Tese Completa - Teoria Do Direito - Márcio Eduardo Pedrosa Morais
Tese Completa - Teoria Do Direito - Márcio Eduardo Pedrosa Morais
Tese Completa - Teoria Do Direito - Márcio Eduardo Pedrosa Morais
Belo Horizonte
2014
Belo Horizonte
2014
FICHA CATALOGRFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais
M829l
__________________________________________________________
Professor Doutor Mrio Lcio Quinto Soares (ORIENTADOR) PUC Minas
__________________________________________________________
Professor Doutor Lucas de Alvarenga Gontijo PUC Minas
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Professor Doutor Antnio da Cota Maral PUC Minas
__________________________________________________________
Professor Doutor Gregrio Assagra de Almeida Universidade de Itana
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Professor Doutor Carlos Alberto Simes de Tomaz Universidade de Itana
__________________________________________________________
__________________________________________________________
Professor Doutor Lcio Aparecido Moreira (SUPLENTE) Universidade de Itana
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Slvia e Geraldo, pelo amor incondicional e pela vida, pelos
exemplos e pelas advertncias, desculpem-me as brigas e minha ausncia em
diversos momentos, estava lutando para deixar um legado nesta passagem por este
mundo. Minha distncia e silncio, durante esse perodo, foi uma forma de dizer o
quanto eu lhes amo! Quero agradec-los por ter me oferecido a possibilidade de
estudar e conseguir minha emancipao!
minha querida Carol, exemplo de amor e carinho, que conseguiu entender
minha ausncia fsica em vrios momentos e por vrias noites, mas que jamais saiu
um s minuto do meu pensamento. Carol, obrigado por um dia me ter concedido a
oportunidade de uma conversa no jardim da universidade, ali nasceu uma bela
histria de amor e de vida! J se passaram dez anos desde ento, mas sempre me
lembro de seu rosto, sempre me lembro da emoo do primeiro beijo! Dedico este
trabalho a voc!!!
Aos meus irmos Marcos Vincius e Mara Lcia, frutos de um mesmo ventre,
pelos momentos de alegrias e crescimento. Sigamos o caminho da virtude e da
verdade! Aos meus sobrinhos, Arthur e Karen, os mimos do titio, verdadeiros
mistrios da natureza, os quais a cada dia me surpreendem por suas inteligncias.
Aos meus filhinhos Eduardo e Lilica, serezinhos que no falam minha lngua,
mas que conseguem me compreender...
Ao meu Orientador, Professor Doutor Mrio Lcio Quinto Soares, exemplo
de competncia e maturidade intelectual, companheiro de caminhada e fonte de
inspirao docncia. Obrigado pelos momentos de alegria, pelas advertncias,
pelos elogios. Obrigado por acreditar em mim, mesmo nas adversidades do tempo
perdido! Encontr-lo, inesperadamente, na recepo do Programa de PsGraduao em Direito da Pucminas foi coincidncia divina! A voc que confiou em
mim, meu muito obrigado!
Aos meus professores, colegas e amigos de caminhada, pelos momentos
vividos juntos, momentos de alegria e ansiedade. Aos livros, todos foram teis e me
enriqueceram, por intermdio deles diversos autores, muitos no mais fisicamente
presentes entre ns, puderam me ensinar lies de Direito e de vida.
RESUMO
ABSTRACT
The aim is to analyze through the present research the theme RELIGIOUS
FREEDOM AS A FUNDAMENTAL RIGHT IN THE DEMOCRATIC STATE OF LAW
IN THE FACE OF RELIGIOUS EDUCATION. Initially in this research, it will be done
an approach of the concept and historical roots of religious freedom, understanding it
as the principle of secularism component. The religious freedom in the face of the
philosophy of law will be analyzed as well as the structural characterization of the
right to religious freedom, having as a mainstay the relationship religious
freedom/human dignity. Then, the religious freedom during the Brazilian Empire
(1822-1889) will be scrutinized. Afterwards, this research will lean over the religious
freedom in Brazilian constitutionalism until reaching the National Constituent
Assembly of 1987-88, giving emphasis to the debates of this Assembly in relation to
the principle of religious freedom specifically on the definition of religious education in
the Constitutional State; which is the main objective of this thesis.
Keywords: National Constituent Assembly. Brazil. Constitutionalism. Religious
Education. Democratic State of Law. Secularism. Religious freedom.
RESUMEN
LISTA DE ABREVIATURAS
Ampl. Ampliada
Atual. Atualizada
Coord. Coordenador
D. C. Depois de Cristo
Ed. Edio
Et. al. e outros
N. Nmero
Org. Organizador
Prof. Professor
Trad. Traduo
V. Volume
LISTA DE SIGLAS
Associao
Nacional
dos
Profissionais
da
Administrao
Educacional
ANPEd Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Educao
CAS Comisso de Assuntos Sociais
CCJC Comisso de Constituio, Justia e Cidadania
CEC Comisso de Educao e Cultura
CEDES Centro de Estudos Educao e Sociedade
CGT Confederao Geral dos Trabalhadores
CNBB Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil
CNEC Campanha Nacional de Escolas da Comunidade
CNJ Conselho Nacional de Justia
CRECD Comisso de Relaes Exteriores e Defesa Nacional
CRFB/88 Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988
CTASP Comisso de Trabalho, Administrao e Servio Pblico
CUT Central nica dos Trabalhadores
EC Emenda Constitucional
ER Ensino Religioso
FASUBRA
Federao
de
Sindicatos
de
Trabalhadores
Tcnico
SUMRIO
INTRODUO ............................................................................................................................................ 15
1 BREVES CONSIDERAES SOBRE A LIBERDADE RELIGIOSA ..................................................... 18
2 CONCEITO E RAZES HISTRICO-FILOSFICAS DA LIBERDADE RELIGIOSA ............................. 24
2.1 A LIBERDADE RELIGIOSA COMO DIREITO FUNDAMENTAL .............................................................................. 51
2.2 A LIBERDADE RELIGIOSA EM FACE DA FILOSOFIA DO DIREITO...................................................................... 73
3 LAICIDADE E LIBERDADE RELIGIOSA NO ESTADO LIBERAL ........................................................ 90
4 A LIBERDADE RELIGIOSA NO CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO ......................................... 112
4.1 A LIBERDADE RELIGIOSA NO IMPRIO BRASILEIRO: IGREJA CATLICA RELIGIO OFICIAL DO IMPRIO......... 116
4.2 A LIBERDADE RELIGIOSA NA REPBLICA BRASILEIRA: DA CONSTITUIO DE 1891 S VSPERAS DA
CONSTITUIO DE 1988 ............................................................................................................................... 130
4.3 A LIBERDADE RELIGIOSA NA CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 .................... 145
5 LAICIDADE E LIBERDADE RELIGIOSA NOS DEBATES DA ASSEMBLEIA NACIONAL
CONSTITUINTE DE 1987-88: UMA ANLISE DOS DEBATES ACERCA DA INSTITUIO DO
ENSINO RELIGIOSO NO TEXTO CONSTITUCIONAL DE 1988 ............................................................ 155
5.1 APUNTES HISTRICOS DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE DE 1987-88.......................................... 157
5.2 BREVE CARACTERIZAO E HISTRICO DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL ................................................. 167
5.2.1 O debate na Subcomisso da Educao, Cultura e Esportes ......................................................... 174
5.2.2 O debate na Comisso da Famlia, da Educao, Cultura e Esportes, da Cincia e Tecnologia e
da Comunicao........................................................................................................................................ 195
6 ENSINO RELIGIOSO PS-CONSTITUINTE: OS DESAFIOS CONCRETOS A SEREM
ENFRENTADOS NO ESTADO CONSTITUCIONAL ............................................................................... 207
6.1 A QUESTO DO ENSINO RELIGIOSO NO ARTIGO 11 DO ACORDO ENTRE A REPBLICA FEDERATIVA DO
BRASIL E A SANTA S RELATIVO AO ESTATUTO JURDICO DA IGREJA CATLICA NO BRASIL .............................. 215
7 CONCLUSO ........................................................................................................................................ 223
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS......................................................................................................... 227
15
INTRODUO
16
17
ainda, so
Art. 210. Sero afixados contedos mnimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar
formao bsica comum e respeito aos valores culturais e artsticos, nacionais e regionais. 1 O
ensino religioso, de matrcula facultativa, constituir disciplina dos horrios normais das escolas
pblicas de ensino fundamental. (BRASIL, 2013).
18
de pessoa
numa sociedade
19
Nessa pesquisa, todos esses aspectos poderiam ser abordados, porm, delimitando o tema, optouse por analisar a questo do ensino religioso nas escolas pblicas, o que no exclui outros olhares
sobre outros aspectos do princpio da liberdade religiosa no texto constitucional.
4
Em relao pluralidade religiosa no Brasil saliento que, em 1950, de uma populao total de
51.806.591 de habitantes, a percentagem de catlicos era de 93,7% e de protestantes 3,4%; em
1991, de uma populao de 146.815.818 habitantes, 82,96% eram catlicos e 9,34% eram
protestantes; em 2000, de uma populao de 169.799.170 habitantes, 73,60% eram catlicos e
15,41% protestantes. (MENDONA, 2003). No ano de 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatstica IBGE contabilizou 64,6% de catlicos no Brasil e 22,2% de protestantes no Brasil.
20
exemplo
de
instrumento
de
dominao
utilizado
pelos
espanhis,
21
Boris Fausto (2006) destaca que embora se trate de instituies distintas, naqueles tempos uma
estava ligada outra. No existia na poca, como existe hoje, o conceito de cidadania, de pessoa
com direitos e deveres com relao ao Estado, independentemente da religio. A religio do Estado
era a catlica e os sditos, isto , os membros da sociedade, deviam ser catlicos. (FAUSTO, 2006,
p. 59-60).
6
importante notabilizar ainda que, o papel da Igreja no se limitava a isso. Ela estava presente na
vida e na morte das pessoas, nos episdios decisivos do nascimento, casamento e morte. O ingresso
na comunidade, o enquadramento nos padres de uma vida decente, a partida sem pecado deste
vale de lgrimas dependiam de atos monopolizados pela Igreja: o batismo, a crisma, o casamento
religioso, a confisso e a extrema-uno na hora da morte, o enterro em um cemitrio designado pela
significativa expresso campo santo. (FAUSTO, 2006, p. 60).
7
Jnatas Eduardo Mendes Machado (2013) enfatiza ser o Estado Constitucional racionalmente
sustentado por um constitucionalismo testa de matriz judaico-crist.
22
questes
questionamento
direcionam
especfico:
fere
o
o
desenvolvimento
princpio
da
da
tese
liberdade
para
religiosa
um
e,
O presente trabalho nasce da problemtica acerca do ensino religioso nas escolas pblicas, por
entend-la como a questo com maior possibilidade de questionamentos em relao ao objeto da
pesquisa, por ser a educao a base estrutural de formao da pessoa humana, elemento
fundamental de formao da autonomia do sujeito.
9
Como cedio, a Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988, stima Constituio da
histria constitucional brasileira, promulgada em 15 de outubro de 1988, fruto de debates que
perpassaram vrias ideologias e credos religiosos, a qual acolheu, dentre outros, o princpio da
liberdade religiosa e garantiu a manuteno constitucional do Estado laico, classificando-se a mesma,
doutrinariamente, como uma Constituio escrita, dogmtica, democrtica, rgida, dirigente, analtica
e ecltica, com originariamente duzentos e cinquenta artigos em seu texto, ou seja, em tese,
Constituio de todos os modos de vida, de todos os pensamentos, de vrias raas, de vrias cores,
de vrios olhares.
23
24
10
Para Jorge Traslosheros (2012), pode-se renegar a religio, o que no se pode negar seu peso
cultural na conformao da sociedade, nem sua presena em todos os mbitos da vida individual e
social.
11
[...] las religiones han pasado a ocupar su lugar dentro de la sociedad civil diversificando, junto con
sta, sus propias manifestaciones. Vivimos en sociedades donde la pluralidad religiosa es una
realidade inconstestable. (TRASLOSHEROS, 2012, p. 3).
25
Um olhar rpido sobre as civilizaes mostra o papel assumido pela religio em suas histrias: as
pirmides egpcias como sepulcros, o Partenon de Atenas como centro de peregrinao religiosa, os
sacrifcios maias, astecas e incas em honra ao Deus Sol, as pirmides construdas pelos povos prcolombianos da Amrica com objetivos religiosos. Enfim, tudo se relacionava com a religio. Por um
lado, de modo ambguo, possvel entender a religio como fator fundamental de coeso social e
desenvolvimento das civilizaes; de outro lado, como fator de guerras e conflitos, sejam
contemporneos ou em pocas passadas.
13
(Mesopotmia), regio do Oriente Mdio localizada entre os rios Tigre e Eufrates, bero das
primeiras civilizaes, as quais eram politestas.
14
De acordo com Gilberto Cotrim (1997) a religio uma das principais bases da cultura hebraica e
representa sua principal contribuio ao mundo ocidental. Atravs da crena no deus nico,
edificaram o judasmo, que forneceu fundamentos ao cristianismo e ao islamismo. (COTRIM, 1997,
p. 38).
15
A religio, um dos elementos que davam unidade ao mundo grego, apresentava duas
caractersticas fundamentais: o politesmo e o antropomorfismo. Alm dos deuses imortais [...], os
gregos cultuavam heris ou semideuses, que eram filhos de um deus com uma pessoa mortal. [...]
