importantes a respeito de questes sociais, de valores, cidadania, tica, da convivncia com o outro e de questes relativas sexualidade devem ser tratadas como tema transversal tendo como uma proposta de estabelecer dilogo com essas temticas, luz dos conhecimentos produzidos nesse espao de construo de saberes, que a escola. Nesse sentido, os PCNs propem uma organizao do conhecimento escolar em diferentes reas e temas transversais, que integrem conhecimentos de diferentes disciplinas, revelando a implicao da escola com demandas importantes da sociedade, na medida em que, questes que estejam presentes no cotidiano das (os) estudantes, devendo ser tratadas no apenas como uma disciplina, mas com a agilidade prpria da dinmica social, e que so de enorme importncia para a formao desses. (BRASIL, 1999). A fala da discente, a seguir, demonstra sua inquietao atravs de questionamentos que apontam para uma reflexo no somente disciplinar como o pensar qual deve ser mesmo a funo da universidade:
A formao inicial no d conta, por mais que a universidade, por mais que a academia mude a sua grade (curricular) traga isso muito mais a atender um cho concreto, porque de vez em quando a gente pergunta com base em que as universidades compem sua grade curricular? uma grade mesmo trancada, ento, baseado em que s vezes baseada em iderios que no existem, mas tambm o que natural para ns? O que natural para a universidade? Quando tambm a gente pergunta a quem ela serve, o sistema que a gente vive que est ai, e a gente teimosamente querendo mudar querendo construir uma nova ordem de relaes entre homens e mulheres, entre seres humanos hetero, bi, homo, mas o sistema 85
que est posto ai ns temos um estado e a universidade um brao do estado, o estado que sexista, racista, que homofbico a gente v isso ai gritante. (D 5 -42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente. Grifo nosso).
Essa fala revela a dificuldade que existe na luta por transformaes, destacando diversas amarras sociopolticas, capazes de emperrar transformaes to urgentes e necessrias. No contexto de mudanas curriculares, os PCNs objetivam travar uma discusso aberta e flexvel sobre o currculo, devendo este ser compreendido em uma dimenso muito maior, do que apenas um conjunto de disciplinas. Portanto uma concepo de currculo que compreende uma expresso de princpios e metas do projeto educativo, necessitando de flexibilidade, que possibilite a promoo de debates, discusses e reflexes, permitindo constante reelaborao pelas (os) atrizes\ atores, envolvidas (os) no processo educativo, ressaltando o papel da (do) professora (or), que na sua prxis cotidiana, faz a traduo desses princpios, registrando que os PCNs tm a funo de subsidiar a construo ou a reviso curricular dos Estados e Municpios, interagindo com as propostas e experincias j existentes, incentivando a discusso pedaggica interna das escolas. Alm de elaborar projetos educativos, que possam servir como material de reflexo para a prtica docente. (BRASIL 1999\INTRODUO AOS PCN-vol. 1). No entanto, corroborando com Ohlweiler, Borges e Bulsing (2010), embora os PCNs indiquem que temas de gnero e sexualidade devam ser tratados transversalmente, de modo geral, costuma ser conhecidos superficialmente, sendo frequente a denncia por professoras (es) da carncia de uma formao especfica e continuada, de modo a suprir as necessidades de capacitao no que se refere ao manejo das questes relativas diversidade sexual, gnero e homossexualidade. Assim, acabar com as lacunas de gnero na educao deveria ser primordial em todos os programas de expanso escolar e melhoria de qualidade. Questes que so trazidas na fala de uma das entrevistadas:
Estudando os marcos legais, estudando mesmo, para ver como eu implemento isso, como que eu vejo meu menino, minha menina, como eu no fico normatizando o que de um. Como que eu vejo a masculinidade e a feminilidade na escola um monte de questes que na universidade no da conta de aprender, enquanto processo de formao que se d para alm da parede da universidade, na vida [...] Na educao continuada, que no veja essas questes como algo alheio a escola, tem que estar no cotidiano da escola, as famlias continuam l, os nossos meninos e meninas que so homoafetivos continuam l, na singularidade deles, na diversidade deles, como sujeitos acho que assim a escola tem que est 86
atenta a isso, no d para fingir que eles no existem. (D 5 -42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente).
Os PCNs constituem-se importantes documentos que podem respaldar a formao docente, a escola, na medida em que colocam a questo da diversidade, da orientao sexual em seu espao, sinalizando e reforando a importncia da famlia como responsvel pela construo de saberes, formas de pensar, lidar e sentir essas questes. Tambm, afirma o papel da relao aluna (o) x professora (or), e a necessidade da preparao desses ltimos para lidarem com a temtica de gnero, homossexualidade e orientao sexual. Desse modo, na subcategoria formao docente, relativa s sugestes, das (os) discentes, foi destacada, no processo, a negao, a invisibilidade da escola na abordagem do tema em estudo, revelando, tambm com isso, a viso das (os) docentes, inerente postura da escola na relao com a homoparentalidade. A fala a seguir representa essas consideraes:
Eu fao uma relao entre formao e esse impacto na escola, eu sinto que na verdade o abafamento, o silenciamento dessa questo... A formao ajuda a problematizar e a fazer reflexes, que ajuda nessa mudana de postura, porque ningum , nasceu assim, cresceu assim, vai morrer assim, no! (D 5 -42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente. Grifo nosso).
Essa mesma formanda prossegue em seu depoimento (aqui retomado) afirmando que:
O que eu percebo que a escola, mas pra mim, um discurso de defesa, um discurso de conformao, ento como mexer com isso d um trabalho danado n, e a agora eu tenho percebido discutir a questo do gnero e da sexualidade, na escola, tem sido temas tidos como melindrosos e a a formao docente tambm no quer problematizar isso n, ai fica todo mundo achando que vai botar, a gente chama l de panos quentes pra poder.
Nesse contexto, Castro, Magalhes e Abramovay (2011), referem que se ressalta a complexidade de valores sociais, sistematizados por padres culturais, baseados na lgica hierrquica de gnero e na diferenciao anatmica entre os sexos, cooperando para que se neguem os direitos humanos homoafetivos, ou o reconhecimento da alteridade e das potencialidades criativas para as relaes sociais da sexualidade, empobrecidas pela forma como transmitida, silenciada, e conjugada a violncias. Ressaltamos, ainda, o seguinte recorte da fala de D 5 :
87
[...] porque a escola precisa respeitar a cultura da famlia e na cultura familiar eles no aceitam que tenha inclusive meninos brincando com meninas n, porque segundo eles a famlia diz que o menino que brinca com as meninas tem a tendncia de ficar afeminado e as meninas que brincam com os meninos tem uma tendncia a ficarem muito ousadas iguais aos meninos, como se ousadia e peraltice fosse apenas uma caracterstica dos meninos, ento muito forte quando trata essas questes... (D 5 - 42 anos, feminino, catlica, 22 anos de experincia docente).
Essas questes da famlia, trazidas pela formanda, traduz uma postura tradicional da escola, que implica em proteger e orientar para o bem o comportamento correto e, dessa maneira, o que se constata que a orientao dos pais tambm se pauta na ideia de evitar, de proteger, evitando-se que a famlia passe vergonha. (Calligari apud CASTRO; RIBEIRO, 2011). Assim, h na escola todo tipo de precauo, desde o controle em relao s roupas, caracterizao das brincadeiras e limites das expresses de afeto, alm da vigilncia aos namoros, que nos casos das dades meninos-meninas seriam tolerados ainda que disciplinados. No caso das pessoas responsveis, como os professores, taxarem algum comportamento de desviante, os pais, de maneira sutil, so convidados a acompanhar seus filhos a profissional de direito, a exemplo de psiclogos ou psiquiatras, com a perspectiva de prevenir tal problema. (CASTRO; MAGALHES; ABRAMOVAY, 2011 p.22). As falas, tambm, focalizaram a importncia dada a uma formao de professoras (es), voltada para preparao de uma (um) profissional apto a contribuir de maneira efetiva e critica para uma convivncia no espao escolar, que priorize o respeito s diferenas e suas variaes, compreendendo a importncia dos direitos humanos. Assim, considerando as possveis contribuies das (os) discentes para o curso, compreendemos suas manifestaes como um diagnstico da realidade das escolas onde atuam o que, certamente, exigem aes imediatas, tanto destas, quanto do Curso da Universidade em questo, na busca de se rever conceitos e implementar contedos e metodologias que permitam a superao das questes apontadas, e voltados, especialmente, para as questes do preparo para lidar com famlias homoafetivas na suas praticas docentes. Para Moura (2009), as expresses da linguagem so criaes coletivas e histricas, portanto, a anlise das falas do grupo dessas formandas (os), pode ser compreendida como expresso individual e tambm coletiva. No entanto, embora 88
sejam falas que, em sua maioria, se afinam, no podem traduzir a concepo de todo grupo, at porque, houve aquelas(les) que no participaram da pesquisa, e, assim, no podemos generalizar essas afirmaes, nem mesmo para o universo do estudo.
