O Tráfico de Drogas e o Crime Organizado
O Tráfico de Drogas e o Crime Organizado
O Tráfico de Drogas e o Crime Organizado
RESUMO
Este artigo busca abordar o trfico de drogas ilcitas e verificar se esta modalidade
criminosa est inserida no conceito de crime organizado, encontrado com frequncia
em textos, artigos, notcias. Foi feita uma contextualizao sobre essa atividade
criminosa no Brasil, em especial a faco criminosa Comando Vermelho,
descrevendo suas origens e de como as atividades com as drogas ilcitas comearam no
Brasil. Por fim, foram verificadas correlaes entre as atividades administrativas do
trfico de drogas ilcitas e a estrutura administrativa de setores pblicos e privados,
apresentando caractersticas semelhantes entre eles.
1. INTRODUO
Oficial da Polcia Militar de Minas Gerais 2 Tenente PM - Bacharel em Cincias Militares Psgraduado e Especialista em Segurana Pblica e Complexidade - Mestrando em Administrao.
Faremos uma abordagem dos diversos conceitos de crime organizado utilizados por
escolas de polcia do mundo todo. Abordaremos a adaptao criminal do Comando
Vermelho, saindo da prtica de roubo a estabelecimentos bancrios e partindo para o
trfico de drogas ilcitas. Faremos uma breve contextualizao sobre o trfico de drogas
no Brasil, percorrendo os caminhos que levaram ao surgimento do trfico de drogas,
considerado por muitos, at mesmo por algumas autoridades, o grande responsvel pelo
aumento da violncia. Posteriormente, faremos uma correlao dos artigos e textos
O que realmente novo, e isso tem causado grande preocupao, que o trfico de
drogas ilcitas, particularmente a cocana, crack e maconha, vai seguindo a mesma trilha
dos jogos de azar, ou seja, est se transformando em um grande negcio merc da
incapacidade, descaso e falta de vontade das autoridades de afrontar esse problema que
afeta a sociedade. (ESPRITO SANTO, 2003, p. 131)
Caldeira (1998)2, citado por Lcio Emlio (2003), lembra que o jogo de azar uma
atividade ilcita que se tornou a alma de um grande negcio. Lembra ainda que esta
prtica se tornou usual no pas, sendo aceita de certa forma. Os grandes bicheiros
eram pessoas que tinham a fama de intocveis, pois no eram punidos mesmo
cometendo os ilcitos penais. O trfico de drogas ilcitas est seguindo pelo mesmo
caminho do jogo do bicho, pois o processo de aceitao de prticas delituosas, por
parte da sociedade e por parte das autoridades, acaba banalizando essas atividades,
culminando numa tolerncia aos crimes e contravenes. (ESPRITO SANTO, 2003,
p. 132)
Assim como os bicheiros circulavam livremente pelas altas rodas do poder, ligavam-se
ao futebol e s pessoas de influncia na sociedade, esse mesmo privilgio est sendo
2
buscado pelos traficantes. Essa tendncia fica muito clara no cinismo com que os
traficantes tm encarado o aparelho repressivo do Estado, principalmente o sistema
prisional. Conhecem e exploram com maestria as falhas, que so muitas, dos sistemas
policial, judicial e prisional. Os traficantes tm procurado intimidar os honestos,
reduzindo-os a quase inao, e aliciar os desonestos, propiciando assim o
funcionamento do negcio do trfico, que em pouco tempo alcanar aquele status
ambguo do ilegal-tolerado, mesmo porque seria at desumano deixar os dependentes
qumicos sem papelotes e buchas. Sob a mesma ptica dos bicheiros, muito tem se
falado da impossibilidade de erradicao do trfico em face do seu valor econmico e
ainda como fonte de emprego do jovem morador das comunidades/aglomerados.
Dentro desse prisma, lembra Caldeira (1998), que alguns segmentos chegam, inclusive,
a propor sua despenalizao3. A falta de soluo para esse grave problema s faz crescer
o medo e conseqentemente a insegurana.
Deixar o trfico de drogas ser abordado como crime, ou seja, a pessoa no mais seria punida por praticar
o trfico e drogas ilcitas.
4
http:// www.ims.uerj.br/nupevi/artigos_midia/confianca.pdf
5
Pessoas encarregadas de vender pequenas quantidades de drogas aos usurios. Posto mais baixo na
hierarquia do trfico de drogas ilcitas.
Sendo que muitas das vezes esses criminosos encontram nos assaltos e demais crimes
contra o patrimnio a sada para obteno de dinheiro para pagar o dinheiro devido ao
traficante (ZALUAR, 2004, p. 59).
Percebe-se que o trfico de drogas ilcitos uma modalidade criminal que traz junto
consigo uma srie de outros crimes, principalmente, o crime violento contra o
patrimnio e contra a pessoa.
Muito se questiona qual o papel das autoridades frente ao problema das drogas ilcitas.
