PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

DEPARTAMENTO DE TEORIA E HISTRIA

A ARTE DOS REGIMES TOTALITRIOS DO SCULO XX:

RSSIA E ALEMANHA

Caio Csar Klein

Lucas Karst
Turma 260
Disciplina de Esttica e Histria da Arte
2012/02

PORTO ALEGRE
2012

A presente resenha foi elaborada a partir da obra A Arte dos Regimes

Totalitrios do Sculo XX: Rssia e Alemanha, de Vanessa Beatriz Bortolucce,
publicada em 2008 pela editora Annablume, para fins de avaliao na disciplina
de Esttica e Histria da Arte.

CAPTULO I
Alemanha, 1900-1929: do Segundo Reich Repblica de Weimar
A questo cultural alem no perodo que marcou o fim do sculo XIX e
incio do sculo XX se relaciona intimamente com o momento poltico que a
Alemanha vivia quando de seu processo de unificao. A busca por uma
identidade cultural alem foi um tema que preocupou os tericos do Segundo
Reich, sendo exatamente esse o perodo no qual se estabeleceu a ideia de que a
nao

germnica

de

hegemonia

alem.

Esse

perodo

igualmente

correspondente ao romantismo, no qual foram apresentados fortes traos

nacionalistas, sobretudo na msica, exemplo da obra de Wagner.

Figura 1 - Cenografia de Die Walkre, por Josef Hoffman (18311904). A obra operstica de Richard
Wagner (1813-1883) um exemplo da exaltao nacionalista e do esprito do povo (Volksgeist) no
campo da arte.

O surgimento de correntes artsticas modernas ocorreria na Alemanha,

assim como em outros pases da Europa. Na medida em que a arte acadmica
esta impregnada pelo ideal romntico, sendo estimulada pelo governo, surge na
Alemanha

recm

unificada

uma

vertente

moderna

conhecida

como

Expressionismo. Esse movimento expressionista, episdio artstico que teve mais

fora na Alemanha do incio do sculo XX, est ligado a necessidade da
aproximao da arte ao cotidiano e autonomia na criao da realidade, tendo
se manifestado no apenas na pintura, mas tambm no cinema, literatura,
teatro e msica.
Nesse perodo pode-se salientar o primeiro grupo expressionista fundado
na

Alemanha,

na

cidade

de

Dresden,

em

1905,

chamado

Die

Brke.

Influenciados por Czanne, Gauguin, Munch e Van Gogh, o grupo se utilizada da

simplificao das formas e cores e do uso de tcnicas como a xilogravura.

Figura 2 - O Caf (1904), de Ernst Ludwig Kirchner.

Outro grupo expressionista voltado exclusivamente para a pintura foi o

Der Blaue Reiter, criado em 1911, na cidade de Munique. Um dois mais
importantes participantes do grupo foi o pintor russo Wassily Kandinsky, que

posteriormente seria professor da Bauhaus. Kandinsky afirmava que a pintura

deveria manifestar a necessidade interior do artista, no havendo preocupao
com a reproduo da natureza como ela vista, mas de representa-la atravs
daquilo que os seres e objetos escondem por detrs de sua natureza sensvel.
Aps a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial e o surgimento
da Repblica de Weimar, surge na Alemanha um momento poltico propcio para
o surgimento de governos totalitrios. Nesse momento, contudo, ocorrem
grandes inovaes no campo artstico alemo.
A Bauhaus
A Bauhaus (casa da construo, em portugus) foi uma escola de
arquitetura e artes plsticas fundada em 1919. Esteve em funcionamento at o
de 1933, j instalada na cidade de Dessau, quando o partido nazista assumiu o
poder municipal nessa cidade.
Questes mais importantes no trabalho concebido na Bauhaus foram a
revalorizao do trabalho artesanal e a no distino entre artistas e artesos,
separao valorizada desde o Renascimento. A Bauhaus aplicava um conceito de
arte que englobasse todas as artes, construindo um dilogo entre pintura,
arquitetura e escultura, com colaborao industrial para a criao de novos
objetos. Esse conceito proporcionou que a escola apresentasse tambm um
carter funcional da arte, desenvolvendo o design de peas industriais, utenslios
domsticos e mveis, sempre marcado pela clareza das formas e linhas.
A Nova Objetividade
A Nova Objetividade (Neue Sachlichkeit) foi um movimento artstico que
se desenvolveu na Repblica de Weimar, paralelamente Bauhaus, no qual
predominou um realismo que se propunha a apresentar a sociedade alem do
ps-guerra, uma sociedade decadente e desumanizada. Ao contrrio do
Expressionismo, o realismo da Nova Objetividade tinha carter de denncia dos
problemas sociais da poca, utilizando-se do grotesco ao satrico.