89
6. CONSIDERAES FINAIS
Levando em conta os objetivos do estudo, a saber: conhecer a viso das (os) discentes, formandas do Curso de Licenciatura de uma Universidade do interior da Bahia, sobre a relao da escola e famlias homoafetivas; identificar as contribuies do Curso voltadas ao preparo para lidar com a homoparentalidade na escola, destacando se foram fornecidos componentes curriculares que abordassem o tema em questo; se houve acesso a documentos, produzidos sobre questes concernentes ao tema em estudo e, complementando, com contribuio das (os) docentes ao Curso de Licenciatura em estudo, no que se refere ao fornecimento de subsdios a (o) discente para lidar com famlias homoafetivas na sua prxis profissional. Alm da anlise e da discusso empreendidas, temos a considerar que, no parece ser uma tarefa fcil compreender os novos arranjos familiares formados por casais homossexuais, em especial para a escola, envolvendo seu espao e as diversas (os) atrizes\atores que nela atuam. Desse modo, quando tratamos da viso das (os) discentes do Curso de Licenciatura em Pedagogia de uma Universidade no interior da Bahia, campo deste estudo, sobre o relacionamento escola e famlias homoafetivas, verificamos que em quase todas as falas foi sinalizado o preconceito explicito ou velado, ainda fortemente existente no espao escolar, quanto ao relacionamento com essas famlias, assim como aspectos relativos formao docente para lidar com a diversidade sexual, gnero, sexualidade e homossexualidade, aspectos atrelados ao nosso objeto de estudo. Assim, registramos que os resultados das entrevistas em muito se assemelharam, sendo observada convergncia nas colocaes referentes viso das (os) entrevistadas (os) sobre a relao da escola com as famlias homoafetivas, revelando que essa relao baseada no preconceito e na convico de que a escola esta despreparada para lidar com essas famlias, negando a questo, atravs da invisibilidade dada ao tema. Nesse contexto, outros estudos desta natureza tm revelado que para compreenso da dinmica dos relacionamentos da escola com essas famlias, considerando a relao que elas mantm com a ordem social vigente, importante considerar diversos outros aspectos que permeiam essas relaes, destacando-se fatores culturais, como a liberdade sexual conquistada, o ingresso da mulher no mercado de trabalho, entre outros que possibilitam novos arranjos familiares e 90
que transformam as relaes de parentalidade, assim como a concepo sobre essas relaes. Obedecendo a sequncia das categorias de anlise emergentes do estudo, os dados obtidos em relao contribuio do Curso de Licenciatura em Pedagogia para a prtica profissional visando lidar com famlias homoafetivas, sinalizam a escassez de disciplinas voltadas para essa temtica, aliada, tambm, a silenciamento ou invisibilidade do tema. Tambm em relao a essa categoria as(os) entrevistadas(os) ressaltaram que o Curso no contribuiu com subsdios que consideram relevantes para auxiliar suas prticas enquanto futuras (os) professoras (es), embora a nossa amostra tenha sido composta por estudantes que j tem experincia docente. Manifestaram que o Curso poderia ter promovido maiores discusses e, at mesmo, poderia ter oferecido componentes curriculares que tratassem especificamente das famlias homoafetivas destacando a transversalidade com vistas a uma prxis despojada de preconceitos, de maneira que essas (esses) professoras(es) fossem conduzidas(os) a uma postura critica, capazes de vencer esses preconceitos, desconstruindo o ideal de heteronormatividade, ainda vigente e que se ope por vezes de forma violenta s pessoas que fogem ao padro ideal, a exemplo de gays, lsbicas e travestis, a homoparentalidade e famlias homoafetivas. Reiteramos a emblemtica fala de uma das depoentes, quando refere [...] eu percebo que um discurso de defesa um discurso de conformao, ento como mexer com isso d um trabalho danado n... Eu tenho percebido que discutir a questo do gnero e da sexualidade na escola, que so temas tidos como melindrosos, e a a formao docente tambm no quer problematizar isso n, ai fica todo mundo achando que vai botar, o que a gente chama l de panos quentes. Entendemos que, nesse aspecto, a formao da (o) educadora (or) deve se processar sem a interferncia de condutas preconcebidas, assumindo-se posturas e aes formativas, consonantes com a realidade, onde se inclui a homoparentalidade/ famlias homoafetivas, e que esse segmento da populao, efetivamente, est presente nas escolas. Quanto aos achados na categoria de analise, que envolveu o conhecimento das (os) formandas (os) dos seguintes documentos: os PCNs (Temas transversais), O programa Brasil sem homofobia, o Projeto Escola sem homofobia, a falta de acesso a esses documentos e a discusso com a temtica foram sinalizadas por 91
todas (os) entrevistadas (os), trazendo como exemplo a seguinte fala: No! Em nenhum momento tivemos contato com esses documentos, somente comentrios leves, sem essa questo de documentos; sem aprofundar em teorias ou alguma coisa assim. Ressaltamos que a educao recurso essencial para assegurar as bases da nova sociedade, no se limitando simples transformao instrumental da matria, mas priorizando a ao do humano e com o humano, onde a (o) professora (or) apresentada (o) como sujeito chave para o sucesso ou o fracasso dos processos educacionais, cabendo-lhes a importante contribuio para a preparao bsica de cidads e cidados, aptos a conviverem e trabalharem na complexidade da vida. Nesse sentido, lembramos que promover discusses e crticas de contedos que abordem a postura equivocada da escola em relao s sexualidades, e em favor da manuteno de um modelo binrio, deve ser uma prtica efetivamente estabelecida atravs do dilogo permanente entre todos os atores envolvidos no processo educacional. Na categoria quatro, na qual procuramos apreender das (os) formandas (os) sugestes para que o curso posa de fato contribuir para instrumentaliz-las (los) para a pratica profissional no que concerne ao lidar com famlias homoafetivas na escola, verificamos que houve uma centralizao na incluso de componentes curriculares que contemplassem a questo da homoparentalidade/ homoafetividade, pouco se reportando a transversalidade, uma vez que a complexidade do tema exige que sejam contempladas interfaces de variadas reas do conhecimento humano. Nesse sentido, os Parmetros Curriculares Nacionais- PCNs reportam-se a uma organizao do conhecimento em diferentes reas e temas transversais, nas quais dever haver integrao dos conhecimentos de diferentes disciplinas, destacando o envolvimento da escola com demandas importantes da sociedade, que estejam presentes no cotidiano das (os) estudantes. Chamou-nos a ateno o fato das (os) entrevistadas (os) estarem no espao escolar incomodadas (os) com as posturas de invisibilizao das questes referentes as famlias homoafetivase ,homoparentalidade, violncias reproduzidas pela escola, o que, de alguma forma, pode sinalizar um inicio de um processo de reflexo e questionamento no interior da escola, uma vez que elas (es) fazem parte da escola e, efetivamente, esto envolvidas (os) com o processo de educao. 92
Registramos que a nossa finalidade ao empreender esta pesquisa no foi a de apresentar respostas definitivas relativas ao objeto de estudo, mas discutir levantar reflexes sobre um tema atual to complexo, e que envolve a escola e seus atores, bem como os diversos seguimentos da sociedade. A discusso sobre a relao da escola com famlias homoafetivas, perpassada pelos aspectos scio-polticos, econmicos e culturais, alm da formao da (o) educadora (or) e o efetivo preparo para o desenvolvimento da prxis profissional, no pode esgotar-se neste estudo, at por que, entendemos que a cincia e a sociedade encontram-se em constante processo de mudana. Diante disso, alm da inteno de impulsionar novas pesquisas na rea, desejamos com este estudo contribuir para que a situao detectada possa ser revertida com vistas efetividade de uma prtica educativa de enfrentamento as desigualdades, com aes capazes de propiciar reflexes no ambiente escolar, promovendo a igualdade, o respeito diversidade, de modo a contribuir concretamente para que ocorra a superao dos estigmas e preconceitos relativos diversidade sexual e em especial homoparentalidade e as famlias homoafetivas. 93
REFERNCIAS