Relatando a vida dos deuses e dos heris, os gregos criaram uma rica mitologia, constituda por
numerosas histrias, fabulosas e fascinantes, que inspiraram diversas obras da arte ocidental.
(COTRIM, 1997, p. 56).
16
En el fondo, oferece la respuesta a la cuestin sobre el verdadeiro sentido de la existencia, tanto
en el mbito personal como social. (GUERRA LPEZ, 2012, p. 35).
26
27
caracterizado por poder ser satisfeito em graus variados e pelo fato de que a medida
devida de sua satisfao no depende somente das possibilidades fticas, mas
tambm das possibilidades jurdicas, percebo que, a escolha desse entendimento de
princpio no exclui outras concepes existentes na teoria do Direito.19
Trs fases distintas apontam o desenvolvimento do conceito de princpios: a
primeira delas, a fase jusnaturalista, posteriormente a fase juspositivista e, por
derradeiro,
fase
ps-positivista,
quando
ento
se
desenvolve
28
imediatamente
apreendidos
pela
inteligncia
humana
como
verdadeiros,
29
Por causa da sua identificao de Deus com a Natureza e do seu tratamento da religio popular,
no poucos dos contemporneos de Spinoza consideraram sua filosofia como um atesmo
tenuamente disfarado. Todavia, paradoxalmente, o romantismo do sculo XIX o acolheu pelo seu
pantesmo. (GARRET, 2011, p. 878-879).
21
30
31
de
acordo
com
Jos
Joaquim
Gomes
Canotilho
(1993),
Como exemplo pode-se citar o princpio constitucional da proteo vida (estampado no artigo 5
da CRFB/88), do qual decorrem as regras no matar tipificada no artigo 121 do Cdigo Penal
brasileiro, no abortar, tipificada no artigo 124 tambm do Cdigo Penal brasileiro.
24
32
indeterminado de fatos ou atos, mas regendo apenas tais fatos ou atos, abrangendo
uma situao jurdica determinada.
Para Ronald Dworkin (2002), princpios e regras distinguem-se por uma
diferena lgica, sendo, tantos os princpios quanto as regras, standards. As regras
operam-se no critrio do tudo ou nada, ou seja, ou se verificam os fatos previstos na
regra e ela ser vlida, devendo ser aplicada, ou, caso contrrio, a regra ser
invlida, por sua vez, para os princpios, vigora a dimenso do peso ou da
importncia.25 Deste modo, os enunciados principiolgicos26 no esgotam todas as
condies e situaes de sua aplicao, devendo-se analisar no caso concreto sua
aplicao por intermdio do peso relativo dos princpios envolvidos. Dessa forma,
ainda que presentes as condies estabelecidas para aplicao de um princpio, isso
no significa que ele dever ser definitivamente aplicado, pois que poder haver
outros princpios incidentes na mesma situao (LEITE; LEITE, 2008, p. 25),
devendo ser avaliado o peso de cada princpio envolvido, com o objetivo de se
determinar qual ser aplicado. Em relao conceituao de princpio, importante
apresentar o clssico magistrio de Robert Alexy (2008), para quem:
O ponto decisivo na distino entre regras e princpios que princpios so
normas que ordenam eu algo seja realizado na maior medida possvel
dentro das possibilidades jurdicas e fticas existentes. Princpios so, por
conseguinte, mandamentos de otimizao, que so caracterizados por
poderem ser satisfeitos em graus variados e pelo fato de que a medida
devida de sua satisfao no depende somente das possibilidades ftica,
mas tambm das possibilidades jurdicas. O mbito das possibilidades
jurdicas determinado pelos princpios e regras colidentes. (ALEXY, 2008,
p. 90).
Como pode se resolver uma coliso entre princpios? Alexy (2008) em lio clssica enuncia: Se
dois princpios colidem o que ocorre, por exemplo, quando algo proibido de acordo com um
princpio e, de acordo com o outro, permitido , um dos princpios ter que ceder. Isso no significa,
contudo, nem que o princpio cedente deva ser declarado invlido, nem que nele dever ser
introduzida uma clusula de exceo. Na verdade, o que ocorre que um dos princpios tem
precedncia em face do outro sob determinadas condies. Sob outras condies a questo da
precedncia pode ser resolvida de forma oposta. (ALEXY, 2008, p. 93). Nestes termos, um princpio
no anular o outro, apenas haver a prevalncia, no caso concreto, de um em relao ao outro, no
se declarando invlido o princpio que foi preterido em face do outro. Assim, um princpio ser
prefervel ao outro num caso concreto, de acordo com as particularidades existentes, ao contrrio do
que acontece com as regras, que so resolvidas no sistema do tudo ou nada.
26
Acusar uma norma de principiolgica significa dizer que faz parte das normas jurdicas abstratas, as
quais tem sua hiptese de incidncia aberta, ou seja, tem a capacidade de expandir seu comando
consoante as situaes concretas que se forem apresentando. (TAVARES, 2008). Para Walter
Claudius Rothenburg (1999) a norma principiolgica de alguma maneira, aberta, tanto pelo seu
contedo quanto pela sua expansividade, ou seja, apresenta eficcia irradiante.
25
33
Por sua vez, as regras so, para Alexy (2008) normas que so sempre
satisfeitas ou no satisfeitas. Assim, se uma regra vale, ento, deve se fazer
exatamente aquilo que ela exige; nem mais, nem menos. Regras contem, portanto,
determinaes no mbito daquilo que ftica e juridicamente possvel. (ALEXY,
2008, p. 91). Concluindo, a distino entre regras e princpios qualitativa e no de
grau. Toda norma ou uma regra ou um princpio. (ALEXY, 2008, p. 91).
Tratando a liberdade religiosa como direito humano, um dos pilares do Estado
Constitucional Democrtico, no abordo algo presente na histria da humanidade
desde os seus primrdios, do contrrio, a liberdade de religio um postulado da
Era Moderna. Isso ocorre por no haver diversidade religiosa at a Reforma
Protestante iniciada em 1517 com Martinho Lutero, quando ento havia a primazia
do Catolicismo no ocidente, fator existente, seja por intermdio da fora, seja por
doutrinao ideolgica (principalmente por intermdio do medo), seja realmente por
ausncia de outra religio como opo ao indivduo.
Durante a Antiguidade vigorou o monismo, identificao entre o poder poltico
e a religio, entre comunidade poltica e comunidade religiosa, estando a religio
associada de modo ntimo vida da comunidade, possuindo cada povo os seus
deuses, que protegiam e defendiam a cidade, muitas vezes tornando-se deuses
irascveis, os quais vingavam-se da desobedincia, dos excessos, estando tal
vingana relacionada aos eventos da natureza e sendo aplacada por intermdio de
sacrifcios humanos e animais, como tambm por intermdio de rituais. Esta
manifestao do divino est presente em vrios monumentos da humanidade, como
tambm nas primeiras legislaes escritas, como exemplo o Cdigo de Hamurabi
(aproximadamente 1700 a.C.), o qual trazia em seu prembulo a informao de ter
Hamurabi recebido dos prprios deuses o poder de governar os homens, como
tambm de sido o Cdigo uma ddiva divina, ou seja, j se percebe nesse momento
a presena do monismo. Para Paulo Pulido Adrago (2002), o monismo:
[...] caracterstica fundamental do mundo pr-cristo: a esta realidade
correspondem, dentro do mbito geogrfico em que se vai desenvolver a
civilizao ocidental, sistemas que abarcam desde o regime faranico aos
imprios pr-colombianos, passando pela Prsia e por Roma: salvando
todas as reservas que uma tal simplificao da histria leva consigo, pode
com efeito afirmar-se o monismo (identidade ou confuso das esferas
religiosa e poltica e dos correspondentes rgos do poder) do mundo prcristo na sua representao poltica mais tpica, os grandes imprios
teocrticos. (ADRAGO, 2002, p. 32).
34
35
poltica
no
nica,
devendo
relacionar-se
com
outras,
36
37
por
intermdio
de
uma
srie
de
decretos
consagrando
Constantino quer evitar os conflitos e mantm um equilbrio mais ou menos satisfatrio entre
pagos e cristos. A tolerncia imperial realada por medidas pontuais. O magistrado intervm
apenas ocasionalmente para condenar certos ritos do paganismo que para ele soam mais como
superstio do que como religio, a exemplo da bruxaria e da magia. Uma etapa decisiva
transposta em 331, quando o poder decreta o inventrio dos bens dos templos pagos, o que deixa a
porta aberta para seu confisco. (SALLES, 2013, p. 36).
38
39
40
41
42
De acordo com Jnatas Eduardo Mendes Machado (1996) a tolerncia religiosa constituiu, assim,
num momento de transio no processo que conduziu consagrao constitucional do direito
liberdade religiosa. (MACHADO, 1996, p. 73).
30
43
Por sua vez, outra parte da Histria visualiza a Reforma sobre uma base
poltica, sendo considerada como o primeiro exemplo do nacionalismo alemo,
representando um movimento de recusa contra estrangeiros, principalmente,
italianos, que viviam em Roma, todavia controlavam muitos aspectos da vida alem,
extorquindo parte da riqueza do pas; podendo tambm ser vista como um meio
utilizado pelos governantes alemes para suprimir a influncia externa sobre seus
territrios. Assim, os prncipes luteranos ganharam o controle da Igreja, em vez de
este ficar nas mos do papa em Roma, o que significava que as decises legais que
envolvessem questes como casamento e herana, [...] agora estavam inteiramente
em suas mos. (RANDELL, 1995, p. 10).
Por sua vez, outra vertente da Histria observa na Reforma motivos
econmicos. Um perodo de alta inflao motivou o rompimento da Alemanha com
Roma, o que seria um excelente meio para se reduzir os problemas financeiros.
Neste sentido:
Havia a perspectiva de ganhos financeiros: do campons mais humilde, que
equivocadamente imaginava que no teria mais de pagar dzimos (os
impostos sobre a produo agrcola, pagos Igreja), ao prncipe, que
antevia a possibilidade de tomar para si as terras da Igreja. H quem afirme
que essa situao provocou o apoio generalizado Reforma e o que d
real significado. (RANDELL, 1995, p. 10-11).
44
quais
foram
vtimas
da
intolerncia,
simplesmente
por
sustentarem,
45
46
Envolvendo quase todos os reinos europeus (com exceo da Rssia), a Guerra dos Trinta Anos
iniciou-se em 1618, envolvendo catlicos contra protestantes, organizados partidariamente na Liga
Catlica contra a Unio Evanglica (dividida entre luteranos e calvinistas), terminando trinta anos
depois, em 1648. Neste perodo, a Alemanha perdeu, aproximadamente, 1/3 da sua populao (40%
da rural e 33% da urbana), tornando-se um pas devastado.
36
Como exemplo o acordo da coroa francesa com o rei sueco Gustavo Adolfo (1594-1632), um
luterano.
37
[...] la jurisdiccin en materia religiosa de los seores territoriales quedaba limitada, por el Derecho
del Imperio, en beneficio de una incipiente libertad religiosa individual, que en el Instrumentum Pacis
es designada de modo significativo como libertad de conciencia. (STARCK, 1996, p. 12).
35
47
48
49
39
Havia a necessidade da Reconquista europeia, com a expulso dos mouros da Pennsula Ibrica.
Segundo os cronistas da poca, os indgenas consideravam os europeus, amigos ou inimigos,
conforme fossem tratados: amistosamente ou com hostilidade.
41
No sculo XVIII, por exemplo, a obra educativa dos jesutas se estendia do Par a So Paulo, com
17 colgios e seminrios, 25 residncias e 36 misses, sem contar os seminrios menores e as
escolas de alfabetizao presentes em quase todo o territrio. (OLIVEIRA, 2004, p. 946).
40
50
42
51
52
53
no
era
comumente
utilizada,
antes
do
advento
do
Estado
Em relao ao Estado de Direito, Diego Valads (2011) salienta que o mesmo consiste na sujeio
Constituio da atividade estatal, como tambm sua sujeio s normas emanadas conforme
procedimentos estabelecidos por essa Constituio.
46
Pode-se considerar como advento do Estado Contemporneo a formao poltica surgida com a
Constituio do Mxico de 1917 e com a Constituio de Weimar de 1919, as quais redefiniram as
relaes Estado/cidado.
54
de
fruio
egostica
desses
direitos.
So
direitos
difusos
55
56
Abordando o direito liberdade, Caio Tcito (2005) destaca que o instinto de liberdade
acompanha o homem desde suas origens. Liberdade diante das foras hostis da natureza e liberdade
na convivncia das sociedades primitivas, ainda que o imperativo da sobrevivncia e o sentido da
solidariedade do grupo faam prevalecer o domnio da comunidade. As sementes da liberdade, em
termos de garantia jurdica, remontam a textos medievais, em que se afirma a relativa valorizao do
direito de defesa individual. (TCITO, 2005, p. 22). importante ressaltar, tambm, ser a mesma
uma ramificao do gnero liberdade, liberdade essa caracterizada como direito humano de
primeira dimenso, conforme salientado, sendo tambm, essa liberdade religiosa, a primeira das
liberdades garantidas pelo Estado moderno. (BLANCARTE PIMENTEL, 2008, p. 10, traduo
nossa).
57
principalmente
tratando-se
de
uma
sociedade
onde
49
58
59
(inciso XIII); VI informao (incisos XIV e XXXIII); VII locomoo (incisos XV, LIV e
LXI); VIII reunio (inciso XVI); e IX associao (incisos XVI, XVIII e XX).
