A RELAO ENTRE O LAZER E A QUALIDADE DE VIDA: INDICATIVOS

ATUO DO PROFISSIONAL EM EDUCAO FSICA

*Bruno Ribeiro da Rocha
** Wesley Luiz Delconti

RESUMO
A busca da qualidade de vida tem sido objeto de estudo de vrias reas de atuao profissional. No
que tange a rea do lazer, importante saber em que medida a prtica orientada por um profissional
de Educao Fsica pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos praticantes. Nesse
sentido o objetivo desse trabalho de cunho bibliogrfico verificar as possveis relaes entre o lazer
e a qualidade de vida, sob a tica da atuao profissional em Educao Fsica. Est pesquisa visou
reunir contedos tericos para a melhor compreenso do lazer e sua relao com a qualidade de
vida. Este estudo demonstrou a quo importncia do lazer como um dos elementos beneficirios para
a qualidade de vida, seja ela individual ou coletiva e a importncia da atuao do profissional de
Educao Fsica em relao ao lazer e a qualidade de vida. Assim, concluindo que o profissional em
Educao Fsica deve se buscar melhor compreenso terico do lazer, para que a interveno
profissional possa alcanar a to desejada qualidade de vida.
Palavras-chave: Lazer; Qualidade de Vida; Educao Fsica.

ABSTRACT
The search of the quality has been object of study of several areas of professional performance. In
what it plays the area of the leisure, it is important to know in that measured the practice guided by a
professional of Physical Education can contribute to the improvement of the quality of the apprentices
life. In that sense the objective of that work of bibliographical stamp is to verify the possible
relationships between the leisure and the life quality, under the optics of the professional performance
in Physical Education. It is research it sought to gather theoretical contents for the best understanding
of the leisure and its relationship with the life quality. This study demonstrated the importance of the
leisure as one of the elements beneficiaries for the life quality, be her individual or collective and the
importance of the professionals of Physical Education performance in relation to the leisure and the
life quality. Thus, ending that the professional in Physical Education theoretical of the leisure better
understanding should be looked for, so that the professional intervention can reach the such wanted
life quality.
Keys-Points: Leisure, Life Quality; Physical Education

* Acadmico do Curso de Especializao em Sade e Atividade Fsica do CESUMAR, Maring PR.

** Prof. Ms Wesley Luiz Delconti docente do curso Educao Fsica do CESUMAR, Maring PR.

1 INTRODUO
1.1 Delimitao do Problema
Na sociedade contempornea se vislumbra o bem-estar e a boa qualidade
de vida como algo que se almeja, mas ao mesmo tempo so deixados em segundo
plano ao serem confrontados com a organizao do mundo do trabalho e as
necessidades familiares, religiosas e sociais desta sociedade.
A qualidade de vida, de acordo com Minayo (2000, p. 8) uma noo
eminentemente humana, que tem sido aproximada ao grau de satisfao encontrado
na vida familiar, amorosa, social, ambiental e tambm na prpria esttica
existencial.
No entanto, esses elementos que definem a qualidade de vida esto muito
prximos das definies atribudas noo de lazer. No sentido de evitar
ambigidades em relao a esses termos, evidencia-se a necessidade de verificar
em que medida existem proximidades em relao aos mesmos, sobretudo nos
discursos to propagados na atualidade e que associam a Educao Fsica a
questo da sade.
O termo qualidade de vida tem sido integrado aos estudos acadmicos nas
mais diferentes reas a partir da dcada de 90. Sua importncia normalmente
esteve associada na avaliao das condies de vida urbana, como transporte,
saneamento bsico, lazer e trabalho (BOM SUCESSO, 2002).
Hoje diversos instrumentos tm sido construdos para avaliarem os nveis
de qualidade de vida de diferentes culturas e realidades sociais. Segundo Fleck
(2008), avaliar a qualidade de vida de um indivduo, algo difcil de ser realizado, pois
cada um reage, comporta-se e v o mundo de uma forma diferente. Mas pode-se
encontrar indcios de como est a qualidade de vida das pessoas, quando se avalia a
relao entre o indivduo e o ambiente em que vive, bem como os nveis de satisfao
de suas principais necessidades.