ABRAMOVAY, Miriam; CUNHA, Anna Lcia; CALAF, Priscila Pinto. Revelando tramas, descobrindo segredos: violncia e convivncia nas escolas. Braslia: Rede de Informao Tecnolgica Latino-americana (RITLA). Secretaria de Estado de Educao do Distrito Federal (SEEDF), 2009. 496 p. ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary Garcia; SILVA, Lorena Bernadete. Juventude e sexualidade. Braslia: UNESCO, Brasil, 2004. ALTMANN, Helena. Orientao sexual nos parmetros curriculares nacionais. Rev. Estud. Fem. [online]. 2001, vol.9, n.2, pp. 575-585. ISSN 0104-026X. Acesso em 12 jan. 2012. ATANZIO, Onestalda; SOUZA JNIOR, Roberto Dutra de. Diversidade Sexual na escola: elementos para anlises dos desafios educacionais. Enlace temtico: Identidades de Gnero e Identidades Sexuais, Trabalho apresentado I Seminrio Internacional Enlaando Sexualidades: Educao, Sade, Movimentos Sociais, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos. Belo Horizonte, 2009. BARDIN, Laurence. Anlise de contedo. Lisboa: Edies Setenta, 1977. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e ambivalncia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. BOKANY, Vilma; VENTURI, Gustavo (Orgs). Diversidade sexual e homofobia no Brasil. Editora Fundao Perseu Abramo, 2011. BOMBASSARO, Luiz Carlos. As fronteiras da epistemologia: como se produz o conhecimento. 2. ed. Petrpolis: Vozes, 1992. BRASIL. Congresso Nacional. Lei n 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispe sobre o Estatuto da Criana e do Adolescente e d outras providncias. Braslia DF. 1990. ________. Cmara Federal. Projeto de Lei n 1151, de 1995, que Disciplina a unio civil entre pessoas do mesmo sexo e d outras providncias. Braslia DF. 1995. 94
________. MEC. Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil. Braslia: MEC. Secretaria de Educao Fundamental; 1998. ________. Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Mdia e Tecnolgica. Parmetros curriculares nacionais: ensino mdio. Braslia - DF: Ministrio da Educao, 1999. ________. Ministrio da Sade. Conselho Nacional de Combate Discriminao. Brasil Sem Homofobia: Programa de combate violncia e discriminao contra GLTB e promoo da cidadania homossexual. Braslia-DF, 2004. ________. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Continuada. Alfabetizao e Diversidade (SECAD). Caderno de Gnero e Diversidade Sexual na Escola: reconhecer diferenas e superar preconceitos. Braslia, 2007. ________. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Adoo: um direito de todos e todas. Braslia, CFP, 2008. 52p. ________. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Psicologia e diversidade sexual: desafios para uma sociedade de direitos. Braslia- DF: Ed Braslia, 2011. ________. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Resoluo 01, de 22 de maro de 1999, que "Estabelece normas de atuao para os psiclogos em relao questo da Orientao Sexual". Braslia- DF: Ed Braslia, 1999. ________. Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto. IBGE. PNAD. Sntese de indicadores sociais. IBGE: Rio de Janeiro, 2006. ________. STF. Voto do Ministro Ayres Brito no julgamento da Ao Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e a Arguio de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, que trata do reconhecimento da unio estvel para casais do mesmo sexo. Disponvel em http://www.conjur.com.br/2011-mai-06/leia-voto- ministro-ayres-britto-reconhece-uniao-homoafetiva. Acesso em 14 maio 2011. BULBARELLI, Karyn. (2007). A entrada da criana na leitura e na escrita: laos entre linguagem e sexualidade. (Dissertao). Mestrado em Educao. Universidade de So Paulo, So Paulo. 2007.124 f. 95
CARVALHO, Maria Eulina de. Modos de educao, gnero e relaes de famlia. Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 121, jan./abr. 2004. CARRARA, Srgio et al. Gnero e diversidade na escola: formao de professoras/es em Gnero, Orientao Sexual e Relaes tnico-Raciais. Livro de contedo. Verso 2009. Rio de Janeiro: CEPESC. Braslia: SPM, 2009. CASTRO, Mary Garcia; ABRAMOVAY, Miriam. Marcas de gnero na escola. Sexualidade e violncias/discriminaes. Representaes de Alunos e Professores. Disponvel em http://observatorio.ucb.unesco.org.br/publicaoes. 2003. Acesso em 10.10.2011. CASTRO, Mary Garcia; ABRAMOVAY, Miriam. (Coord.) Ensino Mdio: mltiplas vozes. Braslia: UNESCO, MEC, 2003. CASTRO, Mary Garcia; MAGALHES, Selma Reis; ABRAMOVAY, Miriam. Vulnerabilidades, proteo e autonomia, direitos humanos e homo afetividade na escola: difceis combinaes. In I Colquio sobre Direitos Sexuais da Criana e do Adolescente. Diversificao das infncias e adolescncias na sociedade brasileira contempornea de acordo com direitos sexuais e reprodutivos Rio de Janeiro, 2011. CNBB. Nota divulgada nos meios de comunicao aps divulgao da deciso do STF, aprovando a unio homoafetiva. 2011. Disponvel em. Acesso em 03 nov. 2011. COLLANGE, C. Defina uma famlia. Trad. Mrio Fondelli. Rio de Janeiro: Racco. 1994. CORRA, Lisete Bertotto. A excluso branda do homossexual no ambiente escolar. Dissertao de Mestrado. Faculdade de Educao, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003. 153 f. CORRA, Mariza. Repensando a Famlia Patriarcal Brasileira. In: ARANTES et al. Colcha de Retalhos estudos sobre a famlia no Brasil. 3 ed. Campinas: Unicamp, 1994. DIAS, Berenice. No h obstculo legal para casamento gay. Disponvel em http:/ 96
/terramagazine.terra.com.br/interna/0OI5115149-EI6578,00-berenice+Dias+no + h +obstaculo+legal+para+casamento+gay.html. Acesso em 23 nov. 2011. DIEHL, Artur. O homem e a nova mulher novos padres sexuais de conjugalidade. In: WAGNER, Adriana (Coord.). Famlia em cena: tramas, dramas e transformaes. Petrpolis- RJ: Vozes, 2002. DUARTE, Jorge; BARROS, Antnio. (org.) Mtodos e tcnicas de pesquisa em comunicao. So Paulo: Atlas, 2009. 380p. FRANCO, Maria Laura Puglisi Barbosa. Anlise do Contedo. 3 ed. Braslia: Liber Livro Editora, 2008. FRES-CARNEIRO, Terezinha. Casamento Contemporneo: construo da Identidade Conjugal. In. FRES - CARNEIRO (Org.). Casamento e Famlia: do social clnica. Rio de Janeiro, 2001. p.67-80. FERREIRA, Norma Sandra de Almeida. As pesquisas denominadas estados da arte Rev. Educao & sociedade. Campinas. n 79. p 257-272, ago. 2002. FONSECA, Claudia. A vingana de Capitu: DNA, escolha e destino na famlia brasileira contempornea. Comunicao apresentada no XXV Encontro Nacional da ANPOCS, ST Gnero, Sexualidade e Parentesco. Caxambu /MG, 2001. Homoparentalidade: novas luzes sobre o parentesco.Rev.Estud.Fem.Dez 2008,vol.16,n 3,p.769-783.ISSN 0140-026X FOUCAULT, Michel. Histria da sexualidade. v.1: A vontade de saber. 11 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1988. FOUCAULT, Michel. Os Anormais. So Paulo: Martins Fontes, 2001. FREITAS, H. et al. R. S. Pesquisa via Internet: caractersticas, processo e interface. Revista Eletrnica GIANTI. Porto Alegre, 2004, 11p. FURLANI, Jimena. O bicho vai pegar! - um olhar ps-estruturalista educao sexual a partir de livros paradidticos infantis. (Tese) Doutorado em Educao. Faculdade de Educao. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. 272 f. 97
GARCIA, Marcos Roberto Vieira [et al]. No podemos falhar: a busca pela normalidade em famlias homoparentais. In: GROSSI, Miriam Pillar, UZIEL, Anna Paula e MELLO, Luiz (orgs.). Conjugalidades, parentalidades e identidades lsbicas, gays e travestis. Rio de Janeiro: Garamond, 2007. p. 277-299. GAUTHIER, Clermont et al. Por uma teoria da Pedagogia. Iju-RS: UNIJU, 1998. GIL, Antonio Carlos. Mtodos e tcnicas de pesquisa social. So Paulo: Atlas, 1999. GOLDANI, A. M. As famlias no Brasil contemporneo e o mito da desestruturao.Cadernos Pagu: Campinas, n. 1, v.1, p. 67-110, 1993. IAMAMOTO, Marilda V. Famlia na Contemporaneidade. In: SALES (org.). Poltica social, famlia e juventude: uma questo de direitos. So Paulo: Cortez, 2004. JUNQUEIRA Rogrio Diniz (org.). Homofobia nas Escolas: um problema de todos In. Diversidade Sexual na Educao: problematizaes sobre a homofobia nas escolas. Braslia: Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade, UNESCO, 2009. JOCA, Alexandre Martins. Diversidade sexual na escola: um problema posto mesa. (Dissertao) 2008.182 f. Mestrado em Educao. Faculdade de Educao, Universidade Federal do Cear, Fortaleza. 2008. MADUREIRA, Ana Flvia do Amaral. Gnero, sexualidade e diversidade na escola: a construo de uma cultura democrtica. Tese de Doutorado em Psicologia. Instituto de Psicologia, Universidade de Braslia. Braslia. 2007.428 f. KALOUSTIAN, S.M; FERRARI M. Introduo. In: KALOUSTIAN, S.M. (org.). Famlia Brasileira: a base de tudo. So Paulo-Braslia: Cortez-Unicef, 1994. KAMEL, Luciana. Diversidade sexual nas escolas: o que os profissionais de educao precisam saber. Rio de Janeiro: ABIA, 2008. 48 p. LIONO, Tatiana; DINIZ, Debora (Orgs.). Homofobia & Educao: um desafio ao silncio. Braslia: Letras Livres: EDUNB, 2009.196 p. LOREA, Roberto Arriada. Acesso ao casamento no Brasil: uma questo de 98