De acordo com Manoel Jorge e Silva Neto (2008), a concepo geral aceita
em termos de direito individual liberdade religiosa est presa prerrogativa
conferida pessoa de acreditar na existncia de uma divindade e professar a f
respectiva. (SILVA NETO, 2008, p. 28), sendo o direito individual liberdade
religiosa tripartite, compreendendo a liberdade de crena, a liberdade de culto e a
liberdade de organizao religiosa. Deste modo, a liberdade de crena, a liberdade
de culto e a liberdade de organizao religiosa, so decorrncias da liberdade
religiosa. Neste sentido, estruturalmente pode-se situar o direito liberdade religiosa
em sentido amplo como gnero, derivando do mesmo a liberdade de conscincia, a
qual, de foro individual, mais ampla que a liberdade de crena, compreendendo
tanto o direito de crer quanto o de no crer.
Para Jorge Miranda (2000) a liberdade de conscincia mais ampla e
compreende a liberdade de ter ou no uma religio (qualquer religio), alm da
liberdade de convices no religiosas (como a convico filosfica). Sahid Maluf
(1956) considera a liberdade religiosa como decorrncia da liberdade de conscincia
e de crena, frisando serem as liberdades de conscincia e de crena um direito
profundamente humano, inseparvel da personalidade, e que est acima do Estado,
ou seja, o direito que assiste a cada um de formar as suas prprias convices
filosficas, polticas, religiosas, etc., sem qualquer interferncia ou limitao do poder
estatal. (MALUF, 1956, p. 353). Neste sentido:
A liberdade de conscincia e de crena significa liberdade espiritual. E no
mundo do esprito s Deus pode penetrar. A f e piedade religiosa,
apangio da conscincia individual, escapa inteiramente ingerncia do
Estado, escreveu Joo Barbalho. (MALUF, 1956, p. 353).
Maluf
(1956)
destaca
o fato de
a liberdade
religiosa importar
60
La libertad de religin es creencia y prctica. Abarca la libertad de creer, o no, sobre aquellos
principios metafsicos, y de exteriorizar esas creencias practicando libremente el culto de una religin,
sin que se le pueda imponer al individuo la obligacin de practicar um culto determinado. (BADENI,
2006, p. 532).
52
As, la libertad de creencia es absoluta, porque antes de su exteriorizacin se desenvuelve al
margen de toda relacin social y del mbito de la ley positiva. (BADENI, 2006, p. 532).
51
61
62
La libertad religiosa es la libertad de todo ser humano de relacionarse con Dios. Lgicamente La
libertad religiosa requiere del previo reconocimiento de la existencia de Dios. Este reconocimiento es
un acto intelectual por el cual la inteligencia asiente al hecho de la existencia de Dios. Es un
conocimiento que se puede adquirir por el solo ejercicio de la razn natural, sin necesidad de fe. El
acto intelectual por el cual se reconoce la existencia de Dios no es propiamente un acto de libertad
religiosa, sino simplemente un acto de la libertad de pensamiento. Se puede reconocer la existencia
de Dios, pero no querer relacionarse com l, o incluso afirmar que es imposible esa relacin.
(ADAME GODDARD, 2012, p. 48-49).
54
En la ausencia de coaccin para que cada persona pueda pensar en lo que quiera, razonar como y
cuando quiera, y jugzgar y asentir a lo que le parezca verdadero. (ADAME GODDARD, 2012, p. 61).
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63
64
55
65
Analisando-se as ideias que moldaro a tradio constitucional norteamericana em matria de religio e de relaes Estado/Igreja, considero importante
citar o pensamento dos trs intrpretes mais importantes do constitucionalismo
estadunidense, Thomas Jefferson (1743-1826)56, James Madison (1751-1836) e
Alexis de Tocqueville (1805-1859). Dos escritos de Jefferson observa-se relativa
substancializao da diversidade religiosa, defendendo o mesmo a diferena de
opinies, sendo a razo e a persuaso os nicos instrumentos utilizveis que se
quisesse perquirir uniformidade religiosa, ou seja, tal desiderato jamais poderia ser
perseguido por intermdio do uso da fora.
Alexis de Tocqueville, celebrado como um dos mais proeminentes tericos da
moderna revoluo democrtica (CRAIUTU; JENNINGS, 2009), entender a
liberdade como a ausncia de arbitrariedade, sendo a democracia a coletividade de
indivduos socialmente iguais. Para Tocqueville, a liberdade de religio decorre da
liberdade existente na sociedade humana, no podendo ser algum discriminado ou
receber tratamento diferenciado por parte do Estado ou da sociedade em si em
decorrncia de sua religio.
Ainda na histria norte-americana, outra formulao importante para a
garantia da liberdade religiosa o Estatuto da Liberdade Religiosa da Virgnia, que
teve como incentivadores Madison e Jefferson, tendo sido aprovado pela Assembleia
da Virgnia em 1786, ou seja, um ano antes da promulgao da Constituio dos
Estados Unidos de 1787. Considerando os direitos afirmados no documento como
direitos naturais do gnero humano, sendo considerada violao do direito natural
qualquer ato que atente contra o seu enunciado, o Estatuto traz em sua introduo a
observao de ter Deus criado a mente livre, sendo o domnio sobre a f de outros
homens, uma presuno impiedosa de legisladores e governantes, civis e
Embaixador norte-americano em Paris durante a Revoluo Francesa e Presidente dos Estados
Unidos entre 1801 e 1809, redator da Declarao de Independncia de 1776.
56
66
Os Pais Fundadores dos Estados Unidos, lderes polticos que assinaram a Declarao de
Independncia ou participaram da Revoluo Americana, como tambm aqueles que participaram da
redao da Constituio dos Estados Unidos.
57
67
Assim, a viso crist est relacionada com a fundao do Estado norteamericano, apesar de se instituir ali uma ordem jurdica que preservava a tolerncia
religiosa,58 prolongando a religio civil norte-americana uma velha tradio bblica,
que se plasma na sua estruturao, seja para reivindicar mitos de origem, seja para
qualificar o manifest destiny do povo americano como povo eleito, criador de um
novo mundo, um novo tempo e um homem novo, (CATROGA, 2006, p. 172),
como tambm mostra, a experincia norte-americana, que a liberdade de religio era
fruto do desenvolvimento das liberdades civis, como tambm de uma incipiente
conscincia da necessidade de se separar assuntos civis de assuntos religiosos, o
que evitaria abusos contra as minorias. (BLANCARTE PIMENTEL, 2008).
Este sentimento de separao entre Igreja e Estado no caso norte americano
pode ser visto de acordo com quatro pilares: 1) a doutrina e aes das religies
radicais, as quais questionavam a aliana entre igrejas estabelecidas e Estado,
principalmente levando-se em considerao o nmero considervel de religies
existentes durante o desenvolvimento histrico dos Estados Unidos; 2) o
pragmatismo das religies conservadoras, as quais preferiam a eliminao das
religies estabelecidas preeminncia de quaisquer delas; 3) o desenvolvimento do
desmo, do racionalismo e da religio natural; e 4) a hostilidade, o anticlericalismo
em relao religio.
Aps a Declarao da Virgnia de 1776, a Constituio dos Estados Unidos da
Amrica de 178759, como marco da positivao do princpio da liberdade religiosa,
estando o referido princpio situado especificamente na sua primeira emenda, traz o
seguinte enunciado:
58
Em relao tolerncia, John Rawls (2000), referindo-se cultura americana, salientou ser esta a
caracterstica marcante dessa sociedade, sendo a introduo do muro de separao entre Igrejas e
Estado o fator fundamental para a afirmao e consolidao do respeito pelos direitos fundamentais
do cidado.
59
Em 1620 chega ento Nova Inglaterra o Mayflower, trazendo imigrantes que foram buscar na
Amrica do Norte um local onde houvesse liberdade religiosa. Esses imigrantes fugiram da
intolerncia religiosa das monarquias europias, catlicas e protestantes.
68
EMENDA I
O Congresso no legislar no sentido de estabelecer uma religio, ou
proibindo o livre exerccio dos cultos; ou cerceando a liberdade de palavra,
ou de imprensa, ou o direito do povo de se reunir pacificamente, e de dirigir
60
ao Governo peties para a reparao de seus agravos. (EUA, 2011).
Neste sentido, a expresso foi cunhada por Thomas Jefferson muito tempo
depois, quando Jefferson ainda presidia o Estado norte-americano, com o intuito de
responder a alguns constituintes de Connecticut, constituintes esses de confisso
batista, os quais estavam sendo perseguidos pelos congregacionalistas. Ademais,
ao tempo da aprovao e ratificao das Emendas constitucionais estava Jefferson
na Frana representando os Estados Unidos. Neste sentido, concordo com Adrago
(2002) quando o mesmo afirma no parecer ser possvel atribuir a Jefferson
contribuio fundamental para a redao da Primeira Emenda.
Em relao ao fato de uma sociedade fortemente religiosa como a norteamericana ter instaurado esse muro de separao entre Igrejas e Estado,
expresso cunhada por Thomas Jefferson, como visto, Catroga (2006) salienta que
tais medidas no foram alheias s influncias do pensamento iluminista europeu
dos sculos XVII e XVIII. (CATROGA, 2006, p. 146). Visualizando por outro ngulo,
O texto original em ingls traz: Congress shall make no law respecting an establishment of religion,
or prohibiting the free exercise thereof. Assim, as primeiras dez emendas, as quais ficaram
conhecidas como Bill of Rights foram propostas, em sua verso final, em 25 de setembro de 1789,
tendo sido ratificadas em 15 de dezembro de 1791.
60
69
70
Neste sentido, o poder poltico no pode agir alm dos seus poderes, os quais
so limitados, estando a religio integralmente isenta da cognio da sociedade civil
como tambm do poder poltico. No que se refere ao apoio do poder poltico
religio, o mesmo rechaado de modo absoluto por Madison, por entender destruir
a harmonia e o respeito entre as denominaes religiosas.
Outro expoente Alexis de Tocqueville. O olhar estrangeiro de Tocqueville,
por intermdio de sua obra A Democracia na Amrica (1835),61 destaca o carter
religioso do povo americano, sendo interessante destacar sua observao em
relao necessidade da religio nas democracias, salientando ser essa mais
necessria nas repblicas democrticas do que em quaisquer outras. Assim,
Tocqueville questiona: como seria possvel uma sociedade escapar destruio se
os vnculos morais no fossem fortalecidos na proporo em que os vnculos
polticos so relaxados? Ademais, o que se pode fazer com um povo que seja dono
de si, caso ele no seja submisso Divindade? Neste sentido:
A viso da democracia norte-americana pelo autor francs apresenta assim
contribuies originais. Educado num pas de maioria monoconfessional,
surpreende-se mais com o carter religioso do povo americano do que com
a sua diversidade religiosa; a separao Igreja-Estado que descreve e
defende no , pelos prprios termos com que o faz, uma separao estrita,
mas antes uma separao de jurisdies, um dualismo de mbitos de
sociabilidade. (ADRAGO, 2002, p. 69).
61
71
72
Muitas vezes so os mesmos confundidos com pessoas ligadas a rituais macabros, diablicos,
adoradores de demnios, sendo injustamente ofendidos em sua dignidade humana.
65
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76
77
[...] precisamente la ltima de las dimensiones de su dignidad, su capacidad para elegir libremente
su tica privada. (PECES-BARBA MARTNEZ, 2003, p. 15).
69
Foi isso que esteve em causa quando, no sculo XVI, na cidade espanhola de Valladolid, os
dominicanos Bartolomeu de las Casas e Juan Gins de Seplveda, discutiram entre si a dignidade
dos ndios americanos. Nesse clebre debate, a teologia bblica da dignidade natural de todos os
seres humanos, criados imagem de Deus, triunfou sobre os argumentos aristotlicos, considerados
poca mais racionais, secularizados e cientficos, que viam na escravatura um estado ou
predisposio natural de alguns seres humanos. (MACHADO, 2013, p. 37).
70
Este pensamento iluminista ensejar os ideais da Revoluo Francesa de 1789, marco de
positivao da liberdade religiosa.
68
78
ordem humana social, legando a esse Deus uma realidade secundria. Para Valmor
Bolan (1972), o Iluminismo:
[...] faz remontar suas razes aos sculos intermedirios da Idade Mdia e
Idade Moderna tendo por base o Renascimento e a Reforma Protestante.
Amplia-se com o apoio e a expanso da classe burguesa. Consolida-se
atravs dos pensadores ingleses e, devido s circunstncias histricas
propcias, ganha impulso e desenvolvimento atravs das elaboraes
tericas dos filsofos enciclopedistas e alcana sua efetivao poltica com
a Revoluo Francesa. (BOLAN, 1972, p. 38-39).
79
71
De acordo com Alasdair MacIntyre (1984) sempre que um agente intervm no foro de um debate
pblico, de se supor que j possui, implcita ou explicitamente, em seu prprio interior, o assunto de
que se trata.
