A Sociologia Marxista
A Sociologia Marxista
A Sociologia Marxista
do real, o ser precede o pensamento, na medida em que os homens no comeam a refletir sobre o
mundo antes de nele agirem. Hegel pensava a evoluo da comunidade em termos de uma diviso de
deus contra si mesmo. Para Feuerbach, deus um ser inventado, no qual o homem projetou os seus
mais altos poderes e faculdades, e que assim considerado perfeito e todo poderoso. Por outro lado,
porm, segundo Feuerbach, a comparao entre deus e o homem pode constituir uma inspirao
positiva para a realizao das capacidades humanas. Compete Filosofia ajudar o homem a recuperar
sua essncia alienada atravs de uma crtica transformadora que inverta a perspectiva hegeliana e
afirme o primado do mundo material.
O que Marx filtrou de Feuerbach e Hegel eram as possibilidades que essas filosofias ofereciam para
operar uma sntese entre a anlise crtica e realizar a filosofia. Contudo, Marx nunca renunciou
perspectiva histrica de Hegel.
Pensamento poltico francs
Proudhon
Conde de Saint-Simon
Charles FourierDesde o sculo XVI, autores como Thomas More (1478-1535) e Tommaso Campanella
(1568-1639) imaginavam uma sociedade de iguais. Na Frana do sculo XVIII, o revolucionrio
Gracchus Babeuf (1760-1797) escreve o manifesto dos iguais que coloca o abismo que separa a
igualdade formal da trade liberdade, igualdade, fraternidade e a desigualdade real. No sculo XIX,
com as condies econmicas e o capitalismo se desenvolvendo desde a revoluo industrial, as
cidades incham de proletrios com baixos salrios. As crticas ao liberalismo resultam da constatao
de que a livre concorrncia no trouxe o equilbrio prometido e, ao contrrio, instaurou uma ordem
injusta e imoral. As novas teorias exigem ento a igualdade real e no apenas a ideal. Em 1864
fundada em Londres a Associao Internacional dos Trabalhadores, mais tarde conhecida como
Primeira Internacional (face segunda, terceira e quarta, constitudas posteriormente), visando a luta
para emancipao do proletariado. Esta unio de grupos operrios de vrios pases europeus teve em
Marx seu principal inspirador e porta-voz, tendo este lhe dedicado boa parte do seu tempo.
Na Frana, o pensamento socialista teve como porta-vozes Saint-Simon, Fourier e Proudhon, mas sem
haver ocorrido uma grande industrializao tal como na Inglaterra.
Os diversos tericos do socialismo tm idias diferentes e propem solues diversas, mas possvel
reconhecer traos comuns:
Tentam reformar a sociedade atravs da boa vontade e participao de todos.
Todas as tentativas no vo alem de uma tendncia fortemente filantrpica e paternalista: melhoria de
alojamentos e higiene, construo de escolas, aumento de salrios, reduo de horas de trabalho.
Saint-Simon pensa uma sociedade industrial dirigida por produtores (classe operria, empresrios,
sbios, artistas e banqueiros). Fourier tenta organizar os Falanstrios (pequena unidade social
abrangendo entre 1.200 e 5.000 pessoas vivendo em comunidade). Proudhon teve plena conscincia do
antagonismo entre as classes, afirmava que a propriedade privada significava uma espoliao do
trabalho. Ele preconizava a igualdade e a liberdade, que para ele era sinnimo de solidariedade, pois o
homem mais livre aquele que encontra no outro uma relao de semelhantes. Isso j um forte
indcio de uma crtica ao individualismo da concepo burguesa de liberdade.
Segundo Marx e Engels, os socialistas utpicos so incuos porque so paternalistas, pois eles no
colocam nenhuma iniciativa histrica e nenhum movimento poltico que lhe seja prprio. Idealistas,
no reconhecem quais seriam as condies materiais da emancipao. Ainda segundo Marx e Engels,
eles so moralistas, pretendem reformar a sociedade pela fora do exemplo, pensam que as
experincias em pequenas escalas podero se frutificar e se expandir, por meios pacficos. A grande
questo aqui tambm histrica, est dentro da pretenso cientificista do sculo XIX, positivista, que
v no socialismo utpico o precursor ultrapassado do marxismo cientfico, que mostra o movimento
operrio em sua plenitude.
Pensamento econmico britnico
Adam Smith
David RicardoNo tocante s questes de ordem econmica, Marx tinha como pano de fundo o
pensamento econmico conhecido como a Escola Clssica, constituda basicamente pelo pensamento
econmico britnico, com destaque para Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823).