Figura 3 - Me com criana. leo sobre tela (1921). Otto Dix.

Dois artistas se destacaram na Nova Objetividade: Otto Dix, conhecido

por suas representaes dos horrores da guerra, os mutilados, a misria em
contraposio riqueza e ao poder dos oficiais militares; e George Grosz, que
procurou representar a questo do poder, da ganncia e da falta de escrpulos,
atravs de uma obra crtica de denncia da burguesia. Contudo, muitos artistas
da Nova Objetividade se preocuparam em criticar questes sociais importantes,
como a sociedade desumanizada pela mquina e o poder destrutivo da indstria
blica.
Verifica-se, portanto, a coexistncia entre uma arte abstrata e uma arte
figurativa e realista na Alemanha nesse perodo. Contudo, tal coexistncia no
durar

muito

por

interferncia

dos

governos

totalitrias

que

estavam

ascendendo e que repudiaram a arte moderna, especialmente a abstrata,

considerada por eles uma arte degenerada.

CAPTULO II
Alemanha, 190-1945: da Ascenso do Nazismo ao Fim do Terceiro Reich
Ao fim da Primeira Guerra Mundial a Alemanha estava desmoralizada e
mergulhada em um clima de angstia. A populao se sentia ameaada pelo
progresso que alguns consideravam o responsvel pela derrota do pas. Essa
situao fortaleceu uma ideia de desconforto com o progresso e o moderno que
levaram a populao a buscar um retorno aos antigos e bons valores do povo
alemo.
Nesse perodo, concidentemente, surgiam inmeras teorias sociais,
muitas de carter racista, que pregava uma poltica nacionalista extremada. Tal
contexto contribuiu para o aparecimento de diversos movimentos polticos (em
Munique havia, na poca, aproximadamente 50 associaes de carter poltico),
entre eles o nacional-socialismo, ou nazismo. Muitos desses movimentos
partilhavam de um sentimento nostlgico, de uma busca de antigos valores do
povo alemo e de glorificao da histria nacional, bem como de repdio a
influncias estrangeiras, especialmente o judasmo e o marxismo.
Hitler, o Sobrevivente
Uma pequena digresso sobre a histria de Adolf Hitler se faz necessria
para entender como se deu a formao de uma esttica nazista. Hitler nasceu na
cidade de Braunau, na ustria, em 1889. Ainda jovem, se mudou pra Viena no
af de ingressar na Academia de Belas Artes. Contudo, foi recusado duas vezes,
pois, de acordo com os crticos, suas obras no continham vida nem
originalidade. Frustrado, sobreviveu por seis anos vendendo pequenas aquarelas
pintadas em cartes postais. Posteriormente, atuou com soldado na Primeira
Guerra Mundial.

Figura 4 - A Fazenda. Aquarela (1914). Adolf Hitler.

