Relatorio SocioAntropológico - RESEX de Tauá-Mirim: Cajueiro e Outras Comunidades Tradicionais Na Luta Por Justiça e Direitos Territoriais, Zona Rural II, São Luís/MA - Brasil

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHO

DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA


PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS SOCIAIS
GRUPO DE ESTUDOS: DESENVOLVIMENTO, MODERNIDADE E MEIO AMBIENTE

RELATRIO SOCIOANTROPOLGICO

RESEX de Tau-Mirim: Cajueiro e outras comunidades tradicionais na luta por justia


e direitos territoriais, Zona Rural II, So Lus/MA - Brasil

Organizao:
GEDMMA1

So Lus/MA
2014
1

O GEDMMA, Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente, coordenado pelos


professores da Universidade Federal do Maranho: Horcio Antunes de SantAna Jnior (DESOC), Bartolomeu
Rodrigues Mendona (COLUN), Cndia Brustolin (DESOC), Samarone Carvalho Marinho (DEGEO), Elio de
Jesus Pantoja Alves (DESOC), Madian de Jesus Frazo Pereira (DESOC).

SUMRIO

Apresentao

03

a) Comunidades tradicionais e afirmao de direitos territoriais e ambientais

04

b) Situaes de Insegurana em Cajueiro - desapossamento forado, jagunos e medo

11

c) Novos empreendimentos e velhas estratgias - instalao forada da empresa na


16
localidade e as ambiguidades da ao do Estado
REFERNCIAS

27

APNDICE 01
Estudos realizados pelo GEDMMA no Territrio da RESEX de Tau-Mirim

29

APNDICE 02
Suposto stio eletrnico da empresa WPR

36

APNDICE 03
WPR So Lus Gesto de Portos e Terminais Ltda.

37

APNDICE 04
Fotos do processo de resistncia das comunidades do Territrio da RESEX de Tau-Mirim

39

ANEXO 01
Histria de Nonato

40

ANEXO 02

Mapas da RESEX de Tau-Mirim, So Lus, Maranho, Brasil

42

Apresentao
Este relatrio, sntese socioantropolgica do territrio da Reserva Extrativista de
Tau-Mirm, So Lus, Maranho, Brasil, foi organizado pelos pesquisadores do GEDMMA Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente2: Horcio Antunes
SantAna Jnior, professor do DESOC/PPGCSoc/PPGPP, doutor em Cincias Humanas
Sociologia pela UFRJ; Samarone Carvalho Marinho, professor do DEGEO, doutor em
Geografia Humana pela USP; Cndia Brustolin, professora do DESOC, doutora em
Sociologia pela UFRGS, Madian de Jesus Frazo Pereira, professora do DESOC, antroploga
e doutora em Sociologia pela UFPB; Elio de Jesus Pantoja Alves, professor do DESOC,
doutor em Cincias Humanas Sociologia pela UFRJ; Bartolomeu Rodrigues Mendona,
professor do COLUN, doutorando em Cincias Sociais pela UFMA. Tambm contou com a
participao dos pesquisadores: Jos Arnaldo Ribeiro Jnior, mestre em Geografia
Humana/USP; Jadeylson Ferreira Moreira, mestrando em Cincias Sociais/UFMA; Tayann
Santos Conceio de Jesus, graduanda em Histria/UFMA; Josemiro Ferreira de Oliveira,
graduando em Cincias Sociais/UFMA.
O GEDMMA, desde 2004, realiza pesquisas no territrio tnico que abrange as
comunidades da rea rural da Ilha do Maranho, em So Lus, estado do Maranho, que
demandam a criao da RESEX de Tau-Mirim. Na rea, encontram-se as comunidades de
Rio dos Cachorros, Limoeiro, Taim, Porto Grande, Vila Cajueiro, Portinho, Ilha Pequena,
Embaubal, Jacamim, Amap, e Tau-Mirim. Alm dessas, integram tambm o territrio e so
abrangidas pelas pesquisas do GEDMMA as comunidades de Estiva, Pedrinhas, Murtura, Vila
Collier, Vila Maranho, Stio So Benedito, Me Chica, Vila Conceio, Camboa dos Frades.
O GEDMMA formalizou sua atuao de pesquisa em 2005, com o projeto:
Modernidade, Desenvolvimento e Conseqncias Scio-Ambientais: a implantao do plo
Siderrgico na Ilha de So Lus-MA, vigente at 2009. A partir desse ano at 2013, o grupo
desenvolveu o projeto de pesquisa e extenso com o ttulo: Projetos de Desenvolvimento e
Conflitos Socioambientais no Maranho, desses dois projetos resultaram inmeros relatrios
de pesquisa de iniciao cientfica, monografias de graduao, dissertaes de mestrado e
artigos apresentados em eventos acadmicos e publicados em peridicos cientficos. Dentre
essas produes acadmicas, a sua maioria teve como plano de anlise exatamente o territrio

O GEDMMA vinculado ao Departamento de Sociologia e Antropologia e aos Programas de Ps-graduao


em Cincias Sociais e Polticas Pblicas, da Universidade Federal do Maranho.

j citado e seus sujeitos e instituies sociais que disputam o controle territorial (ver Apndice
01)3.
Os estudos realizados pelo grupo, na ltima dcada, na Zona Rural II de So Lus,
procuraram compreender a organizao social, econmica e cultural das referidas
comunidades; seus modos e meios de vida, suas formas de mobilizao para manuteno do
territrio e defesa de sua identidade. Os estudos discutem tambm a atuao de empresas e do
Estado nos processos de disputa pelo controle do territrio e na relao com os moradores
locais.
Com base na trajetria de pesquisa mencionada e diante de conflitos e tenses
acumulados ao longo de dcadas e retomados no decorrer de 2014, o GEDMMA prope que
se reconhea a existncia dessas comunidades tradicionais que tm intensas relaes com
os recursos naturais da localidade, com a criao da RESEX de Tau-mirim, importante
para a reproduo social e cultural dos grupos que ali vivem, bem como, para a conservao
do frgil sistema ecolgico da Ilha do Maranho, e que sejam denunciadas situaes de
violncia relacionadas realizao de novos empreendimentos na Zona Rural II, com
especial ateno situao pela qual passa atualmente a comunidade de Cajueiro.
Para dar conta dessa proposio, este documento organiza-se ento em trs eixos
centrais: a) Comunidades tradicionais e afirmao de direitos territoriais e ambientais - a
necessidade da consolidao da RESEX de Tau-Mirim para a proteo ambiental da Ilha do
Maranho e reproduo social e cultural das comunidades de pescadores artesanais,
ribeirinhos e agricultores; b) Situaes de Insegurana em Cajueiro - desapossamento
forado, jagunos e medo; c) Novos empreendimentos e velhas estratgias - instalao
forada da empresa WPR - So Lus Gesto de Portos e Terminais Ltda. na localidade e as
ambiguidades da ao do Estado.
a) Comunidades tradicionais e afirmao de direitos territoriais e ambientais
Os estudos realizados pelo GEDMMA apontam a existncia de mais de 12
comunidades tradicionais na Zona Rural II de So Lus. Esses grupos, a exemplo de outros
em diversas regies do pas, vivem de uma economia familiar polivalente (ALMEIDA, 2004),
onde prevalecem atividades extrativistas, a pesca, criao de animais de pequeno porte e a
pequena agricultura de roas. Muitas atividades so realizas em comum, como a pesca e os
mutires para os roados. Parte dos grupos tem sua origem social ligada s comunidades

A maior parte desse material encontra-se disponvel na pgina eletrnica: www.gedmma.ufma.br.

negras de Alcntara, Bequimo, Anajatuba, dentre outros municpios da Baixada Maranhense


e ao processo de escravido no Maranho. Em pesquisas recentes, pde-se observar tambm
uma possvel ancestralidade ligada ao povoamento indgena nessa regio que remete ao
perodo colonial, j que nomes semelhantes aos de algumas comunidades, como Rio dos
Cachorros, tm correspondentes histricos em localidades indgenas como Januarem
(cachorro grande ou aldeia do cachorro, na toponmia tupinamb) que aparecem em mapas
do sculo XVI em espao territorial compatvel ao da comunidade no presente (SILVA, 2009;
DE JESUS, 2014; MAIA, 2014).
Nesse sentido, unindo diversas matrizes, principalmente a quilombola, na
comunidade de Cajueiro existe a runa do Terreiro do Egito, que reconhecido como um dos
terreiros mais antigos do Brasil pelos praticantes das religies de matriz africana. Lugar que
simboliza a resistncia centenria de um povo, conforme nos revelam as memrias do Pai
Euclides, pai-de-santo de grande notoriedade para alm da Ilha do Maranho, o Morro do
Egito, em Cajueiro, servia nos idos da colnia at de quilombo, alguns negros que vinham
fugidos de Cururupu, Guimares, passavam por l embarcados [..] que ngo que se jogava no
mar [..] por conta da opresso, de no querer se submeter a essa coisa toda n [...] (Entrevista
com Pai Euclides, 30.10.2014).
As runas do antigo Terreiro do Egito4 esto localizadas no territrio de Cajueiro,
encravado numa elevao prxima ao Porto do Itaqui. Nos dias de festa, segundo relatos
coletados, avistava-se o navio encantado do Rei Dom Joo. Segundo Pai Euclides, era
chamado de Il Niame e teria sido fundado pela negra africana Baslia Sofia, cujo nome
privado era Massinoc Alapong5, vinda de Cumassi, na Costa do Ouro atual Gana. Ela teria
chegado ao Maranho em 1864 e falecido em 1911. O Terreiro do Egito seria Fanti-Ashanti e
teria dado origem a diversos terreiros de So Lus, como a Casa Fanti-Ashanti de Pai Euclides
(FERRETI, 2009). Isso ganha maior relevo na fala da autoridade religiosa, Pai Euclides.
Pergunta: Pai Euclides, qual o perodo de visita que tem para o Morro do Egito?
Tem um perodo especfico que as pessoas se juntam e vo at l?
Pai Euclides: No, qualquer momento o pessoal pode ir, mas como eu fiquei aqui
talvez um pouco isolado, eu sempre aproveito o ms de Julho que a gente t em
festa, a festa maior daqui de casa e desses dias eu tiro de preferncia no ltimo dia
de toque aqui. A, eu reno o pessoal, o grupo aqui e a gente vai pra l e a gente l
canta, reza ... as que so pra cantar. s vezes, leva algum pouquinho de oferenda pra
colocar em algumas rvores, porque at isso foi desmatado. Ali era um terreiro que
4

Em 2013, o IPHAN (Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional) abriu o processo de registro do
Terreiro do Egito como stio arqueolgico (cf. BRASIL, 2014, p. 255).
5
A fundadora desse Terreiro [Egito] chamava-se Massinoc Alapong, ela veio como escrava n, no se sabe se
ela foi ou no liberta, a gente imagina que ela veio foragida n, e aportou ali [..] Primeiro ela morou no
Parnauau, a ela passeando por ali naquela redondeza toda, ela admirou muito aquele alto e a gente no sabe at
hoje porque ela colocou o nome de Egito l no morro, isso aconteceu essa fundao l em 1864.

no tinha esse negcio de quarto de Peji6, os assentamentos, os feitios l eram


exatamente nas rvores consagradas a determinadas divindades, tinha rvores pra
vrias entidades l e a a gente fazia todo o processo de imolao, no sei o que. A
gente cortava as pindobas que l tem bastante e a gente fazia tipo um crculo em
volta do p de rvores e ali a gente fazia a imolao de animais, no sei o que...
Recolhia as pessoas para a iniciao, era tudo isso. Outras pessoas de fora no
podiam chegar ah no vai pra ai agora, no vai pra ai no sei o que. Tinha todo o
respeito, o povo alm de respeitar tinha aquele medo da coisa e essa histria toda
assim (Entrevista com Pai Euclides, 30.10.2014).

