Papel de Portugal No Magrebe

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Working Paper

O PAPEL DE PORTUGAL NO MAGREBE - UM CAMINHO PARA


UMA PARCERIA EURO-MED-ATLÂNTICA

Pedro Esteves1

Resumo

A região do Magrebe Central apresenta desafios e oportunidades únicas no


diálogo Euro-Atlântico, potenciando abordagens concertadas entre as três
regiões com vista à resolução dos problemas que afectam, directa ou
indirectamente, o conjunto do espaço Euro-Med-Atlântico.
Portugal reúne as condições, através da mobilização dos organismos oficiais e
instituições da sociedade civil, para se assumir como ponte no intercâmbio de
conhecimentos, promoção de iniciativas e concretização de programas com
vista a apoiar os esforços de desenvolvimento regional no Magrebe. Este papel
não está limitado ao Estado e deverá essencialmente abranger todas as
instituições da sociedade civil, nas mais variadas áreas de actividade e da
investigação.
O preço imobilidade dos actores Euro-Med-Atlânticos poderá representar
importantes recuos nas políticas reformistas iniciadas recentemente nos países
do Mediterrâneo Sul face à pressão das tendências conservadoras e radicais
que persistem.

1
Membro do GEEMA. Mestre em Ciência Política e licenciado em Relações Internacionais.
Entre os cursos de formação complementar, destaca-se o Course on International Security
(1996) na University of St. Andrews (Escócia). Publicou trabalhos de investigação e proferiu
palestras no âmbito do Centro de Estudos do Magrebe (CEMAG). Trabalhou no Magrebe, em
especial em Marrocos e Argélia. Consultor.

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Abstract

The Central Maghreb region presents challenges and unique opportunities in


the Euro-Med-Atlantic dialogue and is a potential actor for the promotion of
new approaches between the three regions, aimed at the resolution of
problems affecting, directly or indirectly, the Euro-Med-Atlantic region.
In fact, Portugal assembles the conditions, through the mobilization of official
agencies and civil society institutions, to operate as a bridge in the exchange of
knowledge, promotion of initiatives and development of programs to support
regional development efforts in the Maghreb. This role is not limited to the
State and must include all civil society institutions, in the most diverse areas of
activity and research.
The cost of immobility amongst Euro-Med-Atlantic actors may represent an
important regression in the reformist policies recently initiated in the countries
of the Southern Mediterranean, due to the persisting pressure of radical and
conservative tendencies.

1. Uma vizinhança de proximidade

Os países do Magrebe constituem a vizinhança de proximidade não


europeia de Portugal.
Trata-se de um espaço geoestratégico único, dominado por uma história
parcialmente comum, servido tanto pelo Mediterrâneo como pelo Atlântico,
espaços de proximidade histórica e cultural antigos, cuja diversidade e potencial
de complementaridade estão ainda por mobilizar2.
O Magrebe encontra-se ainda na confluência entre Ocidente (EUA) e o Oriente
(mundo árabe), Norte e Sul, Mundo islâmico – Mundo cristão e Europa – África.

2
Foi também este o espírito do chamado “Apelo de Skhirat”, resultante do Fórum para uma
Iniciativa Tricontinental Atlântica”, reunido em Marrocos, em 29-30 de Maio de 2009.
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A importância geopolítica do Mediterrâneo, em geral, e do Magrebe, em
particular, tem ficado expressa na Política Mediterrânica da CEE, hoje União
Europeia. Desde a Política Mediterrânica Renovada, passando pelo Processo de
Barcelona (Parceria Euro-Mediterrânica) até à iniciativa da União para o
Mediterrâneo, lançada em Julho de 2008, a Europa cedo percebeu que a sua
segurança depende também da estabilidade no Magrebe e que o seu progresso
e modernização deverão ser utilizados no apoio ao Mediterrâneo Sul e à
respectiva sustentabilidade.
A debilidade das barreiras físicas – 14 kms separam o Magrebe da Europa –
choca com os contrastes em matéria de desenvolvimento humano e qualidade
de vida3.

De facto, a região do Magrebe central (Marrocos, Argélia e Tunísia) constitui


um espaço civilizacional homogéneo, habitado por 78 milhões de pessoas e que
se estende por mais de 3 milhões de quilómetros quadrados. Aí se concentra
parte importante dos recursos energéticos e de outras matérias-primas
mediterrânicas. Tratando-se de economias em processo de desregulamentação
e gradual liberalização, constituem também oportunidades de investimento e de
expansão para a Europa e EUA, mesmo em sectores não tradicionais, como as
telecomunicações e as energias alternativas.

