A Fuga Das Ocasiões de Pecado
A Fuga Das Ocasiões de Pecado
A Fuga Das Ocasiões de Pecado
teu olho direito devers arranc-lo e lanar fora de ti, para que no sejas
condenado. Logo, deves fugir daquela ocasio, ainda que remota, j que, em razo
de tua fraqueza, tornou-se ela uma ocasio prxima para ti.
Antes de tudo devemos estar convencidos que ns, revestidos de carne, no
podemos por prpria fora guardar a castidade; s Deus, em Sua imensa bondade,
nos poder dar fora para tanto.
verdade que Deus atende a quem Lhe suplica, mas no poder atender
orao daquele que conscientemente se expe ao perigo e no o deixa, apesar de o
conhecer, pois, como diz o Esprito Santo, quem ama o perigo perecer nele.
Deus, quantos cristos existem que, apesar de levarem uma vida piedosa,
caem finalmente e obstinam-se no pecado, s porque no querem evitar a ocasio
prxima do pecado impuro. Por isso nos aconselha S. Paulo (Fil 2, 12): Com
temor e tremor operai a vossa salvao. Quem no teme e ousa expor-se
s ocasies perigosas, principalmente quando se trata do pecado impuro,
dificilmente se salvar.
II. De algumas ocasies que devemos evitar cuidadosamente
Como queremos salvar nossa alma, nosso dever fugir da ocasio do
pecado. Principalmente devemos abster-nos de contemplar pessoas que nos
suscitam maus pensamentos. Pelos olhos entra a seta do amor impuro e fere
a alma, diz S. Bernardo (De modo bene viv., c. 23), e essa seta, ferindo-a, tiralhe a vida. O Esprito Santo d-nos o conselho: Desviai vossos olhos de uma
mulher adornada (Ecli 9, 8).
Para se livrar de tentaes impuras, um antigo filsofo arrancou os olhos.
Ns, cristos, no podemos assim proceder, mas devemos cegar-nos
espiritualmente, desviando os olhos de objetos que possam ocasionar-nos
tentaes. So Lus Gonzaga nunca olhava para uma mulher e, mesmo em
conversa com sua prpria me, tinha os olhos postos no cho. claro que o mesmo
perigo existe para mulheres que cravam seus olhares em homens.
Em segundo lugar, deve-se evitar todas as ms companhias e as conversas
e entretenimentos em que se divertem homens e mulheres. Com os santos te
santificars e com os perversos te perverters. Anda com os bons e tornar-te-s
bom, anda com os desonestos e tornar-te-s desonesto.
O homem toma os hbitos daqueles que convivem com ele, diz So Toms
de Aquino. Se estiveres metido numa conversao perigosa, que no possas
abandonar, segue o conselho do Esprito Santo: Cerca teus ouvidos de espinhos
para que os pensamentos impuros dos outros no achem neles entrada. Quando
So Bernardino de Sena, ainda pequeno, ouvia uma palavra desonesta, sentia o
rubor subir sua face, e por isso seus companheiros tomavam cuidado para no
pronunciar tais palavras em sua presena. E Santo Estanislau Kostka sentia tal asco
ao ouvir tais palavras, que perdia os sentidos.
Quando ouvires algum conversando sobre coisas impuras, volta-lhe as
costas e foge. Assim costumava proceder So Edmundo. Havendo uma vez
abandonado seus companheiros por estarem conversando sobre coisas desonestas,
encontrou-se com um jovem extraordinariamente belo, que lhe disse: Deus te
abenoe, carssimo. Ao que o Santo perguntou, admirado: Quem s tu? Ele
respondeu: Olha para minha fronte e lers meu nome. Edmundo levantou os olhos
e leu: Jesus Nazareno, Rei dos Judeus. Com isso Nosso Senhor desapareceu e o
Santo sentiu uma alegria celestial em seu corao.
Achando-te em companhia de rapazes que conversam sobre coisas
desonestas e, no podendo retirar-te, no lhes ds ateno, volta-lhes o rosto e dlhes a conhecer que tais conversas te desagradam.
Deves tambm abster-te de considerar quadros menos decentes. So Carlos
Borromeu proibiu a todos os pais de famlia conservarem tais quadros em suas
casas. Deves igualmente evitar a leitura de maus livros, revistas e jornais, e no s
dos que tratam ostensivamente de coisas imorais, como tambm dos que tratam de
histrias insinuantes, como certos poetas e romancistas.
Vs, pais de famlias, proibi a vossos filhos a leitura de romances: estes
causam muitas vezes maiores danos que os livros propriamente imorais, porque
deixam nos coraes dos jovens certas ms impresses que lhes roubam a devoo
e os induzem ao pecado. So Boaventura diz (De inst. nov., p. 1 , c.
14): Leituras vs produzem pensamentos vos e destroem a devoo. Dai
a vossos filhos livros espirituais, como a histria eclesistica, ou vidas de santos e
semelhantes.
Proibi a vossos filhos representar um papel qualquer em comdia
inconveniente e mesmo a assistncia a representaes imorais. Quem foi casto
para o teatro, de l volta manchado, diz So Cipriano. Se para l se dirigiu
aquele jovem ou aquela donzela, em estado de graa, de l voltam ambos em
estado de pecado. Proibi tambm a vossos filhos a ida a certas festas, que so
festas do demnio, nas quais h danas, namoros, canes impudicas, gracejos e
divertimentos perigosos. Onde h danas, celebra-se uma festa do demnio,
diz Santo Efrm.
Mas que h de ruim quando se graceja?, dir algum. Esses tais gracejos
no so gracejos, mas crimes, responde So Joo Crisstomo, so graves ofensas
contra Deus. Um companheiro do padre Joo Vitellio, contra a vontade deste servo
de Deus, se dirigiu uma vez para um tal divertimento em Nrcia. Que lhe
aconteceu? Perdeu primeiramente a graa de Deus, entregou-se em seguida a uma
vida desregrada e foi finalmente assassinado por seu prprio irmo.
Poders aqui perguntar-me se pecado mortal namorar. Responderei a essa
pergunta na segunda parte, c. 6, IV. Aqui s direi que tais namoros tornam-se
ocasio prxima do pecado. A experincia ensina que em tais casos s poucos
deixam de pecar. Se no pecam j no comeo, caem no decorrer do tempo. No
princpio se entretm s por mtua inclinao; esta torna-se, porm, em breve,
paixo, e a paixo, uma vez arraigada, cega o esprito e arrasta a muitos pecados
de pensamentos, palavras e obras.
III. Fteis objees contra as sobreditas verdades
Objetar-me-s: Mudei duma vez de vida; no tenho nenhuma m inteno,
nem mesmo uma tentao quando vou visitar fulana ou sicrana. Respondo: Contase que h uma espcie de ursos que caam macacos: ao avistar o urso, fogem
estes para as rvores. Mas que faz o urso? Deita-se debaixo da rvore e faz-se de
morto. Descem os macacos com esse engano e ento, de um salto, captura-os e
devora-os. o que pratica o demnio: representa a tentao como morta, e assim
que desceres, isto , logo que te expuseres ao perigo, desperta-a de novo, e ela te
tragar. Oh! Quantos cristos, que se davam ao exerccio da orao e da