80
aquela em que ele deixa para trs seu estado de menoridade, a idade da infncia
em que segurava na mo de outrem para andar; agora ele caminha, sozinho, guiado
apenas por sua razo, apesar de que, muitas pessoas, na realidade, preferem
caminhar, servindo-se no de sua razo, mas de uma razo externa. Deste modo,
Imanuel Kant aquele que vai fundar a moral, talvez pela primeira vez, sem
nenhuma referncia a Deus, nem a algum princpio substancial, por exemplo,
cosmolgico, exterior e superior humanidade, (SCHLEGEL, 2009, p. 31), podendo
afirmar ser a moral fundada puramente sobre princpios humanos, podendo-se dizer
humanistas.
Assim, a autonomia (do grego autos si mesmo, nomos lei) se
contrape heteronomia (heteros = outro; nomos = lei), sendo este um dos
aspectos
defendidos
proclamados
pela
Revoluo
Francesa
de
1789,
impulsionada pelo esprito das Luzes, um ideal otimista em face ideia de fatalidade
embutida na mente do homem, podendo-se tambm afirmar ter sido a Revoluo
Francesa uma luta contra a Igreja, que dominava o iderio francs, e europeu,
durante a Idade Moderna (1453-1789). Em realidade, os revolucionrios franceses
tentaram eliminar todos os corpos sociais intermedirios entre os cidados e o
Estado, dentre eles a Igreja Catlica, a qual era poca a religio majoritria em
territrio francs.
Esta autonomia, como ponto de partida da revoluo operada pelo
pensamento iluminista, possui duplo movimento, negativo e positivo, de liberao
com relao s normas impostas de fora e de construo das novas normas,
escolhidas por ns mesmos. (TODOROV, 2008, p. 49). Para Rousseau, o bom
cidado age segundo as mximas de seu prprio pensamento. Denis Diderot (17131784), em um artigo coetneo da Enciclopdia72, ao descrever o retrato de seu heri
ideal, destaca ser o mesmo um filsofo que ousa pensar por si, pisoteando os
preconceitos, a tradio, a Antiguidade, o consenso universal, a autoridade, no se
submetendo sem discusso a nenhum mestre, preferindo sempre se fundar sobre
uma base que seja acessvel a todos: o testemunho dos sentidos, a capacidade de
Iniciada em 1747 pelo editor parisiense Le Breton, que conseguira para o cargo de redator
dAlembert e Diderot, a Enciclopdia foi lanada gradualmente de 1751 a 1772, apesar da revogao
temporria do seu privilgio real. Abrangendo setenta volumes de 17.818 artigos, a obra exigiu um
corpo de 272 colaboradores. A Enciclopdia incorporava o conhecimento acumulado e as opinies
racionalistas e secularistas do Iluminismo francs, alm de recomendar reformas econmicas, sociais
e polticas. (SEBAN, 2012).
72
81
73
Influncia patente, por exemplo, ao se retirar a culpabilidade daqueles que, por doena mental ou
desenvolvimento mental incompleto no tiverem o necessrio discernimento para a prtica do ato,
isentando-os de pena, mas os sujeitando a medida de segurana, ou seja, no se pode impor uma
pena queles que no tem condies de perceber a ilicitude do ato e no tem condies de se
redimir, penitenciar.
82
harmoniza com a liberdade religiosa. Nestes termos, nota Schlegel (2009) que,
todas as verdadeiras democracias74 instauraram a separao entre a religio e o
Estado, ainda que a realizao histrica e as modalidades concretas dessa
separao difiram muito conforme os pases.
Havendo em todas as democracias modernas a separao entre a religio e o
Estado, desaparece tambm a integrao entre sociedade e religio, falando-se
assim, na secularizao, ou seja, a sociedade secular. No podendo como adverte
Schlegel (2009), confundir secularizao com um mundo ou, cultura, sem Deus.
Estudando as origens do termo secularizao, termo tcnico no mbito do direito
cannico, Giacomo Marramao (1997) salienta haver referncia secularisatio.
Assim:
J a partir dos ltimos decnios do sculo XVI nas disputas cannicas
francesas (particularmente em juristas como Jean Papon e Pierre Grgoire),
porm com um significado completamente diverso: o de um transitus de
regularis a canonicus, ou seja, a passagem de um religioso regular ao
estado secular; ou, de um modo mais geral, [...] de reduo vida laica
de quem recebeu ordens religiosas ou vive segundo regra conceitual.
(MARRAMAO, 1997, p. 17).
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85
primeiro
ato
de
desobedincia
civil
da
histria,
simbolizando
86
Cumpre destacar que Max Weber foi o mentor da noo de diferenciao entre esferas culturais,
institucionais e normativas na modernidade, noo fulcral do conceito de secularizao. (MARIANO,
2011). Weber examinar o conceito focando a anlise exatamente no processo de secularizao da
ordem jurdico-poltica (no sentido da racionalizao, dessacralizao e autonomizao do direito),
processo a partir do qual emerge o Estado moderno como domnio da lei formal, racional e revisvel
e que implica, seno propriamente o disestablishment da religio, a autonomizao recproca dos
poderes temporal e religioso.
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88
89
90
Mais que uma regra que deva ser aplicada num dado caso concreto, a laicidade, como princpio,
norteia a aplicao de todo o ordenamento jurdico, pairando sobre um nmero bastante amplo de
normas e fatos concretos. (CHEHOUD, 2012, p. 15).
91
neutralidade das leis civis frente s normas das leis morais religiosas, impondo a
separao de princpio entre o direito positivo e as ticas normativas religiosas.
A etimologia do termo laico proporciona elementos importantes para seu
conhecimento e clarificao. Neste sentido, de acordo com Fernando Catroga
(2006):
Em grego laos (do radical indo-europeu lei) teve uma origem militar,
contexto em que exprimiria a relao pessoal de um grupo de homens com
um chefe por consentimento mtuo, denotando, portanto, um modo de
organizao tpico das antigas sociedades guerreiras. (CATROGA, 2006, p.
276).
Deste modo, a palavra qualificaria o povo enquanto povo armado, povo este
dirigido por um chefe, no se aplicando seu significado s crianas e aos velhos;
resumidamente: uma comunidade de guerreiros. Todavia, cedo, recebeu o
significado de povo, ou gente do povo. Neste caso, trata-se de indivduos (em
geral homens) no qualificados que se distinguem pela atividade ou circunstncia
ocasional que os agrupa. (CATROGA, 2006, p. 276). Destaco que esta acepo
no se confundia com a de demos, uma conceituao territorial e poltica, que
apontava para uma poro de terra, como tambm para o povo que vivia nesse
local, unidos por uma condio social comum, e no por um elo de parentesco.
Laos distinguia-se, igualmente, de ochlos, que referenciava gente,
massa, plebe, e de ethnos, palavra que no se aplicava somente aos
homens, mas tambm a animais, abelhas (contextos em que demos nunca
surge). Quer isto dizer que ethnos tinha o sentido de grupo de humanos
estritamente vinculados entre si por laos naturais, por uma histria e por
um espao vital comum, abarcando, portanto, vnculos culturais e
civilizacionais. (CATROGA, 2006, p. 277).
Por sua vez, o termo polis exprimia uma realidade poltica, significando uma
comunidade organizada que vivia junta, todavia com uma constituio civil e jurdica,
ou seja, como cidade-estado. Em relao a laos, fato que a palavra ultrapassou
sua primitiva semntica, passando a querer significar que, antes de ser demos e
de se formar como polis, o povo seria laos, base substancial daquelas duas outras
expresses. (CATROGA, 2006, p. 277-8).
As verses gregas do Antigo e do Novo Testamento trazem laos, de modo
disforme, embora, por vrias vezes, significando o novo e o antigo povo de Deus.
92
Neste sentido, o povo de Deus laos por intermdio da eleio da graa de Deus,
e no em decorrncia de suas origens tnicas, naturais ou histricas. Assim:
Laos aparece 141 vezes no Novo Testamento. E se, numa delas,
sinnimo de ochlos, na maior parte dos casos refere-se ao povo judaico.
Todavia, em muitos outros passos verifica-se que este ttulo honorfico ser
o laos de Deus foi transferido para os fiis da Igreja crist. Entre os vrios
ethne, Deus escolheu um laos para ele. De fato, no grego tardio, laos deu
origem a laikos, de onde nasceu a expresso latina laicus e, em portugus,
leigo e laico. (CATROGA, 2006, p. 279).
O termo laikos apareceu, pela primeira vez, no ano de 96 d.C. numa carta
do Papa Clemente (89-97), qualificando um fiel, em oposio a um dicono ou a um
padre. Com o tempo, expresses como irmo leigo aplicam-se a irmo servidor, a
quem eram confiados os trabalhos manuais nos mosteiros, durante a Idade Mdia.
(CATROGA, 2006, p. 279). Consolidando, deste modo, a dicotomia entre os
detentores do poder espiritual e o mundo, num processo em que, dentro da estrutura
da Igreja, fez com que leigo se tornasse equivalente a secular.
De laikos advm o termo laicidade, neologismo francs que surge na
segunda metade do sculo XIX, precisamente no ano de 1871, dentro do contexto
do ideal republicano da liberdade de opinio na qual est inserida a noo de
liberdade religiosa do reconhecimento e aceitao de diferentes confisses
religiosas e da fundao estritamente poltica do Estado contra a monarquia e a
vontade divina. (ORO, 2008, p. 81). Assim, a laicidade reside na separao entre o
poder poltico e o poder religioso, no se excluindo a religio da sociedade, mas
diferenciando o poltico, aquilo que concerne ao homem em comunidade estatal, do
poder poltico, ou seja, ao homem em sua relao com o divino.
Em relao questo, Todorov (2008) destaca que, no incio da histria da
Europa, criou-se o hbito de distinguir entre poder temporal e poder espiritual.
Quando cada um deles dispe da autonomia em seu domnio e se v protegido
contra as intruses do outro, fala-se de uma sociedade laica ou, como se diz
tambm, secular. (TODOROV, 2008, p. 65). Assim:
Poderamos crer que, na parte do mundo marcada pela tradio crist, essa
relao em torno da questo da autonomia j estaria prontamente
organizada, pois o Cristo anunciou que seu reino no era deste mundo, que
a submisso a Deus no interferia em nada na submisso a Csar.
(TODOROV, 2008, p. 65-66).
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79
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96
devem
fracassar
frente
limites
constitucionais
insuperveis.
81
80
importante reprisar, como visto alhures, que laicidade no se confunde com laicismo. O laicismo
distingue-se da laicidade por sua clara inteno de eliminar as formas de vida e pensamento religioso
da cena da vida pblica, no somente naquilo que se relaciona com os assuntos estatais, como
tambm naqueles assuntos relacionados com a vida civil. Trata-se de excluir a religio da vida
cultural no que possui de pblico e comum, para confin-la aos redutos da vida individual.
81
Todas tienen que ser igualmente libres frentes al Estado. Los intentos de cualquier confesin de
adquirir posiciones de privilgio juridicamente protegidas deben fracasar frente a limites
constitucionales insuperables. (CHIASSONI, 2013, p. 19).
97
A Igreja Catlica reagir ao laicismo por intermdio da Encclica Quanta Cura e a Syllabus (1864)
de Pio IX, condenando de forma veemente os denominados erros modernos: o racionalismo, o
laicismo, o liberalismo. Deste modo, medida que fortalecia o anti-clericalismo e o laicismo, a Igreja
reforava e radicalizava suas posturas tradicionalistas.
83
Neste sentido, interessante trazer, mais uma vez, as observaes apontadas por Chiassoni (2013):
em relao ao domnio sobre a vida, o Estado laicista favorvel ao aborto e eutansia. No que se
refere moral sexual, favorvel a outras formas, tidas por muitas sociedades como no-naturais
de famlia, como o casamento de pessoas do mesmo sexo, sendo tambm favorvel fecundao
heterloga e fora do casamento. Em relao investigao cientfica, o Estado laicista favorvel a
investigaes sem limites, promovendo o domnio da tcnica sobre a origem e o destino da pessoa
humana.
98
normalmente
usados
sob
roupa,
ao
contrrio
do
vu,
visvel
99
uma dimenso e relevncia pblica. Alm desse aspecto, o Estado laico sustenta
uma posio que a separao entre Estado e religio somente deve concernir
organizao e gesto dos atos de culto, ou seja, o Estado deve se abster em
regular as formas de ritos e a estrutura das organizaes religiosas, renunciando
tambm imposio a todos os cidados de participao em ritos de uma religio
particular. Nesse sentido:
A laicidade, em oposio ao laicismo, promove a convivncia das religies
sem preferncia por alguma em especfico, regulando o necessrio para
que sejam vividas em liberdade. uma proposta inclusiva e democrtica. O
Estado laico, como gestor do bem comum est muito longe de ser neutro,
pois est a favor dos direitos humanos como a substncia mesma de uma
vida democrtica dentro de uma sociedade altamente plural e diversa.
Nesta lgica, o Estado laico se manifesta clara e inequivocamente a favor
da livre expresso de todas as formas de vida religiosa, dizer, da
liberdade religiosa. Em todo caso, deve assegurar esta liberdade regulando
a convivncia sem limit-la em sua expresso pblica ou privada, sem
intervir na vida interior das igrejas e muito menos na definio das crenas.
(TRASLOSHEROS, 2012, p. 10, traduo nossa84).