Pai Euclides ainda se refere s geraes herdeiras do Terreiro do Egito e da sua


importncia para a continuidade do culto afro:
[...] tm casas assim, que no deixam de no ser, assim digamos uma corrente, que
pode se considerar da famlia, porque tem o terreiro ali no Lira, na rua Padre Roma,
que o terreiro de Margarida Mota, ela foi filha de santo do Egito [...] ela j faleceu,
mas o terreiro continua [...] tem o terreiro da F em Deus, do Jorge Itacy de Oliveira,
ele tambm morreu [...] mas a casa continua, essas pessoas que esto l no deixam
de ser netos do Terreiro do Egito. Tem o terreiro aqui no Po de Acar, tambm
que de [...] Manuel Curador, ele tambm j morreu [...] Se for buscar essa questo
j de neto, tem muito, mas de filho s tem eu, todos j morreram. [...] Inclusive eu
tenho uns filhos de santo que tm terreiro n, que so netos de l, tem ali o
Nhizinho em Ribamar, tem Itaparandi aqui no Maiobo, tem Wender na Liberdade,
tem o Remdio aqui no So Bernardo, tem Tabajara aqui no Maiobo, [...] Venina
aqui no Zumbi, tem aqui Abrao no Parque Vitria, que so meus filhos [...] que so
netos de l.
Pergunta: Ento o Terreiro do Egito, como o senhor est falando, a pedra
fundamental da maioria dos terreiros daqui de So Lus? Eu acredito que sim,
porque foi da onde saiu mais filhos de santo, que abriu casa foi Egito, nenhuma
outra casa, nem casa de Nag, Casa das Minas, no abriram mo pra ter filiado
assim, o Egito teve muito mais [...] parece que so 15 a 16 filhos de santo l que
abriram casa. [...] Aonde saram mais filhos foi do Egito [...]. Do Egito at onde eu
sei, abriu casa seu Zacarias, Zacarias do Nascimento; Denira, Margarida Mota,
Tiodora de Longuim, Jorge Itacy de Oliveira, Z de Ciriaco,Raimundo Mem,
Manoel Constantino, Manoel do Po de Acar, Eu, Dica de Averekte, [...]
Vernica, [...] do Bairro de Ftima [...] todos esto com Deus, s tem vivo eu. Agora
tiveram outros filhos que passaram por l, mas no abriram casa, falei desses que
abriram casa. Mem e Z de Ciriaco, foi em Guimares, abriram casa em Guimares
esses outros foram tudo aqui na Cidade (Entrevista com Pai Euclides, 30.10.2014).

A narrativa do Pai Euclides demonstra a importncia fundamental do Territrio do


Cajueiro, particularmente no que diz respeito ao Morro do Egito, que vislumbra nas suas
runas, memrias, distines e genealogias quase que irreconstituveis na linha do tempo
presente. A estrutura fsica e simblica guarda um conjunto de significados e fatos que
ajudam a contar a histria do lugar, como lugar de referncia, adorao, mas tambm de
resistncia do passado memorial e imemorial daqueles que chegaram at a Ilha do Maranho
trazidos por ventos que guiaram no as velas dos navios do Itaqui e da Ponta da Madeira, mas
barcos carregados do que seria a maior experincia constituinte da histria do Maranho e do
Brasil.

Cmodo existente em terreiros de culto afro-brasileiro, utilizado para realizao de oferendas a divindades.

O Morro do Egito, lugar sagrado da ancestralidade afro em So Lus, possui


significado mpar para a autoridade religiosa da Casa Fanti-Ashanti,
Pergunta: o que move o senhor a ir l, a continuar essa relao prxima com o
Terreiro do Egito?
Pai Euclides: Muitas coisas, primeiro a conscincia, eu saber que eu sou escolhido
por uma ancestralidade, fui pra l ainda criana, eu fui pra l com sete anos de idade,
eu entrei no Egito em 1944, e l eu me tratei [...] (Entrevista com Pai Euclides,
30.10.2014).

Fazer memria da importncia do territrio em questo tombar nas particularidades


histricas contidas no interior das representaes sociais. Cajueiro no s constitudo de
terra para plantar e colher, s no d, s o que no se planta (fala de morador), do mar para
retirar o pescado, do mangue para o berrio das espcies endmicas e no endmicas, mas
tambm de significados que extrapolam as condies etnogrficas de descrio. O apreo que
o lugar traz, para os filhos e filhas de santos do Maranho, supera em suas especificidades, a
grandiosidade de qualquer navio que no seja aquele conduzido por D. Joo nas guas da Baa
de So Marcos. Segundo praticantes de religies afro-brasileiras, a princesa Ina, entidade
protetora das guas do Itaqui, por vezes ou outras, expressa o seu descontentamento em
relao s ambies dos homens, no aqueles que jogam suas redes ao mar e retiram seu
sustento de l, mas daqueles que desconhecem a natureza local e negligenciam a imponncia
de um mar que guarda segredos e castiga os mais desavisados aventureiros do capital.
A Comunidade de Cajueiro, que toma parte do Territrio da RESEX de Tau-Mirim,
nas narrativas dos moradores e dos praticantes dos cultos afros carece de preservao. A
exemplo disso, o Pai Euclides diz que
[...] preservar, primeiro porque to antigo, voc j imaginou? 1864. Sabe Deus o
que que aquela mulher no sofreu pra levar aquilo em frente, e chamava o povo, que
todo mundo ia daqui da cidade, pra ver embora por curiosidade pra ver, porque tinha
a histria do aparecimento do navio, o navio de D. Joo, isso no conto de fada,
coisa verdica, voc est aqui no morro e cantando no sei o que, p, r r, o tambor
(...) l vem, l vem, l vem, no sei o que, daqui de cima noite voc via o navio l
fora, aquela luzinha e tudo, a o encantado dizia: olha ... s vezes ele falava antes e...
se prepara a, no sei o que, que o navio vai chegar tal hora e aquilo era x. Nesse
tempo no tinha esse porto do Itaqui nem nada, a o encantado dizia: olha o navio
vai embora tal hora, por causa da mar, no sei o que, quando dava aquele horrio
todo mundo vinha pro pau da pacincia cantando, botava o tambor pra fora e pi, pi,
pi e a o navio saa, quer dizer em vez dele dar continuidade ele ia (som) terminava
ficando submerso. Ento, era uma coisa assim impressionante. O povo se deslocava
daqui da cidade, que iam mais gente embarcada que por terra que era mais longe, pra
ver a questo deste navio encantado, o navio D. Joo (Entrevista com Pai Euclides,
30.10.2014).

Esse territrio tnico, por combinar heranas culturais to especficas s prticas


sociais do presente, que tm na reproduo sociocultural o enfoque da preservao ambiental,
um espao de riqueza tnica e espiritual que no pode ser desconsiderado enquanto tal, j

que as pessoas que ali residem trazem consigo heranas e as aplicam nos modos de viver,
produzir e ocupar o territrio.
A saber, o socilogo Bartolomeu Mendona, no mbito do GEDMMA, em pesquisa
realizada na Vila Cajueiro, de 2004 a 2006, para elaborao da sua monografia de concluso
de curso, constatou a interdependncia entre as comunidades da parte sudoeste de Ilha do
Maranho, sugerindo a existncia de um territrio tnico7 que somente faz sentido se for
garantida a existncia dessas relaes entre as comunidades e, portanto, da proteo da faixa
territorial por onde se observa uma economia material e simblica prpria, j que uma
comunidade no pode ser vista deslocada das outras com quem mantm laos afetivos,
simblicos, econmicos e histricos h sculos (MENDONA, 2006).
O tratamento acadmico dado ao conjunto das comunidades da parte sudoeste da
Ilha, como sendo um territrio tnico, do qual faz parte a comunidade do Cajueiro,
demonstrando a interdependncia social, cultural, econmica desse mosaico de comunidades,
foi paulatinamente sendo elaborado ao longo das pesquisas do grupo e aparece de modo
sistematizado no conjunto dos trabalhos publicados na obra produzida pelos pesquisadores do
GEDMMA e editado pela EDUFMA: Ecos dos conflitos socioambientais: a RESEX de TauMirim, no ano de 2009, bem como, nos diversos artigos publicados em peridicos, livros e
anais de eventos cientficos e nas monografias e dissertaes elaboradas ao longo de uma
dcada de estudos8.
Sendo assim, a retirada compulsria de uma dessas comunidades, como est
ocorrendo com Cajueiro, seguramente interferir em todo territrio tnico, descaracterizar
ambiental e culturalmente a rea requerida pelas comunidades para a RESEX de Tau-Mirim,
trar desestabilizao e insegurana queles que defendem seus modos e meios de vida
prprios de extrativistas marinhos e, ainda, ir contra a determinao judicial que impede
qualquer deslocamento de populaes para fins de instalao de empreendimentos industriais
ou de infraestrutura na rea, at que o Estado se manifeste, definitivamente, sobre a
solicitao oficial dos moradores por fazer do seu territrio a RESEX de Tau-Mirim (deciso
judicial, proferida em 14.10.2014, no processo de ao cautelar, autos n 004622197.2014.8.10.0001 (494772014).
7

Almeida (2006, p. 154), em seus estudos em Alcntara/MA, apresenta extensa argumentao de como diversas
comunidades, mesmo mantendo suas singularidades, constituem um territrio tnico, vivem de modo
interdependente e formam uma unidade territorial. Fenmeno semelhante pode-se observar no caso do
mosaico de comunidades da zona rural II, de So Lus/MA, que correspondem ao territrio da RESEX de TauMirim.
8
Esse material, tambm, encontra-se disponvel na pgina eletrnica: www.gedmma.ufma.br.

O territrio tnico em que a Vila Cajueiro est situada localiza-se na parte sudoeste
da Ilha o Maranho e constitui-se de comunidades que, desde 2003, formalmente requerem a
criao da Reserva Extrativista de Tau-Mirim. Requerimento que teve sua viabilidade
atestada pelos estudos realizados pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renovveis) (IBAMA, 2006). Esses estudos tambm atestam o
reconhecimento pelo Estado brasileiro da condio de comunidades tradicionais dos grupos
que ali vivem, a partir da descrio de suas atividades e relaes, e da importncia do manejo
dos recursos naturais no territrio. Apesar da comprovada viabilidade ambiental, social, e
cultural, as comunidades aguardam, h uma dcada, a edio do decreto presidencial de
criao, que tem esbarrado em entraves polticos.
As comunidades que demandam a criao da RESEX de Tau-Mirim9 so: Rio dos
Cachorros, Limoeiro, Taim, Porto Grande, Vila Cajueiro, Portinho, Ilha Pequena, Embaubal,
Jacamim, Amap, e Tau-Mirim; alm dessas comunidades, que aguardam apenas o decreto
de criao da Unidade de Conservao, tambm compem o territrio, as comunidades de
Estiva, Pedrinhas, Murtura, Vila Collier, Vila Maranho, Stio So Benedito, Me Chica, Vila
Conceio, Camboa dos Frades.
Como esse espao visto por representantes governamentais, aliados a gestores
empresariais, como um local com "vocao natural" para implementao de grandes
empresas, esta lgica entra em atrito com lgicas histricas de comunidades que h sculos
habitam o local, partilhando entre si modos de vida, de apropriao e preservao do
territrio, alm de crenas e simbologias comuns, o que no est sendo visualizado por
aqueles representantes, no momento em que buscam atrair grandes empreendimentos para o
local, desconsiderando que ali residem pessoas cuja ancestralidade remonta h sculos. Os
indcios histricos contam no mnimo 200 anos de ocupao territorial, contabilizando, por
exemplo, a idade de moradores que nasceram no local e tambm criaram seus filhos; isto sem
considerar indcios histricos que demonstram usos indgenas.
A no efetivao da RESEX, a transformao da rea rural de cenrio da vida dessas
populaes em Zona Industrial, constitui-se numa ameaa ao modo de vida tradicional dos
grupos ali estabelecidos e ao meio ambiente em geral. A rea possui incontestvel potencial
para o desenvolvimento de agricultura orgnica, para o incremento da pesca artesanal, da
piscicultura e do turismo comunitrio, que deveriam ser observados pelos representantes
governamentais como possveis maneiras de utilizao daquele espao, viabilizando, portanto,

Ver mapa atual da RESEX de Tau-Mirim no ANEXO 02.