Aps a primeira grande guerra, Hitler adere ao Partido Operrio Alemo

(Deutsche Arbeiterpartei DAP), movimento que tinha em sua plataforma ideias
contrarrevolucionrias e averso ao bolchevismo russo e ao marxismo judaico.
Posteriormente, o partido passaria a se denominar Partido Poerrio NacionalSocialista Alemo (Nationalsozialistische Deutsch Arbeiterpartei NSDAP, ou,
abreviando, nazi), que tomaria um vis de nacionalismo extremos e averso aos
judeus.
Hitler, o Artista
O desejo frustrado de Hitler de se tornar um grande artista pode nos
ajudar a compreender a formao de uma esttica prpria do perodo nazista.
Desde jovem, Hitler apresentava uma preferncia pelos temas clssicos, pelo
rigor artstico e tendncias megalmanas em arte. Era constante a idealizao
de um mundo perfeito, organizado e puro, ideias de relacionariam a arte com
uma diretriz de embelezamento de purificao do mundo, prpria do nacionalsocialismo.
Os temas nacionais era tambm muito apreciados por Hitler, o que
potencializava a depreciao de todas as tendncias artsticas estrangeiras e
internacionalistas, ou seja, da arte moderna em geral. Hitler apreciava,
sobretudo, a obra do compositor Richard Wagner, que explorou temas nacionais,
a mitologia e o legado nrdico, o mito do sangue puro, e grandes feitos heroicos
do povo alemo. Esses aspectos foram essenciais para o estilo representativo do

Terceiro Reich, sobretudo o aspecto monumental e a teatralidade contundentes

da obra wagneriana.
A Esttica do Partido Nazista
Hitler, desde o princpio, esteve preocupado com a apresentao visual e
a propagando do partido nazista. Assim, colaborou para a criao de um sistema
de propaganda slido e dirigido s massas. Entre suas diretrizes estava o uso de
uniformes (para a identificao dos membros, e homogeneizao das diferenas
de classe), o uso do vermelho (pela sua cor marcante e tambm para usurpar a
cor tradicional da esquerda).

Figura 5 - "Por detrs das potncias inimigas: o judeu". Exemplo da propaganda nacional-socialista.

A sustica foi escolhida por ser um smbolo milenar, presente em na

cultura clssica greco-romana apreciada por Hitler, e por ser a representao da
fora, do sol e da fonte da vida. A guia foi outro importante smbolo nazista
presente em bandeiras e estandartes.

No

ideal

nazista,

beleza,

ordem

limpeza

transformariam

higienizariam as raas. Por isso a importncia da arte como instrumento de

transformao social e resgate da cultura nacional.
A Arte produzida pelo Nazismo
H uma diferena importante entre a arte produzida pelo e para o regime
nazista

arte

admirada

pelo

regime,

ou

seja,

pelo

Fhrer:

obras

predominantemente produzidas nos sculos XVI, XVIII e XIX, somente por artistas
alemes, e aquelas da Antiguidade Clssica. Assim, a esttica do Terceiro Reich
influenciada, basicamente, pelo Barroco e o Romantismo alemo, por um lado, e
pelo neo-classicismo de inspirao greco-romana, de outro.
Essa exaltao da antiguidade clssica e das razes da histria alem
geraram a crtica e demonizao da arte moderna. Hitler afirmava, quanto ao
aspecto internacionalista da arte moderna, que No existe hoje uma arte alem,
francesa, japonesa ou chinesa, mas pura e simplesmente a arte moderna [...]. A
arte no se fundamenta no tempo, mas nos povos. Para a poltica nazista, a
arte moderna prestava um desservio, eliminava os valores nacionais da arte e
por isso era degenerada.
A arte apreciada pelo regime, que na viso nazista auxiliaria na
reconstruo da verdadeira nao alem, deveria se ocupar de temas como o
campesinato nrdico, exaltando a importncia da terra; cenas heroicas dos
soldados alemes, carregadas de grandeza e solenidade; e a mitologia nrdica,
frisando a importncia da histria nacional. Paralelamente a isso, a arte alem s
poderia ser produzida por alemes de sangue puro, o que ocasionou o exlio de
artistas judeus e estrangeiros.
A pintura nacional-socialista apreciava a arte figurativa, de influncia
claramente acadmica. Esses conceitos foram aplicados para retratar o Fhrer
como lder nacional, condutor das massas, sempre retratado de corpo inteiro e
de forma heroica. Na escultura, as obras sempre apresentavam dimenses
gigantescas que atendiam ao ideal de grandiosidade do regime. Os principais
artistas foram Arno Breker e Josef Thorak, que desenvolveram sua obra atravs
de grades esttuas em estilo neoclssico. A escultura apreciada pelo regime
prezava a imagem da fora masculina, da coragem e potncia do homem
alemo, bem como da mulher saudvel, reprodutora da pura raa ariana. As
esculturas eras, assim, reprodutoras da ideologia do partido.

