Congresso Livro 20141027 PDF
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RESUMOS E
ARTIGOS
20 a 24 de Julho de 2014
So Paulo SP
HTTP://ABRATEF.ORG.BR [email protected]
Queridos colegas,
XI Congresso Brasileiro de
Terapia Familiar:
resumos e artigos
ISBN: 978-85-68578-00-1
1 Edio
So Paulo 2014
estivesse devidamente desenvolvido. A resposta foi um congresso com ofertas para todos os participantes, desde estudantes de graduao at os mais experientes profissionais que participavam de seu dcimo primeiro congresso brasileiro. A vocs, autores, devemos o xito de nosso trabalho. No teramos
tido este resultado se o convite para compartilhar o percurso e
os resultados de tantos caminhos no tivesse sido generosamente aceito. O que se segue o resumo do congresso que vocs fizeram.
Em nome da Comisso Cientfica agradeo a vocs, e ao
minucioso trabalho de reviso e compilao que gerou este ebook.
Comisses Organizadoras
Comisso de Divulgao
Coordenao: Maria Luiza DiasGarcia
Colaboradoras: Andrea Macedo, Clo Peixoto de Melo, Fabiane Moraes de Siqueira, Thas Olimpia, Vivien Bonafer Ponzoni, Maria Rita DAngelo Seixas, Mathilde Neder, Sandra Regina Borges dos Santos
Comisso de Logstica
Coordenao:Paula Ayub
Comisso de Tesouraria
Cllia Maria Magalhes Maia
Comisso de site
Oficinas
sentes na sexualidade e a invisibilidade do prazer; as tecnologias de informao e seus desdobramentos; movimento e envolvimento na auto percepo corporal sero vivenciados pelos participantes. A oficina ser realizada em dois momentos,
no primeiro com os participantes divididos em 4 subgrupos
com nfase nas atividades relacionadas tecnologia de informao, sexualidade, parentalidade invertida e movimento. No
segundo momento, haver uma troca entre os participantes
das experincias vividas nos grupos.
so de expanso de seus prprios contornos. Os materiais a serem utilizados foram exclusivamente desenvolvidos para este
Ateli e so compostos de imagens e formas advindos das artes em geral, para que as identificaes dos estilos possam
ocorrer, propiciando com entusiasmo e criatividade, uma rica
experincia de desenvolvimento, ampliao e expanso do repertrio da pessoa do Terapeuta.
de desejo, anorgasmia, impotncia sexual, e tantos outros diagnsticos e patologias? Ser que sempre existiram ou surgiram nos novos tempos?
Qual a influncia da cultura e das mudanas sociais ao
longo dos anos sobre as concepes acerca de nossa sexualidade?
Revisitar a histria da sexualidade no Ocidente a partir
de um olhar ps-moderno pode fazer diferena para o terapeuta em seus atendimentos?
Essas so algumas de nossas inquietaes que nos impulsionam a oferecer nossa audincia um espao reflexivo sobre
a influncia sociocultural em nossa concepo das questes sexuais. Iniciaremos nossa oficina com uma breve contextualizao histrica sobre as principais mudanas sociais em nossa
sexualidade e a partir da edio do filme Lolita em suas duas
verses (1962 e 1996) propomos um dilogo sobre as novas
concepes sobre a sexualidade nesse perodo histrico at os
dias de hoje.
Nossa oficina se prope a oferecer um espao para o dilogo e para a reflexo co-construdos com a audincia. Nosso
referencial terico se sustenta nas Epistemologias Ps-Modernas como o Pensamento Sistmico Novo-Paradigmtico e o
Construcionismo Social.
Nota: Esta oficina foi baseada na Dissertao de Mestrado: O Discurso Ertico: a construo social do erotismo e sua
influncia na sexualidade (PUC-SP, 2013) Orientadora: Prof.
Dra. Rosa Maria S. de Macedo
Gurgel MTAG
Objetivo: proporcionar uma reflexo terico-prtica sobre escolhas e mudanas seus facilitadores, desencadeadores e seus obstculos.
Justificativa: escolhas so feitas o tempo todo durante a
vida. Algumas vezes estas escolhas so julgadas boas e sentese felicidade; outras vezes, julga-se que foram feitas escolhas
ruins e, com isso ocorre o arrependimento e sente-se infelicidade. Contudo, pode-se entender que durante a vida so feitas
escolhas possveis, naquele determinado momento. Possveis
de acordo com o repertrio comportamental, estrutura emocional, histria de vida e outros fatores. Esta compreenso facilita se viver de forma mais leve, sem culpas, aceitando que erros so cometidos. Para que as escolhas possveis se tornem
escolhas conscientes, preciso autoconhecimento. Desenvolver a conscincia do prprio funcionamento e da responsabilidade pelas escolhas elimina completamente a culpabilidade.
No existe mais crtica de si ou aos outros, mas sim um estado
de coisas, um funcionamento, um aspecto para ser flexibilizado e ampliado (Souza, D. S. de; Rosset, S.M., 2006). A partir
do momento que existe a permisso para escolher, possvel
mudar! O processo de mudana se d por etapas, passos, momentos e movimentos (Rosset, 2005,p.207). preciso desenvolver o desejo de mudar, criar a vontade de mudar, desenvolver as aprendizagens necessrias que ficaram faltando nas etapas de desenvolvimento ou que o momento atual est exigindo, planejar as estratgias da mudana, experimentar e por
Formato de apresentao:
20 min para apresentao e relaxamento
15 min para dinmica
10 min para processar a dinmica
30 min para teorizar
10 min de perguntas
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peutas de famlia, pedagogos e mdicos. Estimulamos o dilogo sobre questes especficas que surgem, no dia a dia, de
cada um e na mdia social.
Como resultado, obtivemos o retorno de como foi importante, contar com um espao informal de troca, onde dilogos
colaborativos possibilitaram a oxigenao de desmistificao
de ferramentas tecnolgicas e posturas teraputicas.
As tecnologias sociais incluem a possibilidade de agregar novas experincias relacionais e sociais, com efeitos para quem
adere a essas tecnologias ou no.
se identifica tambm pela negao por parte da me da entrada do pai na relao, permanecendo assim onipotente e fusionada. Uma criana que recebeu poucaateno s suas necessidades e desejos, pode apresentar diversos transtornos perceptivos e conceituais, trazendo prejuzos na sua capacidade de
tolerar frustraes e enfrentar adversidades, assim como afetar seu grau de confiana em si e nos outros. Conforme TORRES, J.R, O indivduo que no experimentou o amor como
fluido fundamental, tender a assumir uma tnica afetiva conduzida pelo medo e pela necessidade ilusria de controle, mecanismo fundamental na dinmica da Anorexia Nervosa.
Para desencadear a discusso utilizaremos cenas de filme e
textos pertinentes ao tema.
co/afetivo/sexual dos parceiros, assim como a conduo da terapia com casais, refletindo sobre a postura do terapeuta e suas intervenes. O trabalho ser desenvolvido apresentando
partes importantes do filme para entender a dinmica conjugal, a queixa do casal, e a evoluo do processo teraputico
com suas vicissitudes. A abordagem terica e tcnica da oficina tentar alcanar o entendimento do funcionamento da prtica da terapia de casal, qualquer que seja a queixa, incluindo
disfunes sexuais.
gem para a criana lidar com o dinheiro, e de grande importncia que os pais reflitam sobre esta funo familiar.
Considero que a arte de educar os filhos em relao ao dinheiro, torna-se fundamental e desafiante para o papel dos pais
que devem prepar-los para um futuro mais prspero, autnomo e responsvel consigo e com outro. Essa tarefa se amplia
para toda uma sociedade e para o terapeuta familiar levando a
refletir e desenvolver com pais e filhos formas de lidar com o
uso do dinheiro.
A oficina tem o objetivo de compreender como o fenmeno do consumismo infantil e o uso do dinheiro afetam nas relaes familiares e, promover reflexes sobre a contribuio do
terapeuta familiar, em sua atuao clnica, para ajudar pais e
filhos frente a esta demanda.
O formato de apresentao ser de inicialmente assistir a
um vdeo chamado Crianas do consumo: a alma do negcio, com durao de 15 minutos. Aps ouvir os participantes
sobre suas ideias e pensamentos em relao ao filme a partir
de alguns questionamentos, tais como: Como os pais tem educado seus filhos em relao ao dinheiro? Quem e o que influencia as crianas ao consumismo? A responsabilidade somente
dos pais para se educar financeiramente os filhos? Qual o papel do terapeuta familiar na sua atuao clnica com pais e crianas quanto a educao financeira? Depois desta discusso,
sero apresentados alguns caminhos possveis que o terapeuta
familiar pode colaborar para uma reconstruo de funes parentais mais confiveis.
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Objetivo
As prticas ps-modernas de terapia podem ser compreendidas como prticas organizadas pelo dilogo. Especialmente no contexto da terapia colaborativa, a conversao dialgica
orienta-se por uma postura de abertura e disponibilidade do
terapeuta paraestar como cliente, numa parceria de investigao compartilhada impulsionada por uma curiosidade genuna e escuta generosa. Assim, o terapeuta procura compreender a partir da lgica, valores e significados que o cliente atribui aos acontecimentos de sua vida, deixando-se tocar pelo
que escuta no tempo presente. As perguntas do terapeuta nascem da prpria conversao e, mais do que buscar por respostas, esto a servio de abrir e deixar abertas novas possibilidades de sentido. Estar em dilogo implica em estar aberto ao
fator surpresa e a deixar-se transformar diante do inesperado
e imprevisvel do prprio fluxo da conversao. Tom Ander-
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O objetivo deste trabalho apresentar, em uma metodologia terico-prtica, tcnicas utilizadas habitualmente no
atendimento teraputico de casais e famlias como suportes
importantes para o procedimento da mediao, em particular
a mediao familiar, e aplic-las ao grupo em dinmicas criativas. Como transdisciplina que a mediao no tem finalidade teraputica, embora possa produzir efeitos teraputicos e,
frequentemente, o faa. Assim, seus praticantes, mediadores
oriundos de diferentes formaes profissionais, utilizam tcnicas muitas vezes sem terem conhecimento terico suficiente
para se aperceberem da amplitude dos conflitos emocionais
existentes sob conflitos aparentes, como os jurdicos. O terapeuta familiar, por seu turno, detm conhecimentos tericos,
como a viso sistmica, e tcnica, em razo de sua atuao cotidiana em cima dos conflitos que lhe so apresentados, o que
pode ter largo alcance na realizao do processo de mediao.
Fazer essa aproximao de forma vivencial e ldica, oferecendo aos participantes instrumentos que viabilizem melhor acolhimento dos mediados, uma escuta ativa com perguntas adequadas, e o estmulo construo de um espao de conversa
que possa levar a acordos consistentes o foco desta oficina.
O mediador um facilitador de comunicao. Assim, desenvolver sua habilidade de leitura do no verbal, ao lado do verbal,
pode ser de grande valia na construo do processo de mediao. E a terapia familiar, dos pontos de vista terico e tcnico
tem muito a oferecer.
Marajane Loyola
Loyola M. A.
Objetivo: instrumentalizar o profissional para buscar informaes sobre sua histria familiar e ampliar seu olhar
quanto ao uso do genograma como mtodo de interveno em
atendimento a famlias.
Justificativa: o genograma tem-se mostrado como valioso instrumento para a compreenso e interveno em processos familiares. A tcnica do genograma consta de um desenho
grfico da famlia de origem, de aproximadamente trs geraes, em que se busca compreender os relacionamentos, a estrutura bsica, a demografia e o funcionamento da famlia.
necessrio repensar a famlia em termos de processo
relacional levando o terapeuta a ampliar sua viso em relao
s suas prprias vivncias familiares. A partir da vivncia da
construo de genograma pessoal, o terapeuta ter a possibilidade de examinar possveis dificuldades que poder apresentar em sua atuao teraputica. Tal vivncia enriquece a capacidade de compreenso deste sobre seus recursos e limitaes
e minimiza as ansiedades em relao famlia de origem e ainda proporciona efeitos na experincia bsica no processo de
diferenciao de si mesmo, portanto na modificao
doselfpessoal. Esta oficina torna-se importante para uma vivncia em que o terapeuta ir construir o genograma de sua
famlia de origem, vivenciando uma tcnica que poder ser auto-reflexiva e ainda poder aplicar a mesma para orientar sua
prtica profissional em atendimento a famlias.
Formato de apresentao e material a ser utilizado: a oficina ser vivencial, haver uma parte expositiva sobre como
montar um genograma e na parte vivencial cada participante
precisar de uma folha de papel sulfite A3, lpis preto, borracha e lpis de cor.
OF. 22 Os quatro vnculos, segundo David Zimerman: amor, dio, conhecimento e reconhecimento
Iara L.Camaratta Anton
Anton ILC
Apresentao/proposta de oficina
David Zimerman tornou-se um dos mais reconhecidos
analistas-didatas de nossos tempos, por sua mente aberta, diante da alma humana. Estudioso incansvel, capaz de escrever
com objetividade, clareza e afeto, tambm um palestrante carismtico, reconhecido no Brasil e no exterior.
Dentre as principais referncias de sua produo cientfica, encontra-se Bion, deixando clara a afinidade entre ambos
em relao ao tema vnculos. Zimerman, porm, alm dos
trs vnculos estudados por Bion (amor, dio e conhecimento), introduziu um novo foco, cuja luz incide sobre o vnculo
do reconhecimento.
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Para exemplificar este processo e ampliar a reflexo, sero apresentados vdeos dos workshops O Tatame da Vida,
realizados com os professores dos projetos Faixa Preta de Jesus e Guerreiros do Futuro, do Instituto Irmos Nogueira.
Ambos projetos ensinam artes marciais a crianas e jovens em
comunidades de baixa renda. O Tatame da Vida consiste
numa metodologia narrativa que utiliza a metfora do tatame
como um espao fsico no qual a luta pela vida se transforma
em esporte e a superao a meta. Explora como a prtica do
esporte pode auxiliar na superao de adversidades da vida.
Formato da apresentao
Oral com apresentao de slides no Prezi e Vdeos.
Costa F.C.R.G, Miranda D., Cardoso H.M.P., Mello J.F., Cardoso J.M.P., Lobo M., Lanna T.W., Souza L.C.C.
Vivemos em uma sociedade onde valorizamos a durabilidade e no a qualidade das relaes. Sob essa tica, o casamento sempre visto como soluo e sade, e o divrcio como fracasso e doena.
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Objetivo
Trazer aos participantes uma nova forma de olhar as geraes passadas (suas heranas, legados, marcas e histrias)
atravs do corpo. Presentificando, honrando, fortificando as
heranas construtivas e liberando as heranas que no contribuem para uma construo de laos e vnculos saudveis.
Justificativa
Um dos sintomas que geram desarmonias e desequilbrio
dentro do ncleo familiar pode ter sua origem em histrias
passadas. Que por muitas vezes se perpetuam de gerao em
gerao e nunca so olhadas. Em alguns momentos ignoradas
e ou no percebidas na dinmica do cotidiano da famlia.
Esse olhar transgeracional faz-se perceber que muitas vezes as famlias esto repetindo histrias, medos, traumas e vcios que no so seus. E por honrar esse legado, quase sempre
inconscientemente, deixa-se de viver e construir a prpria histria dessa famlia atual.
Estar preso ao passado pode ocasionar um entrave no
convvio harmonioso de uma famlia.
Formato de apresentao
Vivncia corporal com base na abordagem sistmica
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esta equipe se encontra quinzenalmente desde 2009 para estudar, pensar, pesquisar e atender casais.
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Depois todos os crculos sero unidos formando um grande Mandala para ser observado e percebido. No fim, este ser
desfeito, como referncia transitoriedade da existncia
SuelyEngelhard
Objetivo
Compartilhar uma experincia de interviso entre terapeutas por meio de uma tcnica onde utilizaremos miniaturas
de objetos e personagens como, por exemplo: animais, carri-
O tema abordado neste estudo,Entre a Obrigao e a Demanda, constitui parte de um processo, que o adolescente e
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sua famlia em conflito com a lei, constroem durante o processo de cumprimento da medida scio-educativa.
Nossa proposta se faz na direo de conhecer, atuar e
acompanhar o percurso do adolescente e sua famlia com
vistas a sensibiliz-lo a desconstruir a crena em uma medida
scio educativa vista, como obrigao e construir
uma demanda cujo contedo inclui responsabilizao e
adaptao ativa no cumprimento da medida scio educativa.
Prope-se ainda a refletir sobre o papel do tcnico do poder judicirio no sentido de potencializar as necessidades e
possibilidades do adolescente e sua famlia, neste espao entre
a obrigao e a demanda. Para tal, vamos inicialmente tecer
consideraes sobre os paradigmas que constituem o solo comum transdisciplinar do nosso trabalho e que aliados s vozes
dos adolescentes e suas famlias funcionam como faris que
iluminam a atuao tcnica, conferindo a cada momento, e a
cada encontro, uma interao singular e nica.
A seguir pretende-se baseado no pensamento sistmico,
construir as vrias faces do ato infracional como a dimenso
estrutural, psicossocial, tico-politica, scio-familiar, que conectadas constroem o palco propcio ao exerccio do ato infracional e da violncia.
Por ltimo, apresentaremos um estudo de caso, onde se
pretende conferir visibilidade as relaes interacionais, que
permitam ao adolescente e sua famlia vivenciar o exerccio
dos direitos e deveres, um caminho transformador, entre a
Obrigao a Demanda.
MoisesGroisman
Groisman M
Dei o nome de teatro familiar a um conjunto de exerccios sistmico-vivenciais que criei para a terapia do terapeuta
sistmico durante a sua formao e que, posteriormente, podem ser utilizados pelos terapeutas no trabalho com famlias e
casais. Neles procuramos englobar o verbal-racional e o emocional-afetivo, constituindo-se basicamente da dramatizao de
cenas familiares (solicitadas pelo coordenador) finalizadas
com uma escultura da famlia de origem e uma sugesto (verbal, tarefa ou ritual) dada por ele ao cliente. Eles revolucionam o conceito de que terapia aquela realizada apenas de forma individual ou grupal num espao dito teraputico destinado a esse fim. Acreditamos que estes exerccios so capazes
(para quem estiver motivado para algum tipo de modificao
que ir perturbar a homeostase do seu sistema familiar) de
produzir um efeito teraputico intenso, concentrado, rpido e
mais potente do que uma terapia a longo prazo ou de prazo indefinido. Eles realizam uma cura em uma nica sesso,
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Atualmente, encontramo-nos num contexto em que a sociedade tem discutido bastante as questes da sexualidade e
sua diversidade. Alguns ditando o que ou no considerado
saudvel e normal; outros vivendo plenamente sua sexualidade, quebrando tabus, inovando, e outros ainda, preocupados
com as suas implicaes para a vida das pessoas e das instituies, tais como: famlia, casal e sociedade.
Enquanto terapeutas, acompanhamos dilemas, histrias
pessoais com seusinmeros arranjos e diversidadespermeando o tema. Os dilogos construdos invariavelmente nos chamam a ateno para conceitos dogmticos em que ns e nossos clientesnosencontramosimersos.
Isto nos leva a pensar no lugar do profissional, terapeuta
de casal e famlia, num mundo em que a modernidade e a psmodernidade coexistem influenciando as relaes, as organizaes familiares eas concepes de gnero.
Objetivo
Marilia GabrielaLeme
Claudia Magalhes, Marilia Gabriela, Claudia Bruscagin, Silvia Geruza, Sonia Ligia, Sueli Marino, Maria Luza, Marilene
Martinez
Justificativa
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Metodologia
Formato de apresentao
Exposio Interativa sobre Histria da Sexualidade
Recurso tcnico Power Point
Uso de trechos de filmes editados
Conversao em pequenos grupos
Formato
MarthaScodro
Scodro M, Leonardos AC
Objetivo
Nossa inteno reunir at 40 mulheres, com idade entre 49 e 59 anos, que tenham interesse em debater e analisar
essa fase da vida em suas vrias dimenses.
Atravs de uma dinmica de grupo que envolverelatos e
escrita reflexiva pretendemos captar novos olhares sobre sua
auto imagem, projetos e questes nesta fase da vida.
Buscamos tambm compreender em que aspectos esta
mulher se diferencia/distancia da gerao anterior, quais so
e como constri suas redes sociais.
Esse workshop visa a ampliar a discusso de como ser
mulher hoje na faixa dos 50 anos.
Justificativa
Sendo o congresso da ABRATEF de dimenso nacional,
contando ainda com o Simpsio latino-americano, esta seria
uma excelente oportunidade para ampliar a discusso em torno deste tema como ser mulher hoje aos 50 anos de
grande relevncia e atualmente merecendo inmeros estudos,
publicaes e pesquisas.
Esta oficina prtica parte integrante da pesquisa Aos
50,desenvolvida pelas autoras desde 2012 e que ser apresentada na seo Relato de Pesquisa deste Congresso.
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terapeuta em tempos atuais atravessados pelo acelerado avano da tecnologia e sustentado por relaes liquidas.
Cenrio esse que d um novo lugar para as famlias, que
com novas configuraes e inquietaes se apresentam aos
consultrios esperando o qu? Um terapeuta que possa ouvilos desse lugar de novidade? Que possa reconduzi-los para um
lugar seguro de certezas especialistas? Que oferea um espao de reflexo e sustentao dos movimentos novos?
Qual a demanda? Qual o perfil do terapeuta familiar contemporneo?
De que forma a metodologia da Ao-reflexo de Paulo
Freire pode nos ajudar neste momento? Como reconhecer o
saber legtimo de cada cultura em tempos de globalizao galopante e de novas formas de apego e vnculo?
As novidades invadem nossos consultrios diariamente,
demandando reflexo e ao com as famlias que nos procuram. O terapeuta se v ento, dividido entre a sua formao
tradicional e as questes novas e instigantes que chegam at
ele.
As questes na clnica contempornea demandam do terapeuta aes se construindo junto com as reflexes (que vm
antes das reflexes), uma clnica que para se sustentar necessita de questionamento e enriquecimento da identidade profissional. disso que trataremos nessa oficina propondo exerccios individuais e grupais, compartilhando nossa experincia
como terapeutas de famlia e como formadoras de terapeutas
em cursos de especializao.
anos de experincia da ministrante no campo da sade, e tambm da educao e justia tem demonstrado que o problema
do sistema pblico frequentemente mais de organizao do
que de falta de recursos. Buscando compreender isso como resultado de uma sociedade com organizao muito hierrquica
e pouco colaborativa, sero apresentadas experincias em que
houve mudana. Inclui-se o processo de formao de redes na
clinica com famlias, no trabalho em sade mental e a experincia dos ltimos trs anos da construo do Programa Viver
Melhor na Escola, consultoria multidisciplinar s escolas da
rea de abrangncia da Unidade Bsica de Sade Hospital de
Clnicas Santa Ceclia. Pensamos que este pode ser um modelo para outras UBSs no Brasil.
Formato de apresentao:apresentao de algumas ideias, experincias e resultados atravs de multimdia, seguida
de discusso pelos participantes, com apresentao de suas
prprias experincias.
cipalmente, s crianas envolvidas. Neste contexto, o terapeuta precisa identificar suas crenas em relao a estas mudanas e desenvolver recursos que possibilitem facilitao do
processo teraputico. A oficina ser estruturada a partir de
um vdeo editado de um atendimento uma famlia recasada,
dentro do Modelo Sistmico Vivencial, buscando a mobilizao dos recursos dos participantes atravs da conexo com suas matrizes familiares (Groisman, Lobo e Cavour, 1996, 2013;
Groisman, 2013)
Erotismo na Conjugalidade. Estratgias teraputicas psicoeducativas, tem como objetivo a vivncia, reflexo tericatcnica e coelaborao de estratgias para casais em terapia
sexual, com queixas de anorgasmia. Como justificativa, temos
a frequncia relevante desta queixa e/ou demanda, em situaes de terapia de casais e a necessidade de reciclagem e coconstruo de educao psico sexual dos terapeutas neste assunto especifico. As metodologias empregadas nessa oficina,
sero as de Sociodrama Construtivista, Cinedrama, Exposio
Dialogada. Os temas sero: 1. Construo de mapas erticos
do casal. 2. Uso de sex toys para desenvolvimento ertico. 3.
Posies sexuais para desenvolvimento orgsmico.
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o de entendimentos originais que contradigam a histria dominante, a histria das descries de suas vidas e relaes saturadas pelo problema.
Formato da apresentao: oral com apresentao de slides no Prezi.
Etapas da Vivncia
1. Filme estmulo (editado): Dirio de uma Paixo;
2. Formao de pequenos grupos para debaterem frases
distribudas aleatoriamente e que so relativas ao tema;
3. Apresentao para o grupo maior dos resultados a que
chegaram;
4. Cada participante receber uma folha em forma mandlica e escolher um lpis colorido, para que, de olhos
fechados e estimulados por um fundo musical, representem os sentimentos tocados neste percurso.
5. Depois todas as mandalas dos respectivos grupos so
unidas e postas na parede para que os participantes vejam a representao de unio de sua experincia.
6. Em seguida as mandalas sero desfeitas, representando a transitoridade da vida, com cada um levando sua
produo.
redos alternativos, capazes de ampliar seus significados a respeito de si mesmo, reduzindo assim, o valor dado narrativa
dominante, potencializando autonarrativas positivas. Essa Oficina ser organizada em trs etapas: a primeira ser para apresentao do tema e mobilizao do grupo para conhecer algumas de suas habilidades; a segunda ser vivencial, desenvolvida atravs de entrevistas, em duplas, com a utilizao
doMapa de Habilidades; a terceira ser destinada a compartilhar as vivncias e reflexes. Nessa Oficina, prope-se apresentar um recurso teraputico, baseado na Terapia Narrativa, que
oferece possibilidades para a construo de uma narrativa alternativa para o trabalho pessoal e profissional dos participantes.
Esse trabalho traz alguns fundamentos tericos e prticos, como trabalhar, terapeuticamente, o fenmeno da co-dependncia afetiva a partir de uma abordagem sistmica
breve.
Justificativa
Objetivo
Compartilhar com os participantes o experienciar e o vivenciar de situaes, em que a utilizao do processo de assertividade de vital relevncia para a reconstruo dos processos relacionais sadios.
Por meio, desta oficina, procuraremos orientar e conscientizar os presentes, o quanto prejudicial uma relao permeada pela co-odependncia afetiva.
Aps alguns anos de experincia no consultrio e nos ambulatrios clnicos foi possvel observar, identificar e trabalhar os processos autodestrutivos ou destrutivos da co-dependncia afetiva na relaes que envolvem namorado (a),
amigos (as), esposa e entes queridos, sendo que em alguns casos ultrapassaram-se as agresses verbais chegando violncia fsica.
Esse tipo de comportamento quando no tratado pode
levar a desestruturao, alm das rupturas conflituosas dos
relacionamentos pessoais e profissionais.
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Metodologia
Exerccio Vivencial com dramatizaes e simulaes dos
processos de Co-dependncia Afetiva, Vdeo de um atendimento clnico em que um dos membros do casal manifesta o quadro de Co-dependncia Afetiva.
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Comunicao
de Pesquisas
CP. 02 Conjugalidades Transexuais: anlise qualitativa de uma mulher e um homem transexual e seus cnjuges cisgneros
EduardoLomando
Lomando E1, Nardi HC21UFRGS - AGATEF,2UFRGS PPG
Psicologia Social e Institucional
A transexualidade tem sido o assunto mais atual nas discusses sobre diversidade sexual e de gnero. O termo transexualidade caracterizado pela medicina e pela psicologia geral
como uma falta de correspondncia entre sexo biolgico e
identidade de gnero, que as categorizam como um transtorno
mental pela CID-10. Entretanto, a psicologia social e a sociologia compreendem a transexualidade como uma pluralidade de
identidades que transcendem e se chocam com as normas e
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lgicas de gnero que a sociedade opera. Nessa incompreenso, homens e mulheres transexuais acabam por sofrer preconceitos, abandono, rejeio, violncia moral e fsica. Um aspecto pouco explorado pelas pesquisas nas transexualidades a
forma como se configuram as relaes conjugais nessa diversidade, a luz de todas essas dificuldades. Dessa forma, a fim de
investigar as conjugalidades nas transexualidades, iniciou-se
uma Tese de Doutorado no tema, no Programa de Ps-Graduao em Psicologia Social e Institucional na UFRGS. O objetivo
compreender os processos que constituem o fenmeno transexual e como so negociados na dinmica de relacionamento
de homens e mulheres transexuais e seus cnjuges no que se
referem a sua configurao e estrutura. O delineamento qualitativo, exploratrio e foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os casais juntos. Os resultados parciais de dois
casais, nos quais um deles composto por uma mulher transexual e um homem cisgnero e o outro por um homem transexual e uma mulher isgnera, apontam para temas como a escolha do-a parceira-o e as relaes de gnero, religio, conflitos
conjugais e estratgias de resoluo, sexualidade e cirurgia, famlia de origem e transfobia, valores e crescimento conjugais.
O intuito dessa pesquisa preencher a lacuna de conhecimento que existe sobre as conjugalidades transexuais, auxiliando
na terapia de casal e famlia sobre o tema.
O profissional que trabalha neste ciclo tem um papel fundamental, como propiciar uma resposta familiar possvel,
olh-la de frente, explorar os seus mltiplos significados e instrumentalizar a famlia como um todo, identificando suas possibilidades e limitaes.
Uma funo significativa dos terapeutas que desenvolveram este atendimento foi que alm de rever padres arraigados junto famlia, reviram ainda seus valores pessoais, suas
crenas culturais e religiosas. O que envolveu a aceitao de
todos os participantes, a famlia e um grupo de oito estagirios, reforando a prtica sistmicana direo da compreenso
da reciprocidade das partes no processo teraputico.
E finalmente, buscaremos trazer por meio de um olhar
crtico-reflexivo a realidade scia histrica do tema homoafetividade articulado com rea de formao do terapeuta familiar,
como uma ferramenta avaliativa no processo de produo nesse campo especfico, bem como detectando seu andamento,
avaliando a qualidade e as principais influncias paradigmticas que sofre e exerce no mundo cientfico.
A pesquisa qualitativa est pronta faltando apenas a bibliogrfica que est em fase de finalizao, estar finalizada em
sua totalidade para apresentao no Congresso, precisaremos
de data show para apresentao.
Esta pesquisa, requisito para a obteno do ttulo de especialista, pelo Programa de Ps-Graduao em Psicoterapia de
Famlia e Casal da PUC Minas, tem o objetivo de compreender
a Metodologia de Atendimento Sistmico de Famlias e Redes
Sociais. Proposta por Juliana Gontijo Aun, Maria Jos Esteves
de Vasconcellos e Snia Vieira Coelho. Pode ser utilizada para
alcanar os objetivos do Centro de Referncia de Assistncia
Social (CRAS). O mtodo utilizado de pesquisa cientfica, classificada como exploratria e bibliogrfica, proporciona a aproximao conceitual da epistemologia sistmica, das teorias sistmicas sobre famlias e redes sociais e da Metodologia de
Atendimento Sistmico com a organizao e a estrutura, os
princpios, os objetivos e as diretrizes do Sistema nico de Assistncia Social (SUAS). Os resultados parciais mostram que o
CRAS tem trs objetivos fundamentais: prevenir a ocorrncia
de situaes de vulnerabilidade social por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisies, fortalecer os vnculos
familiares e comunitrios e ampliar o acesso aos direitos de
cidadania. A Metodologia de Atendimento Sistmico, distin43
guida como rede de conversaes em torno de uma situaoproblema, tem o objetivo de criar um contexto de autonomia
que possibilite aos elementos do sistema desenvolverem formas de se relacionar que no incluam as conversaes de caracterizao e as conversaes de acusao e recriminao injustificadas, para que essas relaes se transformem em relaes colaborativas, ou seja, para que se baseiem na emoo do
amor, do respeito mtuo e da aceitao incondicional. Os conceitos tericos posio de no saber, relao colaborativa, especialista em contexto e especialista em contedo, sistema determinado pelo problema, perguntas reflexivas, processo de
co-construo de solues e criao de contexto de autonomia
so ferramentas que possibilitam ao profissional co-criar um
sistema que desenvolva potencialidades e aquisies, que fortalea vnculos familiares e comunitrios e que amplie o acesso aos direitos de cidadania. Entretanto, a utilizao desses
conceitos tericos exige que o profissional tenha aceitado os
trs pressupostos da epistemologia sistmica distinguida por
Vasconcellos: a complexidade, a instabilidade e a intersubjetividade. Assim, os resultados parciais desta pesquisa mostram
que a Metodologia de Atendimento Sistmico pode ser utilizada para alcanar os objetivos do CRAS.
CP. 05 Associao entre uso de drogas pelos pais e funcionamento familiar e infantil: pesquisa longitudinal do desenvolvi-
CP. 06 Oficina psicoteraputica de recorte e colagem com mes de crianas e adolescentes usurios de droga atendidos no
Projeto Quixote
Luciana CristinaEscudero
Escudero LC11 Projeto Quixote
bm estavam passando por nosso atendimento. O estudo descreve o processo psicoteraputico desenvolvido, realizado em
grupo e de forma breve, durante 13 sesses, a dinmica grupal
e a anlise de cada entrevista, desenhos e questionrios, onde
so analisadas as possveis mudanas que ocorreram na relao das participantes com seus respectivos filhos aps a participao destas nas oficinas. Diante do consentimento das participantes, o produto com as imagens coladas em cada encontro foi fotografado. Como resultado da anlise do processo, a
proposta da oficina desenvolvida com esse grupo se mostrou
eficaz, demonstrando que as famlias que concluram sua participao apontaram para a reflexo e sinais de melhora na comunicao familiar como um todo. O estudo realizado apontou para a importncia de um ambiente facilitador para a comunicao e o crescimento individual e coletivo de cada membro diante das problemticas apresentadas, bem como para a
coerente relao entre a teoria e a prtica.
47
amantes, procurando ser satisfatrio para ambos; o amor lquido, relacionamentos com vnculos pouco aprofundados. (Cavalcanti Chaves, 2010; Bauman, 2004; Arajo, 2002;
Giddens, 1993)
A partir de uma pesquisa bibliogrfica com a temtica do
amor e do casamento, buscamos compreender as diferentes
expresses amorosas supra citadas e como se expressam nos
relacionamentos e casamentos da contemporaneidade. Assim,
apresentamos a evoluo do casamento ao longo do tempo, e
como o amor foi permeando e se adequando s demandas sociais da atualidade.
Atravs da histria da humanidade, o amor adentrou o
casamento e se estabeleceu como critrio fundamental para a
formao de vnculos entre homens e mulheres. A ideia do
at que a morte os separe do casamento, persiste na mesma
medida que o eterno enquanto dure. Observamos diversos
tipos de unies amorosas: casamento, unio estvel, casamento aberto, poliamor, que ocorrem tambm entre parceiros do
mesmo sexo, ampliando assim as questes de gnero que traduzidas em prticas teraputicas exigem um olhar critico diversidade cultural.
Enquanto terapeutas devemos permitir que homens e
mulheres contem suas historias sobre amor e casamento de
modo que possam ressignific-las sem se prenderem aos modelos interiorizados.
Assim, conclumos que o amor persiste como um sentimento que almejado por muitos. E as vivencias individuais
interferem na forma como as pessoas vm e vivenciam o amor
e o casamento.
parceiros emrelao aum conflito no superado: coluso narcsica, oral, sdico anal e flico edpica.
Mtodo
Foi empreendido um psicodiagnstico compreensivo seguido de orientao interventiva junto a dois casais heterossexuais. O estudo consistiu de entrevistas clnicas com o casal e
aplicao das provas projetivas TRO de Herbert Phillipson e
Teste do Desenho da Famlia em cada um dos cnjuges. Toda
a estratgia durou cerca de dois meses. A pesquisa foi submetida ao Comit de tica em Pesquisa.
CP. 12 Aspectos de vulnerabilidade no papel parental relacionados a fatores de proteo e de risco para os filhos usarem substncias psicoativas
Ana Lucia Castelo
Ana Castello11UNIFESP/SP Psiquiatria Clnica
Objetivos
Resultados
Os casos foramestudados em termos de como se apresentaram nas provasadinmica de vinculao e o objeto inconsciente "casal". Estasfantasias latentes permitiramvisualizarem
novos ngulos as expectativas e solues que os parceiros tinham um com o outro. A estratgia diagnstica proposta mostrou-se muito expressiva, pois estes testes efetivamente produzem um material simblico claro, rico e profundo, que facilitou o dilogo dos casais abordados como o casal de pesquisadores. As entrevistas de orientao interventiva reposicionaram os casais em termos de como eles se apresentavam e se
percebiam na entrada do trabalho. Um dos casais, compreendendo de outra forma a separao que estavam planejando,
questionou esta soluo e deu incio a um processo teraputico.
Utilizados 12 instrumentos para a coleta dos dados: Questionrio Scio demogrfico uso de substncias psicoativas
pelo filho, Entrevista Estruturada de Transgeracionalidade-Famlia de Origem, Entrevista Estruturada de Transgeracionalidade-Famlia Nuclear, Entrevista Estruturada de Predisposies Hereditrias, Entrevista Estruturada de Estrutura e Dinmica Familiar, Escala de Rastreamento para Depresso-CESD, Escala de Impulsividade, Escala de Ansiedade IDATE-T e
IDATE-E.
Resultados
Nos resultados foram evidenciados aspectos parentais de
vulnerabilidade que se mostraram associados a maiores chances do uso de substncias psicoativas pelos filhos, so eles:
Uso de substncias psicoativas pelos integrantes da famlia, tanto na famlia de origem quanto na famlia nuclear.
Comportamento violento dos pais.
Estilos parentais relacionados educao autoritria e
permissiva.
Relacionamento conjugal, com nfase nas dificuldades
de relacionamento.
Presena dos filhos em situaes de uso de lcool pelos
pais nas ltimas 24 horas e no ltimo ms.
No haver referncia a diagnstico de depresso na famlia de origem.
posio de testemunha externa, teve a oportunidade de contribuir para reconstruo de novos e possveis significados.
Mtodo
Escolheu-se como delineamento de pesquisa a realizao
de reunies scio educativas SER elaboradas pela pesquisadora para essa populao, em que se promovia conversaes
coletivas sobre temas-problema, previamente escolhidos pelos
participantes. Foram realizadas 10 reunies mensais, com durao de 2 horas cada. Os grupos eram abertos, variando de 14
a 25 o nmero de participantes entre dependentes em recuperao, seus familiares e pessoas interessadas da comunidade.
Consideraes Finais - Os depoimentos dos participantes deram testemunho do valor do grupo como espao para rever suas histrias, amplificando-as e ressignificando-as. Foi possvel
apreender o reconhecimento de quanto o olhar do outro, a histria do outro, provoca reflexes e emoes que ressoam e
transformam a prpria histria. Foram ressaltados os benefcios do compartilhamento, da reviso da autoimagem e da construo de um sentimento de pertencimento e gratido ao grupo. E como essa reconstruo pode ser refeita por novas narrativas, advindas do dilogo e do envolvimento que se deu durante as reunies - SER
dado s questes da adoo homoparental foi mais polemizada do que problematizada, ofuscando os direitos das crianas
e adolescentes. Examinando luz dos princpios ticos, o discurso daFolha de S. Paulosobre adoo homoparental e infncia desconsidera o bem estar dos personagens nele apresentados, podendo ser considerado ideolgico, uma vez que contribui para a estigmatizao das crianas e famlias homossexuais, sustentando relaes de dominao.
bairro de Porto Alegre que tiveram um filho em hospital publico entre Novembro de 1998 e Dezembro de 1999. Foram realizados quatro momentos de coleta de dados (aos quatro meses,
dois, quatro e nove anos do filho). Para esta apresentao, sero considerados dados coletados nos tempos um (inicial) e
quatro (desfecho).
Objetivo
O objetivo desta anlise verificar mudanas na configurao destas famlias ao longo do desenvolvimento da criana.
Mtodo
Foram realizadas anlises descritivas e testes qui-quadrado associando presena ou ausncia de companheiro da me
(ou, na falta desta, outro cuidador principal), nmero de familiares morando na casa e nmero de filhos. A configurao familiar considerou dois aspectos: monoparentalidade (um dos
pais ou cuidadores principais com seus filhos) X biparentalidade; e famlia nuclear (apenas cuidador(es) principal(s) e filhos
morando na casa) X famlia extensa (cuidador(es) principal(s)
e filhos morando com membros da famlia extensa e/ou de origem).
Resultados
No primeiro tempo de coleta (n=148), 118 (79,7%) cuidadores principais tinham companheiro(a). Quanto configurao familiar, 95 famlias (64,2%) foram consideradas nuclea55
conversao que lhes permitisse apresentar suas histrias referentes s questes de interesse neste trabalho. A busca pela autonomia e a constante profissionalizao se configurou como
aspectos fundamentais para todos os entrevistados. Encontramos jovens aflitos com a realidade do mercado de trabalho, porm trs deles j colocados; aqueles que j contam com a independncia financeira tm planos de irem mais longe, e aqueles que ainda no so autnomos preveem este ideal para o
seu futuro, fato este que demonstra no estarem acomodados
e buscarem constantemente o seu desenvolvimento. Em relao participao das famlias de origem identificamos dois
aspectos fundamentais destacados pelos entrevistados, apontados como fatores que os auxiliou e os impulsionou. O primeiro
deles foi o fato der deix-los livres para as escolhas, fazendo
com que eles mesmos pensassem nos aspectos importantes e
pudessem ter autonomia tambm para escolher. O segundo
foi apoi-los, ressaltando o quanto o apoio da famlia, tanto
financeiro como emocional os ajudou em diferentes momentos.
As relaes familiares esto se transformando, os pais esto enfrentando dificuldades em educar seus filhos e possibilitar-lhes o desenvolvimento da autonomia. Estudos tm sido
realizados sobre os estilos parentais atravs das dimenses exigncia e responsividade. Esses estilos podem estar relacionados ao desenvolvimento de sintomas como os de depresso. O
objetivo desse trabalho foi identificar o estilo parental de pais
sob a perspectiva de filhos universitrios, a ocorrncia de sintomas de depresso nos filhos e a associao entre os dois. Participaram da pesquisa 182 estudantes universitrios, que estavam cursando o primeiro ano de graduao da Universidade
Federal do Tringulo Mineiro em Uberaba-MG, 68 homens e
114 mulheres, adultos jovens de 18 a 30 anos. Foram aplicadas a Escala de Depresso Beck e a Escala de Estilo Parental
coletivamente. Os estudantes avaliaram o estilo parental de
seus pais e mes. Os resultados foram apresentados em conjunto, pais se referem a pais e mes. Verificando a responsividade e exigncia separadamente, observou-se que pais com
alta responsividade apresentaram menor probabilidade do filho ter sintomatologia depressiva. Agrupadas as duas dimenses, verificou-se que os universitrios cujos pais foram percebidos com estilo autoritativo de educar, tiveram menos sintomas depressivos, enquanto os jovens cujos pais tinham estilo
autoritrio, apresentaram mais sintomas de depresso. Entretanto, o nmero de pais percebidos como autoritativos
(35,1%) foi bem menor do que pais autoritrios, negligentes e
indulgentes, embora individualmente tenha sido o mais
frequente. O estilo autoritativo pressupe alto envolvimento e
controle parental, atravs de limites colocados, regras claras e
razes bem explicadas para as restries. Assim, os pais conseguem favorecer a autonomia e individualidade dos filhos, atravs de uma comunicao aberta entre pais e filhos. So famlias de fronteiras ntidas, que permitem contato com subsistemas externos. O benefcio desse estilo claro para o desenvolvimento e desempenho do filho. O resultado deste estudo remete ao trabalho de preveno de sintomas de depresso de
filhos no contexto familiar e ao desenvolvimento da autonomia dos mesmos.
O ponto central desta pesquisa foram as narrativas de jovens estudantes que partem do continente africano, de diferentes naes e migram para estudar em terras brasileiras. um
processo complexo, no se tratando apenas de um simples movimento de deslocamento de indivduos entre um pas de origem e um pas de acolhimento; um lugar de passagem no
qual se delineiam relaes sociais prprias constituindo a intercultura de uma Universidade. Com as narrativas destes jovens pudemos apreender uma parte de suas realidades singulares vividas e experincias na chamada terra do outro.
Esse um desafio que se faz permanentemente: considerar trajetrias histricas e o que vem junto com elas em contraponto
com a hierarquizao de sujeitos por meio de diferentes critrios, atribuindo-lhes ou no competncias no mbito de uma sociedade, de uma cultura e de um sistema de valores diferente
dos nossos.
VladimirMelo
Melo VAA1, Ribeiro MA1, Mugarte IBM1, Nogueira HF1- 1Universidade Catlica de Braslia
diz respeito descrio da dinmica dessas famlias, apontando as seguintes caractersticas: forte lealdade familiar, ausncia de regras familiares e baixa diferenciao dessas crianas
obesas em relao aos pais. Alm da necessidade de compreender melhor como o contexto familiar contribui para o surgimento e a manuteno da obesidade infantil, faz-se necessrio
compreender tambm como a relao do casal influencia nos
papis parentais em famlias com crianas obesas. Este trabalho tem como objetivo apresentar dados de uma pesquisa de
mestrado que faz parte de um projeto maior desenvolvido na
Universidade Catlica de Braslia sobre transtornos alimentares e obesidade na infncia e adolescncia. A pesquisa realizou
entrevistas familiares com elaborao de genograma e reuniu
as famlias em cinco encontros, de acordo com a metodologia
do Grupo Multifamiliar (GM). Foi observada a ausncia da figura paterna na famlia, situao frequentemente acusada no
discurso das mes das crianas, bem como a interferncia de
outros familiares, especialmente os avs, nas regras estabelecidas pelos pais. Tal dinmica sugere que as intensas triangulaes so estabelecidas em resposta ansiedade desencadeada
por eventos estressores do perodo de transio da formao
do casal para o estgio da famlia com filhos pequenos. Os dados indicam a importncia do envolvimento da famlia no tratamento de crianas obesidade.
Palavras-chave: obesidade; dinmica familiar; ciclo de vida familiar; parentalidade.
59
CP. 23 Transtornos alimentares, obesidade e relaes familiares: reviso sistemtica da literatura.Monografia (Especializao) Programa de Ps-Graduao em Psicologia Clnica - Universidade Paulista Ribeiro Preto, 2013
Carmen RobertaBaldin Balieiro
Prado L M D1,2, Balieiro C R B2-1Universidade Paulista Ps
Graduao Lato Sensu,2Universidade Paulista Ps Graduao
Lato Sensu - Psicologia Clnica
Os transtornos alimentares (TA), pela sua complexidade,
preocupam os profissionais de sade, pacientes e famlia. Ampliar os conhecimentos sobre o funcionamento das relaes
familiares possibilita compreender de modo integral, como estas relaes afetam o desenvolvimento ou a manuteno de
processos ligados ao adoecimento. Neste estudo, foi ressaltados aspectos da relao existente entre os transtornos alimentares e relaes familiares, sendo a famlia um fator de possibilidade no tratamento de pessoas com transtornos alimentares.
O objetivo foi realizar anlise crtica dos estudos disponveis
na literatura, para identificar as caractersticas dos transtornos alimentares, e relaes familiares, e as relaes entre ambos, a partir da reviso integrativa da literatura. Para o desen-
de uma entrevista semiestruturada com duas avs. Os resultados obtidos, aps as falas serem transcritas e analisadas, apontam que, pelo fato de a expectativa de vida das mulheres ser
maior que a dos homens, as avs vivem por mais anos e, por
essa mudana contempornea, elas convivem com as mais diversas geraes familiares. Essa convivncia traz significado
de bem-estar para essas avs. Alm da importncia do papel
que exercem, seja cuidando, seja educando, geralmente se ocupam dos netos com sentimento de satisfao. Diante disso,
conclui-se que o processo de envelhecimento est cada vez
mais diferenciado e individualizado, com novas vivncias e novas sensaes. Atravs desses significados e papis que as
avs exercem na famlia contempornea, pode-se dizer que essas avs so fontes de fortalecimento e de continuidade na famlia.
22 a 32 anos para as quais foi aplicado o Genograma Profissional. Os resultados endossaram fortemente a percepo dessa
influncia, ainda que a sociedade brasileira venha sofrendo
mudanas. Os valores e crenas sobre o trabalho, assimilados
especialmente pelas mais jovens, lhes possibilitam autonomia
e independncia. J o legado transmitido sobre o valor do estudo gera condies para que a mulher emergente mantenha-se
nos quadros da classe social para a qual ascendeu.
so de papis familiares e dificuldade de concretizao da separao conjugal, ainda recente; h predominncia de processos nos quais o par parental possui apenas um filho; o incio
da vida escolar e da adolescncia so crticos para o desencadeamento de aes com essas hipteses frente necessidade
de reorganizao das relaes familiares e o acusado de alienar normalmente o genitor que detm a guarda fsica do filho, independente do sexo. A comunicao coparental prejudicada fomenta contexto propcio para que a troca de acusaes
e o antagonismo sejam o padro relacional adotado pelo ex-casal, mesmo que a beligerncia estabelecida e a hiptese de alienao parental exponha o filho a cenrios desprotetivos e desqualifique sua subjetividade.
CP. 30 A concepo de infncia e o "melhor interesse da criana" nos laudos psicolgicos e sociais nos casos de vara de famlia
Camila Miyagui
Miyagui C1-1PUC-SP/UNINOVE
Este trabalho teve como objetivo analisar quais so as
concepes de infncia produzidas nos laudos psicolgicos e
sociais, em casos de vara de famlia. Mediante esses instrumentos, buscou compreender tambm qual o entendimento
e os argumentos que os psiclogos e assistentes sociais tm a
65
Bonoto ACP1, Cruz RM2, Crepaldi MA2- 1Ressignificar - Psicologia Clnica, 2Universidade Federal de Santa Catarina - Programa de Ps Graduao em Psicologia
que conflito interparental, comunicao disfuncional e conflitos no exerccio da parentalidadeocorreram em mais da metade das famlias. A ocorrncia de fatores de proteo na categoria fatores intrafamiliares foi bem menos expressiva que a
ocorrncia de fatores de risco. No entanto, o fato de todos os
fatores de proteo indicados na reviso de literatura terem
sido verificados nas famlias pesquisadas indica que mesmo as
famlias em litgio judicial buscam preservar, de alguma forma, uma dinmica familiar favorvel ao desenvolvimento dos
filhos. Os fatores de proteo da categoria fatores extrafamiliares foram predominantes, o que indica a importncia da rede
social para as famlias. A partir dos resultados alcanados, foi
elaborado um roteiro de questes que pode guiar os profissionais que atuam com famlias em processo de separao/divrcio a avaliar o potencial de risco e proteo para o processo de
adaptao de crianas.
A vivncia da separao/divrcio ocorre de forma diferenciada em cada famlia, tendo maior ou menor impacto nas pessoas envolvidas dependendo de fatores econmicos, sociais,
culturais, religiosos, alm das redes de apoio que podem se estabelecer ou no. O presente estudo tem como objetivo caracterizar os fatores de risco e proteo no processo de adaptao
de crianas a separao/divrcio dos pais em litgio judicial.
Esta pesquisa de natureza descritiva, com fonte documental
e abordagem qualitativa. A amostra de documentos foi composta por 76 laudos psicolgicos provenientes de processos judiciais de nove Varas de Famlia do Poder Judicirio do Estado Santa Catarina. Os dados obtidos nos documentos foram
organizados a partir de categorias elaboradas com base na reviso da literatura especializada (fatores individuais crianas, fatores intrafamiliares e fatores extrafamiliares). A maior
parte das crianas apresenta caractersticas individuais favorveis a um desenvolvimento saudvel, favorecendo a adaptao
s mudanas geradas pelo processo de separao/divrcio dos
genitores. A baixa ocorrncia de fatores de risco, na categoria
fatores individuais criana pode estar relacionada a pouca
idade das crianas, o que representa menos tempo de exposio a uma possvel dinmica familiar conflituosa. Os fatores
de risco da categoria fatores intrafamiliares foram os que apresentaram maior ocorrncia entre os fatores analisados, sendo
CP. 33 Dilogos na produo de conhecimento: a questo das compras compulsivas na abordagem sistmica
Cleide M. B. Guimares
Guimares CMB1, Kublikowski I2, Filomensky T3,4-1FMUSPSP - Pro-Amiti,2Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo,3FMUSP-SP,4Pro-Amiti
possam ajudar a identificar os fatores que permeiam os bastidores deste fenmeno. A pesquisa tem por objetivo geral investigar as consequncias docyberbullyingpara a vtima e seu sistema familiar. Est sendo realizada uma pesquisa do tipo qualitativa com 5 (cinco) adolescentes, de uma instituio particular de ensino, e um de seus respectivos familiares responsveis, qual ser concluda at junho de 2014. Para a coleta de
dados est sendo utilizada uma ficha de identificao e uma
entrevista semi-estruturada de tipo exploratria. A anlise de
dados est sendo feita a partir da Anlise de Contedo. Espera-se com essa pesquisa conhecer as consequncias do fenmeno do cyberbullying na vida dos adolescentes vitimados e de
suas famlias, contribuir com enriquecimento de base terica
j que se constitui um tema novo, possibilitar discusses sobre o enfrentamento desta situao nos mbitos educacionais,
polticos e cientficos, assim como possibilitar provveis projetos que favoream um trabalho junto das famlias que sofrem/
sofreram as consequncias docyberbullying
A dependncia qumica compreendida como um fenmeno multidimensional. Entretanto, no mbito da sade pblica poucos so os movimentos para a ampliao do foco no
tratamento do dependente, envolvendo sua famlia. O tratamento tende a ser direcionado pessoa que apresenta o comportamento aditivo. O objetivo deste trabalho descrever as
articulaes entre os tratamentos ofertados aos dependentes
qumicos no Vale do Paranhana (RS) e seus familiares. De
2011 a 2013 foram investigados, atravs de insero ecolgica,
27 servios da rede de ateno sade. Os dados foram registrados atravs de dirios de campo, por pesquisadores treinados. O contato nesses servios foi semanal por um a trs meses. Nesses, foram identificadas propostas teraputicas envolvendo os familiares em quatro espaos: um hospital, dois
CAPS e um grupo de autoajuda. No hospital, por ser exigida a
presena de uma familiar para a internao, eram feitos contatos junto ao leito, para psicoeducao dos familiares. Nos
CAPS eram organizados grupos de familiares para compreenderem a dinmica do dependente qumico. O grupo de autoajuda era direcionado para familiares, com a inteno de auxililos a lidar com seu familiar dependente qumico (atravs da
psicoeducao). Em outros locais (sete comunidades teraputicas) eram realizados encontros mensais com os familiares e
nesse espao era indicado que os familiares integrassem grupos de autoajuda como preparao para o retorno do paciente
ao lar. Em todas as aes desenvolvidas, o familiar era visto
como um auxiliar no tratamento do dependente qumico. Os
dependentes eram atendidos separadamente das famlias,
69
identificando-se uma lgica centrada na doena e no no sistema familiar. Evidenciou-se uma separao do dependente em
relao a sua famlia, indicando que apenas o paciente precisa
de tratamento. O sistema familiar no acessado como parte
do problema ou da soluo do mesmo. Acredita-se que a compreenso sistmica do comportamento aditivo ampliaria as
possibilidades de ateno a esse pblico, tornando o tratamento mais eficaz.
Queremos investigar a hiptese de que o dilogo ampliador e criador de mundos, gerador de alternativas e instrumento de transformao social.
O objetivo de nossa pesquisa , a partir da pergunta
Como sua famlia resolve os seus problemas? e, em seguida,
do convite a dialogar e refletir ativamente sobre seus problemas, observar o efeito gerado por este dilogo na percepo
de sua prpria vida pelos entrevistados.
Estamos realizando a pesquisa numa comunidade delimitada assistida pela Unio Popular de Mulheres no bairro Maria Sampaio na Zona Sul de So Paulo.
Metodologia
Realizamosentrevistas com mulheres que se dispuseram
a nos contar em uma conversa como elas resolvem seus problemas e os recursos que desenvolveram para isso ao longo da
vida.
A palavra que melhor descreve o que vem ocorrendo nesta pesquisa "processo". Na medida em que nossa relao
com a equipe e com os entrevistados vai se desenvolvendo, novas perspectivas se abrem para a continuidade.
Haver um momento, quando tivermos concludo o processo
das entrevistas, em que iremos convidar a todos os entrevistados a conversar sobre os resultados das entrevistas conjuntamente.
Ao final, iremospedir que todos os entrevistados avaliem
como foi para cada um a participao na pesquisa.
70
Iremos visit-los depois de seis meses e depois e um ano, buscando observar o que se mantm das possveis mudanas geradas pela participao na pesquisa.
Resultados
medida que emergem na sociedade novos padres relacionais entre pessoas e culturas, natural que fenmenos psicolgicos sejam revistos. Foi porventura esta a razo que no
perodo entre as Guerras tenha surgido a Abordagem Sistmica que se contrapunha linearidade das relaes e ao reducionismo humano, buscando compreender as relaes existentes
no intersubjetivo/interpessoal. No mesmo perodo, concebiase a Logoterapia (Frankl), em contraponto aos reducionismos
acadmicos, almejando um ser humano pleno em busca de
sentido para a sua existncia com os demais. (Feixas e Mir,
1993).
Contudo, a relao entre os modelos vai alm das origens
histricas e epistemolgicas. Sistmicos (Watzlawick, Haley,
Selvini) bebem da Logoterapia para aplicar tcnicas como a
Interveno Paradoxal concebida por Frankl, ou para explicar
conceitos como fronteiras sistmicas que so modelos de
sentido que interagem com o ambiente (Ludewig, 1998).
Desta forma, com base em pesquisa qualitativa de reviso literria e de linguagem comum dos modelos (Cyrous,
2007), conclui-se que a integrao de ambas as abordagens
permite um substrato terico capaz de entender as motivaes
que levam ao nascimento de um casal, j que o sentido da vida
estabelecido nas relaes Inter sistemas, atravs da comunicao e do linguajar (Maturana, 1990), numa relao Eu-Tu
que Frankl caracterizaria de encontro verdadeiramente existencial (1982).
Os resultados obtidos da pesquisa no contexto das relaes pr-matrimoniais ou couplegenesis (Cyrous, 2008), foi
de compreender que os sistemas so na verdade existencial-re71
CP. 39 A Trade: Me, Famlia e Sociedade, Experienciada por Mulheres em Situao de Prostituio
Lucelene Ferreira Bardin
Barbin L F, Macedo R M S1-1Pontifcia Universidade Catlica
de So Paulo - Famlia e Comunidade
A prostituio prtica que remonta mais longnqua
antiguidade; pode-se dizer que ela to antiga quanto a prpria histria da humanidade razo pela qual nos interessamos em estudar a figura da mulher em situao de prostituio nos dias de hoje, suas vicissitudes e os dilemas que enfrenta em virtude de modelos socialmente estabelecidos quando
pensamos na trade me/famlia/sociedade. Dentro disso, buscamos compreender o sentido e o significado de famlia e afe72
73
o desenvolvimento da conscincia como processo de transformao das prticas educativas, baseado na livre expresso das
diferenas e na reflexividade como processo identitrio para
enfrentar a crise de valores e os desafios impostos pela psmodernidade.
MIS1,
Zerbini
Cerveny
Paulo - Psicologia Clnica,2PUC-So Paulo - Psicologia Clinica
CMO2-1PUC-So
Karla RafaelaHaack
Haack KR1, Falcke D1-1Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos - PPG - Psicologia Clnica
O avano tecnolgico constituiu a Internet como uma importante ferramenta, capaz de superar distncias e possibilitar
a comunicao entre pessoas de diferentes localidades praticamente em tempo real. Com isso, observou-se tambm um crescimento de usurios nas redes sociais, sites de relacionamentos e chats, espaos estes, que propiciaram que pessoas se conhecessem e desenvolvessem diferentes tipos de relacionamentos, inclusive amorosos. Reconhecendo os dados que revelam o crescente ndice de relacionamentos amorosos que se
desenvolvem exclusivamente pela internet, o presente trabalho objetiva comparar os relacionamentos amorosos mediados pela Internet com os relacionamentos amorosos no mediados pela Internet, no que diz respeito ao amor e a qualidade conjugal. Esta pesquisa, de carter quantitativo, foi realizada com 86 usurios de Internet, divididos em dois grupos (43
em relacionamentos amorosos mediados pela internet e 43
em relacionamentos amorosos no mediados pela Internet).
76
Utilizou-se um questionrio de informaes gerais, o Golombok Rust Inventory of Marital State (GRIMS) e a Escala Triangular do Amor de Sternberg (ETAS). Os dados foram coletados por meio de um questionrio online e foram analisados
atravs de correlao de Pearson, teste t e anlise discriminante com auxilio do SPSS 20.0. Os resultados revelam que existem diferenas significativas entre os grupos, apontando uma
melhor qualidade conjugal, comprometimento, intimidade e
paixo nos relacionamentos amorosos presenciais, alm de indicar maior tempo de uso para acesso a redes sociais, chats e
demais atividades de lazer nos relacionamentos amorosos mediados pela Internet. Neste sentido, sugere-se que a Internet
um meio para conhecer pessoas e iniciar um relacionamento,
entretanto para desenvolver o relacionamento, com mais intimidade, paixo, deciso/compromisso e qualidade conjugal
recomenda-se que ocorra em contexto presencial.
Resultados
Verificou-se que a renda familiar no est associada satisfao conjugal. Verificou-se que o que se associa com insatisfao do casal (p<0,001) a presena de conflitos a respeito
de dinheiro. Com relao qualidade da vida sexual do casal,
nenhuma das variveis sobre questes financeiras - renda familiar e discusses por dinheiro est associada a esse fator.
Os dados sugerem que a qualidade da relao conjugal no
est associada ao nvel socioeconmico das famlias, mas s
discordncias sobre a gesto financeira entre o casal. A vida
sexual, especificamente, mostrou-se associada unicamente
satisfao conjugal.
Palavras-chave: Casal. Satisfao conjugal. Dinheiro.
O presente trabalho tem como objetivo apresentar resultados de parte de uma pesquisa que buscou identificar comportamentos de homens e mulheres frente ao dinheiro na vida
da adulta. Um dos que mais chamou ateno diz respeito importncia e influncia da famlia de origem como modelo de
referncia tanto para homens e quanto mulheres. Tambm
identificamos quais foram os comportamentos mais aprendidos no uso do dinheiro e que foram replicados na vida dos
participantes em seu cotidiano e nas relaes como um todo.
Mtodo
Pesquisa quantitativa, com usoonlinede dois questionrios ( Dados do Participante e Dinheiro no Presente) e duas
escalas ( Dinheiro no Passado e Futuro e Atitudes, Crenas e
Comportamentos em Relao ao Dinheiro).
Resultados
Em uma amostra composta por 600 participantes, 400
deles referiram ter aprendido a economizar e a poupar com familiares; 235 aprenderam a gastar e 184 ( quase um tero da
amostra) aprenderam a doar. Pensando em investimentos e
negociaes, 207 participantes aprenderam a investir, enquanto 160 a negociar, indicando o papel socializador da famlia
para ambos os sexos em todas as faixas etrias. Na anlise
comparativa da relao entre os comportamentos que homens
e mulheres aprenderam com seus familiares, observamos a significncia estatstica apenas nos quesitos gastar e presentear. Pudemos constatar que em relao a gastar, h diferenas
no aprendizado entre homens e mulheres e entre os perodos
da vida adulta, indicando que elas associam gastar e presente78
ar ao aprendizado familiar e eles a investir, o que pode ser entendido como parte da educao de gnero, que enfatiza mais
a importncia do cuidado com os outros para as mulheres, diferentemente dos homens. Mais da metade dos participantes
(310) afirmou ter um modelo em relao ao uso do dinheiro
na famlia de origem e atual, que em geral, eram os pais
(37,1%) ou os cnjuges (18,4%), confirmando a influncia da
famlia no uso do dinheiro na vida adulta.
A delicada tarefa de conseguir um compromisso financeiro entre duas pessoas com histrias e experincias de vidas diferentes ser abordada por meio de apresentao oral e visual.
Questes de gnero e de jogos de poder se fizeram presentes,
porm apontam para transformaes futuras nos papis de gnero. H igualdade de gnero quando o tema dinheiro? Observou-se que nem sempre existe acesso igualitrio conta
conjunta e muitas vezes falta o sentimento de propriedade do
dinheiro ao cnjuge que no depositou ou que recebeu menor
parcela salarial. As mulheres continuam a receber menores salrios em comparao com os homens, e so as principais responsveis pelos filhos em casos de divrcio ou de viuvez.
Como fica essa questo na prtica? H presena das influncias de modelos familiares onde o modelo tradicional patriarcal de administrao do dinheiro se repete no contexto familiar atual, ao mesmo tempo em que, convive com os novos modelos de administrao financeira.
Cleide M. B.Guimaraes
Cleide M B Guimares
Este trabalho tem por objetivo refletir com os participantes sobre a importncia do dinheiro na vida do jovem casal
alm de oferecer bases para uma reflexo sobre novas abordagens e paradigmas em terapias. baseado no livro da autora
que surgiu aps uma pesquisa qualitativa de mestrado com delineamento de estudo de caso e que teve como instrumentos a
entrevista semi estruturada e o genograma. Foram entrevistados quatro casais com at quatro anos de casamento e que narraram suas experincias quanto aos significados, usos, valores
culturais e familiares relacionados ao dinheiro e maneira de
manej-lo na vida a dois. A base epistemolgica foi a da terapia sistmica-relacional, a psicologia econmica, os conceitos
de intergeracionalidade e a teoria do ciclo vital.
Camila Miyagui
Miyagui C1-1PUC-SP/UNINOVE
complexa, que frequentemente vem acompanhada de um estado de ambivalncia, de sentimentos antagnicos em relao
ao parceiro, tanto que os filhos so usados como meio de atingir um ao outro. Buscou-se, ento, investigar a interferncia
dos conflitos conjugais nas relaes de parentalidade. Mediante os discursos dos advogados, representados pelos genitores,
e os laudos, procurou analisar at que ponto as necessidades
das crianas sofrem consequncias em decorrncia dos conflitos advindo da separao. Foram selecionados dois processos
judiciais e seus respectivos laudos psicolgicos e sociais, em
casos de disputa e modificao de guarda, em vara de famlia.
Seguiu como fundamentao terica a literatura sobre divrcio e separao e, como mtodo a anlise dos discursos, os ncleos de significao da psicologia scio-histrica. Os resultados apontaram que os pais, frequentemente os homens, quando se casam de novo, so impedidos pelas suas ex-companheiras de se aproximarem dos filhos. Em consequncia disso, os
pais se revoltam e no cumprem com as datas e horrios das
visitas quinzenais, tanto que as crianas acabam faltando na
escola. Os filhos, alm do processo da separao dos pais, se
sentem prejudicados, em especial, em suas necessidades de
proteo e de cuidado.
cial nesta anlise. Destaca-se que muitos profissionais apresentam uma viso restrita, focada nos riscos inerentes, o que
compromete o atendimento oferecido e no estimula o desenvolvimento do papel parental nessas jovens, nem o envolvimento do jovem pai. Com a discusso do tema, espera-se contribuir para ampliar o contexto de compreenso deste fenmeno, propiciando um novo olhar no cuidado dos jovens e famlias nos quais a parentalidade ocorra no perodo da adolescncia.
uma experincia com a musicoterapia em um grupo multifamiliar. Foram realizados cinco encontros com temas especficos,
com nfase nos fatores de risco e proteo ao uso de drogas,
em uma escola pblica da periferia de Goinia. Estiveram presentes 20 participantes, sendo 11 adultos, 4 adolescentes e 5
crianas, alm de 8 membros da equipe executora. Seguiu-se a
metodologia do Grupo Multifamiliar (Costa, 1998), aliando as
experincias musicoteraputicas de audio, re-criao, improvisao e composio musicais (Bruscia, 2000), aos jogos psicodramticos. A partir de uma anlise musicoteraputica, no
qual so consideradas a anlise do material musical veiculado
pelo grupo; as histrias dos participantes; a movimentao e o
processo de produo musical, verificou-se que a medida que
os pais sustentam suas percepes no mito da famlia ideal, se
distanciam da realidade, favorecendo a manuteno dos fatores de risco ao uso de drogas, tornando os membros da famlia
mais vulnerveis, em especial as crianas e os adolescentes.
Notou-se tambm que, as experincias musicais favoreceram
a comunicao entre pais e filhos e a compreenso da necessidade de: autoconhecimento; limites definidos e expresso de
amorosidade para o enfrentamento de situaes de risco ao
uso de drogas.
gem, e aRevised Conflict Tactics Scales(CTS2), para mensurao da violncia conjugal, nas dimenses de violncia fsica,
coero sexual e agresso psicolgica. Foram realizadas anlises descritivas e correlao de Pearson. Os resultados apontaram percentuais elevados de violncia conjugal, em especial
para agresso psicolgica. Verificou-se correlao significativa
entre abuso fsico paterno e materno, abuso sexual e negligncia com a maioria das dimenses de violncia conjugal
(p<0,005). Da mesma forma, constatou-se correlao significativa entre a percepo da violncia interparental na famlia
de origem e a agresso no relacionamento ntimo (p<0,005).
Tendo em vista a importncia da famlia no comportamento
aprendido e perpetuado de gerao em gerao, tais achados
destacam a relevncia da temtica e a importncia de aes cientficas e teraputicas que considerem o histrico de disfuncionalidade familiar como fator de risco para a violncia entre
casais.
Os estudos sobre a violncia conjugal esto expandindose visto as consequncias deste fenmeno, considerado um
problema social. No entanto, pouco se tem pesquisado sobre a
82
de violncia conjugal contra os homens (33,2%). Os dados chamam a ateno para a incidncia de violncia conjugal sofrida
por homens, o que refora a possibilidade de que ocorra de forma mais simtrica nos relacionamentos conjugais. Outro dado
importante pensar na violncia como um modelo aprendido,
pelo impacto que o abuso sexual na infncia teve como preditor da violncia conjugal contra o homem.
vam essas dinmicas, pois a literatura nacional ainda apresenta inmeras lacunas. Outro motivo pelo qual se torna difcil
definir de forma clara as variveis que compem a comunicao conjugal, seu carter verbal e no verbal. Diante dessa
problemtica, esta pesquisa tem como objetivo avaliar a comunicao entre conjugues com diferentes nveis de funcionalidade em distintas etapas do ciclo vital conjugal. Ser realizado
um estudo quantitativo com delineamento descritivo correlacional e comparativo. Estima-se uma amostra de 240 sujeitos,
em distintas etapas do ciclo vital, casados ou em uma relao
estvel e que tenham filhos. As etapas do ciclo vital sero divididas conforme Carter e McGoldrich (2001): 80 indivduos
com filhos pequenos (0 a 6 anos) 80 indivduos com filhos pequenos em idade escolar (6 a 12 anos) 80 indivduos com filhos adolescentes (12 a 18 anos). Os participantes respondero
a um instrumento constitudo por cinco partes sendo elas:
Questionrio Scio Demogrfico, Marital Inventory Communication, Dutch Marital Satisfaction and Communication Questionnaire, Faces III, DAS. Os dados sero coletados exclusivamente pela internet (on line) atravs de uma pgina criada
para este fim. Os participantes consentiro sua participao
na pesquisa por meio do aceite do TCLE disponibilizado on
line. Ser realizado um estudo piloto que ter como objetivo
testar as escalas. As anlises de dados sero realizadas atravs de anlises descritivas e inferenciais, correlao entre as
variveis de interesse, comparao de mdia e anlise multivariada da varincia. Esta pesquisa j est qualificada e iniciada
e at julho j teremos resultados para apresentar no congresso.
84
conjugal tiveram nveis de significncia vlidos (p < 0,05), sendo que os indicadores de diferena estatstica relevante para
casais ajustados e desajustados foram respectivamente: dinheiro (1,69 e 2,59); filhos (1,97 e 2,85); tempo que passam juntos
(2,45 e 3,47); sexo (2,34 e 3,04). Quanto as estratgias de resoluo de conflitos para melhor ajustamento conjugal, percebeu-se diferena entre os dois grupos de casais apenas no item
sobre discutir intensamente ou gritar com o cnjuge em que
1,98 para ajustados e 2,37 desajustados. Para os itens sobre
discutir calmamente com o cnjuge e acabar batendo ou atirando coisas no cnjuge no houve diferena significativa. A
pesquisa aponta que os fatores das escalas utilizadas esto relacionados aos principais temas que so foco de conflito nas
relaes conjugais. Percebeu-se, tambm, que casais ajustados
e desajustados apresentam conflito, porm variam de forma
significativa quanto a frequncia da divergncia na relao e
quanto a estratgia usada pelos parceiros para resolver os problemas. Considera-se importante realizar pesquisas focando a
interao entre os cnjuges e o aprofundamento das principais questes geradoras de conflito e sofrimento entre os casais.
CP. 55 Preditores de sintomas internalizantes e externalizantes dos filhos: fatores da conjugalidade, parentalidade e coparentalidade
AllanaMello
85
nica dos participantes, detalhadas por meio dos seguintes temas: mudando o foco de indivduos para relaes; a importncia da linguagem; estabelecendo relaes mais horizontais;
uma prtica focada nos recursos; uma prtica que vai para
alm da terapia. At o momento, estes resultados sugerem que
o construcionismo uma referncia importante na prtica destes participantes, sobretudo por oferecer uma nova postura
como pessoas e profissionais. Alm disso, percebemos que a
apropriao do discurso construcionista social tem se dado
com aproximaes das teorias e tcnicas descritas na literatura como construcionistas sociais, mais do que uma apropriao epistemolgica do construcionismo como um movimento
em cincia. Esperamos, por meio de nosso estudo, contribuir
como o entendimento de como tem se dado o desenvolvimento do campo da terapia familiar, considerando especialmente
como tem ocorrido a apropriao do discurso construcionista
social entre seus profissionais (FAPESP).
Monografia apresentada ao curso de Especializao em Terapia Familiar e de Casal da Pontifcia Universidade Catlica de
So Paulo. NUFAC Ncleo de Famlia e Comunidade da
PUC So Paulo, 2012.
87
CrstoferBatista da Costa
Orientadora: Marilene A. Grandesso
Partindo de uma viso ps-moderna este trabalho prope uma discusso sobre a postura, as aes do terapeuta frente ao seu cliente. Uma postura de responsabilidade compartilhada buscando atravs das conversas que transformaes
possam ocorrer. Sob os preceitos do construcionismo social e
das prticas colaborativas destacou-se algumas aes do terapeuta que favorecem essas conversas transformadoras. Realizaram-se trs entrevistas com terapeutas inseridos no discurso ps-moderno. Por meio de dilogos com a literatura, com
os entrevistados, orientadora e todos que direta ou indiretamente participaram deste trabalho realizou-se uma anlise
qualitativa com nfase na potica social. Foram descritos os
sentimentos presentes, durante toda pesquisa, em especial
nos momentos das entrevistas, refletindo sobre os pontos nos
quais a entrevistadora foi capturada pelos "momentos marcantes", procurando o indito. Observou-se que a postura do
terapeuta uma postura de simplicidade frente a complexidade. Na sesso teraputica o essencial a construo que ocorre na intersubjetividade, no encontro do terapeuta com seu cliente.
nos papis do homem e da mulher, da dificuldade para gerenciar individualidade e conjugalidade, da inabilidade para se comunicar, das inconsistncias e ambiguidades do contrato conjugal feito no incio do relacionamento e da dificuldade de gerenciar os conflitos. Compreende-se que identificar as caractersticas especficas de cada relao e considerar aquelas que
so inerentes aos relacionamentos, so fundamentais nesse
tema. Por isso, ampliar e aprofundar os estudos, considerando
a multiplicidade de conexes presentes nas relaes conjugais
determinante para que se consiga avanar em termos de novos conhecimentos e para poder subsidiar o desenvolvimento
de programas de interveno para casais, tanto em nvel de
preveno quanto de tratamento, baseados em evidncias empricas nacionais.
dade do processo de envelhecimento em famlias com integrante com deficincia intelectual, aponta para as dificuldades
de desenvolvimento e protagonismo das PcDi (pessoas com
deficincia intelectual), multicausal, sendo que a famlia enquanto recurso primordial no que se diz respeito a formao
do EU, muitas vezes, encontra reforo em profissionais e na
comunidade, no conseguindo observar as potencialidades
desses indivduos pelo pressuposto da incapacidade, reforando as limitaes e necessidade de cuidados. fato que com o
envelhecimento, as pessoas perdem algumas habilidades, afetando sua condio fsica e em alguns casos afetando ainda
mais as condies mentais. No caso da PcDi, o envelhecimento agrava ainda mais a necessidade de suporte para as atividades bsicas de vida diria. Nestas famlias, o suporte sempre
se fez necessrio e no processo de envelhecimento quem sempre cuidou, se depara com as suas as prprias limitaes. Frente esta realidade ao processo de envelhecimento populacional
buscouse neste estudo responder ao questionamento: Como
se d a Dinmica Familiar durante o processo de envelhecimento, em famlias com uma PcDi.
Mtodo
Trata-se de uma reviso da literatura no perodo de 2003
a 2013 em base de dados da Biblioteca Virtual de Sade.
