Cultura BDSM PDF
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A CULTURA S&M
Jorge Leite Jr
A CULTURA S&M
NDICE
I INTRODUO ....................................................................................................4
IV CONCLUSO .................................................................................................44
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................48
I
INTRODUO
Desde as origens do Homem, a sexualidade desviante sempre conviveu
lado a lado com a normal 1, e somente no sculo XIX as formas alternativas de
vivenciar o prazer sexual passaram a ser efetivamente pensadas como doenas
(do corpo ou da psique). Surgiu ento o vasto e sempre mutvel campo das
perverses, inaugurando-se assim a figura do perverso. Mas a medicina e a
psicologia, ao assessorarem o campo jurdico na tentativa de separao entre
louco e criminoso
hoje
abrange
um
enorme
espectro
de
significados
e,
Nos estudos sobre erotismo e sexualidade dentro da arqueologia e da antropologia, podem ser encontrados
vrios exemplos.
2
Este o momento em que o crime se interioriza, perde seu sentido de absoluto, sua densidade real, para
ocupar um lugar no ponto onde convergem pblico e privado, opinio e psicologia. MORAES, Eliane
Robert, Sade - A Felicidade Libertina, op. cit. pg. 128
3
MIELNIK, Isaac, Dicionrio de Termos Psiquitricos, So Paulo, Roca, 1987, pg. 241
LVARO, Cabral, EVA, Nick, Dicionrio Tcnico de Psicologia, So Paulo, Cultrix, 1974, pg. 352
5
LAPLANCHE, Jean, PONTALIS, Jean-Baptiste, Vocabulrio da Psicanlise, So Paulo, Martins Fontes,
1983, p. 606
6
Jornal O Estado de So Paulo, Caderno 2, 11 de maio de 2000
7
BRAME, Gloria G., BRAME, William D., JACOBS, Jon, Different Loving, New York, Villard, 1993, pg. 5
adeptos no profissionais.
No IV, apresento uma concluso sobre este estudo.
Como em qualquer grupo social mais fechado, muitos problemas
apresentaram-se para a realizao deste estudo. Em primeiro lugar, a dificuldade
de, at h mais ou menos dois anos atrs, contatar tais grupos. O segundo a
averso destes para com pesquisadores, estudiosos e reprteres. Um dos sites de
adeptos do S&M diz claramente: se voc um curioso ou est atrs de objetos
8
BRAME, Gloria G., BRAME, William D., JACOBS, Jon, Different Loving, op. cit., pg. 4
Durante toda a pesquisa, no encontrei nenhuma vez propagandas de profissionais masoquistas oferecendo
sua servido ou escravido a algum sdico de planto que se dispusesse a pagar para tal.
9
educao.
outros,
desenvolvem
dilogo
sobre
tais
prticas
10
Uma exceo o livro Different Loving, de BRAME, Gloria G., BRAME, William D. e JACOBS, Jon, o
qual muito me utilizo neste trabalho.
6
bondage
ou
sadomasoquismo
apresenta
retratos
severamente
11
BRAME, Gloria G., BRAME, William D., JACOBS, Jon, Different Loving, op. cit., pg. 5
7
II
O CONCEITO DE SADOMASOQUISMO
No final do sculo XIX, o mais renomado psiquiatra da poca, estudioso das
ento recm criadas perverses ou perversidades sexuais, o austraco Richard
Von Krafft-Ebing, lanou em seu colossal tratado Psycopathia Sexualis os termos
sadismo e masoquismo. O primeiro designava o prazer em ferir ou humilhar o
parceiro no ato sexual, e o segundo, o prazer em ser ferido ou humilhado, tambm
durante o sexo.
Derivado do nome do Marqus de Sade, nobre francs do sculo XVIII, o
termo sadismo foi criado para designar a associao entre a luxria e a
crueldade12.
Sade pode ser considerado o expoente mximo da linha filosfica
conhecida como libertinismo. crtica a Igreja e aos costumes, associou-se o
desregramento sistemtico das sensaes corporais, em especial no campo da
sexualidade. O autor de Os 120 Dias de Sodoma adicionou a crueldade aos
prazeres dos excessos sexuais. Para este, o verdadeiro gozo s pode ser
alcanado atravs da completa e detalhada destruio, tanto moral quanto fsica
do parceiro ou vtima, como comumente chamada nestes escritos.