Figura 6 - Die Partei (1942). Arno Breker.

Mas na arquitetura que estava concentrada a maior pretenso esttica

do nazismo. Para Hitler, o ideal arquitetnico era o reflexo de sua admirao pela
antiguidade clssica, e por isso a purificao e embelezamento da sociedade
alem necessitaria da construo de novos prdios. Assim, os arquitetos do
nazismo projetavam construo que pretendiam eternas, pois Hitler acreditava
que o uso de materiais especficos possibilitaria que os prdios do nazismo se
tornasse runas que poderiam ser descobertas milnios no futuro, o que manteria
a memria da ideologia e glria nazistas preservada.
Quanto msica, essa foi largamente utilizada como forma de
propagao do nazismo atravs de hinos e concertos realizados em escolas e
fbricas. A msica aceita era aquela produzida por artistas alemes, Richard
Wagner em especial, sendo considerada degenerada a msica produzida por
judeus e negros, como o jazz.
O cinema e a fotografia, alm de pretenses estticas, tiveram grande
importncia na propaganda da ideologia do regime e da imagem de Hitler. Para
isso, o Fhrer contava com um fotgrafo oficial, Heinrich Hoffmann, sempre
preocupado com a apresentao do lder de forma destacada, acima da
multido, com cuidado meticuloso para uma boa apresentao. No cinema, a
cineasta Leni Riefenstahl foi responsvel pela direo de filmes como Triunfo da
Vontade, de 1934, considerados por alguns crticos como um dos melhores

documentrios j produzidos, e Olmpia, de 1936. Seus filmes deram um vis

artstico aos documentrios polticos do partido nazista produzidos at ento
Arte Oficial versus Arte Degenerada
O regime nazista dividiu a produo artstica em dois grupos, de acordo
com sua ideologia: a arte oficial e a arte degenerada. Era tida por degenerada
toda a arte produzida em desconformidade com os ideais e valores tidos por
genuinamente alemes, ou seja, a arte fruto de experincias modernistas, de
vanguarda e abstratas.
Essa dicotomia criada pelo nazismo culminou na criao da Grande
Exposio de Arte Alem, na qual foram apresentadas as obras apreciadas e
incentivadas pelo regime, e a Mostra de Arte Degenerada, para mostrar ao povo
alemo a arte que no era aceita pelo governo. Assim, em 1933, quando se
tornou chanceler, Hitler ordenou a retirada dos museus de todas as obras de arte
com influncias cosmopolitas e bolcheviques. Elas seriam expostas ao pblico e
aps queimadas, ou vendidas no mercado internacional para o financiamento da
guerra.
A Mostra de Arte Degenerada incluiu cerca de 650 obras de artistas como
Kandinsky, Kirchner, Dix, entre outros, sendo a maioria das obras destrudas. Os
artistas de vanguarda que reivindicassem o direito de expresso artstica eram
castigados, de modo que nesse perodo muitos deles se viram obrigados a sair
da Alemanha. O objetivo da exposio da arte degenerada era alertar o povo
alemo dos perigos que esse tipo de manifestao artstica proporcionava, Para
isso, foram divulgadas as ideias de que a arte moderna era responsvel pela
degenerao cultural dos povos, que conduziriam a humanidade ao colapso,
chegando ao ponto de afirmar que tais obras eram fruto de doenas mentais de
seus autores. Muitas vezes, algumas obras foram apresentadas ao lado de
fotografias de deformidades humanas retiradas de livros de medicina. Dentre os
movimentos