Resultados
Verificou-se que os estudos caracterizavam o perfil de famlias que sofrem consequncias para a sade devido a prestao de anos de cuidado; o enfrentamento de estigmas; a falta
de suporte de servios e profissionais; as dificuldades em realizar planos futuros. Entretanto tambm foi observado a valorizao da relao com a PcDi. Abordam ainda que a deficincia
intelectual causa forte impacto na famlia. Concluso: O processo de envelhecimento na famlia vivenciado com muitas
dificuldades advindas dos longos anos de cuidado com a PcDi.
Sentimentos de impotncia frente incertezas do futuro e com
o cuidado uma constante na famlia. Destaca-se ainda a falta
de suporte da rede familiar. Pela relevncia do tema se faz necessrio realizar estudos que identifiquem estratgias de enfrentamento e abordagens que auxiliem estas famlias nesta
etapa do ciclo vital.
Palavras-chave: Envelhecimento. PcDi. Cuidador.
Tendo como perspectiva a crescente longevidade do idoso brasileiro, apontada em pesquisas do IBGE ( Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica) que retratam um porcentual
de oito por cento (8%) da populao com mais de 60 anos,
Os impactos observados no estgio tardio de vida do idoso no contexto socioeconmico e familiar so multifatoriais,
devido a fatores biolgicos, psicolgicos, econmico e socioculturais presentes e inter-relacionados, criando fenmenos especficos relevantes para aquisio de novos conhecimentos para
atuao de profissionais na rea.
92
CP. 63 Relaes familiares de adolescentes com anorexia nervosa, bulimia nervosa e obesidade: um estudo por meio do
teste de Rorschach e da abordagem sistmica
VladimirMelo
Melo VAA1, Ribeiro MA1, Mugarte IBM1, Nogueira HF1-1Universidade Catlica de Braslia
A Organizao Mundial de Sade registrou um aumento
da obesidade em todo o mundo, enquanto os transtornos alimentares tm chamado a ateno devido s comorbidades e
alto ndice de mortalidade, especialmente no caso da anorexia nervosa. Este trabalho tem como objetivo apresentar dados de uma pesquisa em andamento na Universidade Catlica
de Braslia que visa a construo de uma metodologia de atendimento psicossocial a crianas e adolescentes com transtornos alimentares e obesidade e suas famlias. Participaram do
estudo 05 famlias com adolescentes diagnosticados com anorexia nervosa, bulimia nervosa e obesidade, residentes em
Braslia/DF, encaminhadas pela Secretaria de Sade do DF. A
metodologia utilizada constou de entrevista sobre o ciclo de
vida familiar, grupo multifamiliar, grupo de pais e aplicao
do teste de Rorschach. Os dados referentes dinmica familiar mostraram: superproteo; baixo nvel de resoluo ou ne-
93
ram analisados estatisticamente. Resultados: Para a no utilizao de produtos derivados do tabaco, a famlia influencia
mais mulheres que homens (p=0,14) sendo pai e me os membros que mais influenciam para ambos os gneros. Na anlise
da influncia familiar na iniciao, no houve diferena estatisticamente significativa entre os gneros (p=0,27). O pai foi o
membro mais apontado pelas mulheres, seguido da me. Para
os homens pai e me so igualmente apontados como os membros de maior influncia. Com relao aos irmos mais velhos
existe pouca influncia, sendo maior para as mulheres. Para
irms mais velhas, a influncia maior nos homens.
Concluso:a maior influncia da famlia na no utilizao de
produtos derivados do tabaco revelando a importncia de programas preventivos no s com o indivduo, mas com toda famlia. Mesmo a influncia na iniciao sendo pequena, considera-se que esta no se d primariamente atravs do modelo
direto de imitao dos filhos com relao ao comportamento
de uso dos pais, mas sim atravs do aprendizado dos filhos sobre os valores familiares acerca do tabagismo, independente
do uso direto pelos familiares, levando a considerar futuras
pesquisas.
94
servou-se tambm que se avoluma a participao das redes familiar ou informal de apoio, transformando-se num diferencial na configurao domstica de mulheres emergentes desta
faixa etria. A atuao destas redes possibilita a execuo de
seus objetivos sem que se sintam transgressoras ou desnaturadas, e sem que haja, um aumento de conflitos conjugais.
tro mulheres de 35 a 40 anos. Utilizaram-se dois instrumentos: (a) ficha de dados sociodemogrficos e (b) entrevista semiestruturada sobre a multiplicidade de papis da mulher e
sobre maternidade. Os dados foram analisados por meio de
anlise de contedo. Construram-se trs categorias a partir
da anlise de contedo: (a) multiplicidade de papis da mulher contempornea, (b) reflexes sobre maternidade e (c) maternidade tardiaversusrotina atual. Os resultados mostraram
que h uma exigncia tanto interna quanto externa de que
a mulher estude, trabalhe, progrida profissionalmente e seja
sua prpria mantenedora. No entanto, essa sobrecarga de trabalho no acontece sem perdas. A falta de tempo e de cuidados em relao sade so alguns dos prejuzos que ocorrem
em funo da excessiva dedicao ao trabalho. Se por um
lado, as mulheres sofrem prejuzos em funo do excesso de
tarefas, por outro, elas se sentem felizes por ocuparem um papel significativo no mercado de trabalho. Assim, a maternidade tardia uma possibilidade para as mulheres na atualidade.
Entretanto, observaram-se sentimentos como medo, insegurana e ambivalncia em relao maternidade. Espera-se
que os resultados deste estudo possam ajudar profissionais da
rea da sade que trabalham com mulheres, casais e famlias
que vivenciam questes relativas maternidade tardia.
SusanaKonig Luz
LuzSK1, CostaCB1, Cenci CMB2-1Unisinos,2Imed
Quando duas pessoas resolvem unir-se atravs do casamento h nesta unio a formao de um novo sistema, um funcionamento prprio do novo casal. Este novo sistema ir refletir o que cada indivduo traz implicado de sua famlia de origem, os emaranhados e as questes transgeracionais. Segundo
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), cujos
dados levam em conta apenas os casamentos oficializados em
cartrio, sem considerar as unies estveis, o nmero de casamentos em 2011 foi de 1.026.723, representando um aumento
de 5,0% em relao a 2010. Tendo em vista que, do total de
casamentos 38.222 so recasamentos, passa-se a considerar a
hiptese de que estas pessoas recasadas provm de famlias
tambm recasadas, perpetuando as lealdades invisveis. WOLFINGER (2003) foi um dos pesquisadores que se dedicou a
questo ao investigar os efeitos do divrcio parental sobre a
escolha conjugal. A justificativa para realizao desta pesquisa
se d amparada na demanda de conhecer quais so os desafios que o casal traz, por meio das lealdades invisveis, que influenciam na sua conjugalidade e o objetivo investigar de que
forma as lealdades invisveis e a transgeracionalidade esto relacionadas aos conflitos conjugais atuais. A hiptese considerada a partir de uma perspectiva sistmica de que nos primeiros anos de vida conjugal os casais ainda no construram
uma identidade conjugal ficando indiferenciados das lealdades invisveis da famlia de origem. uma pesquisa de carter
96
vas, transcritas e analisadas apontam que as madrastas na atualidade atuam na construo dos valores, assumem o papel de
cuidadoras ao mesmo tempo em que buscam um espao consolidado e prprio na vida do(s) enteado(s) e do atual marido.
Ser madrasta no a mesma coisa que ser me, os sentimentos, as responsabilidades e as expectativas dessa relao so
diferentes com os filhos que possuem laos biolgico ou legal.
Nessa trajetria, compartilham de dificuldades, buscando alternativas para construir uma relao e preservar os seus
membros e a unidade familiar. Levar em conta a fase do ciclo
vital, assim como as demandas que surgem no cotidiano tambm so desafios que exigem flexibilidade e adaptao constantes. A terapia familiar pode contribuir na consolidao da
famlia recasada, na construo dos laos, assim como abrir
um espao de conversao para os membros enfrentarem as
dificuldades apresentadas.
diferentes contextos - clnicos, sociais, jurdicos, entre outros exigem que aqueles que vo realizar essas prticas estejam
atentos s especificidades de cada contexto, de modo a
construir um trabalho que articule enfoques e apoie a famlia
em suas competncias. Consideramos importante que, nessa
articulao de enfoques, a abordagem sistmica esteja
presente como uma base em torno da qual se articulam outras
vises.
clnica e social com famlias em diferentes contextos. Para realizar essa sistematizao, conduziremos um estudo buscando
identificar as demandas que orientam os trabalhos com famlias em contextos de terapia ou de atendimento, analisando experincias profissionais publicadas em artigos, teses ou livros.
Desta forma o trabalho que vamos apresentar no congresso
configura-se como um estudo bibliogrfico sobre as diferentes
prticas, clnicas e sociais, realizadas com famlias.
Mesas
Redondas
MR. 01 Terapia Familiar Sistmica: Possibilidades e Limites na Parceria com o Tribunal de Justia de Pernambuco
Ednalda Barbosa
BARBOSA EG1-1Tribunal de Justia de Pernambuco Centro de Apoio Psicossocial
Introduo: O presente trabalho fruto de reflexes, acerca da experincia vivenciada, na atuao em processos oriundos de Varas de Famlia do TJPE, com foco no contexto social
e relacional da famlia, utilizando uma viso sistmica onde a
famlia passa a ser vista no apenas como um conjunto de pessoas que vivem sob um mesmo espao, mas, que interagem e
se influenciam reciprocamente. Justificativa: A observao de
que apenas a imposio da lei no fazia cessar os conflitos,
mas que retornavam com outras dificuldades, instigou a equipe a procurar outros meios de interveno, visando contribuir
com uma soluo apropriada aos casos que recorrem ao TJPE
e que esto ocorrendo em espao de tempo cada vez menor.
Assim, por intermdio do Professor Roberto Faustino de Paula, pioneiro na implantao da Terapia Familiar em Pernambuco, que se baseia no pensamento sistmico, deu-se incio a
uma parceria que vem produzindo resultados no contexto das
famlias em litgio. Objetivo: descrever o caminho percorrido
para insero de uma viso sistmica entre os profissionais
responsveis, chamados a contribuir para com a soluo dos
litgios familiares, implementando essa nova viso. Metodologia: resgate das aes realizadas desde o incio do processo de
desenvolvimento, que propiciaram atingir o estgio atual de
interao, com viso multi e interdisciplinar, no atendimento
s famlias em litgio que, em geral, tm tambm dificuldades
relacionais. Resultados Esperados: diante do percurso trilhado e dos resultados j obtidos, se pretende investir e ampliar
aes que visem a sensibilizao de representantes do Poder
Judicirio, como juzes, promotores e demais servidores judicirios, bem como a ampliao de espao socializante de atendimento em Terapia Familiar Sistmica no Estado de Pernambuco, para famlias em litgio
Concedida ao cnjuge que deseja adotar o filho do (a) companheiro(a), essa adoo no envolve, a princpio, o desejo de
pessoas ou casais terem filhos nem a necessidade da criana
ter uma famlia; ao contrrio, priva-a do convvio com a famlia biolgica paterna ou materna, ainda que essa um dia tenha
sido presente na vida do filho. A partir do trabalho realizado
como Perita Judicial na Vara da Infncia e da Juventude do
Rio de Janeiro, torna-se necessrio refletir sobre as demandas
e possveis consequncias emocionais da adoo pelo novo marido/companheiro da me maioria absoluta das adoes
pelo cnjuge.
Com o objetivo de subsidiar a deciso do Juiz, o terapeuta de famlia atua na interface da Psicologia com o Direito e realiza uma avaliao da situao apresentada, para garantir o
melhor interesse da criana.
Em muitos casos, a motivao da adoo pelo cnjuge revela casos de Alienao Parental, onde por questes mal resolvidas quando da separao conjugal, os pais foram alijados da
convivncia com os filhos.
Considerando que a adoo pressupe a destituio do
poder familiar do pai biolgico, a substituio do registro original da criana por outro que constar o padrasto como pai e
os pais dele como avs e novo sobrenome para a criana,
questionamos os efeitos que uma mudana de tamanha magnitude poder ter na vida da criana. Ser que a adoo pelo cnjuge instituir ex-pai, ex-tios, ex-avs para dar lugar a novopai,novostios enovosavs toda vez que a me contrair novas npcias?
103
MR. 06 Alienao Parental e conflitos familiares judicializados: novas perspectivas para atuao profissional
Rebeca Ribeiro Mucci
Mucci RR1, Barbosa LPG1, Maciel SB1-1Tribunal de Justia do
Distrito Federal e Territrios Servio de Assessoramento s
Varas Cveis e de Famlia SERAF
Os pressupostos do Pensamento Sistmico Novo Paradigmtico, da Terapia Familiar Sistmica, das Prticas Colaborativas e do Direito Crtico Contemporneo norteiam os trabalhos
desenvolvidos pelo Servio de Assessoramento s Varas Cveis
e de Famlia do Tribunal de Justia do Distrito Federal e Territrios SERAF/TJDFT, o que envolve a compreenso de famlias encaminhadas pelos magistrados que esto debatendo sua
convivncia familiar por meio de aes judiciais que citam alienao parental e a lei 12.138/2010. Um dos desafios nesse assessoramento oferecer ao magistrado uma viso mais ampliada da famlia, de suas diferentes tramas relacionais e das repercusses subjetivas em cada um de seus protagonistas, a
fim de que suscitem escolhas e decises que preservem, sobretudo, o bem estar dos filhos dentro de suas respectivas fases
de desenvolvimento. Assim, a presente mesa constitui iniciativa de aprofundar o debate sobre a atuao do profissional que
acompanha famlias no ps-divrcio, possibilitando construes crticas. Para tal, se prope a explorar trs facetas do tra-
104
Silvia L Vaks1-1Cefai RJ
Premissas tericas
Penso que vivemos um momento muito especial, que reflete nos nossos saberes e nos nossos fazeres dirios, impondo-nos a obrigao de repensarmos nosso lugar no mundo
como cidado, profissionais e seres humanos. Muito se discute sobre como a Famlia e a Escola podem fazer frente a comportamentos de risco, como abuso de drogas, impulsividade,
agressividade exagerada, atitudes autolesivas, entre outras,
que acometem crianas e adolescentes. Adotando uma perspectiva relacional sistmica proponho olhar para essa questo
buscando compreender e descrever como a relao Famlia-Escola se insere nesse contexto.
Descrio prtica
Trazer para reflexo o lugar dos sistemas envolvidos
como co-construtores de um contexto no qual emergem comportamentos que pe em risco a sade fsica e emocional do
sujeito em desenvolvimento, acarretando srias consequncias para si e para os que o cercam.
Reflexes:
Analisar fatores que contribuem para o aparecimento desses comportamentos, o impacto destes na famlia e no ambiente escolar bem como propor reflexes que visam abrir espao
de dilogo para a discusso do tema.
106
te, estando atento ao padro de funcionamento do sistema teraputico, lembrando constantemente que a responsabilidade
do cliente perante a vida dele, aumentando o nvel de conscincia do cliente perante a vida. O que os Terapeutas Relacionais Sistmicos consideram situao de crise quando o cliente est em sofrimento por perdas acontecidas. Isso no significa que est sob intenso sofrimento. Nesse trabalho, a responsabilidade desenvolvida e h a aquisio de aprendizagens e
mudanas diante da perda. Na TRS, acredita-se que se o cliente no lidar com a perda, ele no conseguir se responsabilizar
pelo processo teraputico e mudar. Com a sensao de potncia/autonomia, ele poder se fortalecer para fazer um processo teraputico ou para estar mais apto a viver a sua vida. Trabalha-se a crise em quatro etapas: 1) chorar a dor; 2) expressar a raiva; 3) Limpar a culpa; 4) Refazer projetos. A qualidade do trabalho em cada uma das etapas direciona e prepara
para a prxima etapa. O objetivo desse trabalho ser mostrar
o uso do trabalho de situao de crise na terapia de casal ou
individual diante de situaes de infidelidade, j que esta
considerada uma perda, a perda do vnculo mais ntimo que
se tem com uma pessoa - que a relao amorosa. Foi feito
um levantamento de literatura, incluindo referncias bibliogrficas nacionais e internacionais sobre Terapia Relacional Sistmica para fundamentar o trabalho, bem como uma anlise da
prtica profissional baseada em observao dos resultados obtidos no processo teraputico. Foi visto que os casais em processo teraputico que no passam por esse trabalho com todas
essas etapas tm mais dificuldade para reorganizar a relao e
dar continuidade ao relacionamento a dois, dificultando a su-
MR. 12 Infidelidade contempornea, violncia psicolgica e seus desafios teraputicos na clnica com casais
PatrciaManozzo Colossi
Colossi PM1 - 1Faculdades Integradas de Taquara-FACCAT Psicologia
As relaes conjugais tm apresentado importantes transformaes histricas e nas ltimas dcadas, as modificaes
da famlia e dos papis a ela vinculados tm transformado de
modo relevante este tipo de relao. A liquidez dos relacionamentos humanos tem suscitado consequente busca por maior
satisfao sexual e, de modo mais amplo, conjugal, colocando
homens e mulheres, por vezes, em sucessivos relacionamentos
amorosos no decorrer da vida. Contribuindo em alguma medida para o estabelecimento deste cenrio, revelam-se os relacionamentos extraconjugais, que tm se apresentado, sob mltiplas facetas, uma realidade recorrente na clnica psicolgica
com casais, complexificando as relaes amorosas contemporneas. Diante disso, so discutidos aspectos da infidelidade,
a interface com a violncia psicolgica no casal e formas de resoluo de conflitos da decorrentes. So apresentados 2 casos
108
que os aprendizes percebem tal distanciamento, almejam maior presena fsica e emocional dos responsveis, e suas necessidades transcendiam questo acadmica.
Assim, pela abordagem Sistmica, com uso de alguns recursos dos diferentes enfoques (estratgico, estrutural, externalizao e intergeracional) fora organizado o Grupo NS e
LAOS a partir de diagnstico tido no processo seletivo de primeiro semestre de 2013. Os recursos utilizados foram dois
qualitativos (recurso simblico desenho e vivncia entre os
pares) como forma de identificar as demandas dos alunos e
que puderam ser delineadas em quatro temas maiores para serem trabalhados com os Responsveis: 1. O que sou x O que
minha famlia espera que seja, 2. Brigas (dinheiro, comunicao, rotina), 3. Pais separados e efeitos na relao com filhos
4. Crescimento dos filhos.
Planejado encontros nas primeiras quartas de cada ms,
num perodo de 1h30min, de modo a intercalar os quatro temas referidos. No segundo semestre de 2013 j houve partilha
de cinco encontros, tendo lista de presena de modo a acompanhar os comparecimentos. Os no presentes tiveram contato
telefnico, objetivo de sensibiliz-los de sua parte no processo
de ensino, bem como no mbito familiar no que vinham oportunizando os filhos registrarem de seu papel parental.
A perspectiva vivenciar o grupo em dois anos para depois haver comparativo em pesquisa mais detalhada, embora j se observe maior participao, intimidade e vnculo dos alunos em
sala e tambm na empresa, com reflexo direto na frequncia,
comportamento e interao interpessoal e na rede familiar.
109
Daspett C1, Horta AL2, Cascarani AP, Tirado J, Pinto F - 1Universidade Federal de So Paulo, 2Universidade Federal de So
Paulo Escola Paulista de Enfermagem
MR. 16 AGATEF - Prticas Clnicas e Cientficas. Interface entre aClnica AGATEF, Comit de Preveno Dependncia Qumica e Comit de diversidade Sexual
Ieda ZD, Ana RGS, Maria BB, Mnica CM, Mara LR, Marcia
RO
111
de. O trabalho com famlias envolve muitos desafios e as propostas construcionistas sociais podem contribuir com a formao profissional, favorecendo o desenvolvimento de uma viso
mais abrangente do processo sade-doena-cuidado, atravs
da anlise dinmica de seus fatores biolgicos, psicolgicos e
socioculturais
Prtica:Pesquisa e Entrevistas.
Alguns autores com os quais costumo conversar tm
um olhar que valoriza as vivncias do terapeuta em sua prpria famlia, como constituinte de sua viso de mundo. As narrativas construdas em sua famlia moldam suas percepes
do mundo e dos outros.
Por exemplo, Humberto Maturana, com a ideia da autoreferncia, da qual no podemos escapar; Murray Bowen, com
a noo de diferenciao do eu; Borszomenyi-Nagy, com as lealdades familiares; Mony Elkam, com a ressonncia do terapeuta, entre outros.
O objetivo deste trabalho mostrar a importncia de se
conhecer a fundo e se apropriar da prpria histria familiar,
para se tornar um terapeuta mais livre.
Partir de reconhecer as descries de si mesmo, herdadas ou adquiridas da famlia, para buscar descries mais ampliadas e libertadoras para o ser e fazer teraputico. Novas descries que possibilitem maior crescimento profissional.
Inspirada num livro de Edgar Morin, sobre a histria de vida
de seu pai, que considero uma aula aplicada da Teoria da Complexidade, iniciei uma nova busca pelas histrias e narrativas
113
de minha famlia. Novas vozes, novos significados e novos sentidos foram se fazendo presentes. E, como diria Tom Andersen, todas as vozes so vlidas. A questo que se coloca
como permitir que estas vozes ofeream novos sentidos para
vivncias atuais, amplificando o repertrio do terapeuta?
Finalmente, atravs de Boris Cyrulnik, as questes de resilincia foram ficando mais claras, tanto na histria familiar,
quanto nas posturas teraputicas muitas vezes assumidas sem
a devida compreenso. Da mesma forma, os efeitos dos segredos nas famlias saram do territrio terico para o vivencial.
E a intolerncia pde ser compreendida como uma forma de
se defender de um externo extremamente ameaador.
Consideraes finais:
Faz parte da formao constante do terapeuta a investigao das histrias contadas e no contadas de sua prpria famlia, de modo a se apropriar das narrativas mais teis para o
seu fazer teraputico. Pode legitimar e aprimorar sua atuao
profissional. Conhecer sua bagagem o habilita e se libertar
de verdades pr-estabelecidas e estar mais disponvel para o
outro.
A populao mundial est envelhecendo, as projees estatsticas da Organizao Mundial de Sade (OMS) evidenciam que at o ano de 2025 seremos a sexta maior populao
idosa do mundo.
O projeto destinado a idosos sem comprometimentos
psquicos, sensoriais ou neurolgicos graves, visando estimular reas como memria, ateno, percepo, raciocnio, linguagem e concentrao. Sua finalidade preventiva e sua proposta psicopedaggica, pressupondo que o idoso saudvel,
fsica e mentalmente poder manter-se ativo conservando a
mente aguada e alerta, o que garantir uma melhor qualidade de vida.
O programa de ateno ao idoso parte do princpio que
promover a qualidade de vida uma meta apontada em todas
as polticas de atendimento e apoio a terceira idade, pois promove a ativao do funcionamento mental, expandindo as capacidades e favorecendo a convivncia prazerosa em grupo. O
projeto tem carter preventivo e promotor de resgate das habilidades. O presente projeto prope encontros onde so adaptadas atividades que estimulem as potencialidades, as necessidades e as caractersticas individuais e grupais.
Os ganhos obtidos so decorrentes das atividades programadas para no apenas incrementarem as funes cognitivas,
como facilitarem o uso de novas estratgias voltadas vida diria, atravs da promoo da autoestima, e do incentivo socializao e manuteno da independncia social e pessoal.
O trabalho atencioso e cuidadoso voltado para as necessidades da pessoa idosa baseado na aprendizagem autorregulada, oportuniza a percepo de estratgias diferentes, avalian114
115
Esse trabalho quer apresentar e problematizar os projetos de vida de dependentes qumicos ao final de tratamento
116
em Comunidade Teraputica. Foram entrevistados 49 dependentes decrackno perodo de reinsero psicossocial, na ltima semana do tratamento. Nesse momento foram investigados, os projetos de vida atravs de quatro questes: projeto de
vida (de forma ampla), expectativas quanto famlia, quanto
a carreira e quanto a amizades. De uma forma geral, o principal projeto de vida a manter-se longe das drogas (citado por
14). Segue projetos quanto a amigos (12) e famlia (6). Projetos quanto a estudar, trabalhar ou adquirir novamente o que
perdeu foram citados por cinco participantes (cada item). Apenas dois no apresentaram nenhum projeto para sua vida
aps o tratamento. Os participantes apresentam expectativas
opostas quanto famlia: um grupo percebe a famlia com um
fator positivo na recuperao (apoio nesse novo momento de
vida -11; aceita e compreende o tratamento - 10; quer construir um novo sistema familiar - 1) e outro grupo tem expectativas negativas quanto ao grupo. Percebe-se que sete querem
resgatar vnculos com a famlia e outros no desejam o contato (no conta com apoio familiar - 7; no quer se aproximar da
famlia - 4). Quanto aos amigos, chama a ateno que 27 acreditam que precisam de novos amigos, ou s confiam nos amigos conhecidos durante o tratamento. Quanto aos projetos de
vida quanto a carreira, 14 desejam voltar a estudar, 13 querem
conseguir um emprego diferente do seguido antes do tratamento. Dez querem retomar a vida profissional e 10 desejam
permanecer atuando em Dependncia qumica. Cinco no tem
um projeto de emprego, mas focam em adquirir as coisas que
perderam durante o tempo de uso. Dois acham que no vo
conseguir emprego e dois no tem expectativas quanto ao pro-
jeto de carreira. Esses dados indicam que, ao sarem da comunidade teraputica, os dependentes percebem-se desafiados a
construir uma nova vida, revisando todas as reas de seus projetos de vida. A manuteno da sobriedade, entretanto, parece
ser seu maior projeto de vida e para isso a proximidade com a
famlia parece essencial.
A internao psiquitrica breve ainda necessria em situaes urgentes envolvendo graves riscos e instabilidade de
pacientes com transtorno mental. Ela tem entre seus graves
impasses o fenmeno da reinternao, diretamente relacionada a qualidade da assistncia familiar, conforme atestam os
trabalhos acadmicos. Por isto, o projeto teraputico singular,
construdo pela equipe interdisciplinar em reunies semanais,
deve ser constantemente aprimorado, visando o fortalecimento das condies para a vida em sociedade. Se discute aqui as
alternativas da enfermaria de um hospital psiquitrico univer117
sitrio,que soos atendimentos individuais, diagnsticos e teraputicos; os grupos da terapia ocupacional; os grupos de cuidado pessoal da enfermagem; os grupos do Servio Social sobre osdireitos civis. Pela psicologia, acontecem os grupos psicoteraputicos e os grupos cognitivos, como o grupo de Habilidades Sociais, sobre o comportamento assertivo em resposta a
situaes de interao social, ilustradas por trechos do seriado
de TV 'A Grande Famlia'. No momento ps-alta hospitalar,
muitas famlias demandam assistncia em psicoterapia familiar. Nas sesses, procura-se responder a questo: quais recursos pessoais, familiares e sociais devem ser fortalecidos para
que no ocorra a reinternao?Pois frequente que ainda se
viva o choque quanto situao que motivou a internao; o
medo de novamente no se dar conta das dificuldades; a negao de que algo realmente srio aconteceu. Este ltimo mecanismo toma a forma de expectativas muito criticas e precoceslanadas ao paciente; tambm, de um severo distanciamento do fato, como se nada tivesse acontecido. Em outras etapas,
se trabalha com o superenvolvimento relacional, superprotetor, e que impede a efetivao de projetos mais independentes
pelo paciente e o respeito ao espao individual de outros membros da famlia. Considera-se que estratgia essencial para
que haja aprendizagem significativa pelo paciente e familiares, evitando a reinternao psiquitrica.
O diabetes uma doena crnica, complexa, multifatorial, que exige muito de seus cuidadores, sejam eles: profissionais, portadores ou familiares. Por ser uma doena de difcil
controle, o maior desafio alcanar e manter o controle glicmico.
O objetivo deste trabalho compartilhar a prtica profissional das autoras a partir de uma postura ps-moderna num
grupo de atendimento a diabetes do qual fazem parte, o
GECD. Este grupo oferece subsdios para a educao e controle do diabetes a pacientes portadores do diabetes tipo 2 num
formato de equipe interdisciplinar constituda por mdicos,
enfermeiras, nutricionistas, psiclogos, odontologistas e educadores fsicos.
Neste trabalho o diagnstico a porta de entrada para
nossas conversaes, mas no tem uma finalidade normativa
(Foulcault).
As prticas discursivas mdicas focalizam a doena, sendo assim nosso desafio inicial foi incluir a voz do paciente que
118
vinganas e medos. Por outro lado as instituies publicas chamadas para dar ateno de base nos casos de conflitos familiares esto despreparados e causam mais preocupaes do que
solues. A complexidade do campo em estudo exige foco terico que entrelace as reas da psicologia clinica e jurdica, da
terapia familiar sistmica e do direito de famlia. Temos como
base a perspectiva multidisciplinar, visando coerncia tica e
cientifica, paralela busca de delimitao do problema, reorganizao do sistema em crise e seus devidos encaminhamentos
para ajudar decises jurdicas.
So reflexes construdas a partir da experincia como
psicloga, supervisora ou mediadora, em estudos e pesquisas
psicossociais com famlias que vivenciam situaes de violncia intrafamiliar. Estas demandas se originam das varas de Famlias ou da infncia, na Cidade de Goinia e Aparecida de
Goinia.
monstram que o terapeuta de famlia contribui de forma significativa por meio de sua experincia e valendo-se do olhar sistmico para auxiliar as famlias nesse momento delicado. Portanto, o terapeuta familiar uma importante ferramenta para
construo de relaes familiares mais saudveis durante o difcil processo de divrcio.
dinheiro, exemplificado atravs dasua experincia pessoal, publicada no livroMinha Famlia & Meu Dinheiro - a histria familiar comanda seu dinheiro? Groisman, M. (org), Rio de Janeiro: Ncleo-Pesquisas Ed., 2013, descrita no captulo intitulado: "O essencial invisivel aos olhos?" ou, quando o dinheiro o problema.
CaccozziNeli1,2-1ASSESSO,2CACOZZA
MR. 33 Terapia Familiar em comunidades vulnerveis: o terapeuta como facilitador da construo de redes familiares e
alternativas violncia
124
discutirem e vivenciarem suas dificuldades: buscar em conjunto alternativas de atitudes educacionais e vivenciais, mais satisfatrios para suas vidas; discutir valores bsicos de convivncia e preservao social; formar se possvel uma rede de
apoio entre os prprios integrantes do grupo.Metodologia:As
sesses foram iniciadas com exerccios de aquecimento, ou temas disparadores, para as vivncias e role playing que se
seguiam.Resultados: 1) O grupo que a princpio era pequeno,
atualmente est com certa de 30 a 40 participantes, sendo alguns, os prprios adolescentes em L.A. 2) o CREAS nos convidou para continuarmos a experincia por mais um ano; fazermos um grupo de preparao de seus tcnicos e trabalharmos
com outro grupo de famlias com deficientes.
Este trabalho pretende apresentar o projeto desenvolvido junto ao Ministrio Pblico. Pela iniciativa das Promotoras
de Justia, se inicia em 2011 a criao do Projeto de Mediao
125
127
mico baixo, matriculados em escolas municipais de Porto Alegre. Utilizaram-se os instrumentos: Ficha de Dados Biossociodemogrficos, Questionrio de Tarefas Domsticas e de Cuidado entre Irmos e Entrevista Semi-estruturada sobre Projetos
de Vida. Os dados foram analisados por meio da anlise de
contedo. Os resultados indicaram que: (a) adolescentes de
ambos os grupos tm projetos de vida e (b) os projetos de vida
comuns entre os dois grupos so trabalho, estudo e aquisio
de bens materiais. Entretanto, apenas adolescentes do grupo
de cuidadores mencionaram projetos em relao a ajudar a famlia de origem no futuro. Este resultado sugere que se apenas os adolescentes cuidadores constroem projetos de vida
que consideram as preocupaes e as necessidades de sua famlia de origem no futuro, a situao de cuidado entre irmos
pode estar relacionada construo de projetos de vida. Pode-se pensar que, se por um lado, a situao de cuidado entre
irmos traz prejuzos no momento presente, por outro, ela
pode influenciar na construo de projetos de vida que levem
em considerao as necessidades de outras pessoas.
128
Zagne A1-1Centro de Atendimento e Aperfeioamento em Psicologia (CAAPSY) - Associao de Terapia Familiar (ATF-RJ)
O objetivo deste trabalho demonstrar como a baixa diferenciao do SELF pode causar perdas no sistema familiar ,
tais como a falncia financeira, enfoque que privilegiarei neste
trabalho, j que estou desenvolvendo uma pesquisa sobre perdas e suas consequncias nos valores familiares. Venho observando na minha prtica clnica em Terapia Familiar, tanto no
consultrio quanto no Caapsy - Clnica Social de Terapia Familiar (com casais, adolescentes e crianas), h mais de vinte
anos ,ao lidar com as famlias com perdas financeiras, como
isso danoso para as relaes familiares e o quanto se torna
difcil a reorganizao familiar aps a ocorrncia deste evento
nodal. Os danos dai advindos podem causar s famlias a paralisao e desestrutura de seu desenvolvimento, no s em resposta a falncia, como tambm pelo impacto do sofrimento a
seus membros, denunciando o quanto uma famlia aparentemente organizada revela sua disfuncionalidade. Tomo como
base terica de minhas reflexes, o conceito fundamental da
teoria de Murray Bowen (1978) de diferenciao do Self, que
ao mesmo tempo um conceito intrapsquico e interpessoal. A
diferenciao intrapsquica resume-se na capacidade de separar o sentir do pensar. As pessoas pouco diferenciadas dificilmente distinguem os pensamentos dos sentimentos, seus intelectos esto to inundados de sentimentos que elas so incapazes de pensar objetivamente. Suas vidas so governadas por
uma justaposio de sentimentos daqueles que as cercam, ce-
gamente aderidas ou iradamente rejeitadas. A ausncia de distino entre o pensamento e o sentimento ocorre juntamente
com a ausncia de diferenciao entre si prprio e os outros. A
diferenciao como um processo de libertao parcial de
uma pessoa do caos emocional da famlia. Libertar-se requer
analisar seu prprio papel como participante ativo nos sistemas de relacionamentos, em vez de culpar os outros. exercer um esforo consciente para ser objetivo e se comportar racionalmente diante das presses da emocionalidade. Na minha prtica clnica tenho vasta casustica, onde essa sintomatologia aparece. Procuro trabalhar, com o uso do Genograma,
vivncias e demais tcnicas disponveis, os recursos / resilincia de que cada famlia abastecida.
Como contribuio aos profissionais que atuam na clnica da adoo, a autora aborda a biografia pr-adotiva, o vnculo adotivo e a abordagem clnica da preveno e da reparao
no atendimento de crianas, adolescentes, adultos e seus pais
adotivos. O tratamento psicanaltico individual visa elaborar
as dificuldades e impasses, no para retirar as marcas e especificidades da adoo, e sim tratar das repercusses dessas mar129
cas. O processo familiar indicado para a elaborao de questes e mitos que no puderam ser prevenidas precocemente,
mas que podem ser reparados. A terapia individual e familiar
contribui para uma evoluo saudvel da criana, mesmo sem
pais biolgicos conhecidos, mas com verdadeiros pais adotivos. Para o trabalho clnico preventivo e reparador, a autora
considera importante a pesquisa e o estudo permanente nas
suas especificidades jurdicas, sociais, psicolgicas e familiares, nos diversos contextos. A prtica cada vez mais especializada do campo da adoo demanda, alm da abordagem da
transferncia de situaes difceis, prtica supervisionada e,
principalmente, da anlise pessoal.
Faremos a apresentao de trabalho clnico, desenvolvido sob o nosso olhar como terapeutas que h trs anos atendem uma famlia durante o processo de adoo de uma criana com 6 anos de idade que se encontrava em abrigo. Esta famlia chegou ao Instituto Sistemas Humanos encaminhada
pelo Judicirio, com indicao para acompanhamento da
adaptao do filho em adoo. Quando iniciamos o atendimento a famlia j era formada por dois filhos sanguneos, um de 7
anos e outro de apenas alguns meses de vida, e pelo filho recm adotado, alm do pai e da me. Durante os atendimentos
nos deparamos com diferentes possibilidades de olhares para
a adoo ao sermos convidados a perceber a adoo como um
processo complexo, recproco e mltiplo, que no est contido
apenas entre pais e filho adotado e to pouco se finaliza com a
renovao da certido de nascimento. Pensamos que a troca
dos nomes na certido foi apenas um dos passos do caminhar
na direo do pertencimento ao grupo e do grupo. Pretendemos assim apresentar um recorte no qual focamos momentos
que entendemos de grande importncia nas adoes desta famlia como processos contnuos.
Consideraes finais: Com este trabalho clnico, trazemos adoo a perspectiva do olhar como um caminhar para
a possibilidade de pertencimento que pode ser construda no
processo teraputico onde o tempo permite serem tecidos os
laos relacionais. Pensamos que, sob este olhar, o acompanhamento de famlias durante o processo de adoo pode evitar a
devoluo de crianas adotadas, o que faz parte de um projeto
futuro desta equipe para o atendimento de famlias em processo de construo do pertencimento.
Um importante projeto tem sido desenvolvido desde
2010 em parceria da ATF-RJ com a ABRAPAPH Assoc. Brasileira do Projeto de Ajuda Humanitria Psicolgica, o Projeto
Tendas da UFF e o Delphos Espao Psicossocial AS INTERVENES PSICOLGICAS S FAMILIAS que sofrem de tragdias sejam elas naturais ou no. Quando em 2010, a cidade
de Niteri sofreu a grande tragdia que ficou conhecida como
A tragdia do Morro do Bumba, atravs da convocao de
Terapeutas de Familia pela ento Presidente Cristina Werner,
foi realizada esta parceria que tem permanecido e que continua a ser desenvolvida. A equipe do PAHP, constituda em parte por terapeutas de famlia, tem feito intervenes em Niteri, Friburgo, Terespolis, alm das cenas de violncia que afligem nosso Estado como ocorreu com a Escola Municipal em
Realengo onde um jovem atirou e matou vrios alunos; e tambm a invaso de bandidos ao Tribunal de Justia, em Bangu,
matando um segurana e uma criana vtima de bala perdida.
Vamos apresentar como se desenvolve o atendimento s famlias nas situaes de incidentes crticos.
Os temas abordados no Encontro Internacional da Famlia so estimulados a serem desenvolvidos pelos associados da
ATF em comunidades com objetivo de transcender aos espaos fechados de consultrios e clinicas. Ao estimular os terapeutas de famlia intervirem em contextos vrios e a compartilharem suas experincias terico-prticas contribumos tambm para a divulgao do papel do terapeuta de famlia.
Em 2012, nosso movimento foi no sentido de chamar a ateno para determinadas questes que influenciam o cotidiano
da famlia e as consequncias sociais das relaes familiares
nos mbitos pblicos e privados. Acreditamos que tais aes
podem impulsionar a adoo de medidas efetivas importantes
no plano nacional e internacional. Neste ano nosso trabalho
foi desenvolvido partir deRoda de Conversa: parceria famlia-escola no enfrentamento violncia cotidiana.
Em 2013, fizemos intervenes junto as Escolas, mobilizando pais, alunos e professores para uma reflexo sobre As
redes sociais e seus impactos nas relaes familiares, buscando tornar claro para todos, o valor e a importncia das famlias na construo de uma sociedade melhor. Alm disso, divulgar o trabalho preventivo da terapia familiar.
Em 2014 as aes junto s famlias em diversos contextos, atendendo o tema Da Famlia Externa para a Famlia Interna uma viagem criativa.
A proposta de trabalho : Encontro Criativo: parceria
para compreender e vitalizar positivamente as intersees
mundo - famlia.
132
O luto pela perda de um filho considerado uma das dores existenciais mais difceis de processar, na maioria das sociedades ocidentais e orientais. Quando esse filho apenas uma
criana e protagoniza a incompetncia de um Governo falido
em suas aes de segurana e de sonhos frustrados de futuros
melhores teremos lutos elevados a contas altssimas.
A Interveno Psicolgica aos funcionrios do TJ teve
como o objetivo minimizar o stress ps trauma a fim de que
pudessem dar continuidade ao desempenho de suas funes e
de suas vidas pessoais. A Interveno com a famlia R objetivou colaborar com a resilincia daquela famlia para o resgate
e a esperana da reconstruo de suas vidas.
A Interveno Psicolgica em Crise prope tratamento
para pessoas apriorisaudveis; que vivem situao de surpresa e ameaas. Nossos protocolos de atendimentos grupais, familiares, conjugais e individuais so feitos para ajud-los a
processar experincias traumatognicas coletivas e defesas de
vivncias subjetivas, com teor disruptivo.
Estamos propondo apresentar as intervenes realizadas
atravs do PAHP em especial esta, e outras, experincia(s) no
atendimento famlias em acidentes crticos.
Claudete Milar1-1F&Z
Mtodo
Claudete Milar
Introduo
O sofrimento das famlias de Santa Maria comoveu o
mundo... Em especial uma famlia que conseguiu resgatar
uma filha e que em detrimento da luta do filho para salvar os
amigos acabou no resistindo. O significado de heri estava
simbolizado na famlia como forma de suportar a dor.
O Programa de Ajuda Humanitria Psicolgica da
ABRAPHAP proporcionou esta famlia um atendimento com
a interveno do Debriefing que consiste em facilitar a expresso dos sentimentos e emoes em grupo, relacionadas experincia traumtica vivida, com o propsito de reorden-la cognitivamente, de forma mais adaptativa (Mitchell, 1983).
Objetivos
O objetivo prevenir a cronificao das reaes ao trauma, aliviar o estresse e proteger de patologias de longa durao.
Trata-se do Debriefing realizado com uma famlia que expressou seus sentimentos diante do resgate da filha e perda do
filho na mesma tragdia.
Populao:
Famlia 2 Pai, Me, Filha adolescente e em memria o
filho jovem.
133
Tcnica Debriefing
Um encontro de duas horas.
Resultados e Discusso
Durante o Debriefing os principais pensamentos foram:
Isto no esta acontecendo comigo... Sentimento de culpa por
ter conseguido se salvar e no ter salvado o irmo... Meu filho
salvou vrios amigos e no conseguiu se salvar...
Na Fase de Reaes (domnio emocional) da interveno,
a famlia reviveu o cenrio da convivncia que tiveram com o
filho atravs de fotos, sinalizando o jeito especial que o filho
tinha de sempre ajudar os outros. Frase dita pela famlia na
finalizao: No poderamos fazer nada, no conseguiramos
impedir nosso filho de ajudar os amigos, ele foi um HERImesmo...
Os resultados indicam que a interveno realizada com a
famlia resultou em melhor enfrentamento do problema, maior adaptao e reflexes para busca de apoio.
Concluso
Pelo Debriefing possvel s pessoas contarem sua vivncia do evento estressante, o que j uma forma de enfrentamento. Entendemos que foi uma interveno bem aceita e tida
como oportunidade de falar sobre a experincia traumtica.
Conclumos que a interveno realizada com a famlia resultou em melhor enfrentamento do problema, maior adaptao
e reflexes para busca de apoio.
ca, psquica e espiritual que um ser humano possa ter e impregnada em seus relatos no Antes, com suas crenas negativas como: eu no posso suportar, meu corao est empedrado, eu sou impotente, eu sou chorona e fraca, a saudade traz
uma dor muito forte, as imagens de TV no saem da minha cabea, nunca vou esquecer-me do ltimo beijo. E o Depois,
uma narrativa de crenas positivas como: Eu sou guerreira,
eu sou forte e posso superar. O amor que tenho poder transformar, eu tenho controle e vou superar meu corao desempedrou. Conversando entendo agora, porque ela foi embora cedo, sempre pareceu um anjo. Meu corao no est mais empedrado ele bate de novo e respira. Eu tenho coragem, minha
filha ajudava muita gente, tenho que continuar, ela era linda
inteligente. O resultado destes encontros com estas mes me
possibilitaram oportunidades de escuta, conversaes construtivas e aes positivas que levaram ao enfrentamento de suas
dores. Mulheres/mes esto vencendo barreiras como: medo,
raiva e tristeza. Tendo os mesmos interesses e identificaes,
estas protagonistas fortaleceram os relacionamentos entre
elas e com suas redes de apoio construdas por profissionais
da sade, familiares e amigos fazendo um convite solidariedade e o encorajamento em busca de superao social de forma a tecerem redes na construo de desejos e na continuidade da vida com a fundao de uma ONG chamada PARA SEMPRE CINDERELAS.
135
Para uma aproximao das famlias que tm filhos adolescentes gostaria de esboar, inicialmente, duas ideias. A primeira referente ao percurso de vida familiar; e a segunda, s
relaes entre as geraes. Essas noes se imbricam com reflexes advindas da prtica teraputica com famlias que, no
caso desta apresentao, so pertencentes aos segmentos sociais denominados mdios.
Entre o nascimento e a morte, inscrevemos nossa existncia e se desenrola nosso percurso de vida. Os acontecimentos
prprios ou possveis da vida tm, todavia, significados diversos para as pessoas e suas famlias. Nessa perspectiva, ao terapeuta familiar cabe construir com a famlia seus contextos de
pertencimento e dar voz s motivaes individuais que cunham o percurso familiar. Desse modo, abre-se o horizonte
para se pensar a famlia no no tempo cronolgico com etapas
idnticas para todos, mas no tempo social e vivido de cada famlia.
Neste trabalho destaca-se ainda o uso das tecnologias pelos adolescentes. Elas mudam, mas permanecem afetando e
sendo afetadas pelos vnculos humanos. A relao dos jovens
com a tecnologia constitui uma das situaes que abre espao
para se pensar nas mudanas familiares e geracionais ao longo do percurso de vida familiar. Lembrando que para os pais
essas formas de insero no mundo social no respondem ao
repertrio cultural vivido em suas adolescncias. No contexto
dessas mudanas significativas se podem observar, entretanto, as conhecidas dinmicas relacionais da confrontao, da
perda do lugar de criana para o adolescente e do adolescente
(interior) para os pais. Em outras palavras, os pais revivem aspectos de sua adolescncia e, ao mesmo tempo, despedem-se
um pouco mais dessa etapa da vida. E os filhos experimentam
a construo de um mundo pessoal para alm daquele de seus
pais. Desse modo, as fronteiras internas no sistema familiar se
redesenham e os lugares na rede familiar se deslocam. Na relao teraputica so construdas as possibilidades criativas e
criadoras das famlias para fazer frente s novas exigncias.
Os desafios postados para terapeutas e famlias so, entretanto, uma pequena parte daqueles que emergiro ao longo do
percurso familiar. Essas questes esto para alm de enfoques
teraputicos e seus recursos correspondentes.
teoria da TERAPIA FAMILIAR COMPLEXA inserida no universo das teorias e tcnicas de um novo momento histrico a
IDADE CIBERNTICA.
Vemos crescer no mbito da clnica psicanaltica um fenmeno denominado de Declnio da funo Paterna, responsvel por muitos dos sintomas apresentados pelas crianas que
chegam cada vez mais aos consultrios dos psicanalistas em
busca de tratamento. A mudana de papis na famlia um
fato. Verificamos uma ruptura cada vez maior entre as fronteiras que separam a paternidade da maternidade. Entendendo
que a nova ordem social tem como consequncia inmeros
efeitos sobre o sujeito que a psicanlise no pode se esquivar
de problematizar, este trabalho tem como principal objetivo
estabelecer uma releitura, atravs de alguns conceitos psicanalticos, da famlia contempornea, propondo novas sadas
para que ela continue sendo um espao que garanta a formao do indivduo adulto. Trata-se de uma pesquisa bibliogrfica, porm no se detm apenas na teoria, uma vez que coloca
o referencial terico em dilogo com a prtica clnica das auto137
Especfico
Hiptese
Quando profissionais de terapia ou de comunidades teraputicas criam relaes e conversaes que convidam todos
os participantes a mobilizarem sua criatividade, surgem possibilidades onde elas pareciam no existir.
Sub-hipteses
NeusaSebok
Neusa Sebok1, Garcia AP Leifert, MGM 1Instituto Sistemas
Humanos
Objetivo geral
Geral
Nos dilogos estagnados, o terapeuta que se torna arquiteto das relaes, favorece a criao de caminhos alternativos, e tende a ter mais chances de resultados, dos que os que
apenas buscam a soluo dos problemas.
Possibilitar s pessoas falarem em mltiplas vozes substi
tui o comprometimento com valores especficos, por prticas da co-criao baseada em valores comuns mais relevantes.
Verificar a grande convergncia na conceitualizao dos
Pratica desenvolvida
138
MR. 51 A relao que se estabelece no sistema infrtil entre o mdico de reproduo assistida e o casal
des trazidas pela infertilidade, apresenta uma postura colaborativa, colocando-se ao lado do casal, oferecendo suporte para
enfrentar as questes emocionais suscitadas pelo tratamento.
Nas histrias dos entrevistados, encontrei que a postura colaborativa a mais esperada pelos casais infrteis e a mais relevante para os mdicos, uma vez que, a perfeio no desempenho da tcnica no a garantia de um resultado positivo a
gravidez.
Baseado na experincia prtica-clnica e em embasamentos tericos o presente trabalho prope um reflexo sobre os
limites que acompanham o processo de criopreservao durante as tcnicas de Reproduo Assistidas (RA).
Frequentemente a medicina anuncia maternidades cadavez mais tardias, transmitindo a sociedade um aparente controle sobre o organismo humano. Levanta-se a questo social
sobre at quando a mulher pode gerar um filho? Um dos objetivos da medicina seria um maior controle sobre o tempo biolgico do organismo feminino? Quando inseridos no contexto
das clinicas de Reproduo Humana Assistida percebemos
139
O casamento atual apresenta uma srie de influncias externas provenientes do movimento da sociedade, incluindo os
movimentos econmicos e polticos. Dentro destas mudanas,
encontram-se os papis que o homem e a mulher esto assumindo nos diferentes contextos em que vivem, tanto no ambi-
nuo movimento, apoiado em um compromisso renovvel, produto de um esforo conjunto. Estes estudos apontam a necessidade de se examinar e intervir terapeuticamente na habilidade dos casais em co-construir a intimidade no seu relacionamento amoroso.
premissas sistmicas que descrevem a famlia como um sistema gerador de linguagem e significado. (Anderson e Goolishian, 1988). Os significados gerados e mantidos ao longo da
histria desse sistema s podem ser compreendidos pelo sistema de ajuda em conversaes nas quais todos os implicados
no problema ou dilema que motivou os encontros entre famlia e equipe PAI ou APD tenham oportunidade de serem ouvidos e legitimados. O/a terapeuta familiar passa a fazer parte
do programa como um/a facilitador/a de dilogos, um/a especialista em processo e no nos contedos tratados pelos diferentes profissionais. Acompanha as visitas, em geral, semanais e participa de reunies em que a equipe reflete sobre o trabalho, ou em supervises. Iniciamos nossa participao no
Programa Acompanhar com 3 terapeutas familiares atuando
em uma equipe do PAI e uma do APD. Na avaliao realizada
no fim de 2013 chegamos ao consenso sobre a importncia de
mantermos relaes horizontais ouvindo as equipes dos dois
programas sobre seus desejos e expectativas a respeito desse
novo profissional, facilitando a entrada de um novo olhar que
no ameace os saberes e prticas de cada membro j participante da equipe. Iniciamos este ano com a proposta de ampliar a participao em outras equipes dos dois programas.
transitria de onde vieram. A rede foi fundamental para mant-los coesos e confiantes.
Criamos juntos diferentes espaos para as diferenas. E
esses espaos se multiplicam com outras famlias. E a rede se
fortalece e amplia.
Fazemos, nas unidades onde trabalhamos, nosso territrio de mudanas pessoais com desafios muitas vezes quase intransponveis, para ns (terapeutas) e para as famlias, que generosamente nos presenteiam com suas maravilhosas histrias, atravs do atendimento teraputico familiar
Consideraes finais: poder contar sobre esse trabalho
singular e rico nesse momento de enorme mudana em Sade
Mental no municpio de Sorocaba animador. Ampliar os locais de atendimento teraputico de famlias um dos desafios
daqueles que, como eu e Dilson, acreditam na potencialidade
que h na escuta respeitosa s pessoas que sofrem.
O Piracema-Ncleo Regional de Ateno Famlia desenvolveu de 2006 a 2012 o Projeto Fazendo o Futuro em parceria com as secretarias de sade, educao e juventude de
Sorocaba. Esse projeto foi elaborado a partir de um pedido da
secretaria de sade e dos grmios estudantis que viam a necessidade de aes para reverter o aumento dos ndices de gestaes na adolescncia. J na sua primeira verso, ampliamos o
enfoque, e o Fazendo o Futuro teve como objetivos principais
ampliar a rede social de amparo e pertencimento aos adolescentes, colaborando para que pudessem se perceber como
agentes transformadores das suas histrias na passagem para
a vida adulta. O trabalho envolveu estudantes das escolas da
rede pblica municipal e estadual (com os alunos do ensino
fundamental II e do ensino mdio) e as Unidades Bsicas de
Sade. As aes desenvolvidas junto s UBSs visavam tambm colaborar com a construo e a implantao do Programa
de Ateno Integral Sade do Adolescente. No seu primeiro
ano, 2007, os temas abordados foram: valores pessoais e sociais; sonhos e projetos para o futuro; sexualidade, planejamento familiar, mtodos contraceptivos e DSTs. Em 2008, foram
includos: preveno do uso indevido de drogas e educao
para a paz. Em 2009 abordamos tambm: escolha profissional e Estatuto da Criana e do Adolescente. Em 2011 passamos a desenvolver aes em seis territrios de grande vulnerabilidade social envolvendo os adolescentes, suas famlias e outras entidades.
Construmos esse projeto considerando os seguintes pressupostos sistmicos: 1- A rede social pessoal constitui-se o ni-
cho interpessoal que contribui substancialmente para a experincia individual de identidade, bem estar, competncia e autoria (Sluzki); 2-Levar em conta a complexidade respeitar
a tessitura comum que ela forma para alm das partes ( Morin); 3- A cooperao central na maneira humana de viver e
a amorosidade permite que se olhe o outro como um parceiro
na construo de mundos(Maturana).
Nossas avaliaes indicam que o projeto colaborou de forma consistente para fortalecer a rede de proteo aos adolescentes da nossa cidade e estamos lutando para conseguir retom-lo em 2014.
CONCLUSIONES Y REFLEXIONES
Casamentos, namoros e outros mltplos arranjos do relacionamento amoroso tm sido um dos grandes temas humanos, uma vez que o amor tem um lugar central na vida
relacional.A busca porcon-viverest presente como forma humana de ser, agregando-se a outro humano como domnio de
uma existncia fundada no amor (MATURANA & VERDENZOLLER, 1993). No entanto, o aumento crescente no consumo das diferentes formas de mdia digital tem ocupado um lugar central no entre dos relacionamentos amorosos de modo
que vem transformando, sobremaneira,as construes da inti-
144
HugoHirsch
145
Considerando que o aprendizado nos transforma, estamos atentas para as transformaes que podem ocorrer com
os formandos em toda parte durante a formao: na rua, na
famlia, no casal, em suas maiores intimidades, nas conversas
com os outros e com seus prprios botes.
Esta maneira de oferecer a formao exige de todos muito mais do que tempo de dedicao, exige entrega, disponibilidade, perseverana para lidar com as dificuldades surgidas no
enfrentamento do novo, flego emocional para o contato com
questes internas e coragem para olhar pra dentro.
Apoiamos nosso trabalho em autores que se alternam,
acompanhando o movimento de cada grupo em formao. Entre eles se destacam Maria Jos Esteves de Vasconcellos, Humberto Maturana. Tom Andersen, Henz von Foerster, Gregory
Bateson, Virgnia Satir, Kenneth Gergen, Michael White, Mariza Japur, entre outros autores, incluindo obras literrias.
ellos, la enseanza aprendizaje de diferentes modelos teraputicos que se revisan en la currculo de dicha Universidad.
La enseanza-aprendizaje de la terapia familiar es todo
un reto, primero: porque los alumnos tienen que pasar de
una epistemologa lineal que ha dominado su comprensin
del mundo a comprender una epistemologa circular, ciberntico-sistmica ( en nuestro programa se incluye la terapia breve
centrada en problemas y la terapia breve centrada en soluciones) y que decir de la dificultad que implica la enseanza-aprendizaje de las denominadas terapias posmodernas, (la terapia colaborativa y la terapia narrativa) en especial entender
las bases tericas y filosficas en las que estas estn sustentadas; Aunado, por otro lado al tener que aprender los diferentes modelos o aproximaciones tericas de la terapia familiar,
genera en los alumnos dificultades para comprender tanto los
conceptos como la aplicacin de las tcnicas en la prctica clnica, la comprensin de las bases filosficas y tericas, as
como establecer las diferencias epistemolgicas.
La experiencia en la docencia, la supervisin y la psicoterapia me ha permitido facilitar el proceso enseanza-aprendizaje de la terapia familiar, siguiendo un hilo conductor: en
cuanto al problema, y al objetivo que el cliente quiere lograr.
Objetivo
El objetivo de esta sesin es compartir la experiencia didctica que me ha permitido facilitar el proceso enseanza
aprendizaje en mis alumnos de terapia familiar y que les permite comprender y entender las diferencias y similitudes de
MarfizaRamalho Reis
Reis MR1-1ATF RJ
Christina Sutter
148
Caso
Facilitadores
Foram muitas as mudanas ocorridas na sociedade brasileira nos ltimos 60 anos em decorrncia, sobretudo, do advento do movimento feminista e da inveno da plula contraceptiva. A sada da mulher do espao privado e sua consequente insero no espao pblico vem provocando a ruptura da
relao direta entre feminino - espao privado - maternidade.
Estes fatos desencadearam o que estamos vivenciando na atualidade como uma crise na famlia nuclear. Tomando como
eixo terico a psicanlise e, entendendo que esta deve estar sujeita as mudanas culturais do seu tempo, este trabalho tem
como principal objetivo problematizar o modelo freudiano do
Complexo de dipo entendendo que este foi construdo a partir do momento scio histrico cultural que influenciou
Freud na poca do surgimento da psicanlise. Compreendemos aqui que modelo flico - edpico exige um formato de famlia e de mulher que no mais condizente com a realidade
apresentada no sculo XXI. Trata-se de uma pesquisa bibliogrfica que estabelece um dilogo entre o constructo freudiano e as necessidades do reajustamento das posies subjetivas
delimitadas por ele para o masculino e o feminino. A famlia,
mesmo em crise, continua sendo um referencial de vnculos e
afetos e, responsvel pela formao subjetiva e insero social
dos sujeitos. Sendo assim, conclumos que importante lanar novas formas de pensar a famlia que tome como fato consumado as transformaes ocorridas nos papis fixados para o
homem e para a mulher, mas que no negue, independente da
configurao por ela tomada, sua importncia para constituio da subjetividade dos sujeitos.
El proceso de mediacin familiar, como uno de los mtodos de ms actualidad, refuerza la idea de recuperar e instalar
patrones de colaboracin en la bsqueda de consensos, con el
reconocimiento en la distribucin de roles, sus dinmicas , poder interrumpir circuitos de complacencia y de sometimiento,
facilitando y ampliando la gestin del conflicto como un derecho humano bsico en aquellas circunstancias en las que, afectada en sus capacidades y con recursos frgiles no permite por
si sola a una familia, habilitarse para encontrar un modo de
gestionar su conflicto adecuadamente.
Desde sus supuestos tericos, la mediacin familiar sostiene el valor de construir un contexto en una conversacin con
un enfoque colaborativo para la negociacin que emprenden
las partes. La importancia de posibilitar el dilogo, sustenta
las premisas sobre la familia que abarcan la consideracin
como sistemas humanos que se interrelacionan en el lenguaje
y el lenguaje como constructor que da sentido a la realidad en
formas de accin ante el conflicto .De este modo en los procesos de mediacin, el lenguaje y las narrativas conflictivas ocuparn un lugar central.
151
La resolucin alternativa de conflictos y la mediacin familiar en particular propone atender a los sujetos como coconstructores de sus realidades en la bsqueda de formas de
solucin de sus conflictos que satisfagan de manera mutua y
aceptable a todos los participantes.
A modo de reflexin, se sostendr sobre distintos casos,
como la construccin de dilogo constituye el camino vlido
para la construccin individual y familiar, las habilidades relacionales como habilidades de construccin de consenso, facilitando tanto la recuperacin del poder propio de las personas y
de las familias como de los procesos potenciales de transformacin de los conflictos.
Se presentarn asimismo resultados actuales en Mediacin Familiar en la Argentina desde la evaluacin de Naciones
Unidas en la que la autora particip como consultora en el
rea1.
[1] (*La mediacin prejudicial es actualmente obligatoria
para toda accin judicial patrimonial civil o comercial en la
mayora de las provincias argentinas. A modo de ejemplo entre los aos 1996 y 2000 se derivaron a mediacin 205.827 acciones judiciales, en las que 43.522 situaciones de conflicto tuvieron tratamiento y acuerdo a travs de un proceso no adversarial y colaborativo donde los actores del conflicto mantuvieron el protagonismo en la solucin).
152
Cursos
Anton, I. L. C.A escolha do cnjuge um entendimento sistmico e psicodinmico ARTMED POA, 2012
____. Homem e Mulher: seus vnculos secretos ARTMED
P O A , 2 0 0 2
____.O casal diante do espelho. Psicoterapia de Casal teoria e tcnica Casa do Psiclogo, 2013
____. Zimerman, D. Os quatro vnculos ARTMED POA,
2010.
154
1. Compreender o conceito e a abrangncia da sexualidade humana, seus componentes, os padres do comportamento humano e sua funcionalidade.
2. Reconhecer as disfunes sexuais primrias e secundrias, seus conceitos e causas.
3. Demonstrar as abordagens e as tcnicas relacionadas
s disfunes sexuais no atendimento com casais.
Metodologia
1. Aula expositiva para apresentao do contedo programtico - 1 parte
2. Aula interativa sobre as abordagens e tcnicas com participao dos congressistas - 2 parte
Bibliografia
1. Sexualidade Humana e seus Transtornos - Carmita Abdo
2. Os Onze Sexos: As mltiplas faces da sexualidade humana - Ronaldo Pamplona da Costa
3. Manual Prtico do Tratamento Clnico das Disfunes
Sexuais - Ricardo C. Cavalcanti
Mnica Galano
Galano MH1-1PUC/SP - NUFAC
Em continuidade ao trabalho proposto na Mesa Redonda, o curso tem como objetivo explicitar a teoria da TERAPIA
FAMILIAR COMPLEXA inserida no universo das teorias e tcnicas de um novo momento histrico: a IDADE CIBERNTICA.
Relacionando como hoje com o impacto das novas tecnologias com suas novas maquinas de comunicar tem criado
espaos e poderes inesperados dentro e fora da famlia. Elas
tem produzido uma nova tica e uma nova esttica relacional.
Faz-se necessrio redefinir e explicar a Famlia como um sistema complexo fora do equilbrio e seu funcionamento no momento da Idade Ciberntica. Que determina a entrada a este
momento da Histria? Qual seu impacto na famlia? Que novos conceitos nos auxiliam para entend-lo?
O objetivo do curso apresentar a epistemologia da Complexidade de Edgar Morin aplicada a uma nova forma de compreender a famlia e a sociedade onde ela esta imersa. Explicitar os conceitos das lgicas lineares, dialticas, dilemticas,
generativas e arborescentes e como elas funcionam no nosso
mundo atual. Estudando o impacto no Ciclo Familiar Complexo e as interseces entre as vicissitudes biolgicas, sociais e
culturais. Ao repensarmos a famlia contempornea brasileira vemos que suas caratersticas heterogneas, tanto cultural
como economicamente tem suas razes em diferentes momentos histricos, como isso impacta no processo teraputico.
155
Esta viso tambm nos permite trabalhar a Terapia Familiar Sistmica propondo a religao das diversas propostas tericas Modernas e Ps-modernas, estratgicas, estruturais e
narrativas.
A metodologia do curso prev a apresentao terica e a
exemplificao prtica por meio de exerccios e dramatizaes.
Transgeracionalidade
Abordagem Sistmica dentro da trasngeracionalidade
Ferramentas de uso
Rituais utilizados
Objetivo
Bibliografia
Morin, E., O mtodo. Tomos 1, 2, 3, 4 . Publicaes Europa
America, 1991-2000. Lisboa.
Galano, M, Organizadores narrativos na Idade Cibernetica.
In, Macedo, R: Terapia Familiar no Brasil na ltima dcada.
Ed Roca 2008.
Keeney, B, A esttica del Cambio. PAIDOS. Barcelona. 1991
WATZLAWIC, P.La colecta del Baron Munchhausen. Herder
Barcelona. 1991 La realidade inventada, Gedisa. Bs As
1988Cambio,Herder . Barcelona. 1976
Apresentar aos participantes atravs da abordagem sistmica como trabalhar a influncia transgeracional dentro da dinmica familiar. Incluindo o corpo e outras ferramentas que
possibilitam dar um novo olhar as questes apresentadas pelas famlias.
Bibliografia
O corpo em terapia - Alexander Lowen
As mudanas no ciclo de vida familiar - Betty Carter e Mnica
Mcgoldrick
Genograma - Randy Russel, Sueli Petry e Mnica Mcgoldrick
Novas abordagens da terapia familiar - Mnica Mcgoldrick
Simetria Oculta do amor - Bert Hellinger
Ordens do Amor - Bert Hellinger
Construindo Unies - Eva Pierrakos
ScheilaPatrcia N. Gomes
Scheila Patricia N Gomes
Contedo Programtico
156
Contedo programtico:
Marilene Krom
Krom M
Ser apresentado um instrumento que elaborei para
acompanhar, com a tica mtica, a passagem da famlia em
seu ciclo de vida, para verificar quais influncias intergeracionais que perpassam estes ncleos, e atuam facilitando ou dificultando o percurso familiar. O que estaria influenciando e determinando a presena dos Estigmas e Profecias e quais relaes estas influncias poderiam ter com os Mitos presentes e
com os problemas e sintomas de difcil resoluo.
Ele foi construdo165referendando-se na teoria do ciclo
de vida familiar proposta por McGoldrick e Carter na visualizao grfica proporcionada pelo genograma Bowen, e na ideia
da linha de tempo familiar Cerveny. uma contribuio para
a Leitura do Ciclo de Vida da Famlia, que complementa os dados fornecidos pelo Genograma.
Objetivos
de trabalho, paralelo atuao no consultrio particular. Resta saber se a formao nos prepara para tal atuao, no tanto
do ponto de vista terico/ tcnico, mas, principalmente, do
ponto de vista ideolgico, de valores e formao pessoal. Outro questionamento que levantamos que atitude ns, enquanto grupo profissional, estamos adotando, para abrir, o, defender e ocupar os espaos profissionais que nos so devidos. O
objetivo trabalhar com os participantes sua ideologia, valores e postura diante dos problemas sociais da cultura de violncia em que vivemos e discutir que caminhos devem ser
abertos, para enquanto profissionais, contrapormos a esta cultura, outra cultura que deve dar espao para nosso trabalho
enquanto terapeutas e para nossos clientes enquanto seres
humanos.Sero abordados osseguintes temas:a famlia multiplicadora e curadora de violncias; como se livrar dos legados
transgeracionais; trabalho sobre valores e no valores; a comunicao no violenta na famlia; a violncia conjugal e seu ciclo evolutivo; como lidar com o vitimizador nas famlias;
como construirmos com elas redes relacionais; qual o espao
que o estado nos oferece hoje como terapeutas, para trabalharmos com as necessidades das famlias em risco?
Metodologia: Aulas terico prticas e role play.
Bibliografia
CAPRA, F.O Ponto de Mutao: a cincia, a sociedade e a cultura emergente.So Paulo: Cultrix, 1982.
Bibliografia
Groisman, M.
Estamos vivendo uma poca na qual ns, terapeutas, no
devemos nos dissociar da realidade que estamos mergulhados
e que exige respostas rpidas e objetivas. A terapia familiar sistmica surgiu como uma terapia breve em oposio s terapias prolongadas, sem tempo definido. Assim, em 1992, criei, na
Ncleo-Pesquisas, o modelo sistmico-vivencial de terapia familiar e de casal breve, que at o momento atendeu 450 casais
e famlias, de forma unifamiliar, uniconjugal e em grupoterapia de casais e famlias.
Nesse curso pretendemos revisitar o modelo sistmico-vivencial, aplicado terapia de casal, ampliando e esclarecendo
seus pilares tericos e suas intervenes tcnicas, tanto no tocante aos casais quanto aos terapeutas em formao, com os
diferentes exerccios sistmico-vivenciais e sistmico-racionais que constru: laos familiares, duas rvores, perdo familiar e genograma cruzado .
Alm disso, introduzirei associado a terapia de casal
breve a terapia sistmica do perdo, com a sua fundamentao terica, que possibilita aos casais, unidos ou separados,
abrirem possibilidades de reparao e renovao e aos terapeutas oferece uma nova perspectiva, podendo libertar seus
clientes de patologias mentais ou fsicas.
O curso se concluir com a demonstrao, a partir de um
voluntrio, de um dos exerccios citados acima.
Groisman, M. (org.). Alm do paraso- perdas e transformaes na famlia. 2 ed. Rio de Janeiro: Ncleo-Pesquisas Edit.
2010.
Groisman, M. Famlia Deus. 3 ed. Rio de Janeiro: NcleoPesquisas Edit. 2012.
Groisman, M., Lobo, M. e Cavour, R. Histrias dramticas
terapia breve para famlias e terapeutas. 3 ed. Rio de Janeiro:
Ncleo-Pesquisas Edit. 2013.
Groisman, M. A arte de perdoar terapia sistmica breve no
casamento e na infidelidade. Rio de Janeiro: Ncleo-Pesquisas Edit. 2013.
160
Sabe-se que o tratamento da dependncia qumica centrado no usurio. Por isso, h abordagens bem descritas a respeito do tratamento com esta populao. No entanto, a dependncia qumica ressoa de forma sistmica na famlia, sendo
ainda escassas as pesquisas nesta rea. A partir desta dinmica as famlias podem apresentar codependncia que caracterizada por dificuldade de resoluo de problemas, sentimento
de impotncia, culpa e comportamentos permissivos. Esta prtica pode facilitar a manuteno do problema. Desta forma,
intervir na famlia fundamental para a abordagem da dependncia qumica como um todo. O objetivo deste curso ser
compreender a dinmica da famlia com situao de dependncia qumica. Alm disso, apresentar escalas validadas que
avaliam a codependncia e os comportamentos permissivos.
Ainda, descrever passo a passo um modelo de acompanhamento a familiares de usurios de drogas por telefone. Este foi fundamentado na entrevista motivacional e no modelo transterico dos estgios motivacionais com seguimento de 6 meses. O
acompanhamento foi desenvolvido e conduzido durante o doutorado da autora, no VIVAVOZ, alm de ser estudado e comprovado a sua efetividade para mudana de comportamentos
permissivos aps interveno motivacional a partir de um ensaio clnico randomizado. Este modelo de acompanhamento
auxilia na mudana de comportamentos permissivos em familiares de usurios de drogas de uma forma breve, colaborativa
e inovadora.
Bibliografia
incluindo os seus desdobramentos no sistema e como isso afeta cada um de seus membros. Baseado nos mais reconhecidos
estudos do luto na famlia e na infncia (Walsh e McGoldrick,
2004; Worden, 1996/2013; Mazorra e Tinoco, 2005), principalmente enfocando como se d o luto infantil, prope-se discutir teoricamente como a criana enfrenta as perdas, sua capacidade para enlutar-se e suas consequncias. Aliado a isso,
esto as tcnicas de interveno com a criana que, embora
traduzidas em suas peculiaridades, so transpostas ao suporte
familiar na medida em que priorizado o espao de expresso
e elaborao do grupo a partir do sofrimento infantil. O objetivo do curso contribuir formao do terapeuta familiar, favorecendo a discusso e a capacitao acerca de um tema delicado e relevante na prtica contempornea.
Este curso tem como objetivo divulgar um modelo de escuta para as famlias do sculo 21, seja em situao de consultrio como institucionais e/ou de projetos sociais. Um modelo
que leva em considerao a origem, diversidade cultural, trans163
misso de valores e trajetria de vida, visando os processos migratrios internos e externos e seus desdobramentos, as perdas e lutos no elaborados. Um modelo que recebe a famlia
como ela se conta no enfrentamento dos desafios peculiares
de suas histrias de vida, visando a legitimao de suas narrativas.
O sculo 21 nos revelou formas diferentes de se organizar
como famlias, pluralidade que, embora j vigente, pouco
legitimada.As vozes das diferentes culturas e singularidades.
Quando pouco ouvidas, mantm muitos sujeitos dissociados
de suas histrias de pertencimento, o que promove rompimentos de laos sociais, com efeitos disruptivos para as subjetividades.
Essas ideias, bem como observar traos culturais caractersticos das famlias brasileiras, tais quais, a prtica de circular crianas e/ou adolescentes, as relaes entre mes, avs,
filhos e netos, a invisibilidade dos pais/homens que destoam
do modelo hegemnico de famlia estaro no contedo programtico do curso.
Metodologia
O curso ser dado em duas partes: no primeiro momento, aps uma dinmica para conhecer o pblico que nos assiste, daremos uma aula expositiva, onde destacaremos os pontos importantes dos modelos construdos em nossa prtica institucional e clnica. Para o segundo momento do curso, deixaremos alguns pontos para discusso. O grupo ser dividido
em dois e a partir de uma dinmica buscaremos os pontos re-
Bibliografia
Contenidos
Fried Schnitman, D. Procesos generativos en el dilogo: complejidad, emergencia y auto-organizacin. Revista Pensando
la Complejidad, VIII, enero-junio 2010.
Plumilla Educativa(7), 2012, 61-73.
Bibliografa
Fried Schnitman, D. y Rodrguez-Mena Garca, M. Afrontamiento generativo y desarrollo comunitario. En La transdisciplina y el desarrollo humano. Divisin Acadmica de Ciencias
Econmico Administrativas de la Universidad Jurez Autnoma de Tabasco de Mxico, 2012.
Fried Schnitman, D. Processo generativo e prticas
dialgicas.Nova Perspectiva Sistmica, 20(41) 2011, 9-34.
Fried Schnitman, D. Metaphores of systemic change. Disponible para descarga gratuita a partir de mayo 15, 2014 en
http://www.taosinstitute.net/worldshare-books
CS. 15 Adaptando as Tcnicas Meditativas (MINDFULNESS) para as Psicoterapias Sistmicas: Um Curso Terico Vivencial
3. Cultivar a observao
166
Omer, H. (1997).Intervenes Crticas em psicoterapia: do Impasse ao incio da mudana. Porto Alegre: Artes Mdicas.
Shazer, S. de (1986). Claves para La Solucion en Terapia
Breve.Buenos Aires: Editorial Paids
------------------- (1986). Terapia Familiar Breve. So Paulo:
Summus Editorial.
Vasconcellos, M. J. E. de (1995).Terapia Familiar Sistmica Bases Cibernticas.Campinas: Editorial Psy.
que propicia a narrativa e as hipteses sobre as relaes de casal e que fotografa as diferenas entre as fases da vida e novos
pontos de vista sobre as escolhas amorosas.
Objetivo
Desenvolvimento de um espao para reflexo de terapeutas de famlia iniciantes sobre os aspectos relacionais dos vnculos amorosos. Ser levada em considerao a biografia pessoal de cada participante para a aquisio de um instrumento
indispensvel para o trabalho com casais.
Metodologia
Cynthia Ladvocat
Ladvocat C
Na primeira parte do curso sero apresentado os conceitos sobre a tipologia dos casais e suas escolhas objetais. Na segunda
parte do curso os recursos do genograma, ecomapa e duograma sero exercitados por cada participante a partir da histria
pessoal. A aquisio desses recursos colabora na diferenciao
do self do terapeuta e no desenvolvimento do manejo da tcnica no atendimento clnico.
Bibliografia
Freud, S - Um Tipo Especial de Escolha de Objeto Feita pelos
Homens - Edio Standart Brasileira - vol. XI, Imago Ed, Rio
de Janeiro, 1980.
168
Goldrick, M & Gerson, R & Petry, Sueli Genogramas Avaliao e Interveno Familiar Porto Alegre, ARTMED, 2012.
Santi, G La valutazione nello spazio dela famiglia nel processo di adozione Itlia, 1984.
Arcelloni, T & Ferrero, G Il Duograma nella formazione sistemica I terapeuti i loro relazione di coppia - Terapia Familiare, No. 87- 2008.
Objetivo
GeorginaLira
Contenido Programtico
Bases tericas y filsoficas de los procesos reflexivos.
Principales conceptos de las prcticas colaborativas.
Metodologa
Los participantes pondrn en prctica el diseo de los procesos reflexivos, as como los conceptos principales.
169
Bibliografa
Andersen, T. (1990) The reflecting team: dialogues and dialogues about dialogues. Nueva York.: Norton.
Anderson, H. y Goolishan, H. (1992) The Client is the expert:
A not-knowing approach to therapy. En s. McNamee y K. Gergen (dirs.) Social Construccion and the therapeutic process.