La laicidade, en oposicin al laicismo, promueve la convivencia de las religiones sin preferencia por
alguna en especfico, regulando lo necesario para que sean vividas en libertad. Es una propuesta
incluyente y democrtica. El Estado laico, como gestor del bien comn debe estar muy lejos de ser
neutral pues est a favor de los derechos humanos como la sustancia misma de una vida
democrtica dentro de una sociedade altamente plural y diversa. En esta lgica, el Estado laico se
manifesta clara e inequvocamente en favor de la libre expresin de todas las formas de la vida
religiosa, es decir, de la libertad religiosa. En todo caso, debe asegurar esta libertad regulando la
convivencia sin limitarla en su expresin pblica o privada, sin intervenir en la vida interior de las
iglesias y mucho menos en la definicin de las creencias. (TRASLOSHEROS, 2012, p. 10).
84
100
85
Para Jos Ortega y Gasset o liberalismo o princpio de direito pblico segundo o qual o Poder
pblico, mesmo sendo onipotente, se limita a si mesmo e procura, mesmo eventual custa de sua
existncia, deixar lugar no Estado em que ele impera para que possam viver os que nem pensam
nem sentem como ele, isto , da mesma forma que os mais fortes e a maioria. (ORTEGA Y
GASSET, 2007, p. 108).
86
John Gray (1988) ainda afirma que: as teses morais e polticas liberais fundamentaram-se nas
teorias dos direitos naturais do homem. (GRAY, 1988, p. 13).
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pode ser mantida pelo uso opressivo do poder do Estado. Em relao a tal aspecto,
Rawls (2000) frisa que na sociedade da Idade Mdia, mais ou menos unida na
afirmao da f catlica, a Inquisio no foi um acidente; a supresso da heresia
era necessria para preservar aquela f religiosa compartilhada. (RAWLS, 2000, p.
81).
Com o Estado Liberal haver o desenvolvimento dos direitos fundamentais.
Neste sentido, importante destacar uma caracterstica dos direitos fundamentais
no Estado Liberal, que se refere proteo do indivduo em sua autonomia privada
em relao ao Estado, no cuidando este modelo de Estado de direitos coletivos ou
de grupos, mas, como salientado, na preocupao da liberdade do indivduo
singular. Assim, ao se questionar o conceito de liberdade no Estado Liberal de
Direito, apresento a simples definio de Georges Burdeau (1979): liberdade
faculdade presente em todo o homem de agir segundo a sua prpria determinao,
sem ter de suportar outros limites para alm daqueles que so necessrios para a
liberdade dos outros. Para o liberalismo, a liberdade existe em si mesma, verdadeira
faculdade original do homem, intimamente ligada sua natureza, que nada deve s
autoridades sociais, quaisquer que sejam elas, ou seja, a liberdade no foi criada,
ela existe em si mesma.
Observo a questo paradoxal do liberalismo continental europeu, naquilo que
se refere temtica da liberdade religiosa: o fato de ter o mesmo se transformado
em ideologia negadora da liberdade religiosa. Com razes filosficas, o contraste
pode-se situar nos postulados do iluminismo, resumindo sua tese fundamental em
considerar a luz da razo como nica fonte de conhecimento, o que levava a rejeitar
toda a autoridade, fosse eclesistica ou poltica, que se no pudesse justificar
perante o senso comum do pensador individual. (ADRAGO, 2002, p. 75). Mais
uma vez, destaco a referncia ao ambiente de combate Igreja existente durante a
Revoluo e em momentos anteriores e posteriores.
O individualismo liberal ocasiona uma atitude fundamental de rejeio de
qualquer autoridade ou conhecimento que no fossem julgados criticamente pelo
prprio indivduo, o que resultar o princpio da razo independente e,
consequentemente, a oposio ao ensino de verdades tidas por objetivas, absolutas.
Neste sentido:
104
105
106
107
108
poderiam
dissociar
seus
valores
dos
postulados
democrticos,
medieval,
porm,
discordando
que
tais
conceitos
se
emanciparam
109
110
111
prxima
seo
analisarei
liberdade
religiosa
na
histria
do
99,72% da populao livre como adeptos do catolicismo, caindo a taxas aceleradas nos anos de
1980 a 1990, respectivamente a taxas de 05, e 1 ponto percentual por ano, reduzindo-se de 89% em
1991 e depois para 73,6% em 2000. No ano de 2009, o percentual de catlicos era de 68,43%,
correspondendo a 130 milhes de brasileiros, por sua vez, no ano de 2010, o percentual caiu para
64,6%. Em relao populao que se declarara sem religio, os dados do IBGE de 2000 indicam
quase 12,5 milhes de pessoas, ou seja, 7,3% da populao, ultrapassando os 15 milhes em 2010,
ou seja, 8,0% da populao. Os evanglicos representam o segmento religioso que mais cresceu no
Brasil nos ltimos anos. Em 2000, eles representavam 15,4% da populao, chegando, em 2010, a
22,2%, ou seja, um aumento de cerca de 16 milhes de pessoas (de 26,2 milhes para 42,3 milhes).
No ano de 1991, este percentual era de 9,0%, por sua vez em 1980, 6,6%. Em sntese, esses
indicadores mostram a modificao no mapa da religiosidade brasileira, com aumento de
evanglicos, como tambm de agnsticos e ateus e diminuio do nmero de catlicos.
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O Ratio Studiorum consistia num conjunto de normas criado para regulamentar o ensino nos
colgios jesuticos. Com sua primeira edio datada de 1599, alm de sustentar a educao jesutica
era considerada norma geral de toda a Companhia de Jesus. Sua finalidade era ordenar as
atividades, funes e os mtodos de avaliao nas escolas jesuticas.
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para que a mesma fizesse a escolha e nomeasse um dos indicados. Para manter as
guerras em defesa dos Estados pontifcios, a Igreja necessitava do apoio material
dos Estados, fazendo, deste modo, com que os papas aceitassem a ingerncia
temporal nos assuntos espirituais, ou seja, nos dizeres de Scampini (1978), uma
forma de compensao. Deste modo, o Padroado, de uma simples concesso da
Santa S se transformou em tutela permanente do direito majesttico exercido pelos
reis (SCAMPINI, 1978, p. 24), sendo esse direito exercido desde o ano de 1455,
quando por intermdio da bula Inter Coetera, o papa Calisto III, conferiu com toda
a jurisdio ordinria, domnio e poder in spiritualibus, com faculdade de conceder
todos os benefcios com cura e sem cura de almas, (SCAMPINI, 1978, p. 24), o que
demonstra o poder da Igreja Catlica, certamente a mais poderosa instituio do
perodo medieval, seja econmica como politicamente. Por sua vez, em 1551, o
Papa Jlio III, alm de confirmar tais poderes, os ampliou, provendo-os, in
temporalibus, como tambm in spiritualibus. De acordo com Scampini (1978):
A Constituio do Imprio reivindicava para si a faculdade conferida ao
imperador pelo Governo Pontifcio (Pontificis concessio) de apresentao de
clrigos para benefcios eclesisticos. Esse poder era conferido pelo papa
aos reis em sua qualidade de gro-mestres das Ordens Militares. E se em
tempos anteriores independncia do Brasil durante a monarquia existia, e
a respeito deste se exercia o gro-mestrado, com a Constituio do Imprio
cessou essa situao e com ela a concesso pontifcia.
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Aliado a esse fator, o clima de liberdade que pairava no Pas motivar a ideia
de liberdade, inclusive religiosa. Deste modo, a unio Estado/Igreja incomodar uma
considervel parcela da populao brasileira, sendo de se ressaltar a influncia da
Maonaria no panorama de luta entre Igreja e Estado, participando de passagens
fundamentais da relao Estado/Igreja no Brasil, como exemplo, a Questo
Religiosa, de 1873, (tambm chamada de Questo dos Bispos), quando ento,
capitaneados por Dom Vital, bispo de Olinda e Dom Macedo Costa, de Belm do
Par, reivindica o clero e suas respectivas ideias, um espao no cenrio brasileiro.
No episdio da Questo Religiosa,97 os referidos bispos puniram sacerdotes e
Ordens Terceiras, adeptos da maonaria que, acusados de desobedincia civil,
foram condenados priso. A Questo Religiosa, uma das causas da proclamao
da Repblica, foi um dos acontecimentos de maior repercusso social na histria
brasileira, tendo assumido propores de guerra civil.98
Dom Vital, ento bispo de Olinda e Recife, escreve no dia 2 de fevereiro de
1872, uma Pastoral fulminando a maonaria e a doutrina do placet rgio, iniciando,
deste modo, a crise que abalou a relao dos poderes civil e eclesistico. Depois de
citar vrias bulas pontifcias que condenam a maonaria, o bispo passa a examinar a
doutrina do placet, declarando-a hertica, pelos numerosos antemas pontifcios,
(SCAMPINI, 1978, p. 45), concluindo que o poder civil no poderia intervir de modo
contrrio s decises eclesisticas. O Syllabus, lembrava Dom Vital, condenava
todos aqueles que negassem aos padres o direito de fazerem julgar suas causas
civis e criminais por juzes e tribunais eclesisticos.
[...] Nesse episdio, o que ficou claro foi o conflito de poder entre a
hierarquia da Igreja e o Estado, em que o regalismo prevaleceu. As
posies assumidas serviram para definir, de um lado, um Estado cada vez
mais galicano, liberal e anticlerical e, de outro, uma Igreja que, segundo
parece, abandonava o enfrentamento com o Estado ao mesmo tempo em
que tomava medidas de autofortalecimento interno. (MENDONA, 2003, p.
148).
Originou-se o grave conflito do ato de D. Pedro Maria de Lacerda, bispo do Rio de Janeiro,
privando do uso de ordens ao Padre Almeida Martins, que numa homenagem manica ao Visconde
do Rio Branco, Gro-Mestre do Grande Oriente, fizera o discurso oficial por motivo da lei de 28 de
setembro, denominada de ventre livre. Em represlia, a Maonaria iniciou terrvel campanha contra a
Igreja, certa de que a posio de seu Gro-Mestre na chefia do governo lhe daria a palma da vitria.
(SCAMPINI, 1978, p. 45).
98
Joo Dornas Filho (1938) afirma ter sido a Questo Religiosa o acontecimento de maior
repercusso na histria brasileira, tendo empolgado a populao com mais intensidade do que a
prpria abolio da escravatura, tendo assumido a luta propores de guerra civil.
97
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alguma
religio,
ou
vedando-a,
como
tambm
proibindo
O cisma de Feij caracterizou-se como um embate entre Igreja e Estado em torno da questo do
celibato do clero e do reconhecimento Santa S do bispo do Rio de Janeiro, Padre Antnio Maria de
Moura. Esse sacerdote, com Feij e outros deputados, havia assinado uns projetos que, se no
fossem os obstculos opostos pela Cria Romana nomeao de Moura para o bispado do Rio de
Janeiro e o esprito de intransigncia que sempre acompanhou o poder civil em relao Igreja,
teriam morrido naturalmente sem deixar vestgios no esprito arraigadamente catlico dos brasileiros.
Feij, desde o ano de 1822, combatia a abolio do celibato clerical, objetivando a tolerncia do
matrimnio dos clrigos limitada s primeiras npcias. (SCAMPINI, 1974, p. 98).
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gratuita. O casamento civil foi criado no Brasil por intermdio do Decreto n. 181 de
24 de janeiro de 1890, cujo pargrafo primeiro do artigo 180 permitia a celebrao
das cerimnias religiosas antes ou depois do ato civil. Por sua vez, o Decreto n.
521, de 26 de junho de 1890, determinou que o casamento civil precedesse sempre
s cerimnias religiosas sob pena de seis meses de priso cumulada com multa ao
celebrante do ato religioso.
O Cdigo Penal, de 11 de outubro de 1890, tratar a questo nos mesmos
moldes, determinado a punio para aquele que no observar o procedimento,
conforme previsto no artigo 284.102 Questo interessante tambm, j abordada,
refere-se secularizao dos cemitrios no texto constitucional de 1891, discutida
por Rui Barbosa durante o Governo Provisrio e resolvida por intermdio da
consequncia do incipiente desenvolvimento do princpio da liberdade religiosa,
tendo em vista no se limitar, a religio, somente aos vivos, estendendo-se aos
mortos e seus familiares o direito de cerimnia fnebre de acordo com a diversidade
de opes religiosas.
Em relao ao ensino, previu o pargrafo sexto do artigo 72 a laicidade nos
estabelecimentos pblicos. Jos Scampini (1974), ao abordar o ensino laico na
Constituio de 1891, apresenta justificativa plausvel: os cidados, pagando o
imposto, contribuem para a manuteno das escolas e que, podendo cada um
adotar e seguir uma religio diferente, no justo a Repblica ministrar um ensino
de que s poderiam aproveitar aqueles que pertencessem religio preferida.
Leon Duguit (1859-1928) distingue na liberdade de ensino duas questes: o
direito de ensinar e o direito de aprender, questes complexas, mas que no podem
ultrapassar a simplicidade da regra: o ensino leigo no pode deixar de ser, onde no
h uma religio oficial, ficando a liberdade de culto prejudicada com o
reconhecimento do ensino religioso. A doutrina religiosa salienta que o ensino
religioso no pode ser proscrito das escolas pblicas de Estados com religio
predominantemente aceita e professada por todos, como a opinio de Jos
Scampini (1974). Acontece que, mesmo nos Estados de religio predominante fere
os direitos fundamentais a prtica de um ensino religioso, isto pelo fato de, no caso
concreto, ser impossvel um Estado onde haja unanimidade de adeptos de uma
102
Art. 284. Celebrar o ministro de qualquer confisso as cerimnias religiosas do casamento, antes
do ato civil: Penas de priso celular por um a seis meses e multa de 100$ a 500$000. (BRASIL,
2013).