considerados

degenerados

pelo

regime

nazista

estavam

Dadasmo, Cubismo, Expressionismo, Fauvismo, Impressionismo, Surrealismo, e

mesmo movimentos eminentemente alemes como a Nova Objetividade e a
Bauhaus.

CAPTULO III

Rssia, 1900-1924: Do Czarismo Unio Sovitica

Nas primeiras dcadas do sculo XX a Rssia se caracterizou por
apresentar artistas muito atualizados, de modo que juntamente com as
primeiras expresses cubistas na Frana em 1908 apareceram as primeiras na
Rssia, graas ao intercmbio de obras realizado pelos colecionadores de arte de
Moscou.
O cenrio favorvel para o desenvolvimento de arte de vanguarda na
Rssia teve como principal motivador os desenvolvimentos ocorridos no sculo
anterior no pas, tendo ento o surgimento de uma classe mdia capitalista,
tornado as influncias das ideias ocidentais mais vivas no pas. A partir de 1890
as ideias ocidentais na cultura fizeram-se muito vivas com a divulgao de
movimentos como simbolismo, primitivismo, impressionismo, futurismo entre
outros que se tornaram temas centrais do debate artstico local. Com isso os
artistas oriundos da academia entraram em conflito co os seguidores dos
movimentos, havendo a a primeira rivalidade entre as escolas de arte na Rssia.
Vanguarda e Revoluo
Os artistas russos j estavam a par de todos os principais movimentos de
vanguarda na Europa de modo que nomes como Picasso e Matisse eram
conversas constantes nos crculos artsticos de Moscou, assim como em Paris. A
vanguarda russa se caracterizou pela incessante busca por estruturas bsicas de
organizao visual e a relao entre tempo e espao, em maro de 1917, se
instalou no pas um governo provisrio em oposio ao Czar Nicolau II, tendo
como seu principal lder Lnin, que retornara do exlio em abril do mesmo ano,
logo em seguida se caracteriza a revoluo bolchevique com a instalao do
conselho dos comissrios do Povo.
A partir desse fato os grupos de vanguarda cultural, empolgados com as
promessas do estado bolchevique, comearam a pensar em uma cultura
tipicamente proletria, sobre o propsito da arte e de seu significado para a
populao, neste primeiro momento contavam com a simpatia dos bolcheviques
e

passavam

por

um

perodo

de

liberdade

cultural

proporcionado

por

Lunatcharsky, chefe da poltica artstica no momento. Assim surgiram os

primeiros artistas ligados ao construtivismo, abstracionismo e ao suprematismo,
dessa forma no perodo foram inaugurados os primeiros museus cuja a temtica
foi exclusivamente a arte moderna, surgiram tambm os primeiros atelis livres