Newbury Park, CA: Sage London, S. (2005) Entrevista con
Tom Andersen, Una conversacinemotiva y reflexiva. Psicoterapia y Familia.
Pergunto: possvel que tcnicas mais estruturadas e organizadas num paradigma terico moderno como a Constelao Familiar possam compor com outras dentro de um enfoque ps-moderno novo paradigmtico como a abordagem sistmica, as prticas narrativas e colaborativas?
Bibliografia
Gergen, K. J.& Gergen, M. -Construcionismo Social: um convite ao dilogo.Rio de Janeiro. Instituto Noos, 2010.
Grandesso, M. A. - Terapias Ps-Modernas: Um Panorama In Revista Sistemas Familiares (Buenos Aires - Argentina).
170
ta - novo input: que ligaes, que no havia estabelecido entre elementos nodais podem ser feitas? O reencontro com as
nossas historias permite a compreenso da origem e do significado das atuais dificuldades como terapeuta de famlia, de
tal forma que a mudana se torne concebvel, alcanvel e
acreditvel. Acredita-se-se na importncia ao trabalho do self
do terapeuta e que necessrio entender isso para se orientar
entre o(s) limite(s) interno(s) e externo(s) das relaes interpessoais, pois impossvel separar nossa vida como pessoas
no mundo de nossa profisso, para no nos deixarmos paralisar pelas emoes que sentimos. Escutamos as histrias da famlia a partir de nossas experincias como profissionais que
somos, mas tambm com nossa emocionalidade que so marcas de nossas relaes. O trabalho do self do terapeuta ajuda a
refletir e questionar sobre a postura do terapeuta e compreender que ser terapeuta um processo de transformar-se e
transformar, atravs de uma postura aberta para desafiar mudar nossa viso sobre problemas, pessoas e situaes.
Metodologia: Apresentao do contedo terico das
pranchas e vivncia do trabalho do self dos terapeutas onde os
participantes definiro uma dificuldade que percebem no
atendimento a uma situao familiar e isso poder ser porta de
entrada para lev-los ao desenvolvimento de seu self e sada
do impasse clnico.
Bibliografia
171
Marilene Krom
KROM M1-1UNESP
O curso tem o objetivo de apresentar uma Leitura Evolutiva e Instrumental Mtica, que focaliza o mito em sua complexa construo de realidades, norteador das concepes e do
sentido dado vida pelas pessoas.Esta leitura com a qual trabalho permite acompanhar as famlias, atravs de suas histrias trigeracionais e fornece instrumentos importantes para o
seu uso em terapia. Ao diferenciar os diversos mitos presentes
na famlia identifico nos mitos nocivos e desorganizadores a
presena das profecias e estigmas familiares. Vou rever a seguir o uso dos rituais teraputicos na terapia familiar, sugiro
ento nos rituais curativos um trabalho, com enfoque preventivo e teraputico para a construo desses rituais focalizando
os quatro elementos da natureza, que so essenciais para a
vida e a sobrevivncia do ser humano: gua, terra, fogo e
ar. Finalmente proponho uma vivncia que possibilite entrar
em contato com a sintonia que temos, com um dos quatro elementos propostos para a construo dos rituais.
Bibliografia
M. KROM, Leitura e Diferenciao do Mito-Histrias Familiares de Adolescentes com ProblemasSummus Editorial, 1994
172
Zambrano, E., Lorea, R., Mylius, N., Borges, P. (2006).O direito a homoparentalidade. Instituto de Acesso a Justia.
Trazendo situaes clnicas relatadas, ilustradas ou videogravadas, os autores pretendem mostrar toda a riqueza que
surge quando abordamos a famlia atravs da criana, que possui uma mente imaginativa e muitas vezes ainda livre das barreiras que os adultos constroem em torno de seuselfpara proteger-se. Mais soltas e criativas, as crianas apresentam os problemas da famlia de forma muito mais direta e aberta, possibilitando um trabalho mais efetivo e rpido.
Bibliografia
Andolfi, M. A criana como consultora. In: Andolfi M. e Haber, Russel. Por favor ajude-me com esta famlia. Cap. 5. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1994.
Adriana Zanoto
Adriana Zanonato1, Luiz Prado1-1InTCC - Ensino, pesquisa e
atendimento de indivduos e famlias - AGATEF
A terapia de famlias com crianas apresenta mltiplas
possibilidades de abordagem. Os autores desse curso pretendem mostrar uma forma de trabalhar com crianas e suas famlias, tendo como ponto de partida a comunicao com a criana. Nesse formato de trabalho, inmeros instrumentos podem ser teis para facilitar esse caminho, inclusive a utilizao de Histrias Teraputicas. Essas podem trabalhar emoes especficas como a raiva, o medo e a ansiedade, ou ajudarem na compreenso dos pensamentos disfuncionais da criana ou dos mltiplos desafios de uma criana transgnere.
176
Anderson, H. & Gehart, D. CollaborativeTherapy: relantioships and conversations that make a difference. New York:
Routkedge, 2007.
177
Relatos de
Experincia
Engelhard
de Atendimento e Aperfeioamento em
Psicologia (CAAPSY)
Este trabalho culminou na autoria de meu capitulo no livro Minha Famlia e Meu Dinheiro, lanado em 2013 pela Ncleo Pesquisas.
Partindo do meu genograma familiar e da questo do dinheiro atravs das diferentes geraes, estabeleo reflexes
sobre esta energia que move a histria humana no mundo,
este smbolo que inmeras vezes perseguido e aprisionado
ou descartado e volatizado.
Busco traduzir a magia que se d em torno do dinheiro e
como nele se projetam expectativas e esperanas muitas das
vezes irreais e inalcanveis.
Parto da etimologia da palavra dinheiro, reflito sobre os
aspectos sagrados e profanos nele contido, amplifico as simbologias que so nele projetadas, finalizando com uma comparao entre dois tipos de famlias que tm lemas funcionais antagnicos e como estes se expressam na questo dinheiro.
O objetivo de apresentar este trabalho levar os participantes a questionarem em suas vidas como e em que medida
o dinheiro os toca e molda.
Como era a educao financeira da famlia de origem deles? Que lugar eles ocupavam na famlia de origem?
Foi atravs do genograma, que as histrias das famlias
de origem, foram dando sentido aos caminhos por eles percorridos, suas construes de mundo e reflexes sobre o dinheiro e o mundo acadmico.
Apesar de sempre trabalharem no conseguiram se organizar financeiramente e naquele momento da vida estavam
vivendo de mesada de suas mes, senhoras com mais de 80
anos.
Muito chamava ateno o fato de no discutirem sobre
dinheiro. Sim, eles falavam em dinheiro, mas uma discusso
intelectual nada que mostrasse atitudes prticas em relao
ao trabalho que pudesse produzir dinheiro.
Estudamos Mony Elkam, Ivan Boszormenyi-Nagy, Murray Bowen, e revi minha histria de vida , e ressonncias. Li
sobre a psicologia econmica e conversei muito nas interlocues clnicas sobre o encontro dessas duas pessoas.
aglutinador de um conjunto de variveis importantes. tambm a rede cuidadora mais freqentemente vista nos servios
de sade e, portanto, tema e alvo de intervenes especficas
neste campo, necessitando de informaes e gerando necessariamente reflexes, especulaes, ideias e possibilidades.
Sendo assim, pretendemos mostrar a importncia da insero
dos familiares de dependentes comportamentais no tratamento destes, baseado nas experincias do servio de atendimento
familiar do PROAD (Programa de Orientao e Atendimento a
Dependentes Departamento de Psiquiatria- EPM UNIFESP)
mando na experincia do Setor Psicossocial das Varas de Famlia da Comarca de Natal-RN. A sndrome de Alienao Parental um termo cunhado pelo psiquiatra Richard Gardner,
na dcada de 80, para nomear uma srie de sintomas emocionais nos filhos que, aps o rompimento do vnculo conjugal,
tiveram seus relacionamentos com o genitor no detentor da
guarda bastante prejudicados. No Brasil, ainda que o tema necessitasse de um estudo mais aprofundado, em 2010, foi promulgada a lei 12.318 que reza sobre sanes a serem aplicadas
ao genitor que exera a alienao parental, ou seja, que influencie o seu filho contra o outro genitor, ou impea o seu contato. equipe interdisciplinar, composta por assistentes sociais
e psiclogos, so dirigidas demandas, por parte dos juzes e
das famlias envolvidas, no sentido de intervir para a manuteno dos vnculos familiares e diagnosticar a sndrome. Para alguns autores, os laos familiares, uma vez rompidos mediante
o afastamento e a perda da convivncia por um significativo
lapso temporal, no so passveis de reversibilidade. No entanto, a equipe vem refletindo sobre as possibilidades e os limites
da atuao em casos de difcil manejo. Eleito um caso para
ilustrar tal reflexo, trata-se de uma famlia composta pelo casal divorciado e trs filhos, que foi acompanhada por sete
anos num processo de regulamentao de visitas interposto
pelo genitor. As crianas, que se tornaram adolescentes ao longo do acompanhamento psicossocial, foram submetidas a
uma interveno que visou compreender a dinmica familiar e
favorecer o restabelecimento da convivncia. A postura compreensiva em no culpabilizar nenhum dos pais, o fortalecimento emocional do genitor, tido como vtima da alienao,
181
No mbito da Psicologia Jurdica, o profissional se depara com situaes complexas e tramas familiares imbricadas
em uma espiral de desafios e possibilidades. O presente trabalho se prope apresentar e discutir o caso de uma famlia encaminhada intempestivamente por magistrado ao Servio de Assessoramento a Varas Cveis e de Famlia do Tribunal de Justia do Distrito Federal e Territrios SERAF/TJDFT para anlise e interveno urgentes, cuja temtica em destaque no debate processual era a hiptese de alienao parental efetuada
pelo pai. Na trajetria da famlia, a triste realidade de ruptura
de vnculos familiares aps a separao conjugal, de vidas fragilizadas e entristecidas e da exposio do nico filho do ex-casal a contextos de desproteo e vulnerabilidade nos anos que
RE. 06 Como ficam as relaes nas famlias ps alienao parental , abuso, medidas pseudoprotetivas e outras formas de
violncia intra-familiar?
ngela Dolores Baiocchi de Vasconcelos
Baiocchi A1-1CIPPE Centro Integrado de Psicologia e Educao - ATFAGO Associao de terapia familiar de Gois
Nossa experincia percorre a trilha de terapeuta familiar em contextos psicojurdicos. Este cenrio leva a temas re182
RE. 09 A experincia do PROAD (Programa de Orientao e Atendimento a Dependentes EPM UNIFESP) no atendimento as famlias de dependentes
Thais Gracie Maluf
Maluf TPG1, Pires EKP1-1PROAD (Programa de Orientao e
Atendimento a Dependentes - EPM UNIFESP) - Psiquiatria UNIFESP
O PROAD foi fundado em 1987 e foi o primeiro ambulatrio especfico no tratamento da dependncia do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Mdica da UNIFESP. Dentre os
vrios setores existentes nesta instituio est o setor de atendimento aos familiares de dependentes tanto de dependncias
de substncias como de comportamento. Sabemos que para o
sucesso do tratamento da dependncia fundamental que a
famlia seja parte ativa deste processo. Durante esses anos o
PROAD vem se estruturando cada vez mais neste atendimento
criando espaos de reflexo e questionamento sobre as questes no s ligadas ao uso de drogas, mas as questes da vida
familiar e pessoal. Vem explorando com ateno as relaes
entre pais e filhos, cnjuges e outros, propondo o resgate dos
vnculos os quais em muitos casos esto extremamente abalados ou totalmente rompidos, fortalecendo somente as defesas
e impossibilitando a compreenso dos problemas que ocorrem dentro da dinmica familiar. Sendo assim apresentaremos o histrico e a trajetria do PROAD no processo de atendimento proposto aos familiares, principalmente dos trabalhos
grupais onde acreditamos serem espaos facilitadores para
mudana nos padres de relacionamento, uma vez que possibilita que seus membros possam ampliar as percepes sobre si
mesmos e sobre seus problemas e ao ambulatrio a possibilidade de atender maior nmero de familiares em um menor espao de tempo.
Trajetria dos familiares de dependentes no PROAD:
Grupos de Acolhimento
Grupos de Orientao Familiar
184
Terapia Familiar
Terapia de Casal
utilizada por muitos profissionais em escolas, clinicas e hospitais, como um mtodo teraputico aplicvel a todas as idades. No espao livre e protegido da Caixa de Areia, seca ou
molhada, so construdos cenrios com figuras em miniaturas. Percebeu-se que foram reproduzidos pensamentos e emoes implcitas, mas no ditos.
Na segunda etapa foram utilizados conceitos da Psicologia Analtica e da Terapia Narrativa, mas preciso deixar claro que a inspirao da metodologia no verbal da Caixa de
Areia unida abordagem verbal da Narrativa foi aplicada
como um recurso para a construo de novas narrativas. As
perguntas so feitas dentro dos conceitos da Narrativa e a busca por uma compreenso nova do que a pessoa realmente deseja. Esta etapa foi guiada pela crena de que cada histria
tem mltiplas faces e novos significados surgem e variam de
acordo com as perguntas do terapeuta e os recursos oriundos
das pessoas.
Este procedimento possibilita numa terceira etapa a consolidao da compreenso do processo cognitivo e sua interferncia scio-emocional na vida das pessoas, o que pode ajudlas a atuar de um modo diferente na vida.
No rara a idia, no senso comum, de que uma instituio de idosos marcada por histrias negativas sobre o sujeito institucionalizado, visto como algum destitudo de autonomia. Tais locais chegam a ser vistos como depsitos de pessoas. Quando a famlia necessita encaminhar o idoso a uma instituio, o sentimento de culpa agravado pela cobrana de pessoas prximas predomina no contexto familiar. Os Institutos
de Longa Permanncia para Idosos podem corresponder de
forma mais adequada aos cuidados necessrios para a manuteno da sade e segurana do idoso, quando a famlia no
dispe desses recursos, como observado no ILPI - Butant.
Este estudo foi parte do estgio no curso de Psicologia do Centro Universitrio So Camilo, que focalizou o atendimento realizado em 2013 a um grupo de idosos, quando o tema da culpaseapresentoucomo importante tanto para os idosos quanto para seus familiares. Embasando-nos na Biodinmica de
Wilhelm Reich, foram realizadas atividades como, por exemplo, "6 sons curativos","massagem teraputica", "movimento
sonoro" e "baralho musical". Por resultados tomamos como
exemplo aSra. Eunice (nome fictcio), que aps receber tratamento e ateno adequados, pde realizar a cirurgia de catarata, movimentar os ps e passou a sentar-se sozinha, alm de
apresentar melhoras no humor. Aps a interveno, nos demais pacientes foi possvel notar abertura para a comunicao, evoluo no contato interpessoal, nos aspectos cognitivos
e o reconhecimento do espao como lugar de pertencimento.
Cassalha ST
Objetivos: Proporcionar um espao de escuta e apoio
emocional para familiares de pacientes com a doena de
Alzheimer, atravs de pequenos grupos com encontros quinzenais.
Acolher os sentimentos (angstia, raiva, culpa, impotncia...) vividos pelos familiares, diante da convivncia
com a doena, e das mudanas ocorridas no funcionamento familiar.
Oportunizar momentos de trocas de experincias e vivncias, entre os participantes, buscando novos aprendizados e ampliao de horizontes.
Favorecer a reflexo sobre formas de manejo com seu
familiar portador, para minimizar as dificuldades, e o
estresse nas relaes familiares.
Possibilitar uma melhor qualidade de vida, tanto para o
portador, como para sua famlia.
Descrio da prtica realizada: Trabalho voluntrio desenvolvido desde setembro de 2012, na Abraz (Associao Brasileira de Alzheimer-Regional Porto Alegre). A prtica do trabalho consiste em reunies de pequenos grupos, que ocorrem
quinzenalmente no meu consultrio com familiares/cuidado-
Paulo Zampieri Zampieri P1, Fonseca Zampieri Ana M2-1Fonseca & Zampieri Assessoria e Desenvolvimento em Educao e
188
Este trabalho um relato de experincia sobre o atendimento psicoterpico de uma famlia em processo de luto, desenvolvido como atividade acadmica de estagio clnico no curso de graduao em Psicologia. Teve como escopo principal ge189
rar conhecimentos cientficos a partir de um espao para integrao terico- prtica no manejo de atendimento clnico,
com os pressupostos tericos da abordagem familiar sistmica. O paciente K.com 8 (oito) anos de idade foi encaminhado
clnica-escola de psicologia, pois apresentava medos e comportamentos de agressividade, tendo em vista o suicdio do pai h
cerca de 4(quatro) meses. O objetivo da me ao procurar atendimento psicolgico era de melhorar a relao com o filho, j
que os mesmos no conversavam e haviam criado como padro familiar uma regra implcita, em que havia silncio sobre
a morte do pai e as intercorrncias do evento traumtico para
ambos, j que foram me e filho que encontraram o corpo do
pai sujo e agonizando numa cama. Tambm no havia partilhas das emoes e sentimentos. Tanto a famlia nuclear como
a extensa, agiam como se nada tivesse acontecido, at que a
me foi alertada pela professora da escola, que seu filho estava
apresentando comportamentos agressivos. Me e filho praticamente pouco se encontravam, e nos momentos em que estavam juntos, quando havia alguma comunicao, o que prevaleciam eram agresses verbais e revolta de K.com gritos e choro
diante das tentativas da me em educ-lo. As atividades propostas no setting teraputico propiciaram um realinhamento
dos papis familiares permeados por acordos e parcerias. Por
meio de dinmicas com jogos e histrias permeadas com metforas, me e filho puderam compreender que o luto poderia
ser vivido e partilhado, gerando com isto novas possibilidades
de afeto, quando os sentimentos e a dor poderiam ser tambm
compartilhados. Como resultados pode-se observar que a me
mudou sua rotina quanto forma de organizar o seu tempo
miliar. No caso dessa paciente houve isolamento das pessoas(principalmente dos pais e familiares dos amigos do filho
que morreram na tragdia e do prprio filho sobrevivente),
como uma forma de evitar contato com qualquer estmulo que
fizesse lembrar o acontecimento traumatognico.
O EMDR- Mtodo de Dessensibilizao e Reprocessamento atravs de Movimentos Oculares, desenvolvido por
Francine Shapiro(2001), foi utilizado como interveno psicolgica que possibilitou reprocessar a situao da tragdia desde o momento em que soube da notcia do incndio at chegar
ao local da boate, quando encontrou seu filho,vivo, ajudando
no resgate das vtimas. A cena mais pertubadora para ela foi
os corpos dos jovens sem vida, sendo retirados da boate. Durante a dessensibilizao foram reprocessadas vrias situaes
traumticasde sua histria de vida que estavam em sua
memria. A tragdia disparou outros sentimentos de perdas e
sofrimento, alm de acentuados sentimentos de revolta e raiva
que se intensificavam e se misturavam com os j vividos. Considerando a interveno com, o EMDR e o Mtodo do Psicodrama, a paciente conseguiu reprocessar o acontecimento atual, os sentimentos de raiva e revolta, sua dificuldade em abraar seu filho sobrevivente, revendo sua atitude com as famlias
que perderam seus filhos. As intervenes em situaes de catstrofes e tragdias objetiva ajudar as pessoas envolvidas na
elaborao do Luto para que possam buscar novas formas
adaptativas de viver.
Este estudo pretende relatar e promover reflexes a respeito de um caso de um menino de 11 anos, atendido em psicologia clnica, que foi encaminhado pela equipe mdica para
acompanhamento psicolgico, com o intuito de avaliar sua
identidade de gnero, revelar sua condio de pseudo hermafrotidismo feminino para prepar-lo para cirurgia corretiva
de sua genitlia e empoder-lo para a possvel escolha de sua
designao ou redesignao de sexo/ gnero. De acordo com
a literatura mdica, indivduos que nascem com genitlia ambgua ou expressam condies fsicas similares so denominados de hermafroditas. Porm, as cincias humanas e sociais, propem a substituio dessa terminologia pela expresso
intersexualidade, considerada mais adequada, pois, alm de
designar uma anomalia orgnica congnita, inclui as dimenses psicossociais do quadro clnico, caracterizado por uma incompatibilidade entre os fatores genticos, a estrutura anatmica, o comportamento psicolgico, social e o sexo designado
ao nascimento. O laudo mdico destaca a fase da puberdade
do cliente com a necessidade da realizao da cirurgia pelo
fato de que os caracteres sexuais femininos (mama, pelos e
menstruao, etc) estavam sendo inibidos por medicao e a
continuidade da ingesto da mesma poderia comprometer o
seu crescimento fsico. Este estudo de caso tem em sua base
28 sesses teraputicas que foram intercaladas entre atendimentos individuais e familiares, mediados pela dialogicidade
e apoiados em recursos ldicos, cujas narrativas foram ampliadas por perguntas reflexivas o que favoreceu a emergncia do
no dito, sendo que as mesmas foram analisadas sob a pers192
pectiva do construcionismo social e gnero. O processo culminou com a escolha do cliente em continuar sendo menino tal
como foi criado e educado e esta escolha significou a retirada
dos seus rgos femininos. Este processo teraputico possibilitou questionamentos quanto a indicao da cirurgia como
recurso de enquadramento das pessoas que divergem dos padres heterormativos homem e mulher, assim como da categoria identidade de gnero. Sugere-se mais pesquisas sobre o
tema com o objetivo de promover reflexes e contribuir para
com a sade mental e qualidade de vida dessas pessoas que fogem dos padres estabelecidos socialmente.
Sade Ltda e Rotary Club com o apoio de Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude do Governo do Estado de So Paulo. A
equipe de trabalho foi composta por filsofos, psiclogos, pedagogos e mdicos de famlia, todos professores eestudantes
de ps-graduao Lato Sensu em Psicotrauma e Psicoterapia
Sociodramtico-Construtivistacom EMDRde: casais, famlias
e grupos, com a coordenao da Dra Ana Maria Fonseca
Zampieri. Foi utilizado oSociodrama Construtivista da Aids
de Zampieri (1996) e o Quiz, um instrumento desenvolvido
para avaliar uma certa quantidade de pessoas, em forma de
questionrio certo ou errado e testar os conhecimentos sobre
determinado assunto. A metodologia do Sociodrama Construtivista da Aids converte em aes prticas o constructo terico antropolgico de Morin (2012), oferecendo um espao
onde os participantes expressam seus mitos, medos, tabus,
conceitos e pr-conceitos sobre a Aids e seus desdobramentos
no cotidiano. Proporciona uma (re) construo em novas configuraes de pensamentos, sentimentos e aes. Convidar os
participantes a visitarem as vrias verses do fenmeno Aids
tem como objetivo divulgar aos pais, professores, alunos, mdicos e os demais setores da sociedade a necessidade de psicoeducao e preveno da enfermidade Aids e outras DST,
considerandoque no ltimo Boletim Epidemiolgico, divulgado pelo Ministrio de Sade, em 2011 foram notificados
38.776 novos casos de contaminao da doena no territrio
brasileiro, incidindo especialmente sobre a populao jovem
com idade entre 13 e 19 anos e 25 a 49 anos.
193
RE. 22 Aspectos positivos da crise e vivncia intercultural: a viso da famlia do executivo expatriado
Anna Silvia Rosal de Rosal
Kublikowski I1, Rosal ASR2-1PUC SP - Psicologia Clnica,2Fundao Escola de Sociologia de So Paulo - Faculdade
de Administrao
A globalizao da economia e os avanos tecnolgicos
acirraram acompetitividade entre as empresas pelo mercado
global. A expatriao de executivos um importante pilar das
estratgicas de expanso de mercado. Trata-se de um processo que se define pela transferncia de profissionais para unidades da empresa localizadas fora do pas. Implica em significativas vivncias de ordem pessoal que se pronunciam diante da
nova cultura. De modo positivo, a expatriao pode proporcionara melhoria das relaes interpessoais pela vivncia em diversas culturas, assim como consequncias negativas em decorrncia da interrupo de relaes familiares, reduo na redefinio do conceito de famlia, problemas identitrios oriundos da fragmentao da experincia de viver em diversos pases e ainda a ausncia de laos sociais duradouros. A resposta
da famlia crucial para o desempenho do expatriado. A forma comoestareage mudana de pasir exercer presso negativa sobre o executivo ou contribuir de forma determinante
para o sucesso da misso. O objetivo desse relato de experin-
cia exporos significados atribudos vivncia pessoal decorrente da expatriao na perspectiva da famlia do
executivo.As informaesforam obtidas por meio de entrevistasde acompanhamentorealizadas comme e seu filho de 14
anos.O relato da esposa retrata significativas dificuldades de
ajustamento na primeira expatriao em funo de no dominar o idioma do novo pas. Superado esse momento, enfatiza
ganhos a partir da vivncia multicultural como: nova viso de
mundo, ampliao da cultura geral e sentimento de adequao ao novo modo de vida. O filho valoriza a convivncia com
colegas de diferentes culturas e relata ter encontrado uma maneira satisfatria de viver na iminncia de nova mudana de
pas. Nesse sentido expe-se a importncia de reconhecer, no
processo de rompimento da rede social representada pela expatriao, no s os riscos envolvidos, mas tambm as oportunidades que se apresentam para essas famlias. A contrapartida de sintomas e conflitos aqui revelada por meioda resilincia familiar e do desenvolvimento de competncias
culturais que lhes permite desfrutar as vantagens do processo e lidar com as mudanas no como perigos, mas sim em
sua faceta de oportunidades.
194
Amaral MW
A abertura antropolgica do paciente um olhar que, tanto facilita a formao do vnculo paciente-terapeuta, como auxilia na elaborao estratgica da abordagem no processo psicoterpico.
Quando o paciente chega ao consultrio ele seleciona
como ir se apresentar e a partir desta apresentao que se
inicia a "abertura antropolgica do paciente", pois a mesma
comea com o nome completo do paciente. O sobrenome do
paciente por si s j diz muito.
O momento da globalizao que estamos vivendo, faz
com que frequentemente o psiclogo se depare com as mais
diversas culturas no seu prprio consultrio.
O caso que escolhi relatar de um casal judeu, que no primeiro contato telefnico pergunta se a mdica que havia indicado, j tinha entrado em contato comigo. Ao question-lo porque seria importante este contato prvio, o paciente relata que
ele era judeu e que seria muito importante que o profissional
que fosse atend-lo conhecesse um pouco da sua cultura. Neste momento deixando claro que sua cultura fazia parte da sua
identidade.
Ao "brincar" no telefone que no era para ele se preocupar, pois Freud, Fankl, Minuchin, entre outros, eram todos judeus, alguma coisa todo psiclogo sabe sobre o judasmo. Risos surgiram e o vnculo j estava sendo iniciado.
O casal tinha13 anos de casados, e estava enfrentando
uma crise que se estendia por aproximadamente 3 anos.
O plano de tratamento foi elaborado a partir desta queixa, e as estratgias teraputicas foram fundamentadas em alguns princpios do judasmo, como por exemplo os ciclos de 7
anos de vacas magras e 7 anos de vacas gordas.
Como o homem era judeu e a mulher havia se convertido
ao judasmo, eram essas diferenas que agravavam a crise, o
desafio foi facilitar que ambos estivesses alinhados nos seus
olhares.
Este caso teve durao de 4 meses, com atendimentos
quinzenais.
197
Nosso interesse explanar a postura do terapeuta no contexto de uma visita domiciliar, utilizando os conceitos de Harlene Anderson do lugar de no saber e da metfora do hspede e anfitrio.
198
o. Assim, a transferncia a fora que realiza deslocamentos e que movimenta o circuito pulsional, estabelecendo conexes invisveis e potentes, que tm efeitos na subjetividade.
Concluso: A Casa Abrigo Viva Mulher Cora Coralina
um local em que as mulheres deixam para trs a situao de
violncia sofrida. No entanto, o ingresso num espao de acolhimento no a resposta para todas as necessidades das mulheres. A famlia chega a instituio com uma srie de comportamentos que demonstram uma dificuldade em criar vnculos
saudveis, possivelmente a vinculao terapeuta/ famlia constitui um pontap inicial. A forma como a famlia se apresenta
para ns, e a partir dos efeitos na relao transferencial estabelecida, podemos construir e resgatar a potncia que possibilitar uma organizao psquica mais saudvel.
dos de ajuda observados, devido s transformaes psicossocioculturais que afetam as relaes pessoais e familiares nos diferentes extratos sociais. Tomando como referncia o que desenvolvemos como Triagem Interativa no Centro de Estudos e
Assistncia Familia CEAF, pretendemos relatar o que observamos como temas emergentes que provocam reflexes, a
fim de contribuir para a formao de profissionais atuantes
nesta rea.
Triagem Interativa surgiu da necessidade de atender a demanda crescente desta instituio, que se viu impelida a ampliar a oferta de atendimentos cada vez mais especficos, bem
como a emergncia de se otimizar as orientaes e os encaminhamentos para melhor fluidez e aproveitamento das modalidades oferecidas.
Um questionrio foi elaborado para registro dos dados
pessoais de quem solicita o atendimento, da configurao familiar em que pertence, da queixa que motiva a procura de ajuda e de como compreendida pelas pessoas que comparecem
triagem. Cria-se um momento de encontro com trocas de informaes, priorizando o acolhimento e orientao dos aspectos operacionais e prticos, assim como das necessidades emocionais observadas.
Trata-se de um processo interventivo, em que os participantes no somente se expem na busca de solues de seus
problemas, mas recebem retornos para suas limitaes e dificuldades.
Ao final do encontro encaminhamos a famlia para o atendimento que mais se ajusta s necessidades apresentadas: casal, familiar e/ou individual com dificuldades especficas. A se-
RE. 31 Ruim com Ele, Pior sem Ele. Desafios do terapeuta de famlia em casos de
violncia domstica
Castanho G
1.Apresentar dois casos em atendimento familiar por terapeutas em formao no curso de especializao de Sociodrama Familiar Sistmico de uma mesma turma, com as mesmas
supervisoras, ambos com abuso sexual de adolescentes: um
com registro de Boletim de Ocorrncia e outro no.
2. Mostrar como o BO revelou-se um instrumento facilitador da comunicao intra-familiar sobre o assunto no caso em
que houve registro. Em contra-partida, o caso em que no foi
registrado boletim, no s o sistema familiar como um todo
no tomou conscincia do fato, como tambm houve desistncia do processo teraputico.
Gisela Castanho
nica teraputica advinda apenas das teorias aprendidas, obrigando-o a refletir e questionar sua prtica nos atendimentos
em que realiza.
Uma atuao que transcende a tcnica possibilita o aparecimento de no mnimo dois quesitos importantes: o lado humano do terapeuta e consequentemente, intervenes criativas que alcanam um grau maior de possibilidades de aes
teraputicas.
Quando o lado humano emerge, a possibilidade de reinventar e ser criativo aflora de modo espontneo. A espontaneidade est ligada ao envolvimento do terapeuta no setting Teraputico. A criatividade est conectada a forma como o mundo
nos apresentado e intrinsecamente ligado ao legado familiar
e ao legado social que herdamos.
Assim, um profissional criativo corre mais riscos em suas
intervenes, ele estimula um aumento de coragem para expressar ideias e colocar em prtica novas possibilidades de
aes teraputicas, alm de melhorar sua autoestima como
profissional. Essa melhora em sua autoconfiana estimula a
possibilidade de escolher entre diversas tcnicas teraputicas
existentes, alm de criar outras, estimulando tambm a famlia a visualizar uma soluo mais criativa para que possam lidar com as mudanas e as consequncias de um problema
apresentado.
Este trabalho tem como objetivo apresentar a importncia do profissional reinventar a sua prtica no atendimento familiar, sem deixar, claro, de mencionar a importncia de um
domnio total das tcnicas, porm preservando a espontaneidade para no tornar-se somente executor delas. O referencial
203
po presente, valendo-se de narrativas do tempo passado, focando um tempo futuro mais satisfatrio e desejvel ao cliente.
Ivanilde Kriskovic
Kriskovic IPSC1, Costa II1-1Universidade de Braslia UnB Instituto de Psicologia
Um dos maiores desafios que se abrem no mundo contemporneo consiste em possibilitar a incluso da diferena
nos diversos segmentos que compem a sociedade. Esta possibilidade pressupe uma mudana paradigmtica no modo de
205
AD) de Diadema oferece ateno integral e continuada usurios de lcool, crack e outras drogas. Entre atividades oferecidas, destaca-se os grupos teraputicos que tem por finalidade
proporcionar espao para troca de experincias entre os usurios de drogas e promover uma interface com a reduo de danos e reinsero social. Em 2013 estudantes de graduao nas
reas de enfermagem, medicina e farmcia da UNIFESP, e preceptoras, iniciaram suas aes no grupo teraputico objetivando a aproximao entre estudantes e usurios de drogas em
tratamento. Participaram 180 pessoas em tratamento no
CAPS, de baixa renda e/ou desempregados. Mtodo Aps levantamento de temas de interesse comuns ao grupo, foram
desenvolvias atividades semanalmente a partir das propostas
compartilhadas com temas que emergiram do grupo. Destacaram-se as oficinas que objetivaram trabalhar as percepes e
atributos pessoais, resgatar das histrias de vida, resgatar memrias e valores familiares, possibilidade de fazer planos a
curto, mdio e longo prazo, estimular as lembranas positivas,
valorizando a participao coletiva. As aes incluram a produo de cartazes, criao de frases e textos, msicas e participao nas vivncias. Resultados/consideraes: Em relao
aos usurios foi possvel perceber que possvel a reduo de
danos para o uso de lcool, crack e outras drogas em participantes do grupo teraputico. A insero de estudantes conferiu dinamismo ao grupo, permitindo maior participao e reduo do ndice de faltas nas atividades. As atividades co-construdas, valorizando as potencialidades, possibilitaram aos
usurios relembrarem seu princpio, suas famlias, buscando
sentido para sua vida sem o abuso de drogas. Para os estu206
dantes, a familiarizao com essa populao anterior ao trmino da graduao, permitiu a percepo de que a aes dessa
natureza vo alm de conhecimentos tericos oferecidos nas
disciplinas curriculares, possibilitando o compartilhamento
de conhecimento, percepo de fragilidades e desenvolvimento de potencialidade e estabelecimento de compromisso com a
sociedade por meio de aes de extensouniversitria.
no campo da psicologia. Assim, considerando-se que especialmente nas ltimas dcadas as famlias vm operando transformaes inusitadas, cumpre aos profissionais que com elas trabalham estar atentos as suas demandas, suas emergncias, suas prioridades. No contexto da formao acadmica em psicologia impe-se, desse modo, o exerccio de olhar as famlias
em sua unidade, diversidade e complexidade, portanto, em suas dinmicas interaes intra e intersistmicas. Sob esses pressupostos, o Curso de Psicologia/UCS vem se constituindo em
espao favorvel a que se desenvolvam aes capazes de contemplar as famlias que, em momentos particulares de seu ciclo vital, venham a necessitar de suporte profissional para dar
sequncia a sua trajetria familiar com o menor quantum de
sofrimento possvel. Surge, ento, o projetoFamlia em foco:
pensando e intervindo em famlia, que constitui uma das opes a serem feitas por estudantes dos trs ltimos perodos
de graduao. Assim, sob o acompanhamento de professores
orientadores, h trs anos acolhem-se na clnica-escola famlias derivadas pelo Sistema nico de Sade e pelo Poder Judicirio, em especial. Agregam-se tambm ao Projeto alguns grupos de famlias derivadas por instituies educacionais e de
apoio social, as quais buscam fortalecer-se e potencializar sua
capacidade de resilincia para o enfrentamento dos desafios
pertinentes ao exerccio da parentalidade. Nos ltimos trs
anos, o nmero total de famlias atendidas vem crescendo,
com ganhos para essas e tambm para os estudantes que tm
a oportunidade de iniciar-se na vivncia de atendimento teraputico a grupos familiares, particularmente com foco no for-
talecimento da figura paterna, mas tambm implicando o casal em sua dimenso parental.
para que novos entendimentos possam ser construdos liberando estas relaes dos sentimentos de medo e culpa os
quais obscurecem e dificultam o processo de convivncia e desenvolvimento da famlia adotiva.
Concordando e parafraseando Bowen ...' quanto mais
completo o corte nos vnculos, mais intenso o envolvimento
com a figura ausente" a valorizao da figura dos pais biolgicos pelos pais adotivos fortalece a confiana entre pais e filhos
e colabora para que os vnculos afetivos constitudos adotivamente sejam ainda mais significativos.
Segundo a autora Evan Imber-Black, no seu livro Os segredos na famlia e na terapia familiar, o segredo algo nocivo para a dinmica e o equilbrio no funcionamento da famlia. Ela acredita que inicialmente as famlias ficam constrangidas pela necessidade de manter o segredo, que ao ser revelado, libera a energia aprisionada e promove maior estabilizao ao sistema pela franqueza de lidar com os fatos, sem encobri-los.
Tivemos a oportunidade de fazer uma interveno teraputica num sistema familiar cujo ponto nodal do nosso trabalho era conseguir que a famlia revelasse, para uma criana de
4 anos, o segredo de sua dupla paternagem: ela teria um pai
RE. 44 "Mame, voc nunca falou nada" os contextos, as redes e as conversas que
possibilitaram a "fala" dos que sofreram
209
210
Esta apresentao tem o objetivo de relatar um atendimento em Terapia Breve que fez parte do Estgio Supervisionado, o qual ocorreu no primeiro semestre do terceiro ano do
curso de Formao em Terapia Familiar e de Casal pelo CEFATEF Centro de Formao e Estudos Teraputicos da Famlia. Foi realizado o atendimento familiar composto por treze
sesses quinzenais com uma hora e trinta minutos de durao
cada, entre os meses de fevereiro a agosto de 2013. Cada sesso foi precedida por uma reunio para planejamento, e, ao
final, de uma discusso e a superviso do caso.
Este atendimento teve como queixa inicial a dificuldade dos
pais em lidarem com a dependncia qumica da paciente identificada, mas, j no primeiro atendimento, a filha revelou ser
portadora do vrus HIV descoberto aos treze anos de idade,
fato esse que consumia a famlia por completo, por conta de
no saberem como ela foi contaminada. Desde o incio, observaram-se outros temas bastante relevantes Terapia Familiar.
Um desses temas era o segredo na famlia, o qual, por sua vez,
perturbava no apenas a famlia, mas tambm aos profissionais. Sem dvida o segredo um dos dilemas mais instigantes
que pode surgir durante o atendimento teraputico.
A famlia que serviu de amostra para essa pesquisa qualitativa
composta pelos seguintes membros: Jos, o pai, 53 anos; Maria, a me, 53 anos; Ana, 24 anos, Pedro, o genro, 25 anos, Vitria, a neta, 01 ano e Catarina, 22 anos (paciente identificada). Os nomes so fictcios, para preservar a identidade da famlia.
A revelao do segredo junto aos pais foi trabalhada de
forma estratgica pela equipe teraputica respeitando o tempo
da famlia, o que estendeu em cinco sesses o estgio supervisionado. Nos atendimentos foram utilizadas como ferramentas: a Escultura Familiar, a Reconotao Positiva e o Coro Grego, assim como as Tarefas e Tcnicas Psicodramticas, a fim
de proporcionar o fortalecimento dos membros da famlia durante o processo.
RE. 47 Transmisso/transformao de rituais familiares no desenrolar de cinco geraes de uma famlia: um relato de experincia
Francielle Allgayer Corradi
Corradi FA1, Pereira S1, Netto KA1, Keller LL1-1Universidade
de Caxias do Sul - Curso de Graduao em Psicologia
O trabalho apresenta e discute a prtica realizada no mbito de uma disciplina do Curso de Graduao em Psicologia,
a qual tem como foco processos psicossociais vividos na/pela
O trabalho busca descrever e discutir os avanos verificados no decorrer de um processo de atendimento psicoterpico
a uma famlia derivada para uma clnica-escola com encaminhamento judicial. O grupo familiar j havia sido objeto de diversas intervenes, em instituies de diferentes naturezas,
mas estas pareciam ter contribudo mais para dissipar do que
para agregar e fortalecer a famlia. O motivo inicial das intervenes estava associado ao abuso de lcool por parte do pai e
s consequncias familiares comuns em situaes como esta.
Ao dar entrada no Servio de Psicologia, o grupo familiar, composto pelo casal e trs filhos, com idade entre oito e quatorze
anos, j vivera uma significativa ruptura na sua estrutura, tendo o pai sido afastado de casa, com apoio na Lei Maria da Penha, sob acusao de conivncia em situao de abuso sexual
contra uma filha. Por essa poca, a me, que apresenta limitaes cognitivas importantes e diagnstico psiquitrico de depresso crnica, intensifica o quadro depressivo e vem a ser
internada compulsoriamente numa clnica psiquitrica, l permanecendo durante seis meses. Os filhos, por sua vez, so levados para uma casa abrigo, onde permanecem at que os avs
paternos conseguem a guarda provisria deles. O relato pretende enfatizar a luta travada, principalmente pelo pai, que
mesmo impedido legalmente de aproximar-se dos filhos, inicia um processo de reconstituio de seu papel de marido, pai
e provedor, lutando contra a dependncia do lcool e os esteretipos que lhe foram sendo impingidos. O processo foi marcado por forte aderncia ao tratamento, sendo que a famlia
permaneceu vinculada ao Servio ao longo de trinta sesses,
mesmo com a ocorrncia da troca de estagirios que realizaram os atendimentos, devido finalizao do estgio por parte dos primeiros. E mesmo antes do trmino, a famlia vai reaver a guarda dos filhos.
tmica assumiu. E pela natureza atpica de agresso, foi planejado mediao tambm com a filha que ainda estava reclusa
na Delegacia do Menor Infrator em Curitiba/PR, aps dois meses do incidente. Como CEP no convergiu de mesmo interesse em assumir apoio jovem, alegando que o caso era de ordem judicial, especialmente por j ter ocorrido suporte me.
Segui adiante com respaldo do Conselho Regional Psicologia
que poderia continuar como Voluntria do Centro Joana, tambm localizado em Curitiba/PR onde a jovem cumpriria sentena definida em seis meses regime fechado e, esse mesmo
perodo em Liberdade Assistida pelo CREAS-Pinhais/PR. Era
certo que em breve sua reinsero no lar ocorreria, ento
quanto maior apoio emocional e rede de apoio tivesse, maior
probabilidade de ter xito nesse retorno convivncia familiar. Enquanto esteve interna, foram realizados trs encontros,
cada um de duas horas. Pelo seu comportamento assertivo sua
pena de seis meses reclusa foi reduzida para quatro, e, em janeiro retornou ao lar. Desde ento, vem tendo acompanhamento individual, com foco no desvio do padro disfuncional,
bem como sua me com outra Terapeuta, e uma vez ms, desde Abril h encontro de Me e seus quatro filhos, em formato
de Co-terapia com Terapeuta de me, pois se tem trabalho padro repetitivo de violncia Psicolgica e/ou Fsica que h
anos os acompanhavam.
RE. 52 Mediao no Judicirio: um Instrumento para Humanizao pelos Rumos dos Dilogos
CamilaSarno Falange
Falanghe CS1-1Instituto Sistemas Humanos
Trata-se do relato de experincia vivida durante o processo de instalao de projeto de mediao nas Varas da Famlia
do Frum de Santo Amaro. Neste relato apresento a mediao
familiar, dando noticias dos diferentes olhares dos membros
do Judicirio para uma abertura de dilogos nos processos
que envolvem relaes familiares. Conto tambm como anda
a mediao nas varas da famlia nos Fruns de So Pauloapre215
RE. 54 A Percepo dos Jovens sobre suas famlias: Relato de uma Interveno
Sistmica em uma Instituio No Governamental da Zona sul de So Paulo
CristianeVaz de Moraes Pertusi
Dra Cristiane, Psicloga Alice Santos
O presente trabalho tem por objetivo relatar a experincia de jovens de idade 12 a 17 anos, de baixa renda em uma comunidade situada na periferia da zona sul da cidade de So
Paulo.
Estes jovens so atendidos semanalmente em grupo do
Ncleo de Psicologia Social que tem como objetivo a integrao, o cuidado e o desenvolvimento do sujeito, bem como sua
famlia.
Foram realizados cerca de 24 encontros no decorrer do
ano de 2013, onde se abordou temas relativos a adolescncia,
auto estima, auto imagem, relaes familiares e sociais, entre
outros.
Nestes encontros foram realizadas discusses de temas
do cotidiano, realizadas atividades com desenhos, jogos ldicos e atividades com embasamento na sociodrama sistmico.
Os resultados obtidos apontam para dificuldades de relaciona-
mento, principalmente na comunicao intra-familiar, dificuldades de aceitao das figuras de autoridade (parentais ou
no) e ainda questes referentes sexualidade.
Com a divulgao deste trabalho busca-se o objetivo de ampliar intervenes Psicossociais com jovens em contexto scioeconmico carente para melhorar sua auto imagem, contribuir com sua insero social nos subsistemas da famlia, escola e
comunidade. Pretende-se ainda buscar uma melhor qualidade de afetividade desses jovens no que diz respeito ao mbito
familiar e social.
das. As intervenes proporcionarem um suporte e flexibilidade dinmico ao ego. O grupo de alunos, atravs da experincia, vivenciou situaes de ensino-aprendizagem pela prtica
em psicologia, onde a resposta principal foi encontrar caminhos diferentes e sem prescrio; esses existem e possibilitam
novas formas de apoio e compreenso. O grupo evolui em eco
e voz a pergunta que no quer calar: Amanh o que ser?
So Paulo, embasada pelas Prticas Narrativas Coletivas desenvolvidas por David Denborough (2008).
Esse contexto teve como um dos resultados a produo
de um texto coletivo que buscou contemplar os mltiplos relatos dos profissionais da equipe na identificao dos conhecimentos e das habilidades desenvolvidos por eles, visando estarem da melhor forma possvel com esses pacientes e seus
familiares: reunimos histrias e experincias que nos mantm firmes para reconhecermos valor e utilidade no nosso trabalho ainda que a doena do paciente continue progredindo.
No presente trabalho pretendo apresentar o texto coletivo produzido, outros desdobramentos possibilitados pela metodologia organizadora do trabalho, bem como o passo a passo de
sua realizao.
A partir do relato dos profissionais participantes, vimos
que tal experincia proporcionou um significativo fortalecimento da equipe e est possibilitando a constituio/articulao de uma grande rede conversacional, com o compartilhamento do documento a outros profissionais que atuam em temticas semelhantes.
Juras MM, Gonalves DA, Guimares JS, Reiman MS, Amorim JS, Rocha MS, Caldeira T
Trata-se de experincia realizada em parceria entre uma
instituio acadmica e uma unidade de acolhimento institucional para adultos. A proposta envolveu atendimentos psicossociais grupais aos acolhidos dessa instituio, realizados por estagirios da instituio acadmica e supervisionados pela primeira autora. Foram realizados quatro encontros em que foram trabalhados os temas identidade, gnero, preconceito e
protagonismo. O formato dos encontros eram organizados
em: apresentao dos participantes, construo e discusso
das regras do grupo, aquecimento, desenvolvimento, compartilhamento, participao da equipe reflexiva e fechamento. Os
grupos eram coordenados por trs estagirias e observados
por outros trs, que formavam a equipe reflexiva. Segundo Andersen (2002), a equipe reflexiva tem como principal funo
dialogar entre si, compartilhando observaes significativas e
com foco nas competncias e recursos. Essa atuao promove
uma ampliao de possibilidades e reflexes aos participantes
do grupo, inclusive aos coordenadores.
O presente relato de experincia tem como objetivos: 1)
analisar a equipe reflexiva como recurso interessante no atendimento em contextos de elevada vulnerabilidade social; 2)
promover reflexes sobre contribuies da equipe reflexiva na
identificao de competncias em contextos de alta vulnerabilidade social; 3) apresentar o modelo de trabalho realizado no
atendimento psicossocial grupal a adultos em instituies de
acolhimento, com participao da equipe reflexiva; 4) exem219
plificar a participao da equipe reflexiva no trabalho realizado; 5) sugerir a utilizao desse modelo de trabalho na prtica
de estgios supervisionados e de extenso universitria.
RE. 59 Na sade e na DOENA: Atendendo famlias, casais e pessoas, fortalecendo redes e desenvolvendo o ensino e pesquisa no campo do atendimento clinico
de orientao sistmica em hospital
TaniaDallalana
DallalanaTM1-1Hospital de Clinicas/UFPR
Objetivo
220
Descrever as possibilidades do trabalho em um hospital escola e pblico tendo como base a teoria clinica de
orientao sistmica novo paradigmtica para o atendimento na promoo primria, secundria e terciria do
processo sade/doena.
Demonstrar a viabilidade do ensino e superviso no hospitalatravs do Guia para a Prtica Clnica e tomada de
decises no processo teraputico do psiclogo junto aos
pacientes, familiares e equipes de sade. Base terica Psicoterapia de Orientao Sistmica.
Transmitir atravs de exposiodialogadae relatos de
experincia, as vivncias na construo da Residncia
Multiprofissional em Urgncia Emergncia rea Psicologia tendo como base terica os pressupostos da Teoria
Sistmica Novo paradigmtica.
221
Este trabalho prope apresentar um atendimento realizado em Terapia Breve ocorrida no Estgio Supervisionado durante o curso de Formao em Terapia Familiar e de Casal
pelo CEFATEF Centro de Formao e Estudos Teraputicos
da Famlia. O acompanhamento teraputico, com um olhar
Estratgico e Construtivista, se deu em oito sesses, quinzenais, com 1h 30min de durao cada, do dia 10/08/13 at o
dia 30/11/13. Cada sesso era precedida uma reunio para planejamento e ao final havia uma discusso e superviso do
caso.
Foi embasada nas escolas de Terapia Familiar Sistmica
e suas ferramentas como uma maneira de ajudar a novos entendimentos e preparar caminhos para tratar as fobias e crise
de valores trazidos pela famlia; quando pudemos, alm de
atender uma das demandas atuais e tendncias, construir um
novo conhecimento terico em conjunto com a famlia atuante.
Este atendimento teve como tema a superao de um
trauma e a aceitao de sua opo sexual, potencializado por
trauma de assalto mo armada. A PI com 31 anos, trs em
sua fala no saber o que quer da vida, buscando se livrar desta angstia que a oprime e a impede de ser feliz. Revela ainda
que homossexual, tendo grandes dificuldades de relacionamentos por conta de pr-conceitos, crenas em meios a seus
familiares, amigos e sociedade. Sua atual companheira participou das ltimas seis sesses e, atravs de feedbacks, das tcnicas utilizadas, houve um fechamento positivo, possibilitando
um maior interesse pela vida em novos reencontros.
Na atualidade, o acesso Terapia Familiar por parte da pacien222
tensa. Notou-se que este sistema familiar era rodeado de mitos e segredos do passado, principalmente por parte da me,
que, por no estarem resolvidos, interferiam no desenvolvimento das relaes entre os membros, pois eram situaes
proibidas de serem lembradas e faladas. A comunicao entre
os indivduos era limitada. Tais situaes levavam a me a depositar em B. suas dificuldades de lidar com seu passado, o
que gerava conflitos entre ele e seu irmo, j que este recebia
mais cuidados e ateno que o cliente. O sistema familiar em
questo tambm tinha a cultura do bater como maneira de
educar. Entendiam que somente com a fora fsica as crianas
aprenderiam algo. O no falar sobre sexo ou sexualidade tambm fazia parte da cultura familiar, o que levou B. a transferir
suas curiosidades a outras crianas. Portanto o propsito dos
atendimentos foi promover modificaes nos padres de interao do sistema familiar, para um melhor desenvolvimento e
relacionamento de seus membros. Interferir nos aspectos negativos das relaes e auxiliar os indivduos a encontrarem novas formas de lidar com as situaes do cotidiano, tambm fizeram parte desta psicoterapia. Ao final do estgio, a famlia
apresentou-se um pouco mais unida, com menos situaes de
violncia e a compreenso de que fora fsica no significa educao. Como ainda era necessrio trabalhar a comunicao entre os membros, a famlia foi orientada a dar continuidade
psicoterapia no ano seguinte.
223
RE. 64 Uma Famlia e Uma Escola Solitrias... Uma Criana Sintomtica - Ampliao do Contexto Teraputico
VivienBonafer Ponzoni
Ponzoni VB1, Jambas E M1-1Instituto Sistemas Humanos
Objetivo
Compartilhar a experincia de ampliar a rede de atendimento possibilitando transformaes na criana sintomtica,
na famlia, e na postura da escola. O contexto revelou uma escola desamparada, um aluno desprotegido e uma famlia desorientada.
Resumo
A famlia Silva que fizera terapia no Instituto Sistemas
Humanos retorna por iniciativa prpria, em maro de 2012
procurando ajuda. A queixa se referia ao filho de 12 anos,
agressivo na escola, no respeitando seus professores. Quando contrariado, jogava-se ao cho. A atitude da instituio era
tir-lo da classe, lev-lo diretoria, chamar a me, ou suspend-lo por dias, impedindo-o de assistir s aulas. Seu rendimento escolar era bom. Foram convidados a mudar a criana de
escola por trs vezes. A criana lamentava no ter amigos na
escola.
224
225
RE. 67 Terapia familiar como terapia grupal, qualidade de vida e crenas religiosas: correlaes possveis
FatimaFontes
Fontes F C C1-1Universidade de So Paulo - USP - Instituto
de Psicologia
Na medida em que a Terapia Familiar se insere no campo das Terapias grupais, da qualidade de vida e das crenas religiosas, considera-se importante que conheamos os estudos
cientficos produzidos que apresentam correlaes entre esses
campos.
O trabalho aqui proposto apresenta o Levantamento de
Literatura da segunda pesquisa de doutoramento em Psicologia Social na USP da autora. O projeto de pesquisa, em andamento, foi construdo a partir da experincia da autora dirigindo uma Psicoterapia Grupal e com famlias, utilizando a Metodologia mista do Psicodrama e da Terapia Comunitria,aber226
ri). Com base em observaes, entrevistas e reunies em grupo, desde 2004, foi possvel constatar a importncia do grupo
de apoio na vida das mulheres aps o diagnstico do cncer de
mama.
O impacto do diagnstico aumenta significativamente o
nvel de stress (tenso) dos sujeitos envolvidos forando mudanas. Por isso cabe aqui ressaltar o lado positivo do stress
relacionado ao empoderamento (Vasconcelos, 2003) e a resilincia (Walsh, 2005) de muitas mulheres e famlias que diante
da adversidade desenvolveram a capacidade para superar desafios impostos pelo cncer, seus tratamentos subsequentes e
os estigmas sociais.
As experincias compartilhadas nesse grupo, aliada teoria sistmica ampliaram minha viso do sintoma visto a partir
de ento como caminho de transformao. Alm disso, o estudo apontou para a importncia da rede de apoio que inclui o
sistema familiar e o entorno social (sistema social) na vida dessas mulheres aps o diagnstico.
RE. 70 Atendimentos Humanitrio e Psicolgico a Famlias, Amigos e Sobreviventes da Tragdia de Santa Maria
MarisaBarradas de Crasto
228
[email protected]
TaniaDallalana
DallalanaTM1, SantosJC1, VieiraAA1, Maiorki S1-1Hospital de
Clinicas/UFPR
Introduo: As Unidades de Urgncia e Emergncia possuem como caracterstica principal a complexidade no tratamento de pacientes em situao clnica grave. As aes da Psicologia proporcionam melhorias na qualidade de vida, favorecendo a descoberta de possibilidades e recursos prprios do
paciente e familiares construindo reflexes sobre o significado
do adoecer, apropriandose de seus potenciais, fraquezas e limitaes. O acolhimento ao sofrimento psquico dos familiares, envolvidos no processo de morte do paciente que evolui a
bito tambm deve ser priorizado e aTerapia Comunitria surge como um recurso teraputico que permite aos familiares a
exposio dos seus sentimentos, com foco no sofrimento humano ocasionado pelas perdas.
Objetivo: Relatar a importncia do grupo de Acolhimento ao Luto para as famlias atendidas nas unidades de urgncia e emergncia onde o paciente internado evoluiu para bito.
Mtodo: Para o presente trabalho, utilizouse o modelo
de entrevistas clnicas semi estruturadas de orientao sistmica com as famlias nas unidades de urgncia e emergncia durante o processo de falecimento do paciente internado entre
os meses de Julho a Dezembro de 2013. As vivncias de enfretamento do luto so singulares para cada pessoa e famlia e
motivo de transformaes sociais, psicolgicas, culturais, fsi229
cas e espirituais desse modo desde 2004, s famlias so convidadas para continuao do acompanhamento psicolgico em
grupo no modelo da Terapia Comunitria integrativa.
Resultado:Foram encaminhados para o grupo de acolhimento ao luto os familiares de 60 pacientes que evoluram a
bito. Este grupo acontece todas as segundas-feiras no Ambulatrio de Sade Mental do Hospital de Clnicas da UFPR. Observase a construo de recursos psquicos de enfrentamento
eficientes para esses familiares vivenciarem o processo do
luto.
Consideraes Finais: Esta ao de encaminhamento ao
grupo de acolhimento ao luto permite a continuao do trabalho da psicologia na ateno integral aos cuidados dos pacientes e seus familiares nas unidades de UUEA, promovendo
transformaes que amenizem o sofrimento pelos familiares.
da mudana de postura frente situao posta, tanto na questo da separao, quanto no trato das crenas bsicas.
Bittencourt-Pereira LC1, Vasel NM1, Oliveira MAM De2- 1Universidade do Vale do Itaja - UNIVALI - Estudante, 2Universidade do Vale do Itaja - UNIVALI - Mestre
Este trabalho apresenta o relato de experincia de um
atendimento psicoterpico realizado na disciplina do Estgio
de Sade e Integralidade em um servio de clnica-escola de
Psicologia da Universidade do Vale do Itaja.Esta prtica teve
como pressuposto terico a abordagem da Teoria Sistmica,
sob superviso e orientao de uma Mestra/Psicloga que faz
parte do quadro docente dessa Instituio. O relato de um
paciente, M, sexo masculino, 10 anos, estudava na 5 srie/ 6
ano do ensino fundamental em uma escola municipal. M. morava com os avs maternos desde seus cinco meses de vida,
quando sua me biolgica o abandonou e foi morar em outra
cidade. O encaminhamento para a referida avaliao se deu
por uma Pediatra da rede pblica, justificando que M tinha
uma famlia disfuncional e apresentava dificuldades de aprendizagem. No primeiro atendimento a av materna trouxe
como queixa principal comportamentos de agressividade e falta de limites. Esses sintomas haviam se manifestado h aproximadamente um ano, atribudos pela av volta da me biolgica para a cidade e o ao convvio familiar dos mesmos. Um
dos maiores desafios dessa famlia a omisso da histria do
paciente. A interveno nesse caso objetivou favorecer a comunicao entre os membros desse sistema familiar, contribuindo na interao do cotidiano dos mesmos, como tambm investigar e interferir na dificuldade escolar, uma vez que foi realizada visita a escola e troca de saberes com a professora, a
233
Tal proposta tem por base uma compreenso da violncia sexual contra crianas e adolescentes como uma manifestao da violncia interpessoal inserida num contexto mais amplo, no restrito s vivncias e sequelas individuais da criana
e/ ou adolescentes vitimizados. Torna-se fundamental acolher
e escutar a famlia como parte integrante da vulnerabilidade,
precisando, portanto, ser includa em qualquer projeto teraputico a ser desenvolvido.
A incluso da famlia possibilitou uma reconstruo da
histria familiar, no restrita histria da violncia vivenciada, possibilitando superar as consequncias dessa situao na
medida em que se refez os laos familiares. Alm disso, a participao da famlia contribuiu com o processo da criana e do
adolescente ao compartilhar a violncia como um fenmeno
familiar e no individual.
Nesse relato ser apresentada a experincia realizada
com um Grupo de Proteo com os adolescentes concomitante
a Oficina de Bonecas com os responsveis legais, como uma
estratgia de interveno eficaz e facilitadora da reorganizao familiar.Por intermdio da confeco da boneca, as mes
puderam conhecer a si prprias, num processo de espelhamento, possibilitando reencontrar um novo sentido para a vida e
colaborar com a interveno dos prprios filhos. Os adolescentes, por intermdio das temticas discutidas, puderam tambm conhecer a si prprios e elaborar estratgias protetivas.
De maneira complementar, essas estratgias de interveno
auxiliaram as famlias na reconstruo de suas narrativas, na
medida em que puderam ser escutadas alm da violncia vivenciada, restabelecendo uma possibilidade de confiana en234
Esta apresentao tem por objetivo relatar um caso de demanda especifica fonoaudiologia de uma famlia que faz uso
da Unidade Bsica de Sade com Estratgia de Sade da Famlia na regio da STS F/Brasilndia, que vem se beneficiando
com olhar e abordagens das escolas de Terapia Familiar Sistmica e comprovando-se tratar de ferramenta para atender estas demandas atuais.
A implantao da Estratgia da Sade da Famlia (ESF)
partiu da necessidade de um processo de reorientao do modelo assistencial na sade. Ela prope mudana das prticas
assistenciais curativas e de fragmentao do cuidado para
uma abordagem com foco no sistema familiar e coletivo, na
compreenso ampliada do processo sade/doena, para o desenvolvimento da autonomia e qualidade de vida. Existe uma
via que vem refletindo a prtica do cuidar utilizando-se da clnica ampliada e olhar holstico, que uma concepo que reconhece o organismo humano como um sistema vivo que se interdepende na interao e afetamento com o meio ambiente
fsico, social e familiar.
Partindo desta tica, pode-se perceber na prtica profissional na rea da Fonoaudiologia, a contribuio da Teoria Sistmica nos casos de distrbios da comunicao e, desta forma,
visualizar a possibilidade de potencializar o atendimento fonoaudilogo com a utilizao das abordagens das escolas de Terapia Familiar Sistmica como ferramentas de cuidado nessa
rea de atuao.
Entender como origem do sintoma, a histria de vida e
familiar da criana atendida, levando em considerao os segredos, os mitos e as lealdades do seu grupo familiar, est sendo possvel identificar, entender os padres repetitivos e disfuncionais do passado e associ-los com o que est sendo vivido no presente. Essa compreenso est auxiliando no pensar
em possibilidades de construir mudanas do futuro no apenas da criana cone, mas tambm de sua famlia, por meio da
Viso Transgeracional das Escolas de Terapia Familiar.
235
Psteres
PT. 01 Abordagem Motivacional para Familiar de Usurio de Drogas por Telefone: um Estudo de Caso
Bortolon CB1, Machado CA1, Abraham CF, Ferigolo M1, Barros
HMT1-1Universidade Federal de Cincias da Sade de Porto
Alegre - Farmacologia
soais e as consequncias de sua mudana na dinmica da dependncia qumica. Os servios de telemedicina e a interveno breve motivacional reforam a importncia de abordagens
voltadas famlia, que podem promover mudanas comportamentais em familiares que necessitam de ateno e cuidados
de sade de uma forma acessvel e abrangente.
Referncia Bibliogrfica
Descrio do trabalho
O consumo de substncias interfere sistemicamente na
famlia. A atitude da famlia do usurio de drogas frente ao
problema pode contribuir tanto para a parada do uso como
para a manuteno. Sendo assim, relevante intervir na famlia com uma proposta motivacional breve e colaborativa que
estimule as razes mudana, alm de fomentar a responsabilidade e autonomia do familiar frente o usurio de drogas.
O objetivo deste estudo de caso foi apresentar um modelo de
interveno breve por telefone, alicerada na entrevista motivacional para familiar de usurio de lcool e crack.
Resultados
A esposa que ligou para buscar ajuda para o seu marido
usurio de lcool e crack, aps seis meses de acompanhamento reduziu a codependncia e modificou seus comportamentos
permissivos aps receber a interveno, conforme o modelo
de acompanhamento para familiares de usurios de droga por
telefone. A familiar conseguiu perceber suas necessidades pes-
PT. 02 Pesquisa e Interveno Psicossocial com Famlias de Crianas e Adolescentes com Transtornos Alimentares e Obesidade: Compreendendo o Fenmeno e Mudando as Relaes Familiares
237
Ribeiro MA1, Melo VAA1, Nogueira HF1, Mugarte IBM1- 1Universidade Catlica de Braslia
dos dados so realizadas no Centro de Formao em Psicologia da Universidade Catlica de Braslia. O projeto foi aprovado pelo CNPq e pelo comit de tica em Pesquisa da UCB. A
equipe de pesquisa formada por 15 pessoas, incluindo 5 professoras doutoras e alunos de doutorado, mestrado e graduao em Psicologia da UCB, e alunos de iniciao cientfica. Os
dados levantados at o momento subsidiaram a realizao de
5 dissertaes de mestrado, 8 trabalhos de concluso de curso
de graduao, 2 projetos de doutorado e 2 de mestrado em andamento e vrias publicaes. Os dados esto de acordo com a
literatura nacional e internacional e confirmam a importncia
da incluso da famlia no tratamento dos transtornos alimentares e da obesidade. Palavras-chave: transtornos alimentares;
obesidade; dinmica familiar; atendimento psicossocial.
XII. Estamos todos bem: a famlia congelada pelos segredos e o temor morte. - Suely Engelhard
XIII. Parente serpente?Os efeitos da velhice na dinmica familiar. -Ana Cristina Bechara Barros Fres Garcia
XIV. A Contabilidade afetiva das histrias familiares: influncias e desgnios. - Maria Cecilia Veluk Dias Baptista
XV. A famlia e a polaridade vida e morte. -Marfiza Ramalho Reis
mentos e aes relacionados ao cime ou infidelidade, contendo 30 itens, com 4 opes de resposta que variam de 1
(nunca) a 4 (sempre). Estes foram aplicados somente aps a
obteno dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido
devidamente assinados.
Resultados
A pesquisa est em fase de concluso no presente momento ( estar concluda at a data do evento)e todos os dados que forem obtidos atravs dos questionrios aplicados sero quantificados para que se possa avaliar pensamentos e
aes mais comuns, relativos ao cime. Vale pontuar que, ao
final ser feita a discusso e anlise do material, estabelecendo-se reflexo sobre as possveis diferenas entre os gneros,
identificao entre o cime normal e excessivo dos participantes e as consequncias do cime no ciclo vital das famlias,
haja visto que a incidncia deste tema muito frequente nas
demandas por atendimento psicoterpico individual e conjugal.
PT. 07 Configurao e Padres de Relacionamentos nas Famlias de Criana que Vivenciam a Separao/Divrcio dos Pais
em Litgio Judicial: um Estado de Laudos
Psicolgicos
Bonoto ACP1, Cruz RM2, Crepaldi MA2-1Ressignificar - Psicologia Clnica,2Universidade Federal de Santa Catarina - Programa de Ps Graduao em Psicologia
que o relacionamento conflituoso o principal padro de relacionamento estabelecido entre os ex-cnjuges, resultado esperado considerando que se trata de ex-casais em litgio judicial.
Esse resultado, no entanto, refora a premissa de que o rompimento do vnculo conjugal no extinguiu brigas e desentendimentos entre os ex-casais. Apesar disso, o relacionamento entre crianas e pelo menos um dos genitores foi caracterizado
como harmnico, na maior parte das vezes. Esses dados demonstram que o contato dos genitores e filhos no deve ser interrompido apenas com a justificativa de que o relacionamento entre o ex-casal conflituoso e violento. O relacionamento
entre irmos foi indicado como um recurso para as crianas
lidarem com a carga emocional dos conflitos entre os
genitores.
gravidez na adolescncia como um veculo para o ciclo multigeracional de pobreza tem incentivado a ampla difuso da medicalizao dos contraceptivos e do controle da fertilidade. Baseado em um estudo etnogrfico conduzido com 96 jovens e
suas mes, acompanhados ao longo de 10 anos, este estudo explora a relao entre medo de infertilidade e medicalizao
dos contraceptivos. Foram utilizados vrios mtodos como observao dos participantes, histria de vida, entrevistas semiestruturadas e entrevistas informais com familiares e amigos dos adolescentes. A anlise deste estudo focou nas mudanas ideolgicas sobre reproduo e mobilidade de classe social
no contexto de mudanas de prticas contraceptivas e decises ao longo da vida. Todos os participantes foram visitados
ao menos uma vez antes de se tornarem pais, possibilitando
observar os processos sociais e pessoais que resultaram na gravidez. Uma anlise comparativa entre os participantes contrastou a experincia dos pais adolescentes com uma amostra
de jovens que no se tornaram pais, selecionados por serem
similares em termos de contexto socioeconmico. Os resultados sugerem que as jovens que se tornaram mes no possuem pouco conhecimento sobre mtodos contraceptivos, mas o
contrrio. Elas analisam detalhadamente as propriedades dos
contraceptivos orais como uma forma de apurar como podem
afetar seus corpos e sua futura fertilidade, e se engajam em
uma rotina de uso irregular do contraceptivo como forma de
testar e salvaguardar sua sade reprodutiva. Essa forma de
medicalizao no simplesmente o resultado de uma preocupao pragmtica com a sade, mas est carregada de grande
ansiedade em relao ao bem-estar futuro, em especial,pos-
ais e familiares, comprometendo a sade dos cnjuges, interferindo consequentemente na satisfao deles, gerando frustrao e desesperana no casal, interferindo na evoluo e no
prognstico dos sintomas estressantes. A satisfao conjugal
alterada conforme o nvel de estresse.A dificuldade na resoluo de conflitos decorrentes das interaes interpessoais, que
podem ser desencadeadas pelos agentes estressantes, incrementa, na maioria das vezes, a insatisfao conjugal. Esta pesquisa objetivou investigar a prevalncia do estresse na satisfao conjugal por meio de anlise metacientfica nas bases de
dados da Bireme, da Biblioteca Virtual em Sade (BVS) e da
Biblioteca Virtual em Sade-Psicologia Brasil (BVS Psi) no perodo de 2008 a 2013. Com base nos artigos pesquisados conclui-se que a satisfao conjugal susceptvel aos estressores
externos, sendo que as mulheres apoiam mais seus cnjuges
diante as dificuldades e que elas so mais vulnerveis ao estresse. O estresse em todos os seus nveis um indicador importante nas pesquisas, visto que, o modo como os casais se
adaptam a ele, fornecem dados relativos qualidade da satisfao do relacionamento conjugal. O assunto estresse conjugal
pouco abordado em publicaes nacionais e as pesquisas internacionais focam principalmente a relao dos cnjuges sob a
influncia dos estressores externos.
O estresse uma sndrome que atinge um grande nmero de pessoas na atualidade e um dos fatores que contribui
para uma baixa qualidade de vida, afetando as interaes soci244
sociais;4) No existe famlia padro, porm em qualquer constituio familiar faz-se necessrio papis bem definidos;5) A
incongruncia familiar trar consigo perturbaes psquicas
que podero influenciar nas demais relaes sociais.
A av materna apesar da esquizofrenia e vrias internaes em instituies psiquitricas, manteve o padro familiar
num nvel mdio scio econmico atravs de seu trabalho.
Saia das internaes e trabalhava para recuperar o padro de
vida, mantendo os filhos em boas escolas.
A me da vtima tambm possua um bom emprego, casou pela segunda vez com um homem de nvel socioeconmico elevado.
A suicida no conseguiu manter este padro, j que no
teve sucesso profissional e passou a viver do patrimnio da famlia. Ela no conseguiu reverter situao de acordo com o
padro familiar. Ao se endividar continuamente empobreceu,
psiquicamente e financeiramente, sentindo-se sem sada buscou na morte a soluo do seu drama. Nesta famlia as mulheres so vistas como salvadoras, enquanto que os homens so
considerados fracos e omissos.
Com a constituio do Genograma conseguimos identificar a origem do problema que desencadeou o suicdio. Com
isso foi possvel dar um feedback para essa famlia e colher material para futuras pesquisas que possibilitem, auxiliar na preveno do suicdio. Dessa forma, procedemos ao encaminhamento teraputico adequado, de modo a evitar este ciclo de repetio, e ao mesmo tempo oferecer um suporte famlia para
buscar um novo padro de organizao.
proteger de patologias de longa durao. O Debriefing consiste em facilitar a expresso dos sentimentos e emoes em grupo, relacionadas experincia traumtica vivida, com o propsito de reorden-la cognitivamente, de forma mais adaptativa
(Mitchell, 1983).
Mtodo
Trata-se do Debriefing realizado com trs famlias diferentes e um grupo de jovens que expressam seus sentimentos
diante da mesma tragdia.
Populao
Famlia 1 Pai, Me, Filho adolescente, Filha adolescente e em memria a filha jovem.
Famlia 2 Pai, Me, Filha adolescente e em memria o
filho jovem.
Famlia 3 Pai, Me, Av (pai da me) Filho jovem e em
memria filha jovem.
Grupo de 8 adolescentes (de 15 a 18 anos) e uma jovem,
que perderam amigos e parentes.
Tcnica Debriefing
1 encontro por famlia de 2 horas cada um.
Resultados e Discusso
Durante o Debriefing os principais pensamentos foram:
no momento da notcia o sentimento de raiva e medo... Isto
no esta acontecendo comigo... Sentimento de culpa por ter
conseguido se salvar e no ter salvado o irmo... Meu filho sal247
ente continua com o acompanhamento teraputico em consultrio particular. Para novas aberturas e possibilidades.
PALAVRAS CHAVE: Idoso, Significados, Enfrentamento.
sistemas familiares sob a tica da teoria sistmica. Foram usados princpios da ciberntica, como feedback e circularidade
causal, para compreender a formao do comportamento de
pais e filhos e sua transformao em um padro mais funcional. Como descritores, foram utilizados presena parental e
prticas parentais, selecionados e usados na construo da
presente discusso, apenas artigos e livros sobre a terapia familiar sistmica em conformidade com o conceito de presena parental apresentado na obra de Haim Omer (2011). As reflexes mostraram, por exemplo, que o uso do abrao de
urso (tcnica de presena parental usada com crianas pequenas e agressivas) provoca modificaes no comportamento de
me e filho devido percepo da maior autonomia e valorizao das decises maternas. Estas modificaes geram funcionamento mais saudvel que pode ser associado ao princpio
da morfognese, com mudanas estruturais no sistema familiar. Constatou-se que os filhos so altamente sensveis coerncia entre a atitude dos pais, os valores morais que embasam estas atitudes e o apoio que os pais recebem dentro do
contexto social e familiar para a forma como agem. Evidenciou-se que esse sinergismo confere uma vivncia mais ampla
para os valores de educao e comportamento esperados no
s nos limites do lar, mas tambm, na comunidade onde vivem.
es familiares, nas quais ao menos um adulto que se autodesigna como homossexual, pai ou me de ao menos um filho
(APGL, 2009). Este estudo objetivou compreender se as pessoas leigas, de ambos os gneros, significam a homoparentalidade como famlia. A pesquisa qualitativa foi realizada por entrevista dialgica mediada por uma questo estimuladora e perguntas reflexivas, a anlise dos dados baseou-se no Construcionismo Social. Participaram, 20 pessoas leigas da comunidade,, de ambos os gneros, na faixa etria entre 30 a 60 anos,
que residem no centro-oeste paulista Brasileiro. Os resultados
revelaram que a maioria das participantes do gnero feminino significou a homoparentalidade como famlia por acreditar
que essa concepo depende do que se vive, especialmente em
relao aos filhos, ou seja, vnculos afetivos, respeito, cuidado,
condies econmica, psicolgica, apoio e segurana. Entretanto, a maioria dos participantes do gnero masculino, no a
significou como sendo famlia por estar em desacordo com os
valores familiar e religioso. Concluiu-se que a maioria das participantes do gnero feminino significou unio homoparental como famlia por considerar que acima da orientao sexual est a qualidade da relao, condies econmicas e psicolgicas dos pais para se criar um filho, o que no foi considerado
pela maioria dos participantes do gnero masculino, por significar como famlia somente a heteroparentalidade e consanginidade.
tos conjugais; extinguindo a violncia psicolgica como expresso relacional dos cnjuges.
Trabalhos clssicos contrapem-se s teorias que postulam a existncia de um instinto materno, inato e universal,
compartilhado por todas as mulheres e que o fato de que a
me ou outras mulheres dediquem-se maternagem, isto ,
253
Trabalhar com os fenmenos ancestrais que se apresentam no palco psicodramtico ir atrs daquilo que Moreno
chamou de Centelha Divina.
Com o objetivo de tornar as pessoas mais co-conscientes
dos seus recursos e legados positivos que receberam das suas
famlias.
Metodologia
Diferente da constelao familiar de Bert Hellinger que
usa representantes, Boarini usa a imaginao ativa e o psicodrama para trabalhar o tempo e o espao dentro do campo
morfogentico, conforme o cientista Rupert Sheldrake.
Contedos
Como reconhecer as energias ancestrais;
Tcnicas para ter acesso s nossas memrias ancestrais;
Praticas no palco Psicodramtico (em duplas);
O resgate Ancestral benevolente;
Como trabalhar nos mundos intermedirios (Realidade
suplementar)
Mostrar como todos os fragmentos perdidos da alma respondem a um trabalho compassivo e amoroso.
255
construo da confiana no dia a dia familiar. Com base nesses dados se deu o desenvolvimento terico quanto construo de novos vnculos de afeto, numa nova relao de casamento.
Palavras chaves: famlia; famlia reconstituda; vnculo
afetivo.