10

a permanncia daquelas comunidades como aliadas execuo deste tipo de poltica


ambiental, como atesta o laudo do IBAMA (2006). A saber, no referido laudo foi atestado que
a conservao ambiental na regio est aliada ao modo de vida comunitrio engendrado por
aquelas comunidades, cujas prticas (ex.: no extrao de madeira dos mangues para fazer
carvo, proibio da extrao de areia em algumas comunidades a fim de evitar o
assoreamento dos cursos dgua, entre outras) possuem em si uma conscincia de preservao
ambiental atrelada possibilidade de reproduo cultural dessas pessoas pois, contribuindo
para manter o ambiente saudvel, sem degradaes, preserva-se o modo de vida e a
sobrevivncia de seus filhos.
Priorizando os ganhos do Estado e o lucro das empresas, seus representantes
deliberadamente abstm-se de pensar formas menos agressivas de desenvolvimento, aliadas s
maneiras de usufruir da terra sem degrad-la to fortemente, prtica e experincias que as
comunidades possuem. A lgica predominante dos enormes lucros, sem observar as
consequncias para essas comunidades tradicionais da rea rural de So Lus, negligenciando
seu histrico de ocupao no local e suas prticas culturais que so consideradas como
patrimnios culturais e, sobretudo, seus direitos enquanto cidados de habitarem sua terra.
Dessa forma, essas pessoas encontram-se sob constantes ameaas de jagunos enviados pelas
empresas a fim de intimid-las e coagi-las a vender suas posses por preos mnimos, sem
considerar os vnculos produtivos e simblicos que elas tm com suas terras. A situao que
hoje se configura em Cajueiro essa: a iminncia da expulso a partir do assdio moral e
econmico, do embate fsico, da intimidao e das ameaas diretas.
Criar as condies necessrias para que esses grupos permaneam em seus lugares de
ancestralidade dever de toda a sociedade ludovicense e obrigao poltica dos poderes
municipal, estadual e federal, uma vez que a salvaguarda desse patrimnio de explcita
combinao material e imaterial, cultural e ambiental condio de conservao da memria,
da histria, de como se deu a constituio territorial desta cidade, como tambm condio de
conservao ambiental, em uma parte do territrio j to atingida por emisses de partculas
poluentes por diversas empresas que se instalaram nas ltimas dcadas e tomaram de assalto
parte do territrio dessas comunidades tradicionais. O desafio que se pe sociedade, aos
gestores pblicos e aos operadores do direito fazer conviver, na prtica, diversos estilos e
experincias de organizao social, cultural e econmica, modelos distintos de se apropriar e
usar o meio fsico.
Em So Lus, tem-se a oportunidade de experimentar, na prtica, o que tanto se
alardeia na teoria e na retrica de grupos polticos: a sustentabilidade. Fazer conviver uma

11

estrutura porturia e um complexo industrial de alta tecnologia, com capacidade de altssimas


movimentaes financeiras, que comprovadamente degradaram reas imensas de florestas, de
reservas de gua, de reas de pesca, de brejos, nascentes e rios e destruram comunidades
tradicionais inteiras (Macaco, Tainha, Taperuu, Tambau, Canaba, Pacuatiua, Pindotiua,
Boqueiro, entre outras) com os modos e meios de vida das comunidades que historicamente
comprovaram ser capazes de preservar seu territrio, seu patrimnio cultural e ambiental de
indubitvel importncia para esta Ilha. Sendo que a proposio prtica desses grupos, h uma
dcada, a criao da RESEX de Tau-Mirim.
b) Situaes de Insegurana em Cajueiro - desapossamento forado, jagunos e medo
As comunidades da Zona Rural II de So Lus tm enfrentado, tanto da parte do
Estado do Maranho, quanto pela atuao de empresas privadas, processos intensos de
tentativas de deslocamentos para destinao dos seus territrios a outras finalidades sociais
que visam instalar atividades industriais ou de infraestrutura na localidade e que ignoram as
dinmicas sociais ali estabelecidas.
A comunidade do Cajueiro, tambm conhecida como Vila Cajueiro ou Stio Bom
Jesus do Cajual, constitui-se de cinco pequenos ncleos assim denominados: Parnuau,
Andirobal, Guarimanduba, Morro do Egito e Cajueiro. Portanto, quando aqui nos referimos
ao Cajueiro, o fazemos considerando o conjunto desses pequenos ncleos, que os prprios
moradores reconhecem como sendo o que constitui essa comunidade em termos de
configurao fsico-geogrfica e de representao comunitria, atravs da Unio de
Moradores Proteo de Jesus do Cajueiro. Portanto, o desapossamento ou desapropriao de
qualquer desses ncleos descaracterizar essa comunidade.
Desde a dcada de 1980, a comunidade do Cajueiro sofre tentativas de expulso. No
ano de 1987, o governo federal, pela ao do Conselho de No Ferrosos e de Siderurgia
(CONSIDER)10, determinou que o Estado do Maranho apresentasse o projeto de uma usina
siderrgica integrada, com capacidade de 3 milhes de toneladas ao ano, atravs da resoluo
n 199/87 de 08.04.87 (GISTELINCK, 1988, p. 109). Empreendimento que no se
consolidaria, mas que previu o deslocamento de vrias comunidades para sua instalao. Vale
ressaltar que estudos e sondagens tcnicas naquele momento foram realizados. A partir de
2002, apareceram vrios anncios na mdia local sobre a instalao de um plo siderrgico na
mesma rea; realizaram-se estudos, desta vez, mais elaborados e sistematizados, pela empresa

10

Conselho Federal, presidido pelo ento Ministro de Estado da Indstria e Comrcio.

12

de consultoria Diagonal Urbana, que passava nas casas dos moradores das comunidades,
igrejas e escolas marcando com tinta preta os prdios das residncias, dos comrcios locais ou
os prdios pblicos o que, supostamente, garantiria posterior indenizao dos mesmos
(MENDONA, 2006). Passados mais de dez anos, nenhum empreendimento se instalou no
local, mesmo assim, o poder executivo estadual e municipal no realizou investimentos
significativos em polticas pblicas nessas comunidades, confirmando assim, o seu
compromisso com uma perspectiva de desenvolvimento que no contempla as comunidades
locais. Essas investidas de controle do territrio e de possibilidades de deslocamento
mencionadas so algo que se mantm na memria das pessoas que ali vivem.
Recentemente, verificaram-se novas ofensivas aos moradores da rea, desta vez, com
a ao direta de desapossamento, sobretudo em Cajueiro. Na realizao de atividades de
pesquisa na Zona rural II de So Lus, durante o ano de 2014, integrantes do GEDMMA
acompanharam sistematicamente reunies e processos sociais relacionados s transaes de
terras empreendidas pela empresa WPR So Lus Gesto de Portos e Terminais Ltda11.
Pesquisadores do GEDMMA estiveram presentes nas reunies da comunidade do
Cajueiro nas seguintes datas: 10 de junho; 14 de julho; 19 e 27 de agosto; 05 de setembro; 20
e 24 de setembro; 02, 11 e 15 de outubro, alm de acompanhar, no dia 15 de outubro, a ao
dos moradores de diversas comunidades que paralisou o trnsito da BR-135 na altura da
entrada do Cajueiro; e a tentativa de realizao de uma audincia pblica, no dia 16 de
outubro, que trataria do licenciamento da instalao do Terminal Porturio de So Lus, pela
referida empresa WPR So Lus Gesto de Portos e Terminais Ltda., impedida pelos
moradores de ocorrer, sob alegao de que a empresa WPR estaria utilizando milcia armada
para intimid-los, alm de coagi-los a vender suas posses a esta empresa, bem como de
questionamentos quanto ao descumprimento de prazos legais para convocao da Audincia e
quanto indisponibilidade para consulta pblica do EIA-RIMA elaborado pela empresa.
A partir dos trabalhos de campo, principalmente da anlise dessas reunies,
constatou-se que negociaes fortemente assimtricas comearam a ser operadas na
localidade, com a finalidade de comprar casas de moradores, de demolir as construes das
moradias e dos prdios de pequenos comrcios e de apossamento dos terrenos. Aes que no

A WPR So Lus Gesto de Portos e Terminais Ltda., empresa responsvel pela suposta construo do
Terminal Porturio de So Lus, afirma no seu EIA (Estudo de Impacto Ambiental) que foi realizada a
compensao social, sendo a "Urbaniza Engenharia Consultiva, empresa responsvel pela gesto fundiria de
desapropriao e indenizao da poligonal de implantao do empreendimento", o que atesta que a
empreendedora fez as vezes do Estado ao contratar uma empresa responsvel em realizar a "gesto fundiria de
desapropriao e indenizao", o que tudo indica com a conivncia dos rgos estatais.
11

13

levaram em conta as demandas pela criao da RESEX de Tau-Mirim e mesmo as aes


judiciais em curso para sua efetivao.
Uma srie de dispositivos de poder foram acionados para potencializar o clima de
insegurana jurdica e medo entre os moradores em relao ao destino do seu territrio, o que
favoreceu negociaes no desejadas e sem a avaliao adequada por parte dos mesmos.
Pode-se elencar a presena de seguranas armados na localidade (cerca de 20), vinculados
empresa de segurana Lees Dourados, posteriormente, identificada junto Polcia Federal
como em condio de trabalho irregular, portanto, constituindo-se uma milcia privada. Por
parte da referida empresa foram realizadas reunies com os moradores, que davam a entender
que se tratava de um processo estatal de desapropriao, em que mais cedo ou mais tarde
todos teriam que deixar as terras; assim como houve tentativa de fazer atos pblicos, como as
audincias pblicas para o licenciamento ambiental, sem atender a todos os requisitos legais,
sem aceitao das comunidades envolvidas e em desacordo com o processo oficial e com
dispositivos legais referentes criao da RESEX de Tau-Mirim.
Uma breve anlise das reunies realizadas no ano de 2014 permite evidenciar o
carter violento e ilegal do processo de negociao da empresa para com moradores das
comunidades. Na reunio realizada no dia 11 de outubro de 2014, no Andirobal (Cajueiro),
que contou com a participao da CPT (Comisso Pastoral da Terra), de pesquisadores da
UFMA (Universidade Federal do Maranho), assessores do Gabinete do Deputado Estadual
Bira do Pindar e cerca de 30 moradores da comunidade, foram realizadas diversas denncias
graves acerca da violncia do processo em questo. Seguem trechos da reunio:
Morador: [...] se voc quer construir na sua rea, eles no querem deixar entrar material. Eu
acho isso errado porque se voc no vendeu a sua rea voc tem direito de trabalhar na sua
rea e eles no querem deixar voc trabalhar, fazer sua casa e tal. Isso a eu acho errado,
n? Porque se voc j vendeu sua rea eles tm direito de chegar e mandar, n? Mas como
eles ainda no indenizaram, no me indenizaram, eles tm de direito de chegar e mandar
pedir, mais e a?
Senhor Batata (morador): Oh! assim semana passada teve um problema serssimo ai n!
A gente morando aqui n! E de imediato a gente soube que eles estavam botando dois
postes. [...] J tinham me falado que eles iam botar essa corrente l no Anjo da Guarda. A
eu fiquei com a orelha em p, n! Corrente ... Vo botar corrente pra no passar. E o que
aconteceu foi isso mesmo. No outro dia, eles vieram e enfiaram os dois tubos um dum lado
outro doutro e ainda cavaram um buraco impedindo, tapando a rua do pessoal que mora na
esquina do colgio, hem! Ai de repente o filho da minha irm chegou aqui e disse Z tem
um movimento l na portaria do colgio, porque abriram uma vala l e to e vo botar a
corrente. Ai eu fiquei assim meio rabolado, a pegamos o carro, a descemos pra l.
Quando chegamos l, tava esse movimento l. O cidado l, o grando que deve ser o chefe
n? Num sei! Com um rdio na mo e botando marra no pessoal n! Dando presso n! A
eu cheguei, j tava o Presidente e a Vice-Presidente12. A, eu cheguei e vi aquele
movimento, n? A, a gente deu presso pra tirar um dos postes, n! O mais fino. O pessoal
que j tava l chegaram, os meninos chegaram e tiraram um. S que o outro tava muito

12

Refere-se ao Presidente e Vice-Presidente da Unio de Moradores do Bom Jesus do Cajueiro.

14

enterrado n! A o cara chegou e botou a mo, o guarda, n! O paideguo que tava com o
rdio na mo.