destinados ao ensino de todas as correntes artsticas, voltado para todos os

cidados russos acima de dez anos de idade e de forma gratuita.
Na dcada seguinte Lnin impelido pela convico de que a realidade
havia de fato mudado com a revoluo tomou uma srie de medidas voltadas
para a cultura. Fechou a Academia de Belas Artes, considerada por ele um
smbolo do czarismo, fundando o departamento de artes, a IZO, e junto com isso
o governo criou o Prolecult, cultura proletria.
A Prolecult foi criada em setembro de 1917, estabelecia que a essa arte
poderia ser apenas feita por proletrios e que a arte do passado teria pouca
significao para a nova sociedade, por se tratar de uma criao burguesa. A
criao do Prolecult teve ligao direta com a busca por um movimento moderno
o suficiente para a construo do socialismo. Devido a abstrao das obras da
vanguarda o Prolecutl, logo condenou o movimento com a alegao de que a
arte deveria ser clara e para todos. Aps divergncias internas o Prolecult
acabou desaparecendo, entretanto a ideia de uma cultura proletria seguiu viva
at a dcada seguinte.
Foto Montagem
Uma das experincias mais significativas da vanguarda russa, a foto
montagem teve como seu principal nome Gustav Klutsis, derivada da montagem
cubista, feita com recortes de jornais e outros materiais tinha o poder de agregar
e associar por meio de uma construo plstica uma quantidade enorme de
informao, por isso nos anos vinte foi muito utilizada com imagens em aluso a
revoluo, servindo como um veculo de propaganda muito eficiente de modo
que continuou a ser utilizado mesmo no auge do stalinismo.

Figura 7 - No Pode Haver Movimento Revolucionrio sem Teoria Revolucionria. Fotomontagem

(1927). Gustav Klutsis.

Cartaz Como Forma de Arte

Na cultura russa j existia essa influncia grfica desde o sculo XIX por
meio do lubok, porm sendo levada pela corrente moderna os cartazes
adquiriram elementos do Art Nouveau. Aps a revoluo o cartaz tornou-se o que
era

conhecido

como

pintura

proletria,

um

novo

veculo

para

arte

revolucionria, sendo seus exemplares mais famosos produzidos por Malevich e

Maiakovsky, na dcada de vinte foi criada a escola estatal superior tcnica
artstica que cuidava do ensino de diversas reas das artes e que um tempo
depois mudou de nome para Instituto Estatal de Cultura.
Os artistas da poca se envolveram em muitos eventos, tendo alguns
nomes como destaque, o caso de Tatlin, Alexandre Rodchenko, El Lissitsky,
Kasimir Malevich. Esse ltimo que foi responsvel por escrever o manifesto do
Suprematismo em 1915, apresentando a concepo da arte de realidade e

tcnica, tendo como foco as figuras geomtricas mais especificamente o

quadrado.
O Construtivismo
O construtivismo foi o movimento mais importante da vanguarda do
perodo, por volta de 1920 foi publicado um manifesto chamado manifesto
realista, onde declaravam a importncia dos valores especiais e de movimento
nas esculturas, neste documento encontra-se as propostas de Antonie e Naum,
construir uma realidade essencialmente revolucionria.
Acreditavam que estavam criando um trunfo artstico para a arte
revolucionria , para eles as obras bidimensionais e no ilusionistas, geomtricas
e produzidas por processos mecnicos eram mais realistas em si mesmas e em
relao sociedade moderna . No entanto esse novo conceito defendido pelos
suprematistas e construtivistas, terminou por ser repudiado pelas autoridades
polticas a partir de 1922.
O movimento teve como um de seus principais representantes Tatlin,
responsvel pelo monumento Terceira Internacional, que acabou por no sair
do papel, e os irmos Pavsner e Gabo. Os construtivistas e os suprematistas
proclamaram aceitao total a maquina e aos objetos produzidos em massa,
baseado na funcionalidade absoluta da tecnologia, desenvolvendo assim a
aceitao de Trotsky. Aps a decada de Trotsky o a poltica de Lnin que sempre
fora hostil a arte moderna, limitou a liberdade de expresso dos artistas,
deixando-os sem sada seno abandonar a Rssia, o caso de artistas como
Kandisnsky que se tornou professor na Bauhaus em Weimar, El Lissitsky que se
juntou ao grupo De Stijl, em Amsterdam assim como Malevitch que mais tarde
passou a integrar tambm o grupo da Bauhaus.

Figura 8 - Tatlin Relief 2. Escultura (1914). Vladimir Tatlin.

A Akrr
Em 1921 Lnin cria o NEP, um conjunto de reformas voltadas para a
implementao

efetiva

do

comunismo,

assim

culminando

com

desaparecimento do movimento construtivista. Antigos alunos de Malevitch e

Tatlin criaram o grupo Realidade Objetiva, com influenciada pela arte alem do
perodo.