A ferocidade das paixes e dos apetites unida a um agudo egosmo
intelectual. A violncia, o estupro, a violao e principalmente, a no
consensualidade so caractersticas de sua obra: Aqui encontrareis apenas
egosmo, crueldade, devassido e a impiedade mais arraigada13.
Seus livros foram proibidos e queimados, mas sua fama nos persegue at
hoje. Para a austeridade socialmente valorizada na Europa do sculo XIX, onde a
medicina em todas suas ramificaes herdou a autoridade moral antes
concentradas nos padres, o Marqus era a figura ideal para nomear no s uma
12
13
KRAFFT-EBING, Richard Von, Psychopathia Sexualis, Nova York, Arcade Publishing, 1998, pg. 20
SADE, D. A. F., Justine Os Sofrimentos da Virtude, So Paulo, Crculo do Livro, sem data, pg. 106
8
14
HENKIN,William A. in BRAME, Gloria G., BRAME, William D., JACOBS, Jon, Different Loving, op.
cit., pg. 29
15
MICHEL, Bernard, Sacher-Masoch (1836-1895), Rio de Janeiro, Rocco, 1992, pg. 7
16
KRAFFT-EBING, Richard Von, Psychopathia Sexualis, op. cit., pg. 118
17
As Aberraes Sexuais in FREUD, Sigmund, Obras Completas em CD-Rom, Rio de Janeiro, Imago
Editora
9
18
Ressaltando que a cincia, assim como a religio ou qualquer outra prtica homogenizante, em matria de
sexo est sempre em descompasso e atrasada para com a vida cotidiana.
19
E com bons resultados segundo eles mesmos.
20
No posso confirmar se isto fato ou no. Encontrei este tipo de afirmao em vrios sites na internet mas
todas sem provas mais consistentes.
21
STEELE, Valerie, Fetiche - Moda, Sexo e Poder, Rio de Janeiro, Rocco, 1997. pg. 158
10
22
Faz lembrar Shakespeare: Se fosseis tratar a todos de acordo com seu merecimento, quem escaparia ao
chicote? - SHAKESPEARE, William, Hamlet, Prncipe da Dinamarca, So Paulo, Abril Cultural, 1978,
pg. 248
23
ASSOCIAO Psiquitrica Americana, DSM-IV Manual Diagnstico e Estatstico de Doenas Mentais
CD-Rom, Porto Alegre, Artes Mdicas, 1995
24
Que como veremos, prefere usar estes termos para focalizar cenas que envolvem dor fsica, possuindo
outras palavras para diferentes focos, ou mesmo para as posturas gerais, como o caso de Top e Bottom.
11
filosofia e experincia fsica, sendo esta ltima quase uma consequncia das duas
anteriores. No S&M, procura-se uma nova via para se vivenciar tudo isto. No
exatamente o refinamento da cultura burguesa crist ocidental que se busca,
mas uma outra cultura em bases distintas.
Sade e Masoch possuem universos prprios que no se misturam. No novo
campo de atitudes e prazeres conhecido como sadomasoquismo, este nome vem
da unio criada pela psicanlise, no das obras destes autores. A idia de pares
opostos e complementares foi assumida de prontido, afinal nesta cultura S&M,
um depende do outro para o jogo funcionar. Porque neste caso, isto antes de
tudo um jogo. As idias do Marqus so completamente distintas, enquanto as
do Cavaleiro de Sacher-Masoch so bastante prximas. Tempos diferentes,
sensibilidades e idias diferentes.
Apesar do mesmo nome, o sadomasoquista da cultura S&M no o
mesmo sujeito da psiquiatria, da psicanlise ou da psicologia. Um abismo de
intenes, prticas e significados, separa-os. Como diz Anthony Giddens: O que
costumava ser chamado de perverses so apenas expresses de como a
sexualidade pode ser legitimamente revelada e a auto-identidade, definida26.
26
III
A CULTURA S&M
Eu no penso que este movimento [a chamada cultura sado-masoquista] de
prticas sexuais tenha nada a ver com a atualizao ou a descoberta de
tendncias sado-masoquistas profundamente enterradas em nosso inconsciente.
Penso que o s/m muito mais do que isso. a criao de novas possibilidades do
prazer que no tnhamos imaginado antes.27
27
Citao de Michel Foucault em COSTA, Jurandir Freire, O Sujeito em Foucault: Esttica da Existncia ou
Experimento Moral? in: Tempo Social, Revista de Sociologia da USP, So Paulo, Vol.7, N1-2, outubro de
1995, pg. 134
28
STEELE, Valerie, Fetiche - Moda, Sexo e Poder, op. cit., pg. 29
14
15
16
35
35
17
39
Por exemplo, o sexo visando apenas a procriao, os pudores morais ou as proibies religiosas durante o
ato e a crena em uma sexualidade certa e uma errada.