cidadania sexual. Rev. Estud. Fem. [online]. 2006, vol.14, n.2, pp. 488-496. ISSN: 0104-026X. Acesso em 17 mar.2012. LOURO, Guacira Lopes (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autntica, 2007. ________. Teoria queer: uma poltica ps-identitria para a educao. Rev. Estud. Fem. [online]. 2001, vol.9, n.2, p. 541-553. ISSN 0104-026X. Acesso em 12 jun.2011. ________. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: Autntica, 2004 a. ________. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: Autntica, 2004 b. LOURO, Guacira Lopes; MEYER, Dagmar Estermann. Gnero e educao. Rev. Estud. Fem. [online]. 2001, vol.9, n.2, pp. 513-514. ISSN 0104-026X. Acesso em 12 nov.2011. ________. Gnero, sexualidade e educao. 7. ed. Petrpolis: Vozes, 2004 . MEDEIROS, Camila Pinheiro. Uma famlia de mulheres: ensaio etnogrfico sobre Homoparentalidade na periferia de So Paulo. Rev. Estud. Fem. [online]. 2006, vol.14, n.2, p. 535-547. ISSN 0104-026X. Acesso em 12 nov. 2011. MELLO, Luiz. Outras famlias: a construo social da conjugalidade homossexual no Brasil. Cad. Pagu [online]. 2005, n.24, pp. 197-225. ISSN 0104- 8333. Acesso 15 mar. 2012. ________. Familismo (anti) homossexual e regulao da cidadania no Brasil. Rev. Estud. Fem. [online]. 2006, vol. 14, n. 2, pp. 497-508. ISSN 0104-026X. Acesso 15 mar. 2012. MELLO, Luiz; GROSSI, Miriam; UZIEL, Anna Paula. A Escola e @s Filh@s de Lsbicas e Gays: reflexes sobre conjugalidade e parentalidade no Brasil. In: JUNQUEIRA, Rogrio Diniz (Org.). Diversidade Sexual na Educao: problematizaes sobre a homofobia nas escolas. Braslia: MEC, 2007/2009 99
MINAYO. Maria Ceclia; SANCHES. Odcio. Quantitativo-Qualitativo: oposio ou Complementaridade? Cad. Sade Pblica. Rio de Janeiro, 09 (3): 239-262 jul. /set, 1993. MISKOLCI, Richard. Afirmando diferenas. Campinas: Papirus, 2005. MOTT, Lus. Homoafetividade e direitos humanos. Rev. Estud. Fem. [online]. 2006. vol. 14, n.2, p. 509-521. ISSN 0104-026X. Acesso em 12 nov. 2011. MOURA, Dayse Cabral. Prticas discursivas na educao de jovens e adultos: reflexo sobre a construo de identidades tnico-raciais. In AGUIAR, M. A. S. Educao e diversidade: estudos e pesquisas. V 2. Recife: Grfica J. Luis Vasconcelos, 2009. NOVENA, Ndia Patrizia. A sexualidade na organizao escolar: narrativas do silncio. Tese Doutorado Centro de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife. 2004. 260 f OHLWEILER, Mariane Ins; BORGES, Zulmira Newlands; BULSING, Muriel. Possibilidades de discusso e enfrentamento da homofobia na escola dispo- nvel em www.identidade.org.br/2010/GATS_POVO/Maria-ne%20Ins%20Ohlweiler. Acesso em 27.03.2012. PARKER, Richard G; BARBOSA, Regina Maria (Orgs). Sexualidades brasileiras. Rio de janeiro: Relum Dumar: ABIA: IMS/UERJ, 2000, PASSOS, Maria Consulo. Conjugalidade, parentalidade e gnero Homoparentalidade: uma entre outras formas de ser famlia. Psicol. clin. v.17 n.2 Rio de Janeiro, 2005. PELUCIO, Larissa. Trs casamentos e algumas reflexes: notas sobre conjugalidade envolvendo travestis que se prostituem. Rev. Estud. Fem. [online].2006, vol.14, n.2, pp. 522-534. ISSN 0104-026X. Acesso em 12 nov. 2011. PERES, Wiliam Siqueira. Travestis: subjetividade em construo permanente. In: UZIEL, Anna Paula; RIOS, Luis Felipe; PARKER, Richard G. (Orgs). Construes da sexualidade: gnero, identidade e comportamento em temos de AIDS. Rio de Janeiro: Pallas, 2004. 100
PIMENTA, Selma Garrido. Formao de professores: identidade e saberes da docncia. In: (Org.). Saberes pedaggicos e atividade docente. So Paulo: Cortez, 1999. POLIT, D. F; HUNGLER, B. P. Fundamentos da Pesquisa em Enfermagem. 3 ed. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1995. POUPART, Jean-Marie et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemolgicos e metodolgicos. Rio de Janeiro: Vozes, 2008, p. 464. RIOS, Terezinha Azerdo. Compreender e ensinar: por uma docncia de melhor qualidade. 6 ed. So Paulo: Cortez, 2006. REALI, Noeli Gemelli. Homoparentalidade e Escola: que conjugao essa? Disponvel em http://www.anped.org.br/reunioes/32ra/arquivos/trabalhos/GT23-5637- Int.pdf. Unochapec, 2009. Acesso em 17.02.2012. ROUDINESCO, Elisabeth. A Famlia em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,2003. SABAGG, Samantha. Percepo dos esteretipos de gnero na avaliao do desenvolvimento motor de meninos e meninas. Dissertao de Mestrado em Cincias do Movimento Humano. Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianpolis. 2008. 118 f. SAMARA, Eni de Mesquita. O que mudou na famlia brasileira? (da colnia atualidade).Psicologia. USP vol. 13, n 2. So Paulo, 2002. SANTOS, Ivone Aparecida. Educao para diversidade: uma pratica a ser construda na educao bsica. Produo didtico-pedaggica. Caderno Temtico. Universidade Estadual do Norte do Paran. Cornlio Procpio, 2008. SARACENO Chiara. Sociologia famlia. Rio de Janeiro: Estampa, 1997. SAVIANI, Demerval. Os saberes implicados na formao do educador. In: BICUDO, Maria Aparecida; SILVA JUNIOR, Celestino Alves (Orgs.). Formao do educador: dever do Estado, tarefa da Universidade. So Paulo: UNESP, 1996. SILVA, Cristiani Bereta da; RIBEIRO, Paula Regina Costa. Apresentao. Revista 101
de Estudos Feministas. [online]. 2011, vol.19, n.2, pp. 463-465. ISSN 0104-026X. Acesso em 12 nov.2011. SILVA-JNIOR, Enzio de Deus. Famlia Homoafetiva. Disponvel em www.direitohomoafetivo.com.br/.../ amor_e_famlia_homossexual_-.2009. Acesso em 23/12/2011. SINGLY, Franois de. Sociologia da famlia contempornea. Traduo Clarice Ehlers Peixoto. Rio de janeiro: Editora FGV, 2007. SPINK, Mary Jane. Psicologia Social e sade: prticas, saberes e sentidos. Petrpolis, RJ: Vozes, 2007. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formao profissional. 2. ed. Petrpolis: Vozes, 2002. TARDIF, Maurice; GAUTHIER, Clermont. O saber profissional dos professores fundamentos e epistemologia. In: Seminrio de Pesquisa Sobre o Saber Docente, 1996, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Universidade Federal do Ceara (UFCE), 1996. TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude; LAHAYE, Louise. Os professores face ao saber esboo de uma problemtica do saber docente. Teoria & Educao, Porto Alegre, n. 4, 1991. TARNOVISKI, Flvio Luiz. Pais assumidos: adoo e paternidade homossexual no Brasil contemporneo. Florianpolis, Dissertao de mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina. Paran- SC. 2002. 114f. THERRIEN, Jacques. Uma abordagem para o estudo do saber da experincia psicossocial e formao. In 20 Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Educao: Anais... Braslia, 1997. THERRIEN, Jacques; LOIOLA, Francisco Antnio. Experincia e competncia no ensino: pistas de reflexes sobre a natureza do saber-ensinar na perspectiva da ergonomia do trabalho docente. Educao & Sociedade. v.74, p.143 - 160, 2001. TOURAINE, Alain. Poderemos viver juntos? Iguais e diferentes. Traduo de 102
Tomaz Tadeu da Silva. 2. ed. 3 reimp. Petrpolis: Vozes, 1998. Belo Horizonte: Autntica, 2007.176p. UZIEL, Anna Paula. Famlia e homossexualidade: velhas questes, novos problemas. Tese apresentada a Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Cincias Humanas. Campinas - SP: 2002. Disponvel em http://www.nigs.ufsc.br/site/docrede/UZIEL.pdf. Acesso em 25 ago. 2011. UNESCO. O perfil dos professores brasileiros: o que fazem, o que pensam, o que almejam. So Paulo: Moderna, 2004. UZIEL, Anna Paula. Homossexualidade e parentalidade: ecos de uma conjugao. In: HEILBORN, Maria Luiza (org.). Famlia e sexualidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. UZIEL, Anna Paula; MELLO, Luiz; GROSSI, Miriam. Conjugalidades e parentalidades de gays, lsbicas e transgneros no Brasil. Rev. Estud. Fem. [online]. 2006, vol.14, n.2, p. 481-487. ISSN 0104-026X. Acesso em 20 out. 2011. ZAMBRANO, Elizabeth. (org.). O direito homoparentalidade: cartilha sobre as famlias constitudas por pais homossexuais. Porto Alegre Rio Grande do Sul Brasil, 2006. Disponvel em: www.homoparentalidade.blogspot.com, www.nupacs.ufrgs.br. Acesso em 18 fev. 2012. ________. Parentalidadades impensveis pais/ mes homossexuais, travestis e transexuais. Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 12, n. 26, p. 123-147, jul./dez., 2006. ________. Seminrio Nacional de Psicologia e Diversidade Sexual. Desafios para uma sociedade de direitos. Anais... . Braslia- DF; CFP, 2011. 103
APENDICE A
ROTEIRO PARA ENTREVISTA
Dados de identificao
Idade Sexo Cor Religio Experincia em docncia
1. O que voc pensa sobre as famlias homoafetivas na relao com a escola?
2. Em quais disciplinas, quais contedos programticos foram tratados e como os assuntos referentes diversidade sexual e famlias homoafetivas?
3 Quais documentos oficiais sobre diversidade sexual e famlias homoafetivas voc teve conhecimento ao longo do seu curso? (PCNs, Brasil sem homofobia e Escola sem homofobia).
4. Quais desses documentos voc considera importantes para embasar a sua atuao como futura (o) profissional em relao diversidade sexual e famlias homoafetivas no cotidiano da escola? Voc tem convivncia com homossexuais?
5. De que maneira a sua formao acadmica no curso de Pedagogia contribuiu para embasar seu trabalho com as questes relativas diversidade sexual e famlias homoafetivas na escola?
6. Se voc tivesse que reformular o curso de licenciatura em Pedagogia o que voc acha que poderia mudar para ampliar a contribuio deste na formao e atuao das (os) futuras (os) professoras (es) na rea da diversidade sexual e das famlias homoafetivas?