Relacionando a qualidade de vida com o lazer, Gspari et. al (2001),

salienta como a prtica do lazer e das atividades esportivas proporcionam elementos
prazerosos para o indivduo. Esses elementos podem contribuir para a melhoria da

sua auto-motivao, bem como podem trazer maior satisfao pessoal e social,
contribuindo para uma melhor qualidade vida.
Para que haja lazer necessrio no s estar livre das obrigaes do
trabalho cotidiano, mas de outras obrigaes tais como: familiares, sociais e
religiosas. Outro elemento importante para a prtica do lazer est relacionado a uma
atitude individual, em que de fato o indivduo utilize o tempo livre para sua prtica
(MARCELINO, 1998).
Assim, um maior entendimento do lazer na sua relao com a qualidade de
vida, pode subsidiar uma atuao profissional mais integrada, no sentido de
favorecer a melhoria da vida em sociedade de um modo geral. Marcelino (1998)
ainda ressalta que o arcabouo terico do lazer no se aplica apenas s reas que
possuem uma interveno direta no tempo disponvel da populao, mas, tambm,
aquelas reas que objetivam a melhoria do nvel cultural da populao como um
todo.
A partir deste entendimento, o lazer pode ser um elemento importante para
a vida social na atualidade, sobretudo em uma sociedade tecnolgica em que a cada
dia se tornam mais complexas as necessidades sociais, bem como os problemas
inerentes a ela.
Fixando a problemtica desse estudo, em que medida o lazer pode estar
relacionado com a qualidade de vida, sendo referncia atuao do profissional em
Educao Fsica?
1.3 OBJETIVOS:
1.3.1 - Geral:

Verificar as possveis relaes entre lazer e qualidade de vida, sob a

tica da atuao profissional em Educao Fsica.

1.3.2 - Especficos:

Verificar, a partir da literatura consultada, o entendimento do lazer na

sociedade contempornea.

Analisar a qualidade de vida do ponto de vista conceitual e sua relao

com o lazer sob a tica da Educao Fsica.

1.4 JUSTIFICATIVA
Os constantes discursos que relacionam a Educao Fsica com a sade
atualmente muitas vezes revelam contedos ideolgicos, que no passando por
uma anlise mais crtica, se configuram enquanto discursos ingnuos que no
conseguem relacionar essa temtica com os mecanismos que estruturam a
sociedade de forma mais ampla.
Nesse sentido percebe-se uma atuao cada vez maior no campo do lazer,
no apenas na Educao Fsica, mas em outras reas. Entretanto, paralelamente a
este aumento de intervenes h uma clara inconsistncia terica por parte dos
profissionais que atuam neste nicho de mercado, que por sua vez cria um ambiente
propicio de consentimento e proliferao desses discursos ideolgicos.
Portanto este estudo de fundamental importncia para a Educao Fsica
enquanto rea de atuao profissional do lazer, no sentido de fomentar e esclarecer
discusses

que

permeiam

as

intervenes

profissionais,

neste

caso,

especificamente no que tange as suas relaes com a sade e qualidade de vida.

1.5 METODOLOGIA
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliogrfica. Segundo
Martins Junior (2008), pesquisa bibliogrfica trata-se de utilizar fontes de consulta
como livros, revistas cientificas, anais, monografia, artigos e outros seja impresso ou
fontes eletrnicas.