40
fcil conferir: basta perguntar a seu mdico qual a opinio pessoal dele sobre a atitude de colocar
piercings nos genitais, a prtica do espancamento ertico ou o gozo obtido atravs da ingesto de urina
em um salto alto. As respostas, se sinceras, podem ser surpreendentes - a favor ou contra tais exemplos.
41
Ex: A matria 7 Days Sex da edio de julho de 1999. Revista Nova, So Paulo, Abril Cultura, Ano 27, N
7, julho de 1999
42
Literalmente, foda de punho, ou seja, a penetrao da mo, do punho e at mesmo de parte do brao na
vagina ou no nus do parceiro.
18
45
vem unido outro: BD, formando o BDSM46, que pode significar Bondage/
Discipline, Domination/ Submission ou Sadism/ Masoquism, onde cada
termo designa um modo diferente de relacionamento, embora todos faam parte
de um mesmo universo. E para que este fique bem demarcado como um todo em
relao ao mundo de fora, as formas de sexo convencionais ou comuns so
chamadas de baunilha, enquanto as alternativas so Kinky sex
47
, ou seja,
44
19
mais empregados neste meio tem sido Top e Bottom, para designar
respectivamente o agente e o paciente, pois seriam a princpio nomes neutros,
que no levariam nenhuma tendncia dentro de si.
Outros elementos como o banho marrom (fezes), a chuva dourada
(urina) ou o banho romano (vmito), podem estar inclusos em qualquer uma das
denominaes acima, o que leva a um debate muito interessante dentro deste
meio: algumas prticas no so necessariamente vividas como um aspecto formal
do jogo de dominao. Por exemplo, a chuva dourada48: um parceiro pode sentir
prazer em ser urinado pelo outro graas ao carter de submisso de sua parte.
Mas existem tambm aqueles em que o prazer est no fetichismo do ato de
urinar e da prpria urina, sem a presena de uma relao de poder.
Tm-se a um elemento importante deste universo. BDSM como um termo
que abrange tudo o que alternativo ou kinky em matria de sexo, envolve os
banhos de urina sob qualquer significao subjetiva que estes possam ter. Mas se
BDSM entendido no sentido mais restrito de compreender unicamente jogos de
dominao/ submisso49, ento tal chuva s pode estar inclusa nesta
nomenclatura quando dentro desta relao.
Mesmo sabendo das limitaes em que incorrerei, neste trabalho vou
utilizar-me mais das palavras sadismo e masoquismo por serem j
reconhecidas socialmente e comumente consideradas termos gerais para
abranger todas estas manifestaes.
Apesar de no haverem regras e cdigos universais, alguns elementos so
comuns e/ou facilmente identificveis entre os adeptos, assim como formas de
conduta e uma certa tica so tambm exigidas. Existem os cdigos de roupas,
nos quais os vrios grupos se reconhecem, como o couro, o jeans ou o uso de
gargantilhas para simbolizar uma coleira. Nos bolsos, pode estar um leno que de
acordo com a sua cor significar uma preferncia. Por exemplo: negro= jogos com
47
Este no considerado um termo pejorativo. Ao contrrio, muitas vezes usado com orgulho.
Esta prtica tambm encontrada em publicaes e produtos voltados para o meio como piss ou
watersports.
49
Fsica ou psquica, a inclusos o sadismo e o masoquismo.
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21
22
fsica
ou
psquica
deve
ocorrer
dentro
dos
limites
BRAME, Gloria G., BRAME, William D., JACOBS, Jon, Different Loving, op.cit., pg. 31
23
perigosa,
sendo
necessrio
que
os praticantes
estejam
53
54
24
Quanto a primeira, talvez por ser crime previsto em lei, exista um receio
concreto em assumir publicamente tal desejo. Talvez a pedofilia no seja
comumente encontrada entre estes grupos, por dois fatores que tenderiam a
afugent-la: a tica da consensualidade (que no se supe haver da parte de uma
criana), e o carter existente nestes meios, de assumir pblica e espera-se
sinceramente suas tendncias, vontades e prticas sexuais. Alm do mais, o
mnimo de idade entre os adeptos parece estar entre os 30 anos, pois o que se
procura justamente uma relao mais consciente de seus limites e desejos, ou
seja, mais madura. Talvez um pedfilo, se descoberto, seria convidado a se
retirar do grupo ao qual pertence, e seu nome rapidamente se espalharia no meio
como pessoa no bem-vinda. Ainda assim, possvel que hajam alguns
participando destes grupos, pois cada pessoa continua com sua vida particular
normalmente56.