A localização estratégica do Magrebe transforma-o num actor-pivot


nas relações internacionais do século XXI e num vértice do triângulo
Euro-Med-Atlântico.
As preocupações nos domínios do desenvolvimento social, educativo4,
económico, segurança e defesa não divergem de forma significativa entre os
Estados do Magrebe, persistindo apenas como factor de instabilidade a questão

3
Como escreveu Bichara Khader, “um espanhol é sete vezes mais rico que o seu homólogo
magrebino. Mas a mulher magrebina tem uma taxa de natalidade três a quatro vezes superior à
d mulher espanhola ou italiana” (trad.livre), in Bichara Khader, Le Grand Maghreb et L’Europe –
Enjeux et Perspectives, Publisud-Quorum-CERMAC, 2ª edição, 1995.
4
A recente iniciativa de Marrocos em albergar em Fez uma Universidade Euro-Mediterrânica
constitui um exemplo de um novo Mediterrâneo que se pretende edificar, conforme se refere na
“Declaração de Tanger” (MEDdays – South Forum for a New Mediterranean, 26-28 de
Novembro de 2008).
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pendente do Sahara Ocidental. Na realidade, são mais numerosas as ameaças
comuns que as rivalidades do passado: terrorismo e radicalização, escassez na
oferta de emprego e tensões sociais permanentes, limitação dos recursos
hídricos ou crise de legitimidade do Estado são desafios partilhados pelos
Estados magrebinos.

2. Uma região em constante mudança

A região do Magrebe tem vindo a sofrer mudanças aceleradas nos últimos anos,
frutos de circunstâncias internas e externas.

Marrocos passou por um processo de transição monárquica de Hassan II para


o seu filho Mohamed VI, caracterizada por uma maior abertura política e
liberalização económica mas também por novas ameaças à estabilidade do país,
devido à emergência do fenómeno do terrorismo jihadista, difuso e ainda mal
identificado. Mohamed VI avançou com processos reformistas em domínios
como os direitos humanos (indemnizando as famílias das vítimas das purgas do
passado) e no domínio das relações familiares (Moudawana)5, em 2004,
adoptando posturas simbólicas em áreas anteriormente marginalizadas ou
“intocáveis”, como uma nova abordagem em relação à região autonomista do
Rif (norte) ou a introdução de mais transparência nos actos político-
administrativos da Casa Real. A abertura que marcou os primeiros anos do
Reinado de Mohamed VI foi abalada pela emergência do fenómeno terrorista
em Marrocos, anteriormente limitado à vizinha Argélia, em especial com os
atentados de Casablanca, em 2003. Esta ameaça, para a qual Marrocos não
estava preparado, obrigou o regime a munir-se de instrumentos que não
possuía e a adoptar uma postura de cautela acrescida. O fenómeno do
terrorismo em Marrocos encontra-se controlado mas não eliminado, mantendo-
se como uma ameaça que pende sobre a estabilização do regime e sobre a sua

5
O Código da Família pode ser consultado em http://www.justice.gov.ma;
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própria economia, pelos efeitos que poderá provocar sobre o sector-chave do
turismo em Marrocos e sobre a confiança dos investidores no país.
Externamente, Marrocos prosseguiu na via do relacionamento próximo com a
França e Estados Unidos, considerados aliados privilegiados, acabando por, ao
contrário do seu pai, desvalorizar algumas relações consideradas agora menos
estratégicas. A questão do Sahara Ocidental constitui um dossier central na
política externa marroquina e as prioridades políticas externas relacionam-se
com a necessidade de obtenção de apoios nesta questão. Regionalmente, está
ainda tudo em aberto: a União do Magrebe Árabe, encarada como potencial
fonte de distenção, está congelada e as relações com a Argélia mantêm-se
críticas.