PT. 28 - Repercusso da Formao de Terapeuta Familiar na Vida Pessoal e Profissional dos Estudantes
Horta AL1, Daspett C2-1Universidade Federal de So Paulo ESCOLA PAULISTA DE ENERMAGEM,2UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SO PAULO
Desde 2007 a Escola de Enfermagem da Universidade Federal de So Paulo, por meio da sua Unidade de Interveno
Famlia e Comunidade, vem oferecendo o curso de especializao multiprofissional: Interveno e Prtica Sistmica com Famlia Terapia Familiar e de Casal que tem como objetivo, capacitar profissionais para intervir junto s famlias nos diferentes momentos do ciclo vital em contextos institucionais,
hospitalares, educacionais e comunitrios e tem acolhido principalmente profissionais das reas da sade, social, educao
e justia. Este trabalho teve como objetivo compreender a repercusso da formao de terapeuta familiar na vida pessoal e
profissional dos estudantes. Trata-se de um estudo qualitativo
onde os dados foram coletados por meio de questionrios respondidos pelos terapeutas ao trmino da sua formao.
Os resultados destacam que os participantes reconheceram padres e comportamentos da sua famlia nas aulas tericas e que a vivencia do FOFAT foi primordial para a compreenso de sua histria familiar. Tal conhecimento tem possibilitado modificaes e transformaes no contexto familiar e em
alguns casos favoreceu o acesso a terapia familiar ou de casal.
Profissionalmente apontam a mudana paradigmtica da compreenso sistmica dos fenmenos como um divisor de guas
na atuao profissional e o desenvolvimento da escuta ativa
como estratgia de atuao nos diversos contextos.
Concluiu-se que a formao vem auxiliando o profissional no olhar e cuidado de si e do seu referencial familiar bem
como transforma e amplia sua atuao profissional por meio
de estratgias e intervenes que lhes permitem adentrar os
diversos contextos do cuidado com famlia e casal.
257
Esse pster pretende apresentar algumas vivncias de estagirios do Centro de Servios em Psicologia (CESEP) das Faculdades integradas de Taquara durante o estgio profissional. O Servio oferece, dentre suas modalidades teraputicas,
o atendimento de casal e famlia a partir do referencial sistmico. Atende ao pblico economicamente desfavorecido de Taquara/RS e Vale do Paranhana, em parceria com o sistema de
sade da regio. O atendimento feito por uma supervisora e
estagirios (utilizando Sala de Gesell). Todos os alunos que realizam o estgio profissional (independente da abordagem seguida em atendimentos individuais - no servio so oferecidas
supervises em quatro abordagens tericas) participam como
equipe ou como co-terapeuta. Acredita-se que essa prtica,
alm de desafiar os alunos compreenso sistmica do funcionamento familiar enriquece as possibilidades de interveno
dos futuros profissionais. O atendimento em co-terapia com
um professor tambm desafia o aluno a flexibilizar papis e relaes com os professores. Outro momento importante aos estagirios a realizao do trabalho de self. Esse trabalho
desenvolvido em co-terapia, por duas professoras de orientao sistmica. um trabalho no qual o sigilo e a confiana no
grupo so essenciais para a formao integral do aluno. Acredita-se que essas aes fomentam o interesse e a aproximao
com o campo da terapia sistmica.
Lanfredi PG1, Mello SM, Lopes PCG -1CRAS de Pirangi - Assistncia Social
de suas prprias histrias e sujeitos de suas escolhas, buscando mecanismos teraputicos culturalmente relevantes e vlidos para valorizar a trajetria de vida e identidade de seus integrantes.
"A Terapia Comunitria , portanto, uma rede viva de comunicaes gestuais, onde cada pessoa pode expressar sentimentos, quer seja de alegria, tristeza, medo, angstia, decepo, frustrao. Nessa rede, a dor pode ser acolhida, partilhada e transmutada" (BARRETO, 2005).
Os resultados obtidos revelam que os participantes encontram-se mais unidos entre si e fortalecidos na reciprocidade de afetos, atravs do trabalho em rede, melhorando a capacidade de percepo e tomada de atitude diante das dificuldad e s e x i s t e n t e s n o c o n t e x t o e m q u e v i v e m .
A afinidade construda nas relaes permite a escuta e a
fala, constitui um processo 'educacional' no qual aquele que
ensina tambm aprende, conforme Paulo Freire (1987, Pedagogia do Oprimido). Tornou-se uma ferramenta de cuidado,
transformao pessoal, familiar e comunitria; um escudo protetor social eficaz, fator de proteo que sugere a manuteno
da qualidade de vida que ameniza o sofrimento mental e somatizaes, evitando adoecimento.
A doena renal crnica (DRC) tem aumentado consideravelmente em todo o mundo e o Brasil segue a mesma tendncia. As especificidades dessa doena afetam profundamente o sistema familiar, principalmente diante da possibilidade
da realizao do transplante intervivos com grau de
parentesco.
Objetivo: Compreender a vivncia da famlia no processo de transplante renal de intervivos.
Mtodo:Estudo clinico qualitativo. Os dados foram coletados entre agosto 2012 e fevereiro 2013, por meio de entrevistas com questo norteadora: Como est sendo para vocs vivenciarem o transplante tendo ao mesmo tempo um receptor
e um doador de rim na mesma famlia? Participaram do estudo quatro famlias, em trs delas o transplante foram realizado no subsistema fraternal e uma entre o sistema parental/filial. Os discursos obtidos nos ncleos familiares foram analisados por meio da anlise temtica.
Resultados: O contedo das vivncias das famlias no
processo de transplante renal intervivos foi representado pelas categorias: O Impacto da doena renal crnica e do tratamento dialtico na famlia; A vivncia da famlia frente s diferentes fases do transplante; Resinificando o sistema familiar
no processo do transplante; Famlia apoiando-se na rede social e na espiritualidade como estratgia de enfrentamento.
259
Discusso: Embora o foco estivesse no processo do transplante nos discurso, as famlias destacaram o diagnstico e tratamento dialtico como sendo fase de angustia e sofrimento. A
perda do rim ocasionou mudanas na vida familiar, necessitando de adaptaes no enfrentamento da doena e redimensionamento dos papeis familiares, destaca-se perda da independncia, a impossibilidade de realizao de planos e sonhos a
curto, mdio e longo prazo. A ambivalncia frente a morte afetaram o sistema familiares, fortaleceu laos com familiares
que dispuseram doar o rim, e ruptura com quem recusou
participar do processo. Foram destacados o acolhimento e orientaes especificas dos profissionais, porm no foram reconhecidos pelas famlias como equipe multiprofissional que
oferece cuidados s famlias, despertando sentimentos de excluso do processo. A rede de apoio e a f forneceram subsdios emocionais e materiais s famlias em todo o processo.
Consideraes finais: As vivncias das famlias, indicaram a necessidade de aes que contemplem o sistema familiar como foco de cuidado por meio de equipe multiprofissional.
Este trabalho teve seu incio em 2012 como Projeto de Extenso universitria, no qual alunos do curso de psicologia Bacharelado da UFPel tiveram a oportunidade de realizar intervenes com grupos de pais das crianas com espectro autstico em atendimento no Ncleo de Neurodesenvolvimento da
UFPel , que atende aproximadamente 98 pacientes autistas
que fazem parte das comunidades urbanas e rurais da cidade
de Pelotas. Os atendimentos constituem-se de duas formas:
terapias e/ou tratamento.
O transtorno do espectro autstico, inicia na infncia e
apresenta como caractersticas principais a dificuldade de interao social recproca, a comunicao , o pobre contato visual, a indiferena afetiva ou demonstraes inapropriadas de
afeto e ainda comportamentos estereotipados e repetitivos(
Leboyer,2003:Schuartzman,2003)
Caractersticas estas so peculiares aos indivduos com
espectro autstico, pois acabam por interferir de forma impactante nas relaes familiares em alguns casos mais especificamente nas relaes com seus pais e irmos, onde dvidas so
frequentes em relao a forma mais adequada para um bom
relacionamento afetivo e possibilidades de socializao.
Objetivos
Marta Janelli1, EGorgen1, Lucas s1, CMiritz1, Vanessa G1-1Universidade Federal de Pelotas - Curso de Psicologia- Unidade
Faculdade de Medicina
Desenvolver estratgias de enfrentamento aos pais de pacientes com espectro autstico amenizando o luto e dvidas frequentes sobre a forma de melhorar e facilitar a relao dos fi-
Introduo
260
Metodologia
Atravs da organizao semanal de grupo de pais de autistas do Ncleo de Neurodesenvolvimento da UFPel, onde a
troca, a voz e a escuta acolhe de modo teraputico, questionamentos em relao as realidades vivenciadas no cotidiano
familiar.
Concluses
O desenvolvimento de Estratgias, trocas e intervenes nos
grupos proporcionou maior suporte de enfrentamento nas demandas vivenciadas diariamente.
PT. 33 - A Percepo do Paciente Oncolgico com Leucemia Crnica sobre sua Dinmica Familiar Relacional
Chapadeiro CA1, Panissi KC1, Oliveira LR2-1Universidade Federal do tringulo Mineiro Psicologia,2Universidade Federal do Tringulo Mineiro Clnica Mdica
A famlia uma unidade social, que enfrenta uma srie
de tarefas de desenvolvimento, diferindo a nvel de cultura,
mas com razes universais. fundamental conhecer a dinmica familiar, especialmente quando um membro adoece, pois
existem diferentes maneiras de pensar a relao famlia-doena. Este trabalho pretende enfocar como as interaes familiares esto relacionadas ao aparecimento de sintomas fsicos. O
diagnstico de cncer compreendido tanto pelo paciente
como por seus familiares como sinnimo de sofrimento e morte. Assim, pressupe-se que tal diagnstico, em um membro
da famlia, pode provocar desde uma confuso de sentimentos
at uma reorganizao da estrutura familiar. Nesse sentido, o
estudo objetivou descrever a dinmica familiar relacional e
como esta pode ter contribudo para o adoecimento do indivduo com leucemia crnica linfide (LLC) ou mielide (LMC),
assim como mudanas ocorridas aps o diagnstico e o enfrentamento do doena. Para tanto, foi realizado um estudo com
vinte pacientes com LLC ou LMC, com idade entre 26 e 75
anos, 12 homens e oito mulheres, em tratamento oncolgico
no Hospital de Clnicas da Universidade Federal do Tringulo
Mineiro - MG. Os pacientes foram entrevistados individualmente, durante o tratamento quimioterpico. A anlise das
entrevistas indicou que o tempo de diagnstico variou de menos de um ano at vinte anos. Dezoito pacientes (90%) relataram aspectos positivos no relacionamento familiar como: companheirismo, preocupao, cuidado, unio, compreenso e dilogo, e onze entrevistados (55%) mencionaram desrespeito,
conflitos e problemas financeiros como aspectos negativos. Eventos familiares percebidos como importantes na poca do
adoecimento foram relatados por 65% das pessoas entrevistadas, como doenas e mortes, separao conjugal, alcoolismo
do cnjuge e graduao universitria. H quem sente que a famlia atrapalha no enfrentamento da doena, mas h tambm
261
quem sentiu mais apoio, mais prximo famlia, mais sensvel e tendo f como estratgia de enfrentamento doena. Assim, para a maioria dos pacientes, eventos familiares de impacto ocorreram previamente ao adoecimento e podem ter contribudo para o aparecimento da leucemia. Paradoxalmente, a
doena tambm provocou mudanas em alguns dos relacionamentos.
le do comportamento e sobre a aprendizagem de novas habilidades de enfrentamento para facilitar e manter a abstinncia
e (b) auxilia os parceiros a lidar com situaes relacionadas
aos problemas de drogas e a melhorar o funcionamento do casal em geral. O objetivo deste estudo foi realizar uma reviso
de literatura dos artigos sobre terapia comportamental para
casais (TCCA) que enfrentam problemas com o abuso de drogas e sobre as evidncias de eficcia dessa interveno. A busca de artigos foi realizada nas bases de dados PubMed, Scielo,
BVS, Cocraine Library, Medline e PsyInfo. Consideraram-se
apenas os artigos: (a) publicados entre os anos 2003 e 2013 e
(b) disponveisonlinena ntegra. Identificaram-se 10 artigos,
os quais foram analisados de acordo com as categorias: (a) objetivo do estudo, (b) o modelo de terapia de casal utilizado e
(c) resultados encontrados. Dos dez artigos encontrados, seis
foram de reviso de literatura; os demais incluram estudos
comparativos com outras abordagens. Os resultados indicam
que a TCCA eficaz na reduo do abuso de substncias, pois:
(a) melhora a satisfao na relao do casal, (b) diminui a violncia entre os parceiros e (c) melhora o ajustamento psicossocial dos filhos. No foram encontrados artigos nacionais, o
que demonstra a necessidade de sistematizao e desenvolvimento de estudos a respeito dessa temtica no Brasil.
Faixa etria
Evoluo dos atendimentos
Objetivos
Proporcionar Terapia de Famlia e de Casal para membros da comunidade encaminhados atravs de profissionais que fazem parte de nossa rede de contatos;
Atender as demandas da formaa de nossas alunas,
quer seja no curso regular da formao, quer seja nas
equipes de atendimento ligadas s diferentes atividades
clnicas do CEFAI;
Desenvolver estudo e pesquisas buscando o aprimoramento da prtica clnica.
Grficos
Procura mensal
Derivadores
Atendimento: famlia, casal e individual
Haack KR1, Prati LE2 - 1Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos - PPG - Psicologia Clnica,2Faculdades Integradas de Taquara - FACCAT - Curso de Psicologia
ses e um ano aps o final do tratamento (considerado o perodo mnimo de reinsero psicossocial). Os resultados indicam
que, ao sarem da comunidade, 81,3% participantes consideram o apoio familiar baixo, 16,7% mdio baixo e 2,1% mdio
alto. Aps trs meses de reinsero a avaliao se mantm semelhante, sendo que 87,9% considera o apoio recebido como
baixo e 21,1% como mdio baixo (n=19). Aps um ano de reinsero o quadro no se altera: 66,7% considera o apoio como
baixo e 33,3% como mdio baixo (n=6). Apesar de ter-se uma
perda considervel de participantes, acredita-se que a manuteno da percepo de baixo apoio social indica a pouca participao da famlia no processo de recuperao do DQ. Essa informao relevante para os terapeutas familiares por indicar
um campo relevante de atuao do terapeuta familiar: o fortalecimento de vnculos entre dependente e sua famlia.
Introduo
A Visita dos Avs um importante instrumento de escuta em UTIN. Atravs dela podemos entrar em contato com ge-
raes diferentes de uma mesma famlia e com isso nos aprofundarmos nas questes trazidas ao longo dos atendimentos.
Objetivo:Investigar aspectos da transgeracionalidade e da formao de vnculo entre me e beb internado em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), usando a Visita dos
Avs como instrumento para aprofundar questes surgidas durante o acompanhamento do beb e sua famlia.
Metodologia
Estudo de Caso de um recm-nascido (RN) prematuro
internado na UTIN do Instituto Nacional de Sade da Mulher,
da Criana e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), acompanhado pela equipe de psicologia atravs de atendimentos individuais da me e acompanhamento das avs durante a Visita dos Avs. Devido a sua prematuridade, o baixo
peso que apresentou ao nascer e um quadro de hipoplasia pulmonar, seu tempo de internao foi de 8 meses. Aps esse tempo, recebeu alta. A coleta dos dados se deu a partir dos pronturios clnicos da criana e do livro de registro da psicologia,
com aprovao no Comit de tica em Pesquisa do IFF/Fiocruz sob o nmero 08599512.8.0000.5269.
Resultados
Atravs dos atendimentos da equipe de psicologia e do
acompanhamento durante a Visita dos Avs, observamos que
havia a repetio da gravidez na adolescncia ao longo das geraes da RN, acompanha de um enfraquecimento da figura
masculina pela linhagem predominantemente feminina dessa
famlia e um domnio das avs sobre os netos, impedindo as265
sim que suas filhas assumissem a maternidade e estabelecessem vnculos fortes com seus filhos. A partir dos aspectos
transgeracionais observados ao longo dos atendimentos e na
Visita dos Avs, foi possvel dar a me ferramentas necessrias para a construo do vnculo entre me e filha e, de certa
forma, interromper a cadeia de repeties para as geraes
precedentes.
Consideraes finais
O acompanhamento dos avs durantes as visitas apresenta-se como de extrema relevncia para o psiclogo da UTIN
por possibilitar uma maior compreenso do caso e, consequentemente, auxiliar no direcionamento das intervenes psicolgicas.
Vespoli JCS
A proposta deste trabalho relatar o processo de encontro e as reaes de uma equipe multidisciplinar de sade mental inserida em um contexto ainda tradicional com uma das
correntes de pensamento ps-moderno, as prticas colaborativas.
O CAPS Centro de Ateno Psicossocial um dispositivo pblico que tem como proposta a substituio de internaes psiquitricas. As aes so direcionadas pessoa porta-
Resultados
Atravs de depoimentos colhidos com participantes das
aes selecionadas para esta apresentao, destacamos os
principais aprendizados gerados pelas atividades educativas e
grupos de apoio promovidos pela associao, e discutimos a
contribuio destas aes para o processo de superao e de
capacitao de pessoas com esquizofrenia e familiares, para
ampliar seu lugar social e tornarem-se protagonistas de mudana social.
Procuramos assim ilustrar como temos buscado caminhos para que se construam outras narrativas sobre a doena
mental que proponham lugares novos e ampliados, para que
as pessoas com transtornos mentais desenvolvam autoridade
e autonomia e juntos possamos transformar prticas e abrir
espaos de convivncia entre discursos, limites e necessidades
em uma sociedade em que todos sejam cidados de fato.
267
PT. 42 Construindo Dilogos Sobre Violncia Contra o Idoso na Rede de Aateno Bsica em Sade
Gassert MLRG1, Lopes HS1-1Prefeitura Municipal de So
Paulo - Secretaria Municipal da Sade
268
Este trabalho traz o relato de uma prtica dialgica realizada em parceria da Superviso Tcnica de Sade do MBoi
Mirim com Associao Comunitria Monte Azul, em agosto de
2013 e com a Organizao Social CEJAM, em setembro de
2013. As duas entidades so prestadoras servio municipal de
sade em contratos com Secretaria de Sade de So Paulo.
Convidada para ministrar uma palestra sobre Violncia
Contra o Idoso para profissionais da ateno bsica, propus
uma oficina participativa e dialgica para construo de conhecimento a partir de reflexo das experincias do grupo.
Partindo do Construcionismo Social, escolhi a pedagogia crtica de Paulo Freire para convidar os participantes ao dialogo
sobre o tema e construo de conhecimento local, possibilitando o reconhecimento de foras e potencialidades.
Com objetivo geral de sensibilizar os profissionais para a violncia contra o idoso a oficina teve objetivos especficos:
1. favorecer a construo de conceito de violncia contra
o idoso a partir da realidade dos participantes;
2. favorecer a construo de conhecimento sobre a realidade das Equipes de Sade da famlia (ESF) e de Ncleos de
Apoio Sade da famlia (NASF) em termos de prticas de enfrentamento, redes de ateno e parcerias (territoriais e intersetoriais)
3.levantar experincias que pudessem ser apresentadas,
nas unidades, em outubro de 2013, em comemorao Semana do Idoso.
Os participantes foram divididos em grupos para conversar, por uma hora, sobre:
269
Metodologia
DboraS, DorfmanIZ, Marinonig, RossatoML, DibMA, BerbigierRM, BarrosoRR, LoredoACM, SanchezP, MardiniV, FalcetoO
Introduo
A identificao de pessoas que sofrem de transtornos alimentares, como anorexia e bulimia nervosa, tem sido dificultada pela tendncia dos portadores de ocultar a doena e tambm pelo fato da ditadura da magreza mascarar o que muito mais que modismo.
A relao complicada com a comida e a constante insatisfao com o peso e a forma corporal podem fazer parte de um
quadro de grande sofrimento fsico, psquico e familiar, muitas vezes associado a alto risco de suicdio.
Objetivo
Este pster tem como objetivo mostrar como, atravs de
um atendimento multidisciplinar com base no envolvimento
crack e outras drogas, onde os usurios e seus familiares apresentavam dificuldades de expressar demandas e de acessar ajuda aumentando o risco de agravos. A partir disso a secretaria
de sade do municpio em 2013 realizou parceria com a UNIFESP para juntos realizarem um diagnostico da situao, programar interveno e propostas de continuidade para lidar
com o tema ampliando para preveno e promoo de sade.
A proposta est sendo apoiada pelo Ministrio da Sade, que
viabilizou as aes com 6 profissionais de sade do municpio
que mediaram os encontros, 16 estudantes dos cursos de Enfermagem, Medicina e Farmcia da UNIFESP, 2 tutores. O
grupo alm das atividades programadas na regio com os usurios e seus familiares capacitou profissionais na UBS, realizou preveno nas escolas e tambm pesquisa de campo sobre
o tema onde a famlia foi o foco principal. Os locais de atendimento foram: UBS, CAP Ad, Escolas Estadual e Municipal de
Educao Bsica, Consultrio na rua. Os resultados identificaram prioridades para a ao de preveno e promoo de sade sobre uso e abuso de drogas incluindo as famlias dos envolvidos. Foram beneficiados at o momento 2792 pessoas, criado grupo de multifamilia nas UBS, continuidade das aes de
preveno nas escolas com os familiares, encaminhamento
para tratamento dos usurios e encontro com famlias nos
seus domiclios para busca de estratgias de enfrentamento.
Nas UBS foram realizados cursos de capacitao objetivando
instrumentalizar funcionrios para o acolhimento e atendimento ao dependente qumico e sua famlia. Alem disso, este
trabalho promoveu a possibilidade de extenso universitria
favorecendo aos estudantes de graduao contato com o tema
272
Descrever a atuao do psiclogo na comunicao de notcias difceis aos familiares de uma unidade de terapia intensiva.
Mtodos
Trata-se de um estudo retrospectivo entre os meses de
maro a dezembro de 2013, descrito atravs da residncia em
psicologia de orientao clinica sistmica na UUEA/UTI de
um Hospital-Escola de Curitiba/PR. Os atendimentos foram
realizados juntamente com o profissional mdico diante a comunicao de notcias difceis como falecimento ou agravamento do quadro clnico e procedimentos de alto risco.
Resultado
Foram realizados 265 atendimentos junto com o mdico
do planto com objetivo de transmitir informaes aos familiares de acordo com o quadro clnico que o paciente apresentava, a comunicao de notcias difceis aparece como uma prtica constante quando trabalhamos em uma unidade de terapia intensiva de alta complexidade. Posteriormente as informaes recebidas, sentimentos de medo, estresse, tristeza,
choro, raiva, dvidas so expressados pelos familiares acompanhadas da memria de outras vivncias de sofrimento como o
luto. Permanecer com estes familiares realizando o acolhimento, escuta e organizao na linha do tempo da internao do
enfrentamento vivido possibilita um atendimento gerador de
espao de dilogo com o sofrimento provocado pela doena, o
Uma vez que a notificao de notcias difceis vem acompanhada de medo, ansiedade e estresse tanto na famlia como
na equipe, a atuao em conjunto com a equipe mdica ajuda
a fortalecer na prtica os vnculos dos profissionais com os pacientes e familiares, e dos profissionais com as equipes melhorando a qualidade do atendimento e dos processos de trabalho .
dico progressivo e degenerativo. Esse grupo acontece semanalmente em um grande centro de reabilitao da cidade de So
Paulo.
Foram utilizadas trs das quatro partes da rvore da Vida, tcnica descrita por Ncazelo Ncube e David Denborough
(2008):
rvore da Vida:fornece meios pelos quais as pessoas possam compartilhar suas habilidades, capacidades, esperanas,
sonhos, bem como as formas pelas quais elas reagem s dificuldades.
A Floresta da Vida: possibilita conversas sobre o que todos tem em comum, as suas diferenas e as formas que podemos ajudar uns aos outros pertencendo a mesma floresta.
Quando as tempestades chegam: permite que o grupo
fale sobre as dificuldades que vivenciam, mas de forma no
re-traumatizante.
No presente trabalho pretendo descrever a utilizao das
tcnicas, que se mostraram muito teis pela sua colaborao
com a criao de um contexto em que mes e crianas puderam conversar, por intermdio dos seus desenhos individuais
e posteriormente pela reunio dos desenhos que constituram
a Floresta da Vida. Nessas conversas, historias familiares, habilidades e propsitos dos participantes foram narrados e compartilhados e assim, abriram um espao para a construo de
novos significados e reconhecimentos de seus recursos de enfrentamento.
As imagens do produto final tambm estaro presentes
nesse trabalho.
O ano de 2013 foi o de implementao da Secretaria Especial de Polticas para Mulheres-Rio, SPM Rio, que vem buscando ampliar as aes no mbito das Polticas para as Mulheres,
no municpio do Rio de Janeiro.
O atendimento s mulheres em situao de violncia domstica no Rio de Janeiro segue recomendaes do II Plano
Nacional de Polticas para as Mulheres da SPM, bem como do
Plano Estadual de Polticas para as Mulheres.
Os dados referentes aos atendimentos realizados foram
colhidos e sistematizados com vistas a apresentar uma anlise
estatstica da populao atendida na Casa Abrigo Viva Mulher
Cora Coralina, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, sob
administrao da SPM-Rio ao longo do ano de 2013. A presente anlise abrange o perodo de 01 de janeiro de 2013 31 de
dezembro de 2013. Cabe ressaltar que na data de corte ainda
permaneciam 8 mulheres e 10 crianas.
Metodologia
formaes de cada uma das atendidas (ficha de acompanhamento), tendo o cuidado de preservar o anonimato de cada
uma delas.
Caractersticas das mulheres atendidas
A Poltica Nacional de Atendimento Mulher prev que
os filhos para acolhimento na Casa Abrigo devem ter at 14
anos de idade. No entanto, a equipe tcnica e direo procura
analisar cada caso e viabiliza algumas excees acima da faixa
etria estabelecida, totalizando 82 crianas e adolescentes
atendidos.
Quanto ao atendimento
Foram tabulados os atendimentos mulher e tambm
aos dependentes quando existiam. Observa-se uma atividades
de atendimento e encaminhamentos na ordem de 3.616 ao
longo do ano de 2013, com o atendimento do Servio Social
correspondendo a 37% do total, seguido do atendimento da
Psicologia com 31%.
275
Artigos
Completos
Entre a Obrigao e a
Demanda
Alda Cristina Duarte
Tribunal de Justia de Minas Gerais
Centro Integrado do Adolescente Autor de Ato Infracional
Setor de Atendimento ao Adolescente em Situao Especial
(SAASE)
Belo Horizonte 2014
Resumo
de culpa e punio. Nesse sentido, a concepo do termo obrigao no contexto do cumprimento da medida socioeducativa
constituinte de uma cadeia de significados, como agressor vtima culpa - punio - obrigao. Assim, a concepo da medida socioeducativa tida como obrigao mantm a concepo
de que punir o adolescente o socializa. Pode se dizer que, nessa concepo, a forma de olhar o ato infracional do adolescente advm de uma concepo instituda.
Na perspectiva instituinte, o ato infracional do adolescente visto tambm como um sintoma e como uma comunicao de um desejo de mudana, que pode expandir a compreenso do tcnico quanto s demandas do adolescente no explicitadas e para a extenso dos problemas sociofamiliares.
Considera-se que as distintas percepes do ato infracional do adolescente, entendido como culpa, o que implica uma
obrigao de cumprir a medida, ou entendido, como um sintoma e uma comunicao do sofrimento do adolescente e de sua
famlia, constituem interfaces do mesmo processo: Entre a
Obrigao Demanda.
O adolescente tido como autor do ato infracional e,
como tal, cidado, com direitos e tambm com deveres, inclusive o de responder pelo ato. Nessa perspectiva, promovese o adolescente condio de cidado com uma histria pessoal e familiar e inserido em um contexto sociocultural, no
qual o ato infracional se inscreve. Visto nesse contexto, esclarecedora a voz do adolescente, colocada a seguir.
Citamos aqui a fala de um adolescente dirigida me
dele em uma entrevista familiar: (SAASE, 2007). A me o acu-
Pode-se acrescentar que o baixo poder aquisitivo das classes populares um fator determinante da posio geogrfica
das suas residncias, situadas em locais distantes do trabalho,
com parcos recursos de infra-estrutura, educao, cultura, lazer. Essa situao de precariedade econmica induz os pais a
investir seus recursos no atendimento das necessidades bsicas de sua famlia, relegando ao segundo plano as demandas
socioafetivas dos filhos.
No que tange s questes socioculturais, os pais foram
socializados em contextos tradicionais e reproduzem na intimidade familiar relaes de poder pautadas no excesso de autoridade. Essas relaes so sustentadas pelas relaes de gnero,
de religio, de cor, de classe social presentes no contexto sociocultural. O acesso aos recursos socioculturais como subsdios
de reelaborao dessas questes encontram-se distantes dessas comunidades.
Observa-se assim que, em grande nmero, os pais se apegam a valores tradicionais, buscando nas religies fundamentalistas a sua redeno, e no conseguem flexibilizar, frente s
transformaes, as relaes de poder, no que diz respeito autoridade sem violncia. Percebe-se uma barreira rgida entre
pais e filhos que se afastam, fragilizando o sistema familiar.
No atendimento do adolescente em conflito com a lei e
de suas famlias observa-se constantemente nas interaes familiares um fenmeno sociofamiliar denominado, esvaziamento da autoridade parental.
O esvaziamento da autoridade parental exposto por autores como Figueira (1987), Sarti (2000), Romanelli (2000)
Duarte (2005) e pode ser conceituado como a falta de interna282
284
O pressuposto da permissividade - famlia igualitria, individualista
A famlia vivencia princpios que regem a ordem social
individualista e exprimem dilemas que lhe so inerentes. O indivduo quer ter seus direitos, mas no se submete construo das normas coletivas. Para ele, submeter-se s necessidades coletivas visto como invaso de espao. A partir da dcada de sessenta, questiona-se o papel de submisso da mulher
na famlia e defende-se o direito dela construo de seus projetos individuais.
O pressuposto da autoridade famlia cidad
Sarti (2000) refere-se a uma confuso do conceito de autoridade:
Neste processo de contestao do padro familiar, dos pais sobre os filhos e do homem sobre a mulher, houve uma confuso entre os excessos da autoridade de tipo tradicional e o
exerccio legtimo e necessrio da autoridade na famlia, levando a uma permissividade que tem prejudicado particularmente as crianas, que ficaram sem limites pr-estabelecidos.
(SARTI, 2000, p. 45).
Neste trabalho, adotou-se o conceito de autoridade segundo Ferrater. Trata-se de uma relao de mutualidade, na
qual est presente o princpio de igualdade entre os homens.
A autoridade no consiste na posse de uma fora, mas no direito de exerc-la; e tal direito deriva do consenso daqueles sobre
os quais ela exercida. Sendo assim, somente dos prprios homens e da sua vontade concorde, pode originar-se o fundamento e o princpio da autoridade. (FERRATER, 1984, p. 94).
J na dcada de oitenta emerge um questionamento relaciona-
O objetivo de qualquer instituio social, de qualquer organizao, do ponto de vista tico, a construo da felicidade. No num sentido romntico, mas no de construir
a cidadania, o direito a ter direitos, a ter espao para atuar na sociedade, a ser reconhecido com justia. Justia
igualdade na diferena. Somos diferentes homens e mulheres, crianas e adultos, pretos e brancos, palmeirenses
e corintianos , mas somos iguais em direitos.
A dimenso tica, muitas das vezes, colocada fora das
relaes como se fora alguma norma ou costume que na vida
cotidiana no tivesse sendo observado. Neste sentido, a tica
confundida com moral. Percebe-se ainda que a dimenso tico-politica colocada como se tivesse um lugar definido, devendo os profissionais se postar ao lado da vtima contra o
opressor ou estarem em defesa de uma classe social contra a
outra.
A dimenso ticopoltica no tem lugar preestabelecido
e no se encontra em lugar nenhum, no est fora de ns, no
est pronta, mas est nas relaes entre as pessoas, nas relaes familiares, profissionais e comunitrias, pontua Michel
Foucault.
Em um dos atendimentos no planto do SAASE, a me
de um dos adolescentes solicitou ajuda tcnica alegando que
teria sado de casa por no suportar mais o seu filho que, aliado ao pai, a agredia e a ameaava. Em um dado momento da
entrevista, foi orientada a solicitar ajuda de uma psicloga. Ao
que ela respondeu: No me mandem para o psiclogo. A tcnica reflete sobre sua postura, reconhece a fala da entrevista-
da e, naquele momento, altera o caminho de entrevista, passando a ouvir a histria pessoal dela. Sua narrativa continha
os recursos e as possibilidades, com os quais ela poderia contar, no sentido de proteger-se e esclarecer seu papel maternofilial.
As prticas dialgicas pautadas na dimenso tico-politica demandam no to somente uma transformao das famlias, mas, sobretudo, dos tcnicos, exigindo dele um olhar de
profundidade para si prprio, complexo e amplo, capaz de
compreender a demanda implcita posta pelo adolescente. Assim, acredita-se que no exerccio das prticas dialgicas, referendadas na dimenso ticopoltica da igualdade nas diferenas que a obrigao de cumprir a medida socioeducativa evolui da obrigao demanda em cumpri-la.
Consideraes Finais
Neste artigo, posicionou-se no sentido de conferir visibilidade ao ato infracional do adolescente em conflito com a lei,
como inserido em um contexto sociofamiliar, cultural e poltico. Em razo disso, defende-se que o atendimento ao adolescente em conflito com a lei extrapola a concepo da medida
socioeducativa, vista como punio e obrigao, e abre um horizonte inovador, criativo no qual a igualdade nas diferenas
o norte do processo entre a obrigao e a demanda.
Os tcnicos e tcnicas do Setor de Atendimento ao Adolescente em Situao especial, no exerccio de suas atividades
profissionais, enfrentam muitos desafios, sendo o maior deles
a convivncia com os paradigmas postos pelo Estatuto da Cri287
ana e do Adolescente, como o do adolescente, autor do ato infracional promovido a cidado, sujeito de direitos e deveres.
Por sua vez, os operadores de direito contemplam a objetividade. No entanto, so campos de saber complementares que, mediante prticas dialgicas, acarretam benefcios para os adolescentes e suas famlias, como o fortalecimento da autoridade
parental, a internalizao dos limites pelo adolescente e seu
acesso cidadania.
O processo de tratamento da demanda tem um carter
transformador para o adolescente e sua famlia, contribuindo
para o fortalecimento da famlia no sentido de esta, proteger e
cuidar do filho adolescente.
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ZEHR, H. Trocando as Lentes: um novo enfoque sobre o crime e a justia. So Paulo: Palas Athena, 2008.CONGRESSO
ABRATEF 2014
289
sociais para induzir o esquecimento (represso poltica, manipulao de fatos histricos, censura, etc), no h tcnicas para
induzir o esquecimento pessoal.
O objetivo deste relato de experincia apresentar as
ocorrncias e iniciativas que possibilitaram vir tona histrias
at ento no faladas, gerando uma conversa entre me e filha.
1. Em fevereiro deste ano recebi um email do Grupo de
Trabalho Ditadura e Gnero da Comisso Nacional da Verdade informando que foi criada em novembro de 2011 e que tem
como tarefa deixar registrado para a Histria a represso especfica mulher e de que forma isto afetou suas vidas e/ou deixou sequelas. E acrescentou: com mais de um ano e meio de
funcionamento o primeiro trabalho oficial com esta preocupao. Muitos depoimentos j foram colhidos em So Paulo,
no Maranho e agora a equipe vir ao Rio de Janeiro.
Este email era um primeiro contato para saber se estaria
disposta a testemunhar, informava como ocorreria, quem era
a consultora da Comisso, as datas e caso concordasse me
mandariam um convite oficial.
Levei um susto, fiquei muito emocionada.
Mas... seria este email verdadeiro?
Um encontro com Lia Ganc Psicloga especializada em
trauma e ps-trauma - e Vera Vital Brasil, Psicloga, uma das
responsveis pela Clnica do Testemunho no Rio de Janeiro,
permitiu-me confirmar a veracidade da comunicao virtual.
Nesta ocasio Lia Ganc sugeriu que apresentssemos um trabalho no Congresso.
290
291
Como testemunhar? Como organizar o relato? O que significa relembrar, reviver sentimentos, procurar registros h
muito guardados? Mexendo nos meus arquivos encontrei documentos, cartas, fotos, de quase 50 anos.
3. O Testemunho e outras formas de ao so, sob este
ponto de vista, o ponto de articulao da memria pessoal e
da coletiva.
Marcelo Pakman no seu artigo Subjetividade e a mente
ambgua: tica e esttica da memria analisa: se a memria
continuar sendo apenas pessoal e a testemunha continuar em
silencio, os outros, as vtimas que no so nada alm disso e
no podem falar por si ss, sero esquecidos.
O esquecimento definido aqui como falta de memria
coletiva, no algo que afeta diretamente a memria pessoal
da testemunha, mas algo que afeta a vtima.
Avishai Margalit chama de uma tica da memria: h coisas que merecem ser lembradas coletivamente.
4. Na preparao para testemunhar entrei em contato
com a Clnica do Testemunho:
Os testemunhos pela Verdade constituem uma complexa tarefa que, alm de mobilizar nos afetados a lembrana de
traumas h muito silenciados, costuma produzir intenso impacto nas subjetividades dos envolvidos.
A Equipe Clnico-Poltica do Projeto Clnicas do Testemunho do Rio de Janeiro, apoiada em sua experincia no atendimento aos afetados pela violncia do Estado, oferece um dispositivo de escuta e suporte para a construo e elaborao des-
Em novembro de 1969, no 4 ano de Psicologia, sou desligada da Universidade por 3 anos, incluindo Universidade Pblica ou Privada em territrio nacional. No houve qualquer
possibilidade de defesa. Este desligamento, na prtica, foi de 5
anos, pois antes a Universidade no aceitava de volta os excludos.
O desligamento da Universidade significou que eu no
era mais estudante nem psicloga. O que fazer? Quais os caminhos que se apresentavam? Qual era o contexto poltico?
Houve uma intensa represso ao movimento estudantil.
Os estudantes foram encurralados, e as alternativas eram:
clandestinidade, luta armada ou exilio.
J tinha sido informada que a policia tinha estado na
casa dos meus pais.
Estava vivendo algo que eles no poderiam me proteger.
Os meus pais apesar de terem uma posio favorvel ao
status-quo procuraram me ajudar, mas no tinham como evitar o que estava acontecendo.
Eu teria que decidir o que fazer, para onde ir.
O meu caminho foi o exilio.
6. No vou me deter na descrio do que foi o exlio, mas
vou chamar ateno para alguns episdios importantes:
Saio do Rio de Janeiro e venho para So Paulo onde tive
muito apoio e acolhimento.
E quando vou para o Chile, levo cartas de recomendao
que me apresentavam como estudante de Psicologia, o que me
dava uma identidade: Maria Nilde Mascellani, Madre Cristina
do Instituto Sedes Sapientiae, Maria Aparecida Schoenaker.
Colocar em palavras situaes dolorosas, romper o silncio, foi possvel na medida em que se apresentou um contexto
favorvel, em que fui acolhida com quem fui conversar, o
apoio da Clnica do Testemunho, os cuidados para no retraumatizar, o dilogo com Lia Ganc.
Este acontecimento possibilitou-me reconectar a
vida de perseguio, punio e exlio com a outra
vida construda e estabelecida: profissional, familiar,
social.
A presena da minha filha no Testemunho permitiu que
ela tomasse conhecimento das histrias oficialmente.
Como isto a afetou?
Alguns dias depois, comentou que se poderia imaginar
ouvir um relato de priso, de tortura, mas acabou tendo um
final feliz. Ela se mostrava aliviada. E passou a me perguntar
sobre os acontecimentos polticos do pas.
Bibliografia
A verdade revolucionria testemunhos e memrias de psiclogas e psiclogos sobre a ditadura civil-militar brasileira
(1964-1985). Org. Conselho Federal de Psicologia e Comisso
Nacional de Direitos Humanos. Brasilia, nov.2013
Freitas, A.S. Represso aos estudantes da UFRJ no cenrio
ditatorial. Rio de Janeiro, UFRJ, 2008.
Ganc, L. Perdas e danos so marcas ou acontecimentos da
vida Nova Perspectiva Sistmica, ano 9, n.18, dez.2000
294
68 a gerao que queria mudar o mundo: relatos org. Eliete Ferrer Brasilia: Ministrio da Justia, Comisso da Anistia, 2011.
Paiva, Tatiana Campos Memrias de filhos de militantes e
as heranas polticas de uma gerao. Tese de Doutorado,
Rio de Janeiro, Puc-Rio, 2011.
Pakman, Marcelo Subjetividade e a mente ambgua: tica e
esttica da memria - Nova Perspectiva Sistmica, julho2008, v.31, pag. 9-31.
Clinica do Testemunho do Rio de Janeiro
295
Relaes Familiares,
Psorases, Vitiligo e
Dermatite Atpica: uma
Reviso Integrativa da
Literatura Brasileira
Carmen R.B.Balieiro
Psicloga Clnica pelo CFP. Especialista em Famlias e Casais
(PUC-SP). Membro Titular da ABRATEF e da APTF. Mestre
em Cincias (USP-RP). Professora do Curso de Psicologia da
Universidade Paulista (UNIP-RP) e Coordenadora do Curso
de Ps Graduao em Psicoterapia Familiar e de Casal de Orientao Sistmico-Narrativa da Universidade Paulista de Ribeiro Preto e Campinas.
Luciara Cristina Camargo Silva
Psicloga Clnica e Especialista em Familias e Casais (UNIPRP).
1. Introduo
1.1 Processo Histrico: Famlia
Muitas so as configuraes familiares existentes na sociedade atual. De uma maneira complexa as famlias se relacionam, buscando uma forma de adaptar-se s exigncias do
meio social. As famlias possuem suas particularidades, valores, regras, relacionamentos, comportamentos, entre outras
coisas. A doena no diferente, ela tambm faz parte deste
contexto.
Segundo Biasoli, Alves (2004 apud PRATTA, SANTOS,
2007, p.248) dizem que a famlia, desde os tempos mais antigos, corresponde a um grupo social que exerce marcada influncia sobre a vida das pessoas, sendo encarada como um grupo com uma organizao complexa, inserido em um contexto
social mais amplo com o qual mantm constante interao.
Aris (1981) diz que entre o fim da Idade Mdia e os sculos XVI e XVII, a criana passou a conquistar um lugar junto
aos seus pais, espao este, que anteriormente era confiada a
estranhos. A volta da criana ao lar, o grande diferencial entre a Famlia Medieval e Famlia do sculo XVII. Os adultos
passaram a se preocupar quanto educao, carreira e futuro
desses pequenos seres.
A Famlia do sculo XVII possua uma enorme massa de
sociabilidade que a conservava. Era marcada por grandes casas, sendo centro de relaes sociais, a capital de uma pequena sociedade complexa e hierarquizada, comandada pelo chefe de famlia. J a Famlia Moderna, separa-se do mundo e
ope sociedade dos pais e filhos. Passando a criana a ser a
principal importncia, at mais do que a prpria famlia.
A famlia durante o processo histrico sofreu vrias transformaes. Torres (2000 apud PRATTA, SANTOS, 2007,
296
ria. Nestas condies homens e mulheres atuam mais ou menos de maneira semelhante no mercado de trabalho, passando
a dividir o trabalho domstico e a educao dos filhos.
Com a insero da mulher no mercado de trabalho, Greenberger, Goldberg, Hamil, ONeil& Payne (1989, apud
PRATTA, SANTOS, 2007, p.249) dizem que com este fenmeno acabou provocando mudanas nos padres conjugais e familiares social e culturalmente estabelecidos levando a uma
reorganizao dos papis familiares tradicionais.
Com tudo isso, o terapeuta de Famlia traz consigo um
grande desafio. O desafio de estar atento estas transformaes sociais, para que seu trabalho, e que no seja definido
simplesmente por aplicao de tcnicas, mas tambm um trabalho onde as transformaes sociais sejam levadas em considerao. Assim sendo o trabalho com famlias estar dentro
de uma realidade contextual, o qual leva em considerao a
particularidade do indivduo e de cada sistema familiar, desafio este que prope ao terapeuta de famlia, uma mudana do
seu prprio paradigma.
1.2 Psicossomtica e Epistemologia Sistmica
Para Viana, Barbosa, Guimares (2007), a Epistemologia
Sistmica tm sido chamada a contribuir para o esclarecimento de aspectos relativos a algumas doenas crnicas. A implicao de fatores de ordem familiar na explicao do desencadear, ou do curso, de doenas classificadas como psicossomtica,
ou em que se reconhece a influncia de fatores psicolgicos,
cada vez mais pertinente e vlida dada a investigao j realizada sobre o tema.
Dentro desta epistemologia possvel compreender o
sintoma psicossomtico em suas manifestaes e estabilizao
observando-o no contexto onde ele aparece. Isso pressupe
considerar que o sintoma apresentado comunica em nvel corporal, e esta comunicao feita mediante e para o sistema de
relaes (por exemplo, a famlia) (ONNIS, 1990 apud FERREIRA, MULLER, JORGE, 2006, p. 620).
Segundo Calil (1987, apud FERREIRA, MULLER, JORGE, 2006, p.620) a famlia pode ser compreendida como um
sistema que se auto-regula, definindo o que ou no permitido, e constitui uma dinmica prpria, que ela procura manter
atravs da homeostase.
To importante o modo como a famlia se organiza que
para Viana, Barbosa, Guimares (2007) a maneira como a criana e a famlia enfrentam a doena crnica est associada a
fatores na organizao e interao familiar. Quando o mecanismo regulador do sistema familiar se mostra disfuncional, possui um impacto negativo na vida da criana e da famlia. Este
contexto disfuncional pode, contribuir para agravar o quadro
dificultando a adeso aos tratamentos, a adaptao a doena e
a qualidade de vida das crianas.
Schiller e Roland (2000,1995, apud FERREIRA,
MULLER, JORGE, 2006, p.620) ainda afirmam que a doena
possui uma existncia multidimensional, sendo ao mesmo
tempo, produto e produtor de influncias orgnicas, individuais, relacionais e mesmo transgeracionais, por isso necessrio
298
sibilita um modo de diagnstico psicossocial e permite, tambm, implementar uma metodologia de interveno eficaz.
Este modelo, inicialmente criado como modo de abordagem das doenas psicossomticas foi estendido como recurso para a compreenso, e na interveno de doena crnica na
criana.
Ainda falando de Minuchin e cols (1975, apud BERNARDES E CASTRO, 2010, p. 218) estes descrevem trs modelos
de interao familiar associados somatizao. Na triangulao a criana impedida de se expressar sem apoiar um dos
progenitores e contrariar o outro. Na aliana entre um dos
pais e a criana, este tenta sempre ficar no lado do mesmo progenitor e contra o outro. No desvio, o casal unido, mas encobre seus conflitos com uma postura de proteger ou responsabilizar a criana doente, que vista como o nico problema familiar.
Para Onnis (1990, apud FERREIRA, MULLER, JORGE,
2006, p. 621) props um modelo de entendimento do sintoma
psicossomtico baseando-se em trs pilares: ambiente-famlia-indivduo. levado em considerao que o stress tanto
pode advir da famlia, e da prpria doena quanto do ambiente externo, de qualquer maneira o stress desempenha um papel importante no aumento e na manuteno do sintoma.
As falhas na comunicao em famlias com quadros psicossomticos: os pais costumavam utilizar os sintomas do filho como elo comunicativo de forma rgida. Ou seja, o filho sintomtico torna-se um canal de comunicao entre o casal, visto que, os prprios pais estariam impedidos de definir sua relao de uma forma adequada. Alm disso, estas famlias apre-
300
1.3 A pele
A pele contm mltiplas funes, sendo as principais:
base dos receptores sensoriais, localizao dos mais delicados
de todos os sentidos, fonte organizadora e processadora de informaes, mediadora de sensaes, barreira entre o organismo e ambiente externo, fonte imunolgica de hormnios, parte protetora contra radiaes e leses mecnicas, barreira contra materiais txicos e organismos estranhos, papel importante no controle de presso e fluxo do sangue, produtora de queratina, rgo de absoro de substncia nocivas e outras, rgo implicado no metabolismo de gua e sal pela transpirao, reservatrio de alimento e gua, autopurificadora, entre
outras funes to importantes quanto estas citadas.
Alm destas funes fisiolgicas que a pele desempenha
no corpo humano, Holubar (1989, apud MULLER; RAMOS,
p. 77, 2004), a pele tambm pode ter funo ego-lgica, como
a autoimagem, auto-confiana, e funo ecolgica, que referese as funes mecnicas, fisioqumica, trmica e imunolgica.
O papel fundamental das interaes fsicas entre o corpo
e mente est implicado na relao da me e do beb para a
configurao do self e do objeto, um self corporal sua fundao encontra-se no mbito das experincias somticas e se desenvolve a partir das trocas com o ambiente social, que lhe prov uma matriz simblica significante (FREUD,1923).
O processo de localizao da psique no corpo se produz a
partir de duas direes, a pessoal e a ambiental: a experincia
pessoal de impulsos e sensaes da pele, de erotismo muscular e instintos envolvendo excitao da pessoa total, e tambm
301
Causa um grande impacto psicossocial, pode ser desfigurante, e apresentar de forma negativa na autoestima das pessoas acometidas, no leva a incapacidade funcional (SILVA;
GONTIJO; PEREIRA; RIBEIRO, 2007).
sendo assim esta pode ser compreendida como uma dificuldade de simbolizao e verbalizao dos sentimentos (NETO;
WEBER; FORTES; CESTARI, 2006).
2. Objetivo
O presente estudo retrata parte de uma pesquisa realizada na Universidade Paulista de Ribeiro Preto como exigncia
parcial do curso de Ps Graduao em Psicoterapia Familiar e
de Casal de Orientao Sistmica Narrativa, para o ttulo de
especialista na rea clnica de Famlias e Casais.
E tem por objetivo principal, compreender a relao existente entre as relaes familiares, psorase, vitiligo e dermatite
atpica, por intermdio de uma reviso integrativa da literatura brasileira.
3. Procedimento Metodolgico
Em Broome (2000), so vrios os tipos existentes de revises publicadas em peridicos, livros ou manuscritos, estes podem variar em objetivos, campo do conhecimento, profundidade do conhecimento, extenso e organizao do material. Revises da literatura podem ter muitas formas incluindo: (1) sinopses abreviadas da literatura; (2) revises tericas e metodolgicas; (3) anlises crticas; (4) revises integrativas; e (5) metanlises. Esses vrios tipos apresentam alguns aspectos em
comum, porm objetivos diferentes. Por exemplo, revises tericas, frequentemente, incluem uma anlise histrica do estado da cincia, j as metanlises examinam a eficcia de inter302
veno. A metanlise um caso especial da reviso integrativa, pois determina a eficincia da interveno estudada (BALIEIRO, 2009).
A forma de obter conhecimento nesse estudo ser com
enfoque na reviso da literatura. Mas para o desenvolvimento
deste estudo ser utilizado procedimentos da reviso integrativa para facilitar o processo de sntese dos dados obtidos sobre
o conhecimento do fenmeno a ser estudado. A reviso integrativa assim como a reviso de literatura, permite incluir diversos tipos de estudos e metodologias, como a pesquisa experimental e no-experimental, e possui um potencial para desempenhar papel relevante na prtica baseada em evidncias
(WHITTEMORE; KNAFL, 2005).
Ao realizar a reviso da literatura de forma rigorosa e sistemtica, produz-se conhecimento especfico e especializado,
possibilitando, dessa forma, ao profissional da rea de sade,
acesso rpido a resultados relevantes que fundamentem as
condutas profissionais ou as decises tcnicas relacionadas ao
seu campo de atuao (ROMAM; FRIEDLANDER, 1998).
4. Desenvolvimento do Estudo
4.1 Questes Norteadoras da Pesquisa Bibliogrfica
Como as relaes familiares esto sendo consideradas
nos estudos sobre psorase, vitiligo e dermatite atpica?
303
do corpo. Esta uma rea da medicina que vem se desenvolvendo cada vez mais, por tentar considerar o homem como
um ser complexo aonde a patologia vai alm de um aspecto fisiolgico, mas tambm possui o aspecto emocional.
Segundo Luz (1988, apud FERREIRA; MULLER; JORGE
2006, p. 619) a doena e a sade possuem ao mesmo tempo
duas dimenses, uma dimenso biolgica e uma dimenso social. A dimenso biolgica refere-se aos fenmenos identificveis ao nvel corporal com caractersticas fisiolgicas prprias.
A dimenso social refere-se ao fato de o ser humano precisar
construir um sistema representativo sobre doena para que
possa se apropriar dela, pois adoecer um fenmeno histrico
e cultural.
Ao longo da histria o processo do adoecer foi sofrendo constantes alteraes. Atualmente atender um portador de alguma
enfermidade requer dos profissionais da sade, mais do que
um saber fisiolgico, mas tambm levar em considerao toda
a dimenso que o portador da doena est envolvido seja social, emocional e espiritual.
Muller e Koo; Lebwhol (2002, 2001 apud MULLER; RAMOS 2004, p,77) afirmam que a Psicodermatologia uma
rea que vem integrando o trabalho de mdicos e psiclogos
na busca por um melhor entendimento das doenas de pele.
Da a importncia do trabalho multidisciplinar para que
juntos os profissionais da sade possam ir alm de suas vaidades e construir um sistema de sade integrado visando no s
o tratamento das enfermidades, mas tambm o sistema primrio de sade, que visa a preveno de doenas.
307
A partir dos resultados obtidos neste estudo, pde-se perceber a importncia da incluso da famlia no processo de sade e doena do indivduo, uma vez que todas as doenas dermatolgicas aqui estudadas esto vinculadas a um aspecto
emocional do indivduo. Considerando que a famlia pertence
a uma das redes de relaes mais prximas do portador da doena, e que esta est diretamente ligada aos sentimentos, comportamentos e emoes favorvel que este subsistema possa
ser includo no tratamento de pacientes com doenas psicossomticas.
Apesar da importncia das relaes familiares neste processo, ainda raro os estudos que buscam um olhar para essa
rede de relaes, principalmente quando se trata de uma epistemologia que ainda nova no mundo cientfico. As resistncias paradigmticas existem, e isso acaba tendo e oferecendo
limitaes na forma de compreender um determinado fenmeno.
Este estudo ilustra a raridade no mundo cientfico, podendo de alguma forma incentivar que estudiosos da Terapia
Familiar Sistmica possam desenvolver maiores estudos a respeito de como as dinmicas das famlias contribuem para o
surgimento ou manuteno de determinada patologia.
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310
Transtorno Alimentar,
Obesidade e Relaes
Familiares: Reviso
Integrativa da Literatura
Brasileira
Carmen R.B.Balieiro
Psicloga Clnica pelo CFP. Especialista em Famlias e Casais
(PUC-SP). Membro Titular da ABRATEF e da APTF. Mestre
em Cincias (USP-RP). Professora do Curso de Psicologia da
Universidade Paulista (UNIP-RP) e Coordenadora do Curso
de Ps Graduao em Psicoterapia Familiar e de Casal de Orientao Sistmico-Narrativa da Universidade Paulista de Ribeiro Preto e Campinas.
Lgia Maria Dacunto Prado
Psicloga Clnica e Especialista em Familias e Casais (UNIPRP).
1 Introduo
1.1 Relaes Familiares
Sendo assim a famlia deixa de ser considerada como nica fonte etiolgica da doena e passa a ser vista como continente do sofrimento vivido pela famlia que tem um de seus membros doente. A maioria dos estudiosos dos transtornos alimentares sugerem, como sendo multifatorial, e por ser desta ordem, necessitam de um olhar multiprofissional, abrangente e
capaz de envolver fatores psicolgicos, socioculturais familiares e biolgicos no tratamento.
NICOLETTI, M. et al., (2010), discursa ainda mais sobre
os representativos trabalhos de Salvador Minuchin nos EUA,
e de Mara Palazzoli, na Itlia, os quais incorporam a famlia
no tratamento multidisciplinar destas patologias, principalmente no que diz respeito sobre o papel de evitao e preveno de conflitos que o transtorno alimentar desempenharia no
ncleo familiar, instalando-se como uma tentativa de manuteno do equilbrio na famlia.
Sendo assim a famlia ganha um lugar de destaque no tratamento, o que justifica os diversos estudos para incluir a famlia de forma mais efetiva no tratamento dos transtornos alimentares. Aconselham ainda a incluir grupos de suporte familiar e grupos psicoeducativos para as famlias e equipe multidisciplinar para promoverem um contato maior entre os profissionais das diversas especialidades com o intuito de ter um
conhecimento mais amplo do funcionamento familiar, e que
seria de grande auxlio nas condutas adotadas com cada famlia.
A famlia considerada, portanto como parte importante
nos processos que envolvem os transtornos alimentares e as
relaes familiares como aponta Morgan; Vecchiatti; Negro
312
entes com transtornos alimentares, um desafio para os profissionais da rea da sade em geral devido complexidade
com o que se apresentam. E tambm pelo o que afetado diretamente ou indiretamente, em todas as reas: fsica, psicolgica, social, cultural, e econmica.
Fica evidente a necessidade de um trabalho multidisciplinar, no que descreve Silva, L; Santos, M (2006). Nesse sentido, como preconiza a literatura, o trabalho em equipe multidisciplinar enseja a oportunidade de se construir uma viso global de cada caso mediante uma interlocuo entre os diferentes profissionais envolvidos no seguimento teraputico, contribuindo para alcanar um melhor prognstico para os pacientes e deter o curso crnico a que frequentemente esses transtornos tendem.
A sistematizao do trabalho integrado da equipe tambm contribui para o avano dos tratamentos nesse campo de
interveno em sade. A compreenso ampliada evidencia um
tratamento diferenciado: [...] mais se aproxima do olhar da
complexidade que caracteriza os cuidados em sade, como resposta crescente compartimentalizao do saber, numa tentativa de superao do enfoque biomdico, curativista e fragmentado que tem sido adotado no tratamento dos transtornos alimentares (SILVA, L. ; SANTOS, M. A, 2006) .
Adotar uma postura de corresponsabilidade, capazes de
criar vnculos com estas famlias e integrar a equipe interdisciplinar na compreenso da complexidade que envolve o processo sade-doena, numa tentativa de superao do enfoque biomdico, remediativo e fragmentado.
313
O termo anorexia deriva do grego orexis (apetite) acrescido do prefixo AN (privao, ausncia). Anorexia Nervosa, que
significa perda de apetite de origem nervosa, no a denominao adequada, considerando-se que pelo menos no inicio do
quadro, h uma luta ativa contra a fome (NUNES, M.A et al,
1998).
BELL, 1985 (apud NUNES, M.A et al, 1998), descreve a
vida de duzentas e sessenta santas e beatas da Igreja Catlica
em suas prticas de jejum religioso a partir do sc XIII. A
mais conhecida delas Catarina de Siena (1347 1380), que
aos quinze anos, aps a morte de uma irm, passou a comer
pouco e a ocupar muito do seu tempo rezando. Nessa poca
seus pais comearam a procurar-lhe um marido, ao que Catarina respondeu com intensificao do ascetismo e da religiosidade. Cortou os cabelos, passava longos perodos meditando e
autoflagelava-se secretamente. Com o transcorrer do tempo,
passou a comer apenas um punhado de ervas e ocasionalmente colocava galhos na garganta para vomitar, quando era forada a se alimentar.
Alegava sentir-se mais forte e mais prxima de Deus estando em jejum. Catarina veio a falecer por desnutrio aos
trinta e dois anos. O jejum e a negao as necessidades corporais por essas mulheres, eram prova de devoo a Deus, significando que haviam encontrado outra forma de comida: a reza e
a eucaristia. O mesmo autor defende que a anorexia sagrada
psicologicamente anloga a anorexia moderna pois o autor
entende que em ambas h um conflito de identidade, uma tentativa de libertao feminina de uma sociedade patriarcal.
Alguns autores discordam desta analogia por considerarem que os relatos religiosos da idade mdia tem valor questionvel em termos de descrio mdicas SILVERMAN, 1992
(apud NUNES, M.A et al, 1998). HABERMAS, 1898, (apud
NUNES, M.A et al, 1998) acredita que o aspecto principal que
no permite a equivalncia entre a anorexia nervosa e a anorexia sagrada o critrio diagnstico central, medo mrbido de
engordar, ausente nestes relatos mais antigos.
Descreve ainda que a primeira descrio da anorexia nervosa como entidade nosolgica definida dividida entre o mdico ingls Sir Willian Gull e o psiquiatra francs Ernest Charles Lasgue no ano de 1868 e 1873 respectivamente. O primeiro apresentou durante um encontro da British Medical Association, em Oxford, a descrio do quadro clnico comum a trs
jovens entre 14 e 16 anos, que denominou inicialmente apepsia histrica, passando mais tarde, em 1874, a empregar o termo anorexia nervosa.
O segundo, conhecido pela preciso
de suas descries clnicas, publica na Frana, nos Archives
Generales de Mdecine, um texto que constitui um marco decisivo na histria do conhecimento psicopatolgico sobre anorexia. Lasgue vai alm da acuidade na descrio dos casos e
acrescenta comentrios valiosos sobre o manejo do tratamento, particularmente do que concerne a relao com o terapeuta e com a famlia (FERNANDES, 2007).
Atualmente, a compreenso terica, assim como o tratamento desses casos, permanece um desafio, que exigir cada
vez mais de investimentos dos profissionais nas abordagens
315
mltiplas. O que veremos a seguir so definies que no esgotam o conhecimento acerca destes quadros.
A anorexia nervosa um tipo de transtorno alimentar caracterizado pela recusa deliberada do indivduo em se alimentar, pelo medo mrbido de engordar alm de uma profunda
distoro na imagem corporal. O indivduo anorxico preocupa-se excessivamente com a alimentao e com um ganho de
peso irreal, que lhe causa sofrimento subjetivo intenso (CORDAS et al, 2002).
gordas". Eles podem empregar uma ampla variedade de tcnicas para estimar seu peso, incluindo pesagens excessivas, medies obsessivas de partes do corpo.
A autoestima dos indivduos com Anorexia Nervosa depende em alto grau de sua forma e peso corporais. A perda de
peso vista como uma conquista notvel e como um sinal de
extraordinria autodisciplina, ao passo que o ganho de peso
percebido como um inaceitvel fracasso do autocontrole. Mesmo quando reconhecem que esto magros, negam as srias implicaes de seu estado de desnutrio, portanto frequentemente encaminhada a ateno profissional por membros da
famlia, aps a ocorrncia de uma acentuada perda de peso.
fluenciada pela forma e peso do corpo. Para qualificar o transtorno, a compulso peridica e os comportamentos inadequados devem ocorrer, em mdia, pelo menos duas vezes por semana, durante trs meses de acordo com o DSM IV TR, j
para o DSM DSM-V a exigncia cai para uma vez por semana, por trs meses.
Uma compulso peridica definida pela ingesto, em
um perodo limitado de tempo, de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria dos indivduos consumiria sobre circunstncias similares, considerando o contexto. Entretanto, as compulses peridicas parecem caracterizar-se mais por uma anormalidade na quantidade de alimentos consumidos do que por uma avidez por determinados nutrientes, como carboidratos.
Os indivduos com Bulimia Nervosa normalmente se envergonham de seus problemas alimentares e procuram ocultar
seus sintomas. As compulses peridicas geralmente ocorrem
em segredo; e tipicamente desencadeada por: estados de humor disfrico, estressores interpessoais, intensa fome aps restrio por dietas, ou sentimentos relacionados a peso, forma
do corpo e alimentos.
A falta de controle no mais aparece, os indivduos podem afirmar que seus episdios compulsivos no mais se caracterizam por um sentimento agudo de perda do controle,
mas sim por indicadores comportamentais de prejuzo do controle, tais como dificuldade em resistir a comer em excesso ou
dificuldade para cessar um episdio compulsivo, uma vez iniciado.
318
Outra caracterstica essencial o uso recorrente de comportamentos compensatrios inadequados para prevenir o aumento de peso: induo de vmito aps um episdio de compulso peridica, incluindo o uso dos dedos ou instrumentos
para estimular o reflexo de vmito. Os indivduos em geral se
tornam hbeis na induo de vmitos e por fim so capazes de
vomitar quando querem. Os efeitos imediatos desta tcnica incluem alvio momentneo do desconforto fsico e reduo do
medo de ganhar peso.
Comportamentos purgativos incluem o uso indevido de
laxantes e diurticos.
Comportamentos compensatrios:
os exageros nas atividades fsicas aps a compulso para evitar o ganho de peso, ou seja, as atividades realizadas quando o
indivduo j chegou a exausto ou est lesionado ou quando
interferem em outras atividades importantes. Podendo ocorrer que o indivduo jejue um dia ou mais para compensar a
compulso alimentar.
1.3.3 Tipos de Bulimia
Tipo Purgativo: Envolvimento regular na auto-induo de vmito ou no uso indevido de laxantes, diurticos entre outros.
Tipo No Purgativo: Uso de outros comportamentos compensatrios inadequados, tais como jejuns ou exerccios excessivos, mas no se envolveu regularmente na auto-induo de vmitos ou no uso indevido de laxantes, diurticos, entre outros.
1.3.4 Caractersticas e Transtornos Associados
so suficientemente severas para constiturem problemas clinicamente srios. Complicaes raras, porm fatais, incluem
rupturas do esfago, ruptura gstrica e arritmias cardacas.
1.4 Obesidade
No DSM-IV a obesidade no aparece fazendo parte da categoria de transtornos alimentares. Na Classificao Internacional de Doenas (CID) enquadrada como uma condio mdica geral. Entretanto o DSM IV sugere que, quando existem evidncias da participao de fatores psicolgicos na etiologia ou curso de determinado caso de obesidade, esta pode
ser includa no item - fatores psicolgicos que afetam a condio mdica.
1.4.1 Caractersticas Diagnsticas
A obesidade considerada uma sndrome multifatorial
na qual a gentica, o metabolismo e o ambiente interagem, assumindo diferentes quadros clnicos, nas diversas realidades
socioeconmicas. Atualmente, considerada uma condio de
elevada prevalncia, que suscita a ateno do clnico, do pesquisador, assim como dos que trabalham na rea social e sanitria (CATANEO et al, 2005).
1.4.2 Caractersticas e Transtornos Associados
A Organizao Mundial da Sade OMS (1998) define a
obesidade como o excesso de gordura corporal acumulado no
corpo humano, ocasionando diferentes consequncias sade. Constitui uma doena crnica, caracterizada pelo excesso
de gordura no corpo, que repercute em prejuzos sade global das pessoas (MINISTERIO DA SADE, 1999)
Reitera-se que, associado obesidade, alguns indivduos
apresentam sinais de sofrimento psquico e requerem assistncia quanto a isto. Do ponto de vista psicolgico, h que se enfatizar que ao se lidar com o problema da obesidade preciso
ateno especial ao ambiente de suas famlias e esta no
uma tarefa simples que se impe ao profissional. Cumpre buscar entender que fatores individuais, alm dos ambientais, promovem esta mudana.
1.4.3 Percepo de si mesmo
A obesidade est relacionada a fatores psicolgicos,
como o controle, a percepo de si, a ansiedade e o desenvolvimento emocional. Em relao percepo de si, o que a pessoa pensa sobre si mesma importante no que diz respeito
satisfao que extrai de sua vida e das atividades que realiza,
sendo um fator de risco ou de suporte para sua sade mental.
No resta dvida de que esses critrios citados acima, podem ser teis no mbito da pesquisa, onde se faz necessrio
buscar um mnimo de concordncia na utilizao dos termos
que definem as entidades nosogrficas com as quais a psiquiatria trabalha, no mbito da clnica que os limites dessa classificao se mostram evidentes. (FERNANDES, 2007).
Desafiando qualquer tentativa de categorizao, a clnica
nos mostra uma grande quantidade de casos, que por no
preencherem todos os critrios exigidos, no se enquadram
nos diagnsticos; no entanto, os pacientes seguem adiante
320
com seus sintomas, seu modo de funcionamento, a singularidade de suas histrias subjetivas e seu sofrimento.
Portanto, na prtica estes casos to complexos, requerem
um trabalho profissional, que leve em considerao, no s os
critrios diagnsticos estabelecidos, como tambm os processos estruturais e histricos de cada caso, considerando o contexto complexo.
Desta forma Fernandes (2007), reflete sobre os impasses
teraputicos diante da gravidade dos transtornos alimentares:
[...] pela gravidade que os transtornos alimentares tem levado
diversos autores do campo psiquitrico a insistir na necessidade de uma formulao terica mais ampla dos processos psicopatolgicos envolvidos no aparecimento destes. Muitas so as
indicaes para o tratamento, porm ainda uma incgnita
para as diversas reas da sade.
Pela complexidade, pela forma como aparece os T.A e a
obesidade, ora como um fator isolado, ora por algum motivo
dentro ou fora da famlia, e ficar ainda parado no modelo mdico tradicional, entendo que uma forma de se amparar diante da complexidade que se apresenta.
Podemos considerar um risco de permanecer o enfoque
tradicional e paralisar as aes para outros resultados, pelo
medo de se lanar em novas condutas frente ao problema de
alta complexidade. Percebe-se aqui a necessidade de evidenciar estudos cientficos, que d embasamento para a atuao
dos profissionais e cuidados oferecidos em sade.
2. Objetivo
O presente estudo retrata parte de uma pesquisa realizada na Universidade Paulista de Ribeiro Preto como exigncia
parcial do curso de Ps Graduao em Psicoterapia Familiar e
de Casal de Orientao Sistmica Narrativa, para o ttulo de
especialista na rea clnica de Famlias e Casais.
E tem por objetivo principal, compreender a relao existente entre transtornos alimentares, obesidade e relaes familiares por intermdio de uma reviso integrativa da literatura
brasileira.
3. Procedimento
A forma de obter conhecimento nesse estudo foi com enfoque na reviso integrativa da literatura. A reviso integrativa assim como a reviso de literatura, permite incluir diversos
tipos de estudos e metodologias, como a pesquisa experimental e no experimental, e possui um potencial para desempenhar papel relevante na prtica baseada em evidncias (WHITTEMORE; KNAFL, 2005).
Ao realizar a reviso da literatura de forma rigorosa e sistemtica, produz-se conhecimento especfico e especializado,
possibilitando, dessa forma, ao profissional da rea de sade
acesso rpido a resultados relevantes que fundamentem as
condutas profissionais ou as decises tcnicas relacionadas ao
seu campo de atuao (ROMAM; FRIEDLANDER, 1998).
3.1 Desenvolvimento do Estudo
Foram aplicados os passos da reviso integrativa, a saber:
321
(2007), utilizado e adaptado por BALIEIRO (2009) e adaptado para este trabalho (APNDICE A), que contempla os seguintes itens: I identificao, II - introduo e objetivos, III
- caractersticas metodolgicas, IV- resultados encontrados e
V concluso.
3.7 Anlise dos dados
Aps a coleta dos dados, foi realizada leitura exaustiva
dos artigos coletados, buscando identificar quais as relaes
existentes entre transtornos alimentares e relaes familiares
apontados pelos autores. A partir da anlise do contedo, foram identificadas sete categorias relacionadas a relao existente entre transtornos alimentares e relaes familiares.
4. Discusso dos Resultados
O presente estudo teve como objetivo principal identificar a relao existente entre transtornos alimentares e relaes familiares por intermdio de uma reviso integrativa da
literatura brasileira. Em resposta ao objetivo, utilizou-se a seguinte pergunta norteadora: Qual a relao existente entre
transtornos alimentares e relaes familiares? Constatou - se
a necessidade de desenvolver estudos mais consistentes baseado em nvel de evidencia que possibilite uma qualificao e
norte eficaz aos profissionais interessados neste tema to complexo.
5. Consideraes
Considerando os resultados obtidos neste trabalho, observa-se um enfoque na rea mdica sobre os transtornos alimentares, sendo a rea mdica, que apresentou maior nmeros de
322
trabalhos publicados. notvel que a etiologia dos transtornos alimentares, assumiu outro papel nas investigaes, ou
seja, de mudana no objeto de estudo, deixa de ter um olhar
etiolgico (centrado nas causas das doenas) e passa a ter um
olhar mais centrado nas solues e relaes, na busca de entendimento sobre os transtornos, superando assim o enfoque
biomdico, remediativo e fragmentado.
Diante de tais mudanas, considera-se todos os apontamentos como sendo de natureza negociveis, e no construes prontas e finalizadas, principalmente aos achados em relao ao contexto onde ocorrem os transtornos alimentares e
os fatores que os mantm, dificultando os resultados para o
tratamento. Foi possvel compreender que a aceitao da prpria imagem corporal, baixa autoestima, reconhecimento da
doena, estrutura familiar, entre outros fatores relacionados
ao paciente e a famlia, aparecem ora como predisponentes,
ora como mantenedores dos transtornos alimentares.
A falta do reconhecimento da doena por parte da famlia e paciente pode retardar o inicio do tratamento, contribuindo para o agravamento do quadro. Outros fatores como a estrutura familiar, dificuldade da famlia no manejo dos conflitos, no saber lidar com a doena ou com o paciente, pode gerar na famlia sentimentos de impotncia, medo, tristeza e culpa. Um cuidado que se deve ter no discurso da psicopatognese familiar que traz como uma de suas consequncias a construo da culpa da famlia pela doena do filho.
E a nfase na atribuio da culpa, que diferente da responsabilidade, ou melhor, da corresponsabilizao pelos cuidados necessrios diante do transtorno alimentar de um filho
(SOUZA et al., 2010). Observa-se a importncia das relaes,
nomeadamente, as familiares, para manuteno ou para resoluo do problema (ARAUJO et al., 2011). Sendo assim, a famlia como contexto social imediato do sujeito: simultaneamente passvel de promover a manuteno do sintoma ou de contribuir para sua resoluo. Outros fatores como possveis mantenedores dos transtornos, so as relaes familiares pautadas
na dificuldade de diferenciao entre os membros familiares,
presena de situaes que coloca o paciente como bode expiatrio de diferentes fracassos vividos por membros da famlia,
a presena de um mito familiar que no pode ser revelado ou
segredo familiar que causa intenso estresse familiar.
Os mitos e as lealdades familiares, esto presentes na
constituio destas patologias, sendo representadas como herana e cumplicidade dentro das relaes familiares, assumindo sentido e significado para o transtorno alimentar. Dificuldades que demonstram o processo de diferenciao vivenciada
ocultamente como uma ameaa aos processos identificadores
do grupo familiar.
Considerando tambm os processos familiares alterados, definido como um sistema familiar disfuncional, e dificuldades relacionais, separaes, e a falta de consistncia nas
respostas dos pais a doena, como um fator mantenedor dos
transtornos. No que diz respeito a concepo das famlias acerca dos transtornos, a maioria dos estudos demonstraram a difi323
culdade que a famlia tem de entender, ou lidar com a situao e que coloca em risco o paciente e todo o sistema familiar
do qual ele faz parte.
O fato de negar a doena, dificuldade de reconhecer a
dor do paciente, ou o foco na doena, que aprisiona o paciente
no lugar de doente, as dificuldades que a famlia tem de perceber que est diante de um problema, ou seja, o reconhecimento da doena por parte da famlia e a restrio nas relaes interpessoais e sociais, por preconceito ou discriminao ou por
simplesmente no compreenderem os fatores relacionados ao
transtorno pode ocasionar significativa carga psicolgica.
Sendo assim, nos remete a observar que diante deste
novo paradigma de cuidado que se apresenta, independente
da instancia que se dar o cuidado, o profissional precisa estar
preparado, com conhecimentos especficos, abertura a novas
habilidades, principalmente ao lidar com o paciente e seu contexto familiar.
No entanto, em todos os estudos, promovidos pela rea
mdica, psicolgica e educacional, a famlia foi considerada e
includa em todas as modalidades teraputicas, sendo a terapia familiar, intervenes em grupos de familiares ou de pais
de pacientes, intervenes na famlia de pacientes, grupos de
apoio as famlias, grupo de apoio psicolgico aos familiares,
recomendando complexas intervenes de reestruturao da
personalidade e da dinmica familiar, considerando a colaborao intensa e integral da famlia.
Diante do que foi analisado, pode-se perceber a importncia que uma atuao apoiada na perspectiva sistmica tem
para esta demanda, onde o paciente representa apenas uma
parte de um todo, e ele deixa de ser considerado um elemento
isolado do grupo familiar. Esta compreenso terica possibilita uma reavaliao na conduta dos profissionais ampliando as
questes familiares no processo de mudana.
Os estudos evidenciaram a participao da famlia como
processo no tratamento dos transtornos alimentares, a necessidade de construir intervenes que d voz aos membros dessas famlias, no apenas para compreenso dos transtornos,
mas como fundamental para a promoo de mudanas no paradigma de tratamento oferecido pelos profissionais da sade.
Diante desta realidade imposta pelos transtornos alimentares, necessrio um espao de troca entre a famlia, o paciente e os profissionais. Interveno que promoveria a mudana, auxiliando os membros das famlias a sarem do lugar de
impotncia e culpa. Importante perceber que a assistncia
prestada aos pacientes, deva incluir a famlia desde o diagnstico e em todas as intervenes futuras.