Existe no entanto, uma prtica conhecida como infantilismo: um dos
parceiros assume um papel de criana, enquanto o outro representa o adulto
responsvel por aquela. Este tipo de fetiche uma prtica mais especfica e no
parece ser muito comum neste meio. Ele tem um mercado prprio de produtos,
aparecendo muito raramente apenas em algumas revistas europias57 de S&M.
J sobre necrofilia, creio ser a mesma coisa que o exemplo anterior.
Tambm existe um mercado de revistas e filmes sobre esta prtica, todos
assumidamente falsos, ou seja, as atrizes no so ou esto mortas realmente. Um
parceiro finge estar morto enquanto o outro usa-o sexualmente. Mas este parece
ser um fetiche extremamente raro nestes grupos organizados, sendo mais comum
encontrar estes casos em pessoas no pertencentes a clubes ou organizaes.
Como diz um garoto de programa segundo o livro Formas de Prazer: Ele manda
o motorista vir buscar o mich e leva l para o Morumbi (...) cheguei l, fui para um
quarto meio escuro, cheios de teia de aranha, tocava uma msica sarcstica, tinha
56
Outro dado importante: no existe a necessidade de intimidade sobre a vida dos membros participantes.
Se esta surgir, ser por opo da pessoa que cria com outras alguns laos afetivos mais fortes.
57
Uma reportagem no canal de TV GNT sobre dominadoras profissionais, mostrou um caso destes, onde o
cliente, um homem de aproximadamente 40 anos no queria sexo, e sim apenas receber os mesmos carinhos
que um beb recebe: ser trocado, tomar mamadeira no colo da me, receber abraos de carter mais afetivo
que genital, ser ninado e posto para dormir.
25
58
26
BRAME, Gloria G., BRAME, William D., JACOBS, Jon, Different Loving, op. cit., pg. 12
27
28
Aps esclarecimentos, o grupo decidiu que a matria poderia ser feita, mas
o resultado final no agradou. Alguns sites dedicaram espao para criticar esta
reportagem, e o texto da revista foi considerado por muitos como apelativo e
sensacionalista. Afinal, uma frase como Proibido, mesmo, pouco alm de quebrar
ossos62, passa a idia de uma agressividade desmedida e uma violncia
exagerada. E o mais importante: a confiana na reprter foi trada, pois ela no
havia sido sincera quanto a suas intenes.
Outro elemento importante: a noo de respeito. No apenas como
educao mnima necessria para a convivncia com outras pessoas, mas
tambm como reconhecimento e aceitao de limites. Se uma proposta de cena
respondida com uma negativa, espera-se que aquele que recebeu a recusa no
fique sem graa ou chateado, e principalmente, que no insista em tal intento. A
proposta de sociabilidade destes grupos baseia-se neste respeito aos limites do
outro. Nas palavras de um membro: ningum obrigado a fazer nada, mas tem
que respeitar aqueles que querem e os que no querem fazer.
Este conceito de respeito to importante que mesmo durante uma cena
S&M, seja entre um dominador e um submisso, ou entre um sdico e um
masoquista ela deve ser mantida. Conforme os adeptos afirmam, BDSM uma
coisa, falta de educao, grosseria e estupidez so outra.
Um dos elementos formadores desta cultura e que a ajuda a se caracterizar
enquanto tal uma das consideradas perverses de base por Krafft-Ebing: o
fetichismo. ele quem vai delimitar grupos e moldar preferncias. Objetos como
chicotes, cordas, couro, so como que a marca registrada do S&M. Sua
influncia estende-se a todas as prticas e o faz confundir-se com a prpria
concepo deste universo. Para muitos, o fetichismo o sadomasoquismo,
embora com ressalvas: enquanto a primeira forma, em seu estado puro no
requer uma inter-relao - pois trata-se normalmente de um objeto - na segunda o
relacionamento fundamental e indispensvel.