A entrada desse novo empreendimento vem cerceando direitos dos moradores, como
elencado acima, tentando colocar postes e cercar com uma corrente a entrada para a rea. A
facilidade com que essas aes irregulares foram executadas em Cajueiro deve-se memria
dos moradores das possibilidades de deslocamento ocorridas no passado recente e a forma de
atuao da empresa que mesclou ritos estatais e privados, no deixando clara a natureza
privada das aes, e usando de extrema violncia. Exemplo disso foi a notificao do MPE
No 01/2014 38o PJESP com referncia ao Procedimento Preparatrio no 04/2014 Vila
Cajueiro que versa sobre a proibio de qualquer ato que importe em realizao atual de
construo.
Mesmo com a violncia do processo instalado, as comunidades vm resistindo
fortemente lgica de ao dos novos empreendimentos no local. O artigo O Fator
Participativo nas audincias pblicas em So Lus (MENDONA; MOREIRA, 2014), cujo
objetivo substancial foi compreender a interconexo entre os diferentes modos de apropriao
dos espaos na Zona Rural II, da cidade de So Lus MA, com foco nas audincias pblicas
realizadas para apresentao do EIA/RIMA do Distrito Industrial de So Lus DISAL e das
obras de dragagem de manuteno do Per IV do Terminal Porturio da Ponta da Madeira,
apontou para o acmulo de competncias, repertrios de ao e estratgias de resistncia e,
por essa via, de exerccio do discurso reconhecido em espaos especficos da esfera de
mobilizao frente aos grandes empreendimentos, por parte das comunidades que pleiteiam a
criao da Reserva Extrativista de Tau-Mirim.
O que importa focalizar aqui o sentimento de permanecer nas terras que compem
a gleba do Cajueiro, como forma de reproduo social e simblica do grupo. Atravs da
memria viva, os moradores acionam traos, histrias, relatos que estabelecem a fronteira
entre aqueles que nasceram e se criaram l, em contraposio aos de fora 13 cujo
deslocamento no pesaria, na maioria dos casos, no processo de negociao das terras. Como
se pode perceber no trecho seguinte da reunio do dia 17 de Outubro de 2014, na Unio dos
Moradores do Cajueiro:
Participante 1: Seu... Nem todo mundo quer sair do Cajueiro, mas cinquenta por
cento (50%) quer sair daqui. Eu t errado?

13

Nos ltimos anos, entre outros fatores, devido a deslocamentos realizados em outras comunidades ou s
expectativas de obteno de indenizaes de empreendimentos estatais ou privados, houve significativo
estabelecimento de novos moradores ou posses de terrenos em algumas comunidades localizadas na Zona Rural
II de So Lus. Isso faz com que moradores que residem na rea h mais tempo (algumas famlias esto ali
secularmente) faam a diferenciao entre os moradores que nasceram e se criaram na regio e os de fora.

15

Participante 2: (em voz alta): Quem quer sair? Quem que t aqui que quer sair?
Levanta o brao quem quer sair (poucos levantaram).
Participante 2: (em voz alta) Agora levanta o brao quem quer ficar.
Outros participantes: Eu...
Participante 3: Cinquenta por cento (50%) so pessoas que vem l de fora.
Participante 4: Algum daqui gravou um vdeo dizendo que queria sair daqui?
Participantes: No...
Participante 4: Porque a... t dizendo que a empresa tem.

A passagem anterior demonstra que a maioria daqueles que venderam seus terrenos,
so moradores de outras reas que adentraram o territrio de Cajueiro com o objetivo de
especular imveis, j que nem vivem e nem plantam nas reas que foram ocupadas de
maneira, muita das vezes, ilegal. Podemos inclusive afirmar, pelos estudos realizados, que
esta situao herana do processo da dcada de 1970 conduzido pelo Estado em
reiteradamente propor projetos industriais ou de infraestrutura que iriam indenizar os
moradores, levando uma legio de especuladores a cercar terrenos, sem qualquer uso para
moradia ou para trabalho, com o firme propsito de especular e tirar, em mdio prazo, algum
proveito pecunirio14. As populaes tradicionais alm de enfrentar, ao longo de dcadas, as
investidas estatais e empresariais no sentido de expropriar seu territrio em favor da
construo de indstrias, tambm enfrentam as investidas desses especuladores que tm posto
em dvida a identidade das comunidades tradicionais e dificultado a efetivao da proposta de
criao da RESEX de Tau-Mirim.
Social e ambientalmente injustiada, a Comunidade de Cajueiro encontra-se hoje em
meio a uma ferrenha disputa territorial, cujos extremos so: a empresa WPR - So Lus
Gesto de Portos e Terminais Ltda. e o prprio Estado do Maranho com seu aparato jurdicolegal mobilizado para atender s demandas mais expansivas de um ambicioso projeto de
incremento de infraestrutura logstica na Baa de So Marcos, sem qualquer possibilidade de
incluso das comunidades tradicionais nos planos de negcios.
Pensar isto no mbito das particularidades da pesquisa de campo do GEDMMA ter
a oportunidade de conhecer o espao de vivncia, reivindicao, mobilizao, mas tambm de
reproduo social e cultural de grupos sociais historicamente postos revelia dos mais
diversificados Projetos de Desenvolvimento que voltam seus interesses expansionistas para o
que hoje se chama de Terminal Porturio de So Lus. No entanto, a forma em que
conduzido tal processo refora ainda mais as diferenas sociais potenciais, engendradas por

14

Mendona (2006) destaca que at aquele ano a comunidade de Cajueiro possua cerca de 183 famlias, com o
processo de intensa especulao da terra; atualmente considera-se a existncia de 600 famlias (MRS, 2014), ou
seja, em pouco menos de uma dcada triplicou o nmero de famlias, muitas das quais mantm apenas os
terrenos cercados sem qualquer exerccio de posse, numa demonstrao inconteste de apropriao especulativa
do territrio.

16

um modelo que no considera as mais distintas formas de apropriao do espao territorial


das populaes tradicionais residentes.
c) Novos empreendimentos e velhas estratgias - instalao forada da empresa na
localidade e as ambiguidades da ao do Estado
Aprofundaremos neste item o papel do governo do Estado do Maranho, que tem se
posicionando de forma francamente parcial frente aos conflitos que se desencadeiam entre
empresas e comunidades tradicionais ao longo de dcadas. Em praticamente todas as
situaes tm atuado no sentido de criar condies para deslocar as comunidades em favor da
instalao de empreendimentos industriais ou de infraestrutura, mesmo que estes criem
impactos negativos no mbito social, econmico, cultural e ambiental.
De modo geral, as estratgias de grupos empresarias em cooperao com rgos
estatais para garantir lucro e expanso de capital, em desfavor dos grupos e comunidades
tradicionais, tm sido muito comum nas prticas de multinacionais pelo mundo afora, que
pilham e expropriam os ativos comuns dos povos. Harvey (2012), ao analisar o processo de
espoliao por acumulao, demonstra como as grandes corporaes tm garantido o
controle territorial, para o avano do capital, a partir do uso do aparato estatal.
Dentre muitos exemplos citados por Harvey (2012), apresentamos o caso de
expropriao dos territrios camponeses15 nos Estados Unidos, em favor do agronegcio
A expulso de populaes rurais ocorrida [...] do longo processo de substituio nos
Estados Unidos da agropecuria familiar pelo agronegcio. A principal fora motriz
dessa transio sempre foi o sistema de crdito, porm talvez o aspecto mais
relevante disso seja o fato de uma variedade de instituies do Estado,
ostensivamente destinadas a proteger a agropecuria familiar, terem desempenhado
um papel subversivo ao facilitar a transio que deveriam conter (HARVEY, 2012,
p. 129).

Harvey (2012, p. 127) ainda nos lembra, informado pelos ensinamentos marxianos,
que Toda formao social, ou territrio, que inserida ou se insere na lgica do
desenvolvimento capitalista tem de passar por amplas mudanas legais, institucionais e
estruturais. Em boa medida, isto o que vem ocorrendo nos processos de instalao de
empreendimentos, nas ltimas dcadas, na Ilha do Maranho, que expulsam as comunidades
tradicionais em nome de um suposto desenvolvimento, avalizado pelo Estado.

15

Ao utilizarmos as exemplificaes de Harvey (2012) no as tomamos como forma de fazer equivaler as noes
de campons ou agricultura familiar dos contextos brasileiro e estadunidense, mas to somente como ilustrao
de como as investidas dos ativos de capital nacional ou internacional utilizam-se, em situaes dspares e
especficas, estratgias semelhantes de cooperao Empresa-Estado para expropriar os territrios, expulsar as
populaes e assegurar a rentabilidade dos investimentos financeiros.

17

Seria a efetivao da privatizao dos ativos e insumos existentes nos territrios das
comunidades tradicionais, que passam ao controle do capital em cooperao com rgos do
Estado e que eliminam as possibilidades de existncias dos seus modos e meios de vida,
deslocando-os para reas urbanas perifricas com srios dficits estruturais.
Disso Harvey, valendo-se de Roy, explica que
A privatizao, conclui Roy, essencialmente a transferncia de ativos pblicos
produtivos do estado para empresas privadas. Figuram entre os ativos produtivos os
recursos naturais. A terra, as florestas, a gua, o ar. So esses ativos confiados ao
Estado pelas pessoas a quem ele representa... Apossar-se desses ativos e vend-los
como se fossem estoques a empresas privadas um processo de despossesso
brbara numa escala sem paralelo na histria (HARVEY, 2012, p. 133).

Como exemplo prtico, Harvey (2012, p. 132) cita o ocorrido no Mxico:


A Constituio de 1917, promulgada pela Revoluo Mexicana, protegia os direitos
legais dos povos indgenas, tendo consagrado esses direitos no sistema ejido
[comunidades autossuficientes], que permitia a posse e o uso coletivo da terra. Em
1991, o governo Salinas promulgou uma lei de reforma que tanto permitia como
estimulava a privatizao das terras do ejido. Como este proporcionava a base da
segurana coletiva entre grupos indgenas, o governo na verdade estava se eximindo
de suas responsabilidades pela manuteno dessa segurana. Alm disso, essa
medida era parte de um pacote de resolues privatizantes propostas por Salinas,
as quais desmantelavam a seguridade social em geral e tinham impactos previsveis
e dramticos sobre a distribuio da renda e da riqueza.

Essas investidas de toda ordem contra os territrios dos povos e populaes


tradicionais tm sido o que conduz a ao de rgos do legislativo, judicirio e executivo dos
Estados. A ampliao da logstica mundial para circulao de ativos de capital tem
desconsiderado qualquer direto territorial dos grupos tradicionais. E o que se v ocorrer com o
Territrio da RESEX de Tau-Mirim uma articulao entre Estado e Empresa para fazer
parecer legal o processo de espoliao dos territrios das comunidades tradicionais.
A estratgia, no caso da expropriao do Territrio da RESEX de Tau-Mirim, foi a
criao de uma empresa, sem expresso e sem uma imagem a zelar, para realizar o servio
de limpeza do territrio. Disto, quem aparece na cena pblica como empreendedora da
instalao do Terminal Porturio de So Lus a WPR So Lus Gesto de Portos e
Terminais Ltda., uma empresa com rarssimas informaes pblicas, legalmente representada
pelo Sr. Jos Hagge Pereira, que declara R$ 10.000,00 (dez mil reais) como capital social, e se
responsabiliza pela construo do empreendimento no valor de R$ 800.000.000,00
(oitocentos milhes mil reais)16. Dessa empresa, o Estado nada revela, no se tem nenhuma
informao da sua capacidade tcnica e financeira de tocar o empreendimento; o que se sabe,
pelos relatos dos moradores de Cajueiro e demais comunidades tradicionais do Territrio da

16

Informaes contidas no processo de licenciamento do empreendimento Terminal Porturio de So Lus, da


WPR So Lus Gesto de Portos e Terminais Ltda., em trmite na SEMA.

18

RESEX de Tau-Mirim, que seus representantes esto utilizando de mtodos intimidatrios


e coercitivos para garantir a retirada das comunidades tradicionais. E mais uma vez os rgos
estatais ou se omitem ou colaboram com a atitude violenta da empresa.
Pela postura parcial de estrita cooperao Estado-Empresa, o acesso s informaes
sobre o empreendimento e a empresa postulante ficou comprometido, o que levou o
GEDMMA a utilizar, como mtodo de obteno de informaes, pesquisas sistemticas na
Internet (rede mundial de computares), vez que todas as grandes corporaes na atualidade
tm se servido dela para divulgar seu portflio. Inclusive diversas empresas industriais, de
infraestrutura e de servios que operam em So Lus mantm stios abertos na Internet nos
quais circulam informaes sobre sua estrutura organizacional, seus principais clientes, seus
ramos de negcios e investimentos, suas capacidades financeiras.
A WPR So Lus Gesto de Portos e Terminais Ltda., neste nterim uma exceo.
Em nossas pesquisas na Internet sobre esta empresa, no encontramos qualquer stio oficial
que informasse suas atuaes em negcios similares ao que prope construir em So
Lus/MA.