No

ano

seguinte

Associao

de

Artistas

da

Rssia

Revolucionria( AKRR) ofereceu de forma significativa aquilo que acabaria se

tornando o Realismo socialista, que contava com o apoio do governo e atraiu a
adeso de vrios artistas, inclusive os mais tradicionais como Arkhipov, Mashlov
e Kustodiev, contrrios a arte moderna.
O Realismo Socialista tinha como objetivo declarado trabalhar para que a
arte se tornasse social, os contedos trabalhados eram sempre ligados vida e a
revoluo. Buscava a unio entre a forma e o contedo na arte por meio de
formas

realistas

artisticamente

perfeitas,

nas

telas

no

era

permitido

incongruncias ou mensagens dbias.

Devido ao forte cunho ideolgico que a AKRR carregava e cobrava das
obras, a arte de vanguarda passou a ser vista como obras sem contedo e
vazias, tornando as obras abstratas sem significado e sem interesse pela vida
social. Por fim conseguiram criar um novo conjunto de valores, superando os

conceitos tradicionais da academia, tendo ento o realismo heroico, distante

daquele burgus pela sua diferena e propsito de ideologias.
O Cinema Revolucionrio
Aps a vitria do socialismo e do debate esttico o cinema passou a
figurar como uma possibilidade de expressar a revoluo. Nomes como Sergei
Eisenstein e Dziga Vertov, inovaram o cinema no apenas em contedo como
tambm em apectos formais, fazendo com que a Rssia obtivesse grandes
inovaes cinematogrficas.
Os cineastas Eisenstein, Vertov, Kuleshov e Pudovkin, pensavam em um
cinema como uma arte das mais modernas. Todos acreditavam no sistema
sovitico, no entanto no viam o cinema apenas como veculo atrelado a
revoluo, queriam-no como arte. Considerado o mais importante cineasta
sovitico Eisenstein foi o principal criador da teoria sovitica de montagem de
filmes, que defendia o grande impacto causado pela justaposio das imagens,
foi o responsvel pelos maiores clssicos soviticos como A Greve, O
Encouraado Potemkin e Outubro. Com a ascenso de Stalin ao poder, sofreu
represlias devido divergncias com o governo de modo que acreditava em um
comunismo onde havia uma independncia dos artistas com o governo.
Outro cineasta de grande renome foi Dziga Vertov, produzia reportagens
e documentrios, fez parte do movimento construtivista, tendo contribudo muito
com artigos sobre a teoria flmica. Como Eisenstein valorizava muito a
montagem como elemento central para o cinema revolucionrio. Foi o criador da
ideia do Kino-Glaz, o olhar mecnico que organiza o real, fazendo com que o
participante participe de forma mais real do filme, tendo deste modo produzido
filmes como, Kino-Pravda, O Homem com uma Cmera e Trs canes para
Lnin.
O cinema sovitico deste perodo teve muita importncia, por inovar com
a linguagem flmica, inspirando diversos cineastas ao redor do mundo.
Entretanto devido ao grande requinte dos filmes, a dificuldade de entendimento
se multiplicava de modo que um tempo depois este cinema de vanguarda fora
substitudo pelo cinema stalinista, controlado pelo governo utilizando conceitos
muito diferentes dos de vanguarda antes utilizados.

Quando o Realismo socialista se estabeleceu no pas muitas das famosas

obras cinematogrficas produzidas foram proibidas por Stalin, de modo que o
cinema perdeu o aspecto autnomo e livre tornando-se um instrumento
doutrinrio de didatismo raso e estril.