Objetos e partes do corpo so exaltados a ponto de tornarem-se smbolos
quase msticos de adorao. Em torno deles, formam-se grupos e ritos. O S&M
62
CALIFA, Pat, citada em STEELE, Valerie, Fetiche - Moda, Sexo e Poder, op. cit. pg. 179
Neste sentido pode parecer uma volta ao que Freud chamou de sexualidade infantil, ou seja, a
sexualidade ainda no genitalizada. Mas existe uma grande diferena: a cultura S&M exercita no a regresso
a um estado anterior, mas a uma genitalizao de todo o corpo, ou seja, um estado posterior da sexualidade.
65
PORTER, Roy e TEICH, Mikuls, Conhecimento Sexual, Cincia, Sexual, So Paulo, Editora da UNESP,
1997, pg. 73
64
30
prprio Freud a descrever tal conduta como desvio com respeito ao alvo sexual:
Considera-se como alvo sexual normal a unio dos genitais no ato designado
como coito, que leva descarga da tenso sexual e extino temporria da
pulso sexual (...) Todavia, mesmo no processo sexual mais normal reconhecemse os rudimentos daquilo que, se desenvolvido, levaria s aberraes descritas
como perverses66.
A finalidade quanto aos prazeres conhecidos como preliminares,
prolong-los o mximo possvel, e no que estes sejam concludos o mais
brevemente. J que o objetivo antes de tudo o aumento da carga ertica at os
limites fsicos, psquicos e principalmente, fantasiados de cada indivduo, o
orgasmo, em especial o masculino, visto por alguns como uma interrupo de tal
processo67.
Assim, conforme definiu o adepto citado, espera-se alcanar um tipo de
catarse ou seja, uma intensa descarga afetiva, no caso ligada diretamente
vivncia ertica que, muitas vezes, espera-se ter a capacidade de purgar, de
purificar e aliviar as tenses nervosas da psique do indivduo. Isto vale
especialmente para o caso masculino, lembrando bastante o que tratados
orientais sobre sexo argumentavam em favor da distino entre orgasmo e
ejaculao.
Segundo um autor chins, Jolan Chang, existe um gozo mais potente que
aquele oriundo da emisso do smen e que s alcanado com a privao
consciente da ejaculao. Este outro prazer seria no apenas genital, mas de uma
carga ertica que abrangeria toda a estrutura psquica do homem, alcanando
todos os aspectos de sua vida: Ejacular menos no significa, de maneira
nenhuma, que o homem seja sexualmente incapaz e nem tampouco que seu
prazer sexual ser menor. Chamar a ejaculao de clmax do prazer apenas
um hbito e, nesse aspecto, um hbito nocivo (...) Jamais trocarei minha alegria
por seu tipo de prazer (...) sexo sem ejaculao tambm um alvio de tenso,
66
As Aberraes Sexuais in FREUD, Sigmund, Obras Completas em CD-Rom, Rio de Janeiro, Imago
Editora
67
A no ser claro, que o orgasmo e principalmente, a ejaculao masculina ou feminina sejam o fetiche em
questo.
31
68
CHANG, Jolan, O Taosmo do Amor e do Sexo, Rio de Janeiro, Artenova, 1979, pg. 28
32
Garden69 parecessem, sob um olhar mais atento percebe-se que elas mantm
uma semelhana reconhecvel com a moda contempornea70.
Calas de couro, coturnos, mscaras de borracha e tantas outras peas de
roupa
tornaram-se
uniformes
obrigatrios
das
cenas
S&M.
Casas
33
75
34
sexual por pessoas muito gordas ou muito magras, deficientes fsicos, idosos e
tudo o mais que no faz parte do padro esttico predominante.
Mas torna-se necessrio algo mais. preciso atitude. O corpo deve estar
em harmonia e expressar as idias e intenes da mente. No basta apenas ter
um visual, necessria uma postura S&M, que muitas vezes atua no campo da
poltica e dos direitos. O prazer deve ser respeitado e garantido em suas inmeras
manifestaes.
E este alargamento das possibilidades de prazer , muitas vezes,
aprendido. Claro que todos j chegam aos grupos com suas preferncias e gostos
em matria de sexo, mas a relao BDSM tambm a de professor/ aluno. Todas
as prticas que no foram excludas de antemo no momento de combinao da
cena, so passveis de serem vividas e treinadas, para a ampliao dos limites
do excitvel e do excitante. Explico melhor: uma escrava talvez seja indiferente
podolatria78, mas seu mestre ao exigir esta prtica, pode educ-la, com o tempo,
a sentir um deleite que antes no conhecia. Ao repertrio de gozos j existentes,
novos prazeres podem ser acrescentados, bastando para isso, apenas a
disponibilidade para tal. Dentro deste campo de possibilidades existem as
chamadas barreiras, ou seja, limites passveis de serem transpostos,
dependendo apenas de como, quando e com quem isto pode ser feito.