2 - REVISO DE LITERATURA
2.1 - Qualidade de Vida
O entendimento sobre a qualidade de vida bastante varivel, podendo
assumir vrios objetivos ou formas de abordagens, pois cada indivduo pode ter
interesses diferenciados em relao a ela.
Para Gonalves et al. (2004), a qualidade de vida abrange muitos
significados, que refletem conhecimentos, experincias e valores de indivduos e
coletividades que a ela se reportam em variadas pocas, espaos e histrias
diferentes. Os autores sugerem que qualidade de vida seja definida em termos da
distncia entre expectativas individuais e a realidade, sendo que quanto menor
distncia, melhor.
Minayo et al. (2000) afirmam que qualidade de vida est relacionada ao
bem-estar dos indivduos nos diferentes momentos de sua vida cotidiana, seja no
trabalho, na famlia, nos estudos e nos relacionamentos. Pressupe a capacidade de
efetuar uma sntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade
considera seu padro de conforto e bem-estar.
A qualidade de vida definida por Rufino (1994) apud Minayo et. al (2000,
p. 8) como aquela que oferea um mnimo de condies para que os indivduos
nela inseridos possam desenvolver o mximo de suas potencialidades, sejam estas:
viver, sentir ou amar, trabalhar, produzindo bens e servios, fazendo cincia ou
artes. Falta o esforo de fazer da noo um conceito e torn-lo operativo.
De acordo com Nahas (2001, p. 5) a qualidade de vida considerada como
sendo a condio humana resultante de um conjunto de parmetros individuais e
scio-ambientais, modificveis ou no, que caracterizam as condies em que vive
o ser humano.
Num artigo publicado pela revista Contato (2008, p 16), cujo tema foi
qualidade de vida, so destacados alguns relatos de profissionais da rea da
psicologia sobre o assunto. Uma questo fundamental para se ter qualidade de vida
o indivduo ter equilbrio na sua vida emocional e no seu ambiente de trabalho.

Para isso torna-se necessrio o indivduo estar bem fisicamente, atravs da prtica
de uma atividade fsica que se encaixe na sua personalidade.
Sabendo dos conceitos e os vrios significados de qualidade de vida,
podemos utilizar indicadores estatsticos que caracterizam o grau de qualidade de
vida, sendo possvel analisa-lo sob a perspectiva individual e social. Tais
indicadores buscam verificar quais as expectativas de vida, ndice de mortalidade e
morbidade, os nveis de escolaridade, renda per capita, desnutrio e obesidade, e
tambm o desemprego (NAHAS, 2001).
A Organizao Mundial da Sade (OMS) definiu a qualidade de vida como
sendo a percepo do indivduo de sua posio na vida, no contexto de sua cultura
e dos sistemas em que vive e em relao a suas expectativas, seus padres e suas
preocupaes (OMS, 1995 apud FLECK, 2008, p 25).
Dentre os indicativos mundiais sobre qualidade de vida mais conhecidos e
difundidos, um se destaca por ser utilizado pela maioria dos pases. o ndice de
Desenvolvimento Humano (IDH), elaborado pelo Programa das Naes Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD, 2008).
Minayo et. al (2000) destaca como o IDH passou de um indicativo

puramente econmico para um indicativo que avalia a vida social e cultural da

populao. Nas palavras do autor:
O IDH foi criado com a inteno de deslocar o debate sobre
desenvolvimento de aspectos puramente econmicos - como nvel de
renda, produto interno bruto e nvel de emprego - para aspectos de
natureza social e tambm cultural. Embutida nesse indicador encontra-se a
concepo de que a renda, a sade e educao so trs elementos
fundamentais da qualidade de vida de uma populao. O IDH se baseia na
noo de capacidades, isto , tudo aquilo que uma pessoa est apta a
realizar ou fazer. Nesse sentido, o desenvolvimento humano teria como
significado mais amplo, a expanso no apenas da riqueza, mas da
potencialidade dos indivduos de serem responsveis por atividades e
processos mais valiosos e valorizados. (MINAYO et. al, 2000, p.10).