104
APNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
A (o) senhora (or) est sendo convidada (o) a participar da pesquisa Escola e Famlias homoafetivas: viso de discentes do Curso de Licenciatura em Pedagogia pois concluinte do curso, tem entre 20 e 50 anos. Esta pesquisa conduzida pelo Programa de Ps- Graduao-Mestrado em Famlia na Sociedade Contempornea da Universidade Catlica do Salvador. A pesquisadora responsvel por este projeto a mestranda Carmedite Moreira Santos Silva sob a orientao da Prof Doutora Mary Garcia Castro. Sua contribuio para esta pesquisa consistir em participar de uma entrevista conduzida pela pesquisadora, sem que haja quaisquer riscos sua sade. O benefcio relacionado com a sua participao ser o de contribuir para a produo de conhecimentos sobre a temtica. Haver sigilo com relao aos seus dados de identificao. As informaes obtidas atravs dessa pesquisa sero confidenciais e asseguramos o sigilo sobre sua participao. Os dados obtidos podero ser apresentados em eventos cientficos e publicados em artigos de peridicos ou livros, estritamente para fins desta pesquisa. Voc receber uma cpia deste termo onde consta o telefone, endereo e o e-mail da pesquisadora principal e da orientadora, podendo esclarecer suas dvidas sobre o projeto e sua participao, agora ou a qualquer momento. Sua participao no obrigatria e, a qualquer momento, a senhora (or) pode desistir de participar e retirar seu consentimento, sem que haja qualquer prejuzo na sua relao com o pesquisador ou com a instituio.
Programa de Pos Graduao- Mestrado em Famlia na Sociedade Contempornea Av. Cardeal da Silva, 205 - Salvador/BA. CEP 40.231-902 (71) 32354160/33791972/9979580- [email protected]
Eu, _______________________________________________, declaro que entendi os objetivos, riscos e benefcios de minha participao na pesquisa e concordo em participar.
Assinatura do participante Assinatura da pesquisadora 105
APNDICE C
TRANSCRIO DAS ENTREVISTAS
Dados de identificao (D 1 ) Idade-23 anos Sexo-Feminino. Cor- parda Religio- nenhuma (acredito em Deus). Experincia em docncia -1 ano
1. O que voc pensa sobre as famlias homoafetivas na relao com a escola?
Acredito que deve ser o mais natural possvel, at porque se uma famlia, deve ser tratada como tal. Acredito que se h uma famlia homoafetiva eles preferem no mostrar... como disse, se eles so chamados de famlia, porque no trat- los como tal? sem dizer que uma famlia homoafetiva pode esclarecer muitas coisas tanto para a prpria escola quanto para os outros pais! A escola no est preparada, porm se no comear a agir sobre esse assunto, nunca estar preparada.
2. Em quais disciplinas, quais contedos programticos foram tratados e como os assuntos referentes diversidade sexual e famlias homoafetivas?
S trata da diversidade sexual por alto, no me lembro de ter visto nada sobre famlias homoafetivas olha, no lembro onde estavam se tratando desse assunto. Porm acho que eles fazem uma ligao entre diversidade sexual e cincias. como se tivesse que trabalhar diversidade sexual na disciplina de cincias apenas. No ns tratamos que as pessoas so diferentes tem escolhas diferentes desejos e vontades diferentes, porm no tratamos em si a questo das famlias homoafetivas na disciplina incluso apenas existem pequenas citaes, mas no o foco.
3 Quais documentos oficiais sobre diversidade sexual e famlias homoafetivas voc teve conhecimento ao longo do seu curso? (PCNs, Brasil sem homofobia e Escola sem homofobia).
Que me lembre nenhum! Somente o que estava contido nos temas transversais dos PCNs, mas no profundamente como deveria.
4.Quais desses documentos voc considera importantes para embasar a sua atuao como futura (o) profissional em relao diversidade sexual e famlias homoafetivas no cotidiano da escola?
Acredito que todos so de grande importncia, pois podem nos dar um norte em relao a acontecimentos em sala de aula,, e principalmente os PCNs embora tambm eles, no trazem grandes contribuies acerca da homoafetividade. Entre esses documentos falados eu li apenas os PCNs.
5. De que maneira a sua formao acadmica no curso de Pedagogia contribuiu 106
para embasar seu trabalho com as questes relativas diversidade sexual e famlias homoafetivas na escola?
Em quase nada!
6. Se voc tivesse que reformular o curso de licenciatura em Pedagogia o que voc acha que poderia mudar para ampliar a contribuio deste na formao e atuao das (os) futuras (os) professoras (es) na rea da diversidade sexual e das famlias homoafetivas?
Deveria se falar mais sobre isso, quem sabe at uma disciplina especfica para essa temtica! Acredito que esse assunto ainda bastante temido pelas pessoas, ento esta disciplina poderia nos orientar melhor sobre alguns comportamentos e at mesmo alguns direcionamentos; no que ns tivssemos uma frmula ou receita (porque impossvel), mas nos nortear em algumas situaes, at porque estamos tratando de crianas, um mundo repleto de curiosidades e confuses.
Dados de identificao (D 2 )
Idade- 26 Anos, Religio- catlica Experincia- 8 anos docncia escola pblica particular
1. O que voc pensa sobre as famlias homoafetivas na relao com a escola?
Sobre as famlias homoafetivas no tenho nada contra, eu j trabalhei com uma pessoa assim. Eu acho normal, no somente a me com filho ou o pai com o filho, porque no as mes, os pais com o filho? Na minha experincia como professora eu passei por isso, tive uma aluna que era filha de um casal de duas mulheres, na escola no atrapalhou em nada, mas na verdade quem realmente participava na escola era a av, mas todos sabiam da histria das mes, talvez at mesmo por causa do preconceito elas apareciam pouco. As professoras no tinham muito problema com a situao talvez pelo fato da menina estudar l h muito tempo. Quando eu entrei l a menina j estava, a situao se acomodou por isso. Como eu j disse as mes no apareciam na escola e sim a av, isso talvez ficasse mais fcil. Uma das mes ia buscar na escola s isso.
2. Em quais disciplinas, quais contedos programticos foram tratados e como os assuntos referentes diversidade sexual e famlias homoafetivas?
No me recordo de disciplina que tenha tratado disso, se aconteceu foi de forma muito superficial. Tive uma disciplina de Incluso, mas era incluso do deficiente, ligada a Educao Especial. Tinha um colega na sala, que no caso era homossexual e sempre ele trazia essa discusso, era iniciativa dos alunos e no das disciplinas e nem dos professores, mas ser que uma disciplina iria mudar os preconceitos das pessoas? Acho que no, mas se tivesse visto no curso talvez melhorasse o preconceito.
3 Quais documentos oficiais sobre diversidade sexual e famlias homoafetivas voc teve conhecimento ao longo do seu curso? (PCNs, Brasil sem homofobia e Escola 107
sem homofobia).
No, somente seminrios que a gente participou, na verdade documentao nenhuma, acesso somente aos PCNs especficos tipo matemtica, portugus... No tive acesso ao dos temas transversais, no tratamos o Brasil sem homofobia, nem Escola sem homofobia.
4.Quais desses documentos voc considera importantes para embasar a sua atuao como futura (o) profissional em relao diversidade sexual e famlias homoafetivas no cotidiano da escola.
Todos eles, afinal quanto mais informaes e conhecimentos melhor para nossa atuao.
5. De que maneira a sua formao acadmica no curso de Pedagogia contribuiu para embasar seu trabalho com as questes relativas diversidade sexual e famlias homoafetivas na escola?
Pra falar a verdade, essa questo o curso de pedagogia no tratou, no contribuiu. Deveria tratar, pois importante sim, vale a pena ser tratado, vlido se tratar desse assunto! A gente vai encontrar alunos homossexuais, essas famlias, importante saber como lidar, deveria ter disciplina em psicologia, tipo uma disciplina sobre diversidade sexual.
6. Se voc tivesse que reformular o curso de licenciatura em Pedagogia o que voc acha que poderia mudar para ampliar a contribuio deste na formao e atuao das (os) futuras (os) professoras (es) na rea da diversidade sexual e das famlias homoafetivas?
Mais disciplinas que falasse dessas coisas. As pessoas tambm teriam que mudar suas idias, so muitos preconceitos que as pessoas tm, a fica difcil at falar de certas coisas em sala, umas pessoas no gostam, acham que besteira, sei l... Tambm tem que mudar os professores, eles precisam trazer mais a discusso para a sala, talvez eles tambm no tenham tido isso no curso deles, enfim...Vira uma bola de neve, e a gente acaba continuando com os preconceitos, mesmo tendo passado pela faculdade.
Dados de identificao (D 3 )
Idade -22 anos Sexo- feminino Cor-parda Religio- Catlica Experincia em docncia - 1 ano
1. O que voc pensa sobre as famlias homoafetivas na relao com a escola?
Que a escola e principalmente o professor deve estar preparado para lidar com essas crianas e a famlia, para no contribuir para o preconceito.
2. Em quais disciplinas, quais contedos programticos foram tratados e como os 108
assuntos referentes diversidade sexual e famlias homoafetivas?
No me recordo, lembro que teve algum professor que tratou da questo das famlias que so diferentes, que podemos nos deparar com essas famlias, mas no lembro qual foi. Acho que direito da criana e do adolescente poderia tratar desse assunto, Direito Civil, mas do assunto especificamente no me lembro de disciplina que tenha focado, mas apenas pincelado.
3 Quais documentos oficiais sobre diversidade sexual e famlias homoafetivas voc teve conhecimento ao longo do seu curso? (PCNs, Brasil sem homofobia e Escola sem homofobia).
Que eu lembre nenhum... Tive acesso aos PCNs sim, mas especifico de matemtica, portugus, que eu lembre, e aos demais no tive contato, lembro que ouvi falar, mas foi superficial.
4. Quais desses documentos voc considera importantes para embasar a sua atuao como futura (o) profissional em relao diversidade sexual e famlias homoafetivas no cotidiano da escola?