Assim, percebe-se nestas prticas, que novos prazeres e gostos sexuais
podem ser apreendidos, treinados e desenvolvidos, no se limitando a um
determinismo em que tais limites foram pr-fixados em algum momento
inconsciente durante a infncia, durando ento por toda a vida. A polimorfiasexual-perversa-infantil da qual Freud falava, talvez seja muito mais fcil de voltar
tona do que parece, pois em suma, que a sexualidade pervertida no seno
uma sexualidade infantil cindida em seus impulsos separados79.
Os vrios grupos existentes divergem entre si em muitos pontos (existem as
comunidades homossexuais, as heterossexuais, as de couro os adoradores de
chicotes, entre outras), mas todos lutam pelo direito de exercer livremente sua
78
Adorao de ps, que pode incluir na prtica desde a simples contemplao ou longas massagens, at
masturbao, beijos e lambidas ou a penetrao destes nos genitais.
79
A Vida Sexual dos Seres Humanos in FREUD, Sigmund, Obras Completas/ CD-Rom, op. cit.
35
FOUCAULT, Michel, Histria da Sexualidade - O Uso dos Prazeres, Rio de Janeiro, Graal, 1988
Na quase totalidade de propagandas de servios S&M, a chamada feita atravs da figura de uma sdica,
pois normalmente visa atingir um pblico que aceita mais facilmente a dominao feminina do que o
homossexualismo masculino.
82
GIDDENS, Anthony, A Transformao da Intimidade, op. cit., pg. 217
83
Poderamos propor uma analogia ao processo de descoberta do clown nas artes cnicas. Clown (ou
palhao) no exatamente um personagem, mais uma verso artstica de uma faceta - a ridcula - da
prpria pessoa, que s pode ser criada ao tomar conhecimento de suas tendncias ntimas mais restritivas, e
tensas (clown branco) ou mais subversivas, e relaxadas (clown augusto). Ex: O Gordo (branco) e o Magro
(augusto).
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36
84
37
87
curioso que com uma intimidade corporal e uma entrega to grande entre os adeptos, em algumas festas e
reunies de certos grupos, o ato de tocar algum sem o conhecer considerado extremamente grosseiro e
incmodo, tornando quem cometeu esta falta uma pessoa no grata no ambiente.
88
PAULHAN, Jean, A Felicidade na Escravido in: RAGE, Pauline, A histria de O, So Paulo, Crculo do
Livro, 1992, pg.12
89
O masoquista continua sentindo normalmente a dor (fsica ou psquica) como dor mesmo, igual a
qualquer baunilha, a no ser quando est em uma cena.
38
Existe at um nome para a pessoa que trabalha neste mercado, muito usado nos EUA e pouco no Brasil: o
porngrafo.
91
Segundo Nuno Csar Abreu em seu livro O Olhar Porn, foram as fitas pornogrficas que ajudaram a
solidificao das bases do at ento flutuante mercado das videolocadoras.
92
Basta ver por exemplo, uma propaganda do jeans Fiorucci a alguns anos atrs, onde a imagem que
aparecia era uma garota de costas, nua, com as mos presas por algemas forradas de pelica cor de rosa.
Cmico que o jeans, ou outro produto qualquer associado esta marca nem aparece - ou citado - na foto.
93
Por no ser uma comunidade nica e uniforme, existem os vrios graus de intensidade das prticas que
dependem das inter-relaes entre os adeptos, que vo desde verses mais leves, at atos criminosos que
so declaradamente considerados por seus membros como contrrios aos princpios do mundo S&M.
39
STEELE, Valerie, Fetiche - Moda, Sexo e Poder, op. cit. pg. 172
O atual estilo de usar piercing entre os jovens surge muito da mistura da esttica S&M com a oriental,
especialmente a indiana. Da ndia vem a inspirao dos brincos no nariz (primeiro movimento desta moda).
Do S&M, os usados nos mamilos e outras partes ntimas. Mas o curioso que a prtica dos piercings
definitivos veio do rito sadomasoquista de perfurar o corpo da pessoa - especialmente as zonas ergenas com agulhas ou outros objetos pontiagudos como uma forma de causar prazer - e dor.
