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RESUMO
Este texto trata da relação entre infância camponesa e as dimensões do corpo, natureza, trabalho e
cultura. É um recorte da pesquisa de doutorado intitulada “ Infância, Corpo e Educação do Campo
na Comunidade do Sertão - Chapada dos Veadeiros - GO”. A metodologia privilegiou as diferentes
expressões das crianças e teve como instrumentos principais: observação participante e entrevista.
Destaca-se a infância constituída em interação com o Cerrado e os desafios em ser criança camponesa.
PALAVRAS-CHAVE: Infância; Corpo; Campo.
INTRODUÇÃO
Como é ser sujeito-criança no campo? O que as crianças dizem (em suas mais
diversas linguagens) sobre sua vida, seu lugar?
Essas foram as questões de pesquisa da investigação de doutorado intitulada
provisoriamente “ Infância, Corpo e Educação do Campo”4. Este texto apresenta
um recorte com alguns de seus resultados preliminares e tem por objetivo tratar
da relação entre infância camponesa e as dimensões do corpo, natureza, trabalho e
cultura.
A investigação foi realizada em co-parceria com os sujeitos, especialmente com
as crianças, da Comunidade e da Escola do Sertão localizada no município de Alto
Paraíso de Goiás na Chapada dos Veadeiros - GO. Um lugar de belas paisagens, rica
biodiversidade do Cerrado e composto em sua maioria por pequenos/as agricultores/
as. A zona de amortecimento do Parque Nacional Chapada dos Veadeiros, Reserva
da Biosfera, Área de Proteção Ambiental (APA - GO), e corredor ecológico Paranã
- Pirineus passam pela comunidade (REZENDE, 2010), o que garante a ela certa
proteção quanto à degradação do Cerrado tão presente no estado de Goiás em
decorrência do agronegócio.
1 O presente trabalho recebeu apoio financeiro via Edital Auxílio à Pesquisa DPP-UnB No 02/2016.
2 Faculdade de Educação Física e Dança (FEFD/UFG), [email protected]
3 Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE/UnB), [email protected]
4 A pesquisa de campo foi concluída em novembro de 2016. Teve aprovação no Comitê de Ética em
Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais (CEP/CHS) da UnB. Parecer nº 2.010.482.
Pesquisas com crianças no contexto comunitário rural revelam que elas sabem
muito do lugar onde vivem, da geografia, da natureza, do trabalho, do brincar,
das pessoas e dos costumes culturais. Isso foi observado em diferentes grupos de
crianças camponesas - quilombolas, ribeirinhos, pescadores, agricultores familiares...
(SILVA et al, 2013). Essas características foram perceptíveis também na comunidade
participante desta investigação. No total foram 10 (dez) viagens de campo ao Sertão,
5 (cinco) em 2015 e 5 (cinco) em 2016. Optou-se por trabalhar com “instrumentos
lúdicos de coleta de dados”, ou seja, com jogos, brincadeiras e maneiras lúdicas de
interagir com as crianças mesmo quando por meio de instrumentos mais tradicionais
como a entrevista, a fotografia e a observação (SILVA, 2009). Este texto abarcará
somente a observação participante e a entrevista coletiva.
Grazielle sai do rio e vai até o pé de jatobá, que fica na margem. No chão há
vários jatobás só aguardando para serem catados.
Kaliel: - Joga desse aí pra mim, pra mi quebrar... Elinha: - Jatobá! Gui: - Joga
pra mim, Grazi!
Invenção de criança: Grazi entra na água cheia de jatobás “flutuantes”, mais de
10!!! Ela e Kaliel, que são os maiores do grupo, mergulham e pegam pedras no
fundo do rio para quebrá-los. As pedras eram usadas por todos e contávamos
com ajudas dos mais experientes para abrir o jatobá. Para os menores, Elinha
e Gui, havia ainda o desafio de ficar em pé, pois ali já era um pouco fundo
para eles (Diário Camponês, agosto, 2016).
[...] a história antiga de todas as etnias, dos mais diversos povos, o que todos
tem em comum é uma incrível habilidade para interagir com aquilo que é
chamado de ecossistema. Para esses povos, o ecossistema é uma entidade,
uma inteligência viva [...] muito povos, para não dizer todos, fundem os
seus mitos de origem, as suas histórias de origem [...] com as inteligências
fundadoras.
[...] as crianças trabalham e isso não chega a ser problema para o direito à
infância, desde que o tipo de trabalho que realizam não as aliene da condição
de sujeitos e de crianças. Para isso, somente um trabalho que não seja
alienado, que não as limite de vivenciar outras experiências humanas, como o
estudo e a brincadeira que é própria da infância, pode ser aceitável.
Muitas vezes, foi possível perceber uma fusão entre trabalho e brincadeira. O
papo com Rafa (5 anos) exprime essa percepção:
Rafa nos contou que ganhou uma mula e estava bem feliz, que a mula era
mancinha e tranquila. Perguntei a ela sobre os finais de semana...Ela me falou
que acorda bem cedo junto com o pai, o ajuda no curral, solta os bezerros
e que gosta muito de fazer isso. Depois dessas atividades, vai brincar com o
cachorro e depois vai tomar café. [...] Fica o dia inteiro andando de bicicleta
(Diário Camponês, setembro, 2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARENHART, D. A mística, a luta e o trabalho na vida das crianças do assentamento
conquista na fronteira: significações e produções infantis, 2003. Dissertação de Mestrado.
Programa de Pós-graduação em Educação - UFSC.
MAUSS, M. Técnicas Corporais. In: Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac & Naify,
1974.