Acredito que todos os que foram citados, os PCNs, o Programa Brasil sem homofobia e o Projeto Escola sem homofobia, mas principalmente projeto Escola sem homofobia. J me interessei pelo tema ao longo do meu curso no princpio, at era um possvel tema de minha monografia. Pensava em falar da questo da normalidade focado para homossexualidade, mas depois me distanciei.
5. De que maneira a sua formao acadmica no curso de Pedagogia contribuiu para embasar seu trabalho com as questes relativas diversidade sexual e famlias homoafetivas na escola?
Sinceramente, o curso em nada, pois foi muito pouco tratado esse assunto sobre como lidar com essas questes e famlias, mas aprendi no ambiente a conviver e perceber relaes, com as vivncias das pessoas em questes, na minha prtica como professora no me deparei com isso que eu saiba, mas convivi com homossexuais.
6. Se voc tivesse que reformular o curso de licenciatura em Pedagogia o que voc acha que poderia mudar para ampliar a contribuio deste na formao e atuao das (os) futuras (os) professoras (es) na rea da diversidade sexual e das famlias homoafetivas?
A principio penso que levando discusses, estudos de casos em algumas disciplinas, para nos posicionarmos como profissionais que lidam com essa questo.
Dados de identificao (D 4 )
Idade -33 Sexo- masculino Cor- Indgena Religio- catlica Experincia de 2 anos em docncia
109
1. O que voc pensa sobre as famlias homoafetivas na relao com a escola?
Eu acho que como algo que tem que ser aceito, com respeito tal. O pessoal tem que estar interagindo. Eu acho que sofre muito bullying mesmo, se os alunos ficarem sabendo que a criana tem um pai e uma me, que o casal diferente e tal, vai haver conflito, mas a o professor tem que estar trazendo isso a no dia a dia, no dia dos pais, das mes... mostrarem as famlias diferentes como t a l c o mo so, j para a criana crescerem com essa noo que as famlias no so iguais,quebrar essa forma de trabalhar.S sabem homem e mulher.Precisa trazer famlias diferentes, essas famlias criam constrangimentos, alguma dificuldade nas escolas de forma oculta, o sujeito no percebe, o pessoal no demonstra, mas aquele preconceito ainda no revelado, encoberto... Eu no percebi isso na escola, como professor eu trabalhei com indgena e no tem assim famlia, no tem ainda o gay que casou e tal eu no vi ainda essa questo do ndio casar, no tem essa. Est longe de pensar nisso, e a, quando a pessoa sabe que gay, a maioria tida assim pelas mulheres, pelo meio, como pessoas inteligentes que sabem fazer tudo e eles respeitam muito. um meio assim que eu acho, bem elevado mais do que o meio urbano, porque l a gente tem contato. O pessoal conhece a nossa historia, a nossa famlia respeita e eu acho que essa questo de o outro ver a sua vida, a sua histria, entender, a traz aquele respeito.No como o centro urbano que ningum quer saber da vida de ningum, cada um por si e diz que todos so iguais, que os direitos so iguais, e no vai querer ver o seu histrico! A eu prefiro o interior, cidade pequena cidade grande, porque tem mais afetividade, as pessoas interagem mais e vo entendendo mais a sua historia de vida e respeita, bem diferente.
2. Em quais disciplinas, quais contedos programticos foram tratados e como os assuntos referentes diversidade sexual e famlias homoafetivas?
Teve optativa, no da grade curricular, Sexualidade e Educao s que ela no tratou do assunto de forma aprofundada, no houve um estudo maior sobre isso, eu acho que na maioria das disciplinas deveriam trazer alguma coisa, no somente em uma disciplina, todas devem pegar na questo. No foi tratado. Agora eu estou me lembrando de outra disciplina, Pluralidade Cultural, que foi muito boa, ela trouxe assim uma forma muito leve,bem didtica, a o pessoal interagiu, ela mostrou essa questo da criana, do mundo,assim... A criana no nasce gay, no caso, quando ela sai para o mundo ela j atingida por varias coisas, essa coisa do quarto ser rosa, verde, j entra numa cultura que tem que ser heterossexual, que tem que ser branco, olhos azuis tal! Ela trabalhou muito bem essa questo dos esteretipos que so criados pela sociedade. Muito boa, e nem do currculo, ela e optativa. No currculo mesmo no tem, e foi tima essa disciplina, agora que eu estou lembrando.
3 Quais documentos oficiais sobre diversidade sexual e famlias homoafetivas voc teve conhecimento ao longo do seu curso? (PCNs, Brasil sem homofobia e Escola sem homofobia).
110
No! Em nenhum momento tivemos contato com esses documentos, somente comentrios leves, sem essa questo de documentos, sem aprofundar em teorias ou alguma coisa assim. Os documentos no foram tratados, os PCNs eram vistos especficos, PCNs de portugus, matemtica. O Brasil sem Homofobia e Escola sem Homofobia no foram tratados, eu no li esses documentos, li os parmetros que falam dos temas transversais por cima.
4.Quais desses documentos voc considera importantes para embasar a sua atuao como futura (o) profissional em relao diversidade sexual e famlias homoafetivas no cotidiano da escola?
Seria importante ter trabalhado na sala de aula esses documentos. Abriria um leque, eu percebo que em sala de aula tem muita gente que no est preparada para atuar na rea, para fazer um projeto que venha atender o pessoal que sofre com essa questo, e a sociedade tambm no est de acordo, essa falta de preparao porque a gente no tem segurana de falar, fazer com que o pessoal entenda que educao um meio complexo de trabalhar qualquer coisa, no tem uma coisa certa, uma receita... Eu acho que cada professor vai ter que se virar e buscar! E eu acho que tem muito que se ligar na sua identidade, voc negro, vai buscar atender mais esse meio, se voc e indgena... Mas eu acho que a gente tem que passar a idia que tem que buscar trabalhar com todas as realidades, porque a sala de aula tambm diversa, eu sou ndio no posso ficar s trabalhando a questo do ndio, eu tenho que trazer a questo do negro, dos homossexuais, quilombolas.
5. De que maneira a sua formao acadmica no curso de Pedagogia contribuiu para embasar seu trabalho com as questes relativas diversidade sexual e famlias homoafetivas na escola?
Acho que mais nessa questo da busca, de no caso, como que chama? De leitura de referencias. No caso, eu tenho capacidade de criar um projeto de ficar atendendo com mais segurana e tal, eles no conseguiram trazer muita coisa pra mim, mas eu sei como vou buscar esse conhecimento porque eu sei j as ferramentas, os instrumentos, no ficar preso, esperar algum dizer, quer dizer, voc j mostra que est interagindo com o meio, no caso pega a escola, tanto dentro quanto fora, quer dizer, tem que agir de forma bem assim, sistemtica, com calma e muita interao com o meio tanto interno como externo da escola. 6. Se voc tivesse que reformular o curso de licenciatura em Pedagogia o que voc acha que poderia mudar para ampliar a contribuio deste na formao e atuao das (os) futuras (os) professoras (es) na rea da diversidade sexual e das famlias homoafetivas?
Mudaria muita coisa: colocaria disciplina especfica para esses temas, incentivaria as pessoas a estudar esse tema, mudaria alguns professores que so preconceituosos tambm.
111
Dados de identificao (D 5 )
Idade: 42 anos Cor: parda Religio: catlica Experincia com docncia- Sou professora concursada na minha cidade, estou de licena, durante 22 anos, 18 anos na escola formal, mais 4 no PETI aes educativas de convivncia uma estrada ai, uma boa caminhada na escola, depois de tantos desafios, tomei a deciso de ir para a Universidade fazer meu curso, que durante 20 anos estava na minha cabea, alimentando sem ter a possibilidade, chegou uma hora que tinha que colocar a loucura em ao, me deixa fazer meu curso, tinha que ser pedagogia, tinha que ser na UEFS, e eu botei isso na cabea e pronto deu certo.