Paixo (1994)7, citado por citado por Lcio Emlio (2003), levanta a seguinte questo:
a partir de que momento a ingesto de drogas ilcitas, que a rigor pertenceria esfera da
moralidade, transforma-se em um problema social? Em resposta a este questionamento,
autores como Ardaillon e Debert, (1987, p. 136), dizem que o uso indevido de drogas
tornou-se um problema pblico, e conseqentemente objeto de polticas pblicas, por
tornar o dependente qumico mais propenso a cometer crimes, resultando no aumento da
criminalidade. (grifo nosso)
De acordo com a DPSSP 03/2002 so os efeitos negativos causados pela atuao policial, representando
um aumento na criminalidade em razo das intervenes da Polcia Militar.
7
PAIXO, Antnio Luiz. (1994)
A organizao de grupos criminosos dentro das cadeias do Rio de Janeiro, visando atuar
em uma nova modalidade criminosa, o trfico de drogas ilcitas, um marco para a
insero do Comando Vermelho8 (CV) no mercado varejista das drogas ilcitas. a
partir da que temos a escalada da violncia armada.
O Comando Vermelho nasceu na priso e l continua seu poder at hoje. No fim dos
anos 70, os membros encarcerados do Comando Vermelho comearam a organizar as
atividades criminais (principalmente assaltos a banco e seqestros) no Rio de Janeiro,
comprando, em seguida, sua liberdade com ganhos ilcitos cuidadosamente introduzidos
nas prises. Isso coincidiu com a chegada da cocana, trazida da Bolvia, do Peru e da
Colmbia ao Rio de Janeiro para exportao aos pases ocidentais e para consumo local.
Assaltantes de bancos liberados, vinculados ao Comando Vermelho, perceberam os
grandes lucros que podiam ser auferidos com a venda de cocana. Assim, realizaram
alguns assaltos a bancos e seqestros para financiar um movimento organizado rumo ao
negcio do varejo de drogas (AMORIM, 2004).
Esse posto alcanado pelos traficantes que vem a prejudicar a atuao policial no
combate s drogas, pois, como ele visto como dono do morro, os moradores tm
suas aes controladas por esses criminosos. A coero exercida pelos traficantes
inviabiliza a colaborao da sociedade, pois esta tem medo de denunciar ou ser
testemunha contra algum da favela com medo de sofrer represlias, o que muitas das
vezes impossibilita aos rgos de segurana pblica realizar um trabalho eficaz no
combate ao trfico de drogas ilcitas. (Instruo 002/2004 . Regula atuao do GEPAR).
O dinheiro gerado pela venda da droga tornou-se uma importante fonte de renda, que
estimula o desenvolvimento econmico local dentro das comunidades de favelas, mas a
ampla maioria do lucro no circula na comunidade e vai para o dono da boca e os
matutos9, que geralmente vivem fora da favela. (AMORIM, 1995)
Pessoas que levam a cocana para o corao das favelas que os donos controlam
Para estruturar uma rede de venda das drogas ilcitas, quadrilhas hierarquicamente
estruturadas foram implantadas nas favelas para defender pontos de venda e as
comunidades vizinhas contra invases policiais ou ataques de faces criminosas rivais,
e entre 1984 e 1986 comearam a surgir os primeiros soldados do trfico11
(AMORIM, 1995).
3 O CRIME ORGANIZADO
Para uma anlise do processo evolutivo do crime, faz-se necessrio entender o que vem
a ser o termo Crime Organizado.
Para as Naes Unidas12, organizaes criminosas so aquelas que possuem vnculos
hierrquicos, usam da violncia, da corrupo, lavam dinheiro e tm a inteno de obter,
direta ou indiretamente, um benefcio econmico ou outro benefcio material.
10
13
http://www.espacoacademico.com.br/034/34coliveira.htm
crime organizado est presente. Portanto, uma das caractersticas do crime organizado
buscar apoio para a sua atuao no mbito institucional instituies do Estado. Ao
avaliarmos a histria da populao brasileira e suas caracterstica cultural, percebemos
facilmente que no uma prtica comum o debate de assuntos relevantes para o
cotidiano nacional. Outro ponto importante que as aes do crime organizado tm
como engrenagem o sistema capitalista. Por meio dos benefcios do capitalismo, como,
por exemplo, a interao dos mercados financeiros, possvel tornar as atividades das
organizaes criminosas bastante lucrativas. A interao dos mercados financeiros
proporciona a lavagem de dinheiro.
Nesse sentido percebe-se que o trfico de drogas ilcitas preenche vrios requisitos para
ser classificado como uma modalidade criminosa que compe o hall dos crimes tidos
como organizados.
4 CONSIDERAES FINAIS
14
Embora entendamos que h uma certa organizao nas atividades criminosas, deve-se
ter cuidado ao referenciar o termo. O trfico de drogas ilcitas entendido como crime
organizado em relao sua dinmica estrutural para realizao das atividades ilegais.
Caso as drogas venham ser legalizadas no Brasil, o trfico de drogas ilcitas passar a
figurar como uma atividade legal, fazendo com que as organizaes criminais, que
exploram essa atividade, percam seu carter ilegal, uma das poucas caractersticas que
as diferem das organizaes formais.
REFERNCIAS
Disponvel
http://conjur.estadao.com.br/static/text/585421 Acessado em: 09/01/2011
em