Encontramos

apenas

dois

stios

com

informaes

genricas,

sendo

https://www.infoplex.com.br/perfil/18729181000157, acessado em 02/11/2014, s 14:35 e


http://empresasdobrasil.com/empresa/wpr-sao-luis-gestao-de-portos-e-terminais-ltda18729181000157, acessado em 02/11/2014, s 21:14, que no so stios oficiais (ver
Apndice 03).
Naqueles stios encontram-se informaes como:
Razo Social: WPR - So Lus Gesto de Portos e Terminais Ltda
CNPJ: 18.729.181/0001-57
Data da abertura: 22/08/2013
Status da empresa: Ativa
Natureza jurdica: 206-2 - Sociedade Empresria Limitada
Endereo:
Av. Doutor Chucri Zaidan, 920, andar 16 Conj. 161
Bairro: Vila Cordeiro
Cidade So Paulo
CEP 04.583-904
Telefone: No disponvel
Atividade econmica principal: Operaes de terminais
Atividades econmicas secundrias:
Compra e venda de imveis prprios
Outras sociedades de participao, exceto holdings
Aluguel de imveis prprios.

Destacamos a Data da abertura: 22/08/2013, que chama a ateno pelo fato de


uma empresa pretender realizar uma obra cara e complexa como a construo do Terminal
Porturio de So Lus, que parece ter sido aberta especificamente para esta finalidade, sem

19

mencionar qualquer vnculo com outra empresa ou grupo j consolidado no mercado da


construo, como tambm da gesto e logstica porturia.
Como o RIMA (Relatrio de Impacto Ambiental) do Terminal Porturio de So Lus,
em alguns trechos refere-se apenas empresa WPR, tambm efetuamos investigaes para
verificar procedncia, capacidade tcnica e estrutura financeira e de gesto. Dessa empresa,
encontra-se o stio http://www.wpr.com.br/principal.html, acessado em 02/11/2014, s 21:41,
que menciona WPR Projetos S/C LTDA, mas apresenta apenas sua logomarca e algumas
imagens sem quaisquer abas para navegao ou outras informaes (ver Apndice 02).
Dando continuidade s pesquisas, encontramos que a WPR uma empresa do grupo
WTorre.
So Paulo A dona de estacionamentos Estapar e a WPR, empresa composta por
fundadores da construtora WTorre, sero as scias nacionais da recm-criada
BCA Brasil, empresa de gesto de ptios e leiles de carros. (Estapar e WPR viram
scias
em
empresa
de
leilo
de
carros).
Disponvel
em:
http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/estapar-e-wtorre-viram-socias-emempresa-de-leilao-de-carros, acessado em 02/11/2014, s 14:25).

J esse grupo empresarial WTorre mantm seu stio oficial com todas informaes
que as grandes corporaes fazem questo de expor. Mostra os principais clientes, os seus
maiores investimentos e tem uma quase infinidade de matrias, colunas, informaes sobre
suas aes.
A histria da WTorre nasceu de uma iniciativa ousada de Walter Torre Jnior
quando abriu, em 1981, uma construtora que levava seu nome. Com um novo jeito
de empreender e fazer negcios, ele iniciava seu legado empresarial ao projetar
armazns industriais para locao um nicho de mercado que ainda no era
explorado
no
Brasil
naquela
poca
(Disponvel
em:
http://www.wtorre.com.br/index.php/pt_br/wtorre/o-grupo-wtorre/2012-12-07-1545-50.html, acessado em 02/11/2014, s 14:15).

Apesar do seu tamanho e provvel modo de atuao responsvel, a WTorre tem sido
denunciada em stios da internet em razo dos seus projetos serem cercados de problemas,
descumprimentos.
Todos os projetos realizados pela WTorre em sua existncia foram cercados de
problemas, descumprimento de palavra e alguma malandragem.
No era segredo para ningum, bastava uma breve busca pela internet. (Walter Torre
Junior tirar a mscara, diz que Arena Palestra dele, e demonstra que Palmeiras
caiu
no
conto
do vigrio.
Disponvel
em:https://blogdopaulinho.wordpress.com/2013/10/22/walter-torre-junior-tira-amascara-diz-que-arena-palestra-e-dele-e-demonstra-que-palmeiras-caiu-no-contodo-vigario/. Acessado em 02/11/2014, as 13:15).

O Sr. Jos Hagge Pereira, representante legal pela WPR So Lus Gesto de Portos
e Terminais Ltda, responsvel pela construo do Terminal Porturio de So Lus,
coincidentemente ou no, Diretor da WTorre,

20

O diretor da WTorre Jos Hagge Pereira detalha que as residncias sero


instaladas em uma rea localizada entre o aeroporto e o Centro do municpio 17.
Nesse projeto, sero investidos em torno de R$ 500 milhes. A ideia da empresa
aproveitar o desenvolvimento desse segmento de negcios, que dever ser aquecido
com o programa Minha Casa, Minha Vida (WTorre ampliar polo naval em Rio
Grande. Disponvel em:http://www.kincaid.com.br/clipping/2424/WTorre-ampliarpolo.html, acessado em 02/11/2014, s 14:00).
O ERG, tido como uma obra ousada na construo de um polo naval no Sul, exigiu
investimentos de R$ 840 milhes - 79% foram aportados pela Petrobras, com direito
de usar o local durante dez anos. Os 21% restantes foram aplicados pela construtora,
que receber o ativo aps esse perodo, conforme disse ao Valor, em outubro, o
diretor da WTorre, Jos Hagge Pereira (Engevix e Funcef negociam compra de
estaleiro no Sul. Disponvel em:http://www.kincaid.com.br/clipping/3943/Engevixe-Funcef-neg.html, acessado em 02/11/2014, s 14:10).

Dessas investigaes preliminares restam questes que tanto o governo do Estado,


como o empreendedor tem a obrigao de dirimir, de informar ao povo maranhense. Porque a
WTorre, empresa consolidada no mercado imobilirio e no ramo de construo civil e de
infraestrutura logstica e porturia mantm um dos seus diretores como representante legal de
uma empresa acusada de intimidao e desapossamento forado e violento para a construo
de terminal porturio em So Lus, em rea que o Estado est impedido de realizar
desapropriaes18? Por que o governo do Estado do Maranho, agindo pela SEMA, tem tanta
celeridade em realizar todas as etapas de licenciamento do empreendimento mesmo que seja
com o alto custo social e com a expulso de inmeras famlias de trabalhadores tradicionais
da comunidade do Cajueiro? Embora essas questes no sejam respondidas nesta
investigao, elas tm o mrito de nos lanar a mais reflexes sobre a relao de cooperao
Estado-Empresa, inaugurada h dcadas que tm servido de meios de desestabilizar ou
aniquilar comunidades inteiras em favor de projetos que trazem lucros s empresas e ganhos
ao grupo poltico que sustenta os ritos burocrticos custa dos incontveis casos de
desrespeito aos direitos dos povos e comunidades tradicionais, j largamente estudados pelo
GEDMMA ao longo de uma dcada.
Da mesma forma, em nossas pesquisas sobre os desdobramentos do processo
autoritrio de instalao do Terminal Porturio de So Lus denunciado pelas comunidades,
diversos stios eletrnicos e peridicos de circulao diria veicularam informaes que do
conta de como as comunidades tradicionais do Territrio da RESEX de Tau-Mirim tm
reagido s investidas de desapossamento das terras ancestralmente ocupadas.
Do stio eletrnico do Frum Carajs destaca-se que
17

Refere-se ao Municpio de Rio Grande, no Rio Grande do Sul.


MPF/MA consegue permanncia das comunidades tradicionais em Tau Mirim. Deciso obriga o estado do
Maranho a se abster de qualquer tentativa de desapossamento na regio, sob pena de multa de R$50.000 por dia
(Fonte: http://jornalpequeno.com.br/2013/09/06/mpfma-consegue-permanencia-comunidades-tradicionais-tauamirim/. Acesso em 09/09/2013).
18

21

Os moradores, que organizaram uma manifestao no ltimo dia 15 de outubro,


voltaram a relatar truculncias por parte da WPR, empresa que pretende construir
um porto privado em parte do territrio da comunidade do Cajueiro. Moradores
afirmam que a empresa assumiu postura opressora, no apenas contra os lderes do
movimento, mas contra todos os moradores que desejam ir at a praia, mangue ou
stio vizinho. De acordo com relatos de uma antiga moradora, a WPR chegou a
colocar um porto e placas com o intuito de intimidar as pessoas.
A gente mora aqui h mais de 30 anos, possui o documento comprovando
propriedade da terra e eles colocam jagunos para tentar tomar o que nosso por
direito e por lei. revoltante! Eles querem colocar em nossas cabeas que ns
somos os invasores e eles os proprietrios, protestou.
Uma ex-moradora confirma que a empresa prometeu casa, trabalho e, inclusive,
tratamento de sade. No entanto, afirma que aps o pagamento e demolio da casa,
a empresa no cumpriu os outros pontos do acordo. Eu tenho problemas de sade,
eles me prometeram tratamento, mas depois que vendi a casa nunca mais retornaram
meus contatos. Estou sem dinheiro para comprar meus remdios e sem ter onde
plantar. Comprei uma casa que no vale o terreno da minha. Eu s vendi porque no
tinha mais jeito, revelou. (So Lus-MA): Comunidade Cajueiro questiona como
WPR compra terreno de assentamento do ITERMA para construir porto privado em
reserva extrativista. Disponvel em: http://www.forumcarajas.org.br/, acessado em
02/11/2014, s 22:41).19

No blog do Ed Wilson foi veiculada a matria: Na zona rural de So Lus,


comunidade do Cajueiro reage s ameaas de empresa WPR (Disponvel em:
http://blogdoedwilson.blogspot.com.br/2014/10/na-zona-rural-de-sao-luis-comunidadedo.html#.VFbQZvnF_wg, acessado em 02/11/2014, s 22:50).
E ainda, Defensoria garante uso da terra e de recursos naturais pela comunidade do
Cajueiro:
A Defensoria Pblica do Estado (DPE), atravs do Ncleo de Moradia e Defesa
Fundiria, conseguiu na Justia Estadual liminar que determina a absteno, por
parte da empresa WPR So Lus Gesto de Portos, de atos que impeam a realizao
de plantaes, de construes, do extrativismo e da pesca pela comunidade do
Cajueiro, situada na regio da Vila Maranho, na capital (Disponvel em:
http://www.dpe.ma.gov.br/dpema/index.php/SiteInstitucional/ver_noticia/3490,
acessado em 02/11/2014, s 23:22).

Do blog de Jorge Vieira, Bira20 requer audincia pblica para tratar sobre ameaa
vivida pela comunidade Cajueiro:
O Porto est orado em R$ 800 milhes e para o parlamentar, uma obra desta
envergadura, precisa ter transparncia, fundamentao e tem que ser motivo de
debate entre a empresa, o poder pblico e a comunidade. As placas de propriedade
particular e a vigilncia particular que foram colocadas dentro da comunidade esto
coagindo os moradores a aceitar indenizaes oferecidas pela WPR (Disponvel em:
http://www.blogjorgevieira.com/2014/10/bira-requer-audiencia-publica-para.html,
acessado em 02/11/2014, s 23:28).

Para no alongar mais a lista de matrias, denncias veiculadas em stios na internet,


ficaremos com os j citados, mas ainda podemos encontrar vrios stios de sindicatos, da

19

As histrias de situaes de empobrecimento e desarranjo familiar de comunidades tradicionais, em razo de


grandes projetos de desenvolvimento no Maranho, podem ser bem exemplificadas com a histria de Nonato
(Anexo 01).
20
Refere-se ao Deputado Estadual Bira do Pindar (PSB).

22

Assembleia Legislativa do Estado do Maranho, do Ministrio Pblico Estadual, de blogs que


veicularam a situao de ameaa vivida pelas comunidades tradicionais do Territrio da
RESEX de Tau-Mirim patrocinada pela WPR - So Lus Gesto de Portos e Terminais Ltda.
O Jornal O Imparcial, na notcia de capa do dia 15/10/2014, Populao se revolta
contra jagunos e interdita a BR-135, afirma que:
De acordo com a pescadora Rosana Mesquita, mais de 30 homens armados, que
prestam servio a empresa WPR (Nelson Segurana), esto h trs meses dentro do
povoado, coagindo, ameaando e at agredindo verbalmente os moradores. Segundo
ela, a comunidade est sendo impedida de chegar at a praia, nas lavouras de onde
tiram o sustento de suas famlias [...] Ainda de acordo com a pescadora, a WPR teria
sido enviada para a comunidade a ordens de um consrcio de empresas que esto
responsveis pela construo de um porto naquele local. Ela citou algumas destas
empresas como Suzano Papel e Celulose, Petrobras, Cargil Imbunge, entre outras.
(Protesto provoca interdio da BR-135, O Imparcial, Urbano, p. 1).