A Argélia tem vindo a acelerar a política de reformas após a gradual


estabilização interna promovida com a primeira eleição para presidente de
Abdelaziz Bouteflika, em 1999. Uma década depois, as finanças públicas
encontram-se controladas e o crescimento do PIB tem estabilizado nos últimos
anos6, apoiado pela criação de melhores condições para o investimento no país
e pelo aumento do preço dos hidrocarbonetos no mercado internacional. Os
dados económicos favoráveis não têm, no entanto, tido igual correspondência
no plano social, onde a taxa de desemprego e de pobreza assim como a
escassez de habitação continuam a marcar o cenário argelino. A significativa
capacidade de infiltração social do radicalismo islâmico, como o comprovou o
fenómeno da Frente Islâmica de Salvação (FIS), em finais da década de 80 e
inícios de 90, constitui uma ameaça permanente sobre a estabilidade do país. O
recurso ao terrorismo por parte desta corrente e a sua presumida adesão à Al
Qaeda, criando uma extensão regional, são hoje ameaças reais sobre a
estabilidade do regime e sobre a confiança dos investidores. A Argélia tem
mantido o seu leque de aliados preferenciais e levanta gradualmente os
obstáculos a uma relação mais próxima com a União Europeia, não
prescindindo, no entanto, do seu papel de protector no Sahara Ocidental nem

6
O orçamento do Estado para 2010 prevê um crescimento de 3,5% do PIB para o próximo
ano, umas taxa de inflação de 2% e um défice orçamental de 4% - fonte: Maghreb Arabe Press
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de se afirmar como uma voz em África, à semelhança do assumido no período
da descolonização europeia através do “Movimento dos Não Alinhados”. A
maior liberalização do mercado interno constitui o detonador da uma nova rede
de parcerias externas, onde se destacam os EUA, o Reino Unido ou a Espanha
e, num plano inferior, países como Portugal, cujos actores económicos serviram
de rampa para um relacionamento político mais profundo.

O regime tunisino tem apostado na estabilização política como condição para


o progresso económico mas carece, aos olhos de muitos dos seus parceiros
europeus, de uma maior capacidade de auto-renovação da elite política. O
presidente Ben Ali é actualmente é o chefe de Estado mais antigo no Magrebe
central, superando duas décadas de poder sem oposição substantiva. A sua
recente reeleição com 89,6% dos votos expressos não faz prever a emergência
de um novo quadro político no curto prazo. A abertura da Líbia no sistema
internacional e a própria estabilização argelina são susceptíveis de retirar
alguma da importância regional relativa à Tunísia, podendo repercutir-se no
respectivo crescimento económico. A Tunísia, à semelhança da Argélia, terá
inevitavelmente de passar por um período de transição política para o pós-Ben
Ali, o que poderá implicar novas oportunidades mas também riscos de
instabilidade.

Estes desafios só dificilmente poderão ser enfrentados e debelados numa lógica


meramente nacionalista. O espaço euro-atlântico, onde Portugal tem condições
para desempenhar um papel activo, terá aqui de desempenhar um papel de
convergência através da mobilização dos meios existentes e da criação de
mecanismos de gestão e resolução de crises.

3. Relações Portugal-Magrebe Central: uma relação incompleta

Portugal tem um passado comum com o Magrebe, como o testemunha muito


do património árabe existente em Portugal e do património edificado pelos
portugueses em território magrebino.

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No entanto, as relações de Estado com os países do Magrebe Central foram
dispersas até à adesão de Portugal nas Comunidades Europeias, ganhando
corpo com a implementação de políticas de cooperação europeias centradas no
Mediterrâneo e com a participação em fora internacionais como o chamado
“5+5” e outras iniciativas na área da Defesa euro-atlântica7.
A gradual maturidade política dos países magrebinos, fruto do reforço das
respectivas administrações na pós-independência, da gestão gradual dos
traumas da descolonização e do final da Guerra Fria, permitiu criar laços de
cooperação anteriormente inexequíveis.
A própria estabilização do sistema político português permitiu o estabelecimento
de um novo quadro de relacionamento com o Magrebe, em especial com
Marrocos e a Tunísia, numa fase inicial, assistindo-se a um forte impulso nas
relações com a Argélia na última década.

O Reino de Marrocos tem sido o principal parceiro mediterrânico de Portugal,


sendo que o relacionamento Estado a Estado assenta num amplo conjunto de
acordos, entre os quais se destacam o Tratado de Amizade, Boa Vizinhança e
Cooperação (1997), complementados por um conjunto de acordos sectoriais
que regulamentam todas as áreas de relacionamento bilateral. Portugal é o 22º
maior investidor em Marrocos sendo este país o 20º destino do Investimento
Directo Estrangeiro Português (IDE) e o número de empresas portuguesas
estabelecidas em Marrocos ultrapassa a centena. A dinâmica da economia e
sociedade marroquinas permitem encarar o futuro com optimismo,
nomeadamente: uma classe média crescente, com elevado poder de compra
(5%-10% da população); adaptabilidade e alguma qualificação relativa da mão-
de-obra, acrescidas de baixos custos de produção; o desenvolvimento do
Complexo Portuário Tanger-Med, que inclui a Zona Franca de Tânger; e o
desmantelamento alfandegário total no comércio com a UE até 2012.