CAPTULO IV
URSS, 1925-1939: da Ascenso de Stalin ao Inicio da Segunda Guerra
Mundial
Aps a morte de Lnin, em 1924 Stalin assumiu o poder, em 1928
comeou um programa de industrializao e de coletivizao da agricultura
sovitica impondo uma reorganizao social. Ao assumir o poder mostrou-se um
sanguinrio ditador expulsando, prendendo e matando todos os seus opositores,
acabou em definitivo com todas as liberdades individuais, conduziu o pas com
mos de ferro.
Novos Rumos para a Cultura
Stalin, diferente de Lnin passou a considerar a arte pea fundamental
da engrenagem poltico ideolgica do pas, fazendo em uma resoluo com que
toda arte deveria estar totalmente ligada aos interesses revolucionrios. Neste
perodo o que obteve mais destaque foi o Realismo socialista, um mtodo
artstico que defendia a descrio fiel da realidade, em um contexto histrico
concreto desde os pressupostos ideolgicos do marxismo com uma misso
educadora da sociedade, de forma a ditar e controlar os parmetros de tudo
aquilo que seria produzido em termos artsticos no perodo.

O Realismo Socialista
O realismo socialista relacionado a toda expresso de arte produzida na
URSS no perodo de Stalin no poder, pode-se dizer que foi o resultado de um
longo debate para saber como seria a melhor forma de representar as diretrizes
do regime poltico no perodo, sendo assim um estilo de arte perfeito para
doutrinar o trabalhador. Foram vetados todos os tipos de artes experimentais na
URSS, fazendo com que todos os artistas de todas as reas se encaixassem, ou
iriam contra o governo e consequentemente mortos ou exilados. A partir da,
todas

manifestaes

eram

necessariamente

voltadas

para

coletivo

representando o coletivo, sendo a nica pessoa com caractersticas individuais

Stalin, representado como o pai do povo.

Figura 9 - Lenin e Stalin no vero de 1917, de Ivan Vladimirov.

A Construo das Imagens

A arte realista socialista no era totalmente naturalista, de modo que
chegou a utilizar mesmo que timidamente alguns mtodos das experincias de
vanguarda, mesmo que de forma completamente oposta a original. Nem todas
as pinturas tinham o cuidado de delimitar a forma, delinear a silueta construindo
algumas vezes as imagens em forma de zonas de cor ordenando com a lgica
figurativa.
Os cartazes esto repletos de rostos jovens , por vezes com leves
estilizaes das figuras humanas juntamente com o uso de uma cor dominante,
no caso o vermelho,

mas tambm era corrente a utilizao do amarelo e do

preto. No entanto se a figura de Stalin fosse representada ela seria irretocvel,

sem quaisquer tipos de redues ou simplificaes.
Durante praticamente toda a existncia da URSS a vanguarda russa
original foi esquecida e pouco estudada, devido a hegemonia do Realismo
Socialista que por motivao de seus dogmas rgidos e intransigentes oboliam a
criatividade do artista, pois para eles a arte tinha um nico objetivo que era

servir a sociedade atravs de uma forte ideologia poltica. Nas construes do

perodo, apesar de exaltar a populao oprimida, os prdios caracterizam-se pela
opulncia visual semelhante ao governo czarista.
Represso e Resistncia
No processo de construo do estado proletrio todos os elementos
opositores ao regime foram eliminados, muitos artistas foram perseguidos em
especial os ligados as artes abstratas, a pluralidade havia sido eliminada da
URSS. Malevitch um caso isolado dentro da histria da arte do perodo, seguiu
um caminho oposto ao oficial e com isso foi perdendo poder dentro do governo,
foi detido por trs meses pelo governo e interrogado, foi proibido de terminar
seus estudos sobre a suprematista passando a pintar apenas obras figurativas.
Aps a morte de Stalin em 1953 o governo russo dos anos seguintes
desenvolveu uma poltica de denuncia para o resto do mundo dos crimes e
atrocidades cometidos pelo regime stalinista, a produo artstica continuou fiel
ao realismo sovitico, vindo somente a recuperar seus movimentos de
vanguarda aps a queda do regime autoritrio sovitico.