Como as comunidades tm a experincia pretrita de conflitos com empresas que


queriam controlar, expropriar seus territrios tradicionais, so essas denunciadas pelos
moradores. A Suzano Papel e Celulose teve em seu favor a edio de um decreto de
desapropriao do governo do Estado do Maranho, dessa mesma rea das comunidades
tradicionais, no ano de 2011 (D.O 05.04.2011). justamente a dvida que resta, a servio de
quem a WPR So Lus Gesto de Portos e Terminais Ltda, empresa recm-aberta, est? Por
que se expor tanto, ao ponto de contratar milcia armada, segundo denncias dos moradores?
As tentativas e execuo de negociaes de terras com moradores, que esto h
muitos anos habitando o local, ocorreram sob forte presso. Vrias estratgias para retirarem
as pessoas de suas terras foram utilizadas. Destaca-se a retrica apresentada aos moradores,
segundo a qual aquela seria uma "oportunidade" diante da possibilidade de desapropriao
por parte do Estado, uma vez que a rea j teria sido destinada para um porto. As negociaes
foram individualizadas e ocorreram sob forte presso.
Uma moradora da praia de Parnuau, em Cajueiro, foi insistentemente assediada por
representantes da empresa WPR a fim de que ela vendesse suas terras. Note-se que a referida
senhora, Dona Eurdes, de 93 anos vivia na regio por quarenta anos, tendo criado seus
filhos e netos no local, trabalhando com agricultura e criao de pequenos animais, como
galinhas; e seu marido com a pesca. Em 10 de junho de 2014, essa moradora relatou que j
tinha recebido vrias visitas desses representantes fazendo ofertas para sua propriedade,
especificamente para sua casa e de sua filha, no valor, cada uma, de R$ 20.000, totalizando
R$ 40.000. Visitando o local, observamos a sua extenso e a quantidade de beneficiamentos
que essa senhora e sua famlia fizeram ao longo de dcadas de trabalho, como roas,
galinheiros, plantao de espcies frutferas, ou seja, o valor que a empresa lhes apresentava

23

era muito baixo, alm de que aquela senhora e sua famlia possuam outros vnculos, para
alm do de sobrevivncia. Segundo Dona Eurdes, tudo o que precisa estar naquele povoado,
pois se precisar comer, vai ao mar e pesca peixes, ou ento vai ao quintal e pega galinhas que
cria. A gua para consumo ela tem em casa e no sente falta de nada, pois desde muito tempo
mora ali e tem naquele lugar sua vida. Ela nos disse: eu sou muito feliz aqui, ressaltando
ainda as relaes afetivas e de auxlio mtuo que tem com pessoas mais antigas.
Contudo, meses depois, a senhora j no se encontrava l, pois finalmente cedeu s
investidas da empresa. Inclusive, ao tentarmos chegar praia de Parnuau, a rea j se
encontra interditada, impedindo o acesso a ela pelos moradores que pescam na regio, alm
de que algumas casas j foram demolidas. Isso demonstra a eficcia das empresas em suas
investidas. Uma das ameaas que essa senhora nos relatou foi a de que os representantes da
empresa diziam que se ela no vendesse sua casa, o Estado a tiraria dali foradamente sem
nenhuma indenizao. Com esse tipo de ameaa sua prpria condio de sobrevivncia,
aparentemente mais lucrativo vender sua propriedade por um preo muito abaixo do real do
que esperar e correr o risco de ser deslocada sem qualquer indenizao ou por valores ainda
mais depreciados.
Situao semelhante ocorreu com o senhor Joca, pescador de 77 anos, vindo do
municpio de Alcntara, que vive no Cajueiro h 35 anos, onde criou seus filhos e netos que
por vrias vezes teve sua casa demarcada por representantes da empresa como local a ser
comprado. Ele prprio pintou por cima das demarcaes feitas a tinta de spray na parede
frontal. Esses representantes vieram a sua casa pedindo seus documentos explicando que era
para ele receber um benefcio do governo, visando claramente ludibri-lo. Ele no entregou os
documentos e esses representantes passaram a assedi-lo sistematicamente para que vendesse
sua propriedade, vastssima em produes agrcolas como a de abacaxi. Esse senhor no a
vendeu e atualmente resiste expulso de sua famlia do local.
Da parte do Estado do Maranho (aqui compreendendo rgos como secretarias de
estado, empresa porturia, instituto de terras, rgos da justia), quando no se fizeram
totalmente omissos, foram basties das investidas dessas empresas, desde a dcada de 1970,
quando diversas comunidades, mesmo com muita resistncia, viveram a trgica experincia
da expulso dos seus territrios (GISTELINCK, 1988).
Gistelinck demonstra e questiona como o Estado do Maranho favoreceu a
ALUMAR (Consrcio de Alumnio do Maranho), quando da sua instalao na Ilha do
Maranho, ao repassar a essa empresa multinacional uma extensa rea de terra que era
territrio de vrias comunidades tradicionais (Macaco, Tainha, Taperuu, Tambau, Canaba,

24

Pacuatiua, Pindotiua). Disso, importante perceber como se configurou a partilha da terra,


mediada pelo ento governo do Estado, em So Lus, segundo Gistelinck (1988, p. 03),
na Ilha de So Lus, com uma superfcie 504Km2, 190Km2 so reservados para
industrializao. Desses 190Km2, 100Km2 so da ALUMAR, 22Km2 da CVRD,
35Km2 reservados para a implantao da siderurgia e o resto para outras indstrias.

Gistelinck (1988, p. 103), questiona a necessidade de uma rea to grande para a


ALUMAR e, afirma que os conflitos aumentam mais ainda ao ampliar a rea a ser
desocupada para a atividade industrial, dizendo que deveria se reservar mais reas para
residncias e para horticultura. O espao disponvel destacado exatamente, em grande parte,
para uso exclusivo da ALUMAR.
Geralmente, todo processo de expropriao de grandes reas de terra, ento
cultivadas por comunidades tradicionais, pequenos produtores na condio de posseiros, leva
a uma situao de aumento da periferia nas cidades e, nesse caso, contou e conta at hoje com
o brao do estado em favor do lucro de empresas (MENDONA, 2006).
Conforme relata Gistelinck (1988, p. 152), os custos sociais desses empreendimentos
so colossais:
as razes culturais esto sendo destrudas: suas relaes humanas de parentesco, de
compadrio, de comunidade, suas capacidades, profisses, tcnicas e aptides, suas
relaes com a natureza, com a terra, com Deus.

H uma dcada, uma moradora do Cajueiro j anunciava o pavor das indenizaes


irrisrias pagas por empresas com o assentimento do Estado. Segundo a Sra. Estela, sua prima
foi vtima de indenizaes nfimas quando da implantao do Porto do Itaqui e da ento
CVDR. Ela lembra que:
...nessa situao que a gente ver o que j passaram que a gente se preocupa... que
pode acontecer com a gente, que a gente ta aqui hoje no Cajueiro a gente ainda no
passou por isso, a gente ta tranqila. Ento a gente ta preocupado desse dia de
amanh, eles virem tirar ns daqui e ns passar pela situao desses outros que j
passaram. (...) uma prima minha, ela recebeu a indenizao dela no Itaqui, o que ela
fez? Comprou uma casa na Mauro Fecury, no pior lugar do Anjo da Guarda, porque
s dava pra comprar l que era mais barato. A foi pra loja comprou uns mveis,
depois o dinheiro acabou, agora ela vive urrando... (in: MENDONA, 2006, p. 39).

A deliberada opo estatal em negar a existncia das comunidades tradicionais ou,


aoreconhec-las, as classificaremcomo um mal do passado que precisa ser exterminado,
mesmo que para isso sejam levadas sobrevida nas periferias urbanas mais violentas, tem
sido historicamente recorrente e, no caso de So Lus, isso pode ser visto a olho nu.
Os trabalhos cientficos e registros etnogrficos do GEDMMA, mais a diversa
bibliografia disponvel (GISTELINCK, 1988; ANDRADE, 1981; ANDRADE e CORRA,
1986/87; ADRIANCE, 1996) do conta de que o Estado do Maranho, no caso da Ilha do
Maranho, especificamente na Zona Rural II de So Lus, tem sido conivente com o avano

25

de um modelo de desenvolvimento econmico que aniquila qualquer tentativa que fazem as


comunidades tradicionais de viverem com seus modos e meios de vida prprios, compatveis
aos tempos dos sistemas ecolgicos a que pertencem.
Assim foi quando da implantao da VALE e ALUMAR (GISTELINCK, 1988;
ANDRADE, 1981), das tentativas de instalao de um plo siderrgico na rea rural II de So
Lus (MENDONA, 2006; SANTANA JNIOR ET AL., 2009), da construo da
Termeltrica Porto Itaqui (PEREIRA, 2010) e agora com a sanha de construir o Terminal
Porturio de So Lus, tambm no territrio dessas mesmas comunidades.
Desta vez o Governo do Estado do Maranho, impedido judicialmente de deslocar
qualquer comunidade na rea requerida para a criao da Reserva Extrativista de Tau-Mirim,
preferiu no ver o que ocorria na comunidade do Cajueiro por quase seis meses. Segundo
relatos dos moradores, foram toda sorte de ameaas, presses psicolgicas, assdio de toda
ordem patrocinados pela empresa WPR - So Lus Gesto de Portos e Terminais Ltda. e suas
contratadas para garantir a limpeza da rea, ou seja, a retirada da populao que
tradicionalmente vive no territrio.
Ainda pelos relatos dos moradores, essa empresa contratou e manteve seguranas
armados dentro da comunidade por vrios meses, utilizando-se de intimidao fsica e
psicolgica, por diversas vezes impedindo que os moradores tivessem garantidos seus direitos
de posse e de ir e vir. Isso tudo com a omisso do Estado, que no respondia aos apelos dos
moradores que denunciavam em diversos rgos estatais.
Dois fatos acompanhados por pesquisadores do GEDMMA chamaram muito a
ateno. O primeiro refere-se tentativa de realizao da Audincia Pblica, convocada pela
empresa e que seria presidida pela SEMA (Secretaria de Estado do Meio Ambiente), dia 16 de
outubro de 2014, na Escola Gomes de Sousa, Vila Maranho, impedida pelos moradores que
se manifestaram concentrando-se nos portes da escola onde ocorreria tal audincia. Naquela
ocasio quatro moradores resolveram acorrentar-se nas grades de ferro da escola para
impedirem que ocorresse a audincia porque temiam que a SEMA, mesmo contra a vontade
da comunidade, ps-audincia emitisse a licena de instalao. Na ocasio, numa
demonstrao de relao simbitica Estado-Empresa, o secretrio adjunto da SEMA,
utilizando-se do som que a comunidade conseguira para denunciar o ocorrido, declarou, no
meio da rua, que a audincia estava oficialmente aberta, numa clarividncia de que estava a
servio dos interesses da empresa, desconsiderando todos os apelos e argumentos da
comunidade e, sobretudo, as denncias de que os representantes da empresa estavam, h
meses, coagindo e amedrontando os moradores. Atitude que no prosperou em razo das

26

enfticas reaes dos moradores ali presentes, fazendo com que o secretrio adjunto recuasse
do seu intento.
O fato seguinte foi o desdobramento do ato do secretrio adjunto da SEMA. A
empresa WPR com a conivncia da SEMA, marcou nova audincia, desta vez para o dia 29
de outubro de 2014, quarta-feira, aps um final de semana, seguido de ponto facultativo e
feriado nos dias que antecediam a audincia (dias 27 e 28), nas dependncias do Comando
Geral da Polcia Militar do Maranho, no bairro Calhau, distante espacial e socialmente das
comunidades diretamente afetadas pelo empreendimento, numa clara tentativa de intimidar os
possveis participantes. Desta vez, a comunidade no foi avisada em tempo hbil, apenas um
carro de som avisara na vspera. E, embora com formalizao de pedido de suspenso, a
SEMA deu continuidade ao rito da audincia, com a participao majoritria de moradores de
bairros bem distantes de onde seria construdo o empreendimento. Situao jamais vista em
audincias pblicas para licenciamento ambiental acompanhadas ao longo dos anos, tanto em
funo da sbita motivao de pessoas que residem fora da rea de impacto direto do
empreendimento, majoritariamente jovens, em participar, como tambm pela opo em
realiz-la nas dependncias do Comando Geral da Polcia Militar.
Em

resposta

ao

aparente

relacionamento

simbitico

Estado-Empresa,

as

comunidades do territrio da RESEX de Tau-Mirim reunidas resolveram no participar da


audincia formalmente convocada pela SEMA-Empresa, porque entendiam que serviria
somente para legitimar as aes do par Estado-Empresa. Resolveram, em reunio da Unio de
Moradores, realizar sua prpria audincia, que batizaram de Audincia Popular. Esta
ocorreu no mesmo dia e horrio daquela convocada pelo par SEMA-Empresa, na Unio de
Moradores Proteo de Jesus do Cajueiro, na comunidade de Cajueiro e contou com quase
duzentos participantes. Na ocasio, diversas instituies e representantes de rgos pblicos
estiveram presentes em defesa dos direitos das comunidades tradicionais, como a CPT
(Comisso Pastoral da Terra), Irms de Notre Dame, GEDMMA e professores, pesquisadores
e estudantes universitrios, DPE (Defensoria Pblica do Estado), MPE (Ministrio Pblico
Estadual), Delegacia de Conflitos Agrrios, Deputado Estadual Bira do Pindar (PSB),
representante da vereadora Rose Sales (PCdoB), CSP-Conlutas (Central Popular e Sindical).
Uma notria relao assimtrica entre as comunidades e o par Estado-Empresa se
apresenta. Sobre o exposto, complementa-se com o registro da jovem Rafaela, da comunidade
do Taim, do Territrio da RESEX de Tau-Mirim, traduzido em poesia:

27

"Ns somos tainos


somos herdade boa de onde s vem dor,
povo humilde, honrado e trabalhador,
o bem o que ns temos para dar
quem h de me dizer quem somos?
Se nem acaso tu sabes quem s,
quem h de me dizer quem somos?
Querem nos lanar fora como se fossemos pragas
nas plantas das construes,
quem h de me dizer quem somos?
Se nem acaso tu sabes."
(Rafaela de Sousa Mesquita)

28

REFERNCIAS
ADRIANCE, Madaleine Cousineau. Terra prometida: as comunidades eclesiais de base e os
conflitos rurais. So Paulo: Paulinas, 1996.
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Amaznia: a dimenso poltica dos conhecimentos
tradicionais. In: ACSELRAD, Henri (Org.). Conflitos ambientais no Brasil. Rio de Janeiro:
RelumeDumar: Fundao Heinrich Bll, 2004, p. 37-56.
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Os quilombolas e a base de lanamento de foguetes
de Alcntara: laudo antropolgico. Braslia: MMA, 2006.
ANDRADE, Maristela de Paula (org.). Expropriao de famlias na periferia de So Lus
pelo projeto Carajs. Relatrio da SMDDH. So Lus, 1981.
ANDRADE, Maristela de Paula; CORRA, Clia Maria. Mataram a pobreza: condies de
vida de famlias de trabalhadores rurais expropriadas pela Companhia Vale do Rio Doce e
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FERRETTI, Srgio. Querebent de Zomdonu: etnografia da Casa das Minas do Maranho.
3a Ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2009.
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HARVEY, David. O novo imperialismo. Trad. Adail SOBRAL e Maria Stela
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Taim. So Lus: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis,
2006. Mmeo.
MAIA, Maina Roque da Silva. Diferentes vises de natureza, diferentes usos: os conflitos
socioambientais na rea proposta para criao da Reserva Extrativista de Tau-Mirim, Zona
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MENDONA, Bartolomeu R; MOREIRA, Jadeylson F. O Fator Participativo nas Audincias
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PEREIRA, PAULA MARIZE NOGUEIRA. Projetos de desenvolvimento e conflitos
socioambientais em So Lus-MA: o caso da instalao de uma usina Termeltrica. 2010.
(Curso Servio Social) - Universidade Federal do Maranho.

29

SANTANA JNIOR, H. A; PEREIRA, M. J. F; ALVES, E. J. P; PEREIRA, C. R. A (orgs.).


Ecos dos conflitos socioambientais: a RESEX de Tau-Mirim. So Lus: EDUFMA, 2009.

30

APNDICE 01
Estudos realizados pelo GEDMMA no Territrio da RESEX de Tau-Mirim
ALVES, Elio de Jesus Pantoja; Igor Pantoja. Esferas Pblicas e Impactos Socioambientais de
Projetos Industriais em So Lus-MA. In: 34 Encontro Anual da Associao Nacional de
Ps-graduao e Pesquisa em Cincias Sociais (ANPOCS). Caxamb-MG, 2010. p. 1-18.
BARBOZA, Elizngela Maria. Reserva Extrativista do Taim e a Educao Ambiental: o
Povoado Rio dos Cachorros So Lus (MA). Monografia apresentada ao Curso de Geografia
da Universidade Federal do Maranho. So Lus: UFMA, 2008.
BORRALHO, Ferdnand Ribeiro. A relao entre leigos e peritos na gesto de risco: grandes
empreendimentos industriais na Ilha de So Lus. 2009. Trabalho de Concluso de Curso.
(Graduao em Cincias Sociais) - Universidade Federal do Maranho. Orientador:
Bartolomeu Rodrigues Mendona.
CARVALHO, Fernanda Cunha de. Grandes empreendimentos e grandes impactos scioambientais: uma viso sobre a implantao do Plo Siderrgico da Ilha de So Lus
MA. Relatrio Iniciao Cientfica apresentado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Cientifico e Tecnolgico CNPq. Bolsa PIBIC/CNPq. So Lus: 2008.
CARVALHO, Fernanda Cunha de. Ordenamento territorial e impactos scio-ambientais
no Distrito Industrial de So Lus - Maranho. Monografia apresentada ao Curso de
Geografia da Universidade Federal do Maranho. So Lus: UFMA, 2008.
CARVALHO, Fernanda. C.; RIBEIRO, Ana Lourdes. Gesto do territrio e conflitos
socioambientais: a luta da comunidade Camboa dos Frades. In: CD do II Colquio
Internacional Sobre Desenvolvimento Local e Sustentabilidade: Novas Abordagens Velhos
Dilemas, So Lus: 2011.
DAMASCENO, Elena S.; PEREIRA, Madian J. F. Reserva Extrativista de Tau-Mirim: os
recursos naturais e o mercado local como forma de identidade. In: Manual de Resumos do IX
Encontro Humanstico. So Lus: EDUFMA, 2009. v. nico. p. 82-83.
DAMASCENO, Elena Steinhorst. Valorao Econmica dos Bens e Servios do
Manguezal na Reserva Extrativista do Taim. Dissertao apresentada ao Mestrado em
Sade e Ambiente da UFMA, 2009.
DAMASCENO, Elena Steinhorst; SANT'ANA JNIOR, Horcio Antunes de. Conflitos
Ambientais e a Criao da Reserva Extrativista de Tau-Mirim, So Lus - MA. In: Jalcione
Almeida; Cleyton Gerhardt; Snia Barbosa Magalhes. (Org.). Contextos Rurais e Agenda
Ambiental no Brasil: prticas, polticas, conflitos, interpretaes - Dossi 3. 1 Ed. Belm:
Rede de Estudos Rurais, 2012, v. 1, p. 158-173.
DE JESUS, Tayann Santos Conceio. Violncia, memria e a resistncia: anlise do
conflito pela terra em Rio dos Cachorros, So Lus MA (1996 2013). 2014. Monografia de
Curso (Histria) Universidade Federal do Maranho. Orientador: Horcio Antunes de
SantAna Jnior.
DE JESUS, Tayann Santos Conceio. Relatrio de PIBIC-FAPEMA- UFMA: Anlise dos
conflitos socioambientais em torno da constituio da Reserva Extrativista de TauMirim. So Lus: UFMA, 2013. Orientador: Horcio Antunes de SantAna Jnior.

31

DE JESUS, Tayann Santos Conceio. Relatrio de PIBIC-FAPEMA- UFMA: Anlise dos


conflitos socioambientais em torno da constituio da Reserva Extrativista de TauMirim. So Lus: UFMA, 2012. Orientador: Horcio Antunes de SantAna Jnior.
DE JESUS, Tayann. S. C. Reserva Extrativista de Tau-Mirim: distintos agentes em
disputa. In: III SEDMMA - Seminrio Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente,
2012, So Lus. Anais do III SEDMMA - Conflitos Ambientais, Mobilizaes e Alternativas
ao Desenvolvimento, 2012. v. 1. p. 1-259.
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de Cincias Sociais e Humanas. So Lus: EDUFMA, 2007.
GASPAR, Rafael Bezerra. O Taim e a criao da Reserva Extrativista: Um estudo sobre as
relaes entre sociedade e ambiente. Monografia apresentada ao Curso de Cincias Sociais da
Universidade Federal do Maranho. So Lus: UFMA, 2007.
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territoriais e dos conflitos ambientais. VI Encontro Humanstico - Caderno de Resumos.
So Lus: EDUFMA, 2006. pp. 109-110.
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criao de uma reserva extrativista. In: Anais do XIII Congresso Brasileiro de Sociologia.
Recife, 2007.
GEDMMA. Relatrio de pesquisa de campo: Vila Madureira e Camboa dos Frades.
GEDMMA/UFMA, So Lus, 2009.
JARDIM, Emanoelle Lyra. Educao ambiental: para quem ela serve? Uma discusso sobre a
Resex de Tau-Mirim e projetos de desenvolvimento no povoado de Porto Grande. 2010.
Monografia. (Aperfeioamento/Especializao em Educao Ambiental) - Universidade
Estadual do Maranho. Orientadora: Madian de Jesus Frazo Pereira.
MAIA, Maina Roque da Silva. Diferentes vises de natureza, diferentes usos: os conflitos
socioambientais na rea proposta para criao da Reserva Extrativista de Tau-Mirim, Zona
Rural de So Lus-MA. 2014. Dissertao (Cincias Sociais) - Universidade Federal do
Maranho.
MAIA, Maina Roque da Silva. MIRANDA, Ana Caroline Pires.Disputas territoriais e
conflitos ambientais no processo de implementao da Reserva Extrativista do Taim, So Lus
MA. In: Cadernos de Resumos do II Foro de Cincias Sociais e Humanas. So Lus:
EDUFMA, 2007.
MAIA, Maina Roque da Silva. O processo de negociao da implantao do Plo
Siderrgico em So Lus e a Resex do Taim. In: Cadernos de Resumos do XIX Seminrio
de Iniciao Cientfica da UFMA SEMIC. So Lus: EDUFMA, 2007.
MAIA, Maina Roque da Silva; MIRANDA, Ana Caroline Pires. Plo Siderrgico e Resex
do Taim: uma avaliao do processo de negociao da implantao. In: VI Encontro
Humanstico - Caderno de Resumos. So Lus: EDUFMA, 2006.p. 236.
MATOS. Mrcio de Jesus Azevedo de. O plo siderrgico de So Lus e o modelo de
desenvolvimento aplicado ao Maranho. Monografia apresentada ao Curso de Cincias
Sociais da Universidade Federal do Maranho. So Lus: UFMA, 2007.
MENDONA, Bartolomeu Rodrigues. Cajueiro e Taim: etnodesenvolvimento sustentvel ou
desenvolvimento moderno? In: II Encontro Estadual de Histria: Histria e historiadores
hoje - Cadernos de Resumos. So Lus: EDUFMA, 2004. p.47 48.

32

MENDONA, Bartolomeu Rodrigues. Cajueiro: das famlias tradicionais ao plo siderrgico,


uma anlise scio-cultural e poltica. In: 1 Congresso de Ensino Pesquisa e Extenso da
UFMA. Cadernos de Pesquisa. So Lus: EDUFMA, 2004. p.175.
MENDONA, Bartolomeu Rodrigues. Cajueiro: entre as durezas da vida e do ferro, no
tempo do ao. Monografia apresentada ao Curso de Cincias Sociais da Universidade Federal
do Maranho. So Lus: UFMA, 2006.
MENDONCA, Bartolomeu Rodrigues. Linguagens da conservao: As Reservas Extrativistas
enquanto instrumento de garantia de territrio das populaes tradicionais. In: Anais doX
Encontro Humanstico - Caderno de Programao e Resumo. So Lus: EDUFMA, 2010. p.
114.
MENDONA, Bartolomeu Rodrigues. Produo mundial de ao versus comunidade local. In:
Anais do V Encontro Humanstico. So Lus: EDUFMA, 2005.
MENDONA, Bartolomeu Rodrigues; MATOS, Marcio Azevedo. Plo siderrgico: emprego
e "desenvolvimento" versus modus vivendi de populaes tradicionais, uma anlise sciocultural e poltica. In: 4 Encontro Humanstico. So Lus: EDUFMA, 2004.
MENDONA, Bartolomeu, CARNEIRO, Marcelo Domingos Sampaio. Siderurgia e
populaes tradicionais: o caso de Cajueiro In:Anais do XII Congresso Brasileiro de
Sociologia. Belo Horizonte, 2005.
MENDONA, Bartolomeu, MATOS, Mrcio de Jesus Azvedo de; SANTANA JNIOR,
Horcio Antunes de. Cajueiro e o plo siderrgico de So Lus: uma abordagem scioantropolgica. In: Anais XXV Reunio Anual da Associao Brasileira de Antropologia
ABA. Goinia, 2006.
MENDONA, Bartolomeu. Cajueiro: entre as durezas da vida e do ferro, no tempo do ao.
Monografia (graduao) - Universidade Federal do Maranho, Curso de Cincias Sociais,
2006.109p.
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MENDONA, Bartolomeu; MATOS, Mrcio de Jesus Azevedo de; SOARES, Fabiano
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In: Anais da 57 Reunio Anual da SBPC. Fortaleza, 2005.
MENDONA; Bartolomeu Rodrigues. Depois da Marca: Cajueiro e a implantao do
plo siderrgico na Ilha de So Lus. Relatrio Iniciao Cientfica apresentado ao
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Reunio Anual da SBPC. So Paulo: SBPC, 2012. v. 1. p. 2556-2556.