Muitos paises se utilizam, para mensurar o nvel de qualidade de vida de

sua populao, de um instrumento mais simples produzido pela OMS, o qual
constitudo por vinte e seis questes, que avaliam quatro aspectos: Fsico;
Psicolgico; Relaes Sociais; e Meio Ambiente (GONALVES et al, 2004).
Nahas (2001), tambm desenvolveu um protocolo para indicar alta ou baixa
qualidade de vida no indivduo, sendo o pentculo do bem-estar. Este pentculo
constitudo na figura de uma estrela, onde so estabelecidos cinco fatores de estilo

de vida, os quais so: nutrio; atividade fsica; estresse; relacionamento; e

comportamento preventivo. A pessoa preenche cada ponta da estrela de acordo
com o nvel que representa em sua vida, ou seja, quanto mais preenchido cada
ponta da estrela, melhor o seu estilo de vida, variando de 0 a 3 pontos cada
indicador.
Esses indicativos so importantes de acordo com Fleck (2008), pois tem
como objetivos avaliar e saber quais as necessidades e as perspectivas de um
indivduo ou um grupo, para que assim, possamos agir nos elementos falhos.
2.2 Lazer
A funo do lazer emerge nos discursos da atualidade enquanto uma forma
de compensao a alguns problemas sociais, tais como excesso de trabalho,
estresse, falta de atividade fsica, falta de tempo para o relacionamento com
familiares e amigos, entre outros. Essa funo de compensao atribuda ao lazer
normalmente justificada pelo fato de que no tempo disponvel, livre das
obrigaes, o ser humano pode descobrir-se enquanto pessoa, otimizando seus
potenciais frente s caractersticas da sociedade.
O termo lazer vem do latim licere, que significa ser permitido (CAMARGO,
1998). Para os antigos gregos prevalecia o conceito de cio, que era privilgio de
indivduos livres, no qual ocorria a dedicao ao cuidado com o corpo e
principalmente ao estudo, onde o conceito grego schol deu origem palavra escola
(MORAIS,1993).
De acordo com Aranha & Martins (2003, p. 37):
Na Antiguidade Grega, o trabalho manual desvalorizado por ser feito por
escravos, enquanto as pessoas da elite, desobrigadas de se ocuparem
com a prpria subsistncia, dedicam-se ao cio digno, que, para os
gregos, significa a disponibilidade de gozar do tempo livre e cultivar o corpo
e o esprito. No por acaso, a palavra grega schol, da qual deriva escola
significava inicialmente cio .

O lazer uma prerrogativa da sociedade industrial, em oposio ao tempo

dedicado ao trabalho assalariado. Nos primrdios do capitalismo a carga horria
diria de trabalho era intensa, muitas vezes do amanhecer ao cair da noite. O direito
ao lazer foi conquistado atravs das lutas das classes trabalhadoras.
Com a organizao e as lutas da classe trabalhadora, muitos direitos foram
conquistados, tais como descanso semanal, frias, a diminuio da jornada de

trabalho, entre outros. Com a diminuio da carga horria de trabalho, houve maior
tempo liberado para o trabalhador, tempo este que no pode ser confundido como
tempo livre, pois no tempo liberado o trabalhador tambm se dedica a outras
obrigaes fora do trabalho, tais como o cuidado com a famlia, vida partidria e
comunitria, estudos e vida religiosa (ARANHA & MARTINS, 2003).
Conforme Dumazedier (1979, p. 34), o lazer:
um conjunto de ocupaes s quais o indivduo pode entregar-se de livre
vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se
ou, ainda, para desenvolver sua informao ou formao desinteressada,
sua participao social voluntria ou sua livre capacidade criadora, aps
livrar-se ou desembaraar-se das obrigaes profissionais, familiares e
sociais.