134
determinada religio, sempre havendo algum adepto de outra religio. Outro ponto
refere-se subjetividade da liberdade religiosa, sendo possvel visualizar prticas
religiosas que no condizem com a conscincia do indivduo, fazendo com que,
muitas vezes, indivduos consintam com uma prtica religiosa apenas para se
sentirem inseridos no meio em que vivem ou convivem.
A
expresso
estabelecimentos
pblicos
da
Constituio
exclui
deputado
Alexandre
Barbosa
Lima
(1897-2000)
questionar
103
7 - Nenhum culto ou igreja gozar de subveno oficial, nem ter relaes de dependncia ou
aliana com o Governo da Unio ou dos Estados. (BRASIL, 2013).
135
Com Constituio prpria (2001) o atual Estado do Vaticano possui servios prprios de um pas
independente, tais como central telegrfica, rede ferroviria, um corpo de vigilncia, selos e moeda
metlica prprios.
136
137
Criminalmente a questo foi tratada, conforme salientado, pelo Cdigo Penal de 11 de outubro de
1890, prescrevendo o artigo 284 uma punio em caso de violao do preceito.
107
importante lembrar que, ao lado dos avanos da Constituio de 1934, h tambm seus
retrocessos, sendo a restrio ao direito de votos aos religiosos um desses exemplos.
138
108
Art 17 - vedado Unio, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios: [...] II - estabelecer,
subvencionar ou embaraar o exerccio de cultos religiosos; III - ter relao de aliana ou
dependncia com qualquer culto, ou igreja sem prejuzo da colaborao recproca em prol do
interesse coletivo [...] (BRASIL, 2013).
109
Art 113 - A Constituio assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no Pas a
inviolabilidade dos direitos concernentes liberdade, subsistncia, segurana individual e
propriedade, nos termos seguintes: [...] 5) inviolvel a liberdade de conscincia e de crena e
garantido o livre exerccio dos cultos religiosos, desde que no contravenham ordem pblica e aos
bons costumes. As associaes religiosas adquirem personalidade jurdica nos termos da lei civil.
(BRASIL, 2013).
139
Alceu Amoroso Lima, militante catlico, definiu o movimento revolucionrio como obra da
Constituio sem Deus, da escola sem Deus, da famlia sem Deus. Posteriormente, clamar os
catlicos luta pela incorporao de suas reivindicaes no futuro estatuto poltico do pas.
(OLIVEIRA, 2004).
111
O "Manifesto dos Pioneiros da Educao Nova" consolidava a viso de um segmento da elite
intelectual que, embora com diferentes posies ideolgicas, vislumbrava a possibilidade de interferir
na organizao da sociedade brasileira do ponto de vista da educao. Redigido por Fernando de
Azevedo, o texto foi assinado por 26 intelectuais, entre os quais Ansio Teixeira, Afrnio Peixoto,
Loureno Filho, Roquette Pinto, Delgado de Carvalho, Hermes Lima e Ceclia Meireles. Ao ser
lanado, em meio ao processo de reordenao poltica resultante da Revoluo de 30, o documento
se tornou o marco inaugural do projeto de renovao educacional do pas. Alm de constatar a
desorganizao do aparelho escolar, propunha que o Estado organizasse um plano geral de
educao e defendia a bandeira de uma escola nica, pblica, laica, obrigatria e gratuita. O
movimento reformador foi alvo da crtica forte e continuada da Igreja Catlica, que naquela conjuntura
era forte concorrente do Estado na expectativa de educar a populao, e tinha sob seu controle a
propriedade e a orientao de parcela expressiva das escolas da rede privada. (BOMENY, 2014).
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104). Para Jos Afonso da Silva (2002) a emenda s serviu como mecanismo de
outorga, uma vez que verdadeiramente promulgou texto totalmente reformulado.
Importante frisar o fato de que, controvrsias parte em relao natureza
jurdica da Emenda Constitucional de 1969, a mesma manteve previses da Carta
Constitucional de 1967, apenas realizando ajustes de textos e renumerao de
artigos.
Em nvel legislativo, foi elaborada a Lei 5.692 de 1971, fixando Diretrizes e
Bases para o ensino de 1 e 2 graus, prevendo no pargrafo nico de seu artigo 7
que o ER, de matrcula facultativa, constituir disciplina dos horrios normais dos
estabelecimentos de 1 e 2 graus. (BRASIL, 2014b). A Lei 5.692 foi
posteriormente revogada pela Lei 9.394 de 1996, atual Lei de Diretrizes e Bases da
Educao Nacional.
Aps vinte e um anos de Governo Militar autoritrio, especificamente em
1985, a democracia ser reinstaurada no Brasil: oficialmente o fim do Regime
Militar. Dentre as consequncias e necessidades prximas da nova ordem, est a
elaborao de uma nova Constituio, que deve ser democrtica, promulgada,
representando os anseios de uma sociedade em transformao.
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da
Constituio
que
mais
claramente
expressam
convices
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mensagem trazida pelo smbolo pode ser visualizada por outros matizes, como
exemplo, a possibilidade de se transmitir a um fiel de outra religio que o Estado
sustenta a religio estampada no smbolo, pois est ostensivamente afixado, o que
pode gerar sentimento de desprestgio ou de deslocamento social, principalmente
em se tratando de uma sociedade com democracia e argumentao incipiente, como
a brasileira, onde as foras de poder so visveis ou muitas vezes implcitas nas
imagens, nos gestos, nas decises polticas. Daniel Sarmento (2008) compartilha
este entendimento:
A questo posta em debate [a presena dos crucifixos nos Tribunais] no
ftil, j que no versa sobre a melhor forma de se decorar certos ambientes
formais do Poder Judicirio, mas sim sobre o modelo de relao entre o
Estado e religio mais compatvel com o iderio republicano, democrtico e
inclusivo, adotado pela Constituio de 88. Trata-se, em suma, de uma
questo de princpios, e no de uma discusso sobre meras preferncias
estticas. (SARMENTO, 2008, p. 196).
foram
150
O inciso VII do artigo 5 traz: assegurada, nos termos da lei, a prestao de assistncia religiosa
nas entidades civis e militares de internao coletiva, (BRASIL, 2011), sendo o servio de
assistncia religiosa nas entidades militares regulado pela Lei n. 6.923 de 1981, determinando o
artigo 4 da referida lei que o servio ser exercido por capeles militares, selecionados entre
sacerdotes, ministros religiosos ou pastores, pertencentes a qualquer religio que no atente contra a
disciplina, a moral e as leis em vigor. A prestao de assistncia religiosa nas entidades hospitalares
pblica e privadas, bem como nos estabelecimentos prisionais civis e militares est regulamentada
pela Lei n. 9.982 de 2000, que menos rigorosa do que a lei que regulamenta a assistncia religiosa
em entidades militares, estabelecendo o artigo primeiro ser assegurado aos religiosos de todas as
confisses o acesso aos hospitais da rede pblica ou privada, bem como aos estabelecimentos
prisionais civis ou militares, para dar atendimento religioso aos internados, desde que em comum
acordo com estes, ou com seus familiares no caso de doentes que j no mais estejam no gozo de
suas faculdades mentais. Uma questo fundamental deve ser suscitada em relao s duas leis: na
lei militar est prevista a garantia de carreira e remunerao aos prestadores de assistncia,
enquanto que na lei relativa a civis est prevista somente a possibilidade de prestao de servio de
assistncia religiosa, no havendo garantia de carreira nem remunerao, ou seja, o servio ser
voluntrio, podendo-se questionar uma interveno no direito igualdade em face de um claro
tratamento desigual entre a classe de religiosos e assistidos que prestaro e recebero a assistncia
nas entidades militares e a classe daqueles que a prestaro e a recebero nas entidades civis e
prisionais. (MARTINS, 2008, p. 45).
151
Lei n. 9.982 de 2000, que assegura o acesso dos religiosos a esses locais, optando
o legislador pelo modelo de livre acesso que coaduna com o princpio da laicidade
estatal, garantindo a liberdade religiosa.
Ainda o mesmo artigo 5 traz em seu inciso VIII que ningum ser privado de
direitos por motivo de crena religiosa ou de convico filosfica ou poltica, salvo se
as invocar para eximir-se de obrigao legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
prestao alternativa, fixada em lei. (BRASL, 2011c).
Os dois ltimos incisos citados (incisos VII e VIII) no se harmonizam
diretamente com a discusso sobre a liberdade religiosa aqui plasmada, tendo o
citado inciso VI maior interesse, tendo em vista estar compreendido no mesmo os
elementos sustentadores da liberdade religiosa: liberdade de conscincia e de
crena. Estes dois elementos foram citados por James Madison (1751-1836),
quando da elaborao da Constituio estadunidense de 1787, o qual salientou que
a religio de todo homem deveria ser deixada a cargo da convico e conscincia de
cada homem, sendo direito de todo homem, tambm, exerc-la da maneira que lhe
fosse conveniente.
Neste sentido, as liberdades de conscincia e de crena dirigem-se, num
primeiro momento, contra o Estado,121 o qual no pode impor uma religio oficial ou
crena aos seus cidados, entendendo-se aqui cidado no como somente as
pessoas que possuem direitos polticos, capacidade poltica e/ou ativa, mas sim
todos aqueles que vivem num determinado Estado, ou seja, um conceito
sociolgico.122
Ressalto que, na CRFB/88 no aparece a expresso liberdade religiosa,
sendo a expresso consagrada pelo tempo.123 Neste sentido:
Existe, portanto, uma multiplicidade de direitos relacionados com a
expresso liberdade religiosa que protege tanto crentes quanto
descrentes. Tais direitos so universais, indivisveis, interdependentes e
interrelacionados, assim como todos os demais direitos humanos, conforme
a Declarao de Viena de 1993. (MAZZUOLI, SORIANO, 2009, p. 28).
121
De acordo com Dimitri Dimoulis e Leonardo Martins (2007) o fim principal dos direitos
fundamentais conferir aos indivduos uma posio jurdica de direito subjetivo, em sua maioria de
natureza material, como tambm vezes de natureza processual e, consequentemente, limitar a
liberdade de atuao dos rgos do Estado.
122
Considerando o conceito de cidadania elaborado por T. H. Marshall (1967), sendo esse conceito
dividido em trs partes: cidadania civil, cidadania poltica e cidadania social.
123
Tendo sido Tertuliano (160-220) o primeiro jurista a empreg-la, isto no segundo sculo da era
crist.
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154
125
Qual a importncia do ensino religioso para o Constituinte? Qual a funo do ensino religioso
numa sociedade laica e secularizada? Qual o seu modo de oferta? Assim, quais foram fundamentos
abordados pelos constituintes para a positivao do ensino religioso na Constituio? Qual a
identidade do sujeito constitucional em relao ao ensino religioso? [...] fere o princpio da liberdade
religiosa e, consequentemente, da laicidade estatal, a oferta do ensino religioso pelo Estado? Seria o
ensino religioso mecanismo de continuidade e dominao estatal? (P. 20).
155
Poder constituyente refiere tanto a la facultad o potencia para establecer y alterar la constitucin
(poder-funcin), como a quin lo hace (poder-persona). (SGES, 2007, p. 65).
127
Historicamente, o primeiro conceito de Poder Constituinte o Racional-Ideal, trazido para a teoria
constitucional por Emmanuel Sieys (1748-1836), nome relacionado ao desenvolvimento do
constitucionalismo liberal, para quem, o Poder Constituinte inicial, originrio, extraordinrio,
supremo, direto, inalienvel, incontrolvel, imprescritvel. A teoria de Sieys aparece, ressalta Jorge
Reinaldo Vanossi (2000), justamente com a ecloso da terceira das grandes revolues que daro
nascimento ao Estado constitucional moderno (chamado de liberal-burgus, s vezes,
pejorativamente), a Revoluo Inglesa (1688), Revoluo Americana (1776) e Revoluo Francesa
(1789). Dentro desse perodo assiste-se ao suplantar do Estado Absolutista, com o desenvolvimento
do Estado Liberal, possuindo esse Estado funes limitadas, sendo o homem anterior e superior ao
mesmo. O homem est, ento, em posio de liberdade acima e anterior ao Estado, sendo sua
liberdade anterior a toda criao reguladora estatal. Esse postulado fundamental para a construo
de uma sociedade livre, que deve se limitar a proteger essa liberdade preexistente. Historicamente, o
Poder Constituinte Originrio representa a irrupo de fato anormal no funcionamento das instituies
estatais. Esse aparecimento est associado a um processo mais violento, de natureza revolucionria,
ou a uma deciso do alto, geralmente materializada no golpe de Estado, a revoluo como
fenmeno que subverte a estrutura estatal e social. O processo constituinte americano, o primeiro do
126
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qual se tem notcia na Histria, no foi um processo constituinte como hoje se conhece. De acordo
com Trcio Sampaio Ferraz Jnior (1985) no houve propriamente uma eleio para a Assembleia
Constituinte. A Constituinte foi fruto [...] de um consenso obtido atravs de uma liderana de fato, que
era a liderana dos revolucionrios. No houve uma consulta prvia ao povo em geral. (FERRAZ
JNIOR, 1985, p. 37).