Podemos entender o que diz Souza et al., (2010) ao falar
da participao da famlia no tratamento: [...] como um espao que permite no apenas a apropriao de saberes e fazeres
relacionados aos modos de os familiares conviverem com o
transtorno alimentar, mas, sobretudo, como uma arena de
construo permanente de novos sentidos possveis sobre o
processo sade-doena e de novas redes de apoio social.
324
Sendo assim, a interveno familiar chega para estas pacientes como uma proposta que possibilita avaliar este sistema
e suas relaes familiares no tratamento dos transtornos, ao
serem acolhidas, compreendidas em suas histrias, sofrimentos, conflitos, crenas, valores entre outros. Principalmente
quando o profissional encontrar nestes pacientes e suas relaes, uma dinmica, ou um funcionamento que promova a manuteno dos transtornos alimentares, tendo em seu aparato
condies para promoo de mudanas junto com as famlias
dos pacientes.
Em suma, apesar das limitaes no nvel de investigao
das relaes existentes entre os transtornos alimentares e relaes familiares, pode-se considerar este estudo como uma
tentativa de olhar para este problema como um processo, que
possibilite a reavaliao sobre a incluso da famlia no tratamento de pessoas com transtornos alimentares, visto que a famlia possui uma funo de grande valor e de suma importncia no tratamento dos transtornos alimentares.
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328
Os Aspectos Destrutivos da
Dependncia nas Relaes
Amorosas
Cristiane Souza de Andrade Silva
Psicloga, Especialista em Gesto Social e Terapia familiar
pelo LIBERTAS, Especialista em Sade Pblica Sade Mental
e Dependncia Qumica pela ESUDA. Email:
[email protected]
Resumo
O presente artigo tem como ponto de partida analisar os
aspectos destrutivos da dependncia amorosa. Pretendemos
fazer uma explanao sobre a dependncia afetiva desde seu
processo de formao at suas repercusses na vida do individuo. Consideramos relevante falar sobre um tipo de amor que
provoca, para muitos, sofrimento psquico, ansiedade e que
em muitas situaes preenchem sesses de psicoterapia e mudana de uma rotina funcional para uma disfuncional. Dentro
da mesma linha temtica falaremos do apego como objeto de
vinculao e uma das principais causas da formao da dependncia. Defenderemos que um vnculo mal formado com a
principal figura de apego na infncia traria transtornos nos relacionamentos na vida adulta. O vicio afetivo possui caractersticas como qualquer outra adico e para isso precisa de um
olhar individualizado, diferente de outras patologias. Abordaremos complementarmente os processos que envolvem a idealizao do amor e como esto associadas dependncia afetiva. No temos a pretenso de analisar com efeito de julgamento os efeitos de um amor dependente, lembramos antes disso
que, em muitos casos a dependncia nico recurso que o sujeito pode lanar mo em detrimento de sua sade psquica.
Palavras-chave: Dependncia afetiva Apego - Adico
Idealizao amorosa.
O tema para este artigo surgiu da inquietao sobre alguns modelos conflitantes de relacionamentos amorosos e os
fatores que levam os parceiros a fazer as escolhas com quem
se vincularo afetivamente. Para isso, utilizaremos como ponto de partida a dependncia afetiva que revela como o indivduo se apia e confia no outro para sua existncia e, portanto,
possui uma referncia disfuncional. Sabemos que construmos
nossa afetividade desde o momento primrio, no relacionamento profundo entre me e filho nas primeiras fases da vida,
e que qualquer quebra nessa relao pode influenciar negativamente na forma como o sujeito ir se relacionar com o outro.
A dependncia afetiva um dos fatores que fazem os consultrios psicolgicos estarem abarrotados. Nem sempre as pessoas conseguem lidar com o fato de estar s e vem no outro a
esperana, mesmo que a relao esteja completamente fadada
ao insucesso e o rompimento eminente. O apego acaba gerando mais sofrimento e um gasto dispendioso de energia, transformando os relacionamentos no mal do amor. Defendere329
330
H pessoas que fusionam em excesso com o companheiro e vivem uma dependncia extrema, porque provavelmente viveram uma separao ou uma relao
muito curta com a me durante esse momento inicial.
Vivem nos relacionamentos atuais, um deslocamento de
afetos maternos com todas as conseqncias a que isso
leva, tanto no tempo da relao como nas separaes,
que tendem a ser drsticas e avassaladoras, levando
violncia, depresso e conexo com o medo de perder sua prpria sensao de ser algum no mundo, separado do outro. (MARTINS, 2009, p.278)
Riso (2011) j dizia que depender de uma pessoa que se
ama uma forma de se enterrar na vida, ofertamos deliberadamente nosso amor-prprio a algum. Quando a dependncia
est presente, um ato de carinho, na verdade, vem embutida a
expectativa de retribuio eterna, idia de que a pessoa est
sempre em falta e a necessidade de querer sempre mais, pois
por mais que se receba, sempre parece ser insuficiente.
Quando uma criana cresce, sentindo que a manipulao
necessria para obter o que quer, cria-se uma situao lamentvel. Quando adulto, pode se tornar envolvido numa teia
intrincada de ameaas veladas e poses de desamparo. O mais
triste que sempre nos sentimos desolados no intimo. Quando conseguimos alguma coisa de maneira indireta, essas vitrias so vazias, e no aumentam nossa confiana e amor-prprio.
Padres de comunicao que as crianas aprendem no
incio do desenvolvimento so maravilhosamente teis e apro-
priados as situaes correntes da vida. Mas, de um modo geral, surgem problemas quando solues antigas so aplicadas
a situaes novas. O que era apropriado com um pai pode ser
destrutivo com um namorado adulto.
fundamental reconhecer que o gatilho latente no comportamento de jogo o medo de no conseguir o que se precisa. Todos merecem ter suas necessidades bsicas atendidas. O
problema no est nas necessidades propriamente ditas, mas
sim nos meios apropriados de satisfaz-las. tolice acreditar
que o jogo um meio vivel de alcanar esse objetivo. No ,
serve apenas para alienar e afugentar as pessoas.
Um dos percussores da teoria do apego, John Bowlby,
desenvolve ideias centrais para compreender como os seres
humanos interagem e por que algumas crianas crescem felizes e autoconfiantes, enquanto outras crescem ansiosas e deprimidas e outras, ainda, emocionalmente frias e antissociais.
O autor define o comportamento de vinculao como um
conjunto integrado de sistemas comportamentais, que visa
obteno de segurana pessoal e tem suas origens na infncia.
(BOWLBY apud RODRIGUES e CHALHUB, 2010). Foi realizado um estudo que procurou investigar o efeito nocivo que
acompanha a separao de crianas pequenas das suas mes
aps terem formado vnculo emocional forte, a criana teria
maior dificuldade com a separao e esse poderia ser um dos
fatores eliciador de problemas amorosos no futuro. Com o
tempo, expandimos os nossos afetos a outras pessoas afrouxando um pouco o lao simbitico. Assim, naturalmente d-se
a passagem do papel antes ocupado pelos pais para manifestar-se em um amigo e, quando surge um par romntico, este
331
sistema de apego encontra seu novo porto de ancoragem, sempre buscando preencher uma lacuna no seu interior.
Rodrigues e Chalhub (2010) falam que em virtude das interaes que a pessoa vivencia durante a infncia h uma grande influncia para ela esperar ou no uma base pessoal segura, bem como a condio para estabelecer e manter laos afetivos gratificantes. Eles falam ainda que sejam quais forem essas interaes iniciais (seguro, inseguro-ansioso, inseguro-ambivalente) as que primeiro se estabelecem so as que persistem durante sua vida.
Os indivduos seguros apresentam interaes mais seguras por no terem encontrado grandes dificuldades de relacionamento em sua vida passada e dessa forma ficaro mais naturais e confortveis no relacionamento com terceiros.
Os indivduos inseguros se sentiro mais a vontade em
tarefas que o isolam do contato com terceiros. Sua segurana
maior est em trabalhos que envolvam uma relao mais direta com o objeto do que com as pessoas.
Os indivduos ambivalentes que seriam os que mais se enquadram em nosso objeto de estudo, por sempre terem vivido
em uma montanha-russa emocional, acabam dirigindo seus
afetos utilizando-se das mesmas diferentes estratgias de manipulao usadas por seu cuidadores a outras pessoas, mantendo seus padres de ligao anteriores e autoestima em nveis
mais baixos, propiciando dessa forma uma probabilidade elevada dependncia afetiva.
Uma base de ligao insegura-ansiosa seria revelada pela exposio de uma ou mais agentes estressores:
cas. A marca da adico a busca obrigatria pelo objeto, qualquer objeto, que designar nessa busca a repetio dos atos
susceptveis de provocar prazer, porm marcados pela dependncia a um objeto material ou a uma situao de busca e consumo com avidez (PEDINIELLE; ROUAN; BERTAGNE apud
POSTIGO, 2010).
Essa avidez, esse carter compulsivo, aparece de forma
violenta na adico: trata-se de uma relao ao qual existe a
escravido de um sujeito a um objeto, que possui um carter
imperativo, obrigatrio, que domina a relao e compele o
sujeito a buscar incessantemente o mesmo objeto. Esse carter compulsivo determina a dependncia. O prprio termo
adico deriva do grego adicctu estando associado escravido e servido, junto com Pathos que remete a paixo e passividade caracterizando etimologicamente o termo adico em
sua idia original, que o individuo acometido de forte paixo
passiva a um objeto tendendo a servido a ele. Na compreenso da paixo, o apaixonado viveria a necessidade de fazer perdurar uma relao antiquada de fuso e submisso ligada as
figuras parentais tidas como onipotentes, em que o objeto de
paixo sairia da ordem do desejo e da livre escolha para colocar-se na ordem da necessidade. Postigo (2010) afirma que o
sujeito busca, no objeto da paixo amorosa uma forma de cura
para as suas fragilidades egicas, na tentativa de negar o seu
desamparo representado o objeto da paixo tomado como
insubstituvel. Na radicalidade da dependncia ao objeto, o sujeito fica numa situao de servido.
De acordo com a perspectiva psicanaltica de Freud encontramos na teoria das pulses entendimento de como a adic-
o se forma, atravs da compreenso de um funcionament paradoxal no mecanismo de compulso repetio, acompanhamos como a adico uma resposta, uma tentativa de dominao de um apassivamento ante a pulso, que uma maneira
de responder, ainda que precria e elementar ao traumtico
advindo dos primrdios da constituio da subjetividade (POSTIGO, 2010, p. 63)
Para o dependente seja qual for seu objeto ele tem a funo de prazer para atenuar estados afetivos intolerveis e,
como tal, vivido, pelo menos no primeiro momento como
um objeto bom.
O paradoxo apresentado pelo objeto adictivo o seguinte: apesar de seu potencial as vezes letal, est sempre investido como objeto bom por esta ou por aquela parte
da mente. Qualquer que seja este objeto tem sempre o
efeito de tornar a vitima da adico capaz de reduzir rapidamente, embora de forma fugaz, seu conflito mental
e sua dor psquica. (MCDOUGALL apud POSTIGO,
2010, p. 102)
Dessa forma, mesmo reconhecendo o carter nefasto que
pode provocar a dependncia a algum, o sujeito sente o prazer de mant-lo perto, pois de alguma maneira em sua psiqu
ele est compensando ou substituindo um buraco que tende a
se tornar maior se abandon-lo. Como j abordamos anteriormente, esses buracos emocionais tem relao com a internalizao materna, os objetos de adico teriam como funo preencher a posto maternante que teria falhado, ou melhor, pre333
encher os sujeitos adictos que teriam fracassado em sua tentativa de introjetar a funo materna. Atravs da incapacidade
de internalizao do sujeito na relao materna nasce objeto
transitrio um objeto do qual o sujeito no consegue se separar e com qual vive uma dependncia, ou melhor, a prpria
me vive um estado de dependncia que promove a dependncia na criana. O objeto adictivo, ou seja, a pessoa pela qual
dirigida a paixo seria ento um objeto transitrio, uma vez
que resolveria momentaneamente a tenso psquica atravs
de soluo somtica. O objeto da adico transitrio, pois se
faz necessrio substitu-lo constante e compulsivamente.
No amor no tarefa fcil estabelecer o limiar do que
normal e do que patolgico. Muitas vezes o sujeito que est
envolvido na relao no tem discernimento para distinguir o
quanto faz mal compartilhar uma vida asfixiando e sendo asfixiado por um amor delirante e traz em si a iluso que agindo
de forma coercitiva ir manter o objeto amado ao seu lado,
preenchendo uma lacuna que na verdade jamais ser preenchida, pois viver tambm falta, vazio, e incompletude. Esse
amor patolgico pode ser caracterizado pelo comportamento
de prestar cuidados e ateno ao parceiro, de maneira repetitiva e desprovida de controle em um relacionamento amoroso
(SHOFIA apud RODRIGUES e CHALHUB, 2009). Podemos
acrescentar que ao nos envolvermos com algum qualquer sentimento associado posse, controle excessivo, atitudes de segregao e/ou sensaes que gerem sofrimento para ambas as
partes pode ser considerado como amor patolgico e/ou dependente.
Historicamente o amor sempre foi permeado de romantismo e concepes fantasiosas, onde posto no outro expectativas irreais que no possuem a menor chance de serem cumpridas. Em geral, ainda que existam diversas concepes acerca do amor, a maioria contaminada por uma fundamentao
irreal tal qual um devaneio. Culturalmente aprendemos a ver
o amor em lentes cor de rosa, a menina aprende em contos de
fada que seu prncipe chega a cavalo para salv-la da bruxa
m e o menino aprende que a mulher completa aquela que
d conta da famlia em tempo integral e ainda deve corresponder as expectativas financeiras e sexuais que a modernidade
impem. Todos esses sonhos postos no caldeiro acabam falindo relacionamentos e gerando sofrimento porque acabamos
perpetuando um pensamento e achamos que ao trocarmos de
parceiro como mgica nossos problemas sero resolvidos. Iluses romnticas e idealizaes com altas expectativas no que
diz respeito ao outro se mesclam para forj-lo nos pensamentos das pessoas. O outro assume lugar de deus, e so atribudos a ele aspectos dignos de venerao.
O amor romntico fala de um encontro amoroso profundo at a raiz da alma, incompatvel com a realidade da vida
conjugal comum. Na prtica, acaba provocando frustrao nas
pessoas que querem encontrar xito numa formula amorosa
to ideal quanto impossvel.
O ser humano se relaciona amorosamente mediante as
estruturas pessoais de cada um, a identidade pessoal guia as
relaes e seus desdobramentos. Porm, no podemos compreender a identidade como fixo e sim como um construto que
historicamente elaborado. A identidade continuamente for334
mada e transformada em relao com a maneira como os outros nos percebem. Na dialtica entre nosso eu ideal e a identidade social. No podemos nem devemos esquecer-nos das relaes que envolvem conflito de gneros, uma vez que, a forma de amar ligeiramente diferente do homem e da mulher
tantos pelas influencias familiares quanto pelas questes culturais. Muito embora a dependncia afetiva seja inerente questo do sexo do sujeito.
Para Rios (2008) numa viso mais global, o amor romantizado surge como fenmeno social, junto ao individualismo,
no conjunto de estratgias de organizao da sociedade capitalista. No espao individual da produo da subjetividade, os
processos do amor tornam-se fundamentais para a formao e
manuteno da identidade (COSTA apud RIOS, 2008). Com
isso a autora quer dizer que para a idia de construir uma vida
em comum o sujeito deve ter um espao para construo de
um eu individual e s assim abrir espao para compartilhar no
coletivo, e assim atravs de um espelhamento se reconhecer
no outro.
Amar d trabalho. E o ganho pode parecer pouco, especialmente quando se vive em mundo como o nosso, que nos cobra a busca por um fictcio estado prazeroso ininterrupto. O
ganho que no est previsto nessa conta que soma xtases,
aquele que no se percebe imediato: as transformaes do eu
na experincia da intersubjetividade. O eu no um produto
pronto e acabado na sada da primeira infncia. O eu passa a
vida se fazendo e se refazendo nas relaes com o mundo. A
falta de relaes intersubjetivas autnticas impossibilita experincias da vida que so imprescindveis para felicidade do eu.
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338
Comportamento social e
diferenciao individual:
um estudo de caso
Clarissa Magalhes Rodrigues
Mestre e Doutoranda em Psicologia Clnica pela PUCSP. Programa de Estudos Ps-graduados em Psicologia Clnica da Faculdade de Cincias Humanas e da Sade, Curso de Psicologia. Psicloga clnica individual e de casal
[email protected]
Rosa Maria Stefanini de Macedo
Doutora em Psicologia Clnica pela PUC-SP. Professora Titular da Faculdade de Cincias Humanas e da Sade, Curso de
Psicologia, no Programa de Estudos Ps-graduados em Psicologia Clnica. Coordenadora do Ncleo de Famlia e Comunidade da mesma universidade - [email protected]
Ida Kublikowski
Doutora em Psicologia Clnica pela PUC-SP e Professora Associada da Faculdade de Cincias Humanas e da Sade, Curso
de Psicologia, no Programa de Estudos Ps-graduados em Psicologia Clnica da mesma universidade
[email protected]
Introduo
Este captulo tem por objetivo apresentar uma experincia de atendimento clnico individual cuja evoluo apontou
para a necessidade de terapia familiar. A questo clnica apresentada lana a possibilidade de um comportamento autodestrutivo, em uma jovem de 26 anos, como forma de manter-se
dependente em relao famlia de origem. De uma perspectiva sistmica e intergeracional, o caso analisado luz de conceitos elaborados por Murray Bowen (1988, 1991), nomeadamente as ideias de diferenciao do self, ansiedade crnica, triangulao, desenvolvimento do sintoma, individualidade e
pertencimento e sistema emocional do ncleo familiar.
Alm das informaes obtidas ao longo do processo teraputico, cuja durao foi de 18 meses, foram realizados dois
procedimentos adicionais: com a jovem, a linha do tempo familiar orientada e, com os pais, uma entrevista de cunho exploratrio e interventivo. Os dados obtidos em ambos os procedimentos encontram-se dispostos na extenso do texto, contextualizados anlise.
Composio do caso
Anna1, 26 anos, iniciou a terapia s vsperas de submeter-se a uma cirurgia baritrica. Em seus primeiros relatos,
afirmou sentir-se ansiosa e, de certo modo, contrariada. A esttica, razo principal pela qual os jovens realizam tal cirurgia,
no era sua principal motivao. Segundo a cliente, ela no tinha problema algum com seu corpo, e a obesidade no a impe339
dia de namorar e ter amigos; pelo contrrio, fazia sucesso entre os meninos. O motivo, ento, seria a hipertenso, que poderia ser resolvida com a perda de peso.
Na primeira sesso, contudo, o tema da cirurgia apenas
tangenciou o discurso da cliente, que se concentrou muito
mais em relatar acerca de um relacionamento amoroso malsucedido, com episdios de violncia moral e fsica, traio e explorao de sua condio econmica. poca desse relacionamento, a cliente havia concludo o curso de gastronomia, tinha um bom emprego e morava com o ento namorado, Joo,
autor das atitudes violentas e da explorao financeira. O rapaz, ento com 22 anos, mesma idade de Anna, era usurio de
drogas ilcitas, mais especificamente a cocana, e frequentemente precisava de dinheiro para comprar drogas.
O retorno casa dos pais deveu-se a um grave episdio
de violncia fsica, impetrada pelo ento namorado. Anna deixou o emprego e retornou cidade natal, no interior do estado
de So Paulo, onde passou a trabalhar com os pais, Paulo e Eliane, proprietrios de um restaurante. poca, a cliente havia
tambm estourado o carto de crdito, do qual se desfez por
ordem dos pais, que cobriram o rombo em sua conta bancria.
A jovem passou, ento, a utilizar-se apenas de dinheiro em espcie, fechando a conta no banco e passando, tambm, a ser
financeiramente sustentada pelos pais embora, formalmente, tenha um salrio, na prtica Paulo e Eliane bancam os gastos de Anna conforme sua necessidade. Durante o perodo de
terapia, inclusive, a jovem residia sozinha, em uma cidade prxima dos pais, em apartamento cujas despesas eram bancadas pelos mesmos. De ambas as partes (pais e filha), o argu-
ses. Nos primeiros 12 meses desse perodo, a dinmica de Anna em relao aos namorados repetia-se: aps semanas de relacionamento, a jovem cansava-se e punha fim ao namoro. O
argumento era o de que os rapazes no tinham jeito, e ela
no queria para seu futuro algum que no pudesse lhe oferecer uma vida digna e financeiramente compatvel com sua condio no momento. Ainda como parte dessa dinmica, ao terminar os relacionamentos, a jovem sempre tinha em vista um
novo pretendente, alm de, usualmente, manter-se envolvida
em relacionamentos amorosos paralelos ao oficial. Em todos
eles, Anna participava do crculo social dos namorados, frequentando bocas de fumo e expondo-se convivncia com traficantes de drogas.
Na relao com Fernando, contudo, tal dinmica dos relacionamentos pouco duradouros demonstrava modificar-se:
embora a ele direcionasse as mesmas crticas, Anna no conseguia pr fim ao namoro. A justificativa seria a gravidez, ocorrida trs semanas aps o incio do relacionamento amoroso,
mas que foi interrompida por um aborto espontneo, com oito
semanas de gestao. Segundo a cliente, a gravidez estreitou
os laos com Fernando, desencorajando-a a desvincular-se do
rapaz. Alm disso, a jovem alegava que, quando engravidou,
estava prestes a fazer uma besteira (suicidar-se), dada a intensificao de seu processo depressivo. poca, Anna havia
interrompido a terapia atravs de uma mensagem de celular,
retornando quando j estava grvida, receosa quanto reao
do pai quando soubesse da gravidez.
341
exemplo, o primeiro a saber de sua gravidez. J o irmo caula, Thiago, temporo, 19 anos mais novo que Anna, que alm
de irm sua madrinha de batismo. Ao falar de Thiago, a jovem demonstrava trata-lo com afeto, alm de, no raro, assumir cuidados prticos, como levar e buscar na escola, por
exemplo.
Em nossa entrevista para a realizao da pesquisa, a cliente revelou que o pai, dois anos antes de seu nascimento, engravidou uma estranha e com ela teve um filho, Eduardo.
poca, Paulo ainda no havia conhecido Eliane. A notcia acerca do ocorrido somente veio tona quando o garoto tinha 15
anos e, segundo Anna, sua me empenhou-se para que o marido reconhecesse e registrasse o filho. Quando do processo teraputico, Eduardo vivia com a prpria me em uma cidade do
interior de So Paulo. Tinha pouco contato com o pai e com os
meio-irmos, os quais, segundo a cliente, no faziam questo
de manter qualquer proximidade com o rapaz.
Sobre a relao de seus pais, Anna fez o seguinte relato:
seis meses aps terem se conhecido, Eliane engravidou. Em
razo de o pai ser o maior galinha, optaram por no se casar
naquele momento, mantendo o namoro at os quatro anos de
vida da filha, quando se casaram, tendo, inclusive, Anna como
daminha de honra. A jovem avaliava como boa a relao de
seus pais, embora reconhecesse ter havido um perodo, quando era adolescente, em que brigavam muito, chegando a uma
quase separao. Nos relatos da cliente, ao longo de todo o
processo teraputico, chamavam ateno as alianas entre pai
e filha contra a me, em funo de serem ambos, segundo a
jovem, muito parecidos. Anna afirma que as alianas ocorriam
342
become trianglend into the twosome). Dificuldades de diferenciao, uma vez reveladas por meio de comportamentos
sintomticos, podem ser entendidas como estratgias de proteo da unidade familiar, devendo, portanto, ser compreendidas como processos mtuos, dos quais participam tanto os
pais quanto os filhos, revelando-se de ambas as partes dificuldades de autonomizao.
Como processo que constitui, a diferenciao do ego no
pode assumir to somente as possibilidades de existir ou no
existir. Em De la familia al individuo, Bowen (1991) fala em
graus de diferenciao, os quais revelam capacidades extremas ou intermedirias de construo de autonomia. Em sua
escala de diferenciao, o autor apresenta como detentores de
um nvel timo de autonomizao aqueles indivduos cujos
princpios de vida orientam-se para o si mesmo e que conduzem a prpria existncia de forma a transitar pelas diferenas
sem perder-se nelas. Por outro lado, nveis razoavelmente baixos de diferenciao do ego so atribudos a indivduos que revelam dificuldade em construir e expressar opinies prprias,
mostrando-se fortemente influenciados pelas emoes, opinies e comportamentos alheios. Nos extremos da escala boweniana, um tipo ideal, portanto inexistente, de pleno xito na
diferenciao do self e, por outro lado, este sim existente, um
grau mnimo de construo de autonomia. Este ltimo grupo
contempla, de acordo com Bowen (1991), pessoas que vivem
em um mundo de sentimentos, (...) dependentes dos sentimentos que os demais experimentam em relao a elas (p.38). E
acrescenta: tanta a energia que desprendem para manter o
sistema de relaes ao seu redor (amar e ser amadas), ou para
345
Anlise do caso
Embora tenha chegado terapia por encaminhamento
mdico, a fim de preparar-se emocionalmente para os efeitos
da cirurgia baritrica em termos de hbitos e de autoimagem,
a dificuldade de diferenciao de Anna em relao ao seu ncleo familiar de origem logo se manifestou, e de forma preocupante, acabando por direcionar o processo teraputico. Obviamente, a preparao psicolgica para a cirurgia no foi ignorada, sendo abordada em algumas sesses e, de fato, possibilitando o sucesso do procedimento cirrgico. A disfuncionalidade presente nas relaes familiares, o comportamento autodestrutivo e a depresso, contudo, uma vez articulados e considerados luz do sistema familiar, tornaram clara a dificuldade
de Anna em construir uma identidade adulta autnoma, evidenciando uma relao de acentuada interdependncia emocional com os pais, desmedida e limitadora de seu percurso individual.
Os conceitos de Bowen tornaram-se, nesse sentido, teis
para a compreenso do caso. Uma vez articuladas, a ausncia
de papeis familiares bem definidos e a dificuldade de Anna em
abandonar comportamentos autodestrutivos desenhavam um
sistema emocional familiar fortemente imbudo de ansiedade,
obstculo para a construo de trajetrias de vida e de inter-relaes saudveis, e que mantinha inalterado tal sistema por
voc fez isso comigo?. Posteriormente, acaba por imbuir-se de uma funo parental em relao ao futuro
neto: ns vamos cuidar dessa criana.
3) Olhar ambguo: a mesma indefinio se verifica
no olhar dos pais sobre a filha, olhar este que direciona
as atitudes de Paulo e Eliane em relao a Anna e dificulta mesma encontrar um lugar claro para ocupar, no sentido de alimentar uma evoluo individual, de diferenciao do self e, ao mesmo tempo, manter-se pertencente ao
ncleo familiar de origem. Se a jovem madura o suficiente para administrar a cozinha de um restaurante, mas
no o para administrar as prprias finanas, como construir uma noo de identidade que lhe permitisse conhecer as prprias possibilidades e limites e, assim, buscar
avanar, sem sentir isso como um rompimento vincular
com o ncleo familiar?
4) Triangulao: a fim de deslocar o foco da conflituosa relao conjugal, Paulo busca chamar a filha para
alianas, transferindo o carter conflituoso para a relao me-filha. Esta, por sua vez, na medida em que sem
mantm sob a proteo e o zelo paternos, obtm de tais
alianas o benefcio secundrio de no precisar dar conta
do lado difcil da autonomia. Resultante de um dilogo
entre liberdade e responsabilidade, o comportamento autnomo manifesta-se, em Anna, apenas em seu aspecto
mais prazeroso, ou seja, no exerccio livre de suas vontades. Isto no significa, contudo, que a jovem se mantenha livre das consequncias negativas dessa relao, o
que claramente percebido na fragilidade de seu emocio-
certo equilbrio, tanto dinmico quanto estrutural, tornandose compreensvel a dificuldade de pais e filha em ressignificar
os papeis e as relaes estabelecidas. A crise, uma vez deflagrada pelo e-mail enviado por Eliane terapeuta, tornou possvel
a realizao de uma derradeira sesso com Anna na qual a notcia sobre a frequncia a bocas de fumo veio tona, resultando urgente a incluso dos pais no processo teraputico, dado o
risco de vida.
Contudo, percebemos que a famlia, uma vez exposta
necessidade, e mesmo urgncia, da mudana, buscou proteger a unidade familiar, coesa em sua disfuncionalidade, uma
vez que os pais, chamados para uma sesso em famlia, remarcaram o horrio repetidas vezes e, ao final, no compareceram
ao consultrio da profissional. Anna, por sua vez, passou a encontrar dificuldades de horrio com as sesses, deixando de
frequent-las aps alguns desencontros.
Em termos de experincia profissional, a compreenso
da fuga como estratgia de defesa faz-se necessria e, alm disso, confronta o psiclogo com suas prprias possibilidades e
limites. O processo teraputico s se torna vlido, e mesmo
possvel, se resultar de um encontro voluntrio, pois a construo de caminhos possveis caracteriza-se como um projeto conjunto entre terapeuta e cliente. Se no se pode comemorar o
xito da terapia em questo, pode-se, ao menos, considerar o
quo enriquecedora revelou-se tal experincia.
Referncias
Bowen, M. (1991). De la familia al individuo: la diferenciacin
del s mismo en el sistema familiar. Buenos Aires: Paidos.
348
Homoafetiviade e o
Atendimento Familiar
Cleonice Peixoto de Melo
CEFATEF Centro de Formao e Estudos Teraputicos da
Famlia
Resumo
Este estudo teve por objetivo trazer um olhar crtico-reflexivo a realidade scio-histrica do tema homoafetividade e as
diversas fases de interpretao que essa orientao sexual recebeu ao longo do tempo e suas diversas contribuies das cincias sociais desde a dcada de 1.970. Por meio de uma reviso
do Modelo Interacionista (Plummer 1975) e outros autores
como Troiden (1988) e Cass (1979, 1984), e ainda a Viso
Construtivista de Michael White (1984). No contexto emprico, apresentado o atendimento de um casal homoafetivo por
um grupo de terapeutas familiares em formao com o objetivo de ampliar o foco para o entendimento das mltiplas vises, visando servir como ferramenta avaliativa no processo
de produo cientfica nesse campo especfico, alm de propiciar uma resposta familiar possvel, tanto para a famlia que
sofre, por no compreender a homoafetividade de um dos
seus membros, como para ofamiliar diante de sua orientao
sexual.
349
Introduo
Esta apresentao refere-se comunicao de Pesquisa
referente a um Artigo Cientfico apresentado Banca do CEFATEF como trabalho de Concluso do Curso de Formao em
Terapia Familiar Sistmica.
Trata-se de um atendimento em Terapia Breve, realizado
no perodo Agosto/2013 Novembro/2013. Tem como tema
Homoafetividade e o Atendimento Familiar e est baseado em
conceitos tericos e a pesquisa de um caso clnico.
Os conceitos tericos esto fundamentados em pesquisas
desde o Modelo Interacionista de Plummer (1975) sobre os
processos de desenvolvimento de uma identidade sexual peculiar que marcaram boa parte dos estudos sobre a homossexualidade nas cincias sociais desde a dcada de 1970. No qual o
autor apresenta quatro Estgios do Ciclo de Vida, a partir da
concepo da identidade homossexual, como uma trajetria
de vida envolvendo a adoo de uma auto definio como homossexual, o aprendizado dos papis correspondentes e a deciso de viver uma vida adulta de homossexual praticante (SIMES, 2000).
No modelo de Plummer, cada estgio est associado a
uma etapa da vida:
1) Sensibilizao: experincias vividas na infncia, interesses, emoes e atividades - inadequadas ao gnero.
2) Significao e desorientao: adolescncia, interesses
e sentimentos acentuados a pessoas do mesmo sexo. Conscincia de si, ansiedade e confuso.
3) Revelao e subculturalizao: meio e final da adolescncia, quando rapazes j tem contatos com rapazes e homens
/ que se autodefinem como homossexuais ou gays.
4) Estabilizao: corresponderia maturidade, em que o
indivduo se sente tranquilo e confortvel com a prpria homossexualidade e a se comprometer com ela como um modo
de vida.
E apresentamos ainda outros pressupostos e distines
de autores como Troiden (1988) e Cass (1979, 1984) que criticam esta leitura, reprovando, modificando, incluindo a homossexualidade feminina, com outras perspectivas. Mas, apesar
de suas nuanas e distines compartilham um conjunto recorrente de pressupostos:
1) O primeiro estgio postulado como o momento em
que crianas e adolescentes bloqueiam o reconhecimento de
seus prprios desejos sexuais.
2) Segue-se da um perodo de experimentao e significao, que poder conduzir a um senso de que tais desejos podem ser aceitveis e normais.
3) O processo de revelar-se homossexual, ser bem-sucedido na medida em que ocorra sob condies favorveis de
auto-ajustamento e suporte social.
4) Supe-se, que a grande maioria (seno a totalidade)
dos homens e mulheres que se revelaro como homossexuais na idade adulta so aqueles que necessariamente j comearam a se ver assim desde a adolescncia.
Inclumos tambm, por acharmos pertinente ao tema
proposto uma leitura crtica reflexiva aos modelos de estgios
apresentados da perspectiva do novo paradigma do curso da
350
351
mente humana de organizar e criar significados, ou seja, literalmente inventar a realidade mais do que descobri-la.
A ideia na qual os sistemas de construes (pessoais e sociais) evoluem, atravs do tempo e espao, coloca o conhecimento dentro de uma perspectiva de um processo de um contnuo vir a ser.
O Construtivismo leva inevitavelmente a fazer do homem
pensante o nico responsvel por seu conhecimento, pensamento, sentimento e at mesmo por seu comportamento.
O homem descreve a si mesmo e ao seu meio e se comporta de acordo com as suas descries, se elas se modificam,
ele tambm se modifica.
A maneira como o indivduo descreve um problema (viso interna), j contm sempre uma ideia de como ele poderia
ou deveria ser solucionado.
Partindo dessa premissa, Michael White (1.9840) desenvolve a tcnica da Externalizao do Problema. Essa tcnica
prope que as pessoas vejam os problemas como algo separado delas, assim distingue o problema da identidade do paciente. E ainda:
- Centraliza as pessoas como os especialistas em suas prprias vidas.
- Enfoca que as pessoas tm muitas habilidades, competncias, crenas, valores e compromissos para no se deixar
influenciar pelo problema.
- Prope a considerao da realidade, da histria, da verdade trazida pela famlia e a interveno do terapeuta isenta
de juzos de valor, deixando sempre para cada um, a responsabilidade pela busca de novas respostas ou comportamentos.
- Ela trazia uma referncia traumtica da infncia de ficar calada agora busca se projetar, s que ainda com muito
medo.
- Busca cursos onde tenha que se expor e se destacar
uma pessoa diferenciada com um potencial enorme. Em
poucas sesses conseguiu uma superao significativa.
Finalizao
- O grupo usou da Tcnica da Reconotao Positiva: Corajosa, Talentosa, Forte, Transparente, Amada, com grande potencial e comprometida.
- Sua companheira a Clara que era vista como a mais forte da relao acabou se surpreendendo com a evoluo de Marina, reequilibrando a relao.
- Num processo de reconstruo emocional foi possvel a
explorao de hipteses para que Marina trouxesse seus problemas, descobrindo novos significados em sua vida, propiciando a compreenso e a reconstruo de sua histria.
- A paciente pode reexaminar como observava suas experincias, reconstruindo sua histria por meio da desconstruo, apreendendo a manejar seus problemas de forma mais assertiva.
- A funo mais significativa para os terapeutas que desenvolveram este atendimento foi que alm de rever padres
arraigados junto famlia atendida, reviram ainda seus valores pessoais, suas crenas culturais e religiosas e seus prprios
valores familiares.
353
Silverstein foram importantes colaboradoras no desenvolvimento da citada tcnica nos anos de 1975 nos Estados Unidos.
Peggy Papp deposita na preparao e na sensibilidade do
terapeuta a condio do bom desenvolvimento teraputico e
para isso afirma:
O terapeuta que tem a flexibilidade de ser capaz de escolher entre vrias tcnicas diferentes para qualquer problema
dado est pronto para encontrar a soluo mais criativa
(Papp, 1992.97)
Os conceitos e princpios da Terapia Breve so fundamentados a partir dos modelos de Milo e das Escolas Estrutural e
Estratgicos alinhados a Teoria Geral dos Sistemas que compreende a totalidade, circularidade e homeostase identificada
nas relaes cotidianas entre os membros da famlia. Sendo
que, a principal ateno est nas conexes e qualidade das inter-relaes.
Uma inovao do modelo de Milo a conotao positiva
uma tcnica diretiva de reenquadramento dos sintomas como
se tivessem uma ao protetora extensiva a toda famlia e necessria ao sistema familiar. Foi de grande emprego nos processos de terapia breve. Ao reconotar uma situao comportamental, um apelido e ou uma afirmativa que causa insatisfao gerada um novo olhar sobre a circunstncia, diluindo os
sentimentos e abrindo caminho para outras percepes. A reconotao proporciona uma redefinio da palavra e ou da situao vivida.
A Equipe Multiprofissional contou com a presena de 08
Alunos em formao sendo estagirios com Formao Interdis354
Resultados e Discusso
Consideraes Finais
A terapia breve desenvolvida com a (PI) Marina pelo Grupo Teraputico foi fundamentada nas Escolas de Terapia Familiar Sistmica de Milo (Peggy Papp e Olga Silverstein, 1975) e
Construtivista (Michael White, 1984) conforme sinalizada na
metodologia.
Ento, fazendo uso desses conceitos foi estabelecido as
hipteses diagnsticas, a linha teraputica e os objetivos a serem alcanados no trabalho de grupo por meio de diretivas teraputicas, reconotaes positivas aos integrantes do grupo e
ainda, ressignificando os conflitos trazidos pela Marina e acontecimentos que foram expostos, visando a reconstruo da histria de vida familiar e o fortalecimento dos seus vnculos e laos familiares.
Outro objetivo deste estudo foi de trazer a reviso dos estudos sobre a realidade scio-histrica do tema homoafetividade e as diversas fases de interpretao que essa orientao sexual recebeu ao longo do tempo e um dado interessante que
encontramos nesta reviso o fato de que os achados da literatura apontam que so poucos os estudos que avaliam de forma significativa este tema, inclusive na contemporaneidade.
Este tema Homoafetividade apresentado refora a necessidade dos terapeutas familiares sistmicos investirem em
mais estudos e trocas de experincias com outros profissionais, profissionais em formao e famlias, com objetivos voltados a um melhor aprofundamento e entendimento do outro,
em relao aos significados do comportamento afetivo, cognitivo, emocional e social.
Na vida cotidiana instaura-se uma relatividade crescente,
e os critrios universais de verdade absoluta so substitudos
por mltiplos universos de dilogos. Essas alternativas, principalmente, a de no registrar somente uma nica verdade objetiva so fenmenos que introduzem a necessidade de levar em
conta questes ticas de eleio, responsabilidade e liberdade.
A cincia no neutra, serve para desconstruir e reconstruir e
ainda alterar cursos de ao.
A interveno na famlia entendida como sendo um percurso para a autonomia. Liberdade que tem uma pessoa de
usar novas possibilidades de enfrentar situaes novas, de criar respostas originais, para solucionar problemas e alcanar
objetivos, pelos quais responsvel.
355
Notas
MELO, C.P. O Dilogo sistmico da Famlia com e o Servio
Social: Do Re(conhecimento) familiar do profissional ao referencial Sistmico do Trabalho com Famlias, Dissertao de
Mestrado, PUC/SP, 2003
PAPP, P. O Processo de Mudanas: Uma Abordagem Prtica
Terapia Sistmica da Famlia. Porto Alegre: Ed. Artes Mdicas, 1992.
O presente estudo foi apresentado no XI Congresso de Terapia Familiar: Famlia e Terapia Familiar: Expandindo Horizontes. Julho/2014. Endereo para Correspondncia: CEFATEF
Av. Pompia, 2094 Perdizes So Paulo SP Cep.: 05022-001
Email: [email protected] e
[email protected]
1
357
De qu manera la Terapia,
desde las Practicas
Colaborativas y Dialgicas
y el Construccionismo
Social, proponen los
elementos para la
construccin de una tica
poltica, que integre el
respeto a los derechos
humanos de los
consultantes?
Diego Tapia Figueroa
Quito Ecuador [email protected]
Magister en Terapia Familiar Sistmica. Estudios de postgrado y doctorado, en comunicacin social, cinematografa, literatura. Tiene amplia experiencia en el campo de la terapia famili-
ar sistmica, y la investigacin, con nfasis en las Prcticas Colaborativas, y el Construccionismo Social, tanto desde el punto de vista clnico como acadmico. Docente universitario de
postgrados, y supervisor clnico. Admitido -2014- el Doctorado (PhD), en Prcticas Colaborativas, del Houston Galveston
Institute y The Taos Institute, con las Universidades de Tilburg y Leiden de Holanda, y la Universidad Libre de Bruselas,
Blgica. Email: [email protected]
Abstract
Las Prcticas Colaborativas, y el Construccionismo Social, contribuyen desde perspectivas innovadoras, para que los
terapeutas, en los procesos teraputicos, integren el respeto a
los derechos humanos de los consultantes, y de las comunidades. Se propone una reflexin movilizadora, sobre los recursos
de las personas, antes que una repeticin opresiva acerca de
sus dficits. Es una mirada relacional, que parte de la premisa
del respeto verdadero al otro, en su diversidad; y genera un dilogo transformador, a partir de conversaciones significativas.
De las formas de relacin que experimentamos solo puede ser
considerado buen trato el dilogo como primera opcin. Todas las otras formas de relacin, son maltrato y significan exclusin. Necesitamos construir una tica relacional diferente;
una intimidad profunda, que significan: abrirse totalmente,
en un dilogo transformador, a la posibilidad de que la verdad
del otro, nos cambie.
Aprendizajes profundos y conjuntos, en los que se crean
vnculos de seguridad y confianza, nuevos contextos, para
358
construir bienestar integral. Es poner todo en cuestin, instalar la voluntad de interrogarse. Reflexionar crticamente sobre
los prejuicios, de todo tipo, en un dilogo capaz de aceptar las
diferencias, de abrir un espacio de legitimidad a todas las voces, para expandir las posibilidades relacionales, y generar la
construccin de nuevas historias. Narraciones propias, con significados relacionales, y sociales liberadores.
Al participar e involucrarse se crea democracia, derechos humanos, y se aporta a las transformaciones sociales, con creatividad e imaginacin; en un proceso de reflexin crtica permanente, de generacin de preguntas significativas, y de dilogos
abiertos.
Abstract
Collaborative practices, and social constructionism, contribute with innovative perspectives, for the therapists to integrate the respect to human rights of consultants and the
community in therapy. A motion reflection is proposed, concerning the resources of people, instead of an oppressive repetition regarding deficit. It is a look-up with relation that departs from the premise of the real respect to others, in its diversity; and generates a transforming dialogue, from the starting point of significantly conversations.
From the ways of relation that we experiment, only dialogue can be considered good treat as first option. All the other
forms of relation are mistreated and connote exclusion. We
need to construct a different relation ethics; a deep intimacy,
El cmo se puede construir conjuntamente, desde una tica relacional, nuevas historias, sintindose protagonistas y autores de procesos generativos, capaces de convocar con alegra, creatividad e imaginacin, otras posibilidades de ejercicio y participacin crtica, tica y poltica. La pregunta tica
es: Cmo queremos vivir?
Proponer e invitar a un dilogo distinto, basado en nuevos paradigmas teraputicos, sobre la tica y la Poltica, y el
respeto a los Derechos Humanos de los ciudadanos, que asisten a la terapia; para hablar del pensar, la inteligencia, la crtica, la libertad, la responsabilidad, la alegra, la dignidad, el placer, la justicia, el respeto y el arte.
Al participar e involucrarse se crea democracia, derechos
humanos, y se aporta a las transformaciones sociales, con creatividad e imaginacin; en un proceso de reflexin crtica permanente, de generacin de preguntas significativas, y de dilogos abiertos.
Pensar distinto, humor inteligente, cultura del buen
trato
El significado de la vida, podra ser, el lograr lo que propone el filsofo Montaigne: Todo lo que hago, lo hago con alegra. La alegra es una aprobacin de la existencia. Rerse de
uno mismo significa salir de las convenciones esclavizantes,
las pomposidades moralizantes, y la tontera estereotipada. El
buen humor es antagnico de cualesquier tipo de vulgaridad,
y de los prejuicios (esa forma de no pensamiento, que son los
prejuicios, deca el filsofo Wittgenstein).
gen (2009): en cada nueva forma de hablar subyace el potencial para una nueva forma de relacionarse.
Lo principal que hay que hacer es elegir: Qu queremos,
cmo queremos vivir, y qu cosecha esperamos de esa siembra? Hay alegra en nuestra vida; hay alegra en mi pareja, en
la vida compartida? Hay placer y gozo autnticos, sin herir al
otro? Qu pasara si comenzramos a decir S, cuando de verdad quisiramos decir S, y a decir NO, cuando de verdad quisiramos decir NO, independientemente de que guste o no a
los otros, por importantes y queridos que sean?
Esta filosofa (cosmovisin y paradigma distintos), el
Construccionismo Social, propone, nutrindose de lo mejor de
la terapia familiar sistmica, una reflexin movilizadora, sobre los recursos de las personas, antes que una repeticin opresiva acerca de sus dficits. Es una mirada relacional, que parte
de la premisa del respeto verdadero al otro, en su diversidad;
genera un dilogo transformador, a partir de conversaciones
significativas.
La preguntas como herramienta fundamental; empata y violencia
Es una terapia cuya herramienta principal son las preguntas, preguntas ni retricas ni pedaggicas; son interrogantes,
que abren posibilidades creativas, que expanden las posibilidades de interrelacionamientos responsables. En palabras de David Epston: Cada vez que hacemos una pregunta, estamos generando una versin posible de una vida.
Es una colaboracin conjunta entre terapeuta y consultantes, para discernir con criterio, los mltiples cmos, que
permitan atravesar los dilemas presentes; y, construir, como
autores de su propia historia, una nueva vida relacional.
En esta bsqueda, los dogmas se muestran intiles. La
incertidumbre nos invita a una actitud de franca y honesta curiosidad; curiosidad humana para comprender, y que dignifica y da integridad a nuestro rol. Intentamos escuchar profundo, para comprender antes de hablar; preguntar con sincero y
genuino inters humano, y seguir preguntando para que las
personas que nos relatan esos dilemas, aprendan a su vez a escucharse a s mismas y a los otros, de manera distinta: con respeto y empata.
La Violencia: Es todo y cualesquier acto y palabra perpetrado contra alguien, que niega su autonoma, su legitimidad
como ser humano; todo abuso de poder; toda accin, omisin
y discurso que niega a la persona a ejercer su derecho y legitimidad; las acciones - y sus consecuencias - que impidan vivir
con un mnimo de dignidadTodo intercambio en el que un
miembro ubica al otro en una posicin o lugar no deseado;
puede ser verbal y/o fsica, sexual, emocional y psicolgica.
(Marilene Grandesso)
La propuesta es construir nuevas realidades, a partir de
dilogos transformadores, en los que el terapeuta est consciente, que para comprender, necesita preguntar con autntica
curiosidad. Podemos acompaar a pensar con la pregunta; preguntas que instalen dudas sobre los saberes preestablecidos,
estimulando la bsqueda que nos acercar a saber ms de nosotros mismos y de nuestros contextos relacionales.
361
Es poner todo en cuestin, instalar la voluntad de interrogarse. Reflexionar crticamente sobre los prejuicios, de todo
tipo, en un dilogo capaz de aceptar las diferencias, de abrir
un espacio de legitimidad a todas las voces.
Cuando se entrecruzan los mundos de significado, pueden aparecer resultados creativos. Pueden surgir nuevas formas de relacin, nuevas realidades y nuevas posibilidades.
Cuando los mundos de significado entran en conflicto, pueden conducir a la alienacin y la agresin,
lo que perjudica las relaciones y su potencial creativ o .
A travs del cuidado creativo de las relaciones, las potencialidades destructivas del conflicto se pueden reducir o transformar.
Los acuerdos anteriores no constituyen creencias. No son ni verdaderos ni falsos. Son formas de enfocar la
vida que, para muchos, constituyen una gran promesa."
362
es lo que hace que la terapia, sea un proceso relacional significativo, capaz de generar nuevos estilos de vida. La verdad de
la relacin con otro exige una consistencia que debe ejercitarse.
Tarea del terapeuta ser la creacin ilimitada de nuevo
sentido (de nuevas historias) manteniendo abierta la conversacin. Entender que hacer terapia no es saber aplicar tcnicas,
sino construir relaciones nutricias; expandir las posibilidades,
las conversaciones, las historias y las narraciones. La idea es
que la terapia pueda permitir al consultante decir (y pensar)
lo que an no ha dicho (ni pensado) acerca de su historia personal. (Marilene Grandesso, 2006)
La terapia como una prctica colaborativa
La relacin terapeuta- consultante: antes que nada, se trata de una manera de estar en relacin, de forma autntica, natural y espontnea, siendo, por lo tanto, nica para cada consultante y para cada discurso. Reconocemos nuestro saber
como un saber local, de carcter provisional, que debe ser desafiado por el saber del consultante, quien es el nico especialista en su propia experiencia.
Las ltimas investigaciones en este campo dan cuenta de
que lo principal para que la psicoterapia tenga xito para los
consultantes, depende de la alianza, el vnculo relacional, la
calidad de la relacin entre consultante y terapeuta. Es la
alianza respetuosa, el vnculo de confianza no patologizante
de los terapeutas con los consultantes, lo que importa en este
proceso.
363
Todo eso ocurre en un contexto de acogida y acompaamiento genuinos, en el que la voz del consultante puede ser escuchada en primera persona, expresando aquello que es, la
manera en la que se construy, y cmo experimenta su complejo mundo singular.
Complejidad de los sistemas humanos
Se trata de contribuir a abrir el dilogo, no slo sobre lo
que hace sufrir y causa dolor en las familias ecuatorianas,
sino, sobre aquello que estas familias, aqu y ahora, pueden
crear como alternativas, a favor de los derechos humanos integrales de los ciudadanos, a travs de la propuesta de las prcticas colaborativas y el construccionismo social; y esto como demostracin de una tica ejemplar, que hace de la dignidad humana, un motor de cambio y de transformacin, as como de
catalizador de procesos diferentes en el devenir de la historia
de estas familias.
Segn Michael White (1993), cuando alguien acude a la
terapia, un resultado aceptable para el consultante podra ser
"la identificacin o generacin de relatos alternativos que le
permitan representar nuevos significados, aportando con ellos
posibilidades ms deseables, nuevos significados, que las personas experimentarn como ms tiles, satisfactorios y con final abierto."
Segn Gergen (1993), la investigacin construccionista
social se ocupa principalmente de explicar los procesos mediante los cuales las personas llegan a describir, explicar, o, de
alguna forma, dar cuenta del mundo (incluyndose a s mis364
mos) en el que viven. Segn l: "Ya no se considera que el locus del conocimiento est en la mente individual, sino ms bien en las pautas de la relacin social".
La terapia se puede entender como una continua colaboracin en la construccin y reconstruccin de significado, es
una relacin ntima -temporal-, en un proceso de desarrollo
que continuar en el futuro, una vez terminada la terapia.
Un buen terapeuta posee cinco atributos: sus lmites tienen una base tica; tiene una experiencia comprobable; una
buena empata; actualizacin y profesionalizacin permanentes; acepta y busca supervisin clnica de calidad.
Tom Andersen (1997), dice: Quiero hablar con la gente
como no se han hablado a s mismos o entre s... No hablamos
a los consultantes o para los consultantes; hablamos con los
consultantes y hacemos cosas con los consultantes... Cmo
quiero ser con otros? Y Cmo quiero que sean ellos conmigo?
Hablar de modo diferente supone, entre otras cosas, escuchar
de modo diferente. Quiero comprender y quiero ofrecer comprensin. El desafo es estar con el otro, de tal manera que el
otro sea la persona que quiere ser en esa situacin y en ese momento.
Dora Fried Schnitman (2004), sostiene: Para el terapeuta la pregunta es cmo construir alternativas en situaciones
aparentemente cerradas (cmo promover soluciones creativas
que construyen nuevas realidades). Y: El desafo es la creacin de lo que no existe an, ms all de las posibilidades disponibles, a travs de la generacin de un dilogo -interno y externo- transformador.
365
366
367
sociedad conversacional con las otras personas, en la que estamos juntos en un proceso mutuo y compartido. Relacionarse
con, en un proceso transformador. Estar con, que invita a
transformarse con. Invita a un diseo en conjunto, de la forma en que se va a estar juntos, cmo, y dnde llegar.
Son procesos creativos, en un continuo proceso de entendimiento y desarrollo. Ver lo que es el otro, como recursos que
estn ah para que interactuemos con ellos. Cmo me relaciono con estas ideas o conocimientos, que digo que me gustan?
Ver lo nico, lo sorprendente, lo no familiar de la persona que
estamos encontrando; para que las personas se pongan en contacto con sus propios recursos: es el conocimiento local. La diferencia de la persona, vista como un recurso.
Cmo puedes invitar a relacionarte con la diferencia?
Cada persona es nica; cada vez, cada nuevo encuentro,
es distinto. Cules son las caractersticas, que me hacen ser la
persona ms capaz y confiable, en mi trabajo? Tiene que ver
con la filosofa de vida, con la congruencia entre la vida personal y profesional. Nuestras creencias nos permiten hacer cosas nuevas, y nos impiden hacer otras.
Para entrar en dilogo con otra persona, primero tienes
que estar en dilogo contigo mismo; y tener la capacidad de
pensar de forma tentativa, sin pensar que eres dueo de la verdad.
Cmo participamos como profesionales, en la historia, y
en cmo la historia es contada? Esto es lo que quisieron decir
cuando lo quisieron decir, y de la forma en que lo quisieron decir? El otro tiene algo valioso que quiere decir, y que vale la
pena escuchar. Dejarte invitar por quien cuenta la historia.
Hay una curiosidad contagiosa: el genuino inters del terapeuta, que se contagia al consultante.
El tipo de preguntas que favorecemos: las preguntas son ofrecidas no para ser contestadas, no tienen expectativa de respuesta, ni sugerencias encapsuladas. Son preguntas
hechas como invitacin a una conversacin. Preguntas como
una forma de hablar, que inviten al otro a dialogar, a decir,
para que nosotros podamos escuchar; para que podamos escuchar, y poder dar sentido, desde su perspectiva, y no de la nuestra.
Es importante dejar de lado los mapas mentales, que al
diagnosticar impiden la relacin dialgica. Desde esta perspectiva, los diagnsticos son obstculos para el dilogo. Necesitamos encontrar la forma de estar con el otro, que invita a transformarse con el otro. Dilogo implica que tengas un socio conversacional, que se involucre contigo, en el diseo del dilogo.
Ests escuchando lo que ellos quieren que escuches, y ests
entendiendo lo que ellos quieren que entiendas? Cmo sabes
que escuchan pero no te oyen?: Porque hacan preguntas que
no provenan de la conversacin sino de sus marcos y necesidades de trabajo.
Hay que crear momentos de sorpresa, que enfrentan y
modifican los estereotipos. La conexin -o no-est alrededor
de la manera en que se etiqueta -o no-, y con la idea que se tiene de una persona. El reto es escuchar lo que los otros dicen, y
369
mente exploramos la posibilidad de alternativas; y de encontrar un terreno comn. Se trata de la bsqueda de nuevos caminos.
Nos preguntamos: Quin trae las palabras-conceptos,
que guan la terapia? Qu significados existen dentro de cada
palabra gua? En estas terapias hay una actitud potica:
cuando las palabras vienen de la mente, del corazn, del cuerpo. Es una forma de encontrarte con cada una de las personas,
donde cada una de estas personas estaba realmente presente.
Ir construyendo sus respuestas, de terapeutas, a partir de las
respuestas de los otros.
Ritmo-tono: delicadeza del trabajo, para preguntar, dialogar; y, que da el tiempo para que el otro escuche, reflexione y
hable. Disfrutar del cuidado, delicadeza para escoger las palabras, para dialogar. Invitar a un dilogo donde haya lugar
para todas las voces, y para todos los odos. Dar un paso, asegurarse de que la tierra est firme, y luego, dar otro paso. La
confianza es algo compartido, mutuo. Es recproco. Abrirse a
la oportunidad de no mantenerse igual; llevarme la posibilidad de convertirme en alguien distinto.
El potencial creativo, las prcticas colaborativas en la
terapia
Deconstruccin constructiva de estas estructuras sociales
injustas. Invitando a la reflexividad; creacin de un espacio dialgico, donde se puede dar y recibir un NO, sin miedo de
daar la relacin, sino, al contrario, como aquello que permite
mejorar la relacin.
370
Descentralizacin del poder desde el No Saber: esto es poltico, y transformador. Cmo hacer las preguntas, que preceden las respuestas? Las preguntas tienen que estar muy cerca
de donde la persona quiere ir; sintiendo que la direccin a donde van, sea el lugar correcto. Cmo caminar con el otro? Cmo la terapia puede llevar donde la persona quiere ir?
El terapeuta, como vehculo para que todas las voces
sean escuchadas. Es importante escuchar las grandes palabras, para poder meternos dentro de ellas, y darles otro significado. Entrar a cada sesin con curiosidad: quiero saber ms;
cada cosa ser una sorpresa. Escuchar muy bien, el ritmo y el
tiempo del otro: con inters de conocer, de comprender. Enfocarse en el proceso de lo que hicimos juntos. Ser consciente de
lo que estoy pensando, y de cmo lo ofrezco al consultante.
La curiosidad por dialogar con la persona permite que
cuente el contenido de lo que considere importante. Muy enfocado en la persona, no en el problema; as el problema se disuelve. Externalizando el problema. La persona no es un problema.
Comprendiendo el mundo, desde las personas (Paulo
Freire). Qu es lo que hago con lo que el otro dice?: Escucha
activa. Esto es lo que puede ser til o no? Hacer preguntas
que abren otras ventanas; otras puertas, que abren otros campos; preguntas muy simples.
No quedarse en el nico lugar conocido, seguro, de certezas, cientfico; y, colocarse en un nuevo lugar; por ejemplo, el
lugar del psiclogo. A una madre, le podemos preguntar, sobre el dilema, que est atravesando con sus hijos: desde tu intuicin de madre: qu te dice; qu haras?
Cmo hacer que los consultantes hablen de lo que quieren hablar, y no de lo que el terapeuta quiere escuchar? El
problema solo es el problema, fue construido por un sistema
lingstico.
Dar cuenta del proceso: es el mtodo.
Lo que estn viendo es muy distinto de lo que esperaban
ver; as se enfocan en el proceso. Escuchar, hablar, or, y pensar: es un proceso polifnico. Conectarse con la mirada, con la
persona. Pintar un panorama de muchas opciones De qu vamos a hablar; y, qu espera cada uno de la conversacin? Recuerden sus expectativas. Qu es lo que les gustara contarnos? Qu es lo que t, quisieras, que nosotros sepamos?
Qu estarn pensando ustedes mientras escuchan esto? Con
quin ha conversado sobre este asunto; con cules otras personas; y, qu le han dicho?
Que cada uno cuente la historia como la quiere contar.
La idea es caminar a lado de las personas, ms que halarlos
desde adelante, o, empujarlos desde atrs. Es preferible quedarse con una visin amplia, con una conversacin abierta.
Hay que tener cuidado en lo que estn articulando como teora, porque pueden pensar a la persona desde ese lugar. Preguntamos a cada consultante: Qu estaban pensando mientras estbamos conversando? Estaras dispuesto a compartir
lo que estabas pensando, mientras estbamos hablando? Es
poner atencin a los dilogos internos de la persona.
Diferenciar entre conceptos, principios, ms que tcnicas
o mtodos; principios que guan estos conceptos: invitar mlti371
ples voces, que se puedan tomar o dejar: qu pasaba en tu cabeza; qu los conect; qu pensaban? Dnde se encuentran
ahora, despus de lo que se convers? Dnde estbamos, y
dnde estamos ahora? Que hablen entre los consultantes sobre lo acontecido. Que la conversacin se mantenga viva; y,
que tenga vida propia, cuando salgamos de la sesin. Tener
confianza en que el proceso por s mismo regresa al individuo,
sin interrumpirlo.
Se convocan y movilizan un conjunto de recursos, de voces, con sus recursos; luego llega la incertidumbre, y no sabemos de dnde llegar el recurso necesario. Lo que es posible,
en la medida, que nos movemos. Es una danza: dialctica entre creatividad y libertad, una deconstruccin con irreverencia
y respeto a la vez, para con preguntas que generen la propia
relacin dialgica, movilizar recursos propios inditos, gracias
a la confianza entre todos los participantes involucrados.
No nos quedamos en la primera impresin, sino que nos
movemos en rizoma. Hay una belleza esttica, potica en esta
construccin conjunta de lo posible. Necesitamos permanecer
dentro de la agenda de los consultantes. Preguntarnos: por
qu preguntar? Las preguntas nacen del propio proceso de la
conversacin Mantenernos dentro de la agenda nos ayudar a
saber qu no preguntar; qu no ser til para la agenda. No
hay necesidad de tantas preguntas, sino de dar espacio para
que la gente hable. Uno no sabe lo que ha preguntado hasta
no or la respuesta.
Podemos mantenernos en las palabras del consultante;
mantenernos en la pregunta significativa. Pedirles permiso de
hacer algo, que sea distinto a lo que los otros esperaban (y,
darse a uno mismo el permiso). Sensibilidades que guan la accin: una manera de ser en la que, quiero ser sensible en ciertas cosas, y eso invita a la gente a un trabajo compartido; y as
se invita a un estilo descentralizado de trabajar y dialogar.
Un proceso social liberador
No hay objeto-sujeto. Todos somos sujetos. La estima social: tiene que ver con la relacin con los dems; y, se construye paso a paso. Siempre estamos en camino a entendernos.
Posicin de qu tal si, una manera de traer voces imaginarias a la relacin; para construir reflexin, y aprender del contexto.
No quedarse en la voz del terapeuta experto, sino escuchar otras voces. Cuando hay ms de una persona, se invitan
otras perspectivas (vlido tambin para los contextos de supervisin clnica). Que alguien pueda hablar con la voz del consultante, mientras los dems responden, sabiendo que cada quien tiene conversaciones internas propias. Es invitar ms voces
para que crezcan las posibilidades de este mtodo polifnico.
Cada conversacin es singular, y a la vez se conecta con otras
conversaciones pasadas o futuras, que cada quien tiene.
Como terapeutas, podemos elegir ser Curiosos de querer
aprender ms de lo que viene narrado. Estar al tanto de los recursos que tenemos; y, de los que tienen los consultantes. Salir del papel del dominante-habla, el dominado-escucha. La
intencin es participar en una conversacin ms operativa. No
crearse una prisin de pensamiento. Confiar en el proceso colaborativo y dialgico.
372
red de relaciones y conexiones, que sostengan las ideas. Vamos a generar relaciones que les permitan a las personas estar
en contacto responsable con sus pensamientos, sus sentimientos y sus reflexiones.
Para qu elegimos ser pareja de alguien; y, para qu traemos hijos al mundo? Qu podemos hacer con nosotros para
acompaar con empata a nuestros hijos? Cmo quiero ser
con los otros? Y Cmo quiero que sean ellos conmigo? Qu
responsabilidad tengo yo, para contribuir -sin prejuicios, desde ahora-, a construir la relacin de pareja, familiar, laboral,
ciudadana que me gustara y merezco: y hacerlo con inteligencia, respeto, alegra, responsabilidad, confianza, autenticidad,
placer, creatividad, buen humor, templanza, solidaridad, justicia, dignidad, espritu crtico, tica y libertad? Qu cambiara, si subvertimos todas las condiciones en que los seres humanos son explotados, oprimidos, humillados y
enajenados...desde su tierna infancia?
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373
374
A Narrativa Corporal da
Criana na Terapia de
Famlia
Eline Renn
Psicloga Clnica, Professora de Psicomotricidade e Psicoterapia de Famlia da PUC Minas. Pesquisas sobre a dialtica das
relaes do corpo no tempo e no espao, na perspectiva da infncia e da juventude. E-mail: [email protected]
Resumo
Como evitar que a Terapia de Famlia se transforme em
Terapia Individual da criana? Como no torturar a criana
com vrias perguntas s quais s pode responder com o silncio? Como evitar que ela tenha a impresso de que mesmo o
problema, j que se fala dela na sala, na qual, por vezes, no
pode entrar? Como escutar a criana na Terapia de Famlia? O
que ela mostra e esconde ao mesmo tempo? O conceito original de narrativa corporal fruto da Dissertao de Mestrado
(UFRJ, 2001) da autora e diz respeito capacidade de a criana contar sua histria pelo corpo. Foi fundamentado no pensamento de W. Benjamin (1984), para quem, a criana faz histria do lixo da Histria. A incluso da criana durante as sesses de Terapia de Famlia e a introduo de recursos metodo-
lgicos da interveno no verbal, extrados da Psicomotricidade, na ateno sua mnima variao tnica, motora e afetiva,
permite a escuta de sua narrativa corporal, sua maneira singular de se comunicar pelo corpo com os adultos. Na relao inter-carnal que se estabelece entre o interlocutor-adulto e o narrador-criana, o movimento fluido, ambguo e catico da criana vem tona. Segundo Andolfi (2011), os distrbios da criana falam atravs do corpo e o caminho para se chegar aos
ns relacionais da famlia, pois o problema da criana sempre um problema da famlia. Permitir que, em sua linguagem
ruidosa, ela desenhe o outro, utilize de sucata, dramatize uma
cena para espacializar seus fantasmas corporais um meio de
escutar seus prprios recursos expressivos. o que torna possvel a comunicao entre o terapeuta, a criana e a famlia, na
busca da circularidade do problema e da reconstruo de significados, como mostram os resultados dos atendimentos realizados e supervisionados pela autora em estgios da Graduao e Ps Graduao, na Clnica de Psicologia da PUC Minas.
Palavras-chave: Psicomotricidade, Terapia de Famlia,
Histria e narrador-criana.
Introduo
O trecho a seguir, extrado de Infncia em Berlim por
volta de 1900, de Benjamin (1993) e aquece a proposta desse trabalho na busca da reviso de noes sobre a Histria e a
criana capaz de contar sua histria:
375
376
lam atravs do corpo e o caminho para se chegar aos ns relacionais da famlia, pois o problema da criana sempre um
problema da famlia.
Ao utilizar de sucata (lixo da Histria), dramatizando
uma cena, a criana espacializa seus fantasmas corporais,
num flash fotogrfico do tempo, interrompe o fluxo da Histria e mostra a dvida que o adulto tem com a infncia. O impacto que a cena causa, torna possvel a comunicao entre o
terapeuta, a criana e a famlia, na busca da circularidade do
problema e da reconstruo de significados, como mostram os
resultados dos atendimentos realizados e supervisionados em
Estgios de Psicomotricidade e de Psicoterapia de Famlia durante a Graduao do Curso de Psicologia, desde 1991 e Ps
Graduao, do IEC, desde 2009, da PUC Minas.
A incluso da criana durante as sesses de Terapia de
Famlia e a introduo de recursos metodolgicos da interveno no verbal, extrados da Psicomotricidade, na ateno
sua mnima variao tnica, motora e afetiva, permite a escuta de sua narrativa corporal, sua maneira singular de se comunicar. Na relao inter-carnal vidente e visvel que se estabelece entre o interlocutor-adulto e o narrador-criana, o movimento fluido, ambguo e catico da criana provoca a reviso
do sentido da infncia.
A ilustrao de Pipiu (RENN, 2012), uma criana de
trs anos, por ns assim chamada, indica o desvelamento do
fenmeno da situao em que vivia no mundo e a interpretao dos significados essenciais de sua experincia. Pipiu foi
trazido Clnica de Psicologia por sua me, com a queixa de
estar esfregando seu pnis nas meias e sapatos das pessoas. A
377
me, devido sua profisso de enfermeira demandava a necessidade de a criana ser cuidada por outras pessoas, ora por
seu pai, ou irmo, ora por uma adolescente ou uma vizinha. O
menino s aceitou ficar na sala do atendimento em Psicomotricidade com a estagiria se a me tambm permanecesse l. Durante vrias sesses, sob a observao da estagiria, alm de
brincar com elas, brincava sozinho, passando a utilizar as partes soltas de um antigo cubo de madeira. Tentava colar os pedaos do cubo no limite entre o marco e a porta fechada da
sala, com pequenas pores de massa de modelagem at o limite de sua altura de criana. Mesmo que os pedaos cassem
no cho, a criana continuava a empreender sua tarefa. Repetiu os mesmos gestos, em vrias sesses, na descrio do fenmeno, at que, em uma delas, jogou uma boneca de pano no
cho, deitou-se e roou seu pnis sobre ela. poca, a estagiria em superviso mostrou sua preocupao diante do fato, e
ficamos ela e eu com dificuldades para entender o que se passava. O que o menino queria nos dizer? Passamos vrias supervises a refletir sobre o fato e pensamos na possibilidade de
uma tentativa no verbal do menino em desocultar seus conflitos. Parecia nos indicar que, enquanto estabelecia com a estagiria a relao de confiana, na presena da me, trancava a
porta para garantir o espao de sigilo entre eles, revelando depois seu segredo. Em sesso posterior interpretao do fato,
na presena da me e da criana, a estagiria perguntou, questionando a nossa prpria percepo, caso estivssemos erradas, se fazia sentido para eles (me e filho) pensar que o menino pudesse ter sido molestado. A me, ao abaixar a cabea, enrubescendo, disse que esperava que estivssemos erradas e
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Concluses
De acordo com Minuchin e Fishman (1990) a famlia tentar convencer o terapeuta de quem o portador do sintoma e
responsvel pela desorganizao familiar.
O prognstico a princpio foi reservado, tendo em vista
que havia discordncias de orientaes entre terapeutas e mdicos; a famlia tendia para acolher o comportamento sintomtico com doena. No entanto, a terapia familiar sistmica,
como espao para reflexo, favorece a ampliao dos horizontes da vida e um espao em que cada membro possa se responsabilizar por sua parte na questo e na soluo.
Portanto, a aliana e dilogo entre terapeutas e famlia
movimentaram o sistema promovendo os resultados alcanados.
382
sora Prof. Fabiane Moraes de Siqueira. A equipe era Multiprofissional em Especializao em Terapia Familiar. A populao alvo do atendimento eram Famlias em Atendimento Social e Gratuito.
Havia uma pr-sesso para planejamento; o atendimento, a intersesso com o Coro Grego (reconotao positiva), e a
ps-sesso com discusso e superviso do caso. A sala de atendimento era disposta de modo a ficarmos todos prximos e
em semicrculo. O Sr Joo comparecia aos atendimentos pontualmente, ficava confortvel com os presentes, havia colaborao, reciprocidade e acolhimento.
Apresentao
Relato
384
Os resultados comprovaram a necessidade da mudana de postura frente situao posta, tanto na questo da separao,
quanto no trato das crenas bsicas.
Quando a boca fala o corpo sara, quando a boca cala
o corpo adoece
Adalberto Barreto
Sr Joo:
Quando eu vim estava muito mal, fazia trs anos que
havia me separado e achava que daria conta de lidar com
tudo, minhas irms que falaram para eu vir para c. Eu
no podia estar mal porque precisava cuidar dos meus filhos... Hoje vejo tudo de um jeito diferente, melhor. Eu chegava cansado e saia mais leve, tranquilo.
Genograma
385
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s/Ed
386
Resumo
O mito familiar pode se configurar como uma defesa que
atua para distorcer a realidade das relaes familiares, protegendo seus membros do enfrentamento de verdades dolorosas
sobre o prprio funcionamento. Mesmo diante de situaes
que o contradigam a viso idealizada, o ideal de famlia tende
a permanecer fortemente presente como um modelo a ser seguido. Este trabalho tem como objetivo refletir sobre o mito
da famlia ideal como fator de risco ao uso de drogas. Utilizouse a metodologia do Grupo Multifamiliar, aliando as experincias musicoteraputicas de audio, re-criao, improvisao
e composio musicais, aos jogos psicodramticos. A partir de
uma anlise musicoteraputica, na qual so consideradas a
anlise do material musical veiculado pelo grupo, as histrias
dos participantes, a movimentao e o processo de produo
musical, verificou-se que a medida que os pais sustentam suas
percepes no mito da famlia ideal, se distanciam da realidade, favorecendo a manuteno dos fatores de risco ao uso de
drogas. Isso pode tornar os membros da famlia mais vulnerveis, em especial as crianas e os adolescentes. Notou-se tambm que, as experincias musicais favoreceram a comunicao entre pais e filhos e a compreenso da necessidade de autoconhecimento, limites definidos e expresso de amorosidade
na famlia para o enfrentamento de situaes de risco ao uso
de drogas.
Palavras-Chave: Mito Familiar; Drogadio; Terapia Familiar e Musicoterapia.
387
Introduo
A famlia uma instncia da sociedade que, desde o advento do sentimento de famlia na era moderna, passou a ter
uma valorizao mpar e um conjunto de significados importantes.
A partir do sculo XVI com a difuso do sentimento de
infncia e, aps, com o aparecimento da burguesia, as famlias
passaram a ter um carter privado, com uma organizao nuclear e reservando para si o direito privacidade no tocante
educao de suas crianas (Macedo, 1994).
Na Psicologia, a famlia reveste-se tambm de uma importncia capital em virtude de ser o primeiro grupo do processo de socializao em que uma pessoa se insere. De acordo
com Horkheimer (2006, p. 214):
entre as circunstncias que influenciam de modo decisivo a formao psquica da maior parte de todos os indivduos, tanto pelos mecanismos conscientes quanto pelos inconscientes, a famlia tem uma importncia predominante. O que ocorre nela plasma a criana desde a sua
mais tenra idade e desempenha um papel decisivo no despertar de suas faculdades. Assim como a realidade se reflete no meio deste crculo, a criana que cresce dentro
dele sofre sua influncia.
Desta maneira, a Psicologia diferencia a famlia de outros grupos sociais nos quais o indivduo se insere por seu carter primrio - o primeiro grupo do qual uma pessoa participa - e
afetivo, visto que na famlia que a busca e satisfao dos afe-
tos mais premente. Diferentes autores concordam que a funo da famlia organizar-se de maneira tal que seja capaz de
satisfazer as necessidades mais primrias de seus membros,
no que concerne sobrevivncia fsica e emocional: alimento,
sade, segurana, afeto, lar, sentimento de pertencer, de ser
cuidado e amado.(Macedo, 1994; Adorno e Horkheimer, 1973;
Horkheimer, 2006). Considera-se suficientemente boa a famlia que capaz de suprir as necessidades de seus membros, de
oferecer um ambiente saudvel com boas relaes intrafamiliares.
Para Bateson et al. (1980) a famlia compreendida como um
grupo composto por pais, filhos e parentes significativos, tais
como avs, tios e outros, inclusive membros significativos no
familares. Neste enfoque percebe-se que no h uma nfase
no lao consanguneo, mas na interao entre seus membros.
Todas essas qualidades atribudas famlia so construdas e
mantidas socialmente e como consequncia, percebidas como
desejveis e produtoras daquilo que se pode denominar como
o mito da famlia ideal.
Nesse sentido, o presente trabalho buscou refletir acerca do
mito da famlia ideal e como ele se configura como um fator
de risco para o uso de drogas, sobretudo na adolescncia, a
partir de experincias de Musicoterapia em um Grupo Multifamiliar.
Mitos Familiares e o mito da famlia ideal
Os mitos so construo sociais que se apresentam na forma de um discurso, uma histria referida a uma realidade
388
Apesar do uso das drogas ser uma temtica em evidncia, paradoxalmente pouco se fala sobre as desigualdades culturais e educacionais envolvidas. Em geral, prevalece uma
perspectiva que refora estigmas e preconceitos, o que pode
comprometer uma postura preventiva e fortalecer, por conseguinte, uma conduta repressiva (Abramovay & Castro, 2005).
As polticas pblicas atuais, por meio de seus programas
e aes voltados para a interface com a Educao e a Sade,
buscam o fortalecimento de uma rede de ateno s questes
relativas ao uso de drogas que seja inclusiva, humanista, no
estigmatizante, de respeito s diferenas e de acolhimento ao
usurio e seus familiares (SENAD, 2011; Lima, 2011). Portanto, prevenir no banir a possibilidade de uso de drogas, mas
possibilitar que o indivduo tenha condies de fazer escolhas.
Trata-se de oferecer comunidade a oportunidade de evitar o
surgimento de problemas de sade, antecipando aes que diminuam a vulnerabilidade e fortaleam o indivduo (SENAD,
2011).
Para o desenvolvimento de um trabalho de preveno
necessrio conhecer a realidade do grupo especfico, identificando, para aqueles indivduos, o que so fatores de risco e de
proteo (Albertani et al., 2004).