1. O que voc pensa sobre as famlias homoafetivas na relao com a escola?
Assim, eu acho natural que essas famlias existam, que sejam respeitadas, ento, eu acho que isso me ajudou a aprofundar essas questes e a perceber, no que eu tenha centrado nele com esse olhar de que Ai, meu Deus, no nada disso, a minha convivncia com mulheres homoafetivas me ajudou bastante a conhecer e a compreender e entender que isso natural, ento assim tem uma briga ferrenha contra aquelas babaquices que se bota de que a famlia um homem + mulher + amor = famlia. A gente tem tido l no trabalho uma crtica ferrenha a essas questes e outras que aparece tambm, mas acho natural, inclusive tendo debatido isso com professores por conta de algumas situaes que tem acontecido em escolas, que so crianas de famlias que so homoafetivas, ento a me deixa a criana, ou a companheira pega criana n, ento tem tido questes assim, mas um desafio pra escola, mas do ponto de vista pessoal eu compreendo isso como naturalidade. Em relao a minha experincia em escola, com professores que tem lidado com essa situao que eu tenho percebido que, ai eu fico voltando muito pro meu. porque eu acabei de sair da minha pesquisa, eu trabalhei muito com essas questes mas assim, ainda h um grande preconceito atribudo concepo da famlia, ento tipo assim como que a escola v um menino que homossexual, ai agora eles falam assim a famlia no aceita que a gente aceite, eu ouvi um professor dizer isso, a famlia no aceita que a gente aceite como natural ai eu fiquei assim poxa, como que a famlia no aceita? porque a escola precisa respeitar a cultura da famlia e na cultura familiar eles no aceita que tenha inclusive meninos brincando com meninas n, porque segundo eles a famlia diz que o menino que brinca com as meninas tem a tendncia de ficar afeminado e as meninas que brincam com os meninos tem uma tendncia a ficarem muito ousadas iguais aos meninos, como se ousadia e peraltice fosse apenas uma caractersticas dos meninos, ento muito forte quando trata essas questes, ento o que eu percebo que a escola, mas pra mim um discurso de defesa, um discurso de conformao, ento como mexer com isso d um trabalho danado n, e a agora eu tenho percebido discutir a questo do gnero e da sexualidade na escola tem sido temas tidos como melindrosos e a a formao docente tambm no quer problematizar isso n, ai fica todo mundo achando que vai botar, a gente 112
chama l de panos quentes pra poder. como se fosse assim, eu me lembro do depoimento do professor, a famlia pensa assim e a escola no pode ir de encontro, a uma verdade, eu como pedagoga no disse nada pra ele, mas o meu retorno l nos chamou todos a pensar, como que a gente a escola age, como que a escola faz uma interveno nessa postura da famlia, como que a escola est dialogando com a famlia que pensa que a questo da homossexualidade um problema de sade, que no normal n, e a agora um medo, tem um medo muito grande de debater e de trazer essas questes, de botar isso, como se na escola no tivesse cotidianamente, todos os dias essas crianas l sendo discriminadas, sendo tratadas com indiferena, sendo, ou mesmo pela prpria escola, ou pelos prprios colegas, porque tambm eu acho que a forma que escola encara essas questes, o professor vai ajudando que as outras colegas v tambm vendo isso, no discriminando, vendo isso com naturalidade, ento h um resqucio cultural muito forte na questo daquilo que normatividade, ento a heterossexualidade o que normal, ento h uma concepo muito equivocada nesse sentido, isso eu sinto nos corredores da escola, na fila, nas salas, nas paredes, muitas vezes no prprio material didtico n, h muito foete na normatividade, o que normal, ento normal o discurso de que o homem + mulher + amor + filho = famlia, isso que normal, esse modelo, ento eu acho que um modelo que a escola tem que discutir, porque eu e a minha filha ns somos uma famlia, eu no convivo mais com o pai dela, no deu pra ser feliz nos separamos, e agora no sou mais nada agora? Quer dizer, um modelo de famlia que a escola tem que rever porque no tem esse modelo padro, normal e no pode pensar que tem, tem modelos e famlias n, isso mesmo tem modelos, e a escola insiste em trabalhar com um modelo de famlia, eu acho que esse o grande problema e isso gera grandes conflitos quem nem sempre encarado de frente, debatido na escola. Eu fao uma relao entre formao e esse impacto na escola, eu sinto que na verdade o abafamento, o silenciamento dessa questo ela tambm emerge da formao, embora eu acredite que o professor ele no um ser isolado na estratosfera, ele um sujeito tambm resultante, resultado do seu processo, da sua cultura, da sua convivncia, das suas relaes estabelecidas com o meio, com os outros, consigo mesmo, mas s que a formao do professor e da professora ela ajuda, a formao quando ela no nega esses problemas, esse processo de formao ajuda a problematizar questes e a fazer reflexes que ajuda nessa mudana de postura, porque ningum , nasceu assim, cresceu assim, vai morrer assim, no! As pessoas vo mudando, mas vo mudando a partir de processos, de reflexes que eles vo fazendo, de formao, ento eu acredito muito no processo de formao dos professores e que esse processo ele pode e ele implica muito na prtica e essa prtica vai disseminando as idias, as concepes que as pessoas tem de famlia, de diviso sexual do trabalho, relao de poder entre homens e mulheres, a formao ajuda e muito, agora no pode ser uma disciplina, isso no um debate de uma disciplina na formao, isso no um debate de um cursinho de 16 horas de 8 horas
113
2. Em quais disciplinas, quais contedos programticos foram tratados e como os assuntos referentes diversidade sexual e famlias homoafetivas?
No teve nenhuma assim... A disciplina Educao Para as relaes tno- Raciais, nessa disciplina ns abordamos esses marcadores sociais, na universidade no meu curso de graduao em pedagogia foi nica disciplina que trouxe, que abordou essas questes da diversidade, obvio tambm que a disciplina no d conta, ento s vezes passa assim, ai um conjunto de seminrios, onde cada questo foi abordada, ento ela trouxe essas reflexes, mas tambm no d conta, a gente no pode pensar que na universidade uma disciplina de 60 horas d conta. Ela obrigatria, mas j foi optativa, ento assim, teve duas disciplinas na universidade que talvez do lugar que eu venho elas tenham sido significativa pra mim, que foi a Educao do Campo e a a gente traz um conjunto de reflexes dessa diversidade que se tem no campo da educao e tambm a Educao Para relaes etno- Raciais, a gente fez a abordagem de questes ambas obrigatrias, Eu no tive muito direito de fazer opo nas disciplinas optativas, porque assim olha vou te contar, estudante, trabalhadora, operria, militante, me, dona de casa, eu no tinha muita opo e tinha que estudar e a eu optei muito por horrio mesmo, isso a, vou ter que levar essa tristeza, porque eu no fiz; ento, as optativas que eu fiz, eu peguei Cincia Poltica, peguei algumas coisas assim que eu fiquei pensando ver se eu ia conseguir com as minhas discusses no meu cotidiano, mas eu no tive... No me lembro de contedo programtico em relao a essa questo, eu posso fazer a trajetria de quando eu entrei na universidade e da minha sada. Eu entrei em 2005.2 Eu fui primeira turma do currculo novo, daquela mudana curricular, inclusive nesse novo quadro Educao Etno- Raciais e Educao do Campo passou a ser obrigatria que era antes optativa. A disciplina de incluso que eu estudei, foi muito mais no campo da incluso de crianas com necessidades especiais, onde eu estudei a questo de Salamanca, sabe, foi muito nesse campo, no teve muito esse aprofundamento, sobre a incluso dessa diversidade de gnero, de sexualidade, no teve. Trabalhou muito mais com a incluso de crianas com necessidades especiais, foi muito nesse campo, e teve essa disciplina que ela obrigatria no curso de Pedagogia, mas os debates e essas outras questes da diversidade ela foi muito no calor de alguns debates provocados pela turma em alguns momentos e no campo da pesquisa foi muito voltada por interesses que as pessoa tinham, de onde emergia, do lugar aonde essa pessoa vinha, que a pessoa, e a foi como eu fiz tambm, eu fiz porque eu vim de um lugar de luta, que precisava visibilizar questes, se desnaturalizar questes que estava muito no silncio vista como assim mesmo, mas assim, em termo de contedo e de disciplina no teve.
3 Quais documentos oficiais sobre diversidade sexual e famlias homoafetivas voc teve conhecimento ao longo do seu curso? (PCNs, Brasil sem homofobia e Escola sem homofobia).
Ao longo do meu curso o nico documento, muito mais discutindo a questo da incluso foi declarao de Salamanca, no meu curso eu tive que correr atrs muito 114
mais, porque meu campo de pesquisa de graduao buscou problematizar essas questes de gnero e sexualidade, mas o acesso que eu tive foi por autonomia minha porque eu quis estudar, peguei a declarao de Pequim, violncia contra a mulher, lei Maria da Penha, programa Brasil sem homofobia, peguei esses documentos para poder aprofundar muito as questes relativas diversidade de gneros, raa, etnia e de sexualidade. Eu tive contato com os PCNs ainda na minha fase de docncia, porque eu participei do projeto PCNs em ao, mas agora eu aprofundei me baseando nele pra poder fazer o meu estudo, os PCNs tambm foram um dos instrumentos que eu utilizei. Unicamente o de Cincias e o de Matemtica, por orientao do currculo, os outros eu tive acesso porque eu precisava aprofundar questes e eles me ajudavam a pensar ou repensar, mas Cincias e Matemtica e tambm o de Lngua Portuguesa a gente teve acesso por orientao do curso, os outros quem teve acesso teve porque quis, porque queria, porque precisou para aprofundar, e a ento foi que eu peguei o de Diversidade Cultural, a questo de gnero de sexualidade e a eu fui pegando isso para poder embasar um pouco os meus estudos e trazer marcas legais que tratavam dessas questes. Cheguei a ver o projeto escola sem homofobia porque eu quis estudar sobre isso. Tanto o Projeto Escola sem Homofobia como o Projeto Brasil sem Homofobia foram projetos meus, pessoais, dos meus interesses acadmicos. Eu fao uma crtica, eu trago isso como uma questo que me inquieta dentro do processo de formao inicial dos professores, porque eu percebi que isso implica muito na prtica docente, no ter aprofundamento nessas questes, no ter esse marcos, pra embasar, pra fazer refletir a prtica, vai comeando uma ao muito que sexista nas escolas, e a eu chego a essa concluso em alguns achados da minha pesquisa. Durante o curso, documentos relacionados diversidade sexual e discusses sobre o assunto em sala de aula no aconteceram. Se eu dependesse apenas da minha trajetria acadmica, eu passaria pela universidade sem tocar nesse assunto, agora como paralelo a trajetria acadmica eu tenho uma trajetria de militncia nos movimentos sociais, nos movimentos de mulheres, nos movimentos que buscam mesmo, que luta, que labuta pelos direitos da minoria, pelo menos a minoria, no em quantidade, a minoria nos dar acesso aos direitos, isso foi que me instigou a fazer esses estudos, porque se dependesse do currculo da formao que a universidade tem passaria num pulo, porque inclusive as minhas colegas estranhavam o meu interesse na pesquisa. Porque que eu fui por esse caminho? Eu digo, porque eu preciso ir por esse caminho! Ah, complicado, eu sei que complicado por isso que ele est to silencioso, esta to difcil, porque ele complicado mesmo, problematizar questes que parecem naturalizadas um desafio mesmo. Eu sinto que se dependesse da instigao da universidade passaria pum, a eu ia discutir qualquer coisa que fosse mais fcil, mais tranqilo, ento eu devo muito isso, claro que eu juntei esse aguamento que eu j trago na minha vida desde criana, vrias questes me interpela desde criana l no campo e isso foi cada vez mais aumentando, ento agora eu estou afundada em dar mais visibilidade a isso e a universidade, a minha pesquisa na universidade e a minha formao inicial me permitiu a dar visibilidade a essa questo.