Alm da necessidade de se saber o significado do lazer, importante

identificar quais so os contedos pertinentes a ele, bem como o que ele pode
oferecer de benefcios para o indivduo. Apesar dos muitos estudos j realizados
sobre o lazer, o seu significado apresenta vrios entendimentos de acordo com os
autores abordados. No entanto, a apresentao do seu conjunto de contedos
facilita a prtica para cada tipo de pessoa, desde um aventureiro a um simples leitor.
Antes de abordar os contedos do lazer, faz-se necessrio destacar os trs
eixos bsicos do lazer, que de acordo com Marcelino (2006), so: o tempo de no
trabalho, o espao de sua vivncia e a atitude do indivduo. Esses trs eixos so os
pilares do lazer e isso demonstra que o lazer est ligado a vrias reas de atuao
do homem, ou seja, o lazer tem uma funo importante na vida do ser humano.
Segundo Marcelino (2006) o lazer pode ser classificado de acordo com seus
contedos culturais que podem ser artsticos, intelectuais, manuais, fsicoesportivos, tursticos e sociais.
Os contedos artsticos do lazer so aqueles que buscam imagens,
emoes e sentimentos, manifestando a arte. Os contedos intelectuais tem como
objetivo o contato com o conhecimento do real, as informaes objetivas e racionais.
Os contedos manuais so aqueles que buscam a manipulao de objetos e
materiais, como o artesanato. As prticas de exerccios e dos esportes, em que
prevalece o movimento humano, esto relacionadas aos contedos fsico-esportivos.
J os contedos tursticos tem como principal objetivo a busca de novas paisagens,
de novas pessoas e costumes chamados assim de quebra de rotina. Por fim, no

lazer que tenha os contedos sociais, se procura o contato, o relacionamento com

outras pessoas (MARCELINO, 2006, p. 17).
O lazer no pode ser visto como uma nica forma de divertimento na vida
social. As variadas formas nas quais o lazer se apresenta, devem ter como principal
objetivo a satisfao do seu praticante. O lazer , ainda, portador de um duplo
processo educativo: veculo e objeto de educao. Considerando-se, assim, no
apenas suas possibilidades de descanso e divertimento, mas tambm de
desenvolvimento pessoal e social (DUMAZEDIER, 1973).
Stadnik (2002) afirma que h necessidade de equilbrio entre os tempos
sociais, ou seja, o tempo de trabalho e o tempo livre, onde no tempo livre, o lazer,
principalmente o lazer criativo se desenvolve. Pressupe a capacidade de efetuar
uma sntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade considera
seu padro de conforto e bem-estar.
importante ressaltar, tambm, que o entendimento do lazer no pode ser
efetuado em si mesmo, mas como uma das esferas de ao humana
historicamente situada. necessria a compreenso do lazer para alm do mero
entretenimento, pois o lazer tambm est inserido em uma conjuntura poltica e
cultural da sociedade.
Nesse sentido, Marcelino (1995) descreve os riscos e as possibilidades do
lazer. O lazer pode apresentar seus significados em termos de mudana ou de
manuteno da ordem social. Ele pode ser um fenmeno revolucionrio, detonador
de mudanas nos valores e nas atitudes, ou simplesmente um elemento de
superao dos conflitos, procurando favorecer o ajustamento das pessoas ao
sistema social.
Comungando com uma anlise do lazer sob uma perspectiva crtica, Gabriel
(2004, p. 17), afirma que atravs do lazer pode emergir, de modo dialtico, valores
questionadores da sociedade como um todo, e sobre ele tambm sendo exercidas
influncias da estrutura social vigente.
Desta forma, a partir do exposto, percebe-se a importncia do lazer
enquanto um componente fundamental na vida social na atualidade. Ao propiciar ao
indivduo os inmeros benefcios apresentados, procuraremos no prximo tpico
fazer a relao entre o lazer e a qualidade de vida, bem como apresentar alguns
pontos importantes para a atuao do profissional de Educao Fsica.

10

2.3 O lazer enquanto qualidade de vida

Quando visamos estabelecer relaes entre lazer e qualidade de vida,
buscamos entender quais os benefcios que este pode trazer as pessoas, e tambm,
qual a relao e como a Educao Fsica pode atuar.
Para Pimentel (2002) o que caracteriza e delimita a atuao do profissional
de Educao Fsica na rea do lazer e recreao a prtica da atividade fsica
orientada. Isso importante ser esclarecido porque nem sempre o lazer ser
trabalhado especificamente por profissionais de Educao Fsica.
Pimentel (2002, p. 07) demonstra que a:
resoluo Confef n.046/02 artigo 1., mostre o lazer e a recreao como
manifestaes da especialidade do profissional de Educao Fsica, a
atividade fsica o eixo orientador dessas prticas. Interpretar que na
realizao de movimentos corporais de forma sistematizada, o
acompanhamento de um profissional de Educao Fsica seja desejvel
mesmo quando no contexto da animao. O documento se detm ao
campo do "lazer ativo", ou seja, atividade fsica. At porque equivocado
restringir o exerccio de diversos graduados em outras manifestaes
prprias do lazer orientado, tais como teatro, leitura, msica, excurso,
jogos de salo, mostras e bailes.