128
Pero si bien a travs de un enfoque jurdico positivista el poder constituyente originario no tiene
lmites, la solucin vara si se aplica un enfoque jusnaturalista. Conforme a este ltimo enfoque, el
poder constituyente originario no tiene lmites de derecho positivo, pero est sujeto a las restricciones
emanadas del derecho natural. Ninguna ley positiva puede limitar el poder constituyente originrio
estableciendo la forma y alcances del acto fundacional de una sociedad poltica. Sin embargo, la
libertad, la dignidad, la justicia y otros valores absolutos provenientes del derecho natural estn por
encima del poder constituyente originario, estableciendo un limite para su desenvolvimiento
discrecional. (BADENI, 2006, p. 197).
157
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A Constituio brasileira de 1988 contava, originalmente, com 245 artigos acrescidos de outros 70
presentes no Ato das Disposies Constitucionais Transitrias ADCT.
130
Como destaca Daniel Sarmento (2009): [...] o seu tamanho s vem aumentando desde ento, pela
incluso de novos dispositivos no seu texto, atravs de sucessivas emendas constitucionais. Tratase, portanto, de uma Constituio longa e analtica, no apenas por incorporar ao seu texto um amplo
elenco de matrias, como tambm por descer, em muitas delas, a um grau de detalhamento incomum
em sede constitucional. (SARMENTO, 2009, p. 28).
158
do
VI
Congresso
do
Partido
Comunista
Brasileiro
(1967),
159
160
defesa
por
parte
da
bancada
crist
durante
ANC,
da
No que se refere sua estruturao, a ANC era composta por 559 membros, sendo 487
deputados federais, todos eleitos no pleito de 1986, e 72 senadores, sendo 49 desses eleitos em
1986 e 23 binicos, ou seja, eleitos de modo indireto nas eleies de 1982. Em relao
distribuio partidria, a Constituinte tinha em seus quadros a seguinte representao: 306
constituintes do PMDB, sendo 260 deputados, 38 senadores eleitos em 1986 e 8 senadores eleitos
em 1982; 132 constituintes do Partido da Frente Liberal PFL, sendo 118 deputados, 7 senadores
eleitos em 1986 e 7 senadores eleitos em 1982; 38 constituintes do Partido Democrtico Social
PDS, sendo 33 deputados, 2 senadores eleitos em 1986 e 3 senadores eleitos em 1982; 26
constituintes do Partido Democrtico Trabalhista PDT, sendo 24 deputados, 1 senador eleito em
1986 e 1 senador eleito em 1982; 18 constituintes do Partido Trabalhista Brasileiro PTB, sendo 17
deputados e 1 senador eleito em 1982; 16 constituintes do PT, sendo todos deputados; 7
constituintes do Partido Liberal PL, sendo 6 deputados e 1 senador eleito em 1982; 6 constituintes
do Partido Democrata Cristo PDC, sendo 5 deputados e 1 senador eleito em 1982; 3 constituintes
do Partido Comunista Brasileiro PCB, sendo todos deputados; 3 constituintes do Partido Comunista
do Brasil PC do B, sendo todos deputados; 2 constituintes do Partido Socialista Brasileiro PSB,
sendo 1 deputado e 1 senador eleito em 1982; 1 constituinte (deputado) do Partido Social Cristo
PSC; e 1 constituinte (senador eleito em 1986) do Partido do Militar Brasileiro PMB. Em relao
composio ideolgica da Constituinte, os dados percentuais so os seguintes: 50 membros de
parlamentares que se definiam como de esquerda, totalizando um percentual de 9% dos membros da
ANC; 129 parlamentares de centro-esquerda, totalizando 23% do total de membros; 179
parlamentares de centro, num percentual de 32%; 134 parlamentares de centro-direita, num
percentual de 24%; e 67 parlamentares de direita, num percentual de 12%. Por sua vez, no que se
refere representao regional, observo que havia distoro em favor dos Estados menos populosos
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fundamentais
do
primeiro
substitutivo,
como
tambm
regime
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168
140
Os Estados de Santa Catarina e Minas Gerais foram pioneiros na mudana do modelo catequtico
que vigorava at ento. Nesse sentido, no ano de 1970 a Secretaria de Educao e Cultura do
Estado de Santa Catarina oficializaria um programa de Educao Religiosa para o ciclo bsico, de
carter ecumnico, coadunando ensino com as realidades do Estado catarinense. Em Minas Gerais,
no ano de 1973, a Delegacia Regional de Ensino da cidade de So Joo Del Rei introduziu um
modelo de ensino religioso que visava educar para a religiosidade, estimulando uma abertura para o
desenvolvimento da solidariedade com aqueles que sofrem, estimulando os valores cristos.
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173
numa afinidade existente entre Estado e Igreja no diagnstico dos males sociais de
ento, os quais eram imputados pela Igreja ao liberalismo. Interessante trazer
discusso a observao de Maria Amlia Schmidt Dickie (2008):
Mesmo as constituies tendo garantido espao para o ensino religioso, as
leis menores, no Brasil conhecidas por Lei de Diretrizes e Bases para a
Educao, isentavam o Estado do pagamento dos professores. Em 1960, a
lei dizia claramente que alm de ter de criar turmas de acordo com as
confisses religiosas dos alunos, nada mais era responsabilidade da Escola
Pblica e, portanto, do Estado. Ao definir os limites da responsabilidade do
Estado pelo ensino religioso, a lei permitiu que ele se realizasse de acordo
com o interesse das Igrejas. A elas cabia a iniciativa de implement-lo nas
escolas pblicas (por definio, no confessionais), assumindo elas a
responsabilidade pelos contedos e pela escolha dos professores. Neste
mbito, a hegemonia da Igreja Catlica fez-se sentir. (DICKIE, 2008).
174
Antnio Jesus Dias, radialista, professor, ministro evanglico, psiclogo e lder sindical.
Em relao especfica problemtica da Bblia nos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte
destaco o trabalho de Douglas Antnio Rocha Pinheiro, intitulado Direito, estado e religio: a
constituinte de 1987/1988 e a (re)construo da identidade religiosa do sujeito constitucional
brasileiro. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2008.
146
175
147
Douglas Antnio Rocha Pinheiro (2008) cita outra passagem do deputado constituinte Antnio de
Jesus (PMDB/GO), quando afirma que a verdadeira democracia, antes de democracia, uma
teocracia divina. (DANC, 1987).
176
177
178
179
educacionais
estatais
institu-la,
mesmo
utilizando-se
de
argumentos de recuperao.
Durante a 15 Reunio Ordinria da Subcomisso, realizada no dia 12 de
maio de 1987, foram apresentados os nmeros relativos s sugestes elaboradas
pela populao, relativas Famlia ao Menor e ao Idoso, as quais foram recebidas
pela Subcomisso. Deste modo, interessante apresentar os dados relativos ao
tema objeto da pesquisa. Assim:
2.2.11 O tema "Educao de Base" (80 documentos) demonstra
acentuada tendncia para as sugestes, generalizadas, que apenas se
referem educao de base, sem detalhar as intenes. Entretanto, em
alguns casos, foi possvel verificar uma inclinao para e exigncia da
alfabetizao, de obrigatoriedade do ensino primrio; de ensino gratuito; de
criao de creches; de ensino religioso nas escolas; de trabalho para o
preso, na cadeia; de merenda escolar.
[...]
2.2.15 Em 1.325 documentos, a populao preconiza a assistncia ao
"Menor Carente", apresentando as seguintes sugestes: assistncia
especial ao menor carente e ao abandonado, mediante a melhoria de suas
condies de sade, educao, alimentao e lazer; melhoria da qualidade
do ensino; construo de escolas profissionalizantes; reduo do limite de
idade do menor para fins de responsabilidade penal; repdio ao aborto;
gratuidade do ensino; restabelecimento da censura s emissoras de rdio e
televiso, para coibir a promoo da pornografia e da violncia; facilidade
para a adoo de menores; ensino religioso nas escolas; reformulao dos
mtodos empregados pela FUNABEM e pelas FEBEM para recuperao do
menor delinquente. (ANC, 1987, p. 221, grifos nossos).
180
181
182
183
184
185
158
Em relao questo do contedo dos livros didticos da disciplina Ensino Religioso, vide DINIZ,
Dbora; LIONO, Tatiana; CARRIO, Vanessa. Laicidade e ensino religioso no Brasil. Braslia:
UNESCO, Letras Livres, 2010.
186
com os de Luiz Antnio Cunha, destaca que a escola est atenta educao do
esprito, objetivando formar o ser humano em seu sentido integral. Porm:
Colocarmos a educao religiosa como uma matria curricular, como uma
disciplina na escola de 1 e de 2 graus, surge, a partir dessa proposta uma
srie de problemas. Para enumerar alguns, em primeiro lugar, a educao
do esprito, o prprio sentido religioso, como afirmou o Luiz Antnio,
acontece pelo testemunho e acontece na aula de Portugus, de
Matemtica, de Histria, de Geografia e de Educao Fsica; ali se ensinam
os princpios da solidariedade, da dignidade humana, da convivncia e
assim por diante. (DANC, 1987).
187
A criao da AEC objetivou reunir o conjunto dos educadores catlicos (mantenedoras, direes
escolares, professores), preparando-o para os debates e disputas polticas previsveis no perodo
democrtico que se afirmava com a crise da ditadura do Estado Novo (1937-1945) e a consequente
possibilidade de perda das garantias e privilgios que o Estado at ento assegurava s instituies
educacionais catlicas.
188
189
190
191
192
193
194
acerca
das
emendas
supracitadas.
Inicialmente,
documento
Orlando Pacheco justificar em sua proposta de emenda: E para esta Nao que nasceu aos ps
da Cruz de Cristo, nada melhor do que continuar aprendendo diretamente do maior best-seller de
todos os tempos a Bblia Sagrada.
195
196
sobremaneira
os
constituintes.
Neste
debate
foram
colocados
162
197
Dutra afirma atentar o ensino religioso contra o Estado laico, devendo ser
oferecido somente em instituies particulares ou confessionais, posicionamento
que entendemos coadunar com o Estado Democrtico de Direito.
Imediatamente aps as colocaes de Olvio Dutra, o constituinte mineiro
Jos
Mendona
de
Morais
apresentou
seu aparte
em
relao
ao seu
Constituinte da bancada do Rio Grande do Sul. poca da Constituinte era deputado pelo PT.
198
199
200
pblicas. (ANC, 1987). Na mesma data, Tadeu Frana (PMDB) apresentou emenda
ao pargrafo nico: O ensino religioso, sem distino de credo constituir disciplina
de matrcula facultativa. (ANC, 1987).167
Osvaldo Bender (PDS) apresentar, tambm no dia 9 de junho, sua proposta,
na qual constava: Pargrafo nico o ensino religioso, sem distino de credo, se
constituir disciplina obrigatria. (ANC, 1987). Interessante sua justificativa:
temos a certeza da aprovao da presente emenda, tendo em vista que todos aqui
concordam que s a formao crist evitar um mundo co, selvagem, habitado por
gente sem f e sem Deus, onde prevalece a lei do mais forte, do mais cruel. (ANC,
1987). Como ressaltado, no a religio que postula justia e respeito na
sociedade, mas sim a tica. Afirmar que pessoas sem Deus constituem mundo
selvagem , no mnimo, discurso preconceituoso e antidemocrtico. Se a religio
fosse meio hbil promoo da paz, do respeito, no haveria guerras religiosas, no
teria existido o Tribunal da Santa Inquisio. Em verdade, a religio, em vrios
aspectos, gera separao, discrdia, isso a histria mostra. Ademais, valores ticos
no so sopesados por filiao religiosa. Em outro lugar, Bender salienta: s
teremos um mundo mais justo, com menor criminalidade, se tivermos um povo com
conscincia crist, que comea a se formar na infncia. (ANC, 1987). Durante os
sculos quinze e dezesseis, os povos europeus de conscincia crist dizimaram
parte considervel da populao latino-americana, inclusive utilizando-se de
argumentos religiosos, trazendo frente a cruz crist.