De acordo com Sudbrack e Pvoa (2003), os fatores de
risco so aquelas circunstncias sociais e/ou pessoais que tornam o indivduo vulnervel a assumir comportamentos arriscados, como usar drogas. Fatores de proteo so aqueles que
contrabalanam as vulnerabilidades, tornando a pessoa com
menos chances de assumir esses comportamentos.
para preveno e atendimento, falta de oportunidades de trabalho e lazer so alguns dos fatores de risco tambm ligados
sociedade.
Quanto ao aspecto relacionados a prpria droga, a autora
elenca como fatores de proteo: informaes contextualizadas sobre efeitos, regras e controle para consumo adequado; e
fatores de risco: disponibilidade para compra, propaganda
que incentiva e mostra apenas o prazer que a droga causa, prazer intenso que leva o indivduo a querer repetir o uso.
Nota-se que os fatores de risco e de proteo obedecem a
uma lgica muito individual e ganham sentido de forma nica
para cada um. Por isso, necessrio estar atento ao indivduo
e no ter concepes pr-formadas. Os fatores que representam risco para um determinado adolescente podem representar proteo para outro. Um adolescente tmido pode precisar
usar drogas para se expressar melhor e assim entrar em um
grupo de amizades. Em contrapartida, a timidez de outro adolescente pode afast-lo de um grupo em que haja consumo de
drogas. Um pai que tem um consumo exagerado de lcool
pode incentivar um adolescente a ter contato com bebidas alcolicas precocemente. J em outro caso, o consumo de lcool
em exagero do pai pode servir como um exemplo a no ser seguido pelo adolescente (SENAD, 2011, p.142).
Grupo Multifamiliar
O GM conceituado como uma proposta de interveno
psicossocial e utiliza-se da sesso psicodramtica como modelo para estruturao dos encontros (Costa,1998; 2003).
392
393
Resultados e Discusso
Dois momentos da pesquisa foram significativos no tocante percepo dos participantes acerca da famlia de uma
maneira idealizada, na primeira e na quinta reunio.
1a Reunio 20/05/2013
O tema do primeiro encontro foi Famlia e estiveram
presentes 14 participantes, 7 adultos ( 4 mes e 3 pais), 3 adolescentes e 4 crianas. Realizou-se o aquecimento cantando a
cano Quem que veio hoje? (autor desconhecido), para
conhecer os participantes e favorecer a integrao grupal. Em
seguida, foi feito um jogral com a msica Famlia (Tits), no
qual os participantes completavam o refro Famlia, famlia... a partir das suas experincias cotidianas. Essa tcnica
pode ser considerada uma variao da tcnica provocativa musical, descrita por Barcellos (2008, p.6), em que a interrupo de uma sequncia de sons conhecidos, de um ritmo, de
uma melodia, de um encadeamento harmnico pode provocar
a pessoa e lev-la a completar o que se apresenta incompleto.
Na etapa de discusso, foi proposto aos pais e adolescentes a elaborao de cartazes com a seguintes questes: O que
famlia para voc? Quais as qualidades e dificuldades de sua
famlia? Os adolescentes tambm elaboraram uma carta para
compartilhar com os pais o que desejavam para suas famlias.
Com as crianas, foram cantadas canes infantis acompanhadas ao violo, seguida de improvisao vocal sobre o que era
famlia e atividade de desenho com a mesma temtica. Na con-
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contexto da justia. Braslia: Plano Editora.
398
399
Mudana do Paradigma
Asilar e a Resignificao do
Sujeito: Estudo
Teraputico Multidisciplinar na Ateno ao Idoso no
Instituto de Longa
Permanncia para Idosos
Butant/SP
The Change in the Asylum Paradigm and the Individual Resignification: Therapy Multi-Disciplinary Study
in the Elderly Attention in the Long Stay Permanency
Institution for the ElderlyBUTANTA/SP
Gusmo, Gisela O.
Estudou Composio e Regncia no Instituto de ArtesUNESP; Acupuntura e Terapias Orientais no SATOSP (Sindicato dos Acupunturistas e Terapeutas Orientais do Estado de
So Paulo). Cursa o 8 ciclo da Graduao em Psicologia do
Centro Universitrio So Camilo. Atua como Educadora Musical e Terapeuta Oriental. Contato: [email protected]
Oliveira, Olivia R.
Resumo
O presente trabalho tomou como estudo o impacto da
mudana do paradigma asilar para o de Instituio de Longa
Permanncia para Idosos, sobre a populao da ILPI/Butant
So Paulo e as consequncias do tempo prolongado de institucionalizao. A Interveno foi desenvolvida e aplicada em
14 visitas ao campo, compreendendo o mapeamento, levantamento das demandas e atividades com os idosos. Constatouse nessa populao demandas de reconhecimento e de amor;
rigidez tanto do corpo quanto do carter; dficits cognitivos e
dificuldades nas relaes interpessoais. Constatou-se que a referida instituio, em funcionamento desde Janeiro de 2013,
atua em rede com equipamentos de sade e com a comunidade, correspondendo de forma adequada aos cuidados com a
sade e o bem estar do idoso, concluindo-se que as dificuldades apresentadas por essa populao podem ser amenizadas
por meio de atividades baseadas nas seguintes tcnicas: Qi
Gong 6 Sons Curativos1, Massagem Teraputica por reflexologia das mos2 e Sensibilizao Musical3, com base na teoria dos Sete Anis da Couraa de Wilhelm Reich. Aps a interveno, foi possvel notar abertura para a comunicao, evoluo no contato interpessoal, nos aspectos cognitivos e o reconhecimento do espao como lugar de pertencimento.
Palavras-chave: Pblico idoso; ILPI; Interveno;
Alzheimer.
400
Abstract
This study focuses on the impact of the change in the
asylum paradigm in the long stay permanency institution for
the elderly in the ILPI/Butanta population Sao Paulo and
the consequences of extended period of time of institutionalization. The intervention was developed and applied in the total of 14 field visits, including mapping the demands and activities with the elderly. It was found among this population demand of recognition and love, rigidity of both body and character; cognitive deficits and difficulties in the interpersonal relationships. It was concluded that the said institution which has
been operational since January 2013, in network with health
equipments and the community, corresponded adequately to
the health care and wellness of the elderly and that the difficulties presented by this population can be smoothed through activities based on the following techniques: Qi Gong - 6 curative sounds, therapeutic massage by hand reflexology and
musical awareness, based on Wilhelm Reich's Segmental Armouring Theory. After the intervention it was possible to observe a communication opening in the interpersonal contact
evolution, in the cognitive aspects and recognizing the place
as a belonging area.
Keywords: elderly; ILPI; Intervention; Alzheimer
Introduo
Amor, trabalho e conhecimento so as fontes da nossa vida.
Deveriam tambm govern-la.
Wilhelm Reich
A mudana do paradigma do modelo asilar para o de ILPI, um tema de grande importncia nos dias atuais por tratar das questes do envelhecimento e da institucionalizao,
sendo que a expectativa para as prximas dcadas de uma
sociedade de velhos. No raro, a ideia no senso comum, de
uma instituio de idosos marcada por histrias negativas sobre o sujeito institucionalizado, visto como algum destitudo
de autonomia. Tais locais chegam a ser vistos como depsitos
de pessoas. Romper com o modelo de instituio antes denominado asilo, casa de repouso, lar de idosos, onde o sujeito
era mantido recluso e no status de invisibilidade social e alijamento, requer a compreenso de que uma instituio com tal
finalidade necessita garantir ao idoso a autonomia, a liberdade, os cuidados e estmulos para que o morador possa usufruir
desses direitos.
As ILPI so destinadas ao domicilio coletivo de pessoas
com idade igual ou superior a 60 anos, em situao de vulnerabilidade social ou cuja famlia no dispe de recursos para a
manuteno da sade e da segurana do idoso. Alm da padronizao da nomenclatura, em tese, a moradia coletiva deve permite o livre trnsito dos usurios mantendo-os integrados
sociedade. A ILPI-Butant/So Paulo (Servios Assistenciais
Senhor Bom Jesus dos Passos), em funcionamento desde Ja401
lhecimento da populao nos sistemas de sade pblica provocando mudanas significativas no quadro de morbimortalidade (IBGE, 2013), bem como as consequncias do tempo prolongado de institucionalizao h risco dessa populao desenvolver ou agravar sintomas compatveis com quadros de demncia e transtornos mentais, sobretudo se o ambiente for
pouco estimulante e estiver presente o excesso de medicao.
Dessa forma, o projeto de interveno procurou considerar os aspectos sociais relacionados natureza biolgica do indivduo, tendo em vista os parmetros tanto da teoria reichiana dos Sete Anis da Couraa, como da Psicologia Social e
da Neuropsicologia, enriquecendo o campo perceptivo e buscando analisar de forma abrangente a influncia dos aspectos
neurolgicos e cognitivos no comportamento dos idosos, alm
das implicaes no que tange ao adoecimento e vulnerabilidade social. A estratgia principal consistiu na valorizao e
no estmulo dos recursos dos participantes, considerando sua
individualidade.
Elegemos uma abordagem que nos distanciasse do lugar
talvez pretencioso, daquele que se presta a ajudar ou aliviar o
sofrimento do sujeito. Daquele que, inspirado pelas teorias se
sentisse apto a melhorar a qualidade de vida dos moradores
durante o perodo de interveno, e, desprezando os saberes
dessa comunidade, os mantivessem numa posio passiva reforando a crena de que o idoso e o doente so incapazes de
realizar algo por si e para si. Sem excluir, entretanto, o amparo, o acolhimento e a ateno diferenciada, to necessria a
essa populao.
402
A tcnica para dissoluo das couraas envolvem os exerccios de respirao, massagem teraputica e a adeso do paciente a fim de lidar com os contedos que emergem no processo para o reequilbrio. Baseamo-nos na modalidade de QI
GONG chamada Seis Sons Curativos, na Lepidoptera Musicum4, como carinhosamente as pesquisadoras nomearam a
tcnica, bem como na massagem teraputica, a fim de trabalhar a resistncia dos pacientes utilizando seus prprios recursos, permitindo que atravs da respirao e do movimento,
que so as bases do QI GONG, o sujeito pudesse liberar contedos fortemente protegidos pela musculatura encouraada.
Concluiu-se que o enrijecimento muscular e do carter,
pode ser amenizado atravs da interveno realizada por meio
das atividades descritas acima, considerando-se a evoluo
dos participantes que se mostraram mais relaxados e abertos
para a comunicao, tranquilos e sorridentes, sendo que, at
mesmo os mais hostis mostraram-se receptivos atividade e
ao contato. Constatou-se tambm um incremento na linguagem verbal. Segundo Reich (1942), o corpo e a mente so duas
dimenses inseparveis do homem, tendo analisado em seus
pacientes as contradies entre o discurso e a atitude corporal, um fenmeno que ele denominou como encouraamento
do carter.
(...) A totalidade dos traos de carter neurticos
manifesta-se na anlise como um compacto mecanismo
de defesa contra nossos esforos teraputicos, e quando
remontamos analiticamente origem dessa couraa de
carter vemos que ela tem, tambm, uma funo econmica definida. Tal couraa serve, por um lado, de prote-
bilizao Musical que envolveu a atividade Lepidoptera Musicum e o Baralho Musical, de acordo com os conceitos da
Psicopedagogia Musical de Gainza (1977) e da Ecologia Acstica5 de Schaffer (1991) que prope, entre outros aspectos, a sensibilizao e a conscincia sonora e musical atravs de jogos.
O Baralho Musical consiste em cartas com as imagens
dos instrumentos musicais, sendo que ouvindo atentamente
uma determinada msica, o grupo ora apresenta as cartas correspondentes aos instrumentos que compe o conjunto musical, ora as que no correspondem ao conjunto. A atividade foi
aplicada como exerccio da percepo e da discriminao auditiva, a fim de estimular funes cognitivas relativas memria, discriminao, categorizao, ateno e concentrao.
Uma vez que a linguagem verbal desses idosos era muito limitada, o dilogo com o corpo foi um caminho prazeroso e estimulante de contato com o sofrimento psquico dessas pessoas.
As posturas dos Seis Sons Curativos so realizadas com
a pessoa sentada, permitindo que mesmo aqueles com limitaes fsicas possam praticar, consistindo o exerccio, em movimento, respirao, emisso de sons e imaginao de cores, proporcionando o equilbrio do corpo e da mente, o incremento
da vitalidade e o fortalecimento de ossos e msculos.
I.
Os Seis Sons Curativos e os Sete Anis da Couraa
Msica: My Fireplace - Armenian Folk Music
TAI YIN
Relacionado energia do elemento metal/pulmo, seu
som Siiiiiiiiiiiii; as emoes governadas por esse meridiano
so tristeza e depresso; alegria, coragem e justia, correspondendo condio de equilbrio do referido canal de energia.
Durante o movimento imagine uma luz branca brilhante sendo derramada desde a coroa, por todo o seu corpo invadindo
os pulmes e sorria para eles.
Partindo da linha do estmago, enquanto inspira eleve os
braos com as palmas das mos para cima, passando pelos pulmes at a coroa. Vire as palmas das mos para o cu, estire
os braos e emita o som dos pulmes enquanto expira. Abaixe
os braos e repita o movimento.
Interveno
As atividades foram desenvolvidas em 14 encontros, semanalmente, com durao de 60 minutos, compreendendo as
tcnicas: Seis Sons Curativos, Massagem Teraputica, Movimento Sonoro e Baralho Musical.
Fig. 1
404
JUE YIN
Fig. 2
Fig. 3
405
Essas 3 posturas dos 6 Sons Curativos (fig. 1, 2 e 3) podem auxiliar o trabalho de liberao do segmento dos olhos,
segundo o exerccio reichiano, abrindo bem os olhos, realizando movimentos circulares de um lado ao outro, influindo para
a mudana da expresso vazia nos olhos que veem por detrs
de uma rgida mscara.
Da mesma maneira, o segmento da boca encouraado
pela inibio do choro, grito e raiva, produzindo os sons que
mobilizem os lbios, poder ser liberado. O Trax aberto
pela respirao deixando de suprimir as emoes.
SHAO YANG
Relacionado energia do elemento fogo/trs fogos, seu
som Sxchiiiiiiii (com um sorriso nos lbios e dentes cerrados); As emoes relacionadas a esse meridiano so a ira, a
agressividade e afrustrao; o fazer, a iniciativa e a alegria, de
acordo com o equilbrio do referido canal energtico.
Com as mos apoiadas sobre os joelhos, palmas para
cima, inspire imaginando-se dentro de uma bola vermelha e
expire sorrindo, imaginando a energia percorrendo o seu corpo.
Fig. 4
Os seguimentos do pescoo e do diafragma so beneficiados por esta postura, uma vez que ambos esto relacionados
inibio da raiva e podem ser desencouraados atravs da respirao e da movimentao do diafragma.
ZU SHAO YIN
Relacionado energia do elemento gua/rim, seu som
Tchuuuuuuu; Emoes negativas so o medo, insegurana e
estresse; Emoes positivas so a segurana a serenidade e a
suavidade.
Una os ps. Inspirando, abra os braos curvando-se para
trs, e expire curvando-se para frente abraando os joelhos.
Arredonde a coluna lombar e emita o som do rim. Imagine os
rins recebendo a luz azul marinho e sorria para eles.
406
Fig. 5
Fig. 6
Os seguimentos do abdomem (msculos abdominais longos e das costas) e pelve esto relacionados ao medo de ataques e inibio do rancor, da ansiedade, raiva e prazer. Com
os movimentos de alongamento dos msculos abdominais e
das costas, bem como a respirao e os sons, possvel liberalos. Entretanto, estando abertos os seguimentos altos, estes podem se equilibrar naturalmente.
Lowen (1975) afirma que uma pessoa congrega suas experincias de vida as quais formam a personalidade e so estruturadas no corpo, atravs do qual o sujeito atua no mundo.
Portanto, o processo de desencouraamento deve respeitar os
limites da pessoa, pois a couraa pode ser comparada a uma
bengala na qual o indivduo se apoia para manejar as angstias. Notou-se que, paulatinamente as resistncias foram dilu-
YANG MING
407
Para Reich (2004), as tenses musculares crnicas bloqueiam uma das trs vias de excitaes biolgicas: ansiedade,
raiva e excitao sexual, sendo que as couraas fsicas e psicolgicas possuem, essencialmente, a mesma natureza. Quando
o paciente renuncia sua couraa e desenvolve potncia orgstica, alcana tambm a capacidade para o manejo dos rgidos
controles neurticos. O trabalho direto sobre a musculatura
do paciente parte relevante do processo analtico, sendo que
o afrouxamento das tenses visto como o afrouxamento tambm da censura e da eliminao do recalque.
III - Sensibilizao Musical
A sensibilizao musical estimula as capacidades fsicas,
mentais, cognitivas e sociais a partir de um processo teraputico baseado no canal sonoro musical e na criatividade. capaz
de provocar no indivduo reaes mltiplas, sendo a resposta
a um estmulo musical, perceptvel no aspecto motor e/ou
emocional. A reao a estmulos dessa natureza pode ser imediata e d-se nas diversas reas cognitivas e emocionais, comprovando em curto prazo os resultados positivos da interveno.
A teoria reichiana, explica REGO (1990), defende que
todo organismo vivo pulsa porque contm bioenergia incorporada do orgone csmico, e que essa pulsao necessita recorrer a um ciclo natural biolgico de tenso - carga - descarga
relaxamento, denominada de orgstica, para manter uma vida
criativa, prevenir doenas e o desenvolvimento da couraa
muscular e de carter. Schafer (1991), afirma que todo som
408
1 Lepidoptera Musicum
Msicas: Qualquer dia, Velho Sermo e Quadras de Roda
Ivan Lins/ Somewhere Over The Raimbow Judy Garlan
Utilizando msicas ricas em elementos formais, tmbricos,
meldicos e harmnicos, que incluem instrumentos e ritmos
populares, regionais e sinfnicos, a atividade incluiu alm dos
momentos de rememorao da infncia, do amor e da alegria,
a projeo de desejos e sonhos.
Atravs do exerccio foi possvel constatar o quanto o estado emocional e o carter da pessoa esto refletidos na atitude corporal e, portanto, havendo uma modificao nos padres de movimento essa alterao refletir em uma transformao na sade emocional e fsica do indivduo. Por esta razo, o movimento e a imaginao embalados pela msica, podem representar um caminho eficaz de expresso especialmente quando h dificuldade de faz-lo por meio da linguagem verbal.
Reich (2004) analisava detalhes da postura e os hbitos
fsicos de seus pacientes buscando conscientiz-los de como
reprimiam sentimentos vitais usando tcnicas de desencouraamento como a expresso sonora, movimentos expressivos
dos membros e os movimentos ontogenticamente significativos (actings)6.
O conflito entre pulso e defesa, segundo Reich (2004),
no permanece no mbito psquico, devendo-se considerar o
componente somtico. Reich v as couraas como a soma das
defesas psquicas recalcadas que surgem na forma de atitudes
musculares crnicas e fixas. Segundo ele a dissoluo da coura409
410
Houve necessidade de estmulos ostensivos especialmente atravs do dilogo para que os participantes permanecessem motivados. Entretanto, no decorrer das atividades, medida que notavam os benefcios da interveno, o dia do encontro era esperado e o grupo participava espontaneamente. De
forma surpreendente, indivduos hostis demonstraram mais
tranquilidade, tornando-se participativos e trazendo contribuies para as atividades.
As posturas dos Seis Sons Curativos foram realizadas
com muita dificuldade pela maioria dos participantes, sendo
que a respirao e a emisso dos sons foram executadas com
mais facilidade. No foi possvel trabalhar com a imaginao
das cores, pois a quantidade de encontros no foi suficiente.
Entretanto, pode-se afirmar que a tcnica cumpriu a funo
enquanto exerccio e meditao ativa para circulao do QI
(energia), pois a cada contato, os idosos se mostravam mais
relaxados e abertos para a comunicao.
Durante a Lepidoptera Musicum, houve disposio dos
participantes para a dana individual, em pares e em roda,
alm de cantarem as msicas com muita satisfao. Demonstravam as sensaes provocadas pela msica, pelo exerccio e
pela massagem, na expresso alegre e tranquila de seus rostos. At mesmo aqueles mais hostis se mostraram muito receptivos atividade e ao contato com as pesquisadoras. Alguns
idosos relatavam que a massagem trazia um bem estar geral e
o alvio de dores. Mas, o que se notava, eram os efeitos do tempo prolongado de institucionalizao, que restringe ou at
mesmo exclui o contato fsico, a troca de afeto e negligencia a
relacionada aos sintomas secundrios, como resposta aos exerccios cognitivos e ao estmulo das sensaes atravs da interveno. Portanto, conclui-se que o enrijecimento muscular e
do carter, pode ser amenizado atravs das intervenes realizadas por meio da Sensibilizao musical, da modalidade de
QI GONG Seis sons curativos e da Reflexologia das mos.
Consideraes
De acordo com BOSI (1979), a memria na velhice uma
construo. Pessoas que tiveram seu tempo produtivo, uma
carreira, vivendo seus diversos papis, e que nessa fase da
vida, no ocupam um lugar bem definido, passam a lembrar e
contar. Entretanto, essa tarefa no se aplica apenas expresso verbal, mas ao corpo, ao cantar e danar, e s emoes,
que fluem na linguagem do choro e do riso. As lembranas do
idoso esto carregadas de afeto e devem ser cuidadosamente
mantidas, ouvidas e trabalhadas.
A primeira grande descoberta que as pesquisadoras experimentaram no campo foi, constatar que o seu olhar trazia ainda um certo preconceito. Uma concepo reforada por essa
imagem do idoso que conta e lembra, bem como de uma instituio para idosos como lugar de excluso. Ao tomarem contato com a populao da ILPI, perceberam que de fato, lembrar
e contar para alguns idosos, era uma tarefa impossvel de ser
realizada, restando sentir e expressar seus contedos muitas
vezes atravs de um corpo imvel. Constatou-se tambm que
o conceito de ILPI est num processo de construo cujo xito
desse modelo de instituio depende em grande parte da supe-
rao do preconceito em relao ao envelhecimento e ao idoso. A partir dessa percepo, o foco do trabalho tomou um
rumo criativo e de muita riqueza.
Trazer inovaes ao campo e um olhar diferenciado daquele que se movimenta automaticamente no local, um meio
de exercitar-se no papel do estagirio, distanciando e aproximando o olhar. Propor atividades complementares quelas j
existentes, beneficiando tanto os profissionais quanto pacientes/residentes, permite visualizar a equipe e considerar o cuidado com o profissional que responsvel pelo cuidado do outro. Nisso consistiu grande parte do nosso aprendizado nesse
campo.
Foi possvel notar dificuldades na adaptao dos idosos
que envolvem aspectos multifatoriais, que so independentes
da natureza pessoal, social ou da experincia do idoso na instituio. Percebe-se atravs dos relatos que apesar de sentiremse satisfeitos com a maneira como so tratados, h muita tristeza e insatisfao atribudas a conflitos famliares, a um forte
vnculo com o local de nascimento e/ou onde constituram famlia, falta de autonomia dependendo do grau de dependncia e dificuldade de relacionamento interpessoal com outros
residentes. Uma instituio, como a ILPI/ Butant, que apoia
a existncia de espaos onde as relaes interpessoais e familiares possam ser exercitadas contribui para este processo de
adaptao.
As narrativas trouxeram temas como a desagregao familiar, a segregao urbana, o adoecimento por condies de
moradia e de trabalho degradantes e, dificuldade de acesso
aos equipamentos de sade ao longo da vida, sensao de no
412
413
mano concebido a partir da sua integrao social e inseparabilidade energtica com a natureza e o universo.
A falta de autonomia e independncia so fatores que aumentam a angstia e restringem o prazer. Sendo a angstia intensificada naqueles que apresentam srias limitaes na linguagem verbal e na memria. Atravs da msica, do movimento, do contato fsico, da respirao e emisso de sons, cada um
dos idosos pode falar das suas angstias, da sua histria de
vida e liberar a energia reprimida. H necessidade de aprofundamento nos estudos tericos e a continuidade da interveno
pode intensificar os resultados obtidos, retardar a progresso
das doenas bem como promover o bem estar e a qualidade de
vida.
Enfrentando, em certa medida, o conflito conceitual e o
desconforto a cerca de bem estar e de qualidade de vida,
as pesquisadoras consideraram importante o resgate do ponto
primordial da Psicologia: relevar o sofrimento psquico do sujeito e empoder-lo, a fim de trabalhar as prprias angstias e
a ansiedade comuns nas prticas. Livres do compromisso com
a continuidade, apoiadas pelas teorias de Schafer (1991), que
prope uma relao com o ambiente pautada na liberdade de
intervir e apropriar-se do meio atravs da improvisao, e da
teoria reichiana que converge nesse sentido, apontando como
um caminho para o equilbrio a busca pelo prazer e a fuso
energtica com o meio, foi possvel transformar cada encontro
numa oportunidade de criao coletiva que est para alm do
produto artstico, permitindo ao idoso a ressignificao da sua
prpria histria de vida. Pode-se afirmar que por maiores que
DISSERTAES E TESES:
BRITO, D. O. Maus-tratos intrafamiliares contra idosos: o
olhar do idoso vitimizado na familia. Braslia. 2007. PhD Thesis. Dissertao [Mestrado em Educao] Universidade Catlica de Braslia.
CHRISTOPHE, Micheline; CAMARANO, Ana Amlia. Dos asilos s instituies de longa permanncia: uma histria de mitos e preconceitos. In: Camarano, Ana Amlia (Org.). Cuidados de Longa Durao para Pessoa Idosa: um novo risco social
a ser assumido? IPEA, Rio de Janeiro, 2010. 145-162.
REFERNCIA LEGISLATIVA
ANVISA. Resoluo n. 283, de 27 de Setembro de 2005. Dispe sobre o regulamento tcnico para o funcionamento de Instituies de Longa Permanncia. Dirio Oficial da Unio,
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BRASIL. Lei n. 10.741, de 1 de outubro de 2003. Dispes sobre o Estatuto do Idoso e d outras providncias. Publicada no
Drio Oficial de 3 de outubro de 2003.
ARTIGOS:
ANDRADE, Paulo Estvo. Uma abordagem evolucionria e
neurocientfica da msica Revista Neurocincias - Volume 1,
n 1 - julho-agosto de 2004. Disponvel
em:<http://www.katiachedid.com.br/files/noticias/4fdab6aa
b5813ffc49c7139840b20359.pdf>
VILA, Renata e MIOTTO, Eliane. Reabilitao neuropsicolgica de dficits de memria em pacientes com demncia de
Uso da linguagem musical como uma das formas de expresso, que permite a comunicao de ideias bem como a percepo de si mesmo, tratando cada indivduo como uma fonte de
criao, valorizando-o como ser humano, e sem destacar somente os dotados de talento.
4 Borboleta Musical que consiste em soltar o corpo com
acompanhamento musical, atravs de movimentos leves, rememorando momentos de alegria e amor, alm de projetar sonhos e desejos, culminando, quando possvel, na dana em pares e em roda.
5 Movimento iniciado na dcada de 70 que toma cada pessoa,
como centro do seu ambiente sonoro podendo intervir nesse
universo e como consequncia ter maior percepo de si mesmo. Prope que os sons emitidos pelo ambiente podem ser interpretados como uma enorme composio musical que nos
afetam positiva ou negativamente e podem ser conscientizados e ressignificados, a fim de se criar uma atmosfera snica
mais saudvel e harmoniosa.
6 Procedimento adotado por W. Reich, complementar anlise verbal, que consiste em solicitar que a pessoa realize determinados movimentos, cujas sensaes e lembranas sero analisados posteriormente e comparados ao discurso verbal.
7 Os instrumentos musicais so classificados em famlias ou
naipes, por caractersticas comuns e, no ocidente, formam quatro grupos: Cordas, Madeiras, Metais e Percusso.
3
1.
Lepidoptera Musicum ( Borboleta Musical)
a)Memrias de amor Qualquer dia - Ivan Lins
http://youtu.be/z1vwr_iuA60
b)Memrias da infncia Quadras de roda - Ivan Lins
http://youtu.be/gA70QJHOPto
c)Projetar desejos e sonhos Somewhere Over The Raimbow Judy Garlan
http://youtu.be/AfOaXi5ivvU
d)Projetar alegria Velho Sermo - Ivan Lins
http://youtu.be/gA70QJHOPto
1.
Baralho Musical
Sinfonia no 3 em L Menor Mendellsohn
http://youtu.be/IURg-dn9ddY
Notas
Modalidade teraputica de QI GONG (cultivo de energia). Envolve posturas, alongamentos, respirao e imaginao, visando o aumento e circulao do QI (energia). O Tai Chi Chuan e
o Kung Fu so modalidades marciais desse exerccio milenar
chins.
2 Procedimento que pode contemplar pontos vitais para o reequilbrio do organismo, atravs dos conceitos da Medicina Tradicional Chinesa, aplicados pela tcnica Koryo Sooji Chin,
no Brasil quiro-acupuntura, desenvolvida pelo sul-coreano
Dr. Tae Woo Yoo, em 1971.
1
416
prximos daqueles que vivenciamos hoje em dia. Porm o casamento ainda era considerado uma instituio mais econmica que objetivava a continuao da linhagem familiar.
Na atualidade, o casamento a principal forma de constituio da entidade familiar, estabelece comunho, com base
na igualdade de direitos e deveres dos cnjuges. O casamento
civil se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz de Paz, a sua vontade de estabelecer o
vnculo conjugal, e o juiz os declara casados. O casamento religioso, que atender s exigncias da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro prprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebrao. O casamento celebrado no Brasil prova-se pela certido
do registro. Os processos de habilitao e registro dos casamentos so promovidos no Registro Civil das Pessoas
Naturais.
Mesmo os casais que no oficializam a relao atravs
dos trmites legais, podem ser reconhecidos como entidade
familiar atravs da confirmao de unio estvel, configurada
na convivncia pblica, contnua e duradoura e estabelecida
entre homem e mulher com o objetivo de constituio de famlia.
Com isso, o casamento passa a ser reconhecido como um
compromisso afetivo, os parceiros se escolhem mutuamente,
levando em considerao objetivos e interesses em comum,
alm do amor, desejo e atrao. Hintz (2003) coloca que a famlia, independente da poca e do local que est, uma instituio flexvel com potencial de adaptabilidade e resilincia s
influncias biolgicas, psicolgicas, culturais e sociais (p. 157).
417
Acredito que por isso ela se adapta s transformaes geracionais e a tentativa de manter a homeostase facilita a internalizao dessas mudanas, tentando garantindo um ambiente seguro para os seus membros.
Nesse sentido, Sluzki (1997) afirma que o casamento o
resultado de um processo de conhecimento descrito pela histria do vnculo de um casal, incluindo a construo de projetos,
padres e expectativas, ampliados para a vida social (p. 98,
102,103).
Giddens (2000) aponta um aspecto importante da constituio familiar atual, onde o casal apontado como o centro familiar, a sexualidade que anteriormente era vista como recurso
para procriao passa a ser vivenciada como manifestao
amorosa e a comunicao o principal recurso para formao
dos laos afetivos.
Apesar da famlia na atualidade ser formada de acordo
com o modelo tradicional de pai, me e filhos, o casamento e a
famlia sofrem interferncias do contexto social que vivem e
convivem, novos aparelhos tecnolgicos e valores passam a coexistir com os valores antigos exigindo uma maior adaptabilidade e flexibilidade por parte dos membros da famlia. Por
exemplo, a mulher deixou de ser do lar e divide responsabilidade com o marido no sustento familiar, a maternidade e as
relaes com os filhos tambm sofrem interferncias uma vez
que outras prioridades surgem, assim como o trabalho domstico e educao dos filhos passam a ser divididos com marido
e/ou terceirizado com babs, auxiliares etc.
Diante da legalizao do divrcio e o reconhecimento do
recasamento, os novos cnjuges passam a compor a nova fam-
418
Na minha concepo, paradigma um conjunto de normas, crenas e atitudes que norteiam todos os aspectos de nossa vida, so significados cientficos reconhecidos universalmente Se estiver adequado um grande auxiliar nas decises
do dia a dia, uma vez que aumenta a nossa confiana na capacidade que possumos de resolver problemas. No entanto, ao
se tornarem uma verdade inquestionvel podem criar preconceitos e dificultar vinculaes, impedindo novas percepes
criativas dos papis desempenhados nas relaes familiares
como o caso das madrastas no recasamento.
Os mitos so um forte aliado na construo e manuteno de um paradigma e para a relao da madrasta com o enteado, temos de acordo com Oliveira e Cerveny (2010):
O amor espontneo: O amor entre madrasta e padrasto com relao aos enteados e vice e versa so desenvolvidos automaticamente. Se estes sentimentos forem forados podem dificultar a criao dos laos afetivos.
teger o lugar ocupado por essa figura contra possveis substitutos, independente da idade que possuem. Na prtica clnica
observo que para as crianas essa tarefa quase um dever
impostos por elas mesmas ou at pelo prprio progenitor(a),
criando uma barreira no relacionamento com a madrasta ou
padrasto, ou seja, se houver uma aproximao com essa nova
figura, estaro sendo desleais ao pai ou a me. Para a famlia
em geral, uma das maiores dificuldades a expresso e acolhimento dos sentimentos negativos e positivos sentidos pelos
pais e padrastos. dentro desse contexto que os laos entre
madrasta e enteado so formados.
O papel da madrasta no uma caracterstica social exclusiva do momento atual que vivemos. Os recasamentos com
filhos existem ha muito tempo. Os contos de fadas oferecem
uma associao negativa aos papis ocupados pela madrasta.
A madrasta vista como uma pessoa m, o padrasto ocupa
um papel de abusador e o enteado como a criana infeliz ou
filho no to bom como os outros. O objetivo desse trabalho
justamente mostrar que na atualidade algumas madrastas so
cuidadoras, colaborativas, atuante na vida do(s) seu(s) enteado(s) por isso seria importante repensar numa nomenclatura
mais adequada para atribuio desse papl.
No incio da histria dos recasamentos estes s aconteciam aps o falecimento de um dos cnjuges, principalmente no
ps-guerra, onde muitas famlias perderam seus membros. A
madrasta era a figura que deveria desempenhar a funo materna para os seus enteados, diante do falecimento da me biolgica. Mas foi somente na dcada de 70 com o reconhecimen-
to legal do divrcio que esse tipo de unio foi legitimada e assumiu as configuraes da realidade atual.
Na atualidade, o cenrio que compem a participao da
madrasta no necessariamente envolve o falecimento ou abandono, da me biolgica, fazem parte famlias, onde a criana
poder conviver com dois ncleos familiares, composto por
pai e me biolgicos. Outros nomes, tais como Famlia Pedifocal ou Binucleares, so utilizados para nomear uma famlia na
qual os filhos precisam dividir a rotina entre dois ncleos familiares e todos os envolvidos com a criana contribuem com a
sua criao e educao.
Diante de tantas modificaes, a famlia atual no mais
a mesma do sculo passado, o homem est mais atuante e participante da vida dos seus filhos e no caso de um recasamento,
percebi que a nova esposa ou a nova companheira participa da
educao, dos cuidados rotineiros, ou seja, assume a responsabilidade pelo(s) enteado(s). Alm disso, tenta manter a harmonia de suas famlias e reconstruir o padro no qual est internalizado, ou seja, famlia com pai, me e filhos. Nessa tentativa, algumas mulheres conseguem abrir e conquistar novos espaos na vida do(s) seu(s) enteado(s), outras entram em conflito e confronto por no conseguirem ser legitimadas.
Noto que a funo de madrasta exige flexibilidade e adaptao, h uma tentativa de recriar o modelo de famlia nuclear, composta por pai, me e filhos, desconstruido pelo divrcio. De acordo com Bernstein, A.C. (2002) As famlias com
filhos no terminam com o divrcio dos pais, elas fazem uma
reorganizao da famlia procriadora. (p. 307). Pensando nisso, no h uma regra que determina as funes da madrasta
420
num relacionamento com seus enteados, essas fronteiras e demandas surgem das novas necessidades, adaptao e momento de vida dos envolvidos no recasamento. Isso porque sentirse como uma nova famlia necessita de tempo e convivncia
entre os membros dessa famlia.
Garbar e Theodore (2000) falando sobre a formao e
composio de uma famlia, que existem dois tipos de relaes
reconhecidas: a unio entre homem e mulher e a filiao que
unem os filhos aos pais e irmos (p. 165). No entanto a filiao do enteado com a madrasta afetiva e educativa e esses
mesmos autores questionam se as relaes estabelecidas entre
a madrastas poderiam ser criadas a partir da afinidade e afeio.
Vnculos formados atravs da afinidade e afeio so semelhantes aos de amizade, no entanto, a madrasta no escolhida pelo enteado assim como se fazem nas relaes de amigos, mas na nossa realidade atual, onde h uma valorizao
dos vnculos afetivos, da convivncia e levando em considerao as novas famlias, acreditamos que esse vnculo que se forma ao mesmo tempo em que se assemelha com o de amigo.
Existe a autoridade, o compromisso com a educao e formao semelhantes aos das figuras de autoridade pertencentes
famlia, ento a relao madrasta e enteado na atualidade circularia entre os vnculos parentais e de amizade.
Algumas mulheres que conheci e que vivenciaram esse
papel de madrasta foi criado um relacionamento que transpassa o vnculo, surge uma necessidade de cuidar desse enteado.
Entendo por cuidar o papel de educar e suprir fisicamente e
emocionalmente oferecendo condies para que esse indiv-
duo, independente da idade e fase de vida, consiga se desenvolver adequadamente. Nesse sentido, a madrasta a qual me refiro uma mulher que no necessariamente pensou em adotar
um filho, mas em funo de um amor sentido pelo cnjuge
adota os filhos da relao anterior.
Refletindo sobre essas questes, elaborei um estudo com
o propsito de compreender qual o papel da nova madrasta
na atualidade e como os laos com o enteado(s) so construdos, alm de identificar quais as expectativas que possuem do
relacionamento com seu enteado(s) e como participa na formao dos valores e identidade dele(s). Esta pesquisa foi caracterizada como uma pesquisa qualitativa com delineamento de
estudo de caso coletivo, pois no objetivo da mesma mensurar comportamentos ou intensidade, mas sim, compreender o
significado das narrativas das participantes, compreender as
percepes e experincias vividas.
Percebi nas entrevistas realizadas que em alguns casos,
apesar da legalizao da guarda os pais biolgicos fazem acordos informais devido s novas necessidades pessoais, sendo
assim, o que parece que a legalizao da guarda s auxilia na
organizao do sistema descasado, aps essa reorganizao novos acordos so realizados informalmente.
A presena do enteado exige do sistema recasado novas e
constantes adaptaes, uma vez que o(a) enteado(a) no est
presente em parte do dia a dia e ao retornar j no o(a) mesmo(a) de quando saiu, pois est sujeito s interferncias do outro sistema ao qual tambm pertence.
Dentro da viso sistmica os valores, crenas e experincias iro interferir e sofrero interferncias de todos os mem421
423
A relao da madrasta com o enteado tambm permeada por um vnculo de apego, no qual as relaes que foram
construdas desde o primeiro contato vo se entrelaando e criando um vnculo diferenciado, conforme dito anteriormente.
Nesse caso podemos entender atravs da Teoria do Apego citada por Bowlby (1985), que diz que o apego um vnculo diferenciado estabelecido entre duas pessoas, construdo atravs
do relacionamento e comportamento de apego o comportamento exibido pelo indivduo, com o objetivo de alcanar ou
manter a proximidade com uma ou mais figuras de apego.
Pensando que a Teoria de Bowby esteja presente nas relaes formadas pelo recasamento, fica mais fcil compreender
que a desconstruo vivenciada pelos enteados durante e aps
o perodo do divrcio, podem ter contribudo na dificuldade
em se construir novas relaes de apego, apresentando pelas
entrevistadas como dificuldades que tiveram com seus enteados, uma vez que para eles construir um vnculo poderia ser
arriscar-se a perde-lo novamente. No caso das madrastas que
colaboraram com esse estudo, tiveram contato com essas dificuldades, pareciam estar sendo testadas, para ver o quanto
esse vnculo estava fortalecido ou no.
Oliveira e Cerveny (2010) dizem que um relacionamento
pode ser importante, mesmo sem ter o vnculo afetivo, mas
aqueles relacionamentos que caracterizam-se pelos vnculos
adquirem um carter de maior importncia nos contextos social e pessoal e por isso acreditam que muitas relaes que estabelecemos com as pessoas podem ser tornar vnculos afetivos,
tais como o relacionamento com parentes, colegas e ntimos.
um erro pensar que o amor entre a madrasta e o enteado e vice e versa so desenvolvidos automaticamente, como
refere-se o mito do amor espontneo citado por Oliveira e Cerveny (2010), a obrigatoriedade desses sentimentos pode dificultar a criao dos laos afetivos. Os sentimentos que participam da construo dessa relao so ambguos, sugerindo conflitos de lealdades e culpa.
Nomear algo, inclusive uma relao dar limites e funo a determinados papis sociais. A nomenclatura madrasta
no traduz a realidade da funo desempenhada por essas mulheres e por isso no conseguem se reconhecerem como madrastas, assim como no utilizam esse nome e se sentem incomodadas. Para driblar esse paradigma e resignificar a sua atuao, algumas famlias criam novos termos, tais como boadrasta, a nova esposa do pai, tia, nome pessoal entre outros. No entanto, h uma diificuldade em sugerir um segundo nome para
a relao que substitusse a madrasta.
A madrasta na atualidade uma pessoa mais consciente
das suas limitaes e das dificuldades que se apresentam na
relao com o(s) enteado(s). Nas histrias contadas, apesar de
cada uma ter uma experincia de vida e valores diferentes, notei que as entrevistadas buscam melhorar o relacionamento,
usando ora a imposio ora contemporizao. A boa comunicao, amparada no acolhimento das emoes e no respeito tambm compe esse cenrio e a considero elemento fundamental
para o sucesso da relao, independente dessa relao se dar
entre marido e mulher, pai e filho, madrasta e enteado. tambm fundamental o respeito histria individual, aos sentimentos existentes, aos limites das relaes e ao ser humano.
424
CERVENY, Ceneide Maria de Oliveira. A Famlia como Modelo. Desconstruindo a patologia. So Paulo: Editorial PsyII,
1994.
CERVENY, Ceneide Maria de Oliveira, BERTHOUD, Cristina
Mercadante Esper et al. Famlia e Ciclo Vital. Nossa realidade
em pesquisa. So Paulo: Casa do Psiclogo, 1997.
CERVENY, Ceneide Maria de Oliveira, BERTHOUD, Cristina
Mercadante Esper. Visitando a Famlia ao Longo do Ciclo Vital. Nossa realidade em pesquisa. So Paulo: Casa do Psiclogo, 2002.
HETHERINGTON, E.M.; BRAY, James H. Families in Transition: Introduction and Overview. Journal of Family Psychology, vol. 7, n. 1, 1998, p. 3-8.
HIBNER, J.A.; ALVARENGA S.C.A.; FONTES, S.G.M. Casais,
Casamento, Divrcio Recasamento: Relaes de Autoridade
nas Famlias Reconstitudas, In MACEDO R.M.S. Terapia Familiar no Brasil na ltima Dcada, So Paulo: Roca, 2008.
Bibliografia
BERNSTEIN, Anne C. Recasamento, Redesenhando o Casamento. In PAPP, P. (org.) Casais em Perigo: Novas Diretrizes
para Terapeutas. Porto Alegre: Artmed, 2002.
425
Famlia Homoparental: o
que Pensam os Leigos do
Gnero Feminino e
Masculino
jurdico criado para designar unio de casais do mesmo gnero. Entretanto, o IBGE, ainda no apresenta estatsticas sobre
a unio homoafetiva com filhos, ou seja, a homoparentalidade.
O conceito de famlia vem recebendo novos contornos e
sua funo de ambiente adequado para o desenvolvimento de
um individuo amplia-se para uma comunidade onde se doa e
recebe afeto. A nova famlia deve ser pautada na liberdade de
escolha e torna-se o receptculo de uma lgica afetiva fundada
no amor, na reciprocidade dos sentimentos e os desejos, um
refgio caloroso, proteo contra agresso externa.
Ser que a famlia contempornea capaz de exercer suas funes primarias de garantir a procriao da espcie, criar
seus filhos, promover afeto e companhia de membros? Devido
a este questionamento, essa pesquisa buscou compreender se
indivduos de ambos os sexos da sociedade Centro-oeste paulista entendem a unio de um casal do mesmo sexo e com filhos, como famlia e se estes esto aptos a desenvolver um ambiente saudvel para a criao de filhos.
A pesquisa qualitativa foi realizada por entrevista dialgica mediada por uma questo estimuladora e perguntas reflexivas, a anlise dos dados baseou-se no Construcionismo Social
e suas repercusses para o estudo de gnero. Participaram, 20
pessoas leigas da comunidade, de ambos os gneros, na faixa
etria entre 30 a 60 anos, que residem no centro-oeste paulista Brasileiro.
Os resultados revelaram que a maioria das participantes
do gnero feminino significou a homoparentalidade como famlia por acreditar que essa concepo depende do que se
427
vive, especialmente em relao aos filhos, ou seja, vnculos afetivos, respeito, cuidado, condies econmica, psicolgica,
apoio e segurana. Entretanto, a maioria dos participantes do
gnero masculino, no a significou como sendo famlia por estar em desacordo com os valores familiar e religioso.
Concluiu-se que a maioria das participantes do gnero
feminino significou unio homoparental como famlia por
considerar que acima da orientao sexual est a qualidade da
relao, condies econmicas e psicolgicas dos pais para se
criar um filho, o que no foi considerado pela maioria dos participantes do gnero masculino, por significar como famlia somente a heteroparentalidade e consanginidade.
Percebemos que incontestvel a naturalizao no novos modelos familiares pelas mulheres que pode estar vinculado com o conhecimento que o gnero tem do potencial humano de transformao de valores e papeis j que h tempos esto na luta por direitos iguais aos homens. O convvio cotidiano parece contar mais do que, as definies abstratas das relaes ou perpetuao de determinado grupo, impresso que
contribui para a incluso de diferentes arranjos na definio
da famlia.
Entretanto, notamos que o gnero masculino creem que
uma criana pode ter apenas um pai e uma me, juntando na
mesma pessoa o fato biolgico da procriao, o parentesco, a
filiao e os cuidados de criao.
Algumas pesquisas (Roberts, 1994; Santrock ET AL,
1982; Lamb, 1986; Larossa, 1988, Roberts et AL, 1984, Rotunda, 1985; Vollling & Belsky, 1992; Nugent, 1991) mostraram
que novas funes sociais esto se estruturando gradualmente
428
OF. 21 Genograma do
terapeuta
Marajane de Alencar Loyola
Regional: Amitef MG
Cidade: Montes Claros - MG
Objetivo: instrumentalizar o profissional para buscar informaes sobre sua histria familiar e ampliar seu olhar quanto
ao uso do genograma como mtodo de interveno em atendimento a famlias.
Smbolos padronizados para o genograma
429
Fonte:
430
O casal
Os pais ficaram juntos na ocasio, pelo fato de Renata ter
engravidado. Ela veio do Cear para trabalhar e estudar. Mas,
ao engravidar seus planos e sonhos foram interrompidos. Nunca foram apaixonados. Quando Renata engravidou, foi morar
junto com Arnaldo em sua casa e l permaneceu at o oitavo
ms de gestao, quando alugaram uma casa. Sua relao com
ele e com sua famlia sempre foi e continua muito boa, sendo
que se frequentam.
O pai era apaixonado por uma ex-namorada, com a qual
pretendia voltar, mas com a gravidez da me, resolveu assumir a relao com ela.
No incio do relacionamento era mais fcil o entendimento, mas com o tempo, segundo o pai, a me foi ficando briguenta. O pai no queria se separar por causa da menina. Entretanto, como perceberam que a relao estava ficando difcil, resolveram se separar em comum acordo para preservar a amizade
que ainda existia entre eles.
A filha
que nos eram incompreensveis, anotamos logo depois da sesso o significado entre parnteses.
dar mais ateno filha, mas isto significa tambm menos dinheiro. Karen tambm se emociona. Com o decorrer das sesses, fomos observando que toda vez que a me se emocionava e chorava, a filha chorava junto.
O pai parece no se tocar com as dificuldades da filha e
diz que no pode fazer nada.
A me se revolta com a falta de atitude do pai em relao
filha e que por isso que ela se tornou uma briguenta para
toda a famlia dele.
Nos demos conta de que apenas a terapia de famlia no
resolveria a questo da escrita e leitura da menina. Passamos
ento o contato com uma psicopedagoga que se disponibilizou
em fazer atendimento gratuito. A me se mostrou muito animada e esperanosa, e de fato, logo procurou a profissional
para obter ajuda para a filha.
A me ainda se queixou que o pai dava roupas caras, e
dava celular para Karen, o que em sua opinio ela no precisava. Ele ento se disps em ajudar financeiramente no que precisasse para a filha.
A rede
Como estvamos em contato com a Psicopedagoga, recebemos uma mensagem dela, que j havia feito uma entrevista
inicial com os pais de Karen e conseguira uma avaliao gratuita para a menina, de uma neurologista infantil; que iria fazer
quatro sesses de avaliao com ela e uma devolutiva com os
pais. Alertou-nos da necessidade de o pai tambm se cuidar,
433
Foi um trabalho muito interessante, pois todos participaram ativamente, principalmente Karen, tomando sempre a dianteira do trabalho (parecendo com a me).
A casa do pai
O acidente...
Ao longo das sesses, procuramos saber da efetiva influncia do acidente sofrido por Arnaldo, em sua vida. Questionamos Renata sobre o que mudou no pai de Karen aps o acidente. Ela disse que foi muito. Segundo ela, antes a memria dele
era muito boa, principalmente para nmeros; ele trabalhava
como motoboy. Agora ele no pode mais trabalhar no transito
e at recebeu uma carta mdica para o pedido de aposentadoria por invalidez; o pai no sabe onde est este pedido mdico.
A me conta que hoje, ele no tem iniciativa de mais nada e
que antes era devagar, mas existia. Parece que h uma falta de
iniciativa por parte de Arnaldo, tanto para as coisas de Karen,
quanto para as suas prprias.
Como sempre falam muito dessa casa demonstramos a
vontade de conhecer melhor esse lugar e as pessoas que freqentam l. Propusemos fazer uma planta baixa da casa (abaixo).
434
435
A casa da me
Na sesso seguinte fizemos o desenho da casa da me.
Nesta sesso a menina tambm participou ativamente. uma
casa mais simples, com menos gente morando e segundo Karen, mais silenciosa.
Simone dorme na sala, onde se localiza tambm o banheiro; No dormitrio dorme o casal e o filho mais novo e fica o
computador.
Ao fundo, a cozinha, maior ambiente da casa. Alm disso, tem mais uma escada externa para subir para a rea de servio que fica sobre a laje.
Questes de lealdade familiar as lealdades invisveis
Para Ivan Borszomenyi-Nagy, uma premissa de sua teoria que a identidade de uma pessoa inseparvel de seu contraponto, o outro, tanto quanto a imagem inseparvel de seu
fundo. Por isso, tanto a individuao quanto a autonomia s
so alcanadas por intermdio da relao.
O cimento de toda relao prxima o respeito a um
princpio de equidade e de reciprocidade, base da dimenso
tica das relaes interpessoais.
Conceito central da terapia contextual de Nagy, a lealdade definida como uma determinante motivacional que possui razes dialticas, multipessoais, mais que individuais... A
verdadeira essncia da lealdade reside na invisvel fbrica das
expectativas dos grupos e no numa lei manifesta. As fibras
invisveis da lealdade consistem na consanginidade, a salvaguarda da linhagem familiar e biolgica, por um lado e no mrito ganho pelos membros pelo outro. A lealdade marca o pertencimento a um grupo e aparece, pois ao mesmo tempo como
uma caracterstica de grupo e como uma atitude pessoal.
437
Paralisaes os acidentes:
Nesta famlia os acidentes de percurso so paralisantes. Parece que tm uma funo de interromper os sonhos.
O primeiro acidente foi a gravidez paralisou os planos
da me de estudar ou voltar para casa e do pai de voltar para
sua antiga paixo;
De moto - paralisou a memria de Arnaldo, por causa da
leso cerebral;
Do aprendizado: ser que esta menina pode se desenvolver, com toda esta teia invisvel a aprision-la?
O percurso
Este atendimento no est terminado, mas algumas variveis podem ser acrescentadas. Percebemos que o contexto familiar no qual esta menina est inserida no facilita o aprendizado, pois ambos os pais tm deficincias nesta rea. No podemos pedir a eles que auxiliem, pois no esto habilitados
para tal tarefa.
Entretanto, a partir das conversas geradas em nossos encontros, Karen est descobrindo novos recursos e novas formas e interesses no aprendizado.
Tambm, atravs da rede que conseguimos montar, estamos buscando atender suas demandas especficas.
Ainda no sabemos se isto ser suficiente, mas trabalhamos sempre com esta possibilidade. Este um atendimento
que mobiliza toda a equipe, pois um grupo que valoriza em
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439
Discurso de boas-vindas ao
XI Congresso Brasileiro de
Terapia Familiar
Marcos Naime Pontes
Mdico psiquiatra, terapeuta de famlia e casal, scio-formador do Instituto Sistemas Humanos, presidente da ABRATEF
binio 2012-2014
Queridos amigos,
Muito bem-vindos, obrigado pela presena de todos. Ver
vocs aqui uma forma de saber que o esforo valeu a pena.
Pelo menos na primeira parte do trabalho, a mais longa, construda nos ltimos dois anos para receber cada um de vocs.
Agora, a segunda parte depender do que construirmos
juntos aqui. Fizemos de tudo para que esta ocasio se tornasse
o palco do ritual maior de nossa Associao: o Congresso.
aqui o lugar onde podemos estreitar nossos laos. Rever os
amigos, ver como anda cada trabalho. Entrar em contato com
as novidades, talentos, garra e seu envolvimento.
A proposta inicial de nossa gesto, Pertencimento, se inicia indubitavelmente por incluso: como incluir, ser a diversidade vivenciada. A prtica da teoria. Nosso cotidiano j nos
exige uma ao inclusiva enorme, mas fazer esse exerccio conosco e com nossos pares ainda um passo maior. Um ritual
mesmo onde o convite olhar para os novos lugares ocupados, olhar para nosso espao. Olhar para dentro e para fora,
440
A medicina preventiva, social, e a noo de equipe interdisciplinar, bem como novos modelos de gerncia em sade
mental, sofreram muita influncia dos mais de 50 pases que
implantaram esses modelos.
A mudana na prpria sade mental, que passou a conceber a doena mental de exclusivamente intrapsquica para
uma forma relacional entre o observador e as pessoas envolvidas, transformou a ao dos servios. A relativizao do comprometimento trouxe uma nova dimenso para os tratamentos das pessoas acometidas por transtornos mentais e tambm
para uma abordagem relacional mais ativa, presente nas aes
e muito eficaz para tratamento.
A poltica apontou, sem dvida, diminuio de leitos
em hospitais psiquitricos e a um investimento maior nos servios de sade ambulatoriais e de incluso.
Houve uma diminuio da procura dos servios de consultrio em relao que aconteceu nos anos 60/70, provavelmente pelo aumento da eficincia da tecnologia medicamentosa e que oferece um conforto sensvel ao sofrimento psquico,
antes s alcanado via psicoterapia.
A eficincia se deu pela busca de novas medicaes impulsionadas pela AIDS, que exigia um conforto para afeces
antigas, que resurgiram em nmero maior e numa populao
jovem e ativa. Seu uso crnico e o pagamento de qualquer custo para um melhor sentimento fazem desse mercado o sonho
realizado da indstria medicamentosa. Outro provvel fator
que influenciou nessa evaso a condio financeira da populao e os custos que os terapeutas tm para se manter como
terapeutas.
441
442
Discurso de despedida do
CDC da ABRATEF
Marcos Naime pontes
Mdico psiquiatra, terapeuta de famlia e casal, scio-formador do Instituto Sistemas Humanos, presidente da ABRATEF
binio 2012-2014
Queridos amigos,
hora de nos despedirmos dos lugares que ocupamos e
apoiarmos integralmente os colegas que agora tero a honra
de exercer funes to vitais para nossa associao.
Quero agradecer a todos, em especial Cynthia Ladvocat, coordenadora do CDC do ltimo binio, e suas secretrias, Vera Risi e Angela Baiocchi, pelo companheirismo que
construmos e que nunca nos deixou na mo. Todos os processos vividos pela ABRATEF foram acompanhados de perto por
elas e suas habilidades sempre foram teis para que pudssemos refletir sobre as aes a serem tomadas.
Agradeo tambm ao corpo de Conselheiros e Presidentes das Regionais, que tambm estiveram a postos, trabalhando na medida de suas possibilidades, e que foi de grande valia.
Sei que a disponibilidade de tempo e tarefas est ligada diretamente ao grau de atividades que a Regional est propondo, o
que por sua vez depende do poder de agregar pessoas em torno de atividades de interesse coletivo.
444
A comisso de Histrico, liderada pela nossa ex-Presidente Denise Zugman, pensa que a histria deve ser coletada a
cada perodo de tempo de ciclos grandes, como a cada trs ou
quatro anos. Essa opinio compartilhada por alguns e divergida por outros, como eu mesmo, que penso que uma Comisso de Histrico deve ser uma comisso atuante no dia a dia,
construindo a histria. Porm, tanto uma proposta quanto outra ainda precisa de amadurecimento e desenvolvimento para
que cumpra sua parte na construo da ABRATEF.
A comisso de Assuntos Internacionais, que foi coordenada pela Dra. Mathilde Neder, teve um significativo ganho de
organizao e aes. A comisso, que iniciou com Mathilde e
colaborao de Helena Maffei Cruz e Marilene Grandesso, foi
impulsionada pelo grupo de associadas da APTF, que tem contatos pelo mundo por sua ao internacional. Assim, Olga, Maria Luiza Carmona, Gabriela Leifert e Cintia Alfonso compuseram, com a ajuda de Paula Ayub e a coordenao apaixonada
de Mathilde, uma ao conjunta de procura ativa de parceiros
pelo mundo.
A ao ento foi a de escrever cartas aos institutos e associaes pelo mundo que tivessem interesse pelo assunto terapia familiar e de casal, nas lnguas das instituies eleitas. Convites foram feitos e as respostas de mesma maneira foram efetuadas. Um grande cadastro de parceiros foi executado e deve
ser entregue prxima diretoria. Durante essa gesto, tais parceiros receberam e responderam nossas newsletters, divulgaram eventos compartilhados pela ABRATEF e divulgaram nosso Congresso. dessa comisso, tambm, a autoria da traduo dos textos para o espanhol em nosso site.
446
Ao CDC, meus sinceros agradecimentos. Aos meus eternos amigos aqui, com laos re-estabelecidos, um grande abrao.
Atenciosamente,
Marcos Naime Pontes
Finalzinho da Presidncia 2012-2014
Com muito orgulho
448
Discurso de Despedida do
Congresso
449
ca mtica, a passagem da famlia em seu ciclo de vida, para verificar quais influncias que perpassam estes ncleos, e atuam
facilitando ou dificultando o percurso familiar. Permite visualizar o que estaria influenciando e determinando a presena dos
Estigmas e Profecias e quais relaes estas influncias poderiam ter com os Mitos presentes e com os problemas e sintomas
de difcil resoluo.
Uma Leitura Evolutiva e Instrumental Mtica e o Ciclograma
Conhecer os mitos mergulhar nas camadas profundas da
natureza humana.
Ao adentrar nesta compreenso, convm inicialmente
atentar para a fora das nossas crenas e das resistncias que
apresentamos frente s mudanas que se fazem necessrias,
que podem ser descobertas nas expectativas que acalentamos,
encontrando-se as mesmas enraizadas em nosso psiquismo.
Estas que tem como uma de suas fontes originrias o sentido
que adquire a nossa prpria vida e os valores que atribumos
s coisas.
O sentido imputado vida, famlia e aos relacionamentos tem sua origem na famlia, a qual permite ao indivduo a
construo de sua identidade, garantindo-lhe o pertencimento
a um grupo, ao mesmo tempo em que repercute ou filtra as influncias culturais.
Alm das influncias culturais, histricas e econmicas
na famlia, existem outras extremamente importantes, dificil450
Discutirei rapidamente alguns destes contedos j conhecidos na cincia, estabelecendo uma relao desses com o
olhar mtico. Um desses a estrutura de lealdade, que so expectativas em relao s quais as pessoas assumem determinados compromissos, num livro oculto de crditos e dbitos familiares. O que constatei que frequentemente o nome na famlia, ou a profisso que se escolhe, tem a ver com as Lealdades Invisveis.3
Em minha experincia ao olhar pela tica mtica dependendo do sentido que j existe nessas famlias, as Lealdades
Invisveis so direcionadas para realizaes especficas; para
uma famlia pode ser direcionada para o desvelo e o cuidado
com a terra; para outra, para o cuidado e ajuda aos familiares,
ou, ainda, para outra pode significar o resgate da justia familiar.
Pode tambm ocorrer que, quando alguns membros da
famlia no respondem s expectativas de lealdades, a famlia
fica contaminada por esse clima emocional que sobrecarrega
os relacionamentos e enfraquece os sentidos que as mesmas
atribuem famlia e prpria vida.
possvel, portanto, encontrar nas famlias diversos sentidos organizadores, que movimentam e dirigem as lealdades
diferentemente. Em muitas circunstncias encontrei os segredos que envolvem informaes que so ocultas ou partilhadas
diferencialmente entre ou no meio das pessoas. Pude verificar
que a maneira de como se lida com os segredos diretamente
influenciada pelo sentido presente na famlia.
Quando predomina o sentido da autoridade na famlia,
dificilmente os pais so questionados pelos filhos e, quando
451
Na compreenso do Mito, percorri a filosofia, antropologia, at o conhecimento atual na terapia familiar. Passei a acreditar que os mitos envolvem tudo, so contedos que se entrelaam, se organizam determinando foras que do origem aos
sentidos na famlia, nos quais os mitos culturais influenciam a
formao dos mitos familiares e estes a formao dos mitos individuais.
Tal como conceituo, o Mito Familiar: O mito constitui
em sua essncia a concepo de mundo prpria da famlia
onde se cria a realidade familiar e o mapa de mundo individual5. E o Mito Individual: Essncia da concepo de mundo,
onde se cria a noo de realidade e o mapa de mundo de cada
um.
Existem outros contedos importantes ligados aos Mitos
na famlia, como o reconhecimento de que a Famlia em si j
um Mito. Pois, a famlia como vista atualmente no significado que lhe referido, construiu-se progressivamente no passado e congrega em si pela sua histria os sentidos de propriedade, unio, autoridade entre outros. de boa sugesto verificar
mais a respeito no captulo IV.
As famlias, de acordo com suas passagens pelas geraes, dependendo das influncias culturais, condies de vida,
principalmente de sua histria e do significado atribudo aos
acontecimentos, podem incorporar ou no determinados mitos.
Uma situao importante a de nossa histria familiar,
pois estamos na 3 ou 4 gerao dos imigrantes. A imigrao
se configurou como um Momento Crucial Mtico6, no qual alguns mitos das famlias de origem foram resgatados em toda a
452
nomes que se do aos filhos, em rituais religiosos em que todos participam. Pode ser assimilado, ganhar outros significados e ser modificado pelas famlias. Na Pscoa o meu pai
abenoava todos os filhos, todos tinham que participar das
festas religiosas e das procisses.
Um sentido frequentemente encontrado nas famlias diz
respeito ao Mito da Ajuda e Cuidado que se identifica pela ajuda mtua, material e afetiva e o cuidado com bens e pessoas.
Pode ser ajustado e tornar-se um mito complementar ao Mito
da Unio ou se caracterizar como um sentido especfico com
identidade prpria. O que vai esclarecer a anlise pormenorizada desse sentido e da sua repetio e permanncia na famlia em vrias geraes. Esses mitos sero discutidos quando
falaremos da imigrao no captulo II e da sua influncia nas
famlias brasileiras.
Dois mitos que, com frequncia encontro nas nossas famlias de imigrantes, referem-se aos Mitos da Conquista e do
Sucesso: que determinam maneiras de conquistar bens ou coisas. Originaram-se, comumente, em modelos familiares exemplares que determinaram um caminho, tornaram-se figuras
mticas8 todos tinham que ter sucesso em alguma coisa.
A conquista se diferencia do sucesso, uma vez que, no
mito do sucesso no vale s conquistar coisas materiais ou pessoas, mas sobressair, ser admirado e imitado. Este mito pode
ter sido fortalecido em nossa sociedade pelas condies da prpria imigrao.
Um mito interessante a considerar que ser mais bem
elucidado no captulo II refere-se ao Mito da Imigrao: Durante toda a vida da humanidade os desbravadores e destemi-
dos so admirados e quando enfrentam dificuldades e promovem conquistas facilmente so vistos heroicamente, o que favoreceu a criao de um sentido de desbravar continentes e
terras, buscar novas oportunidades e recursos de subsistncia.
Torna-se diretamente ligado aos sentidos de sobrevivncia,
conquista e sucesso.
Mito da Autoridade: a distribuio da famlia em uma hierarquia de poder, na qual as pessoas exercem determinadas
funes assegurando-se a autoridade como respeito hierarquia e acatando-se opinies e sugestes de pais e parentes.
O Mito tnico se caracteriza pelo sentido de preservao
de uma determinada etnia, originado da sua histria, organizando, de uma maneira singular, os sentidos de unio, propriedade e religio de um povo. Encontrei-o em algumas famlias
que imigraram como consta no captulo II.
O Mito da Sobrevivncia responde ao instinto bsico da
preservao da espcie para garantir a alimentao, moradia e
segurana, de acordo com determinados princpios, ou, de
qualquer maneira, ou, a qualquer custo. Este Mito, cuja relao ser discutida com o comportamento criminoso, encontra-se no captulo VI.
Entre os vrios mitos Nocivos e Desorganizadores existe
o Mito do Poder, encontro em famlias nas quais ocorre o abuso de autoridade, geralmente em histria de patriarcado e autoritarismo, favorecendo a repetio da violncia domstica.
Estes itens sero analisados com profundidade no captulo III,
onde me debruo sobre as diversas faces da violncia atravs
das geraes.
454
incumbem-se das mesmas, de propag-las e de executar os rituais assim propostos como, por exemplo, a irm que, aps a
morte dos familiares, se prope a reunir a famlia.
Algumas determinaes, em funo dos tipos de mitos
encontrados, so direcionadas ou no para um filho ou filha,
podendo alguns aspectos ser relevantes, tais como o sexo e a
colocao familiar. Enquanto s mulheres facilmente se outorga as pautas de ajuda e cuidado de familiares ou dos pais idosos, aos filhos, constantemente, atribuda obrigatoriedade
da manuteno e administrao dos negcios da famlia.
A Morte mostra-se um momento importante para as foras mticas, pois se ausente for uma figura mtica, frequentemente
a estrutura de lealdade acionada, algum pode assumir o papel de Guardio do Mito da famlia e as pautas estabelecidas
pelos mitos mostram-se, muitas vezes, revigoradas ou revitalizadas.
O uso dessa Leitura Evolutiva e Instrumental Mtica
torna extremamente importante para facilitar o reconhecimento e a identificao desses contedos, permitindo ao mesmo
tempo, que eu consiga delinear em meu trabalho um mtodo
teraputico. A metodologia escolhida inclui instrumentos tais
como a entrevista trigeracional, a elaborao do genograma,
aos quais acrescento a criao do Ciclograma9 e um mtodo
teraputico para a apresentao do genograma com etapas discriminadas.
Esses recursos que vo permitir que a famlia reconstrua sua histria e trabalhe com esses contedos, reconhecendo-os e, assim, possa reconstruir os seus mitos nesse reencontro de seu prprio lugar no tempo.
457
As separaes, os rompimentos e cortes bruscos do origem a muito sofrimento que ecoa nas geraes seguintes, enfraquecendo os vnculos afetivos entre os membros de uma
mesma famlia e dificultando a comunicao. Estabelece-se a
dificuldade de resoluo dos conflitos e o aumento de tenso
no clima familiar.
Atualmente tenho me debruado a pesquisar doenas
que envolvem, em sua etiologia, comprovadas predisposies
emocionais. Acompanhei um caso atendido por uma aluna,
uma senhora portadora de psorase. No olhar intergeracional
foi verificada em sua famlia durante trs geraes, a presena
da violncia domstica, inicialmente a violncia fsica sendo
praticada contra a esposa e filhos na 1 gerao, na 2 gerao
o assdio sexual contra as prprias filhas, tendo o alcoolismo
como agravante. Adentrar nas discusses de casos no captulo
X.
Fiz o relato, de um garoto de oito anos que apresentava
alopecia de repetio. Nas histrias familiares, as pessoas norteavam-se pela Luta pela Sobrevivncia enfrentando muitas
mortes, perdas e muito sofrimento.
A dificuldade de vivenciar o luto das pessoas queridas, a
falta de recurso da famlia de lidar com as perdas, propiciou o
estabelecimento da doena. Conflitos podem surgir quando,
no casamento, os mitos se encaixam, mas no se ajustam15. Os
casais no avanam atravs dos processos afetivos e relacionais que ocorrem na construo do casamento.
Muitas vezes se fazem necessrios os acordos que no
so passveis de serem negociados. Surgem os conflitos que,
frequentemente, paralisam ou criam rupturas no casamento.
O reconhecimento dos mitos, quando se realiza no trabalho individual, pode proporcionar muitos ganhos: a reconstruo das histrias e a identificao dos Mitos apresentam-se
como um recurso para as pessoas individualmente, facilitando-lhes a localizao no contexto familiar e a compreenso
dos tipos de relacionamentos, viso mais ampla dos seus problemas, assim como dos recursos pessoais de que dispe para
enfrent-los. Verificar captulo XI onde descrevo discusses
de algumas situaes.
Importante considerar, como vejo ocorrer, a Formao
do Mito Individual e Familiar. No percurso da vida familiar e
no ciclo de vida de cada um, as experincias intensas ou repetidas podem ganhar significado, ser organizadas psiquicamente
por algum tipo de similaridade e adquirir um sentido nico.
Assegura-se a a formao de um ncleo de sentido, o que
gera uma determinada concepo de mundo. Quando se assegura uma identidade especfica nesse ncleo de sentido, h
possibilidade de assegurar-se que se trata, segundo o meu entendimento, de um Mito Familiar ou Individual.
Um ncleo de sentido facilmente reconhecido, que, com
o transcorrer do tempo, possibilita gerar uma concepo de
mundo prpria e uma identidade. a vivncia e a prtica de
uma determinada religio, que pode abarcar vrias dimenses
e reas de funcionamento familiar, alm de ser identificado
como um Mito Familiar que, frequentemente, auxilia outros
mitos ao se tornar um Mito Auxiliar.
Para clarificar essas consideraes, recomendo o aprofundamento da pesquisa nessas reas e na prpria construo do
Mito Individual, que se organiza com alguns contedos dos
462
463
Observao
Mostro a seguir exemplos de ciclograma, observar que o
genograma e ciclograma podem se complementar mutuamente, pois o ciclograma apresenta a dinmica do ciclo de vida, de
todas as famlias ao mesmo tempo.
O ciclograma pode ser apresentado por inteiro ou pode
ser utilizado em sua execuo parcial do ramo feminino, masculino ou do ciclo de vida individual conforme se apresente a
necessidade e o interesse.
464
466
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Notas
De acordo com Carter e Mc Goldrick (1984), as transies
que ocorrem no crescimento e desenvolvimento do indivduo,
implicam em movimentos de mudana no grupo familiar devendo, portanto, ser considerados no contexto do Ciclo Vital
da Famlia.
1
469
Momentos Cruciais so episdios na vida das pessoas importantes tanto para estabelecimento, aparecimento e a manuteno mtica j trazida intergeracionalmente das famlias anteriores, que podem fazer parte do ciclo vital da famlia, como representar momentos cruciais na vida das pessoas. Os contedos podem ser confirmados, assumida a hierarquia de valores da prpria famlia, o seu prprio sentido e concepo do
mundo, ser maximizados, isto , amplia-se e pontua a sua importncia ou ser minimizados estes ncleos continuam presentes, mas, em escala menor, podendo haver uma reorganizao
de valores frente aos contedos mticos. Krom M. (2000)
6
Jackson (1957) Para o autor, a famlia vista como um sistema que mantido por um equilbrio interno que ele denominou de homeosttico.
12
13
Bowen. M. (1978).
14
Na relao triangular duas pessoas no conseguem relacionar-se sem uma terceira. Bowen M. (1978).
Verificar o processo de encaixe at o ajuste que ocorre nos
casamentos em Famlia e Mitos (2000).
15
17
470
Ritual uma palavra que tem sido utilizada de forma ampla tanto em termos populares, quanto nas disciplinas acadmicas onde se torna necessria maior preciso em sua definio. Ao iniciar, vou diferenciar os diversos tipos de interveno e, ao mesmo tempo, abarcar as possibilidades de intervenes ritualistas que os clnicos podem criar.
Em primeiro lugar, considerar a utilizao do ritual em
terapia familiar, suas razes antropolgicas e finalizar com a
sua definio.
O ritual foi introduzido formalmente nos modelos sistmicos de terapia familiar por Mara Selvini Palazzoli em seu livro Self-Starvation1, onde descreve os primeiros trabalhos do
grupo de Milo no qual participavam tambm G.Cecchin, G.
Prata, L. Boscolo, definindo-se o ritual como uma ao ou
uma srie de aes acompanhadas por frmulas verbais para
intervir na famlia em sua totalidade.
E, como todo ritual, este deve consistir em uma sequncia regular de passos dados no momento oportuno e no lugar
adequado.
Para exemplificar, relato um dos rituais utilizados junto
a uma criana pequena que havia deixado de se alimentar
aps a morte de um irmo de quatro dias. Nada se tinha falado a respeito deste fato.
471
Foi solicitado aos pais que falassem sobre ele com a criana. Tambm a ouvissem, que juntassem as roupinhas do beb,
enterrando-as, ao mesmo tempo em que se conversava e se
despedia do recm nascido.
Os pesquisadores citados afirmam que os rituais familiares deste tipo se encontravam entre as tcnicas mais importantes e eficazes que haviam concebido no curso dessa investigao para uma interveno rpida e decisiva com as famlias
disfuncionais.
Destacaram, tambm, que o poder do ritual reside mais
na mensagem analgica que na verbal, alm de manifestarem
a dificuldade de encontrar rituais distintos para famlias diversas em diferentes situaes de vida.
Posteriormente, Van der Hart amplia estas bases conceituais mediante o estudo dos rituais vistos pela antropologia.
Rituals in Psychoterapy: Transition and Continuity2. Que assim define o rituais: atos simblicos que devem ser executados de um modo determinado e com certa ordem, que podem
ou no ser acompanhados por frmulas verbais. Acentua a importncia da experincia e do compromisso para no se falar
dos rituais vazios.
Van der Hart amplia a definio acima acrescentando a
noo de rituais vazios, os quais no podem ser considerados
somente da perspectiva do terapeuta, mas tambm da experincia do participante, o que vai acentuar a importncia do
compromisso e do envolvimento com a execuo do mesmo.
Na antropologia, Victor Turner3 acentua a definio do ritual
como referncia a seres e poderes msticos; mais tarde, porm, amplia esta ideia considerando que o sagrado vai alm
da definio religiosa tradicional centrando-se na noo do especial, algo dotado de um significado fora do habitual.
A definio de Turner destaca que os smbolos so as unidades constitutivas dos rituais e explica a significao dos mesmos em trs aspectos: 1) Capacidade de agrupar mltiplos significados com os quais contribuem as partes abertas dos rituais. 2) A maneira como o smbolo pode unir diversos fenmenos desiguais que no podiam associar-se em formas complexas por meio de palavras. 3) A capacidade dos smbolos
para trabalhar tanto os aspectos sensoriais quanto os cognitivos do significado.
Uma aquisio importante se origina da obra de Myerhoff (1977)4, que analisa o ritual no sentido em que ele define
a realidade, que se produz em um espao sagrado, fora da realidade habitual. Distingue-o dos costumes e dos hbitos pela
utilizao dos smbolos e informa que seu significado vai muito alm das informaes que transmite e das tarefas com as
quais se associa.
Na definio do ritual que provm da antropologia, agrega-se a importncia do poder dos smbolos, a necessidade da
ao, os aspectos fisiolgicos e a coordenao da ordem e da
espontaneidade. Estes aspectos, juntos, combinam-se para criar o marco do especial no ritual que transcende o cotidiano.
As trs etapas do ritual a que se referiu Van Gennep (1960)5,
pela primeira vez, tm sido aceitas.
A primeira a separao na qual se efetuam preparativos
para o ritual, sendo estes to importantes para o processo
como um acontecimento real em si mesmo. A prxima etapa
472
divduos, famlias e comunidades sociais, mas tambm fornecer elementos para construir determinadas concepes do
mundo.
O ritual pode conservar ao mesmo tempo os dois aspectos de uma contradio. Todos ns experimentamos os paradoxos fundamentais da vida/morte, proximidade/distncia, ideal/real, bem/mal. O ritual pode incorporar ambos os aspectos
das contradies pela maneira com que possvel manej-las,
simultaneamente. Por exemplo, na cerimnia do casamento
comum a declarao: No estou perdendo uma filha, mas ganhando um genro.