Nesse aspecto, haver tambm estreita relao entre atividade fsica com a
busca pela qualidade de vida. Para Gonalves et al. (2004), a atividade fsica
contribui para o bem-estar fsico, para a sade e consequentemente para a melhora
da qualidade de vida das pessoas, onde preciso estabelecer prioridade de acordo
com as caractersticas e necessidades de cada indivduo.
Segundo Neri (2008) a qualidade de vida est associada satisfao, a
relao entre amigos e familiares, as atividades cognitivas, produtividade e sade
fsica. Esses elementos esto relacionados com os seis contedos do lazer expostos
no tpico anterior. Isso nos leva a entender que quando o indivduo procura ter bons
hbitos, bons relacionamentos e fazer aquilo que lhe d prazer, este indivduo ter
mais condies de obter uma boa qualidade de vida.
No mesmo contexto, Silveiro et al. (2003) relata que prticas corporais no
momento de lazer, trouxeram benefcios para a vida de praticantes, contribuindo
para a melhora da qualidade de vida, proporcionando bem estar fsico e mental.

11

Segundo Gonalves et al. (2004, p 44), as condies de sade determinam

as percepes e os sentimentos sobre o prprio estado de qualidade de vida, ou
seja, se o indivduo est bem em toda sua esfera pessoal, conseqentemente estar
com bom estado de qualidade de vida.
No entanto, Werneck et al. (1999) coloca que o lazer no deve somente
almejar a qualidade de vida no sentido individual, mas sim em seu sentido social,
histrico, poltico e cultural. Essa afirmativa remete a necessidade da busca por
condies dignas de vida para sociedade como um todo. As melhorias das
condies scio-econmicas da sociedade contribuiriam para a melhoria da
qualidade de vida desta sociedade.
O lazer para Werneck et al. (1999) deve assumir uma dimenso crtica e ser
efetivamente um espao de conscientizao e busca pela igualdade social. Nas
palavras do autor, o lazer deve se constituir em:
(...) um espao para a luta contra a explorao e alienao dos sujeitos,
procurando desenvolver a conscincia reflexiva calcada no somente na
realidade concreta, mas tambm na possibilidade de atuar sobre ela em
busca de sadas. Para isso, preciso que a educao para (e pelo) lazer
abrace o seu papel multicultural, valorizando o afetivo, a solidariedade e a
intersubjetividade, considerando, ainda, a diversidade cultural e a
democratizao social na construo de uma educao para todos que
enfatize a igualdade mas no elimine as diferenas, Werneck et al. (1999,
p. 96).

Em outro trabalho Werneck (2001), relata que o lazer deve ser considerado
como um elemento de cidadania e comprometido com a qualidade de vida. Para
tanto, necessrio superar uma viso de lazer meramente enquanto reproduo
ideolgica. Deve-se buscar a construo de uma sociedade mais humanizada e
justa, ou seja, buscar uma vida com mais sentido e qualidade, possibilitando a
construo cultural e social.
Para que a idia acima se concretiza, fica evidente que a formao do
profissional que atua nessa rea, deve ser bem aprofundada, pois esse
profissional que deve orientar, buscar solues e conscientizar outras pessoas na
prtica do lazer. Da a importncia de estudos sobre a sociedade, para que o
profissional no se restrinja apenas ao conhecimento meramente tcnico sobre o
lazer. Mas que tenha condies de contextualizar o lazer no mbito das relaes de
poder que permeiam o estgio capitalista atual.