37

APNDICE 02
Suposto stio eletrnico da empresa WPR
(Disponvel em: http://www.wpr.com.br/principal.html, acessado em 03/11/2014, s 00:54).

38

APNDICE 03
WPR So Lus Gesto de Portos e Terminais Ltda.
(Disponvel em: https://www.infoplex.com.br/perfil/18729181000157,
02/11/2014, s 14:35).

Acessado

em

WPR So Lus Gesto de Portos e Terminais Ltda.


(Disponvel
em:http://empresasdobrasil.com/empresa/wpr-sao-luis-gestao-de-portos-eterminais-ltda-18729181000157, Acessado em 02/11/2014, s 21:14)

39

WPR So Lus Gesto de Portos e Terminais Ltda.


(Disponvel
em:http://empresasdobrasil.com/empresa/wpr-sao-luis-gestao-de-portos-eterminais-ltda-18729181000157, Acessado em 02/11/2014, s 14:37. Continuao do print.

40

APNDICE 04
Fotos do processo de resistncia das comunidades do Territrio da RESEX de Tau-Mirim

Reunio no Andirobal Cajueiro (11/10/14)

Audincia Pblica SEMA/WPR na PM-MA (29/10/14)

Audincia SEMA/WPR. Impedida pelos moradores


(16/10/14)

Reunio de mobilizao Cajueiro (17/10/14)

Casa derrubada aps expulso dos moradores - Cajueiro

Audincia Popular - Comunidade Cajueiro (29/10/14)

Entrega pblica na SEMA do pedido de nulidade da


Audincia da SEMA/WPR na PMMA (03/11/14)

Audincia Pblica Cmara Municipal (22/10/14)

41

ANEXO 01
Histria de Nonato
(GISTELINCK, 1988, p. 136-138)
Menino ainda, Nonato veio na dcada de 50 com os pais, da regio de Cod para
Santa Luzia, procura de terra livre e boa. Fixaram-se seus pais com outras famlias num
centro situado no caminho da boiada, que atravessava o Maranho, vindo de Gois, passando
por Graja, os rios Zitiua e Pindar, indo para Bragana no Par. O centro recebeu o nome de
Boa Esperana, porque era mata virgem, terra frtil, terra livre.
Dez anos depois, quando Nonato j tinha mulher e um casal de crianas, chegou um
homem armado no povoado. Veio avisar s mais de cem famlias que o dono destas terras era
o Senador. As terras seriam cercadas e todo mundo tinha que sair. A comunidade se reuniu e,
junto com outras comunidades e com o sindicato decidiu ficar e se defender. Umas semanas
depois chegaram os pistoleiros com moures e arame farpado, enquanto os lavradores
estavam na roa. Ameaaram as mulheres e as crianas. Nonato, que tinha pavor de violncia,
decidiu ir embora com a mulher e as crianas, procura de outra terra livre e frtil, rumo ao
rio Pindar, at chegar num lugar chamado Mineirinho em 1972.
Tinha mata virgem em abundncia; a terra dava fartura e o rio muito peixe. Em dois
anos Nonato conseguiu construir uma casa bem arrumada, de taipa, coberta de telhas de barro
que ele mesmo fazia. Tinha uma sala com sof e duas poltronas, uma copa com mesa e seis
cadeiras e uma cristaleira cheia de loua linda, um quarto com cama de casal e guarda-roupa,
outros dois quartos para os filhos, uma cozinha limpa com uma bateria de panelas brilhantes,
o filtro de gua com seis copos de alumnio, o fogo lenha feito de barro, um terreiro
grande, cercado, com galinhas, patos e porcos. Tinha arroz, milho, feijo e farinha com
fartura. O dinheiro da venda do arroz dava para comprar duas vacas.
Nonato morava agora bem sossegado com a sua famlia na comunidade de
Mineirinho, que vivia unida e em paz. Graas a Deus, os grileiros no chegavam a, porque
no tinha estrada. Tambm no tinha ladres, nem polcia no povoado; podia dormir sem
trancar as portas. Todo mundo vivia em paz, trabalhando na roa, pescando e banhando no
rio, se reunindo na igreja e no sindicato e organizando festas na comunidade.
Mas um dia, no incio do vero, chegaram trs homens de helicptero. Comunicaram
que ia se construir uma ferrovia nessa regio, ligando So Lus a Carajs no Par. Era uma
obra federal. Ia dar muito trabalho. No precisava se preocupar em perder as terras, eles no
eram grileiros; a ferrovia ia ocupar apenas uma faixa de 100 m de largura. Quem perdia um
pedao de terreno ou bem feitorias ia ser indenizado.
Quatro anos depois chegaram as mquinas pesadas. Nonato foi chamado no
acampamento da empresa construtora e ficou sabendo que a ferrovia ia passar exatamente no
lugar onde ele morava. A empresa ia indeniz-lo, arrumar outra casinha no povoado e ajudalo no transporte dos mveis. Alm disso, a empresa oferecia-lhe a oportunidade de trabalhar
na construo da ferrovia. Ia ganhar um bom salrio e a mulher e os filhos podiam tomar
conta da roa. Nonato se empregou e mudou-se para outra casinha bem menor, num terreno
pequeno. O caminho carregou os mveis e os filhos seguravam galinhas, patos e porcos em
cima do veculo. Era um dia de agitao, de alegria, de festa.
Nonato aprendeu a trabalhar patrola. Como no tinha mais tempo para cuidar da
roa, resolveu vender a sua posse de 30 h para um homem, que andava com a mala cheia de
dinheiro, comprando terras. Ficou apenas com uma solta para as duas vacas. Com o dinheiro,
ele construiu a casa de tijolo.
Mas, dois anos depois, a obra terminou. Sem roa para trabalhar, Nonato no tinha
outra opo a no ser acompanhar a obra da ferrovia. Empregou-se em outra empreiteira,
primeiro em Pequi, depois em Parauapepas. De ms em ms ele mandava um dinheirinho
para a famlia em Mineirinho. Era pouco, porque a empresa pagava apenas dois salrios para
um operrio semiqualificado e tinha que viver no acampamento, beber uma cervejinha ou
uma cachacinha e de vez em quando sair noite. Certo dia, a mulher mandou um recado que
faltava dinheiro, porque os filhos tinham que ir para o colgio e ela estava doente. Precisava
comprar farda, cadernos, remdios e comida. Compadres e vizinhos ajudaram, mas, mesmo

42

assim, no dava. Foi preciso vender uma vaca. A outra vaca foi esmagada pelo trem. Mas no
tinha que se preocupar em comprar outra vaca. No ia faltar leite para as crianas, porque o
governo da Nova Repblica distribua agora leite em p. O filho mais velho tinha ido embora
para So Lus, procura de trabalho e de oportunidade de continuar os estudos. A filha mais
velha estava em Santa Ins, como empregada domstica na casa de famlia.
Quando o trem de minrio comeou a circular no incio de 1985, foi uma grande
festa. A obra terminou e Nonato foi despedido. Com o dinheiro da demisso ele tentou sua
sorte no garimpo da Serra Pelada e tornou-se scio de um barranco. Mas no deu certo. S
arrumou outra mulher em Curionpolis. No inverno forte de 1986, muito doente de malria,
ele resolveu voltar para Mineirinho. Graas aos bons cuidados de um funcionrio da SUCAM,
ele se recuperou lentamente. A mulher se esforava dia e noite, trabalhando na roa de um
compadre lavando roupa e pescando no rio, cuidando da casa e dos trs filhos menores.
Em julho veio finalmente uma notcia boa do filho em So Lus. Ele estava
empregado como ajudante na FEM Fbrica de Estruturas Metlicas, e tinha alugado uma
casa de dois quartos na Vila Sarney, na frente do Distrito Industrial. Podiam vir morar com
ele.
Nonato vendeu tudo o que tinha em Mineirinho e foi-se com a famlia para So Lus,
pelo trem, ... uma viagem maravilhosa. A famlia ajeitou-se na pequena casa alugada. Nonato
conseguiu logo um emprego como vigia da residncia de um deputado no Bairro do Calhau,
graas a um bilhete de outro poltico em campanha eleitoral no povoado de Mineirinho.
Mas os dois salrios, dele e do filho, no do para sustentar a famlia de seis pessoas.
S o aluguel da casinha j come a metade de um salrio! Ele e o filho, comendo no emprego,
no passam fome, mas em casa a maior misria. Na hora do caf no tem beiju, nem mingau
de milho, nem bolo de macaxeira, nem cuscuz de arroz. No tem dinheiro para comprar po.
Tem que sair para o servio em jejum. A meio-dia, a mulher e os filhos menores almoam
arroz, farinha e um pouco de feijo e de vez em quando uma sardinha, que compram fiado na
quitanda do seu doutor, que cobra preos com juros e correo monetria. No fim do ms
s entregar o salrio na quitanda e, s vezes, fica ainda devendo. Nas horas de folga Nonato
vai quebrar pedra na pedreira com os filhos menores, que no tm onde estudar. Assim
consegue mais um dinheirinho para, no fim de semana, comprar uma carninha de segunda,
com muito osso, e tomar umas caipirinhas na quitanda.
Continua alugando a casinha, mal arrumada e quase caindo, sem gua, sem esgoto,
com muita lama na porta no inverno e muita poeira no vero. Na salinha h apenas uma mesa
e quatro banquinhos, na cozinha uma pequena estante com algumas panelas velhas e
machucadas, seis pratos, uns copos e algumas colheres, um fogo a gs, com apenas duas
bocas funcionando, e um botijo de gs. Uma velha geladeira est encostada; o motor
queimou com as oscilaes da energia. No quarto h apenas uma caixa de papelo e uma mala
velha com roupa amontoada. As redes, j emendadas e de cor cinzenta, esto penduradas na
sala e no quarto.
A Vila Sarney inchou de gente, vindo de todo canto do interior e at do Piau e do
Cear. As mulheres conseguiram organizar um clube de mes, construram um salo que
serve para escolinha, igreja e festa. Com bingos e a ajuda de amigos e da cervejaria, foi feito
um poo artesiano. Agora tem gua potvel e para lavar roupa. Os homens, que trabalham nas
fbricas at nos sbados pela tarde, no tm tempo para trabalho comunitrio e aproveitam o
fim de semana para esquecer a rotina de trabalho e a misria da casa, no jogo de futebol, na
bebida e na festa. A cada fim de semana e, at mesmo durante a semana, chega o carro da
polcia para apanhar bbados, briguentos e ladres. J esto levando tambm maconheiros e
de vez em quando um assassinado. Nonato dorme com a arma na rede. Outro dia, enquanto
ele estava de servio noturno, roubaram a televiso, que tinha comprado um ms antes
prestao. E, faz pouco tempo, ele ficou sabendo que o filho de quinze anos est envolvido
numa boca de fumo e que a filha caula est inda, noite, na boate o trem das onze.
A histria de Nonato se repete, com poucas variaes, em milhares de famlias.

43

ANEXO 02
Mapas da RESEX de Tau-Mirim, So Lus, Maranho, Brasil.

Mapa da proposta inicial (fonte: CNPT/IBAMA-MA)

44

Mapa proposta original da rea da RESEX (fonte: CNPT/ICMBio-MA)

45

Mapa atualizado, ps redefinio da rea da RESEX (fonte: CNPT/ICMBio-MA)

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