96
Por falar em filmes, em muitos deles os atores masculinos, sejam sdicos ou masoquistas, aparecem com o
membro ereto e o usam neste estado normalmente, contrariando muito algumas hipteses psicolgicas que
alegam que os praticantes de sadomasoquismo so pessoas impotentes.
97
Uma das caractersticas desta cultura que os acessrios vendidos so incrivelmente caros. Adereos de
couro - ou imitaes - sesses de sadomasoquismo e mesmo fitas de vdeo mais pesadas so compradas
somente por pessoas de poder aquisitivo muito alto. O S&M ainda para poucos - que podem pagar.
95
40
98
Durante o ano de 2000, a mdia de alguns workshops estava em torno de R$15,00 a R$20,00.
Nestes eventos, a diferena foi maior: durante o ano de 2000, a mdia variava entre R$20,00 a R$80,00,
dependendo do tipo de festa e do grupo que a realizava.
99
41
IV
CONCLUSO
Neste escorregadio campo da violncia unida ao sexo, sabe-se o quanto s
vezes tnue a separao entre o consentido e o abusado. Para complicar
ainda mais, ao entrar na indstria pornogrfica, a demanda de produtos est para
servir a estes dois clientes, seja de forma legal ou no. Assim, muitas vezes,
filmes de S&M sadios, seguros e consentidos podem ser confundidos com os
lendrios snuff movies100, no tanto por irresponsabilidade dos integrantes desta
cultura, mas por uma falta de clareza do que sejam exatamente esta proposta de
valorizao de uma sexualidade diferente, baseada nos direitos civis, e o que
sejam os crimes sexuais. Gostaria apenas de ressaltar aqui, justamente esta
tentativa da cultura S&M de, por meio da legalizao e aceitao pblica, tornar
estes limites mais claros e explcitos. Como disse Valerie Steele: Muitas pessoas
acreditam que a pornografia induz perverso e a violncia sexual. Mas isso
como dizer que msica country causa adultrio e alcoolismo101.
Percebe-se ento que dentro dos modernos movimentos de valorizao da
diferena e de culturas prprias e especficas em infinitas ramificaes, a
afirmao da sexualidade no poderia ficar de fora. Os movimentos feministas e
gays iniciaram este processo, que agora continuado por grupos de homens
negros gays, lsbicas crists e sadomasoquistas, que tambm subdividem-se
em sadomasoquistas gays, etc. Todos estes colocando a questo da
100
Snuff movies so supostos filmes em que as pessoas so realmente violentadas e mortas na frente das
cmeras. Os boatos sobre eles surgiram h algumas dcadas com o aparecimento de alguns filmes
underground com imagens violentas que logo ficaram famosos por serem considerados verdadeiros. Eles
rapidamente sumiram de circulao, mas a lenda criada sobre eles manteve-se at hoje. Na verdade, ainda
no se sabe se eles realmente existiram - ou existem - o que, convenhamos no nada impossvel. Existem
bons filmes que tratam deste tema, como o espanhol Morte ao Vivo (Tesis, Espanha, 1996, dir. Alejandro
Amenabar), ou o recente 8mm (Eight Millimeter, EUA, 1999, dir. Joel Schumacher).
101
STEELE, Valerie, Fetiche - Moda, Sexo e Poder, op. cit. pg. 195
42
102
103
43
Tiazinha, que apenas por usar uma mscara negra e um chicote, foi considerada
sadomasoquista, gerando acaloradas discusses sobre a influncia de ideais
perversos sobre as crianas105. Ora, qualquer olhar com um mnimo de ateno
percebe que a Tiazinha aparenta para aquelas muito mais como uma verso
feminina do zorro do que uma adepta do S&M. No a toa, ela estreou um
fracassado programa onde aparecia como uma herona que lutava contra viles e
bandidos.
Ainda assim, em 1999, cadernos com a personagem na capa foram
proibidos no Rio de Janeiro pelo juiz Siro Darlan, que alegou ser contra a
pornografia e a obscenidade106 influenciando os adolescentes. Meses antes, a
psiquiatra do HC, Maria Cristina Ferrari, tambm declarou sobre este tema,
segundo o jornal Folha de So Paulo: Pode incentivar o lado perverso de alguns
adolescentes e ser prejudicial para o jovem que pouco estruturado107.