12

Pires (2004) salienta que a formao do profissional de Educao Fsica ao

estudo do lazer, necessita de um maior aprofundamento terico sobre o lazer. E
ainda, o autor faz um questionamento, dentro da concepo terica do lazer, se os
professores de educao fsica teriam realmente condies de atuar efetivamente
nos contedos do lazer. Percebendo atravs da viso do autor, que h maior
necessidade que os profissionais busquem maior compreenso em relao ao lazer,
antes de atuar na prtica.
No mesmo contexto Marin (2000), tambm defende que o profissional de
Educao Fsica tenha melhor formao no estudo do lazer, pois para a autora
com melhor formao ajudar o profissional a compreender o sentido do lazer na
prtica.
Nesse mesmo sentido Marcelino (2000) refere-se que estudantes e
profissionais devem juntar-se s sociedades cientficas, buscando atualizao,
intercmbio de experincias, discusso poltica sobre o trabalho. Para que no se
torne profissionais com um vazio terico.

13

3 - CONCLUSO
Ao longo do artigo, percebemos que a relao do lazer com a qualidade de
vida, pode ter uma importncia individual, ou seja, com vrios objetivos ou
interesses diferenciados (como expectativa de vida, sonho, situao econmica e
familiar), e tambm, coletiva que busca interesses sociais.
E atuao do profissional de Educao Fsica na rea do lazer, torna-se
possvel, pois alm de proporcionar a atividade fsica, est associada ao bem-estar
fsico, o qual poder criar situaes ou indicar elementos relacionados
caracterstica de cada indivduo que envolvam os seis contedos do lazer (Artstico;
Intelectuais; Manuais; Fsico-Esportivo; Turstico; e Social). Consequentemente
conciliando a qualidade de vida.
Portanto, visto na tica que o profissional em Educao Fsica deve ter em
relao ao lazer qualidade de vida no sentido de fomentar e esclarecer
discusses que permeiam a intervenes profissionais, neste caso, especificamente
no que tange as suas relaes com a sade e qualidade de vida.
No devemos nos esquecer que a melhor formao do profissional em
Educao Fsica deve ter um aprofundamento terico, o qual ir subsidiar o
profissional para o melhor entendimento no seu contexto social. Mas tambm, a
formao tcnica tem uma enorme importncia, pois prtica exigir um mnimo de
domnio neste contexto.

14

REFERNCIAS
ARANHA, Maria Lcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
Introduo Filosofia. 3 ed. So Paulo: Ed. Moderna, 2003;
BOM SUCESSO, Edina de Paula. Relaes interpessoais e Qualidade de vida no
trabalho. Rio de Janeiro-RJ: Ed. Qualitymark, 2002;
CAMARGO, Luiz Octvio de Lima. Educao para o Lazer. So Paulo: Ed.
Moderna, 1998;
DUMAZEDIER, J. Lazer e Cultura Popular. So Paulo: Ed. Perspectiva, 1973;
. Sociologia emprica do lazer. So Paulo: Ed. Perspectiva, 1979;
FLECK, Marcelo Pio de Almeida (Organizao). Avaliao de Qualidade de Vida:
Guia para os Profissionais da Sade. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2008;
GABRIEL, Oldrey Patrick Bittencourt. Do Santssimo Trabalho Sagrada
Preguia: Lazer e Religio na Obra de Paul Lafargue. Dissertao de Mestrado em
Educao Fsica da Faculdade de Cincias da Sade UNIMEP, rea de
concentrao em Corporeidade, Pedagogia do Movimento e Lazer. Piracicaba,
2004;
GONALVES, Aguinaldo; VILARTA, Roberto (Organizao). Qualidade de Vida e
Atividade Fsica: Explorando teorias e prticas. Barueri: Ed. Manole, 2004;
GSPARI, Jossett Campagna; SCHWARTZ, Gisele Maria. Adolescncia, Esporte
e Qualidade de Vida. Revista Motriz. V.7, N 2. Dez. p. 107-113. Maring, 2001;
MARCELINO, Nelson Carvalho. Estudo do lazer: uma introduo. Campinas: Ed.
Autores Associados, 2006;