7
Caso da Operation Active Endeavor da NATO – reforço da vigilância no Mediterrâneo, in
Christopher Hemmer, U.S. Policy towards North Africa, in Middle East Policy, Winter 2007
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O relacionamento entre Portugal e a Argélia foi objecto de um novo impulso a
partir do início desta década, com as visitas oficiais dos dois chefes de Estado.
A importância da Argélia no abastecimento enérgico (gás natural) à Europa8 e a
Portugal, em particular – gasoduto Magrebe-Europa –, a estabilização política e
securitária do país e a maior dinâmica da sua economia, fruto da maior liquidez
existentes em resultado da alta dos preços dos hidrocarbonetos 9, constituíram
sinais de partida para um relacionamento mais amplo, onde se destaca o
Tratado de Amizade, Boa Vizinhança e Cooperação, assinado em 2005 e
complementado por um conjunto de diplomas sectoriais que criam as condições
necessárias para um relacionamento bilateral pleno. A peça em falta encontra-
se na limitada rede de contactos não estatais, donde resulta o débil
conhecimento bilateral existente entre as duas sociedades e a escassez de
ligações informais, criadoras de laços de confiança.

As relações com a Tunísia têm-se revelado mais discretas mas não deixam de
merecer destaque no quadro mediterrânico.
Portugal assinou com a Tunísia um Acordo Quadro de Cooperação (1991) e um
Tratado de Amizade, Boa Vizinhança e Cooperação (2006) assim como estão
definidos diversos instrumentos sectoriais com vista à facilitação das relações
bilaterais. Se exceptuarmos os produtos energéticos, que representam 90% das
importações portuguesas do Magrebe10, a Tunísia é o segundo parceiro
comercial de Portugal na região. Apesar do montante do comércio bilateral se
manter modesto11, as oportunidades para uma maior aproximação pela via
económica e política estão em aberto. O gradual crescimento da classe média

8
O sensível aumento da projecção que o sector energético argelino tem revelado nos últimos
anos, acompanhando a tendência de aumento da procura mundial de energia, deverá continuar
a ser determinante para a segurança e abastecimento energéticos dos mercados europeus. Este
aumento previsto da produção de petróleo e gás natural pela Argélia, respectivamente, de
cerca de 40% e 41%, reflecte a importância estratégica do sector para as principais
multinacionais.
9
A Argélia é o 14º fornecedor de Portugal (97% do exportado para Portugal são
hidrocarbonetos) mas é apenas o 28º cliente da produção nacional – in AICEP, Argélia – ficha
de mercado, Maio de 2008.
10
Instituto Nacional de Estatística (INE - 2007), in www.ine.pt
11
Portugal é apenas o 39º cliente e o 68º fornecedor da Tunísia, não excedendo 0,1% no
universo do comércio externo tunisino – in AICEP, Tunísia – ficha de mercado”, AICEP, Julho de
2008.
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tunisina permite esperar o respectivo envolvimento em iniciativas com
instituições portuguesas, em nome da promoção do conhecimento mútuo e da
facilitação de intercâmbios de natureza diversa.

4. O vértice transatlântico na geopolítica do Magrebe

As prioridades externas do Magrebe orientam-se, no pós-Guerra Fria, por


interesses mais confluentes que divergentes ou concorrentes entre os Estados
que o compõem.
Desafios comuns como o reforço das instituições da sociedade civil, a promoção
dos valores da igualdade de oportunidades e da educação, a cultivação dos
valores da democracia, a luta anti-terrorista e anti-radicalização islâmica, o
controlo e gestão dos fluxos de imigração ilegal, a integração económica
regional, o agravamento da escassez dos recursos hídricos na região
mediterrânica, a segurança do abastecimento energético ou a salvaguarda dos
interesses comuns em matéria de Defesa na região, obrigam a uma maior
interacção entre os vários actores no espaço mediterrânico e transatlântico.