Ao mesmo tempo, oferece espao para o apoio e conteno das emoes, o qual pode ser observado na maneira como
se organizam os rituais fnebres: a presena dos amigos, as vrias formas como se passa em vrias culturas, a missa de stimo dia serve tambm para conter e direcionar sentimentos
profundos.
O ritual pode facilitar a coordenao social entre os indivduos, famlias e comunidades; e entre passado, presente e
futuro. Os vrios rituais que marcam a passagem da idade adolescente adulta, ainda presente em algumas culturas, demarca a passagem do jovem ou de sua famlia a uma nova situao
social.
Ao destacar a importncia sobre como os rituais so experimentados pelos indivduos, encontramos estudos na neurobiologia em D`Aquili, Laughlin y McManus8, que trabalham
com a hiptese a respeito das partes ativas de alguns rituais,
tais como repeties, smbolos, msica e danas estimularem
descargas lmbicas positivas, que permitem incrementar o con-
tato entre as pessoas e a coeso social. Alguns estudos mais recentes apontam, tambm, a estimulao do crebro direito
pelo uso dos smbolos, haja vista os rituais conterem uma densidade significativa que as palavras no podem captar.
Na famlia, Wolin e Bennett (1984) sugerem que os rituais contribuem para a identidade familiar e facilitem a elaborao dos papis, fronteiras e regras, tornando possvel atravs dos rituais, um senso do eu, senso de ser parte da famlia e
de um grupo. Conforme j mencionado, os Mitos Familiares
so tambm mantidos e propagados atravs dos rituais na famlia. Nas de origem italiana comum o almoo na mama,
ou sentarem-se todos juntos em uma grande mesa e, nas japonesas, os rituais de consulta aos mais velhos ainda perdura em
algumas.
Uma das funes do ritual utilizado em terapia familiar
que ele consegue manter a possibilidade de se trabalhar concomitantemente na estrutura ou organizao familiar e nos significados que tm as condutas sintomticas na famlia. Ele vai
permitir que se experimentem emoes fortes dentro de um
marco seguro ao mesmo tempo em que se preservam as conexes interpessoais.
Pode-se tratar de perdas em uma famlia, em especial as
situaes que carecem de rituais culturais, tais como abortos,
nascimentos de crianas incapacitadas, separao ou divrcio
e outros. Como acentua Imber-Black9, o uso do ritual pode
no apenas proporcionar lugar seguro para explorar as emoes intensas, mas tambm oferecer o apoio que pode promover a conexo com outras pessoas.
474
A mesma autora recomenda que se investigue anteriormente, antes com a famlia como a mesma lida com rituais na
vida cotidiana, com as celebraes e tradies familiares, e
com rituais do ciclo vital familiar e da vida cotidiana. As celebraes familiares se praticam ao redor de acontecimentos
que se festejam nos rituais culturais, tais como Ano Novo, Pscoa, Natal, etc.
A sociedade j organiza o tempo, espao e smbolos para
estes rituais. As tradies familiares esto menos estabelecidas na cultura e so mais idiossincrticas de cada famlia, baseando-se num calendrio interno e no externo.
Os aniversrios, frias, pertencem a esta categoria. Os rituais do ciclo vital, bodas, festa para noivos e recm-nascidos,
batismos, graduaes e aposentadoria so acontecimentos que
marcam a famlia e seu ciclo de vida.
Os rituais da vida cotidiana so relacionados hora do
almoo, preparao da mesa, maneira de se recolher recreao, carregados de significao medida que a famlia cria papis, regras e normas para execut-los.
Esta compreenso a base para que o terapeuta, com
seus clientes, tenha a condio de iniciar um processo de criar
intervenes rituais, produzidas no processo de terapia. Considera a mesma autora que os rituais devem ser usados uma vez
ou, no mximo, duas vezes no tratamento familiar.
Ao mesmo tempo, o prprio processo teraputico inclui
em si um ritual: separao do ambiente e criao de um ambiente prprio em que a pessoa se afasta do cotidiano. Existe a
etapa da transio em que ganha maior compreenso do que
ocorre e se adquirem habilidades novas e, na ultima etapa, o
475
476
Novas opes de relacionamento, previamente impossveis devido limitao dos rtulos, tornam-se possveis (Imber Coppersmith)11.
Um equilbrio entre ser ao mesmo tempo igual e diferente dos outros se torna possvel.
Uma situao interessante o ritual de insero de uma
criana adotada numa famlia. Diferentemente de quando nasce uma criana, que j cercada de ritual. Ao se adotar uma
criana, pode-se a pontuar o ganho de uma identidade nova.
Algumas consideraes vindas dos vrios autores so importantes:
Os rituais teraputicos so parte de um processo mais
amplo, sua eficcia est no planejamento, na avaliao cuidadosa, especialmente em relao ao ciclo de vida e dos eventos
idiossincrsicos e no respeito ao vnculo entre famlia, pessoa
e terapeuta. Os rituais no so jogos ou truques, mas surgem
do contexto relacional que aprecia a tendncia dos seres humanos de ritualizar e da necessidade do significado nos relacionamentos humanos.
O terapeuta procura descobrir os smbolos e atos simblicos apropriados considerando a cultura na qual esto inseridos. Eles devem ser capazes de conectar com o que conhecido e conduzir ao que desconhecido. O terapeuta deve manter-se aberto ao desenvolvimento de mltiplos significados revelados pelas pessoas em suas relaes com os smbolos utilizados.
O terapeuta planeja o ritual utilizando as referncias familiares para o tempo e espao. Pode ocorrer num determinado momento ou ao longo de um tempo. Consegue-se uma co-
mostrado forte para mim o uso que as pessoas fazem dos quatro elementos da natureza, ao observar a escolha que elas fazem dos mesmos.
Convm falar um pouco a respeito, os quatro elementos
da natureza so essenciais para a sobrevivncia do ser humano: gua, terra, fogo e ar. Essa expresso tem origem na Grcia antiga quando seus grandes pensadores tentavam descobrir que elemento formava todas as coisas.
O grande Thales de Milleto acreditava que a origem estava na gua. J Anaxmenes acreditava no ar e, por fim, Herclito incluiu o fogo como agente criador. Mas foi Empedcles de
Agrinito que adicionou terra a esses trs conceitos e concluiu
que tudo era formado por quatro elementos.
J os filsofos pr-socrticos identificaram esses quatro
elementos primordiais como sendo opostos dois a dois: gua
(fria e mida), fogo (quente e seco), ar (quente e mido), x terra (fria e seca). Esse conceito perdurou toda a Idade Mdia at
o Renascimento, sofrendo, a partir, modificaes.
O conceito de elemento atual j no o mesmo na fsica e
qumica moderna, que considera elemento os diferentes tipos
de tomos, tomos, que formam as molculas, as quais por
sua vez, formam a matria.
Atualmente os elementos so associados aos estados da
matria: terra - slido gua - lquida, ar - gasoso e o fogo representado pelo plasma que no matria, energia.
No Oriente, o conceito tambm bem antigo, foi disseminado na ndia e China, e est presente no Budismo e Hindusmo. Apesar de a origem do conceito estar na busca pela ori-
gem de todas as coisas, muitas crenas e filosofias ainda se baseiam nos quatro elementos.
Nesses casos, apresenta-se de forma simblica e espiritual como uma maneira de integrao do homem com a natureza, do homem com o universo.
Como estes elementos esto em toda a parte, em nossa
vida e cotidiano, temos muita experincia anterior e maior
identificao e simpatia com alguns do que com outros.
Justamente estes, com os quais se tem mais afinidade,
podem ser utilizados tanto para os trabalhos de fortalecimento de alguns contedos psquicos ou para a construo e uso
dos rituais para banir, deixar para trs questes com as quais
no queremos mais conviver.
A tica Mtica permite aprofundar o olhar e observar
questes estreitamente enraizadas em nosso psiquismo como
os estigmas e profecias, as quais podem oportunamente ser
trabalhadas utilizando os rituais.
Recordando, os Estigmas se caracterizam como marcas
de vrias maneiras: desde as de aspectos fsicos a caractersticas afetivas e emocionais que se destacam e passam a fazer
parte das identificaes pessoais.
As profecias so determinaes a serem cumpridas na
rea pessoal, afetiva e profissional e abrangem uma perspectiva futura.
Com o objetivo de trabalhar com estes contedos, idealizei rituais curativos que intitulei de Rituais de Banimento
e de Fortalecimento, acentuando o poder emocional transformador das mitologias presentes conforme expostas nos mo-
478
479
480
tempo, servem para testar as foras presentes nos Mitos Individuais e nos Mitos Familiares.
481
Introduo
Com a perspectiva de vida estendida (IBGE, 2012)1 e as
rpidas mudanas socioculturais, buscamos compreender em
que aspectos as mulheres na faixa dos 50 anos hoje se diferenciam da gerao anterior, quais so as principais questes que
levantam e como constroem suas redes sociais.
So mulheres ps-Beauvoir, ps-movimentos-dos-anos60, ps-igualdade de voto, ps-igualdade de postos de trabalho, ps-plula, ps-lei-do-divrcio, ps-lei-da-unio-estvel,
ps-reposio-hormonal, ps-inseminao artificial e ps-congelamento de vulos, ps-aceitao de novas sexualidades,
psunies homoafetivas, ps-igualdade-de-poltica salarial,
ps-aumento-da-perspectiva-mdia-de-vida, ps revoluo-digital no mundo, ps-globalizao, (...) enfim, ps-tudo.
Para captarmos estas mudanas lanamos um olhar sobre sua autoimagem, seus projetos e suas reflexes nesta fase
da vida atravs de uma pesquisa que vem sendo realizada desde 2012.
Objetivo da Oficina
A Oficina Aos 50 visa a ampliar esta discusso e parte
integrante da Coleta de dados desta pesquisa.
Nossa inteno a de reunir mulheres, com idade entre
49 e 59 anos, com o interesse em debater e analisar essa fase
da vida em suas vrias dimenses.
Atravs de uma dinmica de grupo que envolve relatos e
escrita reflexiva pretendemos captar novos olhares sobre sua
autoimagem, projetos e questes nesta fase da vida.
Nossa pesquisa busca as perguntas que as mulheres esto se fazendo, e no uma resposta a questes por ns determinadas.
482
Desenvolvimento da Oficina
Dinmica de grupo (at 12 participantes):
(9) Ser que vou ter disposio, sade fsica e mental para dar
conta de ser boa profissional, esposa, me e ainda me cuidar?
483
Profisso
Estado
civil
Idade
Nmero
de filhos
Nmero
de netos
Assistente
social
casada
57
Psicloga
separada
54
Psicloga
casada
54
Psicloga
separada
57
Psicloga
casada
55
Psicloga
casada
51
Psicloga
casada
53
Psicloga
casada
47
Psicloga
casada
50
Aos 25 anos
Aos 50 anos
Aos 75 anos
Esperanas
Alegrias
Agradecida
Ter famlia
Serenidade
Alegre
Desafiadora
Afetiva
(--)
Angustiada
Introspectiva
Serena
Inocente
Inquieta
Artes
Aglutinadora
Acolhedora
Ativa
Aprender/estudar/
animada
Insegura
Segura
Curiosa
Imatura
Poderosa
Saudvel fsica e
mentalmente
484
Notas
Essa pesquisa conta com a orientao terico-metodolgica
do Dr. Saul Fuks, Doutor em psicologia clnica, Diretor do
Mestrado em Pensamento Sistmico da Universidade Nacional de Rosrio, Argentina, Professor em universidades na
Amrica Latina e Europa.
1
2Em
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inseminao artificial e ps-congelamento de vulos, ps-aceitao de novas sexualidades, ps unies homo afetivas, psigualdade-de-poltica salarial,
ps-aumento-da-perspectiva-mdia-de-vida, ps revoluo-digital no mundo, ps-globalizao, (...) enfim, ps-tudo.
Para captarmos estas mudanas lanamos um olhar sobre sua autoimagem, seus projetos e suas reflexes nesta fase
da vida.
Esta pesquisa ainda se encontra em andamento em
fase final de coleta de dados sendo o presente relato parte
das anlises preliminares j efetuadas.
Algumas questes norteadoras deste estudo:
(1) Quais as questes que esto na pauta de suas preocupaes/prioridades?
(2) Como elaboram estas questes?
(3) As questes so novas ou atualizaes de antigas?
(4) H uma percepo de futuro expandido (internalizao da noo de aumento da expectativa mdia de vida)?
(5) H uma relao entre universo temporal estendido e
a criao/atualizao de projetos de vida?
(6) Observam diferenas/semelhanas com as geraes
anteriores (mes e avs)?
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Mtodo
Para realizar esta pesquisa adotamos o Mtodo Qualitativo, priorizando a observao participante em dinmicas de
grupo e anlise de pergunta elaborada pelas prprias participantes.
Amostra
Os grupos so formados por at 12 mulheres entre 49 e
59 anos, com terceiro grau completo. A seleo das participantes se deu inicialmente pelo critrio de proximidade das pesquisadoras.
Dinmica de grupo
A dinmica obedece as seguintes etapas: (1) apresentao das participantes e de suas expectativas em relao ao convite, e, (2) a partir de recursos disparadores tais como: clips
de vdeos, trechos de entrevistas, extratos de textos e de falas,
entre outros, inicia-se a discusso em torno dos temas que fazem parte dos 50 anos.
Esses recursos permitem criar condies de contexto de
confiana mtua para a introduo da etapa principal de nossa pesquisa: (3) a elaborao de uma pergunta-foco, como resposta seguinte questo: __ Qual a pergunta mais importante que voc se fez no ltimo ano? E porque
voc a considera importante? Essa pergunta no precisa
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Como apoio instrumental, desenvolvemos material grfico constitudo de: folheto informativo (que introduz e explica a pesquisa), ficha de autorretrato (para mapear o perfil
e traar a autoimagem das participantes) e livreto (para a elaborao da pergunta-foco pessoal).
Anlise de dados
Partindo da tradio de investigao participativa/
cooperativa, a primeira etapa da anlise de dados ocorre na
reflexo compartilhada ao final das dinmicas de grupo.
As demais etapas consistem (a) no levantamento do autorretrato (perfil e autoimagem) das participantes, (b) na categorizao dos temas e indicadores a partir das narrativas captadas durante o contexto das dinmicas de grupo e (c) na anlise da pergunta-foco registrada nos livretos.
A interpretao de todas as informaes coletadas feita
luz das discusses surgidas nas respectivas dinmicas de grupo. Cada fala encontra-se contextualizada em seu prprio grupo. Uma comparao de falas/escritas entre grupos nos permitir chegar aos temas que aproximam (ou distanciam) essas
mulheres.
Resultados Parciais
Perfil da Amostra
At o momento, quarenta e oito (48) mulheres participaram dessa pesquisa. Deste universo, 62% delas so casadas ou
em unio estvel, 34% separadas ou divorciadas, 2% vivas e
2% solteiras. Metade dessas mulheres possui at 2 filhos, 23%
apenas 1 filho, 17% at 4 filhos, 8% nenhum filho e apenas
uma relata ter 6 filhos. Das mulheres com filhos, 81% relatam
no ter ainda netos e 19% ter de 1 a 3 netos.
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Todas as mulheres que participaram desse estudo possuem Terceiro Grau completo, ainda que algumas nem sempre
exeram profisses ligadas a sua rea de origem.
Autorretrato I
PROFISSO
PROFISSO
Advogada
Jornalista
Arquiteta
Juza de Direito
Matemtica
Autnoma
Mdica
Bibliotecria
Organizadora
Comerciante
Pesquisadora
Dentista
Professora
Economista
Psicloga
Empresria
Relaes Pblicas
Engenheira
Secretria
Escritora/compositora
Software Security
Fotgrafa
Terapeuta Corporal
Gerente de vendas
Sem profisso
Total de amostra: 48
489
Auto Imagem
Indicadores Temporais
Observamos que as palavras escolhidas pelas participantes para se autodefinirem aos 25, aos 50 e aos 75 anos (em projeo) so, de uma maneira geral, positivas. Contudo, procederemos futuramente a anlises mais detalhadas para identificar
as palavras-descritoras que pertencem unicamente a cada
uma dessas fases da vida.
Observamos at o momento deste relato que das 48 participantes, 34 formularam perguntas que denotam percepo
de futuro estendido sugerindo que internalizaram os novos patamares de expectativa mdia de vida (IBGE 2012). Isto representa 2/3 das perguntas formuladas.
As perguntas-foco foram categorizadas em dimenses
temporais: de presente (11), de presente/futuro (15), de futuro
confiante (19), ou preocupante (3). Quatro (4) perguntas apenas denotam dificuldade encontrada na formulao
da mesma. Seja por falta de oportunidade de mais reflexo sobre o assunto ou por outra razo que no nos foi possvel captar.
Alguns exemplos de perguntas dentro de cada uma dessas dimenses, para efeito de ilustrao, podem ser encontrados a seguir:
Autoimagem
Dimenso do Presente
490
Dimenso do PresenteFuturo
(...) Me pergunto se escolhi o caminho certo e porque tenho
que ser to rgida em relao vida e a tudo(...) sem me
prender ao medo do futuro j que sou responsvel por mim
mesma.
Com a experincia que temos aos 50 anos, o que nos impede
de nos reinventarmos?
Algum disse que nossa vida depende de 2 ou 3 sinse 1 ou 2
nos que dissemos na juventude.
Dimenso de Futuro
(a) Confiante
Ser que ainda tenho tempo para fazer e ver tudo o que eu
quero? (...) Tenho ainda muitos planos!!
Como posso me reinventar? (...) coisas novas que quero
aprender, descobrir.
Como fao para continuar expandindo a vida?
Como vou desfrutar das minhas construes, relaes pessoais e profissionais, pela liberdade que estou vivenciando?
(b) Preocupante
O que eu vou fazer profissionalmente para me realizar e ganhar dinheiro? (...) E ainda tenho muito tempo de vida pela
frente.
Por circunstncias da vida, penso constantemente -- como
vai ser o meu fim de vida?
At quando terei meus pais vivos e saudveis?
presentam um grande ponto de inflexo. O momento de reavaliao, seja para uma aceitao do que construram at agora e uma opo pela permanncia do estado das coisas, ou
para uma redefinio do que deseja ainda realizar, mudar ou
conquistar.
O fato de 62% de essas mulheres serem casadas e 92% terem filhos sugere que o planejamento desse futuro expandido
depende em grande parte de uma negociao de seus planos e
desejos dentro de um ambiente familiar que, a um s tempo,
protege e restringe. No raramente, o tempo e a energia que
gostariam de utilizar para os projetos pessoais encontram-se
desviados, e por que no dizer, sequestrados por presses e cobranas diversas.
Cabe ainda esclarecer que a percepo deste tempo estendido pode tambm representar uma ameaa concreta de perdas financeiras e de sade futura, ampliando a sensao de desamparo.
Ainda nessa faixa etria ocorrem processos de grandes
mudanas que podem ser considerados transgressores, se tomarmos como transgressor uma quebra dos padres vigentes
de comportamento, semelhante a que ocorre na adolescncia
guardadas as devidas distncias e circunstncias.
Na adolescncia observa-se um confronto com as questes do mundo externo aliada a uma viso de futuro ao longo
prazo. Aos 50, as mulheres enfrentam questes de seu mundo
interno alm de perceberem uma maior urgncia do tempo,
ainda que este hoje se mostre mais ampliado.
Se na adolescncia a responsabilidade compartilhada
com os adultos e a autonomia relativa, entre essas mulheres
a responsabilidade de suas decises e transgresses essencialmente solitria, sendo sua autonomia consideravelmente
maior.
H, portanto, na adolescncia um movimento de diferenciao de papis ainda por viver, enquanto, aos 50, a mulher
se depara tanto com um desejo de diferenciao de papeis j
vividos quanto de lugares pr-ocupados.
Reflexes complementares
Observamos entre as participantes deste estudo reaes
de susto ou surpresa a partir de nosso convite autorreflexo. Esse estranhamento fica ainda mais claro no momento da
elaborao da pergunta-foco que as torna coinvestigadoras.
Isto , o pedido para a elaborao de uma pergunta -- ao invs
de uma pergunta a ser respondida -- como ocorre nas pesquisas mais tradicionais, provoca a inverso de papis pesquisador-pesquisado.
Despertou nossa reflexo tambm as sucessivas negativas ou cancelamentos das mesmas convidadas para participar
da pesquisa. Algumas hipteses para tal reao: pessoas muito reservadas (?); no querer compartilhar o seu momento (?);
o tema ainda no relevante para a convidada (?); o tema
ameaador e no pode ser vivido neste momento (?); o convite
visto como delator da idade (?).
Ao final dos encontros pudemos observar que havia um
sentimento comum de: como foi bom este momento em que
pude ouvir das outras e parar para refletir sobre mim mesma.
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Desdobramentos
Um dos encontros foi realizado com brasileiras expatriadas, em N.Y., que deu origem a um novo grupo organizado espontaneamente pelas prprias participantes. Este grupo se encontra uma vez por ms promovendo palestras e atividades ligadas, ou no, s questes dos 50 anos. Pensamos que a organizao espontnea se deu devido a dois fatores: a percepo
da importncia de formar grupo de pares de 50 anos e a condio comum de expatriadas. Ao contrrio dos encontros no Rio
de Janeiro, em que as participantes demonstraram grande desejo de se reencontrarem como um grupo de pares, no houve
qualquer movimento espontneo da parte das mesmas.
As pesquisadoras atuam nesta pesquisa tanto como investigadoras quanto como coparticipantes, constituindo um metatrabalho que ser objeto de uma futura anlise.
Aug, M. 2014: Une ethnologie de soi: le temps sans age. Frana, ditions de Seuil. Del Priore, M. (2013) Conversas e histrias de mulher. So Paulo, Editora Planeta.
Prximos Passos
Goldberg, M. 2008: Coroas corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade. Rio de Janeiro, Editora Record.
Maffesoli, M. 2012, O tempo retorna. Rio de Janeiro, Forense
Universitria.
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Atendimento s famlias
em diferentes contextos
Monica de Vasconcellos Dias
Psicloga, Doutora em Psicologia Clnica PUC-Rio, Membro
da ATF-RJ, Professora Adjunta do Curso de Psicologia da Universidade Veiga de Almeida, Professora Colaboradora do Curso de Especializao em Terapia de Casal e Famlia da PUCRio. Email: [email protected]
As demandas pelo atendimento famlia tm sido ampliadas, na atualidade, do contexto clnico, aquele da terapia de
famlia, para um contexto social, envolvendo atendimentos no
campo das polticas pblicas, da comunidade ou do judicirio.
Isso exige que os profissionais, que vo desenvolver essas prticas, estejam atentos s demandas que lhes so dirigidas e as
especificidades do trabalho desenvolvido nestes diferentes
contextos, de modo que sua atuao possa articular enfoques
e apoiar a famlia em suas competncias.
Aun (2006) sugere que uma primeira diferenciao seja
feita entre a terapia de famlia e o atendimento famlia, considerando que o contexto que estrutura essas atuaes determina a forma como o trabalho realizado, estabelecendo regras
diferentes para a definio da relao entre os envolvidos no
processo.
A terapia de famlia ocorre em um contexto clnico, com
uma demanda teraputica que parte da prpria famlia ou de
balhada. H uma expectativa de mudana nos padres interacionais, nas crenas e valores da famlia. Nos grupos multifamiliares a proposta teraputica construir um espao de
apoio para as famlias compartilharem suas vivncias e dificuldades em relao a um problema que comum, estimulando
que desenvolvam formas de lidar com a situao para alm do
contexto clnico. O trabalho teraputico realizado pela participao de um ou mais componentes da famlia em um grupo
com outras famlias. Nos grupos multifamiliares, a idia bsica a de que as vivncias compartilhadas no grupo possam
ajudar as famlias a lidarem melhor com a doena. Propiciando tanto a identificao de sentimentos comuns quanto a variabilidade na forma de lidar com as situaes que tambm so
comuns. Assim, observando as diversidades e as similaridades, as famlias podem ressignificar as suas vivncias e construir novas formas de lidar com o problema apresentado.
O trabalho com grupos multifamiliares mais comum
em instituies de sade, enquanto que a terapia de famlia
desenvolve-se mais frequentemente em consultrios particulares. As demandas dirigidas ao profissional, e a disponibilidade
da famlia para a realizao do processo teraputico, so diferentes em cada um desses locais. Contudo, o trao fundamental do contexto clnico ter uma proposta explcita de tratamento.
Atendimentos as famlias em contextos sociais
O atendimento famlia, em um contexto caracterizado
como social, apresenta uma proposta de transformao das re496
s temticas caractersticas de cada contexto social onde o trabalho com a famlia se insere.
Embora os trabalhos no contexto social no tenham uma
proposta teraputica, como ocorre no contexto clnico, o processo de compartilhar experincias, dialogando com outros
que vivenciam situaes semelhantes, tem um efeito teraputico, em um sentido mais amplo. Neste aspecto, os trabalhos
com famlias nos contextos clnicos e sociais, ao utilizarem
como principal ferramenta o dilogo e a reflexo tornam o seu
resultado final semelhante. A diferena fundamental entre o
trabalho no contexto clnico e no social parece ser a definio
do mtodo como sendo um tratamento ou um compartilhar de
experincias. O que pode propiciar uma ateno mais individualizada s caractersticas de cada famlia ou privilegiar as produes de sentido mais coletivas e a formao de redes. De
toda forma, pode haver uma complementaridade entre os trabalhos realizados nos contextos clnicos e sociais, sobretudo,
quanto utilizamos um referencial sistmico articulando essas
prticas.
Referncias bibliogrficas
SOUSA, L. V; SANTOS, M. A. Anorexia e Bulimia: conversando com as famlias. So Paulo: Vetor, 2007
COSTA, L.; PENSO, M. A.; ALMEIDA, T. M. C. O grupos multifamiliar como um mtodo de interveno em situaes de abuso sexual infantil. Psicologia USP, 2005, 16(4)
COSTA, L. F.; ALMEIDA, T. M. C.; RIBEIRO, M. A.; PENSO,
M. A. Grupo multifamiliar: espao de escuta das famlias em
situao de abuso sexual. Psicologia em Estudo, Maring, v.
14, J/Mar, 2009
MINUCHIN, P.; COLAPINTO, J.; MINUCHIN, S. O desafio
de trabalhar com famlias de alto risco social. So Paulo:
Roca, 2011.
MOR, C. L. O. As redes pessoais significativas como instrumento de interveno psicolgica no contexto comunitrio.
Paidia, 2005, 15(31)
AUN, J. G.; VASCONCELLOS, M. J. E.; COELHO, S. V. Atendimento sistmico de Famlias e Redes sociais. Belo Horizonte: Ophicina de Arte e Prosa, 2006.
BRASIL. Estudo sobre metodologias de trabalho social com
famlias no mbito do servio de proteo e atendimento integral famlia PAIF. Braslia: Secretaria de avaliao e gesto
498
Famlia Aranha
499
Relato de Experincia
Referente ao Trabalho de
Implantao da terapia
Comunitria: Uma
Alternativa para o
Fortalecimento da Rede de
Apoio
Patricia Geromel Lanfredi
Paula Cantarin Gonzaga Lopes
Sandra Mara de Mello
Virgnia Pereira da Silva
Email:[email protected]
O ser humano precisa do outro para se reconhecer como
pessoa. A construo do self (eu) se d por meio das relaes,
assim se faz necessrio criar vnculos e relaes que se consolidem numa convivncia respeitosa; nesse sentido a formao
de redes importante, pois as pessoas adquirem autonomia e
do voz ao que lhes incomodam.
A Terapia Comunitria surgiu como prtica inovadora no
CRAS (Centro de Referncia de Assistncia Social) no municpio de Pirangi/SP para fortalecimento dos vnculos na intera-
o entre os indivduos, formando redes consistentes, oportunizando espao solidrio de acolhimento, troca de experincias, empoderamento pessoal. H busca de solues para os problemas comuns, utiliza-se recursos prprios, reconhece-se os
potenciais e competncias de cada um numa rede de apoio
mais eficiente, auxilia o indivduo a desenvolver resilincia, a
capacidade de transformar sofrimento em aprendizado e crescimento.
Resultados
Os resultados obtidos revelam que os participantes encontram-se mais unidos entre si e fortalecidos na reciprocidade de afetos, atravs do trabalho em rede, melhorando a capacidade de percepo e tomada de atitude diante das dificuldades existentes no contexto em que vivem.
A afinidade construda nas relaes permite a escuta e
a fala, constitui um processo educacional, no qual aquele
que ensina tambm aprende, conforme Paulo Freire (1987,
Pedagogia do Oprimido). Tornou-se uma ferramenta de cuidado, transformao pessoal, familiar e comunitria; um escudo
protetor social eficaz, fator de proteo que sugere a manuteno da qualidade de vida, que ameniza o sofrimento mental e
somatizaes, evitando adoecimento.
A reflexo sobre o sofrimento gera uma tomada de conscincia quanto s origens e implicaes sociais da misria, colocando o terapeuta comunitrio a servio da conscincia social
transformador. Esta devolve s pessoas a condio de autores
de suas prprias histrias e sujeitos de suas escolhas, buscan500
do mecanismos teraputicos culturalmente relevantes e vlidos para valorizar a trajetria de vida e identidade de seus integrantes.
A Terapia Comunitria , portanto, uma rede viva de comunicaes gestuais, onde cada pessoa pode expressar sentimentos quer seja de alegria, tristeza, medo, angstia, decepo, frustrao. Nessa rede, a dor pode ser acolhida, partilhada e transmutada (BARRETO, 2005).
Referncias
BARRETO, A.de P. Terapia Comunitria passo a passo. 3a Ed.
Grfica LCR. Fortaleza 2008.
GRANDESSO, M. A. Terapia comunitria: um contexto de fortalecimento de indivduos, famlias e redes. Famlia e Comunidade 1 (2) So Paulo/SP. 2005.
GUARESCHI, P. A. Psicologia Social Crtica como uma prtica
de libertao. EDIPUCRS. Porto Alegre 2004.
FREIRE, Paulo. A pedagogia do oprimido. Paz e Terra. 17a.
ed. Rio de Janeiro 1987.
501
O Cuidado na Infncia:
Interfaces com a Violncia
Care in Childhood: Interfaces with Violence
Neli Henriques Caccozzi
Terapeuta de famlia e casal,especialista em metodologia de
enfrentamento violncia intrafamiliar, terapeuta comunitrio, Assistente Social, docente da UNIFADRA na disciplina
Metodologia de Trabalho com Famlias e Poltica Social de
ateno Famlia.
Este artigo tem por objetivo fazer uma caminhada junto
ao ciclo de vida familiar, dando nfase s famlias vulnerveis.
Nesse caminhar, discutiremos, a partir de atividades vivenciadas por famlias em grupo quinzenal sistematizado, a influncia do contexto familiar e o significado do cuidado das figuras
de referncia com seus filhos, o qual pode ser visto como forma de preveno contra situaes de violncia. Para tanto, utilizaremos como suporte de reflexo a Teoria do Apego, de
John Bowlby.
Palavras-Chave: Apego; Cuidado; Figuras de Referncia; Ciclo de Vida; Stressores.
Abstract
The objective of this article is to look inside the life cycle
of a family, specially the vulnerable families. It is going to be
discussed the influence of the familiar context and the meaning of the care that the parents or responsible have with their
children, which is a way to prevent violent situations, all the
discussion is based on activities with familiar groups done
every fifteen days. For this study is used as a reflexion support
the Attachment Theory, from John Bowlby.
Keywords: Attachment; Care; Figures of Reference; Life
Cycle; stressors.
Introduo
Este artigo resultado de reflexes advindas do Curso de
Especializao em Metodologia para o Enfrentamento da violncia contra a criana e o adolescente, que tem como objetivo
desvelar aspectos relacionados aos cuidados, principalmente
na primeira infncia, entre crianas e suas figuras de referncia, e os possveis desdobramentos que a ausncia dessas figuras pode trazer para futuros comportamentos considerados
desajustados na adolescncia. A partir desta reflexo, enfatizamos a importncia do trabalho junto s famlias, como forma de fortalecimento dos vnculos e de resignificao de suas
relaes de cuidado nas famlias de origem.
Assim, no primeiro captulo faz-se uma retomada das etapas do ciclo de vida da famlia, enfatizando os estressores presentes no contexto da dinmica relacional dessas famlias,
502
agravados pela situao de vulnerabilidade e tambm os estressores invisveis, trazidos das famlias de origem e dos
contextos culturais, mitos, legados que, de alguma forma, pressionam a vida familiar.
No segundo captulo, levantamos aspectos relacionados
ao desenvolvimento do Apego e suas conseqncias na constituio dos vnculos produzidos pelo indivduo durante as etapas do ciclo de vida. Consideramos para esta discusso a Teoria do Apego, de John Bowlby, o qual estabelece uma forte relao entre um cuidado suficientemente bom na primeira infncia e sua possibilidade de gerar relaes de confiana e trocas afetivas seguras na adolescncia e na vida adulta.
E, finalmente, no terceiro captulo, traamos, a partir de
entrevistas individuais, o perfil das famlias as quais participaram dos grupos sistematizados, cujos encontros ocorreram
quinzenalmente. Destaque tambm para algumas das vulnerabilidades que contribuem para situaes de grande estresse familiar, bem como para aspectos relacionados ao cuidado, entre figuras cuidadoras e crianas.
Como concluso do trabalho, fica uma reflexo sobre a
relao entre o cuidar e as vivncias de violncia intrafamiliar
e contextual, com nfase na importncia de resignificar as histrias vividas pelas geraes que nos precederam.
1. Ciclo de Vida da Famlia Vulnervel
Para demonstrar a importncia do contexto familiar e de
seus vnculos afetivos, faremos uma reflexo sobre o ciclo de
ores, j no mais funcionam. Assim, o trabalho junto s famlias fica voltado construo da abertura para o dilogo e flexibilizao de valores, normas e condutas.
Na fase do adolescer familiar, a caminhada do ciclo vital
tem stressores naturais que so postos como desafio para as
famlas. Quando estas famlias vivenciam um contexto de vulnerabilidade socioeconmica h outras variveis a serem consideradas. Para tanto, importante conceituarmos a vulnerabilidade para melhor avaliarmos os stressores presentes neste
contexto. Segundo Mestriner e Nery (2009), a vulnerabilidade
um conceito multifacetado e com vrias dimenses, que identifica situaes de vulnerabilidade de indivduos, famlias e coletividades; podendo ser divididas em:
Scio demogrficas
Bens materiais
Afetivo-relacionais.
Ainda segundo as autoras, estar em vulnerabilidade social significa ter a potencialidade de resposta alterada ou diminuda frente s situaes de risco ou constrangimentos naturais da vida.
Neste contexto, cabe registrar que a vulnerabilidade tambm pode ser pensada sob a perspectiva das constantes mudanas sociais, sempre geradoras de incertezas e de desorientao. Como escreve Falceto em seu artigo Famlias com adolescentes: uma confluncia de crises (1996), h, atualmente,
no s uma diminuio da influncia da religio e das regras
sociais rgidas sobre o indivduo, como tambm o processo de
globalizao atuando sobre todos ns, o que induz cpia, entretanto, sem crtica aos modelos importados.
agrega novos membros, com a entrada de noras, genros e possveis netos. Nesta etapa, ao contrrio do ninho vazio, as autoras observam que as casas das famlias vulnerveis ficam cheias, porque acolhem seus filhos e a prxima gerao que, por
sua vez, passam, muitas vezes, a ocupar o lugar dos genitores
tanto no cuidado quanto no provento.
Na ltima fase, a famlia pode passar por dificuldades de
ordem relacional e/ou financeira; tudo depender das construes relacionais e financeiras vivenciadas pelas famlias em
seu ciclo vital.
2 Vnculo e Cuidado
Destacamos na introduo deste artigo, a inteno de desvelar aspectos relacionados aos cuidados com a criana, principalmente na primeira infncia, como forma preventiva de viver uma adolescncia e vida adulta menos problemtica.
Segundo Vicente, em seu artigo O direito convivncia
familiar e comunitria: uma poltica de manuteno dos vnculos (1994), os vnculos tm dimenses biolgica, afetiva e social. Para a autora, o sentimento de pertencimento que o recm
nascido desenvolve no grupo familiar que lhe conferir identidade e definir suas escolhas e interdies, as quais, por sua
vez, estaro sujeitas cultura onde nasceu.
O homem o animal mais frgil, uma vez que ele no sobrevive, nos primeiros anos de vida, sem cuidados mnimos.
Vicente ainda mais enftica quando afirma que os bebs
no sobrevivem ao desamor (1994, p.48). Nesse sentido, pais
em conflitos ou cuidadores instveis produzem relaes ambivalentes que podem prejudicar a criana.
Tambm para Bowlby, em a Teoria do Apego (1998), o
vnculo se destina a garantir a sobrevivncia do ser humano.
Ainda Montoro (2011) em seu artigo no livro O Desafio do
Amor, uma questo de sobrevivncia, referiu-se ao cuidado
na infncia como uma questo de sade publica, valendo-se
da teoria de Bowlby como instrumento de reflexo.
Segundo Bowlby, o beb humano j nasce com a predisposio gentica para desenvolver laos afetivos com aqueles
com quem interage na primeira infncia (BOWLBY (1988)
apud RIBAS; MOURA, 2004, p.--). Em linhas gerais, a Teoria
do apego se prope a estudar a propenso do ser humano de
desenvolver fortes vnculos com outros seres humanos. No
caso de ameaa ou rompimento desses vnculos, so vrios os
distrbios emocionais, como dificuldade em construir um modelo mental, seja de si prprio ou do outro; relutncia em estabelecer relacionamento interpessoal. Vale destacar que esse
modelo mental, componente central da personalidade do indivduo, a ferramenta reguladora da percepo, do sentimento e
do seu comportamento. Assim, as experincias que um determinado indivduo disps durante seus anos de imaturidade
(beb, criana e adolescente) so determinados pelo comportamento de apego, ou seja, de como ele obtm e mantm proximidade com sua figura de apego (BOWLBY (1988) apud RIBAS; MOURA, 2004, p.316).
Para nossa reflexo consideramos tambm as representaes sociais que se construiu ao longo do tempo sobre as famlias pobres. Idias como mes pobres no amam seus filhos,
506
no sabem cuidar direito ou pais que abandonam seus filhos, no tem nada a ver com falta de afetividade. Podemos encontrar em nossa experincia figuras cuidadoras (nem sempre
a me), que desempenham seu papel de referncia e cuidado
com grande eficincia, mesmo vivendo presses de um cotidiano de ausncia de recursos extrema.
Por isso, nas palavras de Bowlby (1988), a sade mental
da criana depende que lhe seja concedida: [....] a vivncia de
uma relao calorosa, ntima e contnua com sua me (ou uma
me substituta permanente, uma pessoa que desempenha, regular e constantemente, o papel de me para ela), na qual ambos encontrem satisfao e prazer (1988, p. 13).
Neste contexto de discusso, importante ainda ressaltarmos a dimenso poltica do vinculo, pois quando a famlia,
em seus mais diversos arranjos, ou mesmo a comunidade no
do conta de tal tarefa, o Estado deve assegurar este direito,
que est posto de forma bastante objetiva no ECA (1990), sobretudo em dois excertos:
Art. 3 A criana e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes pessoa humana, sem prejuzo da
proteo integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes,
por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento fsico, mental,
moral, espiritual e social, em condies de liberdade e de dignidade.
Art. 4 dever da famlia, da comunidade, da sociedade
em geral e do poder pblico assegurar, com absoluta priorida-
de, a efetivao dos direitos referentes vida, sade, alimentao, educao, ao esporte, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria.
Por conta do grau de vulnerabilidade das crianas que a
proposta de desenvolvimento das oficinas de fortalecimento
de vnculos com mes e crianas de 0 a 6 anos, que faz parte
dos programas do PAIF, desenvolvidos nos CRAS, vista por
ns, assistentes sociais, como um trabalho de preveno violncia, j que vem de encontro com a constatao de que nesta etapa do ciclo de vida que se estrutura a personalidade do
individuo, que no futuro tambm ser um cuidador.
Importante salientar que este projeto de fortalecer o vnculo entre mes e filhos se inscreve no Guia de Polticas e Programas do Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate
fome (MDS), que destaca:
[...] o servio de proteo e atendimento integral Famlia (PAIF) consiste no trabalho social com famlias, de carter
continuado, com finalidade de fortalecer a funo de proteo
das famlias, prevenir a ruptura de seus vnculos, promover o
acesso e usufruto de direitos e contribuir para a melhoria de
sua qualidade de vida. (2009, p.7).
Alm de trabalhar possveis desgastes ou rompimento de
vnculos importantes para o desenvolvimento da criana e do
grupo familiar como um todo, esta proposta tambm aspira a
prevenir situaes de vulnerabilidade e risco, dando nfase s
507
Dentre os objetivos do PAIF, destacam-se o fortalecimento da funo protetiva da famlia; a preveno da ruptura
dos vnculos familiares e comunitrios; a promoo de ganhos
sociais e materiais s famlias; a promoo do acesso a benefcios, programas de transferncia de renda e servios socioassistenciais; e o apoio a famlias que possuem, dentre seus
membros, indivduos que necessitam de cuidados, por meio
da promoo de espaos coletivos de escuta e troca de vivncias familiares(www.mds.gov.com.br).
A fim de alicerar este trabalho e assim oferecer um estudo de caso, a partir das premissas j anunciadas, tomamos
como instrumento de avaliao um grupo de dez famlias que
participaram de um trabalho desenvolvido no CRAS de Nova
Guataporanga, que se rene sistematicamente a cada quinze
dias, desde janeiro de 2011.
Nova Guataporanga um municpio que se localiza a 570
km da capital paulista, fazendo parte da micro regio de Dracena e da macro regio de Presidente Prudente. A populao total do municpio de 2.177 habitantes (censo 2010) e seu IDH
de 0,74, segundo o atlas desenvolvimento humano/PNUD
(2000).
As famlias que fazem parte desse grupo foram selecionadas a partir de situaes comuns: stressores relacionados a
problemas com os filhos, que no freqentavam a escola com
regularidade; denncias de negligncia no Conselho Tutelar;
queixas da comunidade local quanto ao comportamento dos
adolescentes.
508
no. Importante destacar que a interpretao desse fenmeno social ainda foco de pouca reflexo, havendo, portanto,
espao para se ampliar o olhar nessa direo.
A religio continua sendo uma das organizaes de crenas mais poderosas, conforme mostra o grfico em anexo. Sendo a maioria das famlias de evanglicos praticantes, comum
foram as referncias a Deus, usadas, muitas vezes, para naturalizar situaes que deveriam, entretanto, ser questionadas,
principalmente no que se refere situao de vida que experienciam. Por outro lado, a crena se revela ferramenta para o
enfrentamento da luta diria.
Um outro elemento que merece ser mencionado diz respeito ao fato de que todas as participantes do grupo relataram
ter sofrido algum tipo de violncia na infncia. A negligncia
esteve presente na fala de todas elas; j a agresso fsica em
quatro (4) das sete (7) genitoras e abuso em trs (3) delas. Perguntadas de que forma percebem que isso faz parte de suas
histrias de vida hoje, responderam: Acho que casei cedo demais para sair de casa; l era um inferno; Vejo que s vezes
sou violenta com meus filhos, mas percebo logo, mais, depois
que comeamos a falar disso; Eu sou diferente com os meus
filhos, eu grito muito, mas no bato ou ainda Eu cuido bem,
minha me tambm cuidava ela dava comida, banho, mas tambm batia muito, eu fao diferente eu cuido e tambm brinco.
Na fala das entrevistadas, percebe-se ainda que o tema cuidado com os filhos recorrente nos encontros do grupo. A avaliao que se pode fazer desses encontros que grande parte
dessas cuidadoras tm se fortalecido, no somente pelo fato
4. Consideraes Finais
O objetivo inicial deste artigo foi o de observar a famlia
em situao de vulnerabilidade social em sua caminhada no
ciclo de vida, procurando refletir os stressores que dificultam
o desempenho dos papis e funes que a criao de filhos exige. Tambm se buscou enfatizar a importncia do cuidado
com os filhos como um recurso importante para o desenvolvimento humano e a preveno da violncia intrafamiliar.
Nos encontros com o grupo e posterior reflexo, foi possvel perceber no s que as dificuldades enfrentadas pelas famlias pressionam de forma determinante a construo dos vnculos entre as geraes, como tambm as representaes sociais dos cuidadores, como aqueles que devem prover e proporcionar condies de vida melhor para os filhos; responsabilidade que leva frustrao e ao sentimento de impotncia, muitas vezes manifestos em atitudes agressivas. Neste contexto
tambm ganha destaque as expectativas que os filhos adolescentes nutrem em relao aos pais ou cuidadores no que se refere ao desejo de ter para ser.
Por isso, acreditamos que os espaos de convivncia e fortalecimento de vnculos entre os cuidadores e sua prole possa ser uma opo de reflexo, pois a convivncia e troca de vi510
vncias que, to pouco espao tem na rotina das famlias, aparece nesses encontros como uma das formas de fortalecimento do grupo familiar. Afirmao que ganha fora com o artigo
de Boff (2011), Ressonncias do cuidar, no qual sugere que
os pais devem criar os filhos com-paixo, isto , compartilhar
a paixo do outro com o outro: sofrer com ele, alegrar-se com
ele, dividir emoes, principalmente para que nunca sofra sozinho ou se alegre sozinho. nesse movimento de partilha que
os vnculos se reforam, gerando assim a possibilidade de
uma cumplicidade saudvel.
Um dos aspectos relevantes a se destacar na conversa
com o grupo de famlias que h uma preocupao em relao a acertar mais que seus pais na criao dos filhos. Acreditamos que este movimento seja fruto desse espao de partilha
de experincias com outras famlias, em que as situaes vividas nas famlias de origem so recontadas, podendo assumir
um resignificado, deixando, assim, de serem reproduzidas. automaticamente. Esta reflexo ganha corpo com uma considerao de Seixas (2009, apud MATURANA; HUMBERTO, 2008)
que afirma: Para se mudar uma cultura, preciso mudar o
emocionar diante do fato. Essa mudana s se concretiza no
processo de conversao deste fato no contexto e no entorno.
Nesta afirmao fica clara a importncia do registro vivencial
do afeto.
Pelo exposto, conclumos que o espao das oficinas de
convivncia familiar, que objetiva garantir o direito a convivncia familiar e comunitria, oportunidade de reforar os
vnculos e do exerccio do cuidar. A idia de cuidado assume aqui o significado de fazer parte dos contextos vivenciais
512
Anexos
513
514
515
517
(a)
(b)
A utilizao que tenho feito com jogos e aplicativos demonstram um rpido avano no desenvolvimento cognitivo e
social das crianas em atendimento. Ressalto sempre o que
Gonzalo Bacigalupe disse em sua palestra Tecnologias Emergentes y Terapia Familiar: Navegando con Curiosidad no XI
CBTF (2014), A tecnologia NO o sujeito da relao, ela
apenas um instrumento a ser utilizado garantindo sempre a
qualidade da nossa presena.
Despeo-me aqui, depois destas poucas palavras, e me
deixando disponvel, inclusive na organizao de seu iPad.
[email protected]
518
Roda de Conversa
Simpsio: A vida globalizada e digitalizada
Eixo: Globalizao e tecnologia Expresses culturais e valores da famlia
Tecnologias Digitais e a Produo de Novos Comportamentos
Lilian Starobinas
Tecnologias Emergentes y Terapia Familiar: Navegando con Curiosidad
Gonzalo Bacigalupe - University of Massachusetts Boston,
EUA
Usos da Internet em Terapia
Facilitadora: Paula Ayub
Relatora: Denise Mendes gomes
O trabalho de FACILITADORA da Roda de Conversa sobre USOS DA INTERNET EM TERAPIA se deu abrindo as discusses para o grupo que se reuniu sala So Paulo 2. Tomei
a frase de Gonzalo Bacigalupe: qual a qualidade da presena
para um incio reflexivo e chamei frente todos que desejassem conversar e opinar sobre o tema.
Sobre a qualidade da presena, pudemos penar que a tecnologia no substitui o pessoal, ela apenas um recurso que
nos auxilia quando percebemos que um vnculo no precisa
ser rompido apenas pela separao dos corpos fsicos.
Tecnologia, internet, no so FAMLIA, no so presena na ausncia, so RECURSOS utilizados por PESSOAS que
esto atrs das telas dos computadores e que podem oferecer
apoio.
importante ressaltar que mnimas regras so necessrias para que o uso deste novo campo possa transcorrer com
uma margem pequena de erros, porm como toda mudana e
toda novidade carece de debate e experimentao para que
logo deixe de ser novo e passe a ser cotidiano.
520
A Metodologia de
Atendimento Sistmico de
Famlias e Redes Sociais no
Centro de Referncia de
Assistncia Social: uma
proposta terica e prtica
Palavras-chave: Centro de Referncia de Assistncia Social. Metodologia de Atendimento Sistmico. Rede social.
Resumo
Abstract
Esta pesquisa tem a inteno de compreender se a Metodologia de Atendimento Sistmico de Famlias e Redes Sociais, criada por Aun, Esteves de Vasconcellos e Coelho, pode
ser utilizada para alcanar os objetivos do Centro de Referncia de Assistncia Social (CRAS). O mtodo de pesquisa utilizado, exploratrio e bibliogrfico, proporciona a aproximao
conceitual das teorias sistmicas sobre famlias e redes sociais
This research intends to understand whether the Systemic Attendance Methodology of Families and Social
Networks, created by Aun, Esteves de Vasconcellos and Coelho, can be used to achieve the aims of the Reference Center of
Social Assistance (CRAS). The method of research used, exploratory and bibliographic, provides the conceptual approach of
systemic theories about families and social networks and the
521
dos por vrios ministrios sem a organizao e a estrutura adequadas para a conduo efetiva das aes socioassistenciais.
Nas palavras de Andrade, Farias e Vaitsman (2009):
Quando a crise financeira global de 1997 atinge o Brasil,
a pobreza e a desigualdade persistiam junto ao avano da
legislao dos direitos socioassistenciais. Os novos programas de combate pobreza encontrariam uma ampla
clientela, ou desprotegida ou distribuda entre os tradicionais programas assistenciais e os benefcios assistenciais
conquistados aps a Constituio de 88. No entanto, at
a dcada seguinte, diferentes programas e benefcios permaneceriam fragmentados e pulverizados em diferentes
rgos e nveis de governo, sem uma lgica nacional e sistmica (p. 735).
Apenas a partir do lanamento do Programa Bolsa Famlia, em 2003, da criao do Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome e da Poltica Nacional de Assistncia
Social (PNAS), em 2004, e da Norma Operacional Bsica do
Sistema nico de Assistncia Social (SUAS), em 2005, que a
assistncia social brasileira se consolidou efetivamente como
poltica pblica. O primeiro CRAS, que a unidade mais bsica da proteo social e a porta de entrada para quase todos os
servios socioassistenciais, foi criado em 2005. Esses dados
mostram que a assistncia social brasileira enquanto poltica
pblica recente. E veremos que o modelo de interveno socioassistencial que surgiu a partir da efetivao dessa nova poltica pblica se transformou radicalmente, o que exigiu dos
522
De fato, o trabalho na proteo social bsica exige dos psiclogos no apenas uma adequao do trabalho; exige
um conhecimento de aspectos que esto fora do escopo
do que a Psicologia delimitou em seus campos de saber.
A atuao com pessoas em situao de pobreza exige no
a adequao de um conhecimento terico-tcnico, mas,
sim, a criao de novos conhecimentos e uma mudana
na postura que marca historicamente a atuao dos psiclogos. A noo de 'sujeito psicolgico' no cabe nos desafios do CRAS, nem tampouco a crena de que a Psicologia
s intervm no sofrimento psquico ou no ajustamento.
Pensar numa atuao que conjugue um posicionamento
poltico mais crtico por parte dos psiclogos, com novos
referenciais tericos e tcnicos que podem ou no partir
dos j consolidados, mas que necessariamente, precisariam ultrapass-los, o grande desafio para a profisso no
campo das polticas sociais em geral (p. 21).
Porm, essa exigncia de novas teorias e metodologias
no est contemplada na formao dos profissionais que trabalham com servios socioassistenciais para famlias em situao de vulnerabilidade social, especialmente a formao dos
psiclogos. Em 2003, por influncia do Conselho Federal de
Psicologia, o Ministrio da Educao modificou as diretrizes
curriculares dos cursos de psicologia para preparar o profissional para trabalhar com as demandas das polticas pblicas,
principalmente as do Sistema nico de Sade (SUS). No entanto, nessa poca, ainda no existia o SUAS. Assim, os psic523
logos que atuam nesse campo continuam carentes de referenciais tericos e metodolgicos. Segundo Motta e Scarparo
(2013), comentando sobre a formao acadmica dos psiclogos, at os anos 1990, a mesma era marcada por ser tecnicista e fragmentada, sendo encaminhada para assegurar o domnio de tcnicas de medida e avaliao, bem como atendimentos clnicos. A interface entre fenmenos psicolgicos e sociais
era desconsiderada (p. 232).
A tradio da psicologia de estudar o indivduo o descontextualizando ainda produz efeitos negativos nos profissionais
que esto trabalhando tanto em servios privados quanto em
servios pblicos. Ento, esta pesquisa se faz importante porque pretende mostrar como a Metodologia de Atendimento
Sistmico est adequada aos novos objetivos da assistncia social brasileira, especialmente aos objetivos do CRAS, e que
pode contribuir para a atuao dos profissionais, sejam psiclogos ou no, nesse campo que est se apresentando to desafiador.
O principal desafio dos psiclogos desse campo de atuao desenvolver outras prticas transformadoras, pois o
CRAS no permite que o profissional faa psicoterapia (Brasil,
2009a, p. 6). Mais frente, apresentarei a diferena entre o
contexto de psicoterapia e o contexto de atendimento (Aun,
2005, p. 63), no qual se baseia a Metodologia de Atendimento
Sistmico. Por ser feita no contexto de atendimento, essa metodologia no exclusividade da psicologia ou de qualquer outra profisso ou disciplina cientfica. Essa abrangncia expande os limites tradicionais das prticas psicolgicas.
Contudo, antes de apresentar essa diferena, falarei sobre a organizao e a estrutura do SUAS, ou seja, sobre os
seus princpios, objetivos e diretrizes e sobre as unidades pblicas e as aes socioassistenciais que o compem. Em seguida, apresentarei a Metodologia de Atendimento Sistmico e os
resultados desta pesquisa, explicando como os objetivos do
CRAS podem ser alcanados por essa metodologia.
2 A Organizao e a Estrutura do SUAS
O SUAS organiza toda a oferta de programas, projetos,
servios e benefcios da assistncia social brasileira. Feito com
base no SUS, esse sistema nico define os princpios, as diretrizes e os objetivos de qualquer ao socioassistencial, ou
seja, organiza o modelo de interveno socioassistencial no
Brasil. Alm disso, o SUAS cria a estrutura da assistncia social no pas, ao estabelecer quais as unidades pblicas o compem e quais os tipos de servios so prestados em cada uma
delas, de acordo com os nveis de complexidade desses servios. O SUAS tambm organiza a gesto do trabalho e as polticas de informao, de monitoramento e de avaliao do prprio sistema.
A histria da assistncia social brasileira comeou a mudar quando movimentos sociais na dcada de 80 conseguiram
influenciar os parlamentares para transformar a assistncia
social que era oferecida apenas por caridade em entidades
filantrpicas em direito de cidadania. Esse direito surge na
Constituio Federal de 1988:
524
territrios, para que consigam desenvolver prticas transformadoras nesses campos de atuao. O outro eixo estruturante
do SUAS, a matricialidade sociofamiliar, orienta que todas as
aes socioassistenciais reconheam que a famlia o 'ncleo
social bsico de acolhida, convvio, autonomia, sustentabilidade e protagonismo social' e 'espao privilegiado e insubstituvel de proteo e socializao primrias' dos indivduos (Brasil, 2009c, p. 12).
A proteo social especial est em um nvel superior de
complexidade. Enquanto a proteo bsica atua para prevenir
situaes de vulnerabilidade social, a proteo especial atua
para garantir os direitos de cidadania que j foram violados.
Por exemplo: o Centro de Referncia Especializado de Assistncia Social (CREAS), que a unidade pblica de referncia
para todas as aes da proteo especial, deve oferecer servios para adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas e para pessoas em situao de rua. Os servios de acolhimento institucional para crianas e adolescentes e para idosos, que esto em um nvel ainda maior de complexidade, tambm so servios da proteo especial. De acordo com a
PNAS,
a proteo social especial a modalidade de atendimento
assistencial destinada a famlias e indivduos que se encontram em situao de risco pessoal e social, por ocorrncia de abandono, maus tratos fsicos e, ou, psquicos,
abuso sexual, uso de substncias psicoativas, cumprimento de medidas scio-educativas, situao de rua, situao
de trabalho infantil, entre outras.
527
Outra diferena entre os dois contextos a origem da demanda. Normalmente, a psicoterapia demandada pelo paciente ou pela sua famlia. No Atendimento Sistmico, a demanda costuma ser do profissional. Ao vermos os passos para a realizao do Atendimento Sistmico, veremos que o profissional quem primeiro distingue a situao-problema e compartilha a sua viso com as pessoas que esto vivenciando essa situao, na esperana de que elas tambm distinguam o problema da mesma forma. Alm dessas diferenas, veremos como a
forma de coordenao dos encontros conversacionais distingue os dois contextos e faz do Atendimento Sistmico uma metodologia original.
O Atendimento Sistmico comea com a distino de
uma situao-problema. Como vimos, quem inicialmente distingue a situao-problema o profissional que se interessa
pela sua soluo, no as pessoas que esto vivendo o problema. Esse primeiro passo exige que o profissional se alie a uma
instituio, seja governamental ou no governamental, para
criar o contexto de atendimento. O Atendimento Sistmico
sempre oferecido por uma instituio, no por um profissional particular. Necessariamente, as pessoas que esto vivendo
a situao-problema precisam estar vinculadas de alguma forma a essa instituio, pois a qualidade desse vnculo determinante para a aceitao do convite para participar dos encontros conversacionais.
Aps esse primeiro passo, o profissional deve definir a situao-problema de forma solucionvel. Por exemplo, em vez
de convidar para conversar sobre o alcoolismo, convida para
conversar sobre as condies para a manuteno da abstinn-
sua funo observar as relaes entre os participantes e entre os participantes e o coordenador, sugerir-lhe perguntas e
orient-lo. Alm disso, para evitar que o coordenador perca o
foco das conversaes, ele auxilia os participantes a encontrarem cadeiras vazias, banheiros e entrega brinquedos para as
crianas pequenas (Esteves de Vasconcellos, 2010b, p. 164165). Os participantes se sentam em crculo, porm tanto o coordenador quanto o cocoordenador se posicionam fora do crculo, movimentando-se atrs das pessoas. A inteno no interferir no contedo das conversaes.
O observador se posiciona mais distante do crculo e apenas registra as informaes que percebeu durante os encontros conversacionais. Em cada novo encontro, o resumo das
informaes registradas comunicado aos participantes (Esteves de Vasconcellos, 2010b, p. 165).
Os encontros conversacionais, que tm durao de trs
horas cada um, passam por fases que se sucedem regularmente. Em cada fase, espera-se que os participantes se comportem
de uma determinada forma. A primeira fase chamada de retribalizao, porque o seu objetivo aproximar emocionalmente as pessoas, como se elas fossem membros de uma pequena
tribo. Nessa fase, o coordenador utiliza alguma dinmica de
grupo para unir as pessoas e diminuir a ansiedade do sistema.
Essa fase importante para que os participantes consigam falar abertamente sobre a situao-problema e para facilitar o
surgimento de relaes colaborativas que possibilitem o encaminhamento das solues mais adequadas.
A segunda fase a de polarizao, na qual comeam a surgir posies antagnicas entre os participantes. Em vez de ten-
A fase seguinte recebe o nome de abertura para a ao autnoma. Caso o sistema consiga superar a depresso, as pessoas apresentam novas ideias e passam a se relacionar de forma
mais colaborativa. Essa transformao na forma de se relacionar o principal objetivo Metodologia de Atendimento Sistmico. Relacionando-se colaborativamente o sistema adquire
autonomia para encaminhar solues para essa e tambm
para outras situaes-problema que vivenciarem no futuro.
A ltima fase do processo chamada de ultrapassagem
da situao-problema (Esteves de Vasconcellos, 2010b, p.
163). Nessa fase, a equipe sistmica valoriza todas as solues
e todos os pontos de vista apresentados, destacando a evoluo das conversaes e a capacidade das pessoas de encaminharem solues quando se relacionam colaborativamente. Assim, marca-se o prximo encontro. Quando as solues tiverem sido encaminhadas, perde-se o sentido de se manterem
as conversaes e o SDP se dissolve.
4 A Metodologia de Atendimento Sistmico no CRAS
Esta seo apresenta os resultados desta pesquisa. A inteno mostrar como a Metodologia de Atendimento Sistmico pode ser utilizada para alcanar os objetivos do CRAS.
Como vimos, o CRAS possui trs objetivos fundamentais: prevenir a ocorrncia de situaes de vulnerabilidade social por
meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisies, fortalecer os vnculos familiares e comunitrios e ampliar o acesso aos direitos de cidadania (Brasil, 2009c, p. 9).
531
cionais, pois so elas quem encaminham as solues antes inexistentes. Ento, como se v, a Metodologia de Atendimento
Sistmico pode ser utilizada para alcanar esses dois objetivos
do CRAS. O terceiro objetivo, que ampliar o acesso aos direitos de cidadania, tambm se alcana por essa metodologia,
porque garantir direitos de cidadania em nosso pas no apenas oferecer benefcios de transferncia de renda, como o Bolsa Famlia e o Benefcio de Prestao Continuada (BPC), mas
ofertar quaisquer aes socioassistenciais. Desde a Constituio Federal de 1988, a assistncia social brasileira no apenas caridade, mas direito de cidadania.
Os dois eixos estruturantes para as aes socioassistenciais do SUAS tambm esto adequados s caractersticas da
Metodologia de Atendimento Sistmico. Essa metodologia
uma abordagem sistmica de redes sociais que surgiu no campo da terapia de famlia. Por isso, est de acordo com a viso
sistmica do ser humano. Essa compreenso relacional reconhece a importncia da famlia para o desenvolvimento e para
a manuteno da sade e do bem-estar do indivduo (Nichols
& Schwartz, 2007, p. 25). Ento, o Atendimento Sistmico no
exclui a famlia; pelo contrrio, valoriza a sua participao.
Essa forma de atender est de acordo com a matricialidade sociofamiliar exigida pelo SUAS. E o outro eixo estruturante, a
territorializao, tambm est presente no Atendimento Sistmico, como se pode ver neste pargrafo:
O local onde se realizar o encontro conversacional deve
ser prximo da comunidade que distingue o problema
como tal, de fcil acesso para seus membros que faro
532
comunitrios, o acesso a direitos, o protagonismo, a participao social e a preveno de riscos (Brasil, 2012, p.
23-24).
Essas oficinas so as principais aes socioassistenciais
do CRAS, pois por meio delas que se alcana todos os seus
objetivos. E a Metodologia de Atendimento Sistmico pode
ser utilizada para alcanar esses objetivos. Alis, a oficina com
famlias o tipo de ao que mais est adequada aplicao
dessa metodologia, porque se atua diretamente com a soluo
dos problemas mais graves das famlias que esto em situao
de vulnerabilidade social no territrio de abrangncia do
CRAS. Por exemplo: a situao-problema desenvolvendo formas no-violentas de educar os filhos pode ser abordada pelos encontros conversacionais como uma oficina com famlias,
pois tem a inteno de promover a reflexo e prevenir a ocorrncia de situaes de vulnerabilidade social, como a violncia
contra crianas e adolescentes.
O ltimo tipo de ao do PAIF a ao comunitria. Esse
servio socioassistencial promove atividades culturais, como
teatro, dana, cinema e msica, e incentiva a participao das
famlias em movimentos de mobilizao social e a ocuparem
com criatividade os espaos pblicos (Brasil, 2012, p. 37). O
processo de construo de ideias e de mobilizao social pode
ser feito pela Metodologia de Atendimento Sistmico, pois os
encontros conversacionais em um contexto de autonomia permitem que os participantes se relacionem colaborativamente
uns com os outros, de forma que encontrem as solues para
os problemas que esto vivendo.
Referncias
BRASIL (2005). Poltica nacional de assistncia social Norma operacional bsica do Sistema nico de assistncia social.
Braslia: Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate
Fome.
535
BRASIL (2006). Norma operacional bsica de recursos humanos do Sistema nico de assistncia social. Braslia: Ministrio
do Desenvolvimento Social e Combate Fome.
BRASIL (2009a). Tipificao nacional de servios socioassistenciais. Braslia: Ministrio do Desenvolvimento Social e
Combate Fome.
536
537
A Difcil Misso na
Promoo da Sade e
Formao de Rede
Rosngela Corra da Silva
Enfermeira e especialista em Sade da Famlia e Gerontologia, atua em Ateno Primria
Introduo
O Programa Sade da Famlia alocado em periferias,
onde o espao adaptado para atender sua populao, muitas
vezes sua estrutura no ideal. Os profissionais devem estar
preparados para lidar com situaes de estresse e adversidades, ter raciocnio rpido, viso e atitudes humanizadas, tendo
que usar todas as ferramentas disponveis em sua rea de
abrangncia, formando redes para a promoo da sade.
Objetivo
Promover a sade com aproveitamento de todos os recursos(equipamentos) encontrados na comunidade, com o objetivo de promover, prevenir e reabilitar a sade, formando vnculo entre a populao e o servio de sade(profissionais).
Descrio da Experincia
Ocupao de praas, utilizao de igrejas, garagem das
casas dos clientes, centros comunitrios, escolas, nesses grupos utilizamos vrios materiais encontrados na comunidade
como garrafas pet com areia para serem utilizadas como peso
e cabos de vassouras como barras nos grupos de educao fsica, reaproveitamento de embalagem de papelo para confeco de caixas para acondicionamento de medicamentos com
separao e identificao dos mesmos, elaborao de folders,
vdeos para melhorar a compreenso sobre os cuidados e a preveno das doenas, grupos de artesanato com o manuseio de
materiais reciclvel. Os agentes formam a cantata com o intuito de levar carinho atravs da msica aqueles que so impossibilitados de ter acesso a Unidade.
Resultado
O esforo de todos os profissionais no tem limites, pois,
alm dos j citados tem as visitas domiciliares debaixo do sol
escaldante ou de chuva torrencial, o acolhimento humanizado, consultas, curativos, imunizaes, passeios, etc. Com o objetivo de que essa populao tenha sade, qualidade de vida,
dignidade para enfrentar os desafios que uma boa qualidade
de vida nos exige, utilizando de forma racional espaos comuns a todos, proporcionando oportunidade de construo de
parcerias, partilha e reaproveitamento de materiais que poderia estar sendo descartado dentro dos crregos ou locais imprprios.
538
Fora
Dentre outros
Aonde quer que eu v, o que quer que eu faa a minha
histria sempre estar comigo, dentro do meu corpo, do meu
corao e da minha alma.
Fundamentaes Tericas
Transgeracionalidade Transmisso psquica
Ancestralidade
Familiares que j se foram
Histrias de famlia
Segredos e mitos
Legados
Heranas
Continuidade
Traumas e medos
Incertezas
539
Ado e Eva
Idade mdia Bruxas
Monarquia
As muitas maneiras como os membros da famlia dependem
uns dos outros dentro da espiral geracional, numa mutua interdependncia, so parte da riqueza do contexto familiar conforme as geraes se movem atravs da vida
Duvall (1977 pg. 153)
Viso sistmica
Para Bowen:
O Terapeuta Familiar Sistmico deve ter mais flexibilidade e de trabalhar a singularidade de cada informao, abraar
as diferenas e olhar o problema na busca da soluo.
Dentro do sistema familiar tudo se construdo, destrudo e reconstrudo.
Famlia Sistmica (sistema aberto)
542
Ferramentas de uso
So vrias as ferramentas de uso no trabalho de Terapia
Familiar Sistmica Transgeracional.
Mas duas em especial junto as praticas reflexivas tem me
chamado a ateno pela sua abrangncia e consistncia na liberao dessa familiar nuclear para criar sua prpria histria
sem deixar de honrar as heranas das origens passadas.
1. Genograma
1. Constelao Sistmica Familiar Bert Hellinger
Genograma
De acordo com Monica Mcgoldrick:
1. O Genograma uma forma pratica para a compreenso dos
padres familiares.
2. Atravs de registros dos membros de uma famlia e suas relaes em pelo menos 3 geraes
3. So representaes feitas atravs de smbolos, de forma tangvel aos padres complexos da famlia.
5. O Genograma sugere possveis conexes entre os acontecimentos na famlia ao longo de suas geraes.
6. Graas a sua forma de direcionar de forma ampla, clara e
objetiva o uso do Genograma se estendeu para diversos segmentos profissionais
Genograma
Vrias questes podem ser exploradas na famlia atravs do
Genograma:
1. Questes sexuais da famlia e seus padres de funcionamento funcionais e disfuncionais e relaes de gnero
2. Para transcrever histrias fazendo narrativas
3. Facilitar decises profissionais, classe e status
4. Cultura, etnia e raa
5. Estrutura Geopoltica (relao com a comunidade
inserida)
6. Religio e Espiritualidade
7. Descoberta dos pontos fortes e fracos da famlia
8. Casais em aconselhamento pr-marital
9. Questesdesadenafamlia(medicamentos e tratamentos especficos) e problemas com drogadio e alcoolismo
10. Abusos (fsicos, emocionais e sexuais)
Genograma
Bowen afirma que o uso do Genograma na terapia familiar afirmam o valor do conhecimento da histria familiar na
soluo dos problemas atuais. E continua dizendo que o mapeamento multigeracional do sistema emocional da famlia
dentro da famlia.
uma nova forma de olhar os emaranhamentos familiares e desfazer os ns que foram feitos em geraes passadas e
que ainda perpetuam nas geraes atuais.
A Constelao Sistmica familiar dentro da Terapia de famlia averigua se no sistema familiar ampliado existe algum
que esteja emaranhado nos destinos de membros anteriores
dessa famlia.
Constelao Sistmica Familiar
Segundo Bert Hellinger:
Emaranhamento significa que algum na famlia retoma
e revive inconscientemente o destino de um familiar que viveu
antes dele. Constelaes Familiares Reconhecimento das
ordens do amor, p. 13
Fala ainda que existe uma conscincia de grupo que influncia todos os membros do sistema familiar. Se um membro do grupo for tratado injustamente, existir nesse rupo
uma necessidade irresistvel de compensao. Isso significa
que a injustia que foi cometida em geraes anteriores ser
representada e sofrida posteriormente por algum da famlia
para que a ordem seja restaurada no grupo p. 14
Rituais
Os Rituais so atividades criativas realizada com o objetivo maior de trabalhar no fechamento de um ciclo. No encerramento do tratamento de um sintoma apresentado pela famlia.
A eficcia do ritual esta no planejamento, na avaliao
cuidadosa.
Rituais de transio: utilizados para momentos de mudanas e sadas (esperadas e precipitadas). Descritas por Van
der Hart (1983), com referncia as transies normativas ( ex:
dinmica do presente, cartas, mensagem)
Rituais de Cura: Utilizado para situaes de perdas, lutos, rompimentos. Ritual da libertao, onde seu grande objetivo que a vida precisa e deve ser continuada. Durante o ritual
de cura sempre deve haver uma libertao.
Ritual de redefinio de Identidade: Funciona para remover rtulos e estigmas de casais e famlias com o objetivo de
realinhar as relaes. Trazer o equilbrio entre o ser ao mesmo
tempo igual e diferente dos outros. Quebrar preconceitos que
muitas vezes afastam os membros da famlia. Resgata o sentido de incluso e pertencimento ao grupo.
Consideraes finais
Olhar para a famlia sem reconhecer toda a sua historia e
honrar este DNA adquirido negar a sua prpria existncia.
Ter autonomia para reconhecer e escolher quais os valores e legados quero que perpetuem com minha nova famlia e
545
546
548
sozinhos ou com familiares na cidade de Porto Alegre no perodo da coleta dos dados. Os participantes foram selecionados a
partir dos critrios de indicao e convenincia. A Tabela 1 representa as caractersticas sociodemogrficas dos participantes:
Participant
e*
Carla
Jaqueline
Luciano
Sexo
Feminin
o
Feminin
o
Mascuin
o
Idade
Escolarida
de
Nvel
Ocupao econmic
o
31
Superior
completo,
mas
concluindo
outra
graduao
Estudant
e
Mdio
40
Superior
em
andamento
Estudant
ee
Auxiliar
Administ
rativo
Mdio
31
Tcnico
Superior
da rea
em
da sade
andamento
e
estudante
Mdio
Tabela 1
* A fim de preservar a identidade dos participantes foram utilizados
nomes fictcios.
Delineamento e Procedimento
Instrumento
Jogo de Areia
A tcnica do Jogo de Areia requer uma caixa de areia
com dimenses 72 x 50 x 7,5 cm. O tamanho da caixa corresponde ao do campo viso do olho humano, serve como limite
para a imaginao, por este motivo funciona como um fator
de proteo para que o paciente saiba at onde pode vivenciar
a experincia. O interior da caixa revestido de material da
cor azul para representar gua de rio, lago ou oceana, se for
afastada at seu fundo.
A areia no interior da caixa preenche cerca de metade da
altura da caixa e pode ser utilizada seca ou mida. preciso
Consideraes ticas
Resultados e Discusso
As imagens obtidas a partir das fotografias foram analisadas minunciosamente em seu significado e contedo simblico referente expresso do paciente. Conforme Chevalier &
Gheerbrant (2007), o smbolo sugestivo, depende daquele
que o v, ou seja, sem intuio nada de profundo percebido.
553
A analogia das formas simblicas foi possvel atravs da hermenutica de profundidade, que coloca em evidncia o fato de
que o objeto de anlise uma construo simblica significativa, que exige uma interpretao (Thompson, 1999). Desta forma, para realizar a anlise das imagens contou-se com o apoio
da livre associao que os participantes produziram atravs da
linguagem. Bauer & Gaskell (2002) reforam a importncia da
verbalizao para tirar a ambigidade da imagem, necessitando uma da outra para obter-se o sentido completo da informao.
Para completar o entendimento da imagem foi utilizada
a Anlise de Contedo (Bardin, 1977; Chizzotti, 1995), com o
objetivo de buscar a compreenso daquilo que emergiu na sesso teraputica, tanto no contedo manifesto como no latente,
categorizando a expresso do instante teraputico.
Em seguida, os resultados foram organizados primeiramente expondo uma breve histria de vida de cada participante, seguida do motivo de busca por tratamento e o motivo de
no participao do familiar significativo. Na sequncia, a respectiva imagem do instante teraputico foi analisada e discutida segundo as livres associaes do participante e sua analogia simblica.
Alm disso, foram discutidas as particularidades de cada
caso com relao incluso do familiar atravs da imagem,
como este est sendo representado e qual sua implicao emocional para o paciente. As semelhanas entre os casos foram
abordadas quanto ao processo de diferenciao tardio; resistncia em trazer o familiar significativo e o impacto da imagem para o processo teraputico.
Carla e o agressor
Esta paciente foi atendida exclusivamente no consultrio
da terapeuta-pesquisadora durante dois anos e meio. Carla tinha 31 anos, morava com primas na cidade de Porto Alegre.
Era filha nica e sua me morava em outra cidade no interior
do estado do Rio Grande do Sul.
O pai abandonou a famlia quando Carla tinha 02 anos,
desde ento, ela no teve contato com ele. Desde seu nascimento Carla e a me moraram com os avs maternos e permaneceram com eles at Carla vir estudar na capital. Ela referiu
que o av e a av foram os pais dela, principalmente a av,
que fez o papel de me, devido s inabilidades psicolgicas e
cognitivas da me, que tem diagnstico de Bipolaridade e no
concluiu o ensino mdio. A av foi uma mulher ativa e adequada, culta e exigente, e ainda, estimulou a criatividade de Carla,
proporcionando atividades variadas. Ela dizia que Carla precisava estudar muito, porque teria que cuidar da me mais tarde.
Carla procurou atendimento com a queixa de que no
conseguia terminar a graduao iniciada aos 17 anos. Cursou
03 anos com dificuldades e muitas repeties de cadeiras.
Trancou este curso e prestou vestibular para outro curso na
mesma universidade, este concludo voltou para o curso inicial, onde est h 05 anos tentando finaliz-lo, mas continuava
com muitas dificuldades. Carla se mostrava inteligente, criativa, eloquente e desinibida, mas apresentava alguma dificuldade de ateno.
554
555
Andolfi e colegas (1989a) afirmam que as imagens usadas metaforicamente para expressar os membros da famlia
definem no apenas o membro identificado (neste caso ausente), mas as relaes e interaes que ele tem com os outros
membros.
A imagem de homem escolhida por Carla representa o
pai interiorizado, como referiu Laing (1969) ao postular que
para cada um dos membros da famlia sente mais ou menos a
famlia dentro de si.