15

. O lazer na atualidade brasileira:

perspectivas na
formao/atuao profissional. Belo Horizonte, v. 3, n. 1, p125-133, 2000;
. Lazer e Educao. 4. ed. Campinas: Papirus,
1998;
. Lazer e Humanizao. 2. ed. Campinas: Papirus,
1995;
MARIN, Elizara Carolina. CURRCULO E FORMAO DO PROFISSIONAL DO
LAZER. Revista Brasileira Cincia do Esporte. v. 23, n. 1, p. 123-130, set, 2001;
MARTINS JUNIOR, Joaquim. Como escrever trabalhos de concluso de curso:
Instrues para planejar e montar, desenvolver, concluir, redigir e apresentar
trabalhos. Petrpolis-RJ: Ed. Vozes, 2008;
MINAYO, Maria Ceclia de Souza; HARTZ, Zulmira Maria de Arajo; BUSS, Paulo
Marchiori. Qualidade de vida e sade: Um debate necessrio. Rev. Cincia e
Sade Coletiva. V. 5, N.1. Rio de Janeiro, 2000;
MORAIS, Vamberto. O Sentido da Vida: Trabalho, Lazer, e Ganncia nas
Sociedades Humanas. So Paulo-SP: Ed. Ibrasa, 1993;
NAHAS, Markus Vinicius. Atividade Fsica, Sade e Qualidade de Vida: Conceitos
e sugestes para um estilo de vida ativam. 2 ed. Londrina-PR. Ed. Midiograf. 2001;
NERI, Anita Liberalesso. Qualidade de vida e Idade Madura. 7 ed. Campinas: Ed.
Papirus, 2008;
PIMENTEL, Giuliano Gomes de Assis. Educao fsica e atuao profissional no

lazer. Revista Nova Atenas de educao tecnolgica. V. 5, N. 1, jan-jun. 2002;

16

PIRES, Roberto Gondim. Lazer e Formao Profissional na Bahia: Pensando

seus limites e suas possibilidades. Revista sitientibus. Feira de Santana: N. 30, p.
77-91, Jan/Jun. 2004;
Programa

das

Naes

Unidas

para

Desenvolvimento

PNUD.

http://www.pnud.org.br/idh/. Acessado em 09/12/2008;

REVISTA CONTATO. Contribuio da Psicologia para a Qualidade de Vida. Ano
10, ed. 57 Mai/Jun. Conselho Regional de Psicologia do Paran, 2008;
SILVEIRO, Evanize Kelli; FREITAS, Anderson Rodrigues; JUSTINO, Jorge Luiz;
CASTRO, Marcelo Rodrigo; MACHADO, Simone. O Lazer e a Influncia das
Prticas Corporais Alternativas na Qualidade de Vida de Adultos e Pessoas na
Terceira Idade da Cidade de Bebedouro. Rev. Coleo Pesquisa em Educao
Fsica, V. 1, N. 1, Ano 7, Junho de 2003;
STADNIK, Adriana Maria Wan. A importncia do Lazer Criativo dentro da
Perspectiva

dos

Novos

Mercados

de

Trabalho.

Revista

Brasileira

de

Cineantropometria & Desenvolvimento Humano. V. 4, N. 1, p. 104. Florianpolis,

2002;
WERNECK,

Christianne

Luce

Gomes.

Lazer:

Exerccios

de

Cidadania

Comprometido com a Qualidade de Vida. Revista Boletim de Turismo e

Administrao Hoteleira. So Paulo: V. 10, N. 1, p. 50-58, Maio de 2001;
WERNECK, Christianne Luce Gomes; ISAYAMA, Hlder Ferreira; BORGES, Ktia
Euclydes de Lima. Lazer e Qualidade de Vida. Revista Mineira de Educao Fsica.
Viosa: V. 7, N. 2, p. 94-97, Julio de 1999.

ENDEREO DO AUTOR
NOME: BRUNO RIBEIRO DA ROCHA
ENDEREO: AV. LONDRINA, N 838, ZONA 8
TELEFONE: 3263-1099 e-mail: [email protected]