4.Quais desses documentos voc considera importantes para embasar a sua atuao como futura (o) profissional em relao diversidade sexual e famlias homoafetivas no cotidiano da escola?
A princpio, at porque foi logo, bem antes da universidade os PCNs me 115
inquietavam com algumas questes, mas tambm no d conta, ento eu acho que o Brasil sem Homofobia, Escola sem Homofobia, ele traz elementos mais emergentes, mais atualizados em alguns aspectos, tambm a gente sente que no s as vozes de quem pensa um documento, um instrumento legal, mas tambm assim, um pouco da sociedade de se ter outra pratica de se ter outras questes que devem ser tratadas na escola, ento todos eles foram importantes, mas eu penso que o Brasil sem Homofobia e a Escola sem Homofobia ele traz elementos mais atualizados e mais emergentes do que as orientaes que os PCNs apontam, embora eu no tire a importncia de que naquele momento os PCNs em Ao embora tambm ali, eles tenham escolhido alguns pra problematizar mais, discutiu-se pouco essa diversidade, discutiu-se pouco essas questes e como isso citado no cotidiano da escola, mas eu fui tambm por outros caminhos de pegar esses outros PCNs, mas todos eles deram contribuio, agora eu sinto que esses dois ltimos eles foram mais instigantes no sentido de se repensar a prtica, de se pensar em novas posturas, de se desnaturalizar coisas que so tidas muito naturalizadas pela cultura, e a eu percebo que na escola o professor ele reflexo de conjunto de aprendizado, que eu defendo que deve ser desaprendido, acho que a nova prtica pedaggica requer alguns desaprendizados pra escola ser algo mais inclusiva, mais democrtica, mais decente pra diversidade que ns temos nela.
5. De que maneira a sua formao acadmica no curso de Pedagogia contribuiu para embasar seu trabalho com as questes relativas diversidade sexual e famlias?
Assim, primeiro que eu achei importante que eu tenho o direito de escolher um caminho especfico, eu acho isso extremamente importante e a o meu insistente dilogo com os professores de projeto de pesquisa, de orientao monogrfica, porque s vezes uma espcie de convencimento, voc tem que convencer de que possvel ir por essa estrada e problematizar essa questo, porque a princpio parecia meio complicado n, eu pegar isso como foco de estudo, porque quem que vai te orientar? Primeira questo, voc vai achar quem pra te orientar? Isso, eu tive essa dificuldade de quem ia me orientar, ento quase que fazer um trabalho meio que desorientada, tendo em vista que no uma questo muito tratada, muito problematizada, e a a princpio eu tive essa dificuldade, mas eu insisti e acabou tendo mesmo, eu tendo que a minha opo diria de estudo ser respeitada, ser considerada e ser compreendida pelo conjunto de professores que desde o primeiro momento em que eu tinha que pensar numa rea de estudo eles respeitarem a minha deciso e a tambm acho que sentiram que no era uma deciso acadmica apenas, era uma deciso de projeto de vida tambm, ento eu acho que isso foi importante pra mim, perceber que mesmo no sendo na universidade, no campo de debate a eu no consegui tambm no prprio departamento que estuda a questo de mulheres e de gnero, que o MULIERIBUS que eu tambm no consegui muita informao de como que estava esta temtica abordada na universidade, a eu percebi que tinha um n, mas eu digo, mas eu no vou desisti! Eu acho que isso foi importante, respeitarem a minha deciso de focar uma rea de estudo, ento assim teve uns quatro professores e professoras que botaram a mo na roda desde o momento que eu optei pelo tema, o momento de elaborar o projeto, de defender o projeto, de dar orientao na monografia, de encontrar uma pessoa que orientasse, ento eu acho que esse respeito com a minha deciso foi 116
importante. compreender que pode at ser que algumas pessoas escolham temas de estudo, porque acha bonito, porque est na moda, mas tambm compreender que algumas pessoas optam para alm de um trabalho de academia, mas que dentro disso tem outra coisa implicada que de rever questes, repensar, refletir, se aprofundar nos estudos. Eu tive uma dificuldade enorme de encontrar material na prpria biblioteca sabe, ai assim, por exemplo, eu s encontrei que me ajudasse a pensar sobre isso Guacira Louro por exemplo o nico livro, o nico que eu encontrei na biblioteca e isso tudo foi desafio que eu fui encontrando pra fazer o meu estudo e pra acreditar que eu tinha que concluir a minha formao ali inicial nesse processo de reflexo, ento assim at nisso eu tive essa dificuldade, mas tambm isso no me desanimou n? Que eu fui buscando, a a fui encontrando, e fui encontrando nos artigos que eu fui buscando, mas at nisso foi difcil pra mim na universidade, trabalhar com essa temtica de matriz subsdio que a universidade tem na sua biblioteca, no seu acervo bibliotecrio, mas fui buscando outras estradas e outras sadas para continuar caminhando e no abri mo.
6. Se voc tivesse que reformular o curso de licenciatura em Pedagogia o que voc acha que poderia mudar para ampliar a contribuio deste na formao e atuao das (os) futuras (os) professoras (es) na rea da diversidade sexual e das famlias homoafetivas?
Olha, eu vou fazer minha as palavras de alguns professores e professoras com quem dialoguei recentemente conversa fresquinha n? De que a preciso que a formao d um tratamento a esse debate, a formao do professor e da professora tem que trazer essa questo, dentro dos seus contedos, dentro da sua perspectiva de trabalho e de formao, e no pode ser apenas numa oficina de poucas horas, um debate que tem que ser efetivo, ento a consolidao de um processo de formao, e a ele , ele no pode ser apenas inicial eu acho que tem que, a formao inicial trazer isso muito mais do que na disciplina de etno raciais porque o que tem acontecido esse debate ele tem acontecido na universidade quando o professor ou a professora tem isso na sua histria, tem isso como questo que uma questo que tem que ser problematizada, tem que ser pensada, refletida, a ele faz isso, independente da disciplina que ele est, muitas vezes acontece isso, a ousadia de alguns professores e professoras. Ento documentos como os PCNs, Brasil e escola sem homofobia documentos oficiais que deveriam ser implementados, que so orientadores, que passam todas as orientaes pra prtica mesmo assim se no houver uma orientao Pessoal do professor no acontece, passa no silencioso, passa no anonimato esse debate, ento eu tenho percebido que dentro da academia ele tem surgido a partir de algumas figuras que se inquietam que traz esse debate, que provoca e as turmas reagem ou no n, tambm e cada um reage a partir do seu lugar, ento tem que pensar, essa formao inicial e a no pode ser apenas no compromisso de uma pessoa que por alguma razo de militncia, de formao traga isso, ento tem que ter porque a gente est negando, quando a gente deixar passar isso a gente est negando um problema que existe que , entendeu? Um problema assim que um conjunto de aspectos que existe na escola que nossa diversidade, mas que no se trata isso 117
dentro da formao, agora a formao inicial no d conta, por mais que a universidade, por mais que a academia mude a sua grade e traga isso muito mais a atender um cho concreto porque de vez em quando a gente pergunta com base em que as universidades compem sua grade curricular, uma grade mesmo trancada, ento, baseado em que s vezes baseada em iderios que no existem, mas tambm o que natural para ns? O que natural para a universidade? Quando tambm a gente pergunta a quem ela serve, o sistema que a gente vive que est ai, e a gente teimosamente querendo mudar querendo construir uma nova ordem de relaes entre homens e mulheres, entre seres humanos hetero, bi, homo, mas o sistema que est posto ai ns temos um estado e a universidade um brao do estado, o estado que sexista, racista, que homofbico a gente v isso ai gritante, o povo ainda assume isso publicamente a gente pode v o que o deputado faz em relao ao kit contra a homofobia na escola, uma postura, combater aquilo tem que ser um mutiro de gente ,a gente fica fazendo, botando uma aguinha ali no Incndio como beija flor, mas tem que ter uma vontade poltica de muita gente, uma mo na roda dos gestores, coordenadores coordenadoras, professores tem que mexer com as estruturas de currculo, agora a formao inicial no d conta, agora uma formao continuada pra ser consolidada, estudando esses marcos legais, estudando mesmo pra ver como eu implemento isso, como que eu vejo meu menino, minha menina, como eu no fico normatizando o que de um. Como que eu vejo a masculinidade e a feminilidade na escola um monte de questes que na universidade no da conta de aprender enquanto processo de formao que se d para alm da parede da universidade, na vida, nos processos de discusso nos grupos de estudos ento assim eu acho que tem que acontecer assim, educao continuada que no veja essas questes como algo alheio a escola, tem que estar no cotidiano da escola, as famlias continua l, os nossos meninos e meninas que so homoafetivos continuam l, na singularidade deles, na diversidade deles, como sujeitos acho que assim a escola tem que est atenta a isso, no d para fingir que eles no existem.
A relação entre afetividade e inclusão escolar: uma abordagem sobre a importância da afetividade na relação professor-aluno, no desenvolvimento e na aprendizagem de alunos com necessidades educacionais especiais
Alessandra Arce - As Pesquisas Na Área Da Educação Infantil e A História Da Educação - Re-Construindo A História Do Atendimento Às Crianças Pequenas No Brasil