possvel perceber a influncia externa, como tambm a troca de favores na
positivao do ensino religioso no texto constitucional no discurso do constituinte
Hermes Zaneti, quando diz:
167
201
Composio da Comisso de Sistematizao: Presidente: Afonso Arinos PFL-RJ; 1 VicePresidente: Aluzio Campos PMDB-PB; 2 Vice-Presidente: Brando Monteiro PDT-RJ; Relator:
Bernardo Cabral PMDB-AM; Titulares: PMDB Abigail Feitosa; Ademir Andrade; Almir Gabriel;
Alfredo Campos; Aluzio Campos; Artur da Tvola; Bernardo Cabral; Carlos Mosconi; Carlos
Sant'Anna; Celso Dourado; Cid Carvalho; Cristina Tavares; Egdio Ferreira Lima; Fernando Bezerra
Coelho; Fernando Gasparian; Fernando Henrique Cardoso; Fernando Lyra; Francisco Pinto; Haroldo
Sabia; Ibsen Pinheiro; Joo Calmon; Joo Herrmann Neto; Jos Fogaa; Jos Freire; Jos Geraldo;
Jos Igncio Ferreira; Jos Paulo Bisol; Jos Richa; Jos Serra; Jos Ulisses de Oliveira; Manoel
Moreira; Mrio Lima; Milton Reis; Nelson Carneiro; Nelson Jobim; Nelton Friedrich; Nilson Gibson;
Osvaldo Lima Filho; Paulo Ramos; Pimenta da Veiga; Prisco Viana; Raimundo Bezerra; Renato
Vianna; Rodrigues Palma; Severo Gomes; Sigmaringa Seixas; Theodoro Mendes; Virgildsio de
202
Senna; Wilson Martins; PFL Afonso Arinos; Alceni Guerra; Aloysio Chaves; Antonio Carlos Mendes
Thame; Arnaldo Prieto; Carlos Chiarelli; Christvam Chiaradia; Edme Tavares; Eraldo Tinoco;
Francisco Dornelles; Francisco Benjamin; Inocncio Oliveira; Jos Jorge; Jos Lins; Jos Santana;
Jos Thomaz Non; Lus Eduardo; Marcondes Gadelha; Mrio Assad; Oscar Corra; Osvaldo
Coelho; Paulo Pimentel; Ricardo Fiza; Sandra Cavalcanti; - PDS Antonio Carlos Konder Reis;
Darcy Pozza; Gerson Peres; Jarbas Passarinho; Jos Luiz Maia; Virglio Tvora; - PDT Brando
Monteiro; Jos Maurcio; Lysneas Maciel; - PTB Francisco Rossi; Gastone Righi; Joaquim
Bevilcqua; - PT Lus Igncio Lula da Silva; Plnio Arruda Sampaio; - PL Adolfo Oliveira; - PDC
Siqueira Campos; - PC do B Haroldo Lima; - PCB Roberto Freire; - PSB Jamil Haddad; - PMB
Antonio Farias; - Suplentes: - PMDB Acio Neves; Albano Franco; Chagas Rodrigues; Daso
Coimbra; Dlio Braz; Euclides Scalco; Joo Agripino; Joo Natal; Jos Carlos Grecco; Jos Costa;
Jos Maranho; Luiz Henrique; Manoel Viana; Mrcio Braga; Marcos Lima; Michel Temer; Miro
Teixeira; Nelson Wedekin; Octvio Elsio; Roberto Brant; Rose de Freitas; Uldurico Pinto; Vilson de
Souza; Ziza Valadares; Vago; Vago; Vago; Vago; - PFL Cleonncio Fonseca; Enoc Vieira; Joo
Alves; Joo Menezes; Jonas Pinheiro; Jos Queiroz; Jos Tinoco; Lael Varella; Mozarildo Cavalcanti;
Paes Landim; Ricardo Izar; Simo Sessim; - PDS Adylson Motta; Bonifcio de Andrada; Victor
Faccioni; - PDT Bocayuva Cunha; Luiz Salomo; - PTB Ottomar Pinto; - PT Jos Genono; - PL
Itamar Franco; - PDC Jos Maria Eymael; Roberto Ballestra; - PC do B Aldo Arantes, - PCB
Fernando Santana; - PSB Beth Azize; - PMB Vago; Secretria: Maria Laura Coutinho.
169
Com a seguinte proposta Pargrafo nico a educao religiosa ser garantida pelo Estado no
ensino de 1 e 2 graus, como elemento integrante da oferta curricular, respeitando a pluralidade
cultural e a liberdade religiosa. De modo infundado, a Emenda considera o ensino religioso como
meio de promoo de uma sociedade democrtica livre, pluralista, participativa. Como j ressaltado,
defendendo a religio como mecanismo de respeito, paz e liberdade.
203
204
feitas de se incluir o ensino religioso nos nveis de primeiro e segundo grau; outras
objetivavam sua oferta inclusive no ensino religioso. Vozes isoladas, principalmente
de instituies de ensino, defenderam sua retirada, como mostrei ao longo do texto.
Em 5 de outubro de 1988 estava promulgada a Constituio.
Aps
anlise
dos
debates
constituintes,
possvel
dividir
os
205
relao
aos
argumentos
desfavorveis,
localizei
dois
discursos
fundamentais:
1) O ensino religioso ofende o princpio da laicidade. Para este argumento, o
ensino religioso fere o princpio da laicidade do Estado que, dentre seus
componentes principais, inclui a separao Estado/Religio. Deste modo, o Estado
no pode promover ensino religioso, por no constituir sua funo; e
2) O ensino religioso deve acontecer no mbito privado. O ensino da religio
deve acontecer em ambiente familiar ou em espaos destinados, como igrejas,
templos, centros de formao religiosa. O Estado em respeito a todas as vises de
mundo no pode ofertar ensino de religio, mesmo que em nvel interconfessional,
principalmente, por ferir direitos de detentores de vises ateias e agnsticas.
Em sntese, o ensino religioso incompatvel com os postulados do Estado
Democrtico de Direito, desrespeitando o princpio da dignidade humana e o
princpio da laicidade do Estado, que esto interligados materialmente. Ao Estado
laico democrtico no cabe a difuso de vises religiosas de mundo. O Estado
206
207
O texto original do artigo 33 da LDB previa que o ensino religioso poderia ser
oferecido nas modalidades confessional e interconfessional, dois conceitos que
ainda hoje esto presentes no campo do ensino religioso no Brasil. (DINIZ;
LIONO; CARRIO, 2010, p. 14).
O ensino confessional seria aquele oferecido por professores ou
orientadores religiosos credenciados por igrejas ou entidades religiosas.
208
209
LEI N 3459, DE 14 DE SETEMBRO DE 2000 [...] Art. 2 - S podero ministrar aulas de Ensino
Religioso nas escolas oficiais, professores que atendam s seguintes condies:
[...] II tenham sido credenciados pela autoridade religiosa competente, que dever exigir do
professor, formao religiosa obtida em Instituio por ela mantida ou reconhecida. (RIO DE
JANEIRO, 2014).
210
Janeiro. Logo aps a realizao do outro concurso, o de 2004, foi interposta pela
Confederao Nacional dos Trabalhadores em Educao a Ao Direta de
Inconstitucionalidade que recebeu o nmero 3268. Tendo em vista a previso legal
da liberalidade das autoridades religiosas na definio do contedo da disciplina de
ensino religioso (conforme artigo 3), alguns professores contratados para
lecionarem a disciplina declararam que utilizariam a disciplina para ensinar que a
teoria darwinista da evoluo, aceita consensualmente por bilogos, estaria errada,
e que na verdade a teoria correta seria a criacionista, que postula terem sido os
homens e os todos os outros seres vivos criados por Deus. O Estado da Bahia
tambm possui sua legislao prpria (Lei Estadual nmero 7945 de 2001), que
possui particularidades semelhantes legislao fluminense.
As denncias de intolerncia religiosa nas escolas pblicas do Estado do Rio
de Janeiro mantm, em meu entendimento, relao com a legislao fluminense,
que enfraquece a laicidade e promove a formao de uma gerao despreparada
para a tolerncia e para o multiculturalismo, postulados do Estado democrtico.171
No mesmo sentido, a crtica da relatoria do Direito Humano Cultura da
Organizao das Naes Unidas, Farida Shaheed, que esteve no Brasil em
novembro de 2010. Shaheed abordou o problema da absteno federal sobre o
ensino religioso no Brasil, que estimular sua supresso por pareceres do Conselho
Nacional de Educao, como tambm o estabelecimento por parte de Estados e
municpios na definio dos contedos do ensino religioso e qualificao e admisso
dos professores de religio. Em sua observao, a relatora verificou que em geral
isso deixado discricionariedade de professores e diretores, em detrimento
especialmente das religies de matriz africana. (ZYLBERSZTAJN, 2012, p. 167).
A relatora da ONU afirma que informaes recebidas por experts
independentes indicam que o ensino religioso oferecido em escolas pblicas
de pelo menos 11 estados so irregulares por agirem em detrimento da
liberdade de religio e crena, do reconhecimento das religies de matriz
africana e do carter laico do Estado. Conclui este aspecto ponderando que
deixar a determinao do contedo dos cursos de religio merc das
crenas pessoais dos professores ou administradores das escolas; o uso do
ensino da religio para o proselitismo; a obrigatoriedade do ensino religioso
em determinados locais e a excluso de religies de matriz africana do
currculo foram as principais preocupaes percebidas como impedimento
171
A constitucionalidade da legislao fluminense foi analisada por Fbio Portela Lopes de Almeida
(2008), por intermdio do estudo Liberalismo poltico, constitucionalismo e democracia: a
questo do ensino religioso nas escolas pblicas. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2008.
211
O que o constituinte definiu como ensino religioso, deve ser substitudo pelo
ensino da histria das religies, dando-se nfase, inclusive, nas religies de matriz
africana. A Lei de Diretrizes e Bases, como tambm as legislaes estaduais, esto
contrariando,
ainda
mais,
os
postulados
do
Estado
Democrtico
e,
212
213
214
Frgil, moldvel, suscetvel preciosa a figura de uma criana: submetla, portanto, ao ensino de uma rea da vida humana por sua vez complexa,
profunda, sugestionvel que atinge o mais recndito de um ser: a
conscincia, a crena religiosa, as convices, num ambiente pblico,
devassvel a todas as impropriedades e impertinncias, demonstra-se algo
inadequado e imprprio, uma violncia, mesmo, contra aqueles bens
protegidos pela Constituio. (GARCIA, 2009, p. 248).
215
O relatrio da CTASP concluiu que pela leitura e exame apurado do texto, observa-se que o
Acordo no concede privilgios Igreja Catlica, nem tampouco discrimina as outras confisses
religiosas. E pelos relevantes aspectos abrangidos em seus dispositivos, reveste-se, assim, de total
mrito para acatamento por pare desta Comisso, motivo pelo qual votamos pela sua
aprovao.(ZYLBERSZTAJN, 2012, p. 183).
173
O parecer da CEC defendido em Plenrio, embora reconhecesse o mrito do projeto e
ressaltasse a importncia da Igreja Catlica na formao do Brasil, propunha emenda modificativa
216
aprovao.
Interessante
observar
que,
CCJC
manifestou-se
pela
174
histricas
entre
Brasil
Igreja
Catlica
suas
respectivas
217
218
175
O Projeto de Lei n. 5598/2009, apelidado de Lei Geral das Religies, foi proposto na Cmara dos
Deputados em 8 de julho de 2009 (dia da aprovao da concordata pela CRECD). Em resposta ao
Acordo Brasil-Santa S, entendendo privilegiar a Igreja Catlica, foi proposta pelo deputado federal
George Hilton (PRB-MG) e dispe sobre as garantias e direitos fundamentais ao livre exerccio da
crena e dos cultos religiosos, estabelecidos nos incisos VI, VII e VIII do art. 5 e no 1 do art. 210
da Constituio da Repblica Federativa do Brasil. O texto foi remetido para anlise de comisso
especial mista formada pela CTASP; CEC; CFT e CCJC. A comisso apresentou proposta
substitutiva que foi aprovada em Plenrio no dia 26 de agosto do mesmo ano, e assim remetida ao
Senado Federal onde permanece em tramitao como PLC 160/2009. O projeto j obteve parecer
favorvel da Comisso de Educao, Cultura e Esporte (CE), que realizou audincia pblica durante
seus trabalhos. Ainda esto analisando o projeto as Comisses de Assuntos Sociais (CAS); de
Assuntos Econmicos (CAE) e de Constituio, Justia e Cidadania (CCJC). Em linhas gerais o PL
extremamente semelhante ao texto da Concordata, diferindo-se especialmente nas questes relativas
exclusivamente a tratado internacional, como representao diplomtica, circunscrio estrangeira,
reconhecimento de ttulos de graduao e ps-graduao e resoluo de divergncias. Nos demais
itens, trata das garantias de forma mais genrica que o acordo com a S de Roma.
(ZYLBERSZTAJN, 2012).
219
Interessante frisar um segundo pedido interposto pela Conveno dos Ministros das Assembleias
de Deus Unidas do Estado do Cear, que salientava afronta ao inciso I do artigo 19 da CRFB/88. Por
deciso monocrtica do Ministro Joaquim Barbosa, a ao teve seu prosseguimento obstaculizado
por entender, o Magistrado, no haver legitimidade da associao para propositura de ADI.
220
entre Brasil e Santa S reacendeu mais uma vez o debate sobre a natureza
do Estado laico, bem como sobre como deve ser oferecido o ensino
religioso nas escolas pblicas. (DINIZ; LIONO; CARRIO, 2010, p. 43-44).
Partindo-se
dos
divergentes
posicionamentos
esposados,
tanto
pelo
Ministrio Pblico Federal brasileiro, como pelo Papa Bento XVI e pelo bispo
Lorenzo Baldisseri possvel, de antemo, perceber a dicotomia argumentativa em
relao temtica. A argumentao do Ministrio Pblico Federal coaduna com
aspectos apresentados ao longo do trabalho, especificamente no sentido de se
diferenciar laicidade de laicismo,178 como tambm no sentido de se reconhecer que,
177
Bispo catlico, ex-nncio apostlico no Brasil, tendo sido um dos articuladores do Estatuto da
Igreja Catlica.
178
[...] a laicidade estatal no pode ser confundida com o laicismo, que envolve uma certa
animosidade contra a expresso pblica da religiosidade por indivduos e grupos, e que busca valerse do Direito para diminuir a importncia da religio na esfera social. O laicismo, diferentemente da
laicidade, no envolver neutralidade, mas hostilidade diante da religio, e tende a resvalar para
posies autoritrias, de restrio a liberdades religiosas individuais. Por isso, seria
constitucionalmente inadmissvel a aplicao no Brasil de medidas laicistas, incorretamente adotadas
em nome da laicidade, por pases como a Frana e a Turquia, que restringiram certas manifestaes
221
222
223
7 CONCLUSO
224
225
226
227
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