O Jogo de Areia propiciou uma imagem psquica (Jung,
2000) do pai de Carla como um homem em posio de ataque, aquele que pode feri-la a qualquer momento, apesar de
ser a representao de um masculino fraco e passivo, no reagindo para nada.
com poder para fazer o mal. So invejosas e vingativas, que sabem como fazer uso de seus poderes sombrios, dominando
aos outros.
A bruxa neste caso pode representar uma ameaa para a
relao estereotipada de Carla com a me, ao que Andolfi e colegas (1989a) afirmam serem as mudanas nas relaes percebidas como ameaadoras tanto para o indivduo, que precisa
diferenciar-se, quanto para as famlias rgidas, que evitam experincias e informaes novas.
Na imagem, pelas marcas na areia, pode-se notar que inicialmente a me foi colocada ao lado do pai e retirada em seguida para ficar de mo com Carla. No lugar, ento, foi colocada a madrasta, que passou a fazer um par com o pai, com isso,
pode-se identificar outra relao triangular Carla, pai e madrasta formada na vida de Carla, com a recuperao do contato paterno.
No entanto, por ser uma relao tensa e sem intimidade
com o pai, a madrasta foi recebida como rival, recebendo a
projeo de todos os aspectos negativos de uma me m, em
polarizao com a bonequinha chinesa, denunciando o desequilbrio familiar expressado nas partes extremas (Schwartz,
2004).
Nota-se que Carla estava tentando entender e falar com
sua famlia interiorizada (Laing, 1969) ou com as imagos
(Jung, 2000) ou com suas partes (Schwartz, 2004) e estas estavam tentando falar com ela num dilogo simblico e concreto, personificadas na imagem (Hillman, 2010) do Jogo de
Areia.
557
558
Ao fazer o convite para ela participar do estudo, marcamos alguns encontros no consultrio, onde ela realizou a tcnica do Jogo de Areia. Acredito que a mudana de setting teraputico influenciou a resposta na forma de expresso de Jaqueline, que se mostrou tensa e racional. Contudo, no decorrer do processo ela mostrou-se vontade para expressar sua
relao em famlia atravs da seguinte pergunta: Como a
sua me e a sua im?
A irm de Jaqueline era vista como um ser superior, protegendo-a: ela meu anjo da guarda. A imagem que representa a irm era de tamanho maior do que as outras duas imagens ela e a me e Jaqueline referiu que a irm estava
559
olhando pelas duas, pois ela que tem a maior responsabilidade na famlia.
A maior responsabilidade tambm pressupe o maior poder, a maior importncia e, consequentemente, a maior imagem. Minuchin e Fishman (2003) ressaltaram a importncia
de observar o lugar que cada membro ocupa na famlia a fim
de identificar o funcionamento estabelecido na relao.
Na infncia Jaqueline sentia que deveria cuidar da irm
por ser a mais velha, assumindo, consequentemente, a incumbncia de explicitar o sintoma psorase - para focar a tenso
do sistema sobre si, livrando a irm para ser a filha saudvel
(Andolfi et al, 1989a). A psorase uma doena crnica manifestando-se com inflamao das clulas da pele, formando placas de escamao avermelhadas ou prateadas (Silva, Muller &
Bonamigo, 2006).
Com isso, a disfuno familiar regida pelo pai alcoolista e
a me distante e infantil poderia ser acobertada pelo sintoma
da filha, como vlvula de segurana para o casal, conforme Andolfi e colegas (1989a) afirmaram ser o sacrifcio de sua autonomia para preencher a funo escolhida, e como Haley
(1980) referiu ser a funo de viver uma vida estreita por no
conseguir se desembaraar de sua famlia e, assim, exercer a
funo de fracassada.
Como a hierarquia da relao familiar imagtica estava
invertida, e a irm estava ocupando um lugar de destaque,
pode-se inferir que Jaqueline estava idealizando a irm no presente, como idealizou no passado, pois os sistemas familiares
possuem uma realidade tridimensional, na qual o passado
560
participar da terapia para no desequilibrar seu sistema interno da famlia interiorizada (Laing, 1969).
Ela prpria correria o risco de perder sua funo de doente-protegida, caso identificasse na irm atributos no to nobres e santificadores, tal qual a surpreendente imagem da sombra (ocasionada pela luz do ambiente na hora da fotografia),
que paira sobre ela e a me junto imagem do anjo protetor.
Para Jung (1999) o conceito de sombra representa os aspectos
sombrios no reconhecidos pelo ego, tais como caractersticas
positivas ou negativas, que a pessoa projeta sobre os outros,
pensando que so os responsveis pelas suas dificuldades.
Embora Jaqueline no tenha conscientemente feito conexo
com estes aspectos ou partes polarizadas da irm, o Jogo de
Areia como recurso teraputico nos remeteu a este conceito e
possibilitou que o contedo latente se manifestasse na imagem.
A aparente fragilidade da mocinha dcil teria que ceder
espao para outras partes at ento no reconhecidas ou relacionadas no processo teraputico. E assim como na infncia ela
precisou representar o papel que lhe cabia, na imagem do
Jogo de Areia ela tampona a sua verdadeira imagem familiar
de criana ferida, impedida de assumir sua autenticidade, formando uma casca sobre a pele.
Silva e colegas (2006) demonstraram que os pacientes
com psorase tm a tendncia de usar estratgias especficas
de enfrentamento de estresse, como fuga esquiva e autocontrole elevado, no manifestando suas emoes. Afirmam ainda,
que a pele tem uma relao muito estreita com a figura mater-
para ele ficar to paralisado e no conseguia falar objetivamente com ela. Ele sentia que a me s o aceitaria se ele fosse o homem que ela imagina, para isso teria que fazer exatamente
como ela dizia.
Aps alguns meses de tratamento, foram feitos dois convites para a me participar da terapia, mas Luciano nunca aceitou que ela viesse, ele achava que no adiantaria falar sobre
isto com ela, pois ele teria que aprender a reagir por si mesmo.
No instante teraputico ideal, foi proposto o Jogo de
Areia com a seguinte pergunta: Como voc se sente quando
paralisa diante da sua me?
Schwartz (2004) postulou que as partes, ou figuras internas, so foradas a se polarizarem em papis extremos por estarem rigidamente congeladas no tempo ou por estarem defendendo partes mais frgeis, que sofreram traumas repetidamente na infncia.
O mesmo autor afirma que quando uma criana foi submetida a agresses verbais ou no verbais de que ela teria pouco ou nenhum valor, suas partes em formao ficaro desesperadas por redeno aos olhos desta pessoa que dirigiu estas
mensagens. Luciano vivenciou esta experincia com sua me,
reconhecendo que nunca conseguiu satisfaz-la como o irmo
conseguiu, sendo este o preferido dela, conforme referiu.
Segundo Winnicott (1993), o processo gradual de dependncia para independncia, com maior liberdade de pensamento e ao, requer um esforo sadio do jovem em uma srie
bem graduada de atitudes que promovam o afastamento, no
sentido de organizar o crescimento gradual para os diversos
aspectos exigidos, porm conservando o vnculo inconsciente
com as figuras parentais.
Luciano no tinha atingido a independncia de sua famlia at a morte do pai e estava submetido me, que dificultava seu crescimento, segundo ele, quando ela fazia tudo por ele
na infncia, mas no demonstrava afetuosidade nas suas
aes. Haley (1980) afirmou que algumas mes podem exagerar a importncia de criar os filhos, encorajando-os a ter problemas, o que os tornaria aprisionados sua devoo e ateno.
Luciano sentia medo diante dela nas discusses mais simples ou mesmo quando era cobrado por suas atitudes profissio-
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567
568
Interviso Utilizando a
Tcnica Miniaturas do
Self
Cludia Nejme
Psicloga formada pela Pontifcia Universidade Catlica
PUC-S.P. Especializao em Cinesiologia pelo Instituto Sadis
Sapientiae. Formao no ncleo de casal e famlia pela
S.B.P.A- sociedade brasileira de psicologia analtica.
[email protected]
Liriam Jeanette Estephano
Psicloga formada pelo Instituto Unificado Paulista (atual
UNIP) em 1981; Especializao em Terapia de Casal e Famlia,
pelo Instituto Unificado Paulista (UNIP) 1982. Especialista
em Psicologia Clnica pelo CRP 06. Psicoterapeuta de casal e
famlia com formao pelo ncleo de casal e famlia da SBPA.
Email:[email protected]
Silmara Toledo
Psicloga clnica formada pela PUC Pontifcia Universidade
Catlica de So Paulo. Especializao em terapia familiar e de
casal no Instituto Familiae. [email protected]
Olga Maria Fontana
Psicloga formada pela PUC -SP em 1973. Especializao em
Cinesiologia Psicolgica pelo SEDES Sapientiae. Especialista
em Psicologia Clnica e supervisora clinica pelo CRP 06. Especializao em terapia de casal e famlia pelo Instituto J. L. Moreno. Psicoterapeuta de casal e famlia com formao pelo ncleo de casal e famlia da SBPA. [email protected]
Circe Tufolo Pereira
Psicloga formada pela PUC, Pontifcia Especialista em Psicodinamica pelo Sedes, Especialista em Psicoterapia Psicanaltica pela USP e Orientadora
[email protected]
Resumo
Este trabalho uma experincia de interviso utilizando
a tcnica criada por Alberto Patrcio e Carlos Byington. Nesta
experincia um terapeuta compartilha com seus pares um
caso clnico por meio da montagem de uma cena, que ser a
disparadora da discusso. O termo interviso traz implcito a
idia de cooperao e aprendizado entre iguais, e a potncia
do trabalho est nesta viso mltipla e partilhada.
Um profissional apresenta o caso escolhendo entre os objetos disponveis aqueles que melhor simbolizam sua relao
com o paciente. O grupo aguarda a montagem da cena e s ento faz associaes livres. A terapeuta ouve atentamente s associaes, e em seguida conta o caso fazendo relaes com as
idias colocadas pelo grupo; abre-se a discusso.
Ao final do encontro, atravs da vivncia do processo,
cada participante ter uma compreenso ampliada do que
est se passando no setting teraputico.
569
Introduo
A tcnica denominada "marionetes do Self" foi criada por
Alberto Patrcio e Carlos Byington que se inspiraram no trabalho de caixa de areia desenvolvido pela analista junguiana Dora Kalf. Esta tcnica utiliza miniaturas de objetos e personagens como, por exemplo: animais, carrinhos, monstros, figuras humanas, personagens de contos de fada etc.
O postulado bsico desta terapia que existe no inconsciente uma tendncia autnoma para que a psique se auto-regule. Ento, na medida em que o ego est construindo suas cenas, o Self encontra-se por trs orientando, ou melhor "buscando" a harmonia daquela psique (Patrcio 1993).
O profissional pode montar o seu acervo segundo sua prpria convenincia. Estas miniaturas tm como objetivo concretizar pessoas, sentimentos, emoes que cada individuo deseja
representar. Segundo Byington (2004):
sua finalidade intensificar a carga energtica ou
catexis consciente e inconsciente dos smbolos para aumentar a produtividade da sua elaborao extraindo uma
quantidade maior de significados. Para tal, devemos ativar a funo estruturante da imaginao, ultrapassando
a literalidade dos smbolos e penetrando em suas razes
arquetpicas, ou seja, propiciando uma centroverso que
aproxima a conscincia do Arqutipo Central. (p. 5).
Inspiradas por essa tcnica desenvolvemos uma experincia de interviso. Diferente da superviso que pressupe uma
pessoa que orienta as demais, nesta nossa proposta a potencia
- Distante do real.
- Terapeuta meditando.
- Paciente uma pessoa que teve muito poder.
- Cena paralisante.
- Inacessibilidade.
- Terapeuta parece ser o Buda e o paciente o sarcfago.
Comeamos a perceber a atuao da cena em nossos inconscientes, pinando conhecimentos irracionais; aos poucos
vamos percebendo transformaes em nossa conscincia, passamos a express-la atravs de palavras, abrindo novos caminhos e possibilidades. Neste momento Eros e Logos trabalham juntos.
Pedimos que a terapeuta descreva o caso:
Paciente de 38 anos, casada com dois filhos.
Chegou ao consultrio bastante debilitada, havia feito a
terceira cirurgia para sedimentao da coluna o que a fazia
sentir dores horrveis.
Era enfermeira, mas estava aposentada por invalidez. Ao
procurar anlise, ainda no havia conseguido digerir isso, pois
a profisso e sua independncia financeira sempre foram uma
de suas grandes metas, alm de constituir famlia e ter filhos.
Estava no segundo casamento, com um filho do primeiro
e havia adotado outra criana h um ano. Aps cinco meses do
incio do processo, seu filho mais novo apresentou muita irritabilidade, fez exames e nada foi diagnosticado, at que certo
dia teve uma convulso sendo levado para o hospital. Ainda
assim ningum conseguiu fechar um diagnstico e nesta mes-
573
Concluso
O grupo sente-se mobilizado pelo novo conhecimento adquirido: conhecimento que veio da vivencia e da reflexo.
Os smbolos trazidos pela cena atuam em ns e em nossos pacientes. Percebemos como continuamos a tecer seus caminhos, entrelaando idias e emoes, sincronicamente.
Temos agora impresso em ns o que antes parecia apenas um caso a ser estudado. Tornamo-nos agente da transformao e samos transformadas e enriquecidas: a nossa conscincia se ampliou.
Ao final todas sentem-se nutridas e alimentadas.
Nesta experincia de interviso no trabalhamos separados, mas nos unimos em prol da ampliao da conscincia.
Referencias
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Psicolgico de Zurique, traduzido e apostilado por Peth Sndor, 1934/1939.
Jung, C. G. Tipos Psicolgicos . Traduo de XXX. So Paulo:
Editora Vozes, 1952.
574
Que lugar que eles ocupavam na famlia de origem? O lugar do filho? O lugar da criana?
Com base em quais lealdades familiares eles ficaram envolvidos, quando fizeram suas opes polticas, no caso o Comunismo, e como eles escolheram produzir dinheiro e recursos financeiros sem se sentirem em conflito com as lealdades
familiares?
Ao buscar a militncia poltica ele estaria contrariando o
pai militar (alta patente), e ao buscar a produo financeira
ele relatava o conflito de lealdades com relao militncia poltica, ou seja, o Comunismo.
Ela, por sua vez, a caula de trs irmos era a filhinha do
papai, filha de funcionrio publico e de uma dona de casa. Ao
mesmo tempo em que criticava o pai por ser funcionrio pblico, ela se forma Sociloga e entra para a militncia poltica, o
Comunismo. Acaba sendo contratada para realizar um trabalho na rea de servio pblico, mas nunca com a remunerao
do dinheiro empresarial.
Tambm com relao escolha do parceiro, embora a diferena de idade no fosse grande, poca ela escolheu uma
pessoa que cuidasse dela e a sustentasse.
Apesar deles no discutirem sobre dinheiro em si, eles debatiam muito a falta de recursos para sustentarem a prpria
vida.
Com estas questes eles chegam Instituio Instituto
Sistemas Humanos/SP com a seguinte pergunta:
Como duas pessoas de nvel Universitrio no conseguem pagar o aluguel?
575
am diariamente, pois ANA havia estudado na mesma faculdade de Maria, se formado em Sociologia e tinham sido bastante
amigas.
Do casamento com ANA, JOO teve um filho, CAIO que
estudava em uma Universidade Pblica tambm na rea de
Exatas, mas que no incio do segundo ano de faculdade resolveu trancar a matrcula, indo viajar com a namorada causando com isso muito estresse no casal ANA e JOO.
Contando sua histria, ANA nos fala que a caulinha
de trs filhos, sendo que os dois maiores so homens e que ela
era a queridinha do papai quando criana.
Seu pai era funcionrio pblico e sua me professora primria, mas quando ela, que queria fazer a faculdade de medicina, resolveu estudar grego na USP, sua me e cunhada lhe disseram que ela seria pobre a vida inteira, porque ser professora isso que d.
Conta que do lado paterno era uma famlia que se achava
aristocrata, mas que teve um tio que deu golpe no irmo e o
deixou com dvidas at hoje. Sua tia paterna vivia como se rica
fosse, embora seu marido tenha se suicidado por questes financeiras, era arrogante e sentia-se aristocrata, discriminava
sua me nas comemoraes de Natal lhes dando presentes pobres, mas seu pai como era muito ausente nunca a defendeu.
Sua me era passiva naquelas ocasies e ANA ficava encolhida, perplexa e com raiva da me. Hoje quando fala com ela sobre isso, sua me nega.
Por questes de relacionamento com a famlia e irmos,
ANA resolve trancar matrcula na USP e vai para Salvador estudar Sociologia onde conhece Maria, ex-mulher de JOO, de
578
Com esses dados que obtivemos do casal foi que nos fez
recorrer aos autores Murray Bowen9, Ivan Boszrmnyi-Nagy,
Mony ElKham10 e a Psicologia Econmica.
Murray Bowen e Ivan Boszrmny-Nagy, criadores da Escola de Terapia Familiar Multigeracional, do enfse, respectivamente, s questes como o conceito de Diferenciao do
Eu e o processo de transmisso Multigeracional que tem
como conceito fundamental a justia relacional inserida no Livro Maior de Mrito e Obrigaes da Famlia, tambm chamado como Livro de Contabilidade Maior ou Livro Maior.
O conceito de Diferenciao do Eu, segundo Bowen sugere que a sade mental do individuo est associada ao grau de
diferenciao que este capaz de estabelecer em relao a sua
prpria famlia.
Diferenciao capacidade de funcionar de forma autnoma, ajudando a pessoa evitar alcanar polaridades reativas.
A diferenciao tambm reflete a capacidade que a pessoa tem
de saber qual a diferena entre os comportamentos que se fundamentam em seu sistema emocional, automticos, e aqueles
que refletem seu sistema intelectual e sua capacidade de raciocnio.
Ambos os sistemas de orientao emocional e intelectual
so teis para o indivduo, dependendo das condies as quais
este deve ajustar-se. Para o sistema Boweniano a marca do
ajustamento pessoal a objetividade racional e individual.
Uma pessoa diferenciada capaz de fazer a separao entre
pensar e sentir, e alem disso, permanecer independente da famlia de origem.
Observando que as pessoas se diferenciam umas das outras em termo de funcionamento, Bowen desenvolveu o conceito que denominou Escala de Diferenciao do Eu. As pessoas
podem distinguir-se umas das outras de acordo com sua posio na Escala de Diferenciao. Isto reflete nas diversas formas pelas quais estas reagem aos desafios que a vida lhes apresenta. O nvel de diferenciao aquele em que o ego se funde
ou se incorpora a um outro ego. No ponto central da Diferenciao do Eu, situa-se a relao primria com seus pais, que se
forma provavelmente bem cedo, como resultado de fatores hereditrios e de aprendizado, ativados e adquiridos pelo processo evolutivo no relacionamento com as pessoas importantes
na infncia.
Concordo com Bowen (1975) quando diz que a famlia
permanece dentro de ns, e que os relacionamentos no resolvidos com nossas famlias de origem so os negcios inacabados mais importantes de nossas vidas.
Bowen tambm fala do processo de transmisso multigeracional que designa a maneira como ocorre o processo de projeo familiar, modo pelo qual o grau de diferenciao atingido pelos pais se transmite aos filhos de maneira no uniforme
e, repetidos de gerao em gerao, levam os diferentes ramos
da famlia a alcanar maior ou menor nvel de diferenciao.
Outro autor que nos auxiliou nestas reflexes foi Ivan
Boszrmnyi-Nagy11 com sua Escola que foi denominada Terapia Contextual, cujo conceito principal a Justia Relacional
que traz a noo de uma rede hierrquica de obrigaes (visveis e invisveis) dentro da famlia enfocando que toda relao caracterizada pela lealdade que se baseia no mrito, ga579
nho ou no, e na justia que corresponde distribuio do mrito em todo um sistema de relaes (Nagy, 1983, p.75).
Segundo Nagy famlia um grupo humano rodeado por
uma rede complexa de obrigaes e lealdades cujo cumprimento exigido, mas que protegem ao mesmo tempo o conjunto
familiar (Nagy, 1983 in Galina, 2007, p.54).
No seu livro Lealdades Invisveis, Nagy desenvolve uma
teoria de relao baseada na justia. Ele afirma que os membros da famlia baseiam seus relacionamentos na confiana e
na lealdade e equilibram a contabilidade dos direitos (mritos) e dos deveres (obrigaes), da o Livro Maior, ou Livro de
Mritos ou Livro de Contabilidade da Famlia a que ele se refere.
O autor explica que em toda famlia essa contabilizao
de obrigaes e mritos transgeracional, ou seja, existe um
livro de contas psquico em que se leva a contabilidade das
obrigaes passadas e presentes entre os membros da famlia.
Nagy afirma que quanto maiores forem os cuidados que
se recebe dos pais, maiores as obrigaes com que se nasce, e
que uma forma de compens-los prestando esses cuidados
de forma semelhante aos filhos. A compensao das obrigaes filiais com as paternas que se faz com que esse Livro tenha carter Multigeracional.
Cada ato de compensao de uma obrigao recproca
aumentar o nvel de lealdade e confiana dentro da relao
(Nagy, 1983, p.65), o que me faz concluir que o Livro Maior
como uma espcie de prestao de contas de obrigaes e mritos seguidos por cada membro, e que testemunha o passado
familiar.
no quero ter expectativas porque se eles no corresponderem, eles caem no meu conceito; [...] no consigo ganhar dinheiro e o ganhar dinheiro no me motiva porque o dinheiro
no traz felicidade. O que preenche minha vida o trabalho,
me sinto intil no ganhando dinheiro.
Consequentemente, podemos inferir que o casal criou sistemas aprisionadores baseados em suas prprias leis internas,
ou mesmo, em seus Mapas de Mundo (MM), que conforme
Mony Elkan (1980, p.60), MM so construdos a partir de experincias vividas anteriormente e so aqueles atravs dos
quais os membros de um casal percebem seu presente, ou
seja, o projeto que cada um esboa ao longo de sua histria e
que procura usar na relao atual, e PO (Programa Oficial) a
demanda explcita de cada membro do casal, conforme o que
j expusemos acima.
Com isso, podemos inferir que o Mapa de Mundo deles
totalmente diferente do Programa Oficial, criando um paradoxo, que Mony assinala como sendo paralisao do casal, pois
existe uma proteo das construes de mundo e que levam
ao estrangulamento da construo de alternativas [...] (Colombo, p.22), para si mesmos para no crescerem, no se tornarem adultos pois o ganho secundrio, conforme Watzlawick, (in Pragmtica da Comunicao Humana, 2010, p.251)
que um termo psicanaltico que se refere s vantagens indiretas, interpessoais, que o indivduo obtm do seu distrbio, por
exemplo, compaixo, maior ateno, liberdade no tocante s
responsabilidades cotidianas, etc..., que o casal obtinha para
terem se descuidado tanto consigo mesmos e se encontrarem
nesta situao de precariedade financeira, justamente no 3 e
4 Ciclo de Vida. Talvez fosse para ela, continuar a ser a filhinha caula a queridinha do papai, no crescendo, no se tornando adulta, no administrando a prpria vida financeira e
ele, pensando em contrariar o pai (politicamente falando) ele
fica prisioneiro eterno deste pai por necessitar de dinheiro,
mas tambm um tanto prximo, pois, o pai vivia como pobre.
Alm do mais, o casal continua na condio ilusria de
filho pois, vivem de mesada das respectivas mes (89 e 91
anos) que recebem aposentadoria de seus falecidos maridos.
Muito embora saibamos que poca deles no houvesse uma
educao financeira na famlia, pois no era comum, inferimos que, por ele ser economista e ela sociloga, eles teriam
maiores condies de terem conscincia sobre suas emoes
para fazerem suas escolhas financeiras.
A principal questo que a Psicologia Econmica12 busca
responder como os indivduos tomam decises. Influncias
de questes psicolgicas seriam mais relevantes nessas tomadas de decises que o nvel educacional do indivduo. A rea
da psicologia que estuda o comportamento econmico vem, a
cada dia, chamando mais ateno para a questo do dinheiro.
Da o nosso interesse pela Psicologia Econmica que, em
1970, foi inscrita no Mapa das Cincias Contemporneas, que
tem como objeto de estudo o comportamento econmico dos
indivduos, grupos e populaes, com especial ateno para o
aspecto que o caracteriza: a tomada de deciso.
Para a Psicologia Econmica, as decises so tomadas a
partir da percepo que se tem da realidade, ou seja, no haveria uma captao precisa e isenta dos dados pertinentes a esse
581
por menor que seja, para uma crise como esta. De fato, por ser
o divrcio ou separao - um processo, pode levar alguns
anos at as pessoas implicadas conseguirem reorganizar suas
vidas. bem verdade que nossa cultura estimula gastos e no
privilegia o poupar, ficando este comportamento a cargo de
cada um.
Concluindo, entendo que fatores intervenientes internos
(psquicos) e externos, como as crenas familiares, impediram
o casal de lidar com o dinheiro, ou seja, de se organizar para
cuidar da prpria vida financeira bem como de conseguir produzir dinheiro e fazer planejamento para o terceiro e quarto
Ciclo de Vida.
Penso que os fatores intervenientes internos seriam as
lealdades invisveis que JOO tinha com o seu pai no sentido de que o pai, mesmo sendo um militar de alta patente vivia como pobre. JOO estava realizando o seu Mapa de Mundo, ou seja, continuava como pobre em lealdade ao seu pai,
mesmo que seu Discurso Oficial fosse o contrrio.
Ao no poder produzir dinheiro ele continuaria sendo leal ao pai, e mesmo quando ele, querendo contesta-lo, se encaminhou para ideologia poltica do comunismo, ele vivia aprisionado nos mesmos quartis de regras e hierarquias.
Em relao a ANA, podemos inferir que ela ao no poder
produzir dinheiro, pensando continuar pertencente quela famlia, continuava como a filhinha do papai, portanto a caulinha da famlia, sempre a menininha que no podia crescer e
se auto sustentar. Cumpria aquele vaticnio de que sua me
lhe disse ao entrar para a faculdade de Grego na USP.
583
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Heinz Von Foester, fsico, austraco, nascido em 1911. Acrescenta observao de Maturana dizendo tudo que dito
dito a um observador. Alm disso, ele tambm evidencia claramente a conexo entre observador, linguagem e sociedade,
quando enfatiza que entre os trs (observador, linguagem e
sociedade) se estabelece uma conexo no-trivial, isto , uma
relao tridica fechada, em que no se pode dizer quem foi o
primeiro, quem foi o ltimo e em que se necessita dos trs
para se ter cada um dos trs (Foester, 1974, p. 90). Nessa afirmao, Foester contempla, como essenciais na constituio do
conhecimento, o indivduo observador, suas experincias ou
relaes interindividuais e os significados lingusticos destas
experincias.
3
Notas
Psiquiatra e professor da Universidade de Tromso, Noruega
e criador da Equipe Reflexiva (Rflexion do Frances e Refleksjon do Noruegus)
1
Humberto Maturana bilogo chileno, nascido em 1928, desenvolveu pesquisas em biologia na Inglaterra e Estados Unidos, integrou a equipe de pesquisadores de McCulloch, no
MIT (Massachusetts Institute of Technology), realizando experimentos em neurofisiologia. Maturana pontua a importncia
da linguagem na constituio da realidade, pois tudo que
dito dito por um observador.
2
587
Genograma significa um trabalho feito em cima de nossa histria familiar, at onde lembrar, dos antepassados, toda histria, para nos fazer entender de onde viemos, quem somos,
como funcionamos, como funcionava a nossa famlia, fala das
lealdades visveis e invisveis, de nossos mapas de mundo de
nossas famlias de origem.
8
Ivan Boszormnagy foi um psiquiatra hngaro, que trabalhou nos EUA e, que fundou e depois se tornou o Diretor de
um dos primeiros Centros de Terapia Familiar dos EUA, desempenhando um papel determinante para o desenvolvimento da Terapia Familiar na Europa, principalmente na Alemanha, Itlia e Sua, autor de vrios livros, dentre eles Lealdades Invisveis (1973).
11
588
589
mstica e ao Abuso e Explorao Sexual de Crianas e Adolescentes pelo Instituto Sedes Sapientiae, Especializao em Impactos da Violncia na Sade pela Fundao Fiocruz. Atuando
h 20 anos na Prefeitura do Municpio de Osasco e nos ltimos 6 anos no Ncleo Acolher no atendimento s famlias de
crianas e adolescentes em situao de violncia sexual.
Kubiak, SSM
Psicloga pela PUC-SP, Mestre em Cincias pela UNIFESP no
Programa de Educao e Sade na Infncia e na Adolescncia,
em curso de formao na Sociedade Winnicottiana de So Paulo, com Capacitao para o Combate Violncia Domstica e
ao Abuso e Explorao Sexual de Crianas e Adolescentes pelo
Instituto Sedes Sapientiae. Atua no Ncleo Acolher h 7 anos
em atendimento de crianas e adolescentes em situao de violncia sexual e seus familiares.
Jesus, AL
Psicloga pela Universidade de So Paulo, com Capacitao
para o Combate Violncia Domstica e ao Abuso e Explorao Sexual de Crianas e Adolescentes pelo Instituto Sedes Sapientiae, atua como psicloga clnica h 23 anos e vem desenvolvendo h 7 anos atendimento a crianas e adolescentes em
situao de violncia sexual e seus familiares no Ncleo Acolher.
Crismanis, JC
Assistente Social pela Faculdades Metropolitanas Unidas
FMU com Capacitao para o Combate Violncia Domstica
e ao Abuso e Explorao Sexual de Crianas e Adolescentes
pelo Instituto Sedes Sapientiae, Especializao em Impactos
da Violncia na Sade pela Fundao Fiocruz. Atuando h 21
anos na Prefeitura do Municpio de Osasco e nos ltimos 7
anos no Ncleo Acolher no atendimento s famlias de crianas e adolescentes em situao de violncia sexual.
Buzatto, CM
Assistente Social pela Faculdade Paulista de Servio Social de
So Paulo com Capacitao para o Combate Violncia Do-
Este trabalho tem por objetivo refletir sobre o atendimento psicossocial s adolescentes em situao de violncia sexual
e seus familiares, em um centro de referncia no municpio de
Osasco. A reflexo torna-se possvel atravs do relato dos grupos de proteo realizados com essa populao como estratgia de interveno teraputica, considerando prioritria a incluso dos familiares ao longo de todo processo.
Tal proposta tem por base uma compreenso da violncia sexual contra crianas e adolescentes como uma manifestao da violncia interpessoal inserida num contexto mais amplo, no restrito s vivncias e sequelas individuais da criana
e/ou adolescentes vitimizados. Torna-se fundamental acolher
e escutar a famlia como parte integrante da vulnerabilidade,
590
591
portncia do atendimento em grupo com essa faixa etria. Visando a orientao e reflexo sobre a vulnerabilidade e estratgias de proteo, os Grupos de Proteo surgiram da necessidade de refletir sobre temticas dessa faixa etria, as quais
tambm precisavam ser pensadas e elaboradas entre os demais membros da famlia.
Estimular a reflexo entre os demais membros da famlia, e no somente com o adolescente, implica em uma concepo da famlia enquanto um sistema organizado e constitudo
por todos os seus integrantes. Alm disso, implica uma concepo da famlia enquanto um lcus privilegiado e socialmente
definido, no somente formador de identidade, mas tambm
de transformao social, como nos indica a seguinte passagem:
Estas matrizes podem ser mais ou menos rgidas, mas
sempre so matrizes que, atravs de um processo de co-participao, co-ao e co-construo, vo desenvolvendo a personalidade de seus membros medida que transmitem valores, mitos, crenas e ideologias atravs de geraes (Seixas, 2005, p.
112)
As discusses sobre as temticas especficas dos adolescentes com demais membros do sistema familiar possibilitou
contextualizar as relaes e verificar como o padro de interaes do sistema familiar relaciona-se com os demais sistemas
nos quais o adolescente e os familiares encontram-se envolvidos, como a escola, as instituies de sade e a comunidade.
Inicialmente esses grupos eram realizados tanto com os adolescentes como com os responsveis legais tendo por finalida-
592
de refletir sobre temas previamente estipulados e relacionados ao desenvolvimento dessa faixa etria.
Refletindo e discutindo os temas de sexualidade, formas
de violncia e os direitos das crianas e adolescentes, as famlias demandavam por um espao de escuta para as histrias familiares e assim, essa proposta de interveno precisou ser reformulada, tendo por finalidade favorecer espaos conversacionais, estimulando e construindo narrativas transformadoras.
Nesse processo, as Oficinas de Bonecas constituram-se como
um espao privilegiado para a escuta das narrativas familiares, favorecendo que as famlias aproximassem suas prprias
histrias nas temticas discutidas, costurando e confeccionando no somente as bonecas como tambm as prprias histrias familiares.
A imagem que melhor retrata o desenvolvimento desse
trabalho, tanto para as famlias como para os terapeutas a
descrita por Colombo:
o encontro das famlias com os terapeutas sentados ao
redor de um ponto de conversao funciona como um caldeiro de emoes e afetos sendo aquecidos, s vezes fervidos, mas sempre um lugar assegurado e protegido, um
ventre frtil para abrigar novas possibilidades de nascimento
(Colombo, 2000, pg. 179)
Desta maneira, os encontros com os familiares e os adolescentes iniciaram-se com os sentimentos e marcas da violncia vivida, ou seja, sendo encontros marcados pela raiva, pelo
dio, pelo sentimento de injustia, pela vergonha e desconfiana. Sentimentos que impossibilitavam a ao, e assim os terapeutas deparavam-se com pessoas marcadas pela impotncia
frente possibilidade de transformao. Transformao essa
dificultada pelo desejo de esquecimento, como se fosse possvel apagar e retirar as marcas da violncia, sem que houvesse
perda da prpria histria.
Esquecer uma parte da histria significa perder uma parte de si mesmo, e por esse motivo, costurar e reconstruir uma
nova possibilidade de existncia torna-se to importante nas
situaes de grande vulnerabilidade e desamparo emocional e
assim, visando desenvolver seres humanos capazes de, por
eles prprios, darem sentido e direo s suas vidas, essa proposta de interveno baseou-se na intimidade do fazer e na
construo de um espao reflexivo.
Esse espao reflexivo somente tornou-se possvel pela
compreenso do papel do terapeuta familiar como crtico da
ideologia familiar e transformador social, como ilustrado na
seguinte passagem:
O papel do terapeuta familiar propiciar mudanas de
significado e ou estruturas nas famlias, possibilitando o
reaparecimento da espontaneidade e criatividade de seus
membros, que estavam inibidos por rgidos padres relacionais. Esta maior liberdade relacional favorece o desenvolvimento de identidades interagentes e atingir novos
consensos (Seixas, 2005, p. 113)
593
Por intermdio da confeco da boneca, as mes puderam conhecer a si prprias, num processo de espelhamento,
possibilitando reencontrar um novo sentido para a vida e colaborar com a interveno dos prprios filhos. Os adolescentes,
por intermdio das temticas discutidas, puderam tambm conhecer a si prprios e elaborar estratgias protetivas e de maneira complementar, essas estratgias de interveno auxiliaram as famlias na reconstruo de suas narrativas, na medida
em que puderam ser escutadas alm da violncia vivenciada.
Objetivo da Interveno Teraputica
A Oficina de Bonecas e o Grupo de Proteo tiveram
como objetivos propiciar mudanas de significado e/ou estruturais nas famlias, resgatando o potencial de cada um no que
diz respeito espontaneidade e criatividade. Nesse ambiente
acolhedor, a confeco da boneca tornou-se um veculo para a
reconstruo de si, atravs das angstias, sentimentos e pensamentos, enquanto as temticas adolescentes favoreceram
um retorno adolescncia normal, no identificada somente
pela violncia vivenciada. Essas estratgias possibilitaram a
co-construo da realidade vivida pela famlia, por meio desses espaos para reflexo e aes transformadoras.
Os Encontros
As famlias e os adolescentes indicados para a oficina e
para o grupo de proteo foram inicialmente acolhidas pelo
Servio Social e pela Psicologia, por meio de uma escuta indivi-
dual, visando compreender a dinmica e as necessidades familiares. Aps esse contato individual, a Oficina de Bonecas e o
Grupo de Proteo aos Adolescentes iniciaram-se concomitantemente, totalizando 11 encontros ao longo do segundo semestre de 2013.
Os encontros foram realizados quinzenalmente com durao de 1 hora e 30 minutos, com participao de 10 adolescentes e seus familiares. As Oficinas de Bonecas foram realizadas
por uma dupla de Assistentes Sociais, enquanto os Grupos de
Proteo ficaram sob os cuidados de uma dupla de Psiclogas.
A Oficina era composta em sua maioria por mes e apenas uma av paterna. A av era aposentada e todos os demais
participantes exerciam atividade remunerada, sendo a principal fonte de renda familiar. A composio dessas familias era
em mdia de 02 a 05 filhos e a maioria sofreu violncia sexual
intrafamiliar.
O grupo de proteo era composto por adolescentes entre 11 e 14 anos, sendo importante ressaltar que, apesar da definio de adolescncia regulamentada no ECA referir-se a partir dos 12 anos de idade, consideramos na composio do grupo a idade maturacional e emocional; todos estavam matriculados regularmente no ensino fundamental e mdio, a maioria
em instituies pblicas de ensino e com pouco acesso s polticas pblicas referentes a lazer, cultura e sade.
Apesar dos encontros terem objetivos comuns norteadores, nos grupos de proteo foram desenvolvidos temas selecionados a partir da demanda dos adolescentes. J nas oficinas,
esses temas foram veiculados, mas no obrigatoriamente desenvolvidos, pois a oficina tinha como caracterstica desenvol594
A Boneca no seu estado Bruto: Malhas, tesouras, linhas, moldes, agulhas, sulfites e material grfico.
O trabalho iniciou-se com os pedaos de malha, de tecido, agulhas, enchimento, tesouras, linhas, ls, sulfites, material grfico e revistas. Um material disperso e separado, cada
qual no seu canto e com inmeras possibilidades, assim como
os integrantes do grupo, cada qual em sua histria e individualidade. O contato inicial entre esses membros tambm caracterizou-se pelo estranhamento, sendo necessrio inicialmente
favorecer um ambiente acolhedor e desvinculado da histria
de violncia vivida, seja entre os responsveis ou entre os adolescentes.
Desta forma, os profissionais favoreceram a apresentao e conhecimento entre os integrantes, assim como o estabelecimento das regras do contrato de funcionamento do grupo.
Gradualmente as integrantes do grupo puderam, atravs de
suas caractersticas individuais, compor a Oficina, dando-lhe
forma e contribuindo com os recursos e a proposta de confeccionar uma boneca.
Frente a essa proposta, todas as participantes ficaram
apreensivas, e questionando como seriam capazes de costurar
uma boneca mo, contudo, os profissionais explicaram que
no era preciso ser uma artista, ou to pouco ter habilidade
com costura, bastando estarem disponveis e abertas para outras formas de expresso,
Utilizando apenas a cabea, o pensamento, o corao, os
sentimentos e as mos e assim atravs do tato a boneca comeou a sair do seu estado bruto, ganhando corpo.
595
De maneira similar, na sala ao lado, os adolescentes comeavam a construir um espao deles, preenchendo-o com suas expectativas e interesses, assim como pelas angstias e temticas de interesse, mas ainda sem forma e sem planejamento prvio, sendo somente diversos retalhos da grande gama de
interesses e possibilidades desse perodo de transio: a adolescncia em seu estado bruto (transformaes corporais, luto
da infncia, perspectiva de futuro, potncia, imaturidade, hormnios e a importncia de pertencimento social).
O Corpo A trama: molde, malha e temas
Na Oficina, a partir da disponibilidade das integrantes,
tornou-se possvel apresentar o molde da boneca, assim como
o material de costura e as opes de cores das malhas, considerando a diversidade e os diferentes tons de pele. Haviam malhas nas cores marrom, bege, rosa, preto, mas no havia a boneca pronta, a fim de que as integrantes pudessem criar a partir de sua prpria subjetividade, resgatando assim o sonhar e
o brincar.
Foi interessante como algumas apresentaram dificuldade
em manusear a tesoura, os tecidos, as agulhas, linhas, enquanto outras mostraram-se com habilidade, concentrao e rapidez, e independente do ritmo e caracterstica individual, todas
mostraram-se disponveis em aceitar o desafio de confeccionar uma boneca. Enquanto manuseavam o material, refletiam
sobre o destino da boneca, a escolha da roupa, gnero e nome,
ao mesmo tempo em que desenvolviam e demonstravam solidariedade, auxiliando e colaborando umas com as outras. As-
596
Enquanto terapeutas
podemos escutar que,
alm das limitaes e dificuldades, alguns recursos
e potencialidades comeavam a emergir entre as integrantes da Oficina, assim como a identificao
de suas necessidades e de
suas famlias, possibilitando a reconstruo da histria familiar. De maneira
semelhante, dentre os adolescentes, alm de dinmicas voltadas ao autoconhecimento, a reflexo e orientao sobre transformaes corporais, sexualidade e relacionamentos familiares e afetivos, tornavam possvel o conhecimento do prprio corpo, a percepo de suas potencialidades e limitaes, em um processo de apropriao corporal, processo
esse marcado pela violncia sexual, e por esse motivo, o espao de reflexo sobre o corpo e a sexualidade extrapolava o carter educativo, sendo necessrio um olhar atento s reaes e
manifestaes desses adolescentes, a fim de que essas temticas no fossem novamente sentidas como invasivas. Desta forma, o tempo para trabalhar esses temas precisou ser maior do
que o planejado previamente, seguindo o ritmo e as necessidades dos integrantes desse grupo.
Tanto na Oficina como no Grupo de Proteo, cada membro comportava-se sua maneira, expondo suas subjetividades e reagindo s emoes emergentes, atravs do silncio, da
concentrao nas atividades, da necessidade de ocupar o espao atravs das falas e histrias pessoais. Essas possibilidades
estavam delineadas pelo enquadramento dessa interveno,
no sendo obrigatrio expor as histrias ou a violncia vivenciada, porm havendo o espao para a escuta dessas vivncias,
respeitando o ritmo e a necessidade pessoal de cada um.
Algumas narrativas das mes trouxeram tona a violncia
transgeracional, a explorao do trabalho infantil e o aliciamento sexual, emergindo ao longo da costura da boneca, a violao dos direitos e a negao da infncia, no somente dos filhos mas tambm delas prprias. Nas narrativas dos adolescentes, alm da potncia da adolescncia, emergiam gradualmente as sequelas emocionais, a necessidade de automutilao, a tristeza e a depresso.
Costurar, costurar, costurar... Tecendo uma nova
malha
De ponto em ponto, em cada arremate a boneca vai se delineando e algumas mos mesmo desajeitadas vo dando forma boneca, assim como vo se delineando novas possibilidades de configurao familiar. A interface entre a Oficina e o
Grupo de Proteo permite um novo olhar s necessidades
dos filhos e s necessidades das mes, sendo possvel olhar o
outro, de um novo ponto de vista.
597
As narrativas sobre o dia a dia com os filhos, suas dificuldades e acertos proporcionam s mes olharem para si mesmas e contriburem com o grupo nas suas reflexes. A dramatizao sobre os papis familiares dentre os adolescentes permitiu observarem suas histrias, os cuidados familiares, a ausncia de cuidados e a importncia de verbalizarem suas necessidades.
Desta forma, dentre as
costuras de suas vivncias e
possibilidades, mes e adolescentes perceberam-se gradualmente como protagonistas de
suas histrias, o que se reflete
em aes prticas e cotidianas, percebendo alguns avanos em suas vidas. Isto implica no pleno exerccio da cidadania, na compreenso dos
direitos e deveres e na possibilidade de escolha, at ento
negada nas situaes de violncias vividas.
alizada sua construo, mas, contudo, ainda havia a necessidade de adicionar vida e sonhos, e por isso, na juno da cabea
e corpo, tornava-se primordial dar ateno ao corao.
Tornar a boneca dotada de desejosos e sentimentos positivos era primordial. Cada membro do grupo deveria anotar
num pequeno pedao de papel trs sentimentos positivos que
simbolicamente seria o corao da boneca. Considerando que
a maioria chegou com sentimentos negativos de culpa, revolta, injustia, impunidade e decorrido o perodo de permanncia na oficina era preciso retomar a vida e nomear novos sentimentos que simbolizassem os melhores desejos ao outro. Isso
possibilitou a reparao e a construo de um novo ser, e a
possibilidade de uma nova forma de viver onde a boneca era
representante desta possibilidade.
Um sentimento de transformao podia ser nitidamente
observado no destino da boneca, como a boneca que lhe foi retirada junto infncia, como a boneca que no foi dada filha
ao retirar-lhe a infncia, enfim, como a infncia perdida ou
abruptamente roubada. O destino das bonecas tambm despertava grande curiosidade e expectativa dentre os adolescentes, ansiosos por terem reconhecimento familiar, o cuidado e
a infncia devolvida.
fosse um presente alm da percepo de si mesmas como aptas a fazerem escolhas pessoais para a prpria vida.
Essas escolhas tornaramse possveis na medida em
que o espao conversacional das Oficinas possibilitou refletir sobre o que
aconteceu com elas e com
seus filhos, sobre a violncia sexual sofrida, sobre
como chegaram ao Ncleo
Acolher, a trajetria percorrida e sobre suas perspectivas futuras aps esse processo de transformao,
que s tornou-se possvel
pela dinmica do prprio
grupo, o qual respondia com solidariedade, colaborando, ensinando e incentivando as demais integrantes, quando essas se
sentiam ansiosas e atrasadas.
J no grupo de adolescentes, o acabamento refletia-se
nas discusses sobre os direitos e deveres, sobre as estratgias
de proteo e sobre as situaes de vulnerabilidade, nas temticas do ECA, internet, preconceito e bullying, contudo, mais
cnscios de seus direitos e recursos, novas possibilidades de
proteo delineavam-se nos discursos e falas desses adolescentes, no mais identificados como vtimas da violncia. Talvez
justamente por esse motivo, os adolescentes comearam a esboar o desejo de falar sobre a violncia vivida, por no mais
Referncias Bibliogrficas
Colombo, SF (2000) Em busca do sagrado. In: Cruz, HM.
(org). Papai, Mame, Voc ...e Eu ? So Paulo: Casa do Psiclogo, 2000.
Colombo, SF (2009) O papel do terapeuta em terapia familiar.
In: Osorio, L.C; Pascual do Valle, ME (org). Manual de Terapia Familiar. Porto Alegre: Artmed, 2009
Rosas, EV (2011) Terapia de famlia com crianas: a mgica
possvel. In: Nova Perspectiva Sistmica, agosto 2011, ano XX.
Seixas, MRA. (2005) Famlia na Atualidade. In: Pensando Famlias, 7(9), nov. 2005, p. 109-120.
600
S foi possvel se saber de existncia deste outro pai, porque o pai socioafetivo, que julgava ser o pai biolgico da menor, resolveu atender aos apelos de sua prpria me e fazer o
teste de DNA, onde foi constatada a incompatibilidade gentica.
Nosso trabalho inicial foi preparar os adultos e capacitlos emocionalmente para estarem aptos a fazer a revelao
para a criana. Buscamos mostrar aos pais e a me da delicadeza e dificuldade de tal situao e que a verdade encoberta, no
deveria ser trazida conscincia da criana de forma sbita e
precipitada, considerando que a mente da criana ainda est
em formao de identidade.
Nossa preocupao era que um segredo revelado mal ou
inoportunamente, pudesse significar o rompimento de laos e
trazer prejuzo para as interaes relacionais, levando as pessoas a preferirem sadas de emergncia que trazem alvio
tenso existente, mas podem causar o rompimento brusco do
relacionamento.
Nosso trabalho vem sendo, cuidadosamente, criar um
tempo de delicadeza para isso acontecer.
Referencias Bibliogrficas
Imber-Black, Evan (1994). Os Segredos na Famlia e na Terapia Familiar. Porto Alegre. Artes Mdicas
601
As tcnicas da Terapia
Familiar a servio da
Mediao de conflitos
Vernica da Motta Cezar-Ferreira
Advogada e psicloga. Bacharel em Direito - USP. Doutora e
Mestre em Psicologia PUC-SP. Introdutora da viso psicojurdica no Direito de Famlia. Psicoterapeuta individual, de casal e de famlia, mediadora, perita e consultora psicojurdica
de famlias e empresas. Faz parte dos pioneiros da Mediao
no Brasil. Membro do Conselho de Educadores da Escola de
Pais do Brasil, diretora de relaes interdisciplinares da Associao de Direito de Famlia e das Sucesses ADFAS e consultora de Direito de Famlia da OAB-SP. Docente de Mediao em Ps-Graduao. Professora convidada da Escola Paulista da Magistratura, PUC-SP e Universidade Presbiteriana
Mackenzie. Autora da obra "Famlia, Separao e Mediao
uma viso psicojurdica", Ed. GEN/Mtodo, 3 edio, 2012.
Coautora da obra Estudos avanados de Mediao e Arbitragem, 2014, e de mais de duas dezenas de obras.
Mirian Blanco Muniz
Psicloga clnica, terapeuta de famlia, perita judicial, mediadora de famlia, coach de divrcio colaborativo, docente formadora de mediadores e conciliadores, supervisora de mediadores pela Escola Paulista da Magistratura, mediadora certificada pelo Instituto de Certificao e Formao de Mediadores
602
Entendemos que o terapeuta familiar de formao sistmica, tanto por seu embasamento terico quanto por sua prtica, guarda em si pr-requisitos importantes para o exerccio
da mediao de conflitos, particularmente a familiar.
Embora considerando as mltiplas possibilidades interdisciplinares possveis no espao da Mediao, esta abordagem privilegia o ponto de vista da interdisciplinaridade psicojurdica, campo de interseco em que, especialmente na rea
da famlia, se observa de forma clara a interao das disciplinas Direito e Psicologia, e, mais do que isso, a interao das
mentalidades jurdica e psi.
Como transdisciplina que , a mediao no tem finalidade teraputica, embora possa produzir efeitos teraputicos e,
frequentemente, o faa. Assim, se compararmos mediadores
oriundos de diferentes formaes profissionais, podemos pensar que mediadores com formao em terapia familiar, tendem a beneficiar-se pelo fato de lidarem, em sua prtica teraputica, com os mais diversos conflitos, por se embasarem em
uma viso sistmica e por utilizarem, cotidianamente, tcnicas e ferramentas, cuja utilizao na mediao sero de fundamental importncia.
A mediao, como processo que estimula a criatividade,
deve proporcionar acolhimento, incentivar a escuta, a colaborao, propiciar a construo de lugares legtimos, pretender
capacitar os indivduos a aprender a aprender com o outro,
levar a distinguir divergncias e convergncias, ampliar o
olhar, incrementar dilogos e permitir a transformao das relaes para a possvel realizao de acordos consistentes.
O mediador deve ser um facilitador na comunicao daqueles que esto em conflito e estimular a construo de um
espao de conversa para que o dilogo, com seu poder transformador, possa potencializar a co-construo de solues.
Para tanto, a viso sistmica que fundamenta a terapia
familiar e tcnicas para acolher, perguntar e escutar, prprias
dessa modalidade de terapia, so de imensa valia e imprescindveis na habilidade do mediador e no processo da mediao.
O terapeuta familiar possui um repertrio comunicacional de
que, por vezes, nem ele mesmo se apercebe. Trazer tona essas possibilidades, de forma prtica e criativa, e despertar no
terapeuta familiar sua potencialidade para o exerccio da mediao, um dos focos desta oficina.
1. Dos aspectos tericos
1. 1 Comunicao e conflito
Cezar-Ferreira (2014, p. 203) nos ensina que
[...] comunicao a base das relaes. Comunicar
mais do que falar. No se trata apenas de emitir uma frase e receber uma resposta. um processo de interao.
Existe uma relao. Na contemporaneidade, comunicar
sinnimo de comportamento (Watzlawick et al.1997).
No se pode tratar de Mediao sem considerar a Comunicao, visto ser aquela, instrumento viabilizador do dilogo, das narrativas e das conversaes
(CEZAR-FERREIRA, 2014, p. 2031)
603
Por outro lado, a comunicao, por sua utilizao, tambm pode gerar conflitos.
Normalmente, as pessoas que vm para a mediao trazem consigo uma carga emocional to intensa capaz de interferir em suas percepes, atitudes e, consequentemente, nos
seus relatos. Assim, elas relatam como podem e com frequncia demandam ajuda para se expressarem e se comunicarem
de forma mais eficiente.
Essa nossa principal funo, como mediadores: a de favorecer a comunicao entre os mediandos, que, uma vez restabelecida, representa grande probabilidade de que se chegue
a uma composio conjunta.
No processo de mediao o principal objetivo do mediador o de favorecer e estimular a comunicao entre os mediandos. Estando devidamente capacitados, teremos habilidade
na utilizao de tcnicas e ferramentas que facilitem a comunicao das pessoas em conflito e que denominaremos mediandos. (HOUAISS, 20012).
Alguns elementos favorecem um processo mediativo.
Um deles que os mediandos encontrem um ambiente
confortvel e acolhedor para que se sintam seguros e encorajados a se exporem, por meio de seus relatos, e dispostos a retomar um dilogo que os conduzam compreenso e colaborao. Somente com esta base que tero melhores condies
de caminhar em direo ao entendimento e em busca da soluo de seus conflitos. O dilogo tem poder transformador.
O pretendido que os mediandos passem a se comunicar
de modo construtivo, e que encontrem em si mesmos, recur-
sos que lhes possibilitem ressignificar o conflito, para que ento possam se perceber coautores da demanda que os trouxe
mediao, sem necessariamente ser considerada um conflito.
O conflito passaria, ento, a ser uma questo a ser resolvida.
Existem inmeras tcnicas e ferramentas de que ns, mediadores, podemos lanar mo com a finalidade de favorecer a
comunicao. Destacaremos, entretanto, aquelas que consideramos bsicas no processo de mediao e que, como j mencionado, fazem parte do arsenal de um terapeuta familiar.
Ouvindo cada mediando, atentamente, o mediador vai
compreendendo (aprendendo junto com) como cada um percebe o fato, como o vivencia, como se sente e quais suas necessidades e interesses.
Sabemos que o percurso no simples. Estamos lidando
com pessoas em sofrimento, que se sentem inseguras e ameaadas. Mgoa, raiva, desejo de destruir o outro so muito comuns nos conflitos familiares.
O mediador deve oferecer um espao de criao de dilogo para que possa conhecer as pessoas, seus padres de relao, o conflito e o contexto em que esto inseridas para, com
isso, ampliarmos nossa noo de quais seriam os recursos
mais apropriados a serem utilizados na mediao.
Blanco Muniz (2014, p. 222)3, entende que
(...) na conversa, no dilogo que vamos identificando quais tcnicas a serem utilizadas e avaliando sua eficcia. No temos condies de saber, previamente, quais
sero utilizadas. Entretanto, as que destacaremos nesse
captulo so consideradas bsicas e indispensveis na
construo de um campo frtil para uma mediao exito604
O rapport construdo na relao/comunicao com nossos mediandos e exerce um efeito muito positivo, principalmente no incio do (s) contato (s), momento em que devemos
proporcionar condies para a construo de um vnculo de
confiana com nossos mediandos. fundamental que desenvolvam a confiana no mediador e no processo de mediao.
Somente assim, possvel o estabelecimento de vnculos positivos entre mediador e mediandos e a adeso destes ltimos
ao processo de mediao.
Escuta Emptica
Ouvir tambm ver4 e no processo de mediao, devemos estimular a escuta mtua5. Aos mediandos, devemos oferecer uma estrutura onde cada um, a sua vez, possa falar e ser
ouvido, no somente atentamente, mas, principalmente, empaticamente.
Etimologicamente, o termo empatia significa em (dentro de) e pathos (sofrimento). Portanto, a Escuta Emptica alude capacidade do mediador de colocar-se no lugar do outro para, junto, compreender o seu verdadeiro sofrimento. Devemos, enquanto mediadores, transcender nossos marcos de
referncia como valores, crenas e princpios, deixando-os em
segundo plano, para entrar, profundamente, nos marcos de
referncia de cada mediando. Somente assim, podero se sentir realmente escutados e compreendidos. diferente de concordar; eu no preciso concordar para entender.
Rosenberg (2006, p. 150)6 nos ensina que,
605
(...) a empatia a compreenso respeitosa do que os outros esto vivenciando. (...) requer que esvaziemos nossa mente e escutemos os outros com a totalidade de nosso ser. (...)
permitindo que os outros tenham ampla oportunidade de se
expressar antes de comear a propor solues ou pedir por amparo.
Se levarmos em considerao que este tipo de escuta no
uma prtica comum em nosso cotidiano, podemos levar em
conta a precariedade no que se refere a escutar o outro, quando as pessoas encontram-se envolvidas num contexto conflitivo!
A dificuldade de escuta, muitas vezes, configura-se como
o desencadeante de um conflito, de sua instalao e evoluo,
como tambm, pode ser a responsvel pelo rompimento de
uma relao.
Devemos, enquanto mediadores, ser referncia dessa possibilidade de escuta investindo e aprimorando essa competncia, a fim de que possa ser um aprimorado instrumento de
compreenso e incluso do outro, na comunicao que se constri na mediao.
podendo e o mediador pode contribuir com uma maior organizao, resumindo, sistematicamente.
Quando um mediando ouve um trecho de sua prpria histria da boca do mediador, a percepo de estar sendo escutado e de que o outro est tentando compreende-lo pode, no
mnimo, trazer uma sensao de estar sendo considerado, ou
ainda, legitimado.
Alm disso, diante de um resumo, o mediando tem a
oportunidade de fazer as devidas correes, caso o mediador
no tenha entendido algo corretamente, o que proporciona
maior entendimento.
O tom de voz mais ameno do mediador, durante o resumo, tambm contribui para criar melhores condies do mediando ouvir sua histria de outro modo e com isso, perceberse inserido num clima mais desacelerado e mais propenso
cordialidade e ao entendimento. Assim, a tcnica do resumo
pode organizar, esclarecer, modificar o clima de animosidade, desacelerar, como tambm, recapitular e planejar os prximos passos.
Parafrasear
Resumo
So vrias as vantagens que esta tcnica pode trazer para
o processo de mediao, devido aos efeitos que pode causar.
Normalmente, pessoas em conflito relatam seu ponto de vista
de modo acelerado e tenso, sintonizado animosidade relativa ao contexto. Esses mediandos narram do modo como esto
ministradas. Traz ainda uma contribuio interessante ao citar Kressel e seus colaboradores, estudiosos e pesquisadores
da matria, que chegaram concluso de que o bom manejo
dessas ferramentas estava ligado a resultados positivos, enquanto que as mediaes que no funcionaram, o mediador
no as havia utilizado adequadamente.
A esse respeito, Andersen (2002, p. 31)8, psiquiatra noruegus, enfatiza o valor da precauo e a gentileza no trato com
as pessoas durante nossas intervenes, assim como a importncia de darmos uma maior ateno s perguntas formuladas.
Assim, devemos perguntar com o genuno interesse de
entender e aprender com os mediandos; perguntar para compreender. As pessoas vivenciam sua dignidade quando tm a
oportunidade de narrar sua histria. Alm das informaes obtidas, as perguntas podem gerar reflexo e mudana.
Existem inmeros tipos de perguntas, que, pela sua peculiaridade, podem variar de acordo com a etapa da mediao, e
devemos constantemente avaliar a eficcia de um tipo ou outro, naquele contexto especfico. O importante que as perguntas contribuam com a fluidez da conversa e que facilitem a
comunicao entre os mediandos e deles conosco.
Alm disso, as perguntas oferecem a vantagem de que a
conversa se mantenha centrada no mediando, em que o seu
saber toma o palco central. Isso contribui com que as experincias e crenas do mediador permaneam em segundo plano,
surgindo, apenas, como um papel de apoio na conversa. Esta
ideia se alinha aos conceitos fundamentais da Escuta Emptica, mencionados anteriormente.
607
Importante ressaltarmos que as perguntas tm o potencial de serem geradoras de diferenas, principalmente aquelas
ainda no haviam sido feitas pelos mediandos, contribuindo
assim, para o surgimento de novas informaes e possibilidades. Os mediandos so estimulados a pensar sobre algo que
ainda no haviam pensado.
Da oficina propriamente dita
Conforme mencionado anteriormente, o terapeuta familiar utiliza-se, no contato com seus clientes, de inmeras tcnicas cuja aplicabilidade na Mediao Familiar de fundamental importncia. Entretanto, como a prtica da mediao desconhecida por muitos desses profissionais, nossa inteno nessa Oficina foi a de fornecer-lhes, com auxilio de slides, informaes bsicas sobre o processo de mediao, a funo do mediador e as tcnicas bsicas, descritas nesse captulo. Alm disso, foram estimulados, atravs de dinmicas criativas, a atuar
como se mediadores fossem.
Nossa inteno foi a de proporcionar condies para que
esses participantes pudessem identificar o potencial prprio e
se sensibilizar para essa funo, como tambm, reconhecerem-se minimamente capazes e competentes para a prtica da
Mediao Familiar.
Inicialmente, foi apresentado um trecho de filme, em que
acompanharam um casal em discusso acirrada, e que os levava ao pedido de separao. Nossa inteno primeira era a de
fazer com que os participantes entrassem em contato com a
animosidade tpica de casais em processo de separao, assim
(rapport) o casal em conflito e praticar a escuta emptica. Foram, tambm, estimulados a utilizar perguntas que pudessem
auxili-los no entendimento e ampliao das narrativas dos
mediandos. E, finalmente, deveriam aplicar a tcnica do resumo, aps os relatos, j parafraseando, ou seja, retirando todo
o contedo negativo que no contribui para uma comunicao
mais construtiva.
Ao final, os participantes trouxeram seus relatos fizeram
observaes acerca de sua atuao.
Consideraes Finais
Esse captulo fruto de uma Oficina realizada no XI Congresso Brasileiro de Terapia Familiar em que as autoras partiram do pressuposto de que terapeutas familiares esto, basicamente, aparelhados, terica e tecnicamente, para o trabalho
como mediadores, no caso, a mediao familiar.
Entendemos que esses profissionais do campo psi tm
potencial para construir um exitoso processo de mediao familiar. Isso, por lidarem, cotidianamente, com conflitos familiares, basearem-se na abordagem sistmica e utilizarem tcnicas e ferramentas que favorecem a criao de vnculos, e, ainda, porque renem adequadas condies para o estabelecimento de uma comunicao construtiva.
Por meio de uma metodologia terico-prtica destacamos ferramentas e tcnicas que consideramos ingredientes bsicos e indispensveis para uma mediao exitosa: rapport, escuta, perguntas, resumo, parfrase. Esses participantes foram
estimulados, a fazer simulaes, como se mediadores fossem,
utilizando as ferramentas em suas intervenes para que pudessem se sensibilizar, assim como, se reconhecerem potencialmente capazes e competentes para essa nova prtica.
Imperioso ressaltar que, diante de um conflito familiar
que demanda soluo, o mediador deve se conduzir de modo,
a saber, que seu papel no o de julgar, orientar ou aconselhar e, menos ainda, transformar o processo de mediao em
psicoterapia. Mas, sim, o de favorecer o restabelecimento da
comunicao para que se crie um espao conversacional onde
o que impera o entendimento. E para isso existem recursos
tcnicos, que fazem parte da prtica teraputica e que, se utilizados adequadamente, na mediao familiar tm potencial
para produzir efeitos muito significativos no processo de mediao, promovendo a transformao do conflito.
Referncias
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Maria Bergallo. 2. ed. Rio de Janeiro: Instituto NOOS, 2002.
ANDERSON, Harlene. Conversao, linguagem e possibilidades: um enfoque ps-moderno da terapia. Traduo de Mnica Giglio Armando; reviso cientfica Claudia Bruscagin. So
Paulo: Roca, 2009.
BERTALANFFY, Ludwig. Teoria geral dos sistemas. 3. ed. Petrpolis: Vozes, 1977.
609
610
HOUAISS, Antnio. Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Tcnica [...] 1conjunto de
procedimentos ligados a uma arte ou cincia [...] 2 maneira de
tratar detalhes tcnicos
[...] 2.1 destreza, habilidade especial para tratar esses detalhes
[...].ferramenta [...] 3 fig. p. ext. qualquer instrumento necessrio prtica profissional [...] 4 fig. meio para alcanar um fim
[...]. ferramental [...] 5 fig. conjunto de meios pelos quais se
pode realizar, perfazer ou alcanar algo; instrumento (ele tem
todo o f. necessrio construo de uma boa tese de doutorado)[...].
ROSENBERG, Marshall B.. Comunicao no-violenta: tcnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais.
Traduo Mrio Vilela So Paulo: gora, 2006.
PARKINSON, L. - Mediacin Familiar. Traduo de Ana Mara Snches Durn. Barcelona: Editorial Gedisa, 2005.
ANDERSEN, T.- Processos Reflexivos. Traduo de Rosa Maria Bergallo. 2. ed. Rio de Janeiro: Instituto NOOS, 2002
8
611
A influncia da dinmica
familiar, da escola e da
relao com os pares na
autoestima de crianas
obesas
Maria Alexina Ribeiro
Psicloga, psicoterapeuta conjugal e familiar, mestre e doutora em Psicologia pela Universidade de Braslia. Professora e
pesquisadora nos Programas de mestrado e doutorado em Psicologia da Universidade Catlica de Braslia.
Vladimir de Arajo Albuquerque Melo
Psiclogo, psicoterapeuta conjugal e familiar, especialista em
Psicologia Clnica pelo Conselho Federal de Psicologia, mestrando em Psicologia pela Universidade Catlica de Braslia.
Heron Flores Nogueira
Psiclogo, psicoterapeuta conjugal e familiar, mestre e doutorando em Psicologia pela Universidade Catlica de Braslia.
Ilckmans Bergma Moreira Mugarte
Psicloga, psicoterapeuta, especialista em Psicopatologia e Psicodiagnstico pela Universidade Catlica de Braslia, mestre e
der melhor seu papel no surgimento e manuteno dos transtornos, bem como propor a sua incluso mais efetiva no tratamento. Desse modo, o objetivo principal desse estudo foi compreender a influncia da dinmica familiar e da escola, nesse
caso tanto de docentes como entre pares, sobre a autoestima
de crianas com obesidade.
A Obesidade
A obesidade uma doena endcrina, nutricional e metablica, no fazendo partedos transtornos mentais e comportamentais, segundo a Organizao Mundial de Sade (1993).
No DSM-IV no se encontram critrios para identificao e
avaliao dessa patologia como transtorno psiquitrico, mesmo na categoria de transtornos alimentares(American PsychiatricAssociation, 1995). No entanto, segundo Flahertye Janicak(1995), alguns autores a incluem didaticamente nesta categoria pelos aspectos de funcionamento semelhantes aos demais transtornos e pelo fato de caracterizar-se por perturbaes no comportamento alimentar, podendo apresentar sndrome psicolgica associada que merece interveno mdica
e/ou psiquitrica.
Pode-se considerar a obesidade como um fenmeno mundial e em expanso, pois, segundo Parizziet al.(2008), esta doena j pode ser observada em todas as faixas etrias da populao, em vrios pases do mundo. Esse aumento est sendo
particularmente maior nas crianas e adolescentes e estes, provavelmente, se tornaro adultos obesos.Pesquisa realizada
pelo Ministrio da Sade (2013) mostra que a obesidade au-
614
As vantagens de incluir os pais no tratamento da obesidade infantil j so conhecidas. Golan et al. (1998), por exemplo,
realizaram uma pesquisa em que compararam o tratamento
realizado exclusivamente com os pais de crianas obesas com
o tratamento convencional, dirigido a essas crianas. O resultado revelou que o tratamento com os pais foi mais eficaz que o
tratamento convencional sob vrios aspectos, inclusive pela
reduo dos custos. Os hbitos adotados pelos pais, assim
como aqueles que vigoram em outros ambientes sociais da criana, tambm so o foco da mudana quando se trata da preveno da obesidade infantil. Sobre isso, Carvalho et al.
(2013) afirmam: A interveno no ambiente familiar iniciase, precocemente, j na vida intrauterina, alimentao saudvel desde o nascimento e estmulo atividade fsica desde os
primeiros meses de idade. (p. 81).
Os resultados positivos das intervenes sistmicas so
confirmadas pelo estudo de Flodmark e Ohlsson (2008), no
qual o tratamento com a terapia familiar se mostrou 40%
mais eficaz que o tratamento convencional (que inclui
checkup mdico e aconselhamento nutricional). Cabe destacar
que a interveno empregada na pesquisa usou tcnicas que
conferiram famlia a responsabilidade de modificar o seu
prprio estilo de vida, situando o terapeuta na posio de facilitador. Tassara, Norton e Marques (2010) tambm entendem
que a responsabilidade pelo problema da obesidade infantil
no da criana seno do contexto sociofamiliar. Assim sendo, o tratamento deve proporcionar mudanas relacionais
mais amplas atravs de uma co-construo entre os membros
da famlia e os profissionais da equipe multidisciplinar.
Um estudo brasileiro com famlias e crianas obesas ressalta a importncia do engajamento da famlia no tratamento
da obesidade. Essa pesquisa chama ateno ainda para a necessidade do fortalecimento de todo o sistema familiar, sobretudo do subsistema parental, pois a sintonia do casal como
unidade fundamental na direo da famlia como um todo,
por ser considerado o eixo das relaes familiares, sendo imprescindvel haver coerncia entre o que pensam e fazem na
direo do bem estar geral. Embora esse seja um grande desafio, suas atribuies vo um pouco mais alm, devem procurar
ser modelos em suas aes e referncias que deem segurana
afetiva e emocional principalmente para os filhos. O casal precisa cuidar de si, como subsistema familiar promotor de sade, assim poder tambm tomar conscincia do seu papel e auxiliar no tratamento da obesidade (Ribeiro, Nogueira, Melo &
Valadares, 2013).
A pesquisa
A fim de atender aos objetivos do estudo, priorizamos a
pesquisa qualitativa (Minayo, 1992). Para o levantamento dos
dados foi realizada uma entrevista do ciclo de vida familiar
com elaborao do genograma, o grupo multifamiliar e o grupo com crianas obesas. No presente trabalho apresentaremos
apenas os dados levantados no grupo com as crianas.
Como instrumento para coleta dos dados foi utilizado
um roteiro semiestruturado para cada encontro com as crianas, de acordo com os objetivos dos respectivos encontros que
615
616
Resultados e discusso
Zona de sentido 1: ... eu no gosto de voc, sai daqui,
que saco...: a forma como as crianas so tratadas
na famlia
As crianas relatam sobre como as outras crianas as chamam, trazendo a questo da obesidade sempre associada a
apelidos, xingamentos e rejeio. Elas se referem a colegas de
escola e amigos, como nas falas seguintes:
Um dia um colega falou, a...eu no gosto de voc,
sai daqui, que saco. O outro dia sai daqui gordo chato,
sai daqui. Fala gordo chato, fala, vaza daqui, vaza daqui
No entanto, esses tratamentos tambm acontecem em
casa, ou seja, pessoas da famlia tambm se referem s crianas de forma rude e agressiva. Nota-se que no h apenas uma
pessoa com obesidade na famlia, e mesmo entre aqueles que
apresentam a doena a agressividade acontece. Os pais parecem no saber lidar com essas situaes.
Meu irmo tambm me chama de bola de pelo.
Quando ele comea a se olhar, ele comea a xingar minha irm, quando ela ta sentada no sof, meu irmo
chega dizendo, gorda, tem um pezo gigante, da meu
irmo empurra ela, ela empurra ele, comea o pau. Eu
tento, toda vez eu tento pegar o Rafa pra ele parar com
isso, toda vez deste jeito.
617
A situao de bullying pode ser especialmente preocupante se os pais no desempenham o papel de proteo e a casa
no considerada pela criana um ambiente seguro. Dessa forma, a falta de espaos ecolgicos em que sejam estabelecidas
relaes marcadas por afetos positivos e reciprocidade pode
contribuir para a ocorrncia de problemas fsicos, sociais ou
emocionais ainda maiores para a criana (Poletto&Koller,
2008).
Para ampliar um pouco mais a compreenso dessas complexas questes recorremos a Guilhardi (2002) que, ao se referir sobre a autoestima, nos esclarece que ela um sentimento
que diz respeito a comportamentos associados a eventos ambientais, sociais ou fsicos que os desencadeiam. O autor ressalta que a criana no nasce com esse sentimento, mas que ela o
adquire no decorrer de sua histria de vida. Um dos aspectos
que ajuda a criana a desenvolver sentimentos de autoestima
quando os pais a estimula saber diferenciar o que certo ou
errado, adequado ou inadequado para que ela possa entender
seus sentimentos e ter autoconhecimento e saber lidar com
eles. O autordiscute ainda a ideia de que a autoestima produzida por reforamento positivo social, em que a pessoa tem
seus comportamentos reforados pelo o outro e que este comportamento s se desenvolve a partir da insero da pessoa
num contexto social no qual esse aprendizado proporcional
ao que ofertado pelo meio social, (famlia), de proverem reforadores positivos para seus membros, (filhos, por exemplo). A autoestima est associada a pessoa se sentir amada, livre, de tomar iniciativas e apresentar criatividade.
618
Zona de sentido 3: minha me no faz nada...: a percepo da criana sobre dinmica familiar
Nessa zona de sentido reunimos dados sobre a dinmica
familiar, ou seja, o que as crianas falam sobre as relaes entre os membros da famlia, as alianas, os conflitos. Nota-se
que as crianas tm noo clara sobre como as relaes acontecem no interior da famlia e se expressam espontaneamente
sobre elas. Uma criana conta que quando reclama para a me
sobre os xingamentos dos irmos esta no faz nada, mostrando que se ressente com a falta de apoio e proteo da genitora.
Outra criana fala sobre a relao entre os irmos:
O jeito que meu irmo pensa que quer, ele quer
tudo assim caladinho, do jeito que ele quer, sem fazer
nada! Pra eu no perturbar ele, e ele fica no canto dele!
Ai minha irm sabe o que ela quer? quer ser amiga dele,
ai ela fica perto do Pedro, no faz nada de mal com ele.
Faz o que ele quer, ai quando o Pedro briga comigo, ai
ela se junta com ele, perto dele, fazendo o que ele quiser,
pra ele ficar amiga dela.
A questo do lazer em famlia surgiu nas falas das crianas que, de modo geral, reclamam sobre a falta de atividades
fora de casa, como mostram as seguintes afirmaes:
619
dade, j que justamente nesse ambiente onde a criana permanece a maior parte do dia.
A escola tambm tem um papel fundamental na criao
de hbitos saudveis de alimentao na infncia. Uma criana
se refere professora:
A professora falou bem assim: gente se vocs se
alimentarem bem, a eles levaram frutas um monte de
coisa e a gente comeu l, e se a gente no quisesse, eles
no ia obrigar, por que a pessoa no pode comer na
marra. A falou assim, se todos se alimentarem bem a
semana toda, chegar em dezembro, final de semana
essa coisas assim, se pode ir ao McDonald, comer pizza
n, no ficar sem comer, porque se no eu enjoo.
Esse comentrio um exemplo de que, como parte significativa da rede social da famlia, a escola pode potencializar o
discurso dos pais ou entrar em conflito com as regras estabelecidas no ambiente domstico. Dessa forma, a mudana no
comportamento alimentar da criana pode ser favorecida pela
continuidade entre esses dois contextos.
Zona de sentido 5: minha me t pensando em me
colocar na natao: as tentativas de incluso de atividade fsica na vida dos filhos
Os hbitos sedentrios da criana tm sido relacionados
com o aumento da obesidade nessa faixa etria. Um fator que
exerce grande influncia no comportamento da criana o
fato de passar muito tempo diante da televiso, como mos621
tram alguns estudos (Moura, 2010). Para prevenir a obesidade infantil, Haines e cols. (2013) sugerem o hbito de realizar
refeies em famlia, o aumento das horas de sono e a reduo
do tempo da criana diante da televiso. Por outro lado, as famlias de crianas obesas que participaram de nosso estudo
mostraram certa dificuldade na mudana e introduo de novos hbitos e atividades fsicas no cotidiano dos filhos. Em alguns casos h iniciativas efetivas nesse sentido, mas em outros os pais desistem por falta de tempo, excesso de trabalho,
etc. As falas das crianas mostram como essa questo tratada na famlia:
Minha me fala que no tem vaga na natao ou
ento ela no me leva. Eu vou na vila olmpica n, pra
mim fazer futsal. Pra mim fazer alguma atividade fsica, alm de ficar parada. Eu no gosto de futsal. Minha
me t pensando em me colocar na natao, mas s no
meio do ano que vem tem vaga.Estou aqui nos psiclogos porque, por causa da sade n, da minha sade,
sade da minha famlia.
Exerccios? Eu gosto de ficar assim andando com
bicicleta, eu gosto muito. S que a, meu pai no arruma
minha bicicleta. Eu queria assim acordar de manh e
meu pai me levar l pra andar l perto do metr. S que
aele no faz isso. Acordava, a eu pegava minha bicicleta a a gente ia s caminhar perto do metr.
Ele caminha e eu vou andando com a minha bicicleta. S que ele no. Ele faz um monte de trabalho.
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