Assim, escreve Paul Singer em sua introduo ao pensamento econmico de Marx:
Quando Marx comeou a se dedicar ao estudo da economia poltica, na quinta dcada do sculo XIX,
esta cincia j tinha recebido uma formulao terica bastante completa, abrangentemente sofisticada
por uma srie de autores, que passaram a ser conhecidos como "clssicos". Estes autores produziram
suas principais obras no ltimo quartel do sculo XVIII e no primeiro quartel do sculo XIX e eram,
em sua maioria da Gr-Bretanha - onde transcorria ento a Revoluo Industrial
O pensamento clssico se desenvolve na Gr-Bretanha durante segunda metade do sculo XVIII e no
sculo XIX, centrando suas reflexes nas transformaes do processo produtivo, trazidas pela
Revoluo Industrial. Adam Smith afirma que no ouro ou qualquer outro metal que determina a
prosperidade de uma nao, mas sim o trabalho humano. Em conseqncia disso, qualquer mudana
que aprimore as foras produtivas enriquece uma nao. A principal delas alm da mecanizao a
diviso social do trabalho, amplamente estudada por ele. A Escola Clssica tambm aborda as causas
das crises econmicas, as implicaes do crescimento populacional e a acumulao de capital.
O pensamento econmico de Marx aparece exposto em Grundrisse der Kritik der politischen
konomie (Fundamentos da Crtica da Economia Poltica), de 1857 e em Das Kapital (O Capital), de
1867-1869. Sua teoria econmica marxista procura explicar como o modo de produo capitalista
propicia a acumulao contnua de capital, e sua resposta est na confeco das mercadorias. Elas
resultam da combinao de meios de produo (ferramentas, mquinas e matria-prima) e do trabalho
humano. No marxismo, a quantidade de trabalho socialmente necessria para produzir uma mercadoria
o que determina o seu valor. A ampliao do capital ocorre porque o trabalho produz valores
superiores ao dos salrios (que a fora de trabalho). A esse diferencial, que ir se tornar um conceito
fundamental da teoria de Marx, considerado a fonte dos lucros e da acumulao capitalista.
A mais-valia
Ver artigo principal: Mais-valia
O que faz o valor de uma mercadoria? Eis uma pergunta que instigou os economistas da Escola
Clssica e que levou Marx a desenvolver o conceito da mais-valia, que descrita por Paul Singer no
excerto abaixo:
Marx repensa o problema nos seguintes termos: cada capitalista divide seu capital em duas partes, uma
para adquirir insumos (mquinas, matrias-primas) e outra para comprar fora de trabalho; a primeira,
chamada capital constante, somente transfere o seu valor ao produto final; a segunda, chamada capital
varivel, ao utilizar o trabalho dos assalariados, adiciona um valor novo ao produto final. este valor
adicionado, que maior que o capital varivel (da o nome "varivel": ele se expande no processo de
produo), que repartido entre capitalista e trabalhador. O capitalista entrega ao trabalhador uma
parte do valor que este ltimo produziu, sob forma de salrio, e se apropria do restante sob a forma de
mais-valia
Na verdade, o trabalhador produz mais do que foi calculado, ou seja, a fora de trabalho cria um valor
superior ao estipulado inicialmente. Esse trabalho excedente no pago ao trabalhador e serve para
aumentar cada vez mais o capital. Insere-se neste ponto a questo da alienao - o produtor no se
reconhece no que produz; o produto surge como um poder separado do produtor. O produto surge
ento como algo separado, como uma realidade soberana o fetichismo da mercadoria. Mas o que faz
com que o homem no perceba? A resposta, de acordo com Marx, est na ideologia dominante, que
procura sempre retardar e disfarar as contradies politicamente. Portanto, a luta de classes s pode
ter como objetivo a supresso dessa extorso e a instituio de uma sociedade na qual os produtores
seriam senhores de sua produo.
Para Marx, o Estado no supera as contradies da sociedade civil, mas reflexo delas, e est a para
perpetu-las. Por isso, s aparentemente ele visa o bem comum, estando de fato a servio da classe
dominante. Ao lutar contra o poder da burguesia, o proletariado deve destruir o poder estatal, o que no
ser feito por meios pacficos, mas sim pela revoluo. A classe operria deve construir um novo
estado capaz de suprir a propriedade privada, e a esse novo Estado d-se o nome de ditadura do
proletariado.
Materialismo histrico
Ver artigo principal: Materialismo Histrico
O primeiro fruto da associao de Marx e Engels foi o texto A Sagrada Famlia, e logo depois a
Ideologia Alem, sendo neste segundo texto que aparece a primeira formulao geral das bases do
materialismo histrico. O prprio Marx afirma que foi a anlise da filosofia do Estado de Hegel que o
levou a tirar a concluso de que as relaes legais, tal como as formas de Estado, tm de ser estudadas
no por si prprias, ou em funo de uma suposta evoluo geral do esprito humano, mas antes como
radicando em determinadas condies materiais da vida.