Se a política europeia tem, desde há muito, privilegiado as relações com o


Magrebe, em especial com o chamado “Magrebe Central”, o relacionamento
entre o Magrebe e os EUA, em virtude das suas prioridades estratégicas, têm
obedecido a uma abordagem mais distante mas também, porventura, mais
pragmática.
Entre os factores que justificam a valorização do Magrebe na agenda externa
norte-americana, destacam-se: a localização estratégica do Magrebe (Estreito
de Gibraltar/Mediterrâneo, proximidade da Europa); a promoção da integração
económica e política do Magrebe, que passa pela resolução do diferendo do
Sahara Ocidental, pelo levantamento gradual das barreiras alfandegárias e por
uma abordagem única regional – como visava o plano Eizenstat; o
aproveitamento dos recursos energéticos, em especial na Argélia, onde os EUA
são o principal parceiro comercial e o primeiro investidor externo por via deste
sector; a estratégia de segurança anti-terrorista, através de iniciativas bilaterais

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e multilaterais (por exemplo, a Trans-Sahara Counter-Terrorism Initiative); e o
objectivo de promoção da Democracia, através de iniciativas como o Broader
Middle East and North Africa (BMENA), lançada pelo G8 em 2004, ou o Middle
East Partnership Initiative (MEPI)12.
A abordagem dos EUA privilegia a “moderação” no Magrebe mas tal princípio é,
na maior parte dos casos, coincidente e não contradiz a política europeia nem a
dos Estados mediterrânicos europeus, antes a complementa.
A revalorização estratégica do Mediterrâneo e do Magrebe, em particular, na
abordagem global externa dos EUA reflecte-se na multiplicação e na
especialização de diversas instituições académicas, de investigação e de
promoção cultural norte-americanas e na respectiva disponibilidade para o
estabelecimento de abordagens comuns e iniciativas partilhadas com actores
regionais, sejam estes europeus ou magrebinos.

Uma nova lógica de parcerias triangulares euro-med-atlânticas contribuirá


também, pela via das relações informais, intercâmbio de conhecimentos e
iniciativas partilhadas e tricontinentais, para a estabilidade na região do
Magrebe, na Europa Mediterrânica e para a afirmação da política externa norte-
americana na região pela via da moderação e do diálogo.

5. Portugal como actor de convergência

A situação de Portugal pode, neste contexto, constituir uma posição única, face
à sua plena participação nas instituições da União Europeia, à inexistência de
diferendos passados ou presentes com os países do Magrebe, à experiência
histórica portuguesa em África e à proximidade e confluência de interesses que
caracteriza os relacionamento com os EUA.

12
Este projecto visa a promoção da democracia, a liberalização da economia, a igualdade de
oportunidades e melhoria da qualidade educativa, assentando em pequenos programas de formação que
envolveram, até agora, 14 países da região mediterrânica e do Golfo Pérsico, in Christopher Hemmer,
Ibid.
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Este papel permitirá à sociedade civil portuguesa assumir-se como agente de
estabilidade regional e contribuir para um crescimento económico sustentado
no Magrebe, capaz de absorver a oferta de mão-de-obra e de garantir os
equilíbrios naturais que constituem pólos de atracção no estrangeiro; para uma
estrutura social mais equilibrada, onde a classe média exerça um papel mais
activo e participativo e a sociedade civil se relacione abertamente com os
parceiros europeus; para a promoção de políticas de igualdade e de não
discriminação das minorias, através de iniciativas em parceria da sociedade civil
euro-med-atlântica; para a defesa de uma gestão coordenada da pressão
migratória e de um combate eficaz às máfias da emigração ilegal; para uma
política comum de anti-radicalização islâmica, prejudicial às duas margens do
Mediterrâneo, e fonte de emergência de movimentos terroristas, através de
políticas de educação pragmáticas e do reforço dos mecanismos de intercâmbio
cultural entre o Magrebe, a Europa e os EUA; para um processo mais acelerado
de distensão regional no Magrebe, através de estruturas de integração já
existentes ou a criar e da resolução dos casos pendentes de divisão regional,
como o processo do Sahara Ocidental; para a promoção de políticas
concertadas em áreas de soberania mais sensíveis, como a política anti-
terrorista e a política de Defesa; para uma gestão partilhada dos recursos
naturais mediterrânicos e da sua preservação; para um relacionamento
saudável e não concorrencial euro-atlântico na abordagem aos recursos
energéticos do Magrebe, evitando-se a criação de focos de tensão
desnecessários; e para a criação de espaços de conhecimento euro-med-
atlânticos e de redes de parceria não governamentais, aglutinadores dos
interesses comuns em crescendo.

O espaço Euro-Med-Atlântico, pelo efeito aglutinador e multiplicador que


promove entre os actores das três regiões, constituirá assim uma trave-mestra
do futuro do Magrebe.

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