Em 13 de setembro de 1998, a mesma Folha havia feito uma reportagem
sobre S&M intitulada Culto a dor troca pancadaria por fantasia. No dia 15, uma
das cartas recebidas pelo jornal dizia: Abrir trs pginas da edio de domingo
para falar de sadomasoquismo e ainda considerar que isso faz parte do cotidiano
dos leitores me parece sem sentido; outra, do dia 20, afirmou: No h o que
justifique tanta propaganda de comportamentos sexuais desviados ou de mau
gosto. Renata Lo Prete, na seo ombudsman, comentou: H tempos eu no via
tanta bobagem reunida em uma nica reportagem108.
Estes trechos de reportagens, parecem nos dizer como anda o cotidiano
da aceitao de tais assuntos, ao menos de uma maneira geral. Por mais
engraadinhos que os comportamentos supostamente perversos possam ser
vistos por uma parcela da sociedade, a aceitao de tais prticas e estilos de vida,
mesmo quando baseadas em consensualidade e respeito, ainda parece distante.
105
Na linha das mesmas discusses sobre as influncias prejudiciais de Rita Cadilac, Gretthen, Carla Perez,
e outra infinidade de bodes expiatrios.
106
Jornal O Estado de So Paulo, 11 de junho de 1999, caderno geral, So Paulo
107
Jornal Folha de So Paulo, 2 de dezembro de 1998, reportagem local, So Paulo
108
Jornal Folha de So Paulo, 13, 15 e 20 de setembro de 1998, So Paulo
44
BRAME, Gloria G., BRAME, William D., JACOBS, Jon, Different Loving, op. cit., pg. 16
BEAUVOIR, Simone de, Deve-se Queimar Sade? in SADE, D. A. F., Novelas do Marqus de Sade, So
Paulo, Difuso Europia do Livro, 1961, pg. 63
111
Em que outra cultura se encaixariam comerciais que mostram adultos tomando sorvete como se estivessem
fazendo sexo oral?
110
45
uma outra subjetivao, mas serem aceitos pela psicologia como pessoas iguais
as outras; no existe a tentativa de acabar com o conceito de anormal, apenas
de mostrar que tambm so normais; no se pensa em discutir o capitalismo, e
sim conseguir mais direitos para melhor usufru-lo. Muitas vezes o objetivo est
mais para mostrar a igualdade que lutar pela diferena: Sadomasoquistas so
presas das mesmas falhas que as pessoas comuns porque eles so pessoas
comuns112. O preo para estas minorias serem aceitas em nossa sociedade
disciplinar/ de controle , comumente, tornarem-se maioria disciplinadora/
controladora113.
Talvez os sadomasoquistas, se no tomarem cuidado com o discurso
totalizador da insero social, consigam os mesmos avanos duvidosos
adquiridos pela minoria das mulheres, embora estas no tenham dado ouvidos
feminista radical Valerie Solanas, que nos anos sessenta escreveu: o que vai
liberara as mulheres do controle dos machos a total eliminao do sistema
dinheiro-trabalho, e no a obteno da igualdade econmica entre os sexos neste
sistema114.
Ganhando cada vez mais espao na mdia e na cultura de massas, esta
cultura nos mostra ser possvel descobrir novas formas de prazer com o corpo,
onde o processo de erotizao de nosso lado escuro e mesmo da morte podem
ser formas at mesmo de aumentar nosso to tmido respeito ao outro. Com todos
os riscos, perigos e liberdades inerentes a estes processos.
E sem jamais perder a capacidade de amar. O que faro comigo me
indiferente, murmurou, mas diga-me se me ama ainda 115.
112
BRAME, Gloria G., BRAME, William D., JACOBS, Jon, Different Loving, op. cit., pg. 4
Apesar de nossa sociedade ser disciplinadora e controladora, no este o sentido de disciplina e
controle que propem os grupos S&M adeptos do seguro, sadio e consensual.
114
SOLANAS, Valerie, Scum Manifesto, So Paulo, Conrard, 2000, p. 15
115
RAGE, Pauline, A Histria de O, op. cit. pg. 142
113
46
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NUGGET - Firestone Publishing - Miami Lakes - EUA
RUDOLF - Edies Ki-Bancas LTDA - So Paulo - Brasil
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TABOO - L.F.P.- Beverly Hills EUA
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JORNAIS
ESTADO DE SO PAULO arquivos na internet desde 1995
FOLHA DE SO PAULO arquivos na internet desde 1995
JORNAL DA TARDE arquivos na internet desde 1994
SEX - Christian Rocha Editores e Associados - So Paulo
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