A concepo do Materialismo Histrico, exposta em A Ideologia Alem difere-se do Materialismo de
Feuerbach. Para Marx, a histria um processo de criao, satisfao, e recriao contnuas das
necessidades humanas; isso o que distingue o homem dos animais, cujas necessidades so fixas e
imutveis. Quando pretendemos estudar a evoluo da sociedade humana, temos de partir do exame
emprico dos processos concretos da vida social da existncia humana. Os seres humanos no devem
ser considerados num isolamento, mas num processo de evoluo real, a que esto submetidos em
determinadas condies. Desde o momento em que este processo passa a ser descrito, a histria deixa
de ser uma coleo de fatos mortos ou uma atividade inventada de sujeitos inventados. Quando se
descreve uma realidade, a filosofia como ramo independente do conhecimento deixa de existir.
Separadas da histria, essas abstraes no tm qualquer valor. Servem apenas para facilitar o
ordenamento histrico, no fornecendo, porm, um esquema de interpretao das pocas da histria.
Cada um dos vrios tipos de sociedade identificados por Marx caracteriza-se por uma dinmica interna
de evoluo prpria. Mas essas caractersticas s podem ser identificadas e definidas mediante uma
anlise Ex post facto. Atribuir finalidade histria no passa de uma distoro teleolgica, que
transforma a histria recente na finalidade da historia mais antiga. A tipologia da sociedade
estabelecida por Marx baseia-se no reconhecimento de uma diferenciao progressiva da diviso do
trabalho.
Em outras palavras, o que Marx explicitou foi que, embora possamos tentar compreender e definir o
ser humano pela conscincia, pela linguagem e pela religio, o que realmente o caracteriza a forma
pela qual reproduz suas condies de existncia. Fundamental, portanto, anlise das condies
materiais da existncia numa dada sociedade.
Materialismo dialtico
Ver artigo principal: Materialismo dialtico
O mundo no uma realidade esttica, ela dinmica, pois no contexto dialtico, tambm o esprito
no conseqncia passiva da ao da matria, podendo reagir sobre aquilo que o determina. Isso
significa que a conscincia, mesmo sendo determinada pela matria e estando historicamente situada,
no pura passividade: o conhecimento do determinismo liberta o homem por meio da ao deste
sobre o mundo, possibilitando inclusive a ao revolucionria. Assim, Marx se denominava um
materialista, no idealista. O Materialismo Histrico e o Materialismo Dialtico podem, grosso modo,
serem tomados por termos intercambiveis, sendo o primeiro mais adequado ao se tratar de coisas
humanas e o segundo adequado para aspectos no-humanos, universais etc. Engels acabou
desenvolvendo mais do que Marx acerca do Materialismo Dialtico.
Ainda que a afirmao de Marx de que suas idias eram cientficas tenha sido refutada
veementemente, principalmente aps a publicao, em 1934, de A Lgica da Pesquisa Cientfica, de
Karl Popper (1902-1994) e derrocada dos pases denominados socialistas, a cientificidade dos estudos
das cincias humanas, tal como a Histria, no deve ser automaticamente desconsiderada. O erro de
Marx, talvez, possa ter sido o de superestimar a predicabilidade das sociedades humanas. Sem dvida,
nenhum dos pases que se autoproclamavam marxistas trilhou os rumos profetizados por Marx.
Contudo, juntos eles representavam quase um tero de toda a populao mundial, o que talvez coloque
Karl Marx como um dos pensadores de maior influncia na histria. Ainda que pouco predizveis, as
sociedades humanas certamente devem render muitas graas a este pensador nascido em Trier, pelos
grandes avanos terico-metodolgicos prestados ao campo das cincias humanas durante o sculo
XIX.
[editar] Referncias
Singer, Paul. Marx Economia in: Coleo Grandes Cientistas Sociais; Vol 31.
BORGES, Vavy P. O que histria. So Paulo: Brasiliense, 1987.
GIDDENS, Anthony. Capitalismo e moderna teoria social. Lisboa: Editora Presena, 1994.
MAGEE, Bryan. Histria da filosofia. So Paulo: Edies Loyola, 2000.
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A ideologia alem. So Paulo: Editorial Grijalbo, 1977.
SINGER, Paul (org.). Marx, in: Grandes Cientistas Sociais Vol. 31. So Paulo: tica, 1982.
Fonte: http://wwwsebantropologiacom.blogspot.com.br/2008/02/sociologia-marxista.html.
Acessado em 